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Primeiro grupo espírita da internet

O homem do mundo

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Olho em volta de mim, o que vejo? Minha visão é curta, não distingo muito longe, mas chego a ver várias pessoas andando, correndo, preocupadas com seu futuro. O dinheiro das compras, a roupa nova, o presente do filho. Meu emprego! Como vou pagar as contas? A guerra pode estourar a qualquer momento!

Como eu desejo o Paraíso, a paz, a tranquilidade, o riacho tranquilo levando suas águas para o mar, as flores belas e perfumadas em torno de mim, meus filhos brincando tranquilos, crescendo saudáveis e sem preocupação com o futuro;

afinal o paraíso é estável, o máximo de aspiração do ser humano, não importa qual seja a visão de paraíso que o sujeito tenha.

As grandes doutrinas filosóficas concluíram que a busca do bem-estar geral é saudável e dignifica o ser humano. Mas o método usado para alcançar o "estado de graça" varia, estabelecendo sistemas, que podem ir do isolamento total, buscando a interiorização do ser através de meditação ou oração, até o trabalho diário e incessante em prol do ser humano.

Dentro desta vasta gama de opções, onde se enquadraria a Doutrina Espírita? Existe algum exemplo a seguir?

O maior exemplo de abnegação no trabalho em prol da humanidade que já tivemos é Jesus. Sua vida, registrada em livros, foi um exemplo de dedicação diária e exclusiva a causa do bem, transmitindo incessantemente aos seus discípulos os ensinamentos necessários para que eles continuassem seu trabalho. O prêmio que recebeu, na época, todos sabemos.

No entanto, os seguidores de Jesus, criaram instituições para dedicarem-se ao trabalho em prol do progresso moral da humanidade. Mas cada uma destas instituições refletiu a opinião de seus "gerentes" ou fundadores. Algumas adotaram a clausura, em orações, outras a luta. Algumas a pobreza extrema, outras o luxo. Não cabe discutir qual fez mais ou menos em prol do progresso moral da humanidade. Mas cabe analisar qual esteve mais perto do exemplo do Mestre.

Jesus sempre esteve perto dos que precisavam dele: os doentes, sofredores, perseguidos injustamente etc. Teve como ajudantes homens, simples, ignorantes, mas que, como todos nós, tinham o potencial para perceber o caminho que ele mostrou.

Alguém gostaria de ir ao médico e ter sua entrada recusada porque está doente? Qual a função do médico, que estudou e treinou? Cuidar do doente. Todos nós que vivemos aqui temos uma função, um trabalho a realizar em prol do desenvolvimento da humanidade, cada um dentro de suas possibilidades.

Para realizar um trabalho é preciso. trabalhar. Se o médico deve trabalhar pelo restabelecimento do doente, e necessário que o veja, examine, converse e coloque em prática o que leu nos livros. O médico que não vê seu doente não tem como curá-lo.

Me surpreende quando vejo que, hoje em dia, ainda se discute se o Espírita deva ou não abrir o Centro em Reuniões Públicas. Me surpreende ver que ainda se discute como reagir as críticas recebidas.

A Doutrina Espírita permite aqueles que a estudam isentos de preconceitos, analisando os fatos cientificamente estudados e reportados, estabelecer uma base solida e firme para a fé. Mas o que fazer com esta fé? O que fazer com todo o conhecimento adquirido? Guardar para si? Muito parecido com o médico que se recusa a ver o doente, ou como o artista que não expõe suas obras com medo da crítica.

Como receber a crítica? Allan Kardec deu vários exemplos de como agir. A crítica saudável, construtiva, deve ser analisada, pois parte de uma pessoa que pensou antes de criticar. A análise e resposta a esta crítica traz benefícios evolutivos para todos que participam da discussão. Mas aquela que espelha a ignorância do crítico com relação ao assunto tratado, não merece resposta. Tentem imaginar a quantidade de críticas que Allan Kardec recebeu a partir do lançamento de O Livro dos Espíritos.

Atualmente nossa posição é muito mais confortável. A grande maioria das críticas já foram feitas no passado. Não me lembro de uma nova, que Kardec não tenha recebido. A forma como ele as respondeu, podemos encontrar nas suas obras.

Por isso é que o Espírita não tem o que temer, quando se diz Espírita e expõe suas ideias. Considero isso uma necessidade, não poderemos jamais nos intitular Espiritas, se nos conservarmos dentro de um casulo, onde receberíamos apenas elogios pelo que foi dito ou escrito. Isso só é prejudicial à nossa evolução, pois serve apenas para lustrar o orgulho e a vaidade.

Que trabalho teremos realizado, ao término de nossa encarnação, apesar de todo o tempo perdido escrevendo, lendo ou assistindo palestras entre amigos que pensam como nós? Como a Doutrina pode evoluir sem a crítica saudável? Como receber críticas saudáveis, se, ainda hoje, a grande maioria ainda não sabe o que é o Espiritismo?

O Espírita deve ser um homem do mundo, pois é lá que encontrara a chance de colocar em prática os ensinamentos aprendidos, expondo seus princípios, ouvindo as críticas e analisando-as; trabalhando, analisando os resultados e corrigindo os erros cometidos. Desta forma poderemos construir uma fé solida, que enfrente face a face a razão, pois foi construída baseada nela.

 



 Fonte: Boletim GeaE, Ano 01, Número 04, novembro de 1992

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