Ao lado dos desastres causados na saúde e na economia (aí incluídos os empregos, naturalmente), pela pandemia do COVID 19, com todos os desdobramentos já conhecidos e aqueles que ainda nem imaginamos e que surgirão pela frente, considerando também os aspectos psicológicos e mentais na vida de muitas famílias – seja pelas dolorosas circunstâncias de morte e sepultamentos ou os impactos emocionais daí decorrentes – há que se buscar também os efeitos positivos da complexa ocorrência:
- O vírus nos igualou. Já não é a cultura, nem a posição social, nem a inteligência ou o poder que determina os desdobramentos. Todos a ele estamos sujeitos, se não nos precavermos. Isso disciplina uma nova mentalidade no comportamento social, embora a teimosia de muitos em assimilar tais lições;
- Embora aparentemente um paradoxo, nos aproximamos mais, apesar de fisicamente distantes. Fizemos descobertas incríveis com a tecnologia já disponível, embora não a houvéssemos valorizado antes em seu aproveitamento agora largamente utilizado;
- Alcançamos mais exata noção de nossa fragilidade e pequenez diante dos poderes que verdadeiramente governam a vida;
- Apesar de insistentes e ainda presentes, o vírus concentrou atenções e cuidados, deixando em segundo plano – pelo menos na mídia – os absurdos da corrupção e da criminalidade;
- Pais e filhos passaram a conviver mais diretamente, com as lições em casa e convivência mais amiúde;
- Casais e profissionais de todas as categorias tiveram que se reinventar suas rotinas, até por questão de sobrevivência.
- Largas adaptações em todos os segmentos sinalizam um novo tempo e uma nova forma de conduzir o cotidiano.
Claro que mais itens podem ser acrescidos e as preocupações não se centralizam em tais benefícios, antes buscamos as questões de sobrevivência principalmente e sentimos falta, por ser natural, imensa falta, da convivência social mais intensa, como habituados que estávamos.
A realidade, contudo, apresentou-se, exigindo adaptações. E essa nova realidade pode suscitar uma grande pergunta, entre tantas outras: “Qual nossa tarefa, nossa missão, daqueles que estamos e continuamos, homens e mulheres, em empresas e instituições, considerando a continuidade da vida social, ainda que adaptada?”
Breve reflexão indica que nosso compromisso comum pode ser dividido em três principais itens: a) Instruir (isso cabe em todos os segmentos) = quem tem mais experiência deve preparar pessoas e transferir conhecimentos e experiências para quem está chegando e vai continuar, já que todos somos gradativamente e continuamente substituídos na sequencia natural da vida humana; b) Auxiliar o progresso = Nosso dever maior é fazer o que precisa ser feito, portanto, oferecer nosso esforço e trabalho em favor do progresso geral de todos; c) Melhorar as instituições = A evolução da mentalidade humana produziu muitos conhecimentos que se distribuíram em variados segmentos das artes, da cultura, do esporte, da educação, da indústria, etc. E todo esforço de melhora em todos os segmentos deve ser permanente meta a ser perseguida, visando o bem da coletividade, aperfeiçoando métodos e práticas que resultem sempre na melhoria contínua da vida social.
Há um encadeamento natural na vida e seus segmentos. E todos podemos ser úteis de alguma forma, não havendo missão ou tarefa menor ou maior. Todas são importantes.
Mas estávamos excessivamente dominados pelo egoísmo (que ainda teima), iludidos por paixões variadas, seduzidos por posses e posições temporárias, envaidecidos muitas vezes por sonhos impraticáveis e mesmo cegos em situações variadas, gerando aflições e tumultos que nem percebíamos.
A pandemia chacoalhou a vida social, fazendo refletir. Estamos realmente conseguindo retirar lições da finalidade de sua vinda ou será preciso outra? O tempo dirá.