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Primeiro grupo espírita da internet

Ciência Espírita

Aula 9. Física e Espiritismo IV: Fenômenos Espíritas: Clássicos ou Quânticos?

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1. FÍSICA E ESPIRITISMO IV:FENÔMENOS ESPÍRITAS: CLÁSSICOS OU QUÂNTICOS ?

Na aula anterior (aula 8), apresentamos algumas características dos fenômenos espíritas, especialmente, os fenômenos mediúnicos inteligentes e de efeitos físicos. Apresentamos, também, algumas propriedades dos fenômenos quânticos que caracterizam o mundo microscópico. Chamamos de C1, C2 e C3 as características relacionadas com a quantização da troca de energia, dualidade onda-partícula e não-localidade, respectivamente. Pedimos aos leitores que leiam novamente a aula anterior antes de prosseguir de modo a perceberem mais claramente os argumentos que serão apresentados a seguir.

Tanto a mediunidade de efeitos inteligentes quanto a de efeitos físicos não podem ser analisadas sob os aspectos relacionados às características C1 e C2. Primeiramente porque eles são macroscópicos, isto é, os volumes de informação nos efeitos inteligentes, e do objeto utilizado nos efeitos físicos são macroscópicos. Todos esses fenômenos envolvem processos de trocas e interações fluídicas em quantidades macroscópicas. Portanto, a característica C1 é impossível de ser medida ou inferida pois não temos como avaliar se as trocas fluídicas ocorrem de forma quantizada ou em pacotes múltiplos de alguma quantidade pequena (um quantum) nos fenômenos mediúnicos.

A característica C2 também não pode ser avaliada pois é impossível testar se esses fenômenos possuem características duais com relação a alguma propriedade ou característica qualquer. No caso da matéria, os efeitos do tipo “onda” para objetos macroscópicos são muitas ordens de grandeza menores do que os efeitos do tipo “partícula” e, por isso, não são percebidos. Mesmo que os fluidos em sua estrutura íntima possuam a característica C2 jamais poderemos sentí-la nos fenômenos mediúnicos porque eles são macroscópicos.

A característica C3 (não-localidade) é aquela que gera mais confusão entre nós. O aspecto “sutil” relacionado com a C3, apresentado por alguns fenômenos quânticos, tem chamado a atenção do Movimento Espírita. Porém, como veremos adiante, os fenômenos espíritas, de acordo com a Doutrina Espírita, não são não-locais.

Primeiramente, vamos analisar a questão 282 do Livro dos Espíritos [1]. Segundo os espíritos, é através do Fluido Universal que os espíritos se comunicam, ou seja, ele é o veículo da transmissão do pensamento. Se existe um veículo de transmissão para a informação, então esse fenômeno é local e, portanto, ocorre dentro de um intervalo de tempo e espaço. Por mais rápido que seja o fluxo de ideias de um espírito para o médium, ele não ocorre de forma instantânea. Por mais sutil que seja o processo de comunicação através do pensamento, ele se utiliza do fluido universal como meio de propagação, “como, para vós, o ar o é do som”(questão 282), que é uma característica de fenômeno clássico local. O fenômeno não-local é caracterizado por ocorrer sem o intermédio de nenhum meio ou fluido.

Além disso, o fenômeno de não-localidade que pode ocorrer entre duas ou mais partes de um sistema quântico, jamais poderá ser usado como meio de transmissão de informação, como as ondas eletromagnéticas são o meio de transmissão de informação no telefone celular, por exemplo. Desde que no fenômeno mediúnico inteligente ou de efeitos físicos, alguma informação é transmitida do desencarnado para um ou mais encarnados, então esse fenômeno não ocorre por intermédio de um processo não-local.

Ainda a título de demonstração de que a não-localidade realmente não faz parte das explicações dadas pelos espíritos, vejamos a seguinte questão do Livro dos Espíritos [1]:

89. Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço?

“Sim, mas fazem-no com a rapidez do pensamento.”

Essa questão diz que por mais rápido sejam os espíritos, eles possuem velocidade finita, isto é, eles gastam algum tempo para percorrer o espaço. Isso, portanto, é uma característica de fenômeno local. O movimento dos espíritos é um fenômeno local. Para ser um fenômeno não-local é necessário que o deslocamento ocorra de forma instantânea.

Agora, vamos analisar a explicação dada pelo espírito de Erasto para a mediunidade de transporte (ver aula anterior). Se nenhum espírito pode trazer uma flor de um outro planeta por causa da diferença de ambiente fluídico, então isso significa que o espírito, nesse tipo de fenômeno, precisa se deslocar até o local onde o objeto está presente. Ele deve combinar seus fluidos com os fluidos materializados e atuar sobre o objeto para então trazê-lo. Isso é uma característica de fenômeno local. A forma ou os mecanismos físicos pelos quais o fenômeno ocorre são desconhecidos no momento. Talvez, esses mecanismos envolvam propriedades quânticas da matéria física densa e/ou da matéria fluídica, mas somos incapazes de verificar isso com base somente na Doutrina Espírita ou mesmo nos fenômenos em si. Em aulas futuras, falaremos sobre como definir um projeto de pesquisa espírita apropriado para investigar um problema como esse.

Nossa conclusão, com base na Doutrina Espírita, é que os fenômenos espíritas não são quânticos e não podemos inferir se suas propriedades decorrem de aspectos quânticos seja dos fluidos, seja da matéria. Esses fenômenos são, simplesmente, clássicos. Isso, nem de longe, compromete o valor do Espiritismo tanto como doutrina quanto como disciplina científica. A título de informação, a Mecânica Clássica ainda é muito utilizada no estudo de diversos fenômenos naturais como, por exemplo, a vida. Sistemas físicos cujas dimensões são macroscópicas, como os seres vivos, não podem ser estudados diretamente com a teoria quântica pois ela é intratável computacionalmente, nesses casos. Portanto, não existe nada de vergonhoso em reconhecer que os fenômenos espíritas são explicados a partir de conceitos clássicos. Isso tem muito mais valor científico do que a proposição e repetição, sem compreensão, de afirmativas que envolvam terminologias e/ou conceitos oriundos de teorias quânticas modernas. Se por um lado as pessoas em geral são incapazes de avaliar essas afirmativas, as pessoas que possuem formação científica facilmente percebem os equívocos das mesmas e podem se desinteressar do Espiritismo por causa de um engano.

É importante frisar que assim como alguns fenômenos macroscópicos da matéria decorrem das propriedades quânticas da estrutura microscópica da mesma, é perfeitamente possível que algumas propriedades dos fluidos espirituais decorram de propriedades de sua estrutura íntima. Isso é bem diferente do que expomos aqui! Uma coisa é a formulação de uma teoria que explique o comportamento de um determinado tipo de objeto em uma escala de tamanho macroscópica. Outra coisa, é buscar explicar as propriedades macroscópicas de um sistema em termos das propriedades microscópicas das diversas partes que compõem o mesmo. Segundo a história da ciência, as teorias para a estrutura da matéria só vieram depois das teorias clássicas. Portanto, é preciso que trabalhemos primeiro em descortinar todas as propriedades macroscópicas dos fluidos espirituais para então buscarmos desenvolver alguma teoria para a estrutura microscópica que explique essas propriedades. Foi dessa forma que a ciência chegou até a teoria quântica da matéria e justamente o fato de explicar algumas propriedades macroscópicas é que conferiu o valor sólido que a teoria quântica apresenta.

André Luiz, em Mecanismos da Mediunidade, tenta fazer uma analogia entre a estrutura da matéria fluídica e os mecanismos dos fenômenos mediúnicos. Mas, como veremos em aula futura, as analogias de André Luiz não incluem a consideração de que os fenômenos mediúnicos são não-locais.

Na próxima aula, analisaremos a ideia de que Deus ou o Espírito seria uma “função de onda”.

2. PESQUISA SOBRE OS CRISTAIS DA ÁGUA: SEM VALOR CIENTÍFICO (POR ENQUANTO)

Na aula anterior comentamos sobre algumas pesquisas cujo valor científico se revela pela forma de análise do assunto e da qualidade da bibliografia utilizada.

Aqui, vamos comentar um exemplo de trabalho espiritualista que ainda não possui respaldo científico. Se trata das pesquisas realizadas pelo Dr. Massaru Emoto sobre a cristalização da água [3].

Segundo Emoto [3], as vibrações absorvidas por uma amostra de água podem ser verificadas através da forma de cristalização das moléculas dessa amostra. Pensamentos, sentimentos, músicas, cores, palavras, etc. atuariam sobre a água, de acordo com o Dr. Emoto.

Através de uma busca simples na internet podemos verificar que o nome do Dr. Emoto é bastante conhecido junto a muitos grupos espiritualistas (incluindo o Movimento Espírita) de todo o mundo. Porém, o trabalho do Dr. Emoto ainda não é conhecido, formalmente, pela comunidade científica. Já explicamos em aulas anteriores a questão sobre a comprovação científica e a necessidade de divulgar a pesquisa científica através de artigos publicados em periódicos científicos que possuem o método de análise por pares. Infelizmente, por enquanto, nenhuma parte do trabalho do Dr. Emoto foi publicada em alguma revista científica. Ele apenas divulga seu trabalho em homepages particulares e através de livros de divulgação. Como vimos na aula 6, livros de divulgação tem pouco valor como referência científica. Por essas razões, o trabalho do Dr. Emoto não pode ser considerado, ainda, como cientificamente comprovado.

Podemos acrescentar uma discussão realizada por nós sobre essa pesquisa com a água [5]. A afirmativa do Dr. Emoto de que uma palavra escrita no rótulo de um frasco com uma amostra de água, influencia a forma de cristalização da mesma, é ilógica e contrária à Doutrina Espírita pois sabemos que são os espíritos os agentes que agem sobre os fluidos direcionando-os para atuarem sobre a matéria. Sabemos que a água é suscetível de impregnar-se de fluidos presentes no ambiente ou direcionados a ela por algum encarnado ou desencarnado. Mas dizer que basta escrever uma palavra infeliz para que a água absorva fluidos negativos, é confundir o efeito com a causa [5]. Esse é um exemplo de pesquisa que ainda não possui respaldo científico e que apresenta conclusões doutrinárias equivocadas.

A questão sobre a necessidade de qualquer trabalho de pesquisa ser publicado em revista científica de circulação nacional ou internacional, como passo inicial necessário para uma comprovação ou aceitação científica, é uma ideia que precisa ser melhor esclarecida no meio espírita. Isso pode ser facilmente confundido com a ideia de préconceito, por parte da comunidade acadêmica, com relação a determinados assuntos. Na aula 11, discutiremos essa questão sob um ponto de vista filosófico e prático. Veremos como separar a ideia de ‘comprovação científica’ válida para a sociedade como um todo, da ideia de ‘característica científica’ válida para a Doutrina Espírita. Isso é de suma importância para que nós saibamos nos colocar perante o Movimento Espírita, a sociedade e a comunidade científica.

Referências

[1] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76a Edição (1995).

[2] A. Kardec, O Livro dos Médiuns, Editora FEB, 62a Edição, Rio de Janeiro (1996).

[3] M. Emoto, The Message from Water, Vol. I, Ed. Hado Kyoiku Sha, (1999).

[4] http://www.hado.net e http://thank-water.net

[5] A. F. da Fonseca, “Mensagem” dos cristais de água: cientificamente NÃO comprovado!, Jornal Alavanca 489, p. 3 (2004).


 

Fonte: Boletim GEAE 13(491), 19/04/2005

 

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