Uma Pequena
Dádiva
Amigos,
Um dia destes estava participando da visita a um orfanato e tive a
oportunidade de observar uma cena que me emocionou profundamente.
Desnecessário dizer que todas as crianças de lá -
como quase todas as crianças carentes deste nosso imenso
país - tem histórias tristes de vida e bem poucos
momentos de felicidade verdadeira. Muitas nem sabem o que é a
experiência de um lar ou a figura de um pai ou uma mãe. No
geral a única família verdadeira que tem neste mundo
são os companheiros de orfanato e os benfeitores
responsáveis pela acolhedora instituição em que se
encontram.
Pois bem, no momento em que chegávamos para a visita, estava
sendo aberto um saco com brinquedos doados. Nada muito
extraordinário, nem muito novo, a maior parte faltando
pedaços ou com defeitos. Vimos consternados como as
crianças ao redor da funcionária, que fazia a
distribuição, se mostravam esperançosas de
realizarem algum pequeno sonho. Uma boneca para uma, um jogo para outra
e assim por diante até que ainda sobraram as crianças
maiorzinhas sem nada.
Até aí eu estava cabisbaixo imaginando como algumas
pessoas, limpando os armários, não se dão ao
trabalho de acrescentar nem mesmo um toque de gentileza adicional na
forma de um pequeno conserto ou de pelo menos uma pilha nova no
brinquedo que será dado. Ficava conjecturando como é
possível que as pessoas ignorem que do outro lado - do lado que
recebe a doação - há um pequeno ser humano cheio
de ilusões como toda criança e que merece tanto carinho
quanto qualquer outra criança em situação melhor.
Estava pensando nisto quando reparei uma menina pequena com os olhos
brilhando, segurava na mão uma boneca manca mas que ainda
falava. Bastava apertar um pequeno botão nas costas e a boneca
pronunciava algumas sílabas, encantando a criança que
sorria prazeirosamente.
Que extraordinário, possivelmente a pessoa que doou os
brinquedos jamais fique sabendo disso, mas os pequenos momentos de
alegria que proporcionou para aquela criança não tem
preço. Talvez o gesto de doação não tenha
passado muito do desejo de não jogar fora algumas
recordações pessoais e dar-lhe um destino mais digno que
o costumeiro cesto de lixo. Mas que diferença fez no cotidiano
daquele pequeno ser!
E, diante do resultado alcançado por tão pequena dadiva,
me emocionei em pensar o quão pouco seria necessário para
mudar o mundo. Um gesto de gentileza, um gesto de compreensão,
uma pequena dádiva, um pouco do tempo de cada um em prol do
próximo, um pouco menos de egoísmo e mais amor, bastariam
para que pequenas coisas chegassem as mãos destas
crianças que esperam tão pouco da vida. E com estas
pequenas coisas estas crianças se sentiriam menos desamparadas e
encontrariam caminhos melhores para seguir. Um dia estas
crianças serão adultos e suas histórias tristes
influenciarão suas atitudes na vida, um pouco menos de desamor
para com elas refletirá no modo com que influenciarão o
mundo ao seu redor.
Um mundo com menos tristeza seria o resultado de um pouco mais de amor
hoje.
Curso
de Ciência e
Espiritismo, 10ª Aula,
Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil
1. FÍSICA
E ESPIRITISMO
V: DEUS,
ESPÍRITO
E FUNÇÃO
DE ONDA
Nas
duas últimas aulas, analisamos os fenômenos
mediúnicos,
concluindo que eles não são fenômenos
quânticos,
isto é, suas propriedades não são as
mesmas dos
sitemas materiais quânticos. Hoje, analisaremos se Deus ou o
Espírito podem ser caracterizados por aquilo que a teoria
quântica chama de função de onda. Para
isso, precisamos entender o que significa uma
função
de onda de acordo com a Mecânica Quântica.
Uma
propriedade física de um determinado objeto é
representada por aquilo que chamamos de grandeza física,
que nada mais é do que uma característica que
pode ser
medida ou calculada. As dimensões de um objeto, a sua
posição
no espaço, a temperatura, carga elétrica, etc.
são
exemplos de grandezas físicas. Para que se possa atribuir um
valor numérico a cada uma delas, define-se
variáveis
matemáticas como, por exemplo, x e v, que
representam, então, quantitativamente o valor das
propriedades
posição e velocidade, repectivamente, do objeto
em um
determinado instante de tempo. A largura e o comprimento de um livro,
por exemplo, são grandezas físicas que
representam as
dimensões lineares laterais do mesmo. Se multiplicarmos a
largura pelo comprimento, teremos o valor da grandeza área
do
livro.
No
caso da teoria quântica, toda
a informação
disponível sobre as propriedades físicas de um
sistema
está contida em uma função
matemática
batizada de função
de onda. Este nome
advém
do fato desta função ter que satisfazer a chamada
equação
de onda de Schröedinger
que, por
sua vez, representa a dinâmica de qualquer sistema
quântico
de acordo com um postulado básico da Mecânica
Quântica.
Em
1927, Niels Bohr propôs o que hoje conhecemos como a
interpretação
de Copenhague para a
Mecânica
Quântica, que diz que a função de onda
fornece
probabilidades
de obtermos determinados valores numéricos
para as grandezas físicas associadas ao sistema. Por
exemplo,
imagine que o sistema físico seja um átomo de
Hidrogênio. Suponha que desejamos medir a
posição
de um elétron em torno do núcleo. A
função
de onda do elétron, de acordo com a teoria
quântica,
prevê que para cada ponto do espaço existe uma
probabilidade diferente de encontrar o elétron
através
de uma medida. Se num determinado instante medirmos a
posição
do elétron, em instantes seguintes uma outra medida
poderá
resultar em uma posição muito distante da
primeira, de
tal forma que não podemos inferir nenhuma
correlação
entre as duas posições medidas como, por exemplo,
imaginar que o elétron se deslocou da primeira
posição
à outra. Isso é verificado através da
realização
de múltiplas experiências com sistemas
idênticos
em que medidas da posição do elétron,
em dois
instantes diferentes para cada sistema, fornecem valores muito
diferentes entre si.
Um
outro aspecto que gera muita confusão é que
segundo a
interpretação
de Copenhague, antes de
realizarmos uma medida, o sistema quântico não
está
definido com
relação às suas propriedades
físicas. Por exemplo, antes de tentar medir a
posição
de um elétron, a teoria quântica não
diz
que ele está
em algum lugar em torno do núcleo
em um determinado instante. A teoria diz, apenas, que, em um
determinado instante, existem
probabilidades do
elétron
estar presente em algum lugar em torno do núcleo.
De
modo a entendermos esse comportamento da Mecânica
Quântica,
considere o problema de procurarmos uma pessoa dentro de um quarto
escuro. Do ponto de vista da teoria clássica, que explica os
fenômenos macroscópicos, a pessoa
estará ocupando
uma determinada região dentro do quarto, mesmo que
não
a estejamos vendo. Mas, ao imaginar uma partícula
microscópica
dentro de uma caixa, antes de medirmos sua
posição
dentro dela, a teoria quântica diz que não
podemos
dizer que ela está ocupando uma determinada
região da
caixa em um determinado instante. Existem, apenas, probabilidades.
Às
vezes, confunde-se esse conceito com a idéia da
partícula
estar em todos os lugares da caixa ao mesmo tempo, mas mesmo isso
é
apenas uma interpretação que, na
prática,
não
ajuda muito já que no momento da medida, apenas uma
posição
será revelada. É isso que confunde até
mesmo os
cientistas mais experientes, e faz com que a teoria quântica
não seja uma teoria completamente acabada.
Ao
realizarmos uma medida física de uma dada grandeza sobre um
sistema quântico, um dos possíveis valores para
essa
grandeza será obtido e sua função de
onda se
transformará
instantaneamente em outra função
que representará, após a experiência, o
sistema
no estado relacionado com a medida feita. A teoria quântica
não
explica esse “fenômeno” conhecido como o colapso
da
função de onda,
mas os experimentos demonstram que
isso ocorre.
Mesmo não compreendendo os
“porquês” desse
tipo de
comportamento decorrente de leis probabilísticas, os
físicos
tem uma enorme confiança na teoria quântica pois
todos
os experimentos realizados até hoje confirmam as
previsões
feitas para o comportamento das partículas
microscópicas
de matéria. Na minisérie “O Auto da
Compadecida”,
criado pela Rede Globo de televisão, o personagem
interpretado
pelo ator Selton Melo, ao ser perguntado sobre o porquê de
determinada coisa, comumente respondia “Sei não!
Só
sei que é assim!”. Digamos que os
físicos respondam
a
mesma coisa quando perguntados sobre “por que” o
comportamento
das partículas subatômicas é
probabilístico.
A
idéia de que alguns fenômenos naturais
são
regidos por leis probabilísticas não agrada muito
nosso
intelecto ávido pela busca do conhecimento das causas
de cada tipo de fenômeno conhecido. Isso aconteceu com
Einstein
que exprimiu seu desconforto com a teoria quântica
através
de uma de suas mais conhecidas frases: “Deus
não joga dados com o mundo”.
Para mostrar
que
havia uma inconsistência teórica da
Mecânica
Quântica, ele e outros dois cientistas propuseram um
experimento conhecido pela sigla EPR
(iniciais de Einstein,
Podolsky e Rosen). Segundo Einstein, deveriam existir
variáveis
ocultas não acessíveis ao experimentador que
fariam o
papel de “conectar” as partes de um sistema
quântico
dito
emaranhado,
(ou entrelaçado)
onde o
fenômeno
da não-localidade ocorre (característica C3
definida na
aula 8, Boletim 490). Porém, John Bell, a 40 anos
atrás,
demonstrou um teorema matemático que diz que não
é
possível construir uma teoria local
para a
Mecânica
Quântica com variáveis
ocultas. Em outras
palavras, se a teoria quântica estiver certa, ela
não
é
uma teria local.
Em 1982, um artigo científico divulgou
a realização de um experimento de EPR
confirmando o fenômeno da não-localidade [1].
Muitos outros trabalhos científicos foram realizados com
diversos tipos de sistemas quânticos, demonstrando o
fenômeno
não-local. Alguns cientistas estão trabalhando em
utilizar o fenômeno EPR
para produzir sistemas
idênticos
em locais distantes, simulando aquilo que os filmes de
ficção
científica chamam de teletransporte.
Em aula futura,
discutiremos, com um pouco mais de detalhes, o que os cientistas
chamam de teletransporte
e se isso tem algo a ver com o
fenômeno espírita de transporte.
O
Capítulo II de A
Gênese [2]
trata da existência
de Deus e de seus atributos. Segundo Kardec (ítem 18, Cap.
II), “Deus
não pode ser Deus, senão sob a
condição
de que nenhum outro o ultrapasse (...) Para que tal não se
dê,
indispensável se torna que ele seja infinito em tudo.”
Se Deus fosse uma função de onda ou tivesse
propriedades quânticas, seus atributos não
estariam
definidos a menos que um ente externo realize uma medida sobre Deus
para ver qual seria o “valor” de cada um de seus
atributos.
Percebe-se daí que a hipótese de Deus ser uma
função
de onda é um absurdo. Um outro argumento pode ser dado com
base no ítem 12 do cap. II de A
Gênese [2].
Segundo Kardec, “Deus
é imaterial, isto
é, a sua natureza difere de tudo
o que chamamos matéria. De outro modo, não seria
imutável, pois estaria sujeito às
transformações
da matéria.”.
Como a teoria
quântica
descreve o comportamento da matéria,
ela não
pode ser usada para descrever a natureza do Criador pois isso
equivaleria a dizer que Deus possui propriedades semelhantes
às
da matéria em escala microscópica, o que
está em
franco desacordo com a Doutrina Espírita.
Seria o Espírito, então, regido por uma
função
de onda? Ou, melhor perguntando, seria o Espírito um sistema
quântico que poderia ser descrito por uma
função
de onda?
Na
questão 23 de O
Livro dos Espíritos [3],
os
espíritos dizem que o Espírito é o
princípio
inteligente do Universo. Nas questões seguintes, Kardec
pergunta sobre a natureza íntima do Espírito e as
respostas levam Kardec a concluir que existem dois elementos ou
princípios gerais no Universo: o elemento material e o
elemento espiritual. Mais adiante, no Cap. I da segunda parte de O
Livro dos Espíritos,
Kardec retoma as perguntas sobre
os Espíritos, desejando, agora, estudar as individualidades
dos seres extracorpóreos (ver nota após
questão
76).
Na
questão 82, Kardec pergunta se os espíritos
são
imateriais. Os espíritos respondem que “(...)
Imaterial não é bem o termo;
incorpóreo seria
mais exato, pois deves compreender que, sendo uma
criação,
o Espírito há de ser alguma coisa. É a
matéria
quintessenciada, mas sem
analogia para vós outros,
e
tão etérea que escapa inteiramente ao alcance dos
vossos sentidos.”(grifos
em negrito,
nossos).
É interessante notar que os espíritos superiores
não
disseram que a essência dos Espíritos é
imaterial, assim como Deus é imaterial. Notamos
também
que seja lá o que for a essência do
Espírito,
é
algo “sem analogia para nós”. Por causa
disso,
Kardec
optou por considerar o Espírito como sendo algo imaterial no
sentido de não ser igual àquilo que chamamos de
matéria. Em suas palavras, (logo em seguida à
resposta
da questão 82) “Dizemos
que os Espíritos são imateriais, porque, pela sua
essência, diferem de tudo o que conhecemos sob o nome de
matéria. Um povo de cegos careceria de termos para exprimir
a
luz e seus efeitos. O cego de nascença se julga capaz de
todas
as percepções pelo ouvido, pelo olfato, pelo
paladar e
pelo tato. Não compreende as idéias que
só lhe
poderiam ser dadas pelo sentido que lhe falta. Nós outros
somos verdadeiros cegos com relação à
essência
dos seres sobre-humanos. Não os podemos definir
senão
por meio de comparações sempre imperfeitas, ou
por um
esforço da imaginação.
”
Reformulamos
a questão: será que a
“matéria
quintessenciada”, como disseram os espíritos, que
constitui
a essência do Espírito possui as mesmas
propriedades
físicas da matéria em escala
microscópica?
Seria possível atribuir a essa matéria
quintessenciada
uma função
de onda? Para responder a essa
questão, vamos analisar a característica
probabilística
associada aos sistemas quânticos e o problema do colapso
da
função de onda.
Quais
seriam as propriedades mais importantes do Espírito? Na
questão 24, os espíritos superiores disseram que
a
inteligência é um dos atributos do
Espírito.
Além
disso, os Espíritos possuem vontade
(ver por exemplo, o
4º parágrafo do ítem VII da
Introdução
do Livro dos
Espíritos [3]).
Nem a inteligência,
nem a vontade
podem ser características que dependem de
leis probabilísticas pois isso significaria que ambas
não
decorrem do esforço próprio de cada criatura. Por
exemplo, uma pessoa poderia manifestar a inteligência de um
gênio, em um instante, e depois manifestar a
inteligência
de uma criança em outro instante, dependendo de leis
probabilísticas. Além disso, se nossos atos
fossem
regidos por leis probabilísticas, não haveria
razão
para sermos responsabilizados por erros cometidos, nem
méritos
teríamos pelo bem realizado. Tudo não teria
passado de
probabilidades de ocorrência.
Segundo a teoria quântica, antes de um sistema manifestar
algum
valor para suas propriedades físicas, é
necessário
que um observador externo faça uma medida. No caso da
inteligência e da vontade, quem ou o quê
fará a
medida que determinará um pensamento ou uma
decisão de
uma pessoa? Como se vê, a proposta de que o
Espírito
é
regido por uma função de onda também
é um
equívoco de consequências contrárias
aos
ensinamentos do Espiritismo.
Concluimos,
portanto, que nem Deus nem o Espírito podem ser regidos por
algo similar à função
de onda de sistemas
quânticos. Simplesmente, a inteligência e a
vontade,
atributos do Espírito, não podem ser regidos por
leis
probabilísticas e, portanto, não podem ser
representados por uma função
de onda.
Isso é bem diferente da tentativa de diversos cientistas de
estudarem como a mente humana emerge a partir do cérebro. O
cérebro sendo, em última instância,
formado por
partículas atômicas que compõem as
moléculas
que, por sua vez, compõem as células,
é um
sistema macroscópico que possui propriedades
quânticas.
Como essas propriedades se manifestam macroscopicamente, é
algo que está sendo objeto de estudos e pesquisas. Uma
pergunta interessante é como o sistema formado pelo
cérebro
colapsa a função de onda dele mesmo. Isso pode
vir a
ser uma porta para insights interessantes na
relação
espírito-matéria.
Na próxima aula, falaremos sobre a controvérsia
entre a
idéia de ‘comprovação
científica’ e a
idéia de ‘disciplina
científica’. Na aula 12,
comentaremos sobre dois equívocos em
interpretações
espíritas decorrentes das experiências de
teletransporte, e a idéia de universos paralelos.
Referências
[1]
A.
Aspect, J. Dalibard e G. Roger, Experimental test of Bell
inequalities using time-varying analysers (1982), Physical
Review
Letters 49,
p. 1804.
[2]
A. Kardec, A Gênese,
Editora FEB, 36ª
Edição
(1995).
[3]
A. Kardec, O Livro dos
Espíritos, Editora
FEB, 76a
Edição (1995).
Continua
no próximo Boletim
Complexidade
e
Liberdade III,
Edgar Morin, França
Este
texto apareceu anteriormente na publicação de
ensaios Thot,
da
Associação Palas Athena, São Paulo
(no. 67, 1998,
pp. 12-19) e encontra-se disponível no endereço
http://www.geocities.com/pluriversu/complexi.html
A Emergência dos Sistemas
Entretanto,
para que
adquiríssemos os meios intelectuais e
conceituais necessários à
entrada no universo da complexidade,
foi preciso esperar pelos
anos 50, quando surgiram três teorias novas.
A
primeira foi a cibernética de Norbert Wiener, que
é
ao mesmo tempo engenheiro e pensador. A ele devemos a
idéia de retroação e circularidade,
que estava
latente desde a obra de Marx, na qual a superestrutura retroage sobre a
infra-estrutura. Essa idéia de ciclos retroativos, que
quebram a
causalidade linear, mostra que os fatos podem, eles
próprios,
tornar-se causadores, ao retroagir sobre a causa, como Pascal
já
havia assinalado. Essa recursividade tem dois aspectos: um, regulador,
que impede que os desvios destruam os sistemas; e outro potencialmente
destruidor, chamado de feedback positivo, que os fazem explodir.
Nos
anos 60, outro pensador, o nipo-americano Magoroh
Maruyama, fez a
seguinte proposição: não se pode ter
criação, a não ser por meio dos
feedbacks
positivos. Em outros termos, quando um sistema se desregula,
há
um desvio que se amplifica. Nesse caso, o sistema - sobretudo se
é complexo (social ou humano) - em vez de se desgovernar
pode
transformar-se. A criação não
é
possível senão pela
desregulação.
O
segundo aporte conceitual é a teoria dos sistemas,
que
propõe que o todo é maior que a soma de suas
partes, mas
também que é menor que ela; assim, a totalidade
pode
oprimir as partes e impedir que estas dêem o melhor de si
mesmas.
Isso tem conseqüências político-sociais
indiretas. Um
grande império não é melhor porque
é um
todo: sua bancarrota pode ser salutar, ao liberar as potencialidades
das partes dominadas.
A
idéia capital aqui é a de emergência.
As
qualidades que aparecem podem ser induzidas, mas não podem,
em
contrapartida, ser deduzidas logicamente. As emergências
estão em qualquer espécie de flor. A
evolução biológica levou, num
determinado momento,
a uma verdadeira explosão floral - mas persiste a
questão
de saber por que as flores têm necessidade de mostrar o seu
sexo,
de serem exibicionistas!
O
terceiro aporte é a teoria da
informação, de
Shannon e Weaver. É um instrumento capaz de lidar com a
incerteza, com o inesperado. Extrai-se do mundo do ruído
algo de
novo e muitas vezes surpreendente. A noção de
informação, ao mesmo tempo física e
semântica, nos introduz num mundo onde o novo pode aparecer,
ser
reconhecido, assinalado... Captamos o novo nessa
relação
permanente de ordem e redundância, na
integração do
conhecido e na ordem do ruído.
Essas
três teorias formam uma espécie de
"rés-do-chão". No primeiro estágio,
pode-se
colocar a contribuição de Von Foerster e Von
Neumann.
Este, refletindo sobre a diferença entre as
máquinas
artificiais - as que produzimos a partir de elementos fabricados e
confiáveis - e as máquinas naturais, cujos
elementos
são pouco confiáveis (essas moléculas
que se
degradam por um nada!), perguntou-se: por que as primeiras, logo que
começam a funcionar, iniciam seus processos de usura e
degradação, enquanto que as segundas - os seres
vivos -
podem progredir, evoluir? A resposta é que os viventes
têm
o poder da auto-reparação, da auto-reforma.
A
segunda idéia, de Von Foerster, é a "ordem
a partir do
ruído". Seu jogo experimental era o seguinte: tomava de uma
caixa, dentro da qual colocava cubos com determinados lados imantados.
Em seguida provocava agitação, isto é,
introduzia
na caixa uma energia não-direcional e, portanto, a desordem.
Apesar disso, a presença de um princípio de ordem
- os
ímãs - permitia que os cubos chegassem a uma
arquitetura
bem organizada. Eis o fenômeno da
auto-organização.
O
segundo estágio é o que se poderia chamar
de
auto-eco-organização. Um ser vivo precisa
nutrir-se para
regenerar sua energia. Para ser autônomo, tem necessidade do
meio
ambiente, de onde retira não energia bruta, mas
já
organizada. Do mesmo modo, temos gravada em nossa
organização uma ordem cósmica, a
alternância
do dia e da noite. Essa ordem (por uma espécie de mecanismo
cíclico, que pode se tornar independente da luz e da
obscuridade, como mostraram experiências em cavernas sem luz)
nos
permite alternar a vigília e o sono...
Tudo
isso para dizer que a separação entre o
conhecedor e
o conhecido não pode ser alcançada. Sabe-se,
depois de
Kant, que para conhecer o mundo projetamos nele nossas categorias,
nossos a priori espaciais e temporais.
Por
uma Convivência Solidária
Essa
circunstância
pode ser ainda confirmada pelo funcionamento
do cérebro humano: isolado no interior de uma caixa fechada,
ele
todavia se comunica com o Universo pela mediação
de
terminais sensoriais. Os estímulos visuais, por exemplo,
são transformados num código binário,
que tecido
cerebral retrabalha e transforma em percepção ou
representação. O conhecimento não
é
senão uma tradução, uma
reconstrução. Não conhecemos a
essência das
coisas exteriores. Sabemos das coisas objetivas, que podemos confirmar,
mas não há conhecimento sem
integração do
conhecido. Essa circunstância vale também para os
fenômenos sociais e humanos. O sociólogo e o
economista
são parte da sociedade, e a totalidade desta - ou seja, a
cultura, a linguagem - está também neles.
Num
estágio superior, vejo a necessidade de uma
reforma
paradigmática dos conceitos dominantes e de suas
relações lógicas, que controlam,
inconsciente e
incorrigivelmente, todo o nosso conhecimento. O paradigma sob o qual
vivemos é o da disjunção e da
redução: e ele nos torna cegos, nesta era de
globalidade
e mundialização.
Não
podemos produzir por decreto a reforma
necessária,
porque ela está inscrita no próprio curso da
história; pensemos na passagem do paradigma ptolomaico ao
copernicano. Tal reforma consiste em passar para um paradigma de
religação, conjunção,
implicação mútua e
distinção. Ela
pressupõe uma mudança no ensino, que por sua vez
implica
uma transformação do pensamento. É um
círculo vicioso, do qual precisamos sair um dia... Um
conhecimento pertinente é aquele que é capaz de
contextualizar, isto é, religar, globalizar. A
ação adquire um novo sentido: fazer as apostas.
Pascal -
novamente ele - apostava em Deus. Nós apostamos em valores
que
não podem ser fundamentados. Assim como o mundo, a
ética
se autoproduz.
Conhecer
é também uma estratégia, que
pode se
modificar em relação ao programa inicial, que
é
flexível e leva em conta o que chamo de ecologia da
ação. Sabe-se hoje que uma
ação,
lançada ao mundo, entra num turbilhão de
interações e retroações,
que podem se
voltar contra a intenção inicial.
Por
fim, uma última idéia: o sentimento de
uma comunidade
de destino profundo, que liga as idéias de solidariedade e
fraternidade. O laço entre complexidade e solidariedade
não é mecânico. Uma sociedade
muito complexa
proporciona muitas liberdades de jogo a seus indivíduos e
grupos. Permite-lhes ser criativos, algumas vezes
delinqüentes. A
complexidade tem, assim, seus riscos. Ao atingir o extremo da
complexidade a sociedade se desintegra. Para impedi-lo, pode-se
recorrer a medidas autoritárias; entretanto, supondo que
desejemos o mínimo possível de
coerção, o
único cimento que nos resta é a solidariedade
vivida.
EDGAR
MORIN
é
diretor emérito do Centre National de la Recherche
Scientifique,
em Paris, e
presidente da Association pour la Pensée Complexe,
também
sediada em Paris.
Retorno
ao Índice
Vidência
e
Clarividência, Jáder dos Reis Sampaio,
Brasil
Uma Revisão dos Conceitos na Literatura Espírita,
Metapsíquica
e Parapsicológica - Parte IV - Final
5. Vidência e
Clarividência na
Obra de André Luiz
Encontramos
referências sobre a mediunidade de vidência e a
clarividência em dois livros de André Luiz,
psicografados
por Francisco Cândido Xavier.
Em
"Mecanismos da
mediunidade", são apenas três
parágrafos
justapostos ao final do capítulo que trata dos efeitos
intelectuais. Neles André Luiz afirma que os
fenômenos de
clarividência e clariaudiência têm
por mecanismo a transmissão de quadros e imagens do
espírito comunicante para a mente do médium,
"valendo-se
dos centros autônomos da visão profunda,
localizados no
diencéfalo, ou lhe comunica vozes e sons, utilizando-se da
cóclea" (p. 135).
Este
fenômeno,
como qualquer outro fenômeno mediúnico, seria
tanto mais
nítido quanto maior a sintonia mental entre
espírito
comunicante e médium.
Encontramos
algumas
informações adicionais no livro intitulado "Nos
domínios da mediunidade". O instrutor Áulus
afirma que os
médiuns acreditam ver e ouvir, mas esta impressão
é apenas "derivada do hábito", já que
os
órgãos dos sentidos não são
os sensores do
plano espiritual.
Decreve-se
a
diferença de percepção de
médiuns dotados
da mesma faculdade e a interveniência dos fenômenos
psicológicos de um dos médiuns sobre a capacidade
de
registrar as idéias do espírito comunicante. No
enredo, o
médium Castro, embora veja o espírito Clementino,
não lhe registra as palavras porque deseja ver a
mãe,
já desencarnada.
Um
outro evento
importante diz respeito à dificuldade do médium
distinguir cenários do plano espiritual de imagens mentais
do
espírito comunicante. No enredo do texto, André
Luiz se
espanta ao ouvir o relato da médium
Celina de ter visto um riacho e a visão de Eugênia
de um
edifício de crianças, que ele não era
capaz de
perceber. Áulus lhe explica que as médiuns
tomavam por
imagens o que em verdade eram pensamentos sugeridos por Clementino.
Após
rever os
capítulos deste último livro que tratam de
mediunidade
sonambúlica e desdobramento, não encontramos
qualquer
explicação por parte do autor
espiritual ou dos seus instrutores voltada à
clarividência.
Dada
a exiguidade de
informações, nossas conclusões apontam
para uma
pequena distinção entre os conceitos de
André Luiz
e de Allan Kardec. Não encontramos também em
"Mecanismos
da Mediunidade" uma distinção clara entre as duas
faculdades que estamos estudando neste artigo. André Luiz
não parece distinguir clarividência de
vidência,
focalizando suas análises
no que há de comum entre estas duas faculdades.
Talvez,
por esta
razão, Martins Peralva tenha focalizado seu conceito de
clarividência, após a leitura deste autor
espiritual, na
acuidade da percepção, quando diz que a
clarividência é "a faculdade pela qual a pessoa
vê os Espíritos com grande clareza" e a
clariaudiência é "a faculdade pela qual a pessoa
ouve os
Espíritos com nitidez".
6. Concluindo
Tendo
revisto três importantes
autores espíritas sobre a
questão da distinção entre
vidência e
clarividência, não encontramos
divergências
importantes entre eles, embora acreditemos que eles empreguem estas
palavras de modo diferente.
Nossa opinião
é de que é dispensável a
polêmica calcada em
significado de palavras e totalmente desnecessário definir
um
sentido universal para elas.
O estudioso do Espiritismo deve, entretanto, ser capaz de distinguir
estas nuances de cada um dos autores a fim de compreender melhor o que
desejam expressar, quando derivam suas
considerações, a
partir de sua
terminologia e evitar confusão das suas
afirmações.
7. Fontes
Bibliográficas
AMADOU, Robert. Parapsicologia.
São Paulo: Mestre Jou, 1966.
ANDRADE, Hernani G. Parapsicologia
experimental. São
Paulo:
Pensamento, s.n.
ANDRÉ LUIZ. Mecanismos da
mediunidade. Rio de Janeiro:
FEB, 1977. [Psicografado por
XAVIER, Francisco Cândido]
______ Nos
domínios da
mediunidade. Rio de Janeiro:
FEB, 1979. .
[Psicografado por XAVIER, Francisco Cândido]
DELANNE, Gabriel. O espiritismo
perante a ciência.
Rio de
Janeiro: FEB, 1993.
KARDEC, Allan. O livro dos
espíritos.
[online] Rio de Janeiro:
FEB, edição eletrônica.
______ O
livro dos médiuns.
[online] Rio de Janeiro: FEB,
edição eletrônica
______ Definições
espíritas.
Niterói -
R.J.: Lachâtre, 1997.
______ Obras
póstumas.
Rio de Janeiro: FEB, 1978. ["Causa e
natureza da clarividência sonambúlica" e "A
segunda vista"]
PERALVA, Martins. Clarividência e clariaudiência.
In:
Estudando
a mediunidade. Rio de
Janeiro: FEB, 1981.
PIRES, J. Herculano. Parapsicologia
hoje e amanhã.
São
Paulo: Edicel, 1987.
RUSH, Joseph. Parapsychology: a
historical perspective. In:
EDGE, Hoyt
et al. Foundations of parapsychology. Boston: Routledge & Kegan
Paul, 1986.
SANTOS, Jorge Andréa. Nos
alicerces do inconsciente.
Rio de
Janeiro: Fon Fon e Seleta, 1980
Física
Quântica e Espiritismo, Hugo Alessandro
Cuccurullo, Brasil
(Perguntas
enviadas pelo Hugo e
respondidas pelo Alexandre Fontes da Fonseca)
Pergunta
- Levando em conta que os espíritos mesmo na erraticidade
ainda
possuem um "corpo" material não seria
válido
imaginar que mesmo na erraticidade os efeitos da
não-localidade
ainda se manifestariam?
Resposta - Sim.
Porém,
é preciso analisar bem em que
situações o
fenômeno de não-localidade ocorre. Esse fenomeno
só
ocorre com sistemas formados por muito poucas partículas em
situações muitíssimo especiais. Eu
não
duvido que os fluídos espirituais possuem uma estrutura
íntima análoga à estrutura da
matéria densa
(André Luiz propõe essa analogia).
Porém, se
já é dificil fazer um experimento para verificar
a
não-localidade em um fenômeno material, imagine a
dificuldade em testar isso com os fluídos?
Em ciência, jamais extrapolamos uma teoria sem
testá-la
experimentalmente. Ou melhor dizendo, uma
extrapolação
desse tipo tem valor apenas como exercício intelectual e
somente
após a verificação da realidade
é que
podemos concluir que a extrapolação é
ou
não é boa. Mas, supondo que podemos extrapolar as
leis
que regem a matéria densa para com o comportamento da
matéria sutil que existe no perispírito e no
mundo
espiritual, só podemos deduzir que o efeito de
não-localidade ocorrerá com partículas
microscópicas associadas aos fluídos. Assim como
nenhum
objeto material macroscópico reflete o fenômeno da
não-localidade, provavelmente nenhum fenômeno
"macroscópico" fluídico refletirá essa
propriedade.
Dizer, por exemplo, que a transmissão de pensamento entre os
espíritos é não-local, refletiria o
desconhecimento do que é o fenomeno não-local em
comparação com a descrição
do
fenômeno de transmissão do pensamento segundo o
Espiritismo.
Se voce analisar a história da ciência,
verá que
antes do desenvolvimento da teoria quântica, primeiro a
física clássica foi completamente desenvolvida.
Somente
quando os cientistas iniciaram a pesquisar o mundo do muito pequeno,
é que as contradições e conflitos
entre teoria e
experimentos surgiram. Isso é que motivou o desenvolvimento
da
teoria quântica. Hoje, não temos ainda bem
estudado, todas
as propriedades físicas dos fluídos. Como
construir uma
teoria quântica para a estrutura dos fluídos se
não
temos como comparar as consequências dessa teoria com os
fenômenos espíritas que são, por
natureza,
macroscópicos?
Pergunta
-
Entendo que ainda exista muita
coisa para se estudar na MQ antes do espiritismo se manifestar, mas
não seria bem vindo que se faça
exercícios
filosóficos e teóricos até com a
consulta à
espiritualidade maior afim de, com esse salto no conhecimento, se
atualize as discussões filosóficas nas casas
espíritas? Nesse caso não existe uma excessiva
cautela?
Resposta - Sempre
é bem
vindo, fazer exercícios de estudo e pesquisa de ordem
teóricos. Porém, a forma como se divulga um
estudo
é muito importante. Eu posso falar das minhas
opiniões
sobre diversos assuntos, mas opinião não tem
valor
científico. A consulta aos espíritos tem valor,
mas
também não serve para obter verdades maiores a
menos que
o critério do consenso universal seja satisfeito de forma
rigorosa.
O
problema, meu amigo, ocorre quando algumas
afirmativas são feitas sem a devida
explicação
e/ou demonstração completa de como elas foram
obtidas.
Kardec jamais afirmou algo que ele não pudesse demonstrar.
Tanto
isso é verdade que, sendo um homem de ciência, ele
nunca
propôs modelos para os fluídos espirituais
baseados na
física e química de sua época.
Nesse aspecto, eu defendo a idéia de que devemos ter cautela
pois os leitores sempre consideram como verdades o que é
dito e
publicado nos meios de divulgação
espíritas. O
público frequentador e colaborador nas casas
espíritas
não tem condições de discutir com
profundidade
temas tão complexos como a
interpretação da Mec.
Quântica que são difíceis
até para
nós que trabalhamos na área de Física.
O que, ao
meu ver, vale a pena fazer é convidar espíritas
que
conhecem Física de modo mais profundo, para realizarem
palestras
expondo em linguagem simples o que se pode ou não considerar
da
Física em favor dos conceitos espíritas (estamos
trabalhando nisso nas 'aulas' sobre Ciência e Espiritismo).
Pergunta
- Até que ponto o grupo de espíritos que
auxiliaram
Kardec no momento da codificação precisaram se
conter
à física clássica e o pensamento
cartesiano, dada
ao estado do conhecimento científico da época?
Resposta
- Certamente que os
espíritos superiores já
conheciam o comportamento dos fenômenos da matéria
em
escala microscópica. Não sei se voce leu o
Boletim 488,
aula 6 sobre Ciência e Espiritismo, em que discutimos algumas
questões respondidas pelos espiritos que só
puderam ser
bem compreendidas por causa do desenvolvimento da teoria
quântica. Isso mostra que eles conheciam (e conhecem) bem
melhor
que nós, a natureza.
Mas, os espíritos superiores jamais revelariam coisas que
cabem
à Ciência revelar. Jamais os espíritos
nos
darão respostas que cabem à ns o
esforço por
encontrá-las.
Note que os espíritos não estavam tão
preocupados
com a Física dos fluídos. Eles estavam muito mais
preocupados com a codificação de uma doutrina que
pudesse
ajudar o Homem a se encontrar perante as leis morais.
Na medida do possível, nós podemos nos preocupar
em
pesquisar as propriedades físicas dos fluídos.
Mas
não podemos jamais nos precipitar com analogias que
poderão se tornar inadequadas no futuro. Leia, se possivel,
o
prefácio do livro Mecanismos da Mediunidade.
André Luiz
faz um apelo para não tomar o conteúdo deste
livro como
uma verdade final. Ele diz que ele tem pleno conhecimento de que a
ciência de um século é diferente da
ciência
do século seguinte e que por isso, não podemos
considerar
como absolutas as analogias que ele faz. Se lembra do livro O Tao da
Fisica? A teoria básica que o Capra usa para servir de base
para
sua comparação entre os fenômenos
físicos e
os conceitos budistas, nao é mais aceita pela comunidade de
físicos nos dias de hoje. Por mais interessante
que seja o livro dele, hoje já não tem tanto
valor assim.
Pergunta
- Não é justificável todo
alvoroço que
alguns espíritas sejam tomados, quando estamos diante de uma
realidade que torna o conceito de causa e efeito relativo?
Resposta - Justamente
por isso,
é que a cautela se justifica. É preciso mais
calma e
prudência antes de sairmos por aí expondo
conclusões apressadas. Aliás, a ciência
nunca
expõe conclusões definitivas de modo apressado.
Pergunta
- Um Universo regido por probabilidades, de certa forma não
faz
também bastante sentido (se nos permitirmos quebrar
paradigmas)
ao levarmos em conta toda a matemática envolvida para que a
exista uma realidade possível respeitando o
livre-arbítrio de cada um dos espíritos do
Universo?
Resposta - Esse
é um ponto
altamente questionável! Nem entre os físicos
existe algum
acordo sobre o Universo, como um todo, ser regido por leis
probabilísticas. Por enquanto, só é
bem aceita a
idéia de que os sistemas microscópicos obedecem
leis
probabilísticas. Os sistemas um pouco maiores (uma
célula, por exemplo) já possuem comportamento
determinístico.
Daí o problema que considero muito importante: como unir a
idéia de 'livre-arbítrio' com leis
probabilísticas?
Pergunta
- As idéias do físico Amit Goswami são
muito
próximas das de Pietro Ubaldi, ambos vêem um
universo
monista e não panteista, já que o panteismo nem
mesmo
pode ser considerado um "teismo" já que dilui completamente
a
idéia da existência de um Deus como entidade.
Resposta - Eu
não conheço em profundidade nem o Ubaldi nem o
Goswami.
Sobre o Goswami, eu sei que ele é panteista e não
acredita no espírito como uma individualidade fora do corpo
físico.
Pergunta
- Já o monismo
não
necessáriamente se contrapõe aos conceitos
espíritas, pois acredita em um Deus que é ao
mesmo tempo
transcendente e imanente. Ainda
sobre Amit Goswami, mesmo quando ele coloca de certa forma a
consciência como uma propriedade da matéria
não
acho que descarte a possibilidade da existência de um
princípio inteligente,
Resposta
- Do que eu entendi do livro
Universo Auto-consciente, a
proposta dele é apenas a de um consciente maior que age
através das pessoas e coisas. A proposta dele, ao meu ver,
é a melhor proposta espiritualista com base em conceitos da
física. Infelizmente, ela ainda nao é espirita,
por
não levar em conta o espírito. A
explicação
que ele dá para o colapso da função de
onda
só inclui a existência dessa consciência
maior.
Pergunta
- mesmo
André Luis no livro Evolução em Dois
Mundos
dá um grande papel a matéria como
repositório da
consciência hereditária coletiva.
Resposta
- Eu entendi esse livro do
André Luiz de modo diferente
de voce. Não é a matéria que possui
consciência. É o princípio inteligente,
em seu
processo de individualização, que com o seu
'corpo
espiritual' (ou o análogo a isso para os espiritos durante a
individualização) vai armazenando
informações tanto sobre o comportamento
instintivo e
material quanto sobre o próprio
despertar da consciência.
Pergunta
- Será
que não seria benvinda uma
contribuição mais ativa
do espiritismo nesse debate?
Resposta
- Toda
contribuição é sempre bem-vinda.
Mas como saber se uma idéia que estamos tendo é
uma
contribuição ou um deserviço para o
nosso
entendimento? Percebe a importância da cautela?
Foi com o objetivo de 'colocar os pés no chão'
é
que estamos escrevendo essas "aulas" sobre Ciência e
Espiritismo.
Existe muito desconhecimento de como as coisas são no mundo
da
ciência. Por exemplo, voce acha que o Espiritismo pode ser
chamado de ciência só porque Kardec disse? Hoje,
temos a
nossa disposição os estudos feitos com base na
Filosofia
da Ciência, realizados pelo Prof. Chibeni, que demonstram que
o
Espiritismo possui todas as características de uma
disciplina
científica legítima. No entanto, mesmo tendo o
Chibeni
feito isso há mais de 10 anos atrás, os
espíritas
não conhecem direito isso e ficam dando mais valor para os
textos que envolvem Mec. Quântica.
Pergunta - As vezes, quando leio
que uma teoria
é espiritualista e não espírita, me
dá uma
impressão de que não deve ser levada em conta,
quando na
verdade pode ser um ótimo material para o desenvolvimento do
pensamento espírita.
Resposta
- Quando se diz que
algo é
espiritualista e não espírita, apenas se
está
querendo dizer que esse algo satisfaz os princípios que
definem
a palavra 'espiritualista' enquanto não satisfaz ou
está
em conflito com princípios ligados a palavra 'espirita'.
Mas isso não quer dizer que não se possa estudar
o
assunto para tirar dele o que for bom. No caso da teoria do Amit, eu,
particularmente, não consigo ver nenhuma
aplicação
maior ao Espiritismo. Talvez alguém encontre alguma sutileza
nas
suas propostas. O que dissemos no Diálogo, foi que o que o
Amit
escreve não está em acordo com tudo o que
aprendemos na
Doutrina Espírita.
Alguém pode, muito bem, pegar as idéias do Amit,
pensá-las em outro ponto de vista e, talvez, encontrar uma
proposta diferente para explicar o espírito. O que
não se
pode fazer é dizer (sem fazer um estudo prévio)
que o
Amit provou isso ou aquilo. Provar, ele não provou nada! Ele
fez
uma proposta que está em debate tanto perante os
espiritualistas
em geral quanto no meio acadêmico. Isso tem valor, mas
está longe de ser prova.
Pergunta - Quando Jung definiu as
sincronicidades
(na mesma época em que não por
coincidência se
correspondia com o físico Wolfgang Pauli) falou de uma
mudança na forma que o Universo deveria ser observado,
não mais sob os auspícios da causa e efeito, mas
da
simultanedade e significado. A teoria das sincronicidades
também
foi completamente ignorada pelo meio espírita, uma bomba
como
essa está há quase 50 de anos questionando um dos
axiomas
principais da doutrina dos espíritos e não se
discute,
não se debate, será que não existe um
limite para
a prudência e a cautela?
Resposta
- Uma coisa é
debater temas e assuntos que podem
contribuir com o nosso conhecimento. Outra é levantar
polêmicas que não levam a nada. O que é
ter
prudência e cautela? Ter prudência e
cautela é:
- estudar com profundidade o
assunto;
- estudar o que os estudiosos,
filósofos ou cientistas da
área, estão concluindo sobre o assunto nos dias
de hoje.
Será que estão apoiando a proposta, ou
estão
refutando-a com base em outras?
- estudar profundamente o
Espiritismo, de modo a estar a par de
todos
os raciocínios e argumentos de Kardec e dos
espíritos
superiores.
- Ai, sim, analisar comparando
os argumentos de um lado e os
argumentos espíritas, analisar o valor relativo de cada um
deles
e depois escrever uma conclusão.
Sobre o problema da relação entre causa e efeito
por mais
que o comportamento do mundo subatômico seja
probabilístico (sem deixar de esquecer que a
variação da probabilidade satisfaz a lei de causa
e
efeito), o mundo macroscópico nao é regido por
leis
probabilísticas.
A Natureza é o que ela é. O que cresce e se
desenvolve
é a forma pela qual nós a entendemos. E
nós a
entendemos através de modelos (as teorias). A
idéia de
causa e efeito é tão comum que ninguém
ousaria
questioná-la em termos absolutos. Até mesmo por
causa
disso, é que, ainda hoje, alguns físicos se
dedicam ao
estudo de formas alternativas para explicar os fenômenos
microscópicos.
Então, meu amigo, se essas coisas ainda estão
sendo
debatidas, como é que a gente pode considerá-las
verdades
prontas e acabadas a ponto de querermos propor explicacoes ou
mudanças nos conceitos espíritas?
Pergunta
- Será que
seria esta a forma de agir de Kardec se estivesse vivendo entre
nós? Ele não foi um exemplo de que a pesquisa e o
desenvolvimento do espiritismo não deveriam se encerrar com
a
publicação das cinco obras básicas?
Resposta
- Quer mais
prudência do que essa
recomendação do Espírito de Erasto:
"É
preferível rejeitar 10 verdades do que aceitar uma
só
mentira" ? (item 230 do Livro dos Médiuns).
Note que o desenvolvimento de qualquer área do conhecimento
requer cautela e prudência. Ter cautela e prudência
nao
significa 'não
pesquisar'. Significa, justamente, pesquisar a fundo o assunto que se
deseja estudar..
Espero que tenha ajudado. Fique a vontade para questionar mais.
Um abraco fraterno,
Alexandre
V
Congresso
Nacional da Associação
Médico-Espírita do Brasil
Data:
26 a 28 de maio de 2005
Local:
Teatro Cultura Artística - Rua Nestor Pestana, 196 -
São
Paulo - SP
Temas
Neurobiologia da Fé; Medicina e Espiritualidade na
Educação Médica;
Estudos fronteiriços em Neuro-imagem; Pesquisas atuais sobre
a
eficácia
da prece; Atualidades em Biofísica; A
Reencarnação
como lei biológica;
Influência de Espíritos na TRVP; Espiritualidade e
dor,
Estresse na
visão integral; As múltiplas faces da
Depressão;
Espiritualidade na
atenção à gestante, ao paciente
oncológico,
cardíaco, diabético, idoso
; Células-tronco e Pesquisas, Aborto do
Anencéfalo,
Distanásia; entre
outros.
Palestrantes
Alberto Almeida, Alvaro Avezum, Cesar Geremia, Décio Iandoli
Jr,
Eliane
Oliveira, Fabio Nasri, Francisco Cajazeiras, Gilson Luis Roberto,
Jaider Rodrigues de Paulo, Jorge Cecílio Daher,
José
Roberto P. dos
Santos, Mario Peres, Marlene Nobre, Ricardo Leme, Roberto
Lúcio
V. de
Souza, Sergio Felipe de Oliveira , e outros
Seminário
Internacional com o Prof. Harold Koenig
Tema
Espiritualidade
no Cuidado do Paciente
Dia 26 de maio, Das 9h30 às
12h30
Médico formado pela Universidade
da
Califórnia em São Francisco, com
especialização em geriatria,
psiquiatria e bioestatística. Professor Associado de
Medicina e
Psiquiatria, e diretor do Centro para o Estudo da Religião /
Espiritualidade e Saúde da Universidade de Duke, Carolina do
Norte.
Autor de 24 livros e de cerca de duas dezenas de artigos e
matérias
sobre saúde mental, geriatria e religião. Editor
de duas
revistas
médicas especializadas: International Journal of Psychiatry
in
Medicine
e Research News & Opportunities in Science and Theology. Seu
livro
Manual de Religião e Saúde: Revisão de
um
Século de Pesquisa é
considerado o mais completo tratado sobre o assunto.
Este
Seminário
é
dirigido a médicos, estudantes de medicina e residentes, bem
como a
outros profissionais da área de
saúde,interessados em
identificar e apontar as necessidades espirituais dos pacientes.
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Nova
Casa Espirita
em Long Branch - New Jersey, Marcos Miranda, USA
É com grande alegria que
informamos a abertura formal de mais uma casa em New Jersey. Trata-se
do “
Spiritist Group Path of
Light”,
situado em
Long
Branch, cidade que apresenta
uma boa concentração
de brasileiros.
A Casa hoje oferece as seguintes
atividades:
- Reuniões de
Estudo
da Doutrina
Espírita:
- Toda
quarta-feira das 20:00 às 21:00 horas – Livro dos
Espíritos
- Toda
quinta-feira das 19:30 às 21:00 horas – Aprendizes
do
Evangelho
- Todo domingo
das 18:00 às 19:00 horas – Aprendizes do Evangelho
- Programa
“Conhece-Te
a Ti
Mesmo –
Um Atendimento Fraterno”
- Toda
segunda-feira das 20:30 às 21:30 horas –
1ª. fase
- Toda
terça-feira das 19:30 às 21:00 horas –
2ª. fase
- Palestras e Passes:
- Todos os
Domingo às 19:00 horas
Abraços a todos.
Marcos Miranda
Livro de Francisco
Cândido Xavier em
inglês, Elsa Rossi, UK
Ola amigos,
para
sua
informacao e divulgacao, o Spiritist Group of Brighton esta lancando
para todos, mais um livro traduzido por Publio Lentulus.
Trata-se
do Courage, recebido atras de Francisco Candido Xavier, escrito por
Emmanuel e varios outros espiritos.
Eh
um
livro de consolo, ensinamentos diarios e que nao deve faltar em nenhuma
biblioteca. Ja estamos aceitando pedidos.
um
abraco sempre,
Elsa
Rossi (SGBrighton-UK)
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II Jornadas de Cultura do Oeste, Lucas,
Portugal
Conferencistas
Luís de Almeida –
Engº e Investigador
da ESA (Agência Espacial Europeia),
pós-graduação em Astrofísica e
Cosmologia, dirigente espírita no Porto.
Lígia Almeida – M.D. médica, especialista em
Geriatria. Pós-graduada a
nível de Mestrado em Bioquímica e Farmácia,
directora clínica no Porto.
Presidente da Associação Médico-Espírita da
área metropolitana do
Porto. Dirigente espírita.
Jorge Gomes – Jornalista, ex-vice-presidente da
Federação Espírita
Portuguesa, editor do Jornal de Espiritismo, vice-presidente da Ass. de
Divulgadores de Espiritismo de Portugal, pesquisador de
fenómenos
espíritas, formador.
Noémia Margarido – Administradora do Jornal de
Espiritismo, técnica de
contas, dirigente espírita em Braga, tesoureira da ADEP,
pesquisadora
de fenómenos espíritas, formadora.
Francisco Curado – Engº Informático, cientista,
responsável pelo
departamento de pesquisa da Ass. de Divulgadores de Espiritismo de
Portugal, pesquisador de fenómenos espíritas.
Manuel Domingos – Especialista em neuropsicologia e
neurociências, pesquisador de Experiências de Quase-Morte.
Gláucia Lima – Médica psiquiatra, especialista em
toxicodependência e
regressão de memória, membro da ALUBRAT, cientista,
bolseira da
Fundação Bial onde desenvolveu pesquisa científica
em torno das
capacidades paranormais do ser humano. Pesquisadora e estudiosa dos
fenómenos paranormais.
Vítor Rodrigues – Psicólogo e Psicoterapeuta,
Doutor em Psicologia pela
Universidade de Lisboa, presidente da EUROTAS (European Transpersonal
Association), da ALUBRAT (Associação Luso-Brasileira de
Transpessoal),
bolseiro da Fund. Bial, onde desenvolveu pesquisa científica em
torno
da paranormalidade humana.
Jorge Andrea – Médico psiquiatra, escritor, conferencista,
espírita, pesquisador de fenómenos espíritas.
Reinaldo Barros – Lic. Em Artes Plásticas, Mestre em
Gestão do
Património Cultural, Professor de Artes, dirigente
espírita e
colaborador do Jornal de Espiritismo.
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