Off Canvas sidebar is empty
Primeiro grupo espírita da internet

Ciência Espírita

Aula 14. O que é um Projeto de Pesquisa?

Nesta aula, abordaremos um assunto que muito pode auxiliar os estudiosos da Doutrina Espírita na organização e sistematização de um trabalho de pesquisa direcionado ao desenvolvimento dos conhecimentos espíritas. Vamos descrever e analisar as características básicas de um projeto de pesquisa.

Pela expressão “projeto de pesquisa” entende-se, basicamente, duas coisas. Uma delas é, em linguagem simplificada, o projeto em si, ou seja, tudo o que será realizado para atingir o objetivo do trabalho de pesquisa. O outro significado dessa expressão é o “texto” preparado para o esclarecimento do projeto de pesquisa, com a explicação dos detalhes necessários para sua realização. Esse “texto” é útil não somente aos autores do projeto que o terão como roteiro organizado das atividades a serem seguidas mas, também, a patrocinadores e outros interessados que precisam avaliar os méritos do projeto.

Um bom projeto de pesquisa deve responder a determinadas perguntas como: por quê ?, para quê?, como?, com o quê?, quem?, quanto?, etc. Para isso, ele é subdividido em determinadas partes que explicaremos a seguir. Os projetos de pesquisa não são todos idênticos e os ítens a seguir podem variar na sua disposição ao longo do “texto” do projeto. Apresentaremos, a seguir, os principais ítens e conceitos presentes nos projetos de pesquisa.

  1. Título e Resumo: O título é o “cartão de visitas” do projeto. Ele deve ser conciso porém claro o bastante para sugerir ao leitor do que se trata o projeto. O resumo deve conter uma breve exposição do assunto a ser estudado, as ferramentas (teóricas ou experimentais) que se pretende utilizar e os resultados que se pretende obter. Pode-se destacar a importância da contribuição desse projeto de pesquisa para a área do conhecimento. O objetivo do resumo é fornecer uma ideia bem geral sobre o projeto antes que o leitor o leia.
  2. A Equipe: Aqui responder-se-á à seguinte pergunta “Quem?”. A resposta para essa pergunta envolve não apenas os autores do projeto mas, também, os possíveis auxiliares e estudantes que participarão direta ou indiretamente do mesmo.

Os pesquisadores que tiveram a iniciativa do projeto de pesquisa (os autores do mesmo) são denominados pesquisadores principais e são os responsáveis pelo mesmo. Além de participarem na realização do trabalho de pesquisa, eles são responsáveis por administrar diversas providências relacionadas ao projeto como, por exemplo, a aplicação dos recursos, prestação de contas, orientação dos outros membros participantes, etc. Eles devem, também, orientar e supervisionar a atividade de pesquisa dos demais membros.

Não existe uma regra sobre o número de membros da equipe que participará de um projeto de pesquisa. Uma pessoa sozinha pode preparar e levar adiante até mais de um projeto de pesquisa. Porém, a grande diversidade de assuntos dentro, mesmo, de um único tópico de pesquisa, tem levado os pesquisadores a se unirem para a realização de projetos de pesquisa maiores ou de maior complexidade. Existe casos em que grupos enormes se unem com um único objetivo como, por exemplo, o que ocorre com o chamado Projeto Genoma que uniu vários grupos de biólogos, químicos, matemáticos e cientistas da computação. Uma exigência natural do processo é que os pesquisadores principais tenham experiência em pesquisa e em participação de projetos de pesquisa.

Além dos pesquisadores principais responsáveis pelo projeto de pesquisa, a equipe é formada por: i) outros pesquisadores que em função de compromissos particulares, não podem assumir o compromisso de serem pesquisadores principais mas que colaboram com o projeto de acordo com sua disponibilidade; ii) pesquisadores em diversos graus de formação como recém-doutores e alunos de doutorado e mestrado; iii) colaboradores externos que podem auxiliar com sua experiência particular na área de pesquisa do projeto. Além de discutirem dúvidas e darem valiosas sugestões, eles podem participar do projeto como qualquer membro dos ítens i) e ii). O nosso destaque aqui vale no sentido de sugerir ao Movimento Espírita o aproveitamento desse tipo de ideia para o reforço dos projetos de pesquisa. Quantas dúvidas poderiam ser desfeitas e quanta informação poderia chegar até nós em tempo hábil se pudéssemos consultar, de acordo com as possibilidades, alguns pesquisadores reconhecidos na área de pesquisa dos mesmos! O GEAE tem se esforçado para auxiliar o Movimento Espírita nesse papel de colaboração externa. Para isso basta escrever sua solicitação para o endereço Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

  1. Objetivos: Esta parte do projeto de pesquisa consiste na apresentação dos objetivos principais do projeto.

Nos “objetivos”, os autores deverão explicitar quais os benefícios do presente projeto de pesquisa. Além do benefício geral do progresso do conhecimento dentro da sua área de pesquisa, o projeto consiste de diversos resultados parciais que, individualmente, consistem de benefícios diferentes e específicos. O projeto de pesquisa deve explicitar esses benefícios particulares através do que chamaremos de subprojetos individuais, ligados ao tema principal do projeto de pesquisa. Cada subprojeto terá um objetivo de estudo ou pesquisa e consistirá na aplicação de determinado método ou ferramenta. No ítem “objetivos” não se deve apresentar os detalhes sobre métodos e ferramentas, mas apenas informá-los como sendo partes do objetivo maior do projeto.

Isso é bastante útil pois mostra que dentro dos esforços em torno de um único projeto, os resultados esperados são múltiplos o que, do ponto de vista de financiamento e aproveitamento de recursos, é algo que se costuma levar bastante em consideração. Isso não significa que as pesquisas sobre assuntos muito específicos sejam menosprezados. Sugere-se que o pesquisador agrupe diversas ideias aparentemene esparsas em um único projeto maior que as englobe e dê força. Isso não só fortalece cada ideia, como ajuda no amadurecimento do pesquisador com relação aos seus projetos de pesquisa já que isso lhe dá uma visão mais ampla de todo o conjunto favorecendo uma avaliação mais justa de cada resultado (em comparação com os outros) e na criação de novas ideias.

  1. Cronograma: Este item é algo simples porém muito importante na organização de um projeto de pesquisa. O cronograma não deve representar um roteiro rigoroso e mecânico das atividades que ocorrerão. Todo trabalho de pesquisa possue componentes imprevisíveis como dificuldades inesperadas e novas ideias que decorrem dos novos resultados. A definição de subprojetos permite certa flexibilidade na execução do projeto de pesquisa dentro dos prazos estabelecidos e de acordo com as dificuldades inerentes a um trabalho de pesquisa.

Um projeto de pesquisa, como tantas coisas na vida, possui início, meio e fim. Isso significa que ele possui um tempo durante o qual ele será alimentado tanto pela atividade humana quanto com recursos de ordem financeira. Não existe uma regra absoluta para o tempo que deve durar um projeto de pesquisa, porém observamos que os órgãos de fomento à pesquisa sugerem períodos de tempo entre 2 e 4 anos, podendo haver uma prorrogação de acordo com as dificuldades e resultados obtidos. Porém, dependendo do caso, projetos mais longos podem ocorrer como, por exemplo, existe um projeto de pesquisa chamado “Projeto 2010”, iniciado em 2000, onde os genes da planta da mostarda serão estudados um a um de modo a obter-se um mapa completo dos mesmos [1].

A divisão do cronograma depende das particularidades de cada projeto e das etapas mais importantes previstas no mesmo. Por exemplo, é importante definir as datas para a compra de equipamentos ou de material permanente. Caso um pesquisador externo seja convidado para uma visita de tempo curto para trabalhar com a equipe, a época dessa visita e a duração da mesma deverá constar do cronograma. A formação de alunos, como de doutoramento, pode estar prevista dentro do cronograma de atividades referentes ao projeto de pesquisa. Enfim, somente os passos mais importantes para o projeto de pesquisa ou referentes ao mesmo devem ser colocados no cronograma. Isso é importante pois eventuais dificuldades no projeto podem ser explicadas em termos de problemas ocorridos no cumprimento do cronograma.

  1. Descrição dos trabalhos anteriores: Toda ideia nova possui um contexto em que é percebida ou obtida. Este ítem é destinado para a contextualização das ideias pretendidas com o projeto de pesquisa. Esse ítem também mostra o conhecimento de base dos pesquisadores principais para explorar o tipo de problemas que se pretende resolver com o novo projeto de pesquisa.

Esse ítem deve conter uma descrição suscinta dos trabalhos de pesquisa já realizados pelos pesquisadores principais individualmente ou em colaboração com outrem, sobre o assunto do atual projeto de pesquisa. Além de permitir a análise do conhecimento de base dos proponentes do projeto de pesquisa, isso permite a avaliação do assunto com relação ao interesse científico. Trabalhos de pesquisa anteriores já publicados na literatura científica sobre o tema, refletem o interesse pelo assunto o que é um indício de sucessos futuros do projeto.

No caso de tema inédito, os pesquisadores principais devem explicar as possíveis aplicações do mesmo nas áreas do conhecimento tradicionais ou no desenvolvimento de bens e valores para a sociedade.

  1. Descrição da infra-estrutura: Esse ítem é algo fundamental. Em que condições os pesquisadores principais e sua equipe trabalharão na realização do projeto de pesquisa? Que recursos humanos existem à disposição? Que recursos técnicos e equipamentos existem? Contam os estudantes e pesquisadores com uma biblioteca bem aparelhada? Os estudantes possuem espaço físico para trabalharem? Existem redes de computadores de alto desempenho e com acesso à internet? Essas questões são típicas e a decisão quanto ao mérito de um projeto de pesquisa pode depender da resposta a elas.
  2. Orçamento: Este ítem é importante para projetos que necessitam de materiais de consumo ou permanentes. Os autores devem consultar os fornecedores com relação a preços e orçamentos.
  3. Projeto de Pesquisa: Este ítem corresponde ao projeto de pesquisa propriamente dito. Todos os detalhes sobre o mesmo devem ser apresentados e explicados aqui. De modo análogo a um trabalho de monografia (porém em menor tamanho), este ítem deve conter introdução, descrição de cada subprojeto e seus detalhes, os materiais e métodos a serem utilizados, e as referências. Não existe uma regra absoluta com relação aos subítens dentro do projeto de pesquisa, mas os autores devem buscar a explicação clara do que se pretende fazer. Não há um subítem do tipo conclusão pois não há o que concluir. Porém, pode-se adiantar algo do que se expera como resultados.

Assim, concluímos a apresentação das características principais de um projeto de pesquisa. O conteúdo de cada um deles será fruto da criatividade humana. Dois projetos sobre um mesmo assunto poderão ser bem diferentes sem que um seja pior do que outro.

Alguns cuidados na preparação do projeto de pesquisa são de extrema necessidade.

O projeto de pesquisa deve ter consistência, relacionando os objetivos de cada subprojeto ao objetivo principal do mesmo.

O orçamento do projeto deve ser preparado cuidadosamente para não ficar acima ou abaixo do que se espera para a realização do projeto de pesquisa. Certamente que essa recomendação vale em dobro para qualquer trabalho de pesquisa espírita não somente por causa da escassês de recursos, mas porque como espíritos ainda endividados, faz parte do nosso aprendizado moral o uso correto (não abuso), consciente e adequado dos recursos que porventura dispusermos.

Um projeto de pesquisa não se escreve da noite para o dia. É necessário estudar a bibliografia e a literatura específicas da área do conhecimento a qual se liga o projeto de pesquisa, bem como os trabalhos recentes que outros pesquisadores tem feito nessa área. Um projeto de pesquisa deve possuir uma importante virtude: a simplicidade. Não há necessidade de incrementar o projeto com atividades aparentemente grandiosas para justificá-lo. As seguintes palavras de Willian Crookes, contidas na introdução do livro Fatos Espíritas editado pela FEB, demonstram a simplicidade que caracteriza a atividade científica:

O espiritualista, diz Crookes, fala de corpos pesando 50 ou 100 libras, que se elevam ao ar sem a intervenção de força conhecida; mas o químico está habituado a fazer o uso de uma balança sensível a um peso tão pequeno que seriam necessários 10000 deles para perfazer um grão. Ele tem base para pedir a esse poder, que se diz guiado por uma inteligência que suspende ao teto um corpo pesado, que faça mover, sob condições determinadas, a sua balança tão delicadamente equilibrada.

O espiritualista fala de pancadas que se produzem nas diferentes partes de um quarto, (...). O experimentador científico tem o direito de pedir que essas pancadas se produzam sobre a membrana esticada de seu fonautógrafo.

O espiritualista fala de quartos e de casas sacudidas por um poder sobre-humano, (...). O homem de ciência pede simplesmente que um pêndulo colocado sob uma campânula de vidro e repousando em sólida alvenaria seja posto em vibração.

(...)

O espiritualista fala das manifestações de uma força equivalente a milhares de libras e que se produz sem causa conhecida. O homem de ciência, (...), pede que as ditas manifestações se produzam no seu laboratório, onde ele as poderá pesar, medir, e submeter seus próprios ensaios.

Eis o que consideramos o exemplo de modo simples de pensar quando desejamos preparar um projeto de pesquisa espírita. Não há necessidade de preocuparmos com “quantidade” mas apenas com a “qualidade” dos resultados que almejamos encontrar com nossas pesquisas.

Na próxima aula apresentaremos um modelo de projeto de pesquisa espírita com o objetivo de ilustrar a presente aula.

Referências

[1] T. Schlick, Molecular Modeling and Simulation, Springer-Verlag, New York (2002).

[2] W. Crookes, traduzido por O. D’argonnel, Fatos Espíritas, Editora FEB, 7a Edição (1983). 


 

Fonte: Boletim GEAE 13(496), 23/07/2005

Editores's Avatar

Editores