UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE
DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO
Jáder dos Reis Sampaio
Voluntários: um estudo sobre a motivação de pessoas e a cultura em uma organização do terceiro setor
Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Administração.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Tereza Leme Fleury
2004
Resumo
Para este trabalho realizou-se um estudo de caso em uma creche visando a identificar novas categorias de análise de cultura organizacional e motivação de voluntários em organizações de Terceiro Setor. O Terceiro Setor é concebido como o conjunto de organizações sem fins lucrativos, autogerenciadas, integrantes da sociedade civil, com finalidade pública ou coletiva. Foram revistas as teorias de motivação de Abraham Maslow, David McClelland e Joseph Nuttin, a partir das quais se desenvolveu um modelo complexo para o estudo deste fenômeno, que contempla necessidades fisiológicas, tendências e schematas, além dos próprios motivos. Os motivos são concebidos como projetos de ação baseados em relações exigidas entre indivíduo e ambiente. Após a revisão das teorias de cultura organizacional de Hofstede, Schein e Fleury, adotou-se o modelo de cultura organizacional de Fleury, acrescido da análise de ethos e visão de mundo (oriundas dos trabalhos de Cliflbrd Geertz) de movimentos políticos, religiosos ou sociais subjacentes à organização. O estudo de caso contou com o recurso de triangulação de dados, a partir de múltiplas técnicas de pesquisa: observação participante, análise de documentos, história de vida e descrição de atividades. Na análise do movimento religioso subjacente à creche, encontra-se uma proposta de ethos e visão de mundo do Espiritismo depreendidos da leitura da obra de Allan Kardec e da revisão bibliográfica de estudos antropológicos em organizações espíritas brasileiras. A análise da história da organização mostrou existir um conflito entre um projeto de promoção social, idealizado pelo fundador, e uma obra social preocupada com o desenvolvimento pessoal e a oportunidade de realização de atividades humanitárias pelo voluntário, própria do movimento espírita, assim como convênio com o poder público municipal, que descaracterizou as atividades de creche como espaço de ação voluntária. Observou-se que os voluntários de um dos territórios da creche associam seus motivos não apenas às tendências a estabelecer contatos interpessoais afetuosos como também à consistência interna, com a construção de uma auto-imagem mais valorizada, e justificada por muitos dos schematas estudados. Observou-se também que o trabalho voluntário é, paradoxalmente, fonte de prazer, de desligamento de problemas oriundos de outros espaços de experiência e de sofrimento. Há, ainda, o desenvolvimento de alguns mecanismos de defesa individuais e coletivos para atenuar os efeitos desses aspectos negativos. O estudo corrobora a tese que advoga a necessidade de conhecimento mais substancial da cultura das organizações de Terceiro Setor, antes de se propor a adoção de técnicas de gestão oriundas do meio empresarial.