Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

www.geae.inf.br

Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade"
Allan Kardec

Ano 13 - Número 498 - 2005           30 de agosto de 2005


Editorial

Como lidar com as diferenças de idéias no meio espírita ?
 

Artigos

Auto-sucesso, Rogério Coelho, Brasil
Alteridade - Termômetro, Luiz Carlos D. Formiga, Brasil
Curso de Ciência e Espiritismo, 16ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca
 

História & Pesquisa

O Céu e o Inferno - 140 Anos, Fernando Porto, Brasil
 

Questões e Comentários

Um solicitação para os amigos psicólogos
   
Painel
SpiritistNews - Boletim Eletrônico da Sociedade Espírita de Baltimore, USA
Filme "Os Orfãos", Tony Nello, Brasil
Programa de TV "Despertar de um Mundo Melhor", Geraldo Guimarães, Brasil


Editorial

Como lidar com as diferenças de idéias no meio espírita ?

Amigos,

Uma constatação a que não deixa de chegar o observador mais atento é que dentro do movimento espírita existe uma variação de idéias a respeito de pontos acessórios1 da doutrina. Nada de se estranhar, pois o número de espíritas e simpatizantes é muito grande e a unanimidade total de idéias dentro da comunidade espírita é praticamente impossível.

A Doutrina Espírita, e nisto todos concordam, prima pela defesa da fé raciocinada, ou seja, por incentivar o estudo e o raciocínio próprio em torno do conjunto de conhecimentos que a compõe. Não há a adesão a uma forma imposta de pensar, muito menos a sujeição a uma autoridade doutrinária que diga o que é certo ou o que é errado.

O que chamamos de Espiritismo é o ensinamento transmitido pelos Espíritos, ou derivado dos estudos sobre a comunicação mediunica, organizado por Allan Kardec e complementado gradualmente nos cento e poucos anos que se seguiram a sua desencarnação. A complementação foi resultado de novas comunicações e do aprofundamento dos estudos. Este desenvolvimento seu deu principalmente em questões acessórias, que não modificaram o núcleo da Doutrina2:
  • A existência de Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as coisas;
  • A existência de um princípio inteligente no homem, o Espírito, que sobrevive ao corpo e conserva sua individualidade;
  • O Espírito evolui através de múltiplas existências (reencarnações) em um processo que o leva à perfeição;
  • Todos os Espíritos são criados iguais e evoluem sujeitos à mesma lei de causa e efeito;
  • A comunicação entre os Espíritos desencarnados e os Espíritos encarnados (os seres humanos) é possível e natural;
  • A moral Espírita fundamentada na moral Cristã (Fora da Caridade não há salvação);
Entre as questões acessórias tratadas após a desencarnação de Kardec3 podemos citar:
  • Aprofundamento das informações sobre o mundo espiritual onde permanecem os Espíritos no intervalo de suas encarnações;
  • Aprofundamento dos estudos sobre a mediunidade;
  • Aprofundamento dos estudos sobre os aspectos morais/religiosos do Espiritismo;
  • A afinidade entre o movimento espírita e o esperantista;
  • A afinidade entre o movimento espírita e a homeopatia;
  • A atuação social espírita;
  • A questão da identidade própria com relação a outras filosofias e religiões espiritualistas (por exemplo: as religiões afro-brasileiras);
A bibliografia Espírita contemporânea é imensa, refletindo a extensão do campo de assuntos tratados. Neste campo se encontram temas tão distantes quanto o estudo da evolução do princípio inteligente nos reinos animal e vegetal até a discussão sobre as formas de existência em outros planos e mundos, passando pelos testemunhos sobre as condições do mundo espiritual e das leis que o regem.

É justamente nas áreas periféricas deste campo de conhecimentos que surgem as discussões e são nas idéias muito novas ou nas que não encontraram apoio na maioria dos grupos espíritas, que se concentram as divergências.

O exemplo mais clássico é o da polêmica sobre o corpo fluídico de Jesus, que sem entrarmos no seu mérito, reflete justamente uma questão deste tipo. Ela é acessória porque nada interfere no núcleo da Doutrina e é praticamente insolúvel porque as únicas provas que a encerrariam definitivamente seriam a descoberta do túmulo com os restos mortais de Jesus (bastante improvável já que os testemunhos documentais existentes - os Evangelhos - falam de seu desaparecimento na ressureição e, mesmo que os testemunhos não sejam precisos, já se passaram quase 2.000 anos do fato) ou o testemunho do próprio Jesus através de médiuns de credibilidade aceita por todas as partes.

Argumentações baseadas em fatos e conhecimentos doutrinários, mais ou menos sólidas, não têm como resolver a discussão porque há outros aspectos envolvidos além dos racionais. As pessoas têm perfis diferentes, correspondem a tipos psicológicos diferentes4. As mesmas situações apresentadas à pessoas de tipos psicológicos diferentes as levam a conclusões e respostas diferentes.

Além da questão do tipo psicológico há o histórico pessoal. O país onde a pessoa vive, a classe social a que pertence, a organização em que trabalha e os grupos sociais a que se liga nas suas horas livres, todos contribuem para formar a visão de mundo do indivíduo. Visão de mundo que servirá de filtro para o modo como recebe as informações do mundo externo e as interpreta5.

Acrescente-se a estes pontos discutidos o fato de que nosso vocabulário é adaptado às necessidades das sociedades terrenas atuais, as palavras têm múltiplos sentidos e nem sempre são adequadas para expressar idéias que fogem ao modo de vida material. Assim informações sobre o mundo espiritual ou sobre realidades que transcendem a matéria geralmente são trazidas pelos espíritos na forma de analogias ou de aproximações. A interpretação das analogias e das aproximações é fortemente dependente do receptor da informação6

Como a única forma de não termos divergências de idéias no movimento espírita seria termos todos os espíritas com o mesmo tipo psicológico, e com o mesmo histórico pessoal, não há outra alternativa viável senão vivermos com as diferenças. Naturalmente existiram no passado grupos religiosos que tentaram a uniformidade absoluta e a única forma de obtê-la é pela imposição. Historicamente isto gerou perseguições, intolerância e guerras religiosas. Não são bons exemplos a se seguir, pois ao impor a uniformidade precisaram justamente deixar para trás - ou encobrir através de sofismas - o que é mais importante no seu núcleo: o amor ao próximo.

Vivermos com as diferenças significa sabermos trocar idéias e compartilhar espaços com pessoas que defendem posições diferentes das nossas nos pontos acessórios da Doutrina. Significa compreender que nós e elas somos Espíritas. Significa principalmente sempre ter em mente que:
  • Os pontos acessórios não estão completamente resolvidos e podem mudar com novos desenvolvimentos;
  • Tanto nós como elas temos limitações e preferências, o que afeta nosso modo de perceber a realidade;
  • Talvez nem nós, nem elas, estejamos de posse da verdade definitiva, possivelmente ambos estejamos errados;
  • O mesmo se dá em qualquer outro campo de atuação da vida humana. A uniformidade não é a regra.
A solução é a "tolerância". Tolerância no sentido mais amplo de que aceitamos que o outro pense de forma diferente porque ele tem tanto direito quanto nós de ter sua interpretação da fé raciocinada que compartilhamos. Interpretação tão válida quanto a nossa. Se ele está certo e nós errados, ou vice-versa, apenas o tempo dirá.

Claro que a tolerância também vale para as pessoas que divergem de nós até mesmo nos pontos básicos da Doutrina, nos que consensualmente são os que identificam uma pessoa como Espírita, mas nesse caso se trata mais da tolerância com a crença legitima de nossos irmãos de outras religiões e com circunstâncias que fogem ao escopo deste pequeno comentário. É natural neste caso esclarecer a pessoa do que é o Espiritismo e mostrar-lhe, sempre dentro do máximo respeito para suas crenças pessoais, que ela defende idéias diferentes deste.

Kardec disse que a fé verdadeira não teme o uso da razão. Ele poderia ter acrescentado que a fé verdadeira também não teme conviver com diferenças de opinião. A fé verdadeira não teme a troca de idéias e o debate, muito menos teme estudar as opiniões alheias. É a fé vacilante que busca a uniformidade, para não se questionar a si própria.

Muita Paz,
Carlos Iglesia
Editor GEAE




1 - Estamos chamando de "pontos acessórios" ou "questões acessórias" os temas que são estudados pelos espíritas, mas que não modificam os princípios fundamentais da Doutrina Espírita. Os parágrafos seguintes do editorial apresentam maiores detalhes a respeito.

2 - Os princípios fundamentais da filosofia espírita, conforme descritos por Allan Kardec em um discurso que apresentou por ocasião do dia de finados e que está publicado na  Revue Spirite de dezembro de 1868 (vide Boletim GEAE 277), são:
"Crer num Deus todo-poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e na sua imortalidade; na preexistência da alma como única justificativa da presente existência; na pluralidade das existências como meio de expiação, reparação e adiantamento intelectual e moral; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na felicidade crescente com a perfeição; na remuneração equitativa do bem e do mal, segundo o principio: a cada um segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para criatura alguma; na duração da expiação limitada à da imperfeição; no livre-arbítrio do homem, deixando-lhe a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade das relações entre o mundo visível e o mundo invisível; na solidariedade que liga todos os entes passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterna; aceitar corajosamente as provas, visto ser o futuro mais desejável que o presente; praticar a caridade por pensamentos, palavras e obras, na mais ampla acepção do vocábulo; esforçar-se cada dia para ser melhor do que na véspera, extirpando da alma alguma imperfeição; submeter todas as suas crenças ao controle do livre exame e da razão e nada aceitar por uma fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais irracionais que nos pareçam e não violentar a consciência de ninguém; ver enfim, nas descobertas da Ciência, a revelação das leis da Natureza, que são as leis de Deus".
3 - Allan Kardec no texto "Rivalidades entre Sociedades" (O Livro dos Médiuns) já tratava a possibilidade das divergências provocadas por questões acessórias:

"(...) Como dissemos no capítulo sobre Contradições, essas divergências têm por motivo, na maioria das vêzes, questões acessórias ou até mesmo simples palavras. Seria pueril, portanto, cindirem o grupo, formando outro à parte por não pensarem exatamente da mesma forma. Haveria ainda coisa pior se os diversos grupos ou sociedades de uma mesma cidade se olhassem recìprocamente com inveja. Compreende-se a inveja entre pessoas que disputam entre si e podem causar-se prejuízos materiais. Mas quando não há especulação a inveja ou o cíume nada mais são do que mesquinha rivalidade provocada pelo amor próprio. Como não pode haver, de maneira alguma, uma sociedade que possa reunir todos os adeptos, as que realmente desejam propagar a verdade, que têm um objetivo exclusivamente moral, devem ver com prazer o aparecimento de novos grupos e, se houver concorrência entre eles deve ser apenas uma emulação no campo do bem. Aquelas que pretendessem estar na posse exclusiva da verdade deveriam prová-lo tomando por divisa: Amor e Caridade, porque essa é a divisa de todo verdadeiro espírita. (...)"

"Se o Espiritismo deve, como foi anunciado, realizar a transformação da humanidade, só poderá fazê-lo pelo melhoramento das massas, o qual só se dará gradualmente, pouco a pouco, pelo melhoramento dos indivíduos. Que importa crer na existência dos Espíritos, se essa crença não tornar melhor, mais bondoso e mais indulgente para os seus semelhantes, mais humilde e mais paciente na adversidade aquêle que a adotou ? (...)"

"Essa é a via pela qual nos temos esforçado para levar o Espiritismo. A bandeira que arvoramos bem alto é a do Espiritismo cristão e humanitário, em torno da qual somos felizes de ver desde já tantos homens se juntarem em todos os pontos da Terra, porque compreendem que está nela a âncora de salvação, a salvaguarda da ordem pública, o signo de uma nova era para a humanidade. (...)". Capítulo XXIX - Reuniões e Sociedades, O Livro dos Médiuns, tradução de J. Herculano Pires, coleção das obras completas de Allan Kardec da EDICEL.

4 - Uma leitura interessante a respeito é o livro "Tipos Psicológicos" de C. G. Jung. que estuda a questão dos tipos psicológicos com grande profundidade.

5 - A diferença cultural e suas implicações na comunicação humana são objeto de importantes estudos, como os do Prof. Geert Hofsted (http://www.geert-hofstede.com/). Em uma pesquisa que desenvolveu com pessoas de 50 filiais da IBM em países diferentes, do mesmo nível dentro da organização, ele identificou algumas características marcantes (chamadas por ele de "dimensões da cultura") que permitiam entender porque elas chegavam a soluções diferentes para os mesmos problemas. Recomendo a leitura do livro "Culture's Consequences : Comparing Values, Behaviors, Institutions, and Organizations Across Nations" do Prof. Geert, ele traz uma excelente visão do que como a "cultura" interfere no modo como vemos e reagimos ao mundo.

6 - "Ninguém pode ultrapassar de improviso os recursos da própria mente, muito além do círculo de trabalho em que estagia; contudo, assinalamos, todos nós, os reflexos uns dos outros, dentro da nossa relativa capacidade de assimilação". Emmanuel, trecho do capítulo "O Espelho da Vida" do livro "Pensamento e Vida", médium Francisco Cândido Xavier, FEB.

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Artigo

Auto-sucesso, Rogério Coelho, Brasil

"O sucesso sobre  si  mesmo  acentua  a
 harmonia e aumenta a alegria do ser..."
 - Joanna de Ângelis

Palavra   originária  do  latim   "successu", sucesso significa aquilo que sucede, acontecimento, sucedimento, resultado,    conclusão,   êxito,   resultado   feliz,    cartaz, popularidade, etc...

Inúmeras  criaturas perseguem-no na área  das finanças,  das  artes,  das  ciências,  buscando,  com  isso,   o destaque,  o aplauso, a fama...  Vislumbram em tais conquistas  a única  forma  de felicidade possível, quando, na  verdade,  essa atitude traduz tão somente uma exacerbação do "eu propínquo",  em quiméricos logros de evidência no proscênio social.

Mister   planear   o  sucesso  sim,   não   o convencional, mas aquel`outro que realmente merece  nosso  empenho em  alcançá-lo:  A  Vida  correta, o  amor,  o  aprimoramento  da inteligência, a sabedoria, a humildade, a virtude de coexistir em paz.    Podemos chamar esse tipo de sucesso de  sucesso  interno.   Embora  invisível e silencioso, envolve quem o alcança  em  altos níveis  de  paz, sensibilidade afetiva,  docilidade  no  trato...  Nessa condição, a criatura consegue domar as inclinações más,  os atavismos  deprimentes, o "homem-velho", atingindo  a plenitude, crescendo, enfim, sem atropelos nem perturbações.  São excelentes exemplares  de  tal  sucesso criaturas  como:  Madre  Tereza  de Calcutá,  Irmã  Dulce, Mohandas K. Gandhi,  Francisco de Assis, e o outro Francisco, o nosso Cândido Xavier, Divaldo P. Franco, etc...

Analisemos,  agora,  o "sucesso"  de  algumas criaturas  cujos nomes estão mundialmente projetados,  detentoras do "sucesso externo".   Não raras, enviscaram-se nas tredas redes da    toxicomania,    do   alcoolismo,   da sexolatria,    das excentricidades... Sofrem de solidão, vazio, frustrações e tédio.

Em oportuna mensagem, Joanna de Ângelis  fala sobre: SUCESSO  E  SUCESSO:

"No dicionário do pensamento  cristão, sucesso é vitória sobre si mesmo e sobre as paixões primitivas.

Os  sucessos  de  Júlio  César,  Nero, Hitler e assemelhados  Não os isentaram respectivamente do punhal, da morte infamante, do suicídio vergonhoso e das tristes sinas...

Todos aqueles que transitam  na  forma física,  no Educandário Terrestre, de breve duração,  deixam,  um dia,  o carro existencial, levando, entretanto, nos depósitos  da Alma os tesouros logrados com os seus sucessos."

Há  que  se avaliar a que tipo  de  "sucesso" entregamos nossas cogitações e energias.

"(...)  Quem visse o sucesso de  Pilatos,  de Anás  e  Caifás na política e na  religião,  encarcerando  Jesus, traído  por  um  amigo  e  crucificado  entre  bandidos   comuns, certamente  os  lamentaria, ao constatar que  -  aparentemente  - vencido,   foi   o  Mestre  o  conquistador  do   real   sucesso, permanecendo, até hoje, como símbolo e modelo de vitória sobre Si mesmo, chamando-nos para imitá-lO."

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História & Pesquisa

(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas")

O Céu e o Inferno - 140 Anos, Fernando Porto, Brasil

(Artigo publicado no Dirigente Espírita Jan /Fev. 2005)


Se nos perguntássemos: Qual o papel do Espiritismo na regeneração da humanidade? Considerando o materialismo um dos fatores que estimulam o recrudescimento do egoísmo, principal obstáculo à prática da verdadeira fraternidade ensinada por Jesus, o seu papel é de extrema importância uma vez que comprova de forma patente a sobrevivência do ser.

Por essa razão, o Codificador sempre aconselhava aos espíritas que o Espiritismo deveria ser propagado entre os incrédulos, respeitando os adeptos das doutrinas religiosas com suas crenças, ainda que errôneas. No entanto, não podemos ignorar que com a publicação de O Céu e o Inferno, o Espiritismo desferiu um grande golpe nos dogmas fundamentais das religiões tradicionais.

Kardec elaborou um artigo 1 ,simultâneo à publicação de O Céu e o Inferno, intitulado O que ensina o Espiritismo no qual refutava as alegações de alguns contraditores que afirmavam ser muito lenta a marcha do Espiritismo e nada de novo haver revelado à humanidade. Neste texto, o mestre lionês apresenta as principais conquistas da Doutrina, como a comprovação peremptória da imortalidade da alma e o seu efeito sobre o moral do homem, no consolo de suas aflições e incentivo à prática do bem e destaca dentre outros conteúdos valiosos do Espiritismo que ele:

"Retifica todas as idéias falsas que se tivessem sobre o futuro da alma, sobre o céu, o inferno, as penas e as recompensas; destrói radicalmente, pela irresistível lógica dos fatos, os dogmas das penas eternas e dos demônios; numa palavra, descobre-nos a vida futura e no-la mostra racional e conforme a justiça de Deus". E é neste ponto que destacamos o grande mérito de O Céu e o Inferno ao discutir questões antes relegadas à superstição e ao misticismo teológico no próprio terreno da ciência. Neste livro, apresentam-se os fatos, o arcabouço teórico e a comprovação das teses defendidas por meio da investigação em torno dos depoimentos dos próprios Espíritos. Sob este ângulo, precisamos ressaltar o pioneirismo do trabalho de Kardec ao abordar as testemunhas oculares que revelam sua situação após a morte do corpo material e, dessa maneira, desvendar as leis que regem as diversas ocorrências de além-túmulo.

Apesar do processo de desencarnação variar caso a caso, é possível identificar a partir dos relatos dos Espíritos nesta obra algumas características comuns como a perturbação pós-morte, a visão panorâmica ou revisão da existência física, a continuidade das afeições e o reencontro com os familiares e amigos desencarnados. As conseqüências das ações praticadas e o grau de felicidade dos Espíritos desencarnados são apresentados de maneira eloqüente e o efeito da prece naqueles que sofrem as aflições do arrependimento pelos erros cometidos 2 .

Há mais de dez anos o nosso companheiro Castilho ressaltava 3 a distância entre a importância da obra e o esforço por parte dos formadores de opinião em sua divulgação, principalmente em comparação aos demais livros que compõem a Codificação kardeciana. Todos os espíritas deveriam se debruçar sobre estas páginas de luz que descortinam a vida imortal e restabelecem a fé inabalável no futuro. Que neste ano, redobremos nossos esforços para tornar mais conhecido um dos pilares que sustentam o grande edifício da Doutrina Espírita.

1-Revista Espírita, agosto de 1865.
2-Vide o artigo Estudando "O Céu e o Inferno" na Revista, “Reformador”, de agosto de 1985.
3-CASTILHO, José A. A literatura espírita, seu estudo e divulgação. 1. ed. Capivari: EME Editora, 1993.

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Alteridade - Termômetro, Luiz Carlos D. Formiga, Brasil

A diversidade é uma realidade irremovível da Seara e seria utopia e inexperiência tratá-la como “joio”. Imprescindível propalar a idéia do ecumenismo afetivo entre os seareiros, para que a cultura da alteridade seja disseminada e praticada no respeito incondicional a todos os segmentos. A atitude de alteridade será -- o termômetro  --   do progresso das idéias espíritas no movimento, será o “trigo” vicejante e plenificado na ética da fraternidade vivida. As instituições embebidas desse espírito promoverão o diálogo franco e transparente e construirão através das relações as transformações. O desafio está lançado.

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Roustaing, o Termômetro e os Direitos Fundamentais.

"o erro não se torna verdade por se difundir e multiplicar facilmente.
Do mesmo modo, a verdade não se torna erro pelo fato de ninguém ver".
Gandhi

Sobre Roustaing não posso opinar. Não encontrei tempo para ler e estudar suas obras. No entanto, isto não impede as "contaminações" pelas amizades que tenho com pessoas dele admiradoras, aqui no Rio de Janeiro. Tenho encontrado entre os adeptos de Roustaing pessoas que dignificam o ser humano e com elas tenho amizade. Isso já me rendeu boicote em casa espírita e em estação de rádio. No entanto, acredito na pessoa humana como investimento divino. Um dia vão mudar e me compreender.

Não sou adepto de Roustaing.  Nesse assunto sou ignorante confesso, mas tenho, eventualmente, lido o que dizem adversários e divulgadores. Existem outros ignorantes "confessos". São os que leram, não entenderam e fizeram a opção pela intolerância. Ignoram também as liberdades. Proibir uma obra é revelar temor. Pessoas, na revolução de 64, induziram-me a ler o Manifesto Comunista. Gostei. No entanto, gostei mais do Manifesto do Sermão da Montanha. Na época vivenciava ambiente conflitante, pois era espírita acadêmico de biomedicina na Faculdade de Ciências Médicas da UEG e também aluno-Aspirante a Oficial da Reserva do Exército (CPOR).

"Pessoas" me fazem recordar palavras de um jurista-filósofo, membro da Academia de Letras e reitor da USP: "o novo Código Civil começa proclamando a idéia de pessoa e os direitos da personalidade. Não define o que seja pessoa - o indivíduo na sua dimensão ética, enquanto é e enquanto deve ser". Miguel Reale leciona que "a pessoa é o valor-fonte de todos os valores, sendo o principal fundamento do ordenamento jurídico".

Sendo objetivo digo que "uma pessoa só tem liberdade religiosa se puder optar num ou noutro ponto de vista, sem perder sua dignidade como cidadão. A liberdade de crença e religião, sendo preservadas, aprimoradas e estendidas a todos os indivíduos, trará ainda maior evolução dos direitos e garantias individuais, que conduzem à justiça social e à paz entre os povos".

Pessoas participaram do Encontro de Cúpula Mundial de Líderes Religiosos e Espirituais pela Paz Mundial e assinaram o "compromisso com a paz global". Consideraram que as religiões têm contribuído para a paz no mundo, mas também têm sido usadas para criar divisão e alimentar hostilidades. Estes participantes concordaram que em um mundo interdependente, a paz requer concordância sobre valores éticos fundamentais. Declararam diversos compromissos. Destacamos a determinação de conduzir a Humanidade através de palavras e obras a um renovado compromisso com os valores éticos e espirituais, que incluem um profundo sentido de respeito por todas as formas de vida e pela dignidade inerente a cada pessoa e o seu direito de viver em um mundo livre da violência.

A revista Fraternidade (Lisboa) publica a reportagem. Nela soubemos que assinaram o "Compromisso" os integrantes da delegação brasileira, junto com Bawa Jain, Secretário-Geral do "The Millennium World Peace Summit" .

Como existem hoje no mundo muitos conflitos, tendo como base o pensamento religioso, acreditamos ser fundamental o respeito à liberdade de religião e o exercício da tolerância religiosa.

A religiosidade está presente no seio das sociedades humanas em todos os tempos. É um direito fundamental incluído em todas as Constituições. Situa-se no cerne das discussões sobre direitos humanos. Advoga-se que foi a origem de todos os demais direitos, sendo consagrado por tratados internacionais. Sua importância é inquestionável. No passado foi palco de graves conflitos, incluindo as atrocidades nas inquisições. Ainda hoje está presente nos graves conflitos existentes ao redor do mundo. A paz é favorecida através da tolerância e é de interesse de todos.

Encontramos estudos sobre a proteção à liberdade de religião ou crença no Direito Constitucional e Internacional. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos Pactos Internacionais sobre direitos humanos se proclamam os princípios da não-discriminação e da igualdade perante a Lei e o direito à Liberdade de pensamento e de convicção.

Importante é a luta para que não se menospreze a violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, em especial a liberdade de religião OU CRENÇA DE QUALQUER NATUREZA.

A expressão exterior da liberdade religiosa é uma forma de manifestação do pensamento (penso, logo co-existo). Nesta coexistência vamos encontrar liberdades: a de crença; de culto e de organização. Da liberdade de crença surge a de escolha (ou não) da religião, a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (direito) de mudar de religião. Há limites, pois essa liberdade não compreende a de embaraçar o livre exercício de qualquer religião, de qualquer crença, uma vez que esta liberdade vai até onde não prejudique a dos outros.
Esse direito pode ser estudado nos julgados do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.  O artigo número 9, da Convenção Européia dos Direitos do Homem, trata da Liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Diz que "qualquer pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de crença, assim como a liberdade de manifestar a sua religião ou a sua crença, individual ou coletivamente, em público e em privado, por meio de culto, do ensino, de práticas e da celebração de ritos".

O Decreto 678, de 06 de novembro de 1992, do Governo Brasileiro, trata do assunto com base no Direito Constitucional Internacional, Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos), ratificado em 25 de setembro de 1992. O artigo 12 da Declaração enfatiza o artigo número 9 acima referido, expressando o direito de mudar de crença e consagrando os demais direitos.
As pessoas só acordam para a importância da liberdade religiosa depois de serem alvos de alguma ameaça concreta. Acordei quando seu Júlio, na União Espírita Suburbana, Méier. RJ.RJ,, me contou o que religiosos fizeram com uma casa espírita nos anos dourados (1960).
Vamos saltar aos anos 90.

Até 1992 funcionou na UFRJ o "Grupo Jésus Gonçalves", no Centro de Ciências da Saúde. Com Edesio (Fraternidade André Luiz) e Paulo Hobaica (Obreiros do Bem) fizemos muitos estudos espíritas e combatemos o leproestigma, que assustou funcionários diante de um caso de hanseníase (rapidamente curado) entre nós. Este grupo foi o embrião do NEU-RJ. Promovemos um encontro que reuniu 300 pessoas, no anfiteatro nobre ("quinhentão") para ouvir e debater o tema "Regressão de Memória". Convidamos o jornalista Luciano dos Anjos. Surgiu o "fogo amigo".

Ainda não sou adepto de Roustaing e não estou preocupado em agradar a ninguém, mas registrar o interesse pelo direito constitucional e pela liberdade de crença.

A liberdade de religião é muito importante para a humanidade, sendo um dos pilares dos direitos humanos e da Democracia.  Sou espírita, democrata. Sei que a democracia, como lecionava Norberta é cansativa (1990-2005), onera o tempo, mas não me apresentaram coisa melhor. Creio que um dos seus defeitos é não ter conseguido contornar o poder neurótico.

A liberdade religiosa está no cerne da problemática dos direitos humanos fundamentais. Não existe plena liberdade cultural, nem plena liberdade política sem liberdade religiosa. Alguns autores vão mesmo ao ponto de ver na luta pela liberdade de religião a verdadeira origem dos direitos fundamentais. Não se trata aí apenas da idéia de "Ética da Tolerância" como a declinamos para os Núcleos Espíritas Universitários, mas da concepção da liberdade de religião e crença, como direito inalienável do homem, tal como veio a ser proclamado nos modernos documentos constitucionais. Toda a doutrina, leis, declarações de direito internacional, julgados, pareceres, notícias apontam para o respeito e a proteção à liberdade de religião e crença como requisitos para o exercício pleno da democracia e cidadania e ainda como meios de combater a discriminação e a intolerância religiosa e de crença.  Na aplicação, o exercício dessa liberdade não pode prescindir do princípio da igualdade, pois está calcada na idéia da dignidade da pessoa humana e necessita do reconhecimento de sua importância pelo poder político. Esta liberdade já despontava em nossas Constituições desde 1824. Pode ser utilizada como termômetro para avaliação do grau de democracia e cultura de um povo.

Vacinar pessoas é um grande desafio. Intolerância não é doença contagiosa, mas é contagiante. Para enfermidades ligadas aos direitos fundamentais existem remédios constitucionais. O primeiro arcabouço sustentador do direito constitucional é o princípio da legalidade. Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei.

No artigo de número 9 da Convenção Européia podemos encontrar julgados enfatizando as convicções humanas, de ordem religiosa, filosófica, moral, política, social, econômica ou científica. Esses direitos podem ser invocados individualmente ou por pessoa jurídica.

Há uma queixa (número 8282/78) que originou a Decisão de 14 de julho de 1990, onde a Comissão reconheceu que uma campanha de agitação contra uma igreja ou grupo religioso pode acarretar responsabilidade do Estado se as autoridades não tomam medidas apropriadas para lhe por fim. A casa espírita, lá nos anos dourados, teve que fazer as malas. A agressão sofrida não ganhou a mídia espírita como "a psicografia diante dos tribunais". Agora em 2005 escrevi um texto que também não foi aceito num periódico espírita - "Torres Gêmeas Afro". Nele faço um relato sobre o problema vivido pelos Umbandistas e pelos adeptos do Candomblé. Com eles também mantenho amizade, caso contrario teria que renegar muitos amores familiares, que não pensam como eu.

Na universidade fomos treinados para tudo examinar, incluindo a hipótese do absurdo. Meu laboratório, no Departamento de Patologia, funcionava como Centro de Referência do Ministério da Saúde para as Corinebacterioses. Recebemos do LACEN de Brasília uma amostra suspeita de Corynebacterium diphtheriae, agente de infecção respiratória grave no período infantil. Acontece que o bacteriologista clínico a havia isolado de líquido espermático e no nosso laboratório demonstrou grande capacidade de produzir exotoxina. Publicamos o caso nas Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Não fosse o cuidado do LACEN a amostra teria sido referida como difteróide (aquele que parece, mas não é). Posso até parecer, mas ainda não sou.

Em matéria religiosa, para que possamos desenvolver quaisquer convicções é necessário que haja a possibilidade de comunicação com outros e conseqüentemente ter acesso a diferentes pontos de vista. Num Estado de Direito, a liberdade religiosa só tem sentido em condições de reciprocidade e o direito de igualdade pressupõe o direito à diferença (somos iguais, mas diferentes e, diferentes, mas, sobretudo, iguais)

Luiz Carlos D. Formiga

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Nota do Autor:

Torres Gêmeas Afro-brasileiras. Preconceito, Estigma, Mídia e Ordenamento Jurídico.
http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo1322.html
http://geocities.yahoo.com.br/nucleo_espirita_universitario/
http://www.morhan.org.br/

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Curso de Ciência e Espiritismo, 16ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca

O Estudo e a Orientação no trabalho de pesquisa espírita

1. ESTUDO E ORIENTAÇÃO

Um dos fatores importantíssimos no progresso da Ciência é aquilo que chamamos de colaboração onde dois ou mais cientistas se juntam para estudar e resolver um problema. Esse processo não envolve apenas cientistas já formados e experientes. Ele envolve o processo de formação de novos pesquisadores onde os mais experientes orientam os jovens estudantes no estudo e prática científicas.

O Movimento Espírita desenvolve seus estudos de várias formas. Muitos centros espíritas possuem cursos introdutórios de Espiritismo e sobre a Mediunidade. Esses cursos, em geral, objetivam esclarecer os iniciantes sobre os principais conceitos da Doutrina Espírita e oferecem a oportunidade da realização de atividades mediúnicas sob orientação dos companheiros mais experientes, e de acordo com a Doutrina Espírita. Nesses cursos, os aspectos doutrinários (filosófico, científico e religioso) são ensinados de modo que o iniciante tenha uma visão mais ampla do Espiritismo. Muitas casas espíritas oferecem diversos cursos adicionais de modo que o trabalhador espírita que já conhece os conceitos básicos do Espiritismo, permaneça em constante aprendizado.

Outro veículo de divulgação e estudo é o livro espírita. A literatura espírita, hoje, é muito extensa e os diversos gêneros de leitura oferecem aprendizado em linguagem acessível a todas as pessoas.

Além disso, o Movimento Espírita conta com muitos periódicos (jornais, boletins e revistas) que trazem aos leitores muitas informações espíritas, divulgam eventos, apresentam estudos específicos a luz do Espiritismo, e muito mais. O detalhe que desejamos ressaltar na aula de hoje é que a grande maioria do que é divulgado nesses periódicos é assinado por um único autor.

Como vamos falar de colaboração, gostaríamos de deixar claro que o conteúdo desta aula deve ser entendido no sentido da realização da atividade de pesquisa espírita, onde idéias e conhecimentos novos são obtidos como frutos do trabalho de pesquisa. Portanto, não estamos falando das matérias espíritas tão importantes quanto necessárias no processo de divulgação da Doutrina Espírita. Também não estamos questionando a publicação de opiniões pessoais sobre qualquer assunto espírita. Estamos falando da divulgação dos trabalhos de pesquisa de interesse espírita que precisam satisfazer muitos critérios de seriedade para que seus resultados possam ser usados com confiança em futuros estudos e pesquisas.

Ao falar em colaboração, não estamos querendo dizer que uma pesquisa não pode ser realizada por uma única pessoa. Esta aula objetiva orientar tantos os mais experientes quanto os iniciantes em estudos espíritas, a canalizar o potencial de ambos no desenvolvimento dos conhecimentos espíritas.

Ninguém inicia o aprendizado científico sem conhecer a disciplina básica com a qual pretende trabalhar. Um pesquisador físico, por exemplo, precisa ter o conhecimento básico da Física, enquanto um pesquisador médico precisa ter o conhecimento básico da Medicina. Não é de se esperar, portanto, que o pesquisador espírita precisa ter um bom conhecimento do Espiritismo e isso não ocorre do dia para a noite. Isso requer não somente a participação em cursos onde o indivíduo pode trocar idéias com outros companheiros, mas também a leitura das obras básicas da codificação e de outras obras espíritas para além de formar uma visão ampla do Espiritismo, ter boa noção do que já existe em matéria de estudos espíritas.

Uma vez que uma pessoa já possui, com segurança, o conhecimento básico do Espiritismo e tem vontade de trabalhar no desenvolvimento dos conhecimentos espíritas, o momento é de escolha por algum tópico. A leitura de vários livros espíritas tem um papel fundamental neste momento pois para escolher é preciso conhecer as opções. Existem muitos tópicos de estudo e pesquisa de interesse espírita. Existem assuntos multidisciplinares (aula 4, Boletim 486) em que tópicos de interesse espírita são analisados sob a luz da Doutrina Espírita e sob alguma outra ciência ou área do conhecimento. Existem também assuntos puramente espíritas (aula 3, Boletim 485) onde usa-se apenas o paradigma espírita no trabalho de pesquisa.

Após a escolha de um assunto de seu interesse, o jovem iniciante em trabalhos de pesquisa tem, de uma forma geral, dois caminhos possíveis a seguir: 1) realizar todo o trabalho sozinho ou  2) realizar o trabalho de pesquisa sob orientação.

1) No primeiro caminho, o iniciante em atividades de pesquisa deve buscar relacionar toda a bibliografia disponível sobre o assunto. Por exemplo, se o assunto escolhido é Perispírito, todos (ou o máximo possível) os livros e artigos espíritas sobre o perispírito devem ser reunidos para o inicio do estudo. O iniciante, então, deve le-los de modo a ficar ciente do que já foi feito e estudado (em Ciência jamais repete-se o trabalho já feito para não prejudicar o progresso).

Várias idéias podem surgir com a leitura e, por isso, o iniciante deve ir anotando todas elas de modo a analisá-las posteriormente. Pode acontecer da leitura apresentar algum conceito ou afirmativa estranha, diferente ou nova, sem a devida explicação. O iniciante pode, então, desejar demonstrá-la a luz do Espiritismo e de acordo com o tópico científico associado ao mesmo. O importante da leitura é não somente obter os conhecimentos básicos sobre o assunto, mas também se certificar de que a idéia que veio à mente não foi trabalhada em nenhum outro livro ou artigo e, portanto, é algo inédito que trará alguma contribuição no progresso do conhecimento. Se a idéia já foi abordada por outro(a) pesquisador(a), o iniciante pode, se desejar, dar prosseguimento à idéia inicial imaginando algum aspecto do assunto que ainda não foi analisado.

Uma vez escolhida a idéia (ou as idéias) que deseja trabalhar, é importante escrever um projeto de pesquisa ou algo similar (aulas 14 e 15, Boletins 496 e 497, respectivamente). Isso é importante para organizar as atividades que serão realizadas, bem como fornecer uma visão global da idéia, das motivações ligadas a ela, que benefícios o trabalho de pesquisa trará, etc. O projeto de pesquisa também serve como referência das idéias imaginadas, métodos empregados e objetivos propostos, para futuras consultas.

Esse caminho possui algumas desvantagens. Em geral, todo trabalho de pesquisa possui critérios gerais e específicos que garantem que os resultados possam ser considerados válidos. Se o iniciante na atividade de pesquisa espírita não tiver experiência ou conhecimento sobre o processo de trabalho de pesquisa, ele pode perder tempo realizando análises sem o rigor necessário. Nossas aulas sobre Ciência e Espiritismo podem ajudar um pouco nesse esclarecimento, mas elas não possuem todas as informações possíveis. Outra desvantagem é a falta de experiência com relação a divulgação dos resultados de pesquisa. Questões como “qual a linguagem deve ser empregada?” e “em que periódico (ou livro) divulgar os resultados da pesquisa?” são fundamentais e, nesse caso, o ítem 2) a seguir é de grande ajuda.

A vantagem principal desse caminho é o fato de não ter que depender da disponibilidade de ninguém para desenvolver o projeto de pesquisa. Muitas vezes, as pessoas que possuem experiência são geralmente muito ocupadas. Em geral, pesquisadores mais experientes são mais capazes de realizar trabalhos de modo mais independente. Porém, muitos possuem colaboração com outros pesquisadores não somente porque duas ou mais cabeças sempre pensam melhor que uma, mas também porque o conhecimento tem progredido tanto que se tornou impossível a uma única pessoa ter base sólida em muitas áreas do conhecimento ao mesmo tempo.

Através do e-mail: editor@geae.inf.br, qualquer companheiro(a) pode pedir orientação sobre qualquer assunto. Os Editores farão todo o esforço possível para encontrar o esclarecimento das dúvidas.

2) No segundo caminho, através da leitura prévia dos livros espíritas mencionada nos parágrafos anteriores, o iniciante deve juntar as idéias que o interessam. Porém, aqui, ele pode procurar entrar em contato com algum autor ou estudioso do tema escolhido para pedir sugestões e orientação.

Nesse caminho, o iniciante pode aproveitar a experiência do estudioso para perguntar se as suas idéias são interessantes, se ele conhece outras bibliografias que já trataram do assunto, se existem outras idéias, etc.

Da mesma forma, um projeto de pesquisa deve ser preparado. A ajuda do estudioso será importante pois além da experiência no tópico de pesquisa, ele possui uma visão mais ampla das relações entre o Espiritismo e o assunto a ser pesquisado.

A principal vantagem é aproveitar a experiência do estudioso para não perder tempo com tópicos de menor interesse ou que já foram trabalhados exaustivamente. O estudioso certamente ajudará o iniciante nos critérios a serem seguidos para validar as suas pesquisas além de orientar sobre as melhores formas de divulgação do trabalho.

Uma grande vantagem que existe nesse caminho é a orientação sobre a confiabilidade das referências (livros ou artigos). Muitos autores escrevem suas opiniões e pensamentos particulares sobre assuntos ainda pouco desenvolvidos e se basear em opiniões é algo muito perigoso para a validade dos resultados da pesquisa (ver aulas 6 e 7, Boletins 488 e 489, respectivamente). É muito díficil para o iniciante em atividades de pesquisa discernir a validade ou confiabilidade das fontes de pesquisa e a ajuda de um estudioso mais experiente é muito importante.

A principal desvantagem é a disponibilidade de tempo do orientador para as discussões sobre as atividades do projeto. Porém, essa desvantagem não é tão importante tendo em mente que nós buscamos, antes de mais nada, a qualidade do trabalho de pesquisa. Não importa se um estudo demorar um tempo maior. O importante é que ele seja concluído de modo completo e satisfatório.
   
Nesta aula, objetivamos ressaltar o valor do estudo e da orientação na realização de trabalhos de pesquisa e na ajuda aos iniciantes. O estudo é importante para nos informar tudo o que foi desenvolvido até o momento sobre determinados assuntos. A orientação é importante pois permite a troca de experiência e o aproveitamento do tempo tanto no trabalho de pesquisa qunto no aprimoramento dos pesquisadores. Aqui vale lembrar a recomendação do Espírito de Verdade no ítem 5 do capítulo VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instrui-vos, este o segundo”. A colaboração e orientação no trabalho de pesquisa espírita satisfazem ao mesmo tempo as duas recomendações acima.

Continua no próximo Boletim

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Questões e Comentários 


Um solicitação para os amigos psicólogos

Amigos,

Ao escrever o editorial desta seção expressei a opinião de que os "Tipos Psicológicos" tem um papel importante na compreensão da dinâmica das discussões dentro de um grupo de estudos. Que Extroversão/Introversão, Sensação/Intuição, Pensamento/Sentimento ou Julgamento/Percepção tem relação com as preferências que as pessoas demonstram ao se posicionar por um Espiritismo mais "religioso" ou mais "científico", com "obras assistênciais" ou "enfoque mais educativo", por argumentações racionais ou emocionais, etc...

Gostaria de convidar os amigos psicólogos a nos trazerem suas opiniões e comentários a respeito. Talvez até abusando um pouco de sua boa vontade, gostaria de pedir-lhes que nos enviassem textos sobre a tipologia e seu relacionamento com os conhecimentos espíritas. Creio que, da mesma forma que se passa comigo, muitos dos colegas que participam do GEAE já tiveram contato com estes conceitos, mas gostariam de conhecer um pouco mais.

Muita Paz,
Carlos Iglesia
 
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Painel


SpiritistNews - Boletim Eletrônico da Sociedade Espírita de Baltimore, USA

 
http://www.ssbaltimore.org/Newsletter/SpiritistNews.html

Amigos,

A Sociedade Espírita de Baltimore publica um excelente Boletim em lingua inglesa, o SpiritistNews, que constitui uma importante contribuição para a divulgação da Doutrina no mundo. A lingua inglesa é atualmente a mais utilizada nos meios de comunicação internacional, no comércio entre as nações e na tecnologia. Uma parte significativa da população mundial a conhece ou tem noções básicas que permitem a compreensão de textos escritos nesta lingua.

O artigo "Building Blocks in Disseminating Spiritism" da edição de setembro/outubro do SpiritistNews apresenta esta questão do idioma com mais detalhes. A disponibilização de informações sobre o Espiritismo em outras linguas é um vasto campo de trabalho e um dos grandes desafios para o Movimento Espírita.

Não se trata naturalmente de proselitismo, que nenhum benefício traria ao Espiritismo ou a humanidade, mas sim de colocar ao alcance de quem busca a solução do mais importante problema do ser humano - "O Porquê da Vida" - a resposta que a Doutrina lhe dá.

Compreendendo de onde viemos, qual a razão de estarmos aqui e para onde vamos, mesmo que esta pessoa não se torne espírita, se tornará um ser mais consciente e contribuirá na transformação espiritual da humanidade.

A construção de um mundo melhor passa necessariamente pela etapa de contribuirmos para um mundo mais esclarecido.

Muita Paz,
Carlos Iglesia


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Filme "Os Orfãos", Tony Nello, Brasil

Olá meus amigos,

gostaria de falar com  vocês sobre o filme Os Órfãos, este filme além de ter duas horas duração( longa metragem), tem um ensinamento doutrinário muito grande. No filme mostramos os dois lados da vida, uma colônia espiritual, resgate no umbral, ação de obsessores sobre os drogados, e muito mais, uma linda história, com um final surpreendente.

Estamos a disposição para maiores esclarecimentos que se façam necessário. acesse o site www.osorfaos.com.br e saiba mais sobre Os Órfãos.

Fico no aguardo de seu retorno, muita paz a todos vocês.
 
Tony Nello
55 - (11) 37353452
www.melion.com.br


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Programa de TV "Despertar de um Mundo Melhor", Geraldo Guimarães, Brasil

O Clube de Arte mantém um programa de TV, “Despertar de Um Mundo Melhor”, há 7 anos no ar, transmitido para todo o Brasil pela CNT – Central Nacional de Televisão, aos domingos, às 15h; pela Rede 21, para São Paulo e outros Estados, aos domingos, das 14h às 14h30min; e pela EMBRATEL, através das antenas parabólicas, canal 10 ao 14, freqüência de 3910 MHz, aos sábados, das 11h às 11h30min. 

Fraternalmente,

Geraldo Guimarães.
Editor do Clube de Arte.


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GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS

O Boletim GEAE é distribuido por e-mail aos participantes do Grupo de Estudos Avançados Espíritas
Inscrição/Cancelamento - inscricao-pt@geae.inf.br

Informações Gerais - www.geae.inf.br/pt/faq
Conselho Editorial - editor@geae.inf.br
Coleção dos Boletins em Português - www.geae.inf.br/pt/boletins
Coleção do "The Spiritist Messenger" - www.geae.inf.br/en/boletins
Coleção do "Mensajero Espírita" - http://www.geae.inf.br/el/boletins