Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

http://www.geae.inf.br

Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec

Ano 13 - Número 492 - 2005            3 de maio de 2005


Editorial

Uma Pequena Dádiva

Artigos

Curso de Ciência e Espiritismo, 10ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil
Complexidade e Liberdade III, Edgar Morin, França
 

História & Pesquisa

Vidência e Clarividência IV, Jáder dos Reis Sampaio, Brasil

 

Questões e Comentários

Física Quântica e Espiritismo, Hugo Alessandro Cuccurullo, Brasil

Painel

V Congresso Nacional da Associação Médico-Espírita do Brasil
Nova Casa Espírita em Long Branch - New Jersey, Marcos Miranda, USA
Livro de Francisco Cândido Xavier em inglês, Elsa Rossi, UK
II Jornadas de Cultura do Oeste, Lucas, Portugal


Editorial


Uma Pequena Dádiva

Amigos,

Um dia destes estava participando da visita a um orfanato e tive a oportunidade de observar uma cena que me emocionou profundamente.

Desnecessário dizer que todas as crianças de lá - como quase todas as crianças carentes deste nosso imenso país - tem histórias tristes de vida e bem poucos momentos de felicidade verdadeira. Muitas nem sabem o que é a experiência de um lar ou a figura de um pai ou uma mãe. No geral a única família verdadeira que tem neste mundo são os companheiros de orfanato e os benfeitores responsáveis pela acolhedora instituição em que se encontram.

Pois bem, no momento em que chegávamos para a visita, estava sendo aberto um saco com brinquedos doados. Nada muito extraordinário, nem muito novo, a maior parte faltando pedaços ou com defeitos. Vimos consternados como as crianças ao redor da funcionária, que fazia a distribuição, se mostravam esperançosas de realizarem algum pequeno sonho. Uma boneca para uma, um jogo para outra e assim por diante até que ainda sobraram as crianças maiorzinhas sem nada.

Até aí eu estava cabisbaixo imaginando como algumas pessoas, limpando os armários, não se dão ao trabalho de acrescentar nem mesmo um toque de gentileza adicional na forma de um pequeno conserto ou de pelo menos uma pilha nova no brinquedo que será dado. Ficava conjecturando como é possível que as pessoas ignorem que do outro lado - do lado que recebe a doação - há um pequeno ser humano cheio de ilusões como toda criança e que merece tanto carinho quanto qualquer outra criança em situação melhor.

Estava pensando nisto quando reparei uma menina pequena com os olhos brilhando, segurava na mão uma boneca manca mas que ainda falava. Bastava apertar um pequeno botão nas costas e a boneca pronunciava algumas sílabas, encantando a criança que sorria prazeirosamente.

Que extraordinário, possivelmente a pessoa que doou os brinquedos jamais fique sabendo disso, mas os pequenos momentos de alegria que proporcionou para aquela criança não tem preço. Talvez o gesto de doação não tenha passado muito do desejo de não jogar fora algumas recordações pessoais e dar-lhe um destino mais digno que o costumeiro cesto de lixo. Mas que diferença fez no cotidiano daquele pequeno ser!

E, diante do resultado alcançado por tão pequena dadiva, me emocionei em pensar o quão pouco seria necessário para mudar o mundo. Um gesto de gentileza, um gesto de compreensão, uma pequena dádiva, um pouco do tempo de cada um em prol do próximo, um pouco menos de egoísmo e mais amor, bastariam para que pequenas coisas chegassem as mãos destas crianças que esperam tão pouco da vida. E com estas pequenas coisas estas crianças se sentiriam menos desamparadas e encontrariam caminhos melhores para seguir. Um dia estas crianças serão adultos e suas histórias tristes influenciarão suas atitudes na vida, um pouco menos de desamor para com elas refletirá no modo com que influenciarão o mundo ao seu redor.

Um mundo com menos tristeza seria o resultado de um pouco mais de amor hoje.

Muita Paz,
Carlos Iglesia
Editor GEAE

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Artigos

 

Curso de Ciência e Espiritismo, 10ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil


1. FÍSICA E ESPIRITISMO V: DEUS, ESPÍRITO E FUNÇÃO DE ONDA

Nas duas últimas aulas, analisamos os fenômenos mediúnicos, concluindo que eles não são fenômenos quânticos, isto é, suas propriedades não são as mesmas dos sitemas materiais quânticos. Hoje, analisaremos se Deus ou o Espírito podem ser caracterizados por aquilo que a teoria quântica chama de função de onda. Para isso, precisamos entender o que significa uma função de onda de acordo com a Mecânica Quântica.


Uma propriedade física de um determinado objeto é representada por aquilo que chamamos de grandeza física, que nada mais é do que uma característica que pode ser medida ou calculada. As dimensões de um objeto, a sua posição no espaço, a temperatura, carga elétrica, etc. são exemplos de grandezas físicas. Para que se possa atribuir um valor numérico a cada uma delas, define-se variáveis matemáticas como, por exemplo, x e v, que representam, então, quantitativamente o valor das propriedades posição e velocidade, repectivamente, do objeto em um determinado instante de tempo. A largura e o comprimento de um livro, por exemplo, são grandezas físicas que representam as dimensões lineares laterais do mesmo. Se multiplicarmos a largura pelo comprimento, teremos o valor da grandeza área do livro.
No caso da teoria quântica, toda a informação disponível sobre as propriedades físicas de um sistema está contida em uma função matemática batizada de função de onda. Este nome advém do fato desta função ter que satisfazer a chamada equação de onda de Schröedinger que, por sua vez, representa a dinâmica de qualquer sistema quântico de acordo com um postulado básico da Mecânica Quântica.

Em 1927, Niels Bohr propôs o que hoje conhecemos como a interpretação de Copenhague para a Mecânica Quântica, que diz que a função de onda fornece probabilidades de obtermos determinados valores numéricos para as grandezas físicas associadas ao sistema. Por exemplo, imagine que o sistema físico seja um átomo de Hidrogênio. Suponha que desejamos medir a posição de um elétron em torno do núcleo. A função de onda do elétron, de acordo com a teoria quântica, prevê que para cada ponto do espaço existe uma probabilidade diferente de encontrar o elétron através de uma medida. Se num determinado instante medirmos a posição do elétron, em instantes seguintes uma outra medida poderá resultar em uma posição muito distante da primeira, de tal forma que não podemos inferir nenhuma correlação entre as duas posições medidas como, por exemplo, imaginar que o elétron se deslocou da primeira posição à outra. Isso é verificado através da realização de múltiplas experiências com sistemas idênticos em que medidas da posição do elétron, em dois instantes diferentes para cada sistema, fornecem valores muito diferentes entre si.


Um outro aspecto que gera muita confusão é que segundo a interpretação de Copenhague, antes de realizarmos uma medida, o sistema quântico não está definido com relação às suas propriedades físicas. Por exemplo, antes de tentar medir a posição de um elétron, a teoria quântica não diz que ele está em algum lugar em torno do núcleo em um determinado instante. A teoria diz, apenas, que, em um determinado instante, existem probabilidades do elétron estar presente em algum lugar em torno do núcleo.
De modo a entendermos esse comportamento da Mecânica Quântica, considere o problema de procurarmos uma pessoa dentro de um quarto escuro. Do ponto de vista da teoria clássica, que explica os fenômenos macroscópicos, a pessoa estará ocupando uma determinada região dentro do quarto, mesmo que não a estejamos vendo. Mas, ao imaginar uma partícula microscópica dentro de uma caixa, antes de medirmos sua posição dentro dela, a teoria quântica diz que não podemos dizer que ela está ocupando uma determinada região da caixa em um determinado instante. Existem, apenas, probabilidades. Às vezes, confunde-se esse conceito com a idéia da partícula estar em todos os lugares da caixa ao mesmo tempo, mas mesmo isso é apenas uma interpretação que, na prática, não ajuda muito já que no momento da medida, apenas uma posição será revelada. É isso que confunde até mesmo os cientistas mais experientes, e faz com que a teoria quântica não seja uma teoria completamente acabada.

Ao realizarmos uma medida física de uma dada grandeza sobre um sistema quântico, um dos possíveis valores para essa grandeza será obtido e sua função de onda se transformará instantaneamente em outra função que representará, após a experiência, o sistema no estado relacionado com a medida feita. A teoria quântica não explica esse “fenômeno” conhecido como o colapso da função de onda, mas os experimentos demonstram que isso ocorre.


Mesmo não compreendendo os “porquês” desse tipo de comportamento decorrente de leis probabilísticas, os físicos tem uma enorme confiança na teoria quântica pois todos os experimentos realizados até hoje confirmam as previsões feitas para o comportamento das partículas microscópicas de matéria. Na minisérie “O Auto da Compadecida”, criado pela Rede Globo de televisão, o personagem interpretado pelo ator Selton Melo, ao ser perguntado sobre o porquê de determinada coisa, comumente respondia “Sei não! Só sei que é assim!”. Digamos que os físicos respondam a mesma coisa quando perguntados sobre “por que” o comportamento das partículas subatômicas é probabilístico.

A idéia de que alguns fenômenos naturais são regidos por leis probabilísticas não agrada muito nosso intelecto ávido pela busca do conhecimento das causas de cada tipo de fenômeno conhecido. Isso aconteceu com Einstein que exprimiu seu desconforto com a teoria quântica através de uma de suas mais conhecidas frases: “Deus não joga dados com o mundo”. Para mostrar que havia uma inconsistência teórica da Mecânica Quântica, ele e outros dois cientistas propuseram um experimento conhecido pela sigla EPR (iniciais de Einstein, Podolsky e Rosen). Segundo Einstein, deveriam existir variáveis ocultas não acessíveis ao experimentador que fariam o papel de “conectar” as partes de um sistema quântico dito emaranhado, (ou entrelaçado) onde o fenômeno da não-localidade ocorre (característica C3 definida na aula 8, Boletim 490). Porém, John Bell, a 40 anos atrás, demonstrou um teorema matemático que diz que não é possível construir uma teoria local para a Mecânica Quântica com variáveis ocultas. Em outras palavras, se a teoria quântica estiver certa, ela não é uma teria local. Em 1982, um artigo científico divulgou a realização de um experimento de EPR confirmando o fenômeno da não-localidade [1]. Muitos outros trabalhos científicos foram realizados com diversos tipos de sistemas quânticos, demonstrando o fenômeno não-local. Alguns cientistas estão trabalhando em utilizar o fenômeno EPR para produzir sistemas idênticos em locais distantes, simulando aquilo que os filmes de ficção científica chamam de teletransporte. Em aula futura, discutiremos, com um pouco mais de detalhes, o que os cientistas chamam de teletransporte e se isso tem algo a ver com o fenômeno espírita de transporte.


O Capítulo II de A Gênese [2] trata da existência de Deus e de seus atributos. Segundo Kardec (ítem 18, Cap. II), “Deus não pode ser Deus, senão sob a condição de que nenhum outro o ultrapasse (...) Para que tal não se dê, indispensável se torna que ele seja infinito em tudo.” Se Deus fosse uma função de onda ou tivesse propriedades quânticas, seus atributos não estariam definidos a menos que um ente externo realize uma medida sobre Deus para ver qual seria o “valor” de cada um de seus atributos. Percebe-se daí que a hipótese de Deus ser uma função de onda é um absurdo. Um outro argumento pode ser dado com base no ítem 12 do cap. II de A Gênese [2]. Segundo Kardec, “Deus é imaterial, isto é, a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria.”. Como a teoria quântica descreve o comportamento da matéria, ela não pode ser usada para descrever a natureza do Criador pois isso equivaleria a dizer que Deus possui propriedades semelhantes às da matéria em escala microscópica, o que está em franco desacordo com a Doutrina Espírita.


Seria o Espírito, então, regido por uma função de onda? Ou, melhor perguntando, seria o Espírito um sistema quântico que poderia ser descrito por uma função de onda?

Na questão 23 de O Livro dos Espíritos [3], os espíritos dizem que o Espírito é o princípio inteligente do Universo. Nas questões seguintes, Kardec pergunta sobre a natureza íntima do Espírito e as respostas levam Kardec a concluir que existem dois elementos ou princípios gerais no Universo: o elemento material e o elemento espiritual. Mais adiante, no Cap. I da segunda parte de O Livro dos Espíritos, Kardec retoma as perguntas sobre os Espíritos, desejando, agora, estudar as individualidades dos seres extracorpóreos (ver nota após questão 76).
Na questão 82, Kardec pergunta se os espíritos são imateriais. Os espíritos respondem que “(...) Imaterial não é bem o termo; incorpóreo seria mais exato, pois deves compreender que, sendo uma criação, o Espírito há de ser alguma coisa. É a matéria quintessenciada, mas sem analogia para vós outros, e tão etérea que escapa inteiramente ao alcance dos vossos sentidos.”(grifos em negrito, nossos). É interessante notar que os espíritos superiores não disseram que a essência dos Espíritos é imaterial, assim como Deus é imaterial. Notamos também que seja lá o que for a essência do Espírito, é algo “sem analogia para nós”. Por causa disso, Kardec optou por considerar o Espírito como sendo algo imaterial no sentido de não ser igual àquilo que chamamos de matéria. Em suas palavras, (logo em seguida à resposta da questão 82) “Dizemos que os Espíritos são imateriais, porque, pela sua essência, diferem de tudo o que conhecemos sob o nome de matéria. Um povo de cegos careceria de termos para exprimir a luz e seus efeitos. O cego de nascença se julga capaz de todas as percepções pelo ouvido, pelo olfato, pelo paladar e pelo tato. Não compreende as idéias que só lhe poderiam ser dadas pelo sentido que lhe falta. Nós outros somos verdadeiros cegos com relação à essência dos seres sobre-humanos. Não os podemos definir senão por meio de comparações sempre imperfeitas, ou por um esforço da imaginação.

Reformulamos a questão: será que a “matéria quintessenciada”, como disseram os espíritos, que constitui a essência do Espírito possui as mesmas propriedades físicas da matéria em escala microscópica? Seria possível atribuir a essa matéria quintessenciada uma função de onda? Para responder a essa questão, vamos analisar a característica probabilística associada aos sistemas quânticos e o problema do colapso da função de onda.

Quais seriam as propriedades mais importantes do Espírito? Na questão 24, os espíritos superiores disseram que a inteligência é um dos atributos do Espírito. Além disso, os Espíritos possuem vontade (ver por exemplo, o 4º parágrafo do ítem VII da Introdução do Livro dos Espíritos [3]). Nem a inteligência, nem a vontade podem ser características que dependem de leis probabilísticas pois isso significaria que ambas não decorrem do esforço próprio de cada criatura. Por exemplo, uma pessoa poderia manifestar a inteligência de um gênio, em um instante, e depois manifestar a inteligência de uma criança em outro instante, dependendo de leis probabilísticas. Além disso, se nossos atos fossem regidos por leis probabilísticas, não haveria razão para sermos responsabilizados por erros cometidos, nem méritos teríamos pelo bem realizado. Tudo não teria passado de probabilidades de ocorrência.


Segundo a teoria quântica, antes de um sistema manifestar algum valor para suas propriedades físicas, é necessário que um observador externo faça uma medida. No caso da inteligência e da vontade, quem ou o quê fará a medida que determinará um pensamento ou uma decisão de uma pessoa? Como se vê, a proposta de que o Espírito é regido por uma função de onda também é um equívoco de consequências contrárias aos ensinamentos do Espiritismo.

Concluimos, portanto, que nem Deus nem o Espírito podem ser regidos por algo similar à função de onda de sistemas quânticos. Simplesmente, a inteligência e a vontade, atributos do Espírito, não podem ser regidos por leis probabilísticas e, portanto, não podem ser representados por uma função de onda.


Isso é bem diferente da tentativa de diversos cientistas de estudarem como a mente humana emerge a partir do cérebro. O cérebro sendo, em última instância, formado por partículas atômicas que compõem as moléculas que, por sua vez, compõem as células, é um sistema macroscópico que possui propriedades quânticas. Como essas propriedades se manifestam macroscopicamente, é algo que está sendo objeto de estudos e pesquisas. Uma pergunta interessante é como o sistema formado pelo cérebro colapsa a função de onda dele mesmo. Isso pode vir a ser uma porta para insights interessantes na relação espírito-matéria.

Na próxima aula, falaremos sobre a controvérsia entre a idéia de ‘comprovação científica’ e a idéia de ‘disciplina científica’. Na aula 12, comentaremos sobre dois equívocos em interpretações espíritas decorrentes das experiências de teletransporte, e a idéia de universos paralelos.

Referências

[1] A. Aspect, J. Dalibard e G. Roger, Experimental test of Bell inequalities using time-varying analysers (1982), Physical Review Letters 49, p. 1804.
[2] A. Kardec, A Gênese, Editora FEB, 36ª Edição (1995). [3] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76a Edição (1995).
 

Continua no próximo Boletim

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Complexidade e Liberdade III, Edgar Morin, França

(Conclusão do Artigo iniciado no Boletim 490)

Este texto apareceu anteriormente na publicação de ensaios Thot, da Associação Palas Athena, São Paulo (no. 67, 1998, pp. 12-19) e encontra-se disponível no endereço
http://www.geocities.com/pluriversu/complexi.html

A Emergência dos Sistemas
 
Entretanto, para que adquiríssemos os meios intelectuais e conceituais necessários à entrada no universo da complexidade, foi preciso esperar pelos anos 50, quando surgiram três teorias novas.

A primeira foi a cibernética de Norbert Wiener, que é ao  mesmo tempo engenheiro e pensador. A ele devemos a idéia de retroação e circularidade, que estava latente desde a obra de Marx, na qual a superestrutura retroage sobre a infra-estrutura. Essa idéia de ciclos retroativos, que quebram a causalidade linear, mostra que os fatos podem, eles próprios, tornar-se causadores, ao retroagir sobre a causa, como Pascal já havia assinalado. Essa recursividade tem dois aspectos: um, regulador, que impede que os desvios destruam os sistemas; e outro potencialmente destruidor, chamado de feedback positivo, que os fazem explodir.

Nos anos 60, outro pensador, o nipo-americano Magoroh Maruyama, fez a seguinte proposição: não se pode ter criação, a não ser por meio dos feedbacks positivos. Em outros termos, quando um sistema se desregula, há um desvio que se amplifica. Nesse caso, o sistema - sobretudo se é complexo (social ou humano) - em vez de se desgovernar pode transformar-se. A criação não é possível senão pela desregulação.  

O segundo aporte conceitual é a teoria dos sistemas, que propõe que o todo é maior que a soma de suas partes, mas também que é menor que ela; assim, a totalidade pode oprimir as partes e impedir que estas dêem o melhor de si mesmas. Isso tem conseqüências político-sociais indiretas. Um grande império não é melhor porque é um todo: sua bancarrota pode ser salutar, ao liberar as potencialidades das partes dominadas.

A idéia capital aqui é a de emergência. As qualidades que aparecem podem ser induzidas, mas não podem, em contrapartida, ser deduzidas logicamente. As emergências estão em qualquer espécie de flor. A evolução biológica levou, num determinado momento, a uma verdadeira explosão floral - mas persiste a questão de saber por que as flores têm necessidade de mostrar o seu sexo, de serem exibicionistas!

O terceiro aporte é a teoria da informação, de Shannon e Weaver. É um instrumento capaz de lidar com a incerteza, com o inesperado. Extrai-se do mundo do ruído algo de novo e muitas vezes surpreendente. A noção de informação, ao mesmo tempo física e semântica, nos introduz num mundo onde o novo pode aparecer, ser reconhecido, assinalado... Captamos o novo nessa relação permanente de ordem e redundância, na integração do conhecido e na ordem do ruído.

Essas três teorias formam uma espécie de "rés-do-chão". No primeiro estágio, pode-se colocar a contribuição de Von Foerster e Von Neumann. Este, refletindo sobre a diferença entre as máquinas artificiais - as que produzimos a partir de elementos fabricados e confiáveis - e as máquinas naturais, cujos elementos são pouco confiáveis (essas moléculas que se degradam por um nada!), perguntou-se: por que as primeiras, logo que começam a funcionar, iniciam seus processos de usura e degradação, enquanto que as segundas - os seres vivos - podem progredir, evoluir? A resposta é que os viventes têm o poder da auto-reparação, da auto-reforma.

A segunda idéia, de Von Foerster, é a "ordem a partir do ruído". Seu jogo experimental era o seguinte: tomava de uma caixa, dentro da qual colocava cubos com determinados lados imantados. Em seguida provocava agitação, isto é, introduzia na caixa uma energia não-direcional e, portanto, a desordem. Apesar disso, a presença de um princípio de ordem - os ímãs - permitia que os cubos chegassem a uma arquitetura bem organizada. Eis o fenômeno da auto-organização.

O segundo estágio é o que se poderia chamar de auto-eco-organização. Um ser vivo precisa nutrir-se para regenerar sua energia. Para ser autônomo, tem necessidade do meio ambiente, de onde retira não energia bruta, mas já organizada. Do mesmo modo, temos gravada em nossa organização uma ordem cósmica, a alternância do dia e da noite. Essa ordem (por uma espécie de mecanismo cíclico, que pode se tornar independente da luz e da obscuridade, como mostraram experiências em cavernas sem luz) nos permite alternar a vigília e o sono...

Tudo isso para dizer que a separação entre o conhecedor e o conhecido não pode ser alcançada. Sabe-se, depois de Kant, que para conhecer o mundo projetamos nele nossas categorias, nossos a priori espaciais e temporais.
 
Por uma Convivência Solidária
 
Essa circunstância pode ser ainda confirmada pelo funcionamento do cérebro humano: isolado no interior de uma caixa fechada, ele todavia se comunica com o Universo pela mediação de terminais sensoriais. Os estímulos visuais, por exemplo, são transformados num código binário, que tecido cerebral retrabalha e transforma em percepção ou representação. O conhecimento não é senão uma tradução, uma reconstrução. Não conhecemos a essência das coisas exteriores. Sabemos das coisas objetivas, que podemos confirmar, mas não há conhecimento sem integração do conhecido. Essa circunstância vale também para os fenômenos sociais e humanos. O sociólogo e o economista são parte da sociedade, e a totalidade desta - ou seja, a cultura, a linguagem - está também neles.

Num estágio superior, vejo a necessidade de uma reforma paradigmática dos conceitos dominantes e de suas relações lógicas, que controlam, inconsciente e incorrigivelmente, todo o nosso conhecimento. O paradigma sob o qual vivemos é o da disjunção e da redução: e ele nos torna cegos, nesta era de globalidade e mundialização.

Não podemos produzir por decreto a reforma necessária, porque ela está inscrita no próprio curso da história; pensemos na passagem do paradigma ptolomaico ao copernicano. Tal reforma consiste em passar para um paradigma de religação, conjunção, implicação mútua e distinção. Ela pressupõe uma mudança no ensino, que por sua vez implica uma transformação do pensamento. É um círculo vicioso, do qual precisamos sair um dia... Um conhecimento pertinente é aquele que é capaz de contextualizar, isto é, religar, globalizar. A ação adquire um novo sentido: fazer as apostas. Pascal - novamente ele - apostava em Deus. Nós apostamos em valores que não podem ser fundamentados. Assim como o mundo, a ética se autoproduz.

Conhecer é também uma estratégia, que pode se modificar em relação ao programa inicial, que é flexível e leva em conta o que chamo de ecologia da ação. Sabe-se hoje que uma ação, lançada ao mundo, entra num turbilhão de interações e retroações, que podem se voltar contra a intenção inicial.

Por fim, uma última idéia: o sentimento de uma comunidade de destino profundo, que liga as idéias de solidariedade e fraternidade. O laço entre complexidade e solidariedade não é mecânico. Uma  sociedade muito complexa proporciona muitas liberdades de jogo a seus indivíduos e grupos. Permite-lhes ser criativos, algumas vezes delinqüentes. A complexidade tem, assim, seus riscos. Ao atingir o extremo da complexidade a sociedade se desintegra. Para impedi-lo, pode-se recorrer a medidas autoritárias; entretanto, supondo que desejemos o mínimo possível de coerção, o único cimento que nos resta é a solidariedade vivida.

EDGAR MORIN é diretor emérito do Centre National de la Recherche Scientifique, em Paris, e presidente da Association pour la Pensée Complexe, também sediada em Paris. 

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História & Pesquisa

(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas")

Vidência e Clarividência, Jáder dos Reis Sampaio, Brasil

Uma Revisão dos Conceitos na Literatura Espírita, Metapsíquica e Parapsicológica - Parte IV - Final

(Conclusão do Artigo iniciado no Boletim 489)

5. Vidência e Clarividência na Obra de André Luiz

Encontramos referências sobre a mediunidade de vidência e a clarividência em dois livros de André Luiz, psicografados por Francisco Cândido Xavier.

Em "Mecanismos da mediunidade", são apenas três parágrafos justapostos ao final do capítulo que trata dos efeitos intelectuais. Neles André Luiz afirma que os fenômenos de clarividência e clariaudiência têm por mecanismo a transmissão de quadros e imagens do espírito comunicante para a mente do médium, "valendo-se dos centros autônomos da visão profunda, localizados no diencéfalo, ou lhe comunica vozes e sons, utilizando-se da cóclea" (p. 135).

Este fenômeno, como qualquer outro fenômeno mediúnico, seria tanto mais nítido quanto maior a sintonia mental entre espírito comunicante e médium.

Encontramos algumas informações adicionais no livro intitulado "Nos domínios da mediunidade". O instrutor Áulus afirma que os médiuns acreditam ver e ouvir, mas esta impressão é apenas "derivada do hábito", já que os órgãos dos sentidos não são os sensores do plano espiritual.

Decreve-se a diferença de percepção de médiuns dotados da mesma faculdade e a interveniência dos fenômenos psicológicos de um dos médiuns sobre a capacidade de registrar as idéias do espírito comunicante. No enredo, o médium Castro, embora veja o espírito Clementino, não lhe registra as palavras porque deseja ver a mãe, já desencarnada.

Um outro evento importante diz respeito à dificuldade do médium distinguir cenários do plano espiritual de imagens mentais do espírito comunicante. No enredo do texto, André Luiz se espanta ao ouvir o relato da médium Celina de ter visto um riacho e a visão de Eugênia de um edifício de crianças, que ele não era capaz de perceber. Áulus lhe explica que as médiuns tomavam por imagens o que em verdade eram pensamentos sugeridos por Clementino.

Após rever os capítulos deste último livro que tratam de mediunidade sonambúlica e desdobramento, não encontramos qualquer explicação por parte do autor
espiritual ou dos seus instrutores voltada à clarividência.

Dada a exiguidade de informações, nossas conclusões apontam para uma pequena distinção entre os conceitos de André Luiz e de Allan Kardec. Não encontramos também em "Mecanismos da Mediunidade" uma distinção clara entre as duas faculdades que estamos estudando neste artigo. André Luiz não parece distinguir clarividência de vidência, focalizando suas análises no que há de comum entre estas duas faculdades.

Talvez, por esta razão, Martins Peralva tenha focalizado seu conceito de clarividência, após a leitura deste autor espiritual, na acuidade da percepção, quando diz que a clarividência é "a faculdade pela qual a pessoa vê os Espíritos com grande clareza" e a clariaudiência é "a faculdade pela qual a pessoa ouve os Espíritos com nitidez".

6. Concluindo

Tendo revisto três importantes autores espíritas sobre a questão da distinção entre vidência e clarividência, não encontramos divergências importantes entre eles, embora acreditemos que eles empreguem estas palavras de modo diferente.

Nossa opinião é de que é dispensável a polêmica calcada em significado de palavras e totalmente desnecessário definir um sentido universal para elas.

O estudioso do Espiritismo deve, entretanto, ser capaz de distinguir estas nuances de cada um dos autores a fim de compreender melhor o que desejam expressar, quando derivam suas considerações, a partir de sua terminologia e evitar confusão das suas afirmações.

7. Fontes Bibliográficas

AMADOU, Robert. Parapsicologia. São Paulo: Mestre Jou, 1966.
ANDRADE, Hernani G. Parapsicologia experimental. São Paulo: Pensamento, s.n.
ANDRÉ LUIZ. Mecanismos da mediunidade. Rio de Janeiro: FEB, 1977. [Psicografado por XAVIER, Francisco Cândido]
______ Nos domínios da mediunidade. Rio de Janeiro: FEB, 1979. . [Psicografado por XAVIER, Francisco Cândido]
DELANNE, Gabriel. O espiritismo perante a ciência. Rio de Janeiro: FEB, 1993.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. [online] Rio de Janeiro: FEB, edição eletrônica.
______ O livro dos médiuns. [online] Rio de Janeiro: FEB, edição eletrônica
______ Definições espíritas. Niterói - R.J.: Lachâtre, 1997.
______ Obras póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 1978. ["Causa e natureza da clarividência sonambúlica" e "A segunda vista"]
PERALVA, Martins. Clarividência e clariaudiência. In: Estudando a mediunidade. Rio de Janeiro: FEB, 1981.
PIRES, J. Herculano. Parapsicologia hoje e amanhã. São Paulo: Edicel, 1987.
RUSH, Joseph. Parapsychology: a historical perspective. In: EDGE, Hoyt et al. Foundations of parapsychology. Boston: Routledge & Kegan Paul, 1986.
SANTOS, Jorge Andréa. Nos alicerces do inconsciente. Rio de Janeiro: Fon Fon e Seleta, 1980

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Questões e Comentários 


Física Quântica e Espiritismo, Hugo Alessandro Cuccurullo, Brasil

(Perguntas enviadas pelo Hugo e respondidas pelo Alexandre Fontes da Fonseca)

Pergunta - Levando em conta que os espíritos mesmo na erraticidade ainda possuem  um "corpo" material não seria válido imaginar que mesmo na erraticidade os efeitos da não-localidade ainda se manifestariam?

Resposta - Sim. Porém, é preciso analisar bem em que situações o fenômeno de não-localidade ocorre. Esse fenomeno só ocorre com sistemas formados por muito poucas partículas em situações muitíssimo especiais. Eu não duvido que os fluídos espirituais possuem uma estrutura íntima análoga à estrutura da matéria densa (André Luiz propõe essa analogia). Porém, se já é dificil fazer um experimento para verificar a não-localidade em um fenômeno material, imagine a dificuldade em testar isso com os fluídos?

Em ciência, jamais extrapolamos uma teoria sem testá-la experimentalmente. Ou melhor dizendo, uma extrapolação desse tipo tem valor apenas como exercício intelectual e somente após a verificação da realidade é que podemos concluir que a extrapolação é ou não é boa. Mas, supondo que podemos extrapolar as leis que regem a matéria densa para com o comportamento da matéria sutil que existe no perispírito e no mundo espiritual, só podemos deduzir que o efeito de não-localidade ocorrerá com partículas microscópicas associadas aos fluídos. Assim como nenhum objeto material macroscópico reflete o fenômeno da não-localidade, provavelmente nenhum fenômeno "macroscópico" fluídico refletirá essa propriedade.

Dizer, por exemplo, que a transmissão de pensamento entre os espíritos é não-local, refletiria o desconhecimento do que é o fenomeno não-local em comparação com a descrição do fenômeno de transmissão do pensamento segundo o Espiritismo.

Se voce analisar a história da ciência, verá que antes do desenvolvimento da teoria quântica, primeiro a física clássica foi completamente desenvolvida. Somente quando os cientistas iniciaram a pesquisar o mundo do muito pequeno, é que as contradições e conflitos entre teoria e experimentos surgiram. Isso é que motivou o desenvolvimento da teoria quântica. Hoje, não temos ainda bem estudado, todas as propriedades físicas dos fluídos. Como construir uma teoria quântica para a estrutura dos fluídos se não temos como comparar as consequências dessa teoria com os fenômenos espíritas que são, por natureza, macroscópicos?

Pergunta - Entendo que ainda exista muita coisa para se estudar na MQ antes do espiritismo se manifestar, mas não seria bem vindo que se faça exercícios filosóficos e teóricos até com a consulta à espiritualidade maior afim de, com esse salto no conhecimento, se atualize as discussões filosóficas nas casas espíritas? Nesse caso não existe uma excessiva cautela?

Resposta - Sempre é bem vindo, fazer exercícios de estudo e pesquisa de ordem teóricos. Porém, a forma como se divulga um estudo é muito importante. Eu posso falar das minhas opiniões sobre diversos assuntos, mas opinião não tem valor científico. A consulta aos espíritos tem valor, mas também não serve para obter verdades maiores a menos que o critério do consenso universal seja satisfeito de forma rigorosa.

O problema, meu amigo, ocorre quando algumas afirmativas são feitas sem a devida explicação e/ou demonstração completa de como elas foram obtidas. Kardec jamais afirmou algo que ele não pudesse demonstrar. Tanto isso é verdade que, sendo um homem de ciência, ele nunca propôs modelos para os fluídos espirituais baseados na física e química de sua época.

Nesse aspecto, eu defendo a idéia de que devemos ter cautela pois os leitores sempre consideram como verdades o que é dito e publicado nos meios de divulgação espíritas. O público frequentador e colaborador nas casas espíritas não tem condições de discutir com profundidade temas tão complexos como a interpretação da Mec. Quântica que são difíceis até para nós que trabalhamos na área de Física. O que, ao meu ver, vale a pena fazer é convidar espíritas que
conhecem Física de modo mais profundo, para realizarem palestras expondo em linguagem simples o que se pode ou não considerar da Física em favor dos conceitos espíritas (estamos trabalhando nisso nas 'aulas' sobre Ciência e Espiritismo).

Pergunta - Até que ponto o grupo de espíritos que auxiliaram Kardec no momento da codificação precisaram se conter à física clássica e o pensamento cartesiano, dada ao estado do conhecimento científico da época?

Resposta - Certamente que os espíritos superiores já conheciam o comportamento dos fenômenos da matéria em escala microscópica. Não sei se voce leu o Boletim 488, aula 6 sobre Ciência e Espiritismo, em que discutimos algumas questões respondidas pelos espiritos que só puderam ser bem compreendidas por causa do desenvolvimento da teoria quântica. Isso mostra que eles conheciam (e conhecem) bem melhor que nós, a natureza.

Mas, os espíritos superiores jamais revelariam coisas que cabem à Ciência revelar. Jamais os espíritos nos darão respostas que cabem à ns o esforço por encontrá-las.

Note que os espíritos não estavam tão preocupados com a Física dos fluídos. Eles estavam muito mais preocupados com a codificação de uma doutrina que pudesse ajudar o Homem a se encontrar perante as leis morais.

Na medida do possível, nós podemos nos preocupar em pesquisar as propriedades físicas dos fluídos. Mas não podemos jamais nos precipitar com analogias que poderão se tornar inadequadas no futuro. Leia, se possivel, o prefácio do livro Mecanismos da Mediunidade. André Luiz faz um apelo para não tomar o conteúdo deste livro como uma verdade final. Ele diz que ele tem pleno conhecimento de que a ciência de um século é diferente da ciência do século seguinte e que por isso, não podemos considerar como absolutas as analogias que ele faz. Se lembra do livro O Tao da Fisica? A teoria básica que o Capra usa para servir de base para sua comparação entre os fenômenos físicos e os conceitos budistas, nao é mais aceita pela comunidade de físicos nos dias de hoje. Por mais interessante
que seja o livro dele, hoje já não tem tanto valor assim.

Pergunta - Não é justificável todo alvoroço que alguns espíritas sejam tomados, quando estamos diante de uma realidade que torna o conceito de causa e efeito relativo?

Resposta - Justamente por isso, é que a cautela se justifica. É preciso mais calma e prudência antes de sairmos por aí expondo conclusões apressadas. Aliás, a ciência nunca expõe conclusões definitivas de modo apressado.

Pergunta - Um Universo regido por probabilidades, de certa forma não faz também bastante sentido (se nos permitirmos quebrar paradigmas) ao levarmos em conta toda a matemática envolvida para que a exista uma realidade possível respeitando o livre-arbítrio de cada um dos espíritos do Universo?

Resposta - Esse é um ponto altamente questionável! Nem entre os físicos existe algum acordo sobre o Universo, como um todo, ser regido por leis probabilísticas. Por enquanto, só é bem aceita a idéia de que os sistemas microscópicos obedecem leis probabilísticas. Os sistemas um pouco maiores (uma célula, por exemplo) já possuem comportamento determinístico.

Daí o problema que considero muito importante: como unir a idéia de 'livre-arbítrio' com leis probabilísticas?

Pergunta - As idéias do físico Amit Goswami são muito próximas das de Pietro Ubaldi, ambos vêem um universo monista e não panteista, já que o panteismo nem mesmo pode ser considerado um "teismo" já que dilui completamente a idéia da existência de um Deus como entidade.

Resposta - Eu não conheço em profundidade nem o Ubaldi nem o Goswami. Sobre o Goswami, eu sei que ele é panteista e não acredita no espírito como uma individualidade fora do corpo físico.

Pergunta - Já o monismo não necessáriamente se contrapõe aos conceitos espíritas, pois acredita em um Deus que é ao mesmo tempo transcendente e imanente. Ainda sobre Amit Goswami, mesmo quando ele coloca de certa forma a consciência como uma propriedade da matéria não acho que descarte a possibilidade da existência de um princípio inteligente,

Resposta - Do que eu entendi do livro Universo Auto-consciente, a proposta dele é apenas a de um consciente maior que age através das pessoas e coisas. A proposta dele, ao meu ver, é a melhor proposta espiritualista com base em conceitos da física. Infelizmente, ela ainda nao é espirita, por não levar em conta o espírito. A explicação que ele dá para o colapso da função de onda só inclui a existência dessa consciência maior.

Pergunta - mesmo André Luis no livro Evolução em Dois Mundos dá um grande papel a matéria como repositório da consciência hereditária coletiva.

Resposta - Eu entendi esse livro do André Luiz de modo diferente de voce. Não é a matéria que possui consciência. É o princípio inteligente, em seu processo de individualização, que com o seu 'corpo espiritual' (ou o análogo a isso para os espiritos durante a individualização) vai armazenando informações tanto sobre o comportamento instintivo e material quanto sobre o próprio despertar da consciência.

Pergunta - Será que não seria benvinda uma contribuição mais ativa do espiritismo nesse debate?

Resposta - Toda contribuição é sempre bem-vinda. Mas como saber se uma idéia que estamos tendo é uma contribuição ou um deserviço para o nosso entendimento? Percebe a importância da cautela?

Foi com o objetivo de 'colocar os pés no chão' é que estamos escrevendo essas "aulas" sobre Ciência e Espiritismo. Existe muito desconhecimento de como as coisas são no mundo da ciência. Por exemplo, voce acha que o Espiritismo pode ser chamado de ciência só porque Kardec disse? Hoje, temos a nossa disposição os estudos feitos com base na Filosofia da Ciência, realizados pelo Prof. Chibeni, que demonstram que o Espiritismo possui todas as características de uma disciplina científica legítima. No entanto, mesmo tendo o Chibeni feito isso há mais de 10 anos atrás, os espíritas não conhecem direito isso e ficam dando mais valor para os textos que envolvem Mec. Quântica.

Pergunta - As vezes, quando leio que uma teoria é espiritualista e não espírita, me dá uma impressão de que não deve ser levada em conta, quando na verdade pode ser um ótimo material para o desenvolvimento do pensamento espírita.

Resposta - Quando se diz que algo é espiritualista e não espírita, apenas se está querendo dizer que esse algo satisfaz os princípios que definem a palavra 'espiritualista' enquanto não satisfaz ou está em conflito com princípios ligados a palavra 'espirita'.

Mas isso não quer dizer que não se possa estudar o assunto para tirar dele o que for bom. No caso da teoria do Amit, eu, particularmente, não consigo ver nenhuma aplicação maior ao Espiritismo. Talvez alguém encontre alguma sutileza nas suas propostas. O que dissemos no Diálogo, foi que o que o Amit escreve não está em acordo com tudo o que aprendemos na Doutrina Espírita.

Alguém pode, muito bem, pegar as idéias do Amit, pensá-las em outro ponto de vista e, talvez, encontrar uma proposta diferente para explicar o espírito. O que não se pode fazer é dizer (sem fazer um estudo prévio) que o Amit provou isso ou aquilo. Provar, ele não provou nada! Ele fez uma proposta que está em debate tanto perante os espiritualistas em geral quanto no meio acadêmico. Isso tem valor, mas está longe de ser prova.

Pergunta - Quando Jung definiu as sincronicidades (na mesma época em que não por coincidência se correspondia com o físico Wolfgang Pauli) falou de uma mudança na forma que o Universo deveria ser observado, não mais sob os auspícios da causa e efeito, mas da simultanedade e significado. A teoria das sincronicidades também foi completamente ignorada pelo meio espírita, uma bomba como essa está há quase 50 de anos questionando um dos axiomas principais da doutrina dos espíritos e não se discute, não se debate, será que não existe um limite para a prudência e a cautela?

Resposta - Uma coisa é debater temas e assuntos que podem contribuir com o nosso conhecimento. Outra é levantar polêmicas que não levam a nada. O que é ter prudência e cautela? Ter prudência e cautela é:
  1. estudar com profundidade o assunto;
  2. estudar o que os estudiosos, filósofos ou cientistas da área, estão concluindo sobre o assunto nos dias de hoje. Será que estão apoiando a proposta, ou estão refutando-a com base em outras?
  3. estudar profundamente o Espiritismo, de modo a estar a par de todos os raciocínios e argumentos de Kardec e dos espíritos superiores.
  4. Ai, sim, analisar comparando os argumentos de um lado e os argumentos espíritas, analisar o valor relativo de cada um deles e depois escrever uma conclusão.
Sobre o problema da relação entre causa e efeito por mais que o comportamento do mundo subatômico seja probabilístico (sem deixar de esquecer que a variação da probabilidade satisfaz a lei de causa e efeito), o mundo macroscópico nao é regido por leis probabilísticas.

A Natureza é o que ela é. O que cresce e se desenvolve é a forma pela qual nós a entendemos. E nós a entendemos através de modelos (as teorias). A idéia de causa e efeito é tão comum que ninguém ousaria questioná-la em termos absolutos. Até mesmo por causa disso, é que, ainda hoje, alguns físicos se dedicam ao estudo de formas alternativas para explicar os fenômenos microscópicos.

Então, meu amigo, se essas coisas ainda estão sendo debatidas, como é que a gente pode considerá-las verdades prontas e acabadas a ponto de querermos propor explicacoes ou mudanças nos conceitos espíritas?

Pergunta - Será que seria esta a forma de agir de Kardec se estivesse vivendo entre nós? Ele não foi um exemplo de que a pesquisa e o desenvolvimento do espiritismo não deveriam se encerrar com a publicação das cinco obras básicas?

Resposta - Quer mais prudência do que essa recomendação do Espírito de Erasto: "É preferível rejeitar 10 verdades do que aceitar uma só mentira" ? (item 230 do Livro dos Médiuns).

Note que o desenvolvimento de qualquer área do conhecimento requer cautela e prudência. Ter cautela e prudência nao significa 'não
pesquisar'. Significa, justamente, pesquisar a fundo o assunto que se deseja estudar..

Espero que tenha ajudado. Fique a vontade para questionar mais.

Um abraco fraterno,
Alexandre

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Painel

 

V Congresso Nacional da Associação Médico-Espírita do Brasil

Data: 26 a 28 de maio de 2005
Local: Teatro Cultura Artística - Rua Nestor Pestana, 196 - São Paulo - SP

Temas

Neurobiologia da Fé; Medicina e Espiritualidade na Educação Médica; Estudos fronteiriços em Neuro-imagem; Pesquisas atuais sobre a eficácia da prece; Atualidades em Biofísica; A Reencarnação como lei biológica; Influência de Espíritos na TRVP; Espiritualidade e dor, Estresse na visão integral; As múltiplas faces da Depressão; Espiritualidade na atenção à gestante, ao paciente oncológico, cardíaco, diabético, idoso ; Células-tronco e Pesquisas, Aborto do Anencéfalo, Distanásia; entre outros.

Palestrantes

Alberto Almeida, Alvaro Avezum, Cesar Geremia, Décio Iandoli Jr, Eliane Oliveira, Fabio Nasri, Francisco Cajazeiras, Gilson Luis Roberto, Jaider Rodrigues de Paulo, Jorge Cecílio Daher, José Roberto P. dos Santos, Mario Peres, Marlene Nobre, Ricardo Leme, Roberto Lúcio V. de Souza, Sergio Felipe de Oliveira , e outros

Seminário Internacional com o Prof. Harold Koenig
Tema
Espiritualidade no Cuidado do Paciente
Dia 26 de maio, Das 9h30 às 12h30

Médico formado pela Universidade da Califórnia em São Francisco, com especialização em geriatria, psiquiatria e bioestatística. Professor Associado de Medicina e Psiquiatria, e diretor do Centro para o Estudo da Religião / Espiritualidade e Saúde da Universidade de Duke, Carolina do Norte. Autor de 24 livros e de cerca de duas dezenas de artigos e matérias sobre saúde mental, geriatria e religião. Editor de duas revistas médicas especializadas: International Journal of Psychiatry in Medicine e Research News & Opportunities in Science and Theology. Seu livro Manual de Religião e Saúde: Revisão de um Século de Pesquisa é considerado o mais completo tratado sobre o assunto.

Este Seminário é dirigido a médicos, estudantes de medicina e residentes, bem como a outros profissionais da área de saúde,interessados em identificar e apontar as necessidades espirituais dos pacientes.

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Nova Casa Espirita em Long Branch - New Jersey, Marcos Miranda, USA

É com grande alegria que informamos a abertura formal de mais uma casa em New Jersey. Trata-se do “Spiritist Group Path of Light”, situado em Long Branch, cidade que apresenta uma boa concentração de brasileiros.

A Casa hoje oferece as seguintes atividades:
  • Reuniões de Estudo da Doutrina Espírita:
    • Toda quarta-feira das 20:00 às 21:00 horas – Livro dos Espíritos
    • Toda quinta-feira das 19:30 às 21:00 horas – Aprendizes do Evangelho
    •  Todo domingo das 18:00 às 19:00 horas – Aprendizes do Evangelho
  • Programa “Conhece-Te a Ti Mesmo – Um Atendimento Fraterno”
    • Toda segunda-feira das 20:30 às 21:30 horas – 1ª. fase
    • Toda terça-feira das 19:30 às 21:00 horas – 2ª. fase
  • Palestras e Passes:
    • Todos os Domingo às 19:00 horas
Abraços a todos.
Marcos Miranda  
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Livro de Francisco Cândido Xavier em inglês, Elsa Rossi, UK


Ola  amigos,


para sua informacao e divulgacao, o Spiritist Group of Brighton esta lancando para todos, mais um livro traduzido por Publio Lentulus.  Trata-se do Courage, recebido atras de Francisco Candido Xavier, escrito por Emmanuel e varios outros espiritos.
 
Eh um livro de consolo, ensinamentos diarios e que nao deve faltar em nenhuma biblioteca. Ja estamos aceitando pedidos.
 
um abraco sempre,
Elsa Rossi  (SGBrighton-UK)

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II Jornadas de Cultura do Oeste, Lucas, Portugal




Conferencistas 

Luís de Almeida – Engº e Investigador da ESA (Agência Espacial Europeia), pós-graduação em Astrofísica e Cosmologia, dirigente espírita no Porto.

Lígia Almeida – M.D. médica, especialista em Geriatria. Pós-graduada a nível de Mestrado em Bioquímica e Farmácia, directora clínica no Porto. Presidente da Associação Médico-Espírita da área metropolitana do Porto. Dirigente espírita.

Jorge Gomes – Jornalista, ex-vice-presidente da Federação Espírita Portuguesa, editor do Jornal de Espiritismo, vice-presidente da Ass. de Divulgadores de Espiritismo de Portugal, pesquisador de fenómenos espíritas, formador.

Noémia Margarido – Administradora do Jornal de Espiritismo, técnica de contas, dirigente espírita em Braga, tesoureira da ADEP, pesquisadora de fenómenos espíritas, formadora.

Francisco Curado – Engº Informático, cientista, responsável pelo departamento de pesquisa da Ass. de Divulgadores de Espiritismo de Portugal, pesquisador de fenómenos espíritas.

Manuel Domingos – Especialista em neuropsicologia e neurociências, pesquisador de Experiências de Quase-Morte.

Gláucia Lima – Médica psiquiatra, especialista em toxicodependência e regressão de memória,  membro da ALUBRAT, cientista, bolseira da Fundação Bial onde desenvolveu pesquisa científica em torno das capacidades paranormais do ser humano. Pesquisadora e estudiosa dos fenómenos paranormais.

Vítor Rodrigues – Psicólogo e Psicoterapeuta, Doutor em Psicologia pela Universidade de Lisboa, presidente da EUROTAS (European Transpersonal Association), da ALUBRAT (Associação Luso-Brasileira de Transpessoal), bolseiro da Fund. Bial, onde desenvolveu pesquisa científica em torno da paranormalidade humana.

Jorge Andrea – Médico psiquiatra, escritor, conferencista, espírita, pesquisador de fenómenos espíritas.

Reinaldo Barros – Lic. Em Artes Plásticas, Mestre em Gestão do Património Cultural, Professor de Artes, dirigente espírita e colaborador do Jornal de Espiritismo.

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GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS

O Boletim GEAE é distribuido por e-mail aos participantes do Grupo de Estudos Avançados Espíritas
Inscrição/Cancelamento - inscricao-pt@geae.inf.br

Informações Gerais - http://www.geae.inf.br/pt/faq
Conselho Editorial - editor@geae.inf.br
Coleção dos Boletins em Português - http://www.geae.inf.br/pt/boletins
Coleção do "The Spiritist Messenger" - http://www.geae.inf.br/en/boletins
Coleção do "Mensajero Espírita" - http://www.geae.inf.br/el/boletins