Toda cidade tem seu vulto histórico de destaque ou vários, a depender de sua história e origens no tempo. É comum que todos recordemos fatos da infância ou ainda que não tenhamos tido contato direto, até por questão cronológica, mas tenhamos conhecimento das ações e legado deixado por esses homens e mulheres que marcaram época, projetando suas ações no futuro.
Vim de uma cidade muito pequena, Mineiros do Tietê, no interior paulista, onde personalidades como Dr. Salvador Mercadante e Dr. Pedro de Oliveira Brandão, o primeiro médico e o segundo farmacêutico, marcaram nossas memórias. Assim como os alfaiates e músicos Augusto Zugliani e Pedro Carrara, entre tantos que poderiam ser citados, que igualmente fizeram história e deixaram registros em nossa própria história pessoal e de muitas pessoas e famílias.
Em Matão – também no interior paulista, como em qualquer outra cidade, o fato se repete. São homens e mulheres que se imortalizaram por suas ações e iniciativas sempre humanitárias e conscientes na direção do bem geral.
É o caso de Cairbar Schutel, em Matão. Farmacêutico e homem de bem, foi o primeiro prefeito da cidade. Natural do Rio de Janeiro, aqui fixou-se e transformou a vida do então pequeno vilarejo. Projetou-se além das fronteiras da cidade, do estado e do país, com sua ousada ação em favor do bem geral, por meio da cultura espírita, mas também na cidade onde recebeu o cognome de “O pai dos pobres de Matão” e o de “Apóstolo de Matão”.
Homem de fibra moral inquebrantável, protetor dos animais, das pessoas frágeis e carentes da alma e do corpo, dele recebiam o amparo para todas as dores. Aviava receitas médicas gratuitamente em sua farmácia, recolhida mendigos, servia refeições aos pobres, deslocava-se a cavalo pelas madrugadas para partos difíceis numa época sem quaisquer dos recursos que hoje dispomos. Católico fervoroso, trazia o padre da vizinha Araraquara para os ofícios católicos, envolveu-se com a fundação do Albergue Noturno, com a criação do Hospital e mesmo com a política sempre para beneficiar os pobres e necessitados, mas também em favor do bem coletivo, numa noção exata de cidadania.
Depois tornou-se espírita, abandonou a política, e dedicou sua vida aos livros, à cultura espírita, ao bem que já havia em seu coração, agora ampliado pelo novo conhecimento. Enfrentou preconceitos e lutas, mas a convicção foi mais forte e sua índole bondosa prevaleceu sobre tudo. Seu legado atravessou as décadas e inspira gerações, com grande repercussão nacional e internacional.
Neste fim de semana, ocorre na cidade o EAC – Encontro Anual Cairbar Schutel – em sua 9ª edição (o evento iniciou-se em 2011 consolidando-se ao longo dos anos). Atraindo centenas de participantes e quase uma centena de cidades de vários estados. O evento é sempre realizado em setembro, nas proximidades do dia de seu nascimento, dia 22 de setembro, em 1868. E agora, sábado e domingo, 21 e 22 de setembro, o evento retorna para alegria de seus organizadores e participantes, em gratidão à alta postura humanitária do grande benfeitor.
É que o exemplo fala mais que as palavras. Uma postura é mais que mil palavras... Obrigado Schutel.