I – Jesus quebrou a tradição judaica
Em Lucas (Capítulo 8, v. 1 a 3) menciona que Jesus quando pregava o Evangelho do Reino de Deus, quando ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, era sempre seguido por diversas mulheres: Maria Madalena, Marta, Maria de Betânia, Salomé, Joana e Susana.
Nos evangelhos canônicos vemos que o papel das mulheres está restrito a servir e serem as ajudantes de homens, em comum acordo com a tradição judaica. Na época, as mulheres judias não tinham nenhuma participação nas atividades do culto no Templo.
Com a descoberta dos textos gnósticos em Nag Hammadi, deserto do Egito, em 1945, vemos que a realidade é bem outra. Jesus, ao contrário, as acolhia e falava de igual para igual, considerava-as como pessoas inteiras, sobretudo quando são desprezadas (como veremos na passagem com a samaritana, e a mulher adúltera).
Esta igualdade que ele pregava entre homem e mulher chocava até os discípulos, provocando ciúmes e preconceitos.
Ele falava abertamente com as mulheres. Jesus passava os seus ensinamentos, independente do sexo. Não era algo exclusivo dos homens, como era na tradição judaica da época.
Jesus trouxe uma mensagem revolucionária para a mulher. Mas, nos primórdios da Igreja, estes ensinamentos não foram passados adiante. A sua mensagem sobre o potencial feminino que existe tanto no homem quanto na mulher se perdeu.
No livro “Pão Nosso”, ditado por Emmanuel à Chico Xavier, ele fala que com Jesus iniciou o legítimo feminismo.
Mas, o que havia nas palavras de Jesus que fazia estas mulheres o seguirem, vencendo o preconceito da época?
Jesus pregava Amor e Libertação.
II – Jesus rompe preconceitos com a samaritana
O encontro de Jesus e a samaritana é uma das passagens mais ricas e belas dos Evangelhos e foi narrada em João, Capítulo4 v. 6 a 30:
Estava ali a fonte de Jacó, numa localidade da Samaria, e Jesus cansado de uma viagem, assentou-se junto à fonte. Era quase a hora sexta (meio-dia). Vindo uma mulher samaritana tirar água, Jesus lhe disse:
“Dá-me de beber”. Seus discípulos tinham ido à cidade comprar alimento.
Disse a mulher samaritana: “Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim samaritana?” Pois os judeus não se davam com os samaritanos. Rivalidade antiga.
Vemos aqui, que Jesus quebrou dois preconceitos da época: o primeiro, pois um judeu não se comunicava com os samaritanos. O segundo, em conversar com uma mulher em público, e ainda mais quando ela está sozinha. Isto não era permitido pelas leis judaicas.
Mais adiante Jesus fala:
“Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas aquele que beber a água que eu lhe darei, nunca mais terá sede. Pois a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna.”
Aqui Jesus está anunciando o Reino de Deus. E a água que matará eternamente a sede é o Seu Amor, libertando as pessoas dos seus preconceitos.
O que encanta nessa passagem evangélica é a forma carinhosa e respeitosa no tratamento de Jesus com a samaritana, pois para os judeus religiosos os samaritanos eram uma raça de impuros.
Mais adiante, Jesus revela à mulher:
“Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores adorarão Deus em Espírito e Verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é Espírito e aqueles que O adoram devem adorá-lo em Espírito e Verdade”.
Aqui Jesus ensina que não precisa de imagens nem de rituais para verdadeiramente amar ao Pai.
III – Jesus promulga uma nova Lei com a mulher adúltera
Em mais uma armadilha armada pelos escribas e fariseus, estes levaram até Jesus uma mulher “surpreendida” em adultério. Esta passagem é narrada em João (Capítulo 8, v. 2 a 12).
“Mestre - disseram-lhe - esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de adultério. Na lei, Moisés nos prescreveu apedrejar tais mulheres. E tu, o que dizes?”
As autoridades judaicas viviam criando situações como estas para testar os ensinamentos de Jesus, para ver se não ia em contradição com o que pregou Moisés.
Jesus, porém, se abaixou e passou a escrever com o dedo no chão.
Mas, eles insistiam para saber a opinião do Mestre...
Jesus conhecendo o que se passava em seus corações, erguendo -se disse:
“Aquele dentre vós que nunca pecou atire-lhe a primeira pedra.”
Abaixou-se novamente e continuou a escrever no chão.
Os acusadores foram surpreendidos com a sábia resposta de Jesus, e foram se retirando desapontados.
Vendo que não sobrou ninguém, perguntou à mulher:
“Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?”
“Ninguém, Senhor” – respondeu ela.
Disse-lhe Jesus: “Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.”
Há uma lei do Antigo Testamento, no livro Levítico, capítulo 5 v. 10: “Se um homem cometer adultério com a mulher de seu próximo serão mortos o adúltero e a adúltera,”
E por que o homem que estava com a mulher, não estava ali para também ser julgado? Afinal ela foi flagrada em adultério com alguém!
Jesus demonstrou muita astúcia e coragem ao agir desta forma em seu julgamento. Conseguiu controlar a raiva e o preconceito daquelas pessoas.
A lei de Moisés dizia que a adúltera deveria morrer.
A lei de Jesus, alicerçada no Amor, dizia que ela deveria viver.
Foi um grande ensinamento de Misericórdia e Amor ao Próximo.
Se errarmos, devemos ter sempre uma nova oportunidade para reparação. Faz parte do nosso aprendizado.
IV – Madalena: a discípula favorita de Jesus
Por que Jesus, quando ressuscitou, apareceu primeiramente à Madalena? E não a Pedro, como queria a Igreja. Ou à sua mãe? Vemos no Evangelho de João, Capítulo 20, v.11 a 18 o relato sobre esta aparição.
Nos textos gnósticos encontrados em Nag Hammadi (1945) e, em outro texto descoberto numa necrópole em Tebas no Egito - Pistis Sophia – mostra que Madalena desempenhou um papel muito importante entre os apóstolos devido a sua capacidade intelectual, sua lucidez e por ter tido diálogos, e obtidos ensinamentos privilegiados, com Jesus, causando grande ciúme entre os apóstolos. Era um relacionamento Mestre-Discípulo.
A pergunta efetuada pelos apóstolos ao Mestre “Por que a amas mais que a todos nós?” está no Evangelho de Felipe encontrado em Nag Hammadi.
Maria Madalena era a discípula favorita de Jesus. Geralmente era ela quem fazia as perguntas mais profundas e respondia com rapidez as questões mais complexas mencionadas pelo Mestre. Vemos numa passagem de Pistis Sophia:
Em determinado momento, Maria pede permissão a Jesus para discursar a respeito de um ensinamento que Ele acabara de dar, e Jesus replica:
“Maria, abençoada seja tu, aquela a quem vou aperfeiçoar em todos os mistérios que estão nas regiões superiores. Discursa livremente, pois teu coração está elevado ao reino dos céus mais do que qualquer um dos teus irmãos”.
Madalena também tinha a capacidade de fortalecer os ânimos dos apóstolos, logo após a crucificação de Jesus. Esta passagem está no Evangelho de Maria, um dos textos encontrados em Nag Hammadi, onde após a aparição de Jesus ao grupo de apóstolos, pedindo para que fossem pregar o Evangelho:
Um dos apóstolos diz: ”Como ir até os pagãos e anunciar o Evangelho do Reino do Filho do Homem?
Eles não o pouparam, como eles nos poupariam?”
Então Maria se levantou, ela os beijou a todos e disse a seus irmãos:
“Não fiquem pesarosos e indecisos, porque Sua graça vos acompanhará e vos protegerá; em vez disso louvemos Sua grandeza, porque Ele nos preparou. Ele nos convida a sermos plenamente Homens
(Antrophos).”
Com estas palavras Maria fez com que seus corações se voltassem para Jesus. E eles começaram a discutir sobre o que o Salvador havia falado. ”
V – O óbolo da viúva e Sebastião, um catador de lixo reciclável
E sentado em frente ao Tesouro do Templo, observava como a multidão lançava pequenas moedas no Tesouro, e muitos ricos lançavam muitas moedas. Vindo uma pobre viúva, lançou duas moedas, isto é, um quadrante. E chamando a si os discípulos, disse-lhes: “ Em verdade eu vos digo que esta viúva que é pobre lançou mais do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro. Pois todos os outros deram do que lhe sobrava. Ela, porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver.” (Marcos, Cap. 12: v. 41 a 44)
Nesta passagem evangélica, Jesus quis mostrar o exemplo da verdadeira caridade. A viúva abriu mão do pouco que tinha, pois sabia que existiam outras pessoas mais necessitadas do que ela. Como ela já devia ter passado por diversas privações, por não ter o básico, estava doando realmente com o coração. E é isto que Jesus quis mostrar: ela pensava mais nos outros do que em si própria mesmo sabendo que este dinheiro iria lhe fazer falta.
Para exemplificar esta parábola nos nossos dias atuais, temos o Sebastião Pereira Duque, que há 24 anos puxa a sua carroça pelas ruas de Olinda (Pernambuco – Brasil) a procura de lixo reciclável. Praticamente com pouco estudo, a vida foi muito difícil para ele. Com esta atividade digna e honesta, conseguiu educar seus 7 filhos. Além disso, mesmo com os poucos recursos que tem, conseguiu construir uma pequena escola para 75 crianças, de 2 a 6 anos, para a comunidade onde vive. Sua solidariedade para com a sua comunidade não ficou só na escola. O Sebastião também construiu pequenas moradias (barracos) onde já abrigou 8 famílias Ainda arruma um tempo para consertar muletas e cadeiras de rodas para quem necessita.
Sebastião está vivenciando na prática no Reino de Deus pregado por Jesus.
V - Fontes bibliográficas utilizadas como pesquisa
(1) “Bíblia de Jerusalém” – Edições Paulinas
(2) “O Evangelho segundo o Espiritismo” – Allan Kardec - FEB
(3) “Mulheres do Evangelho” – pelo Espírito Estevão através do médium Robson Pinheiro – Ed. Casa dos Espíritos
(4) “Jesus e as mulheres” – Françoise Gange – Ed. Vozes
(5) “Jesus e as mulheres hoje” – Eliete Gomes
(6) “Adeus à morte sacrificial – repensando o cristianismo” – Meinrad Limbeck – Ed. Vozes
(7) “Boa Nova” – pelo Espírito de Humberto de Campos através do médium Chico Xavier
(8) “História do medo no Ocidente” – Jean Delumeau – Ed. Companhia das Letras
(9) “Maria Madalena – o lado feminino da divindade” – Elizabeth Clare Prophet e Annice Booth –Ed. Nova Era
(10) “O Evangelho Gnóstico de Tomé - o verdadeiro cristianismo como foi ensinado por Jesus” –Hermínio C. Miranda – Ed. Lachâtre.
(11) “O Evangelho de Maria – Miryan de Mágdala” – traduzido e comentado por Jean-Yves Leloup –Ed. Vozes
(12) “A Biblioteca de Nag Hammadi – A tradução completa das Escrituras Gnósticas” – James M. Robinson – Ed. Madras
Fonte: Boletim GeaE, Ano 24, Número 568, Fevereiro de 2017