Discorrer sobre esse tema não é uma tarefa fácil. É muito mais complexo do que podemos imaginar no momento. Vou fazer uma análise geral e simplista de início, permitindo uma posterior discussão mais aprofundada cientificamente.
O que é Espírito? E matéria? Qual a relação que existe entre eles? Para um leigo é muito fácil definir uma matéria como sendo um aglomerado de moléculas. Assim, um pedaço de madeira, uma pedra, um lápis e o corpo humano são corpos materiais. A questão maior é definir e provar o que é um espírito.
No Livro dos Espíritos encontramos as seguintes questões a esse respeito:
Questão 76: Qual a definição que pode ser dada ao Espírito?
R: Espíritos podem ser definidos como seres inteligentes da criação. Eles constituem a população do universo, em distinção as formas do mundo material.
Nota: A palavra espírito é aqui empregada para designar a individualidade de seres extracorpóreos, e não um elemento universal inteligente.
Questão 82: É correto dizer que Espíritos são imateriais?
R: Como é possível definir algo que não há termo de comparação e que sua linguagem é incompetente para expressar? Pode alguém que nasceu cego definir a luz? "Imaterial" não é uma palavra certa; "incorpórea" seria mais próxima da verdade para você entender que um espírito, sendo uma criação, deve ser algo real. Espírito é matéria quintessenciada, mas matéria existente em um estado que não há análogo dentro do círculo de sua compreensão e tão etérea que ele não poderia ser percebido pelos seus sentidos. Nota: Nós dizemos que Espíritos são imateriais, devido suas essências diferirem de tudo o que conhecemos sob o nome de "matéria". Um mundo de pessoas cegas não teria termos para expressar a luz e seus efeitos. Aquele que nasce cego imagina que os únicos modos de percepção são: audição, olfato, paladar e o tato: ele não compreende outras idéias que seriam dadas pela visão. Nós podemos definir os Espíritos por meio de comparações que são necessariamente imperfeitas ou por um esforço de nossa imaginação.
Vamos raciocinar com uma simples analogia, a grande família eletrônica, para termos uma visão do que chamamos de Espírito.
Estamos todos interligados através de uma rede de computadores espalhada no mundo todo. Cada um desenvolve as suas atividades normais no dia a dia. Levantamo-nos cedo, escovamos os dentes, trocamos de roupa, saímos, comemos, voltamos, dormimos. As pessoas com quem convivemos nos vêem, acabam nos conhecendo e sabem nos identificar pela nossa aparência física, nossos hábitos de vestir, falar, andar etc. É um mundo real e se processa até a nossa morte.
Quando ligamos o computador e entramos em rede, estamos entramos em um outro mundo. Sem o uso de tecnologia sofisticada, você agora não está me vendo, portanto, não será capaz de me identificar, caso algum dia nos encontrarmos. Você não está ouvindo a minha voz e não poderá me reconhecer pela voz. Não sabe como eu me visto e não será capaz de identificar os meus hábitos pela vestimenta. Não sabe a minha idade e não é capaz de me reconhecer como um moço ou um velho, enfim resta o meu nome, que poderá não ser verdadeiro.
Assim, nesse esforço mental, não existimos um para outro da forma material, ou seja, como um ser humano. Entretanto, cada um de nós é capaz de sentir alegria, mágoa, revolta, orgulho e até uma tristeza profunda quando alguém resolve se desligar da rede, como um amigo que parte do mundo terreno pela da morte. Nos conhecemos apenas espiritualmente. São os Espíritos que estão se comunicando.
Dessa forma, você pode nunca ver ou conhecer pessoalmente uma pessoa da rede, mas poderá ser capaz de identificar o autor de uma mensagem, ou pelo menos, reconhecer a linha de raciocínio dele de alguma forma.
É claro que isso não se faz de um dia para o outro, como também você não é capaz de conhecer totalmente a pessoa com quem convive e somente se pode chegar próximo dependendo da afinidade espiritual envolvida.
Às vezes um casal se separa na velhice com a morte sem se ter verdadeiramente conhecidos. Ainda é possível que se conhecêssemos pessoalmente alguém da rede ela não expressaria as mesmas coisas que estaríamos acostumados a ler.
O homem não pode ser definido pelo seu corpo físico e essa capacidade pensante individual própria é o Espírito, ou seja, a verdadeira e real pessoa. Eu existo! A matéria é perecível e o espírito é eterno. O fato consumado da morte não significa que a pessoa acabou. Apenas tudo continua de um outro lado do mundo terreno, como ser pensante eterno.
O cérebro não é a origem do pensamento. O cérebro é o órgão de exteriorização dele, gerado pelo espírito, assim como esta máquina eletrônica é o meio de transmissão dos meus pensamentos. O meu Espírito pode estar muito longe disso aqui. Mas ele existe e é indestrutível... é eterno.
O grande problema do homem é procurar na matéria a causa da nossa inteligência e dos nossos sentimentos, que são características próprias de cada Espírito. A tentativa de explicar que a variabilidade da inteligência humana é produto dos diversos tipos de corpos físicos existentes é, portanto, opção errônea. Na matéria, o efeito. No Espírito, a causa. Se o Espírito é inteligente, isso se deve ao seu esforço constante em busca do conhecimento.
A partir do conhecimento do Espírito, vem o conhecimento moral do homem, que consegue perceber que não importa que tipo de corpo físico esteja a 30 cm do vídeo e onde ele está no momento, se é preto ou branco, qual a forma de seus hábitos, se é homem ou mulher, e sim o que ele esta dizendo, Jamais se construirá uma população que tenha os mesmos sentimentos e o mesmo nível de inteligência pelo simples melhoramento genético da raça humana. Aliás, falta pouco para o homem ver com os próprios olhos de espírito encarnado que dois seres humanos clonados e, portanto, apresentando a mesma e idêntica matéria, serão completamente diferentes como seres individuais.
Enfim, desligamos o computador e voltamos ao nosso mundo terreno.
Fonte: Boleltim GeaE, Ano, 01, Número 05,novembro de 1992