====================================================================== _|_|_| _|_|_| _|_|_| _|_|_| GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS _| _| _| _| _| Fundado em 15 outubro de 1992 _| _| _|_| _|_|_| _|_| _| _| _| _| _| _| Boletim semanal _|_|_| _|_|_| _| _| _|_|_| de distribuição eletrônica ---------------------------------------------------------------------- Ano 06 - Número 277 - 1998 27 de Janeiro de 1998 ====================================================================== |=========================| INDICE |===============================| EDITORIAL Apresentacao do texto "O Espiritismo e' uma Religiao ?" TEXTOS O Espiritismo e' uma Religiao?, por Allan Kardec COMENTARIOS Sobre o livro: "Da elite ao povo", por Carlos Iglesia PERGUNTAS Referencias do Osservatore Romano? por Francisco Curado PAINEL Livros Espíritas em Alemão, por Rafael Peregrino I Encontro do GEAE |===================================================================| _____________________________________________________________________ EDITORIAL ----------- Apresentacao do texto "O Espiritismo e' uma Religiao ?" _____________________________________________________________________ O texto "O Espiritismo e' uma Religiao ?" corresponde ao discurso de abertura da sessao anual comemorativa do dia dos mortos na Sociedade de Paris, realizada em 1.o de Novembro de 1868. O discurso foi citado por Jose' Lucas no boletim 275 - comentario sobre "Espiritismo e Religiao" - e, devido a sua importancia para o debate em curso no GEAE, o transcrevemos neste boletim. O texto foi extraido da "Revista Espirita" de dezembro de 1868, traducao de Julio Abreu Filho, da colecao das obras completas de Allan Kardec publicada pela Editora Edicel. Pedimos a todos os participantes do debate que leiam cuidadosamente o texto abaixo, pois ele nos parece a chave para a compreensao do que Kardec entendia por "religiao", como encarava o papel desempenhado pelas "religioes", a sua visao da doutrina Espirita dentro deste contexto e porque preferia nao apresentar o Espiritismo como uma religiao. Notem que Kardec nao rejeitava a religiao, nem o sentimento religioso - pelo contrario - nao tibutea em aplicar essa designacao ao Espiritismo, inclusive usando para enfatizar sua posicao a expressao "e no's nos glorificamos por isto", quando entendida no seu sentido filosofico. E' principalmente para evitar equivocos com o uso vulgar - na sua inseparavel associacao a culto e a forma - que ele nao utiliza a palavra e se restringe a designa-lo como doutrina filosofica e moral. _____________________________________________________________________ TEXTO ------- O Espiritismo e' uma Religiao?, por Allan Kardec _____________________________________________________________________ "Onde quer que se encontrem duas ou tres pessoas reunidas em meu nome, ai estarei com eles (Mat. XVIII, 20)." Caros irmaos e irmas espiritas, Estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso a comemoracao dos mortos, para dar aos nossos irmaos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relacoes de afeicao e de fraternidade que existiam entre eles e nos em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo-Poderoso. Mas, porque nos reunir ? Nao podemos fazer, cada um em particular, o que nos propomos a fazer em comum ? Qual a utilidade que pode haver em se reunir assim num dia determinado ? Jesus no-lo indica pelas palavras citadas no alto. Esta utilidade esta' no resultado produzido pela comunhao de pensamentos que se estabelece entre pessoas reunidas com o mesmo objetivo. Mas compreende-se bem todo o alcance da expressao: _Comunhao de pensamentos ?_ Seguramente, ate' este dia, poucas pessoas dela tinham feito uma ideia completa. O Espiritismo, que nos explica tantas coisas, pelas leis que nos revela, vem ainda nos explicar a causa, os efeitos e o poder desta situacao do espirito. Comunhao de pensamento quer dizer, pensamento comum, unidade de intencao, de vontade, de desejo, de aspiracao. Ninguem pode desconhecer que o pensamento seja uma forca; mas e' uma forca puramente moral e abstrata ? Nao; do contrario nao explicariam certos efeitos do pensamento e, ainda menos, a comunhao do pensamento. Para o compreender, e' preciso conhecer as propriedades e a acao dos elementos que constituem a nossa essencia espiritual, e e' o Espiritismo que no-las ensina. O pensamento e' o atributo caracteristico do ser espiritual; e' ele que distingue o espirito da materia: sem o pensamento, o espirito nao seria espirito. A vontade nao e' atributo especial do espirito: e' o pensamento chegado a um certo grau de energia; e' o pensamento tornado forca motriz. E' pela vontade que o espirito imprime aos menbros e ao corpo movimentos num determinado sentido. Mas se ele tem a forca de agir sobre os orgaos materiais, como nao deve ser maior essa forca sobre os elementos fluidicos que nos cercam ! O pensamento age sobre os fluidos ambientes, como o som age sobre o ar; esses fluidos nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode, pois, dizer-se com toda a verdade que ha' nesses fluidos ondas e raios de pensamentos que cruzam sem se confundir, como ha' no ar ondas e raios sonoros. Uma assembleia e' um foco onde irradiam pensamentos diversos; e' como uma orquestra, um coro de pensamentos em que cada um produz a sua nota. Resulta dai uma porcao de correntes e efluvios fluidicos, cada um dos quais recebe a impressao pelo sentido espiritual, como num coro de musica cada um recebe a impressao dos sons pelo sentido da audicao. Mas, assim como ha' raios sonoros harmonicos ou discordantes, tambem ha' pensamentos harmonicos ou discordantes. Se o conjunto for harmonico, a impressao sera' agradavel; se for discordante, a impressao sera' penosa. Ora, para isso nao e' preciso que o pensamento seja formulado em palavras; a radiacao fluidica nao existe menos, seja ou nao expressa; se todas forem benevolentes, todos os assistentes experimentarao um verdadeiro bem-estar e sentir-se-ao `a vontade; mas se se misturarem alguns pensamentos maus, produzem o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tepido. Tal e' a causa do sentimento de satisfacao que se experimenta numa reuniao simpatica; ai como que reina uma atmosfera moral salubre, onde se respira `a vontade; dai se sai reconfortado, porque se ficou impregnado de efluvios fluidicos salutares. Assim se explicam, tambem, a ansiedade, o mal-estar indefinivel que se sente num meio antipatico, em que pensamentos malevolos provocam, por assim dizer, correntes fluidicas malsas. A comunhao de pensamentos produz, assim, uma especie de efeito fisico, que reage sobre o moral; e' o que so' o Espiritismo poderia dar a compreender. O homem o sente instintivamente, desde que procure as reunioes onde sabe que encontra essa comunhao. Nas reunioes homogeneas e simpaticas adquire novas forcas morais; poder-se-ia dizer que ai recupera as perdas fluidicas que tem diariamente, pela radiacao do pensamento, como recupera pelos alimentos as perdas do corpo material. A esses efeitos da comunhao dos pensamentos junta-se um outro que e' a sua consequencia natural, e que importa nao perder de vista; e' o poder que adquire o pensamento ou a vontade, pelo conjunto de pensamentos ou vontades reunidas. Sendo a vontade uma forca ativa, esta forca e' multiplicada pelo numero de vontades identicas, como a forca muscular e' multiplicada pelo numero de bracos. Estabelecido este ponto, concebe-se que nas relacoes que se estabelecem entre os homens e os Espiritos, haja, numa reuniao onde reine uma perfeita comunhao de pensamentos, uma forca atrativa ou repulsiva, que nem sempre possui o individuo isolado. Se, ate' o presente, as reunioes muito numerosas sao menos favoraveis, e' pela dificuldade de obter uma homogeneidade perfeita de pensamentos, o que depende da imperfeicao da natureza humana na terra. Quanto mais numerosas as reunioes, mais ai se misturam elementos heterogeneos, que paralizam a acao dos bons elementos, e que sao como graos de areia numa engrenagem. Assim nao e' nos mundos mais adiantados, e tal estado de coisas mudara' na terra, `a medida que os homens se tornarem melhores. Para os Espiritas a comunhao de pensamentos tem um resultado ainda mais especial. Vimos o efeito dessa comunhao de homem a homem; o Espiritismo nos prova que nao e' menor dos homens para os Espiritos e reciprocamente. Com efeito, se o pensamento coletivo adquire forca pelo numero, um conjunto de pensamentos identicos, tendo o bem por objetivo, tera' mais forca para neutralizar a acao dos maus Espiritos; assim, vemos que a tatica desses ultimos e' impelir para a divisao e para o isolamento. Sozinho, o homem pode sucumbir, ao passo que se sua vontade for corroborada por outras vontades, podera' resistir, segundo o axioma: _A uniao faz a forca_, axioma verdadeiro no moral quanto no fisico. Por outro lado, se a acao dos Espiritos malevolos pode ser paralizada por um pensamento comum, e' evidente que a dos bons Espiritos sera' secundada. Sua influencia salutar nao encontrara' obstaculos; nao sendo os seus efluvios fluidicos detidos por correntes contrarias, espalhar-se-ao sobre todos os assistentes, precisamente porque todos os terao atraido pelo pensamento, nao cada um em proveito pessoal, mas em proveito de todos, conforme a lei da caridade. Descerao sobre eles em linguas de fogo, para nos servir uma admiravel imagem do Evangelho. Assim, pela comunhao de pensamentos, os homens se assistem entre si, e ao mesmo tempo assistem os Espiritos e sao por estes assistidos. As relacoes entre o mundo visivel e o mundo invisivel nao sao mais individuais, sao coletivas e, por isso mesmo, mais poderosas para o proveito das massas, como para o dos individuos. Numa palavra, estabelece a solidariedade, que e' a base da fraternidade. Ninguem trabalha para si so', mas para todos, e trabalhando por todos cada um encontra a sua parte. E' o que nao compreende o egoismo. Gracas ao Espiritismo, compreendemos, entao, o poder e os efeitos do pensamento coletivo; explicando-nos melhor o sentimento de bem-estar que se experimenta num meio homogeneo e simpatico; mas sabemos, igualmente, que ha' o mesmo com os Espiritos, porque eles tambem recebem os efluvios de todos os pensamentos benevolentes que para eles se elevam, como uma nuvem de perfume. Os que sao felizes experimentam uma maior alegria por esse concerto harmonioso; os que sofrem sentem um maior alivio. Todas as reunioes religiosas, seja qual for o culto a que pertencam, sao fundadas na comunhao de pensamentos; e' ai, com efeito, que esta deve e pode exercer toda a sua forca, porque o objetivo deve ser o despreendimento do pensamento das garras da materia. Infelizmente, em sua maioria, afastam-se desse principio, `a medida que faziam da religiao uma questao de forma. Disso resultou que cada um, fazendo consistir seu dever na realizacao da forma, julga-se quite que _cada um vai aos lugares de reunioes religiosas com um pensamento pessoal, por sua propria conta, e o mais das vezes sem nenhum sentimento de confraternidade em relacao aos outros assistentes; esta' isolado em meio `a multidao, e nao pensa no ceu senao para si-mesmo_. Certamente nao era assim que o entendia Jesus, quando disse: "Quando estiverdes diversos reunidos em meu nome, estarei no meio de vos". Reunidos em meu nome quer dizer com um pensamento comum; mas nao se pode estar reunidos em nome de Jesus sem assimilar os seus principios, a sua doutrina. Ora, qual e' o principio fundamental da doutrina de Jesus ? A caridade em pensamentos, palavras e obras. Os egoistas e os orgulhosos mentem quando se dizem reunidos em nome de Jesus, porque Jesus os desautoriza por seus discipulos. Feridas por estes abusos e por estes desvios, ha' criaturas que negam a utilidade das assembleias religiosas e, por conseguinte, dos edificios consagrados a tais assembleias. Em seu radicalismo, pensam que seria melhor construir hospicios do que templos, desde que o templo de Deus esta' em toda a parte, que pode ser adorado em toda a parte, que cada um pode orar em casa e a qualquer hora, ao passo que os pobres, os doentes e os enfermos necessitam de lugares de refugio. Mas pelo fato de se cometerem abusos, por se afastarem do reto caminho, segue-se que nao existe o reto caminho e que tudo aquilo de que se abusa seja mau ? Falar assim e' desconhecer a fonte e os beneficios da comunhao de pensamentos, que deve ser a essencia das assembleias religiosas; e' ignorar as causas que a provocam. Que os materialistas professem semelhantes ideias, concebe-se; porque para eles, em todas as coisas fazem abstracao da vida espiritual; mas da parte dos espiritualistas, e melhor ainda, dos Espiritas, seria um contra-senso. _O isolamento religioso, como o isolamento social, conduz ao egoismo_. Que alguns homens sejam bastante fortes por si mesmos, muito largamente dotados pelo coracao, para que sua fe' e sua caridade nao necessitem ser reaquecidas num foco comum, e' possivel; mas assim nao se da' com as massas, `a qual e' preciso um estimulante, sem o qual elas poderiam deixar-se ganhar pela indiferenca. Alem disso, qual o homem que possa dizer-se bastante perfeito para dispensar conselhos na vida presente ? E' sempre capaz de instruir-se por si mesmo ? Nao; `a sua maioria sao necessarios ensinamentos diretos em materia de religiao e de moral, como em materia de ciencia. Sem contradita, esse ensinamento pode ser dado por toda a parte, sob a aboboda do ceu, como sob a de um templo; mas porque nao teriam os homens lugares especiais para os negocios do ceu , como o tem para os negocios da terra ? Porque nao teriam assembleias religiosas como tem assembleias politicas, cientificas e industriais ? Aqui esta' uma bolsa onde se ganha sempre, sem que ninguem perca. Isto nao impede as fundacoes em proveito dos infelizes; mas dizemos a mais que _quando os homens compreenderem melhor seus interesses do ceu, havera' menos gente nos hospicios_. Se as assembleias religiosas - falamos em geral, sem alusao a qualquer culto - muitas vezes se afastaram bastante do objetivo primitivo principal, que e' a comunhao fraterna do pensamento; se o ensino que ai e' dado nem sempre seguiu o movimento progressivo da humanidade, e' que os homens nao realizam todos os progressos ao mesmo tempo; o que nao fazem num periodo, fazem-no em outro; `a medida que se esclarecem, veem as lacunas que existem em suas instituicoes, e as preenchem; compreendem que o que era bom numa epoca, em relacao ao grau de civilizacao, torna-se insuficiente num estado mais adiantado, e restabelecem o nivel. Sabemos que o Espiritismo e' a grande alavanca do progresso, em todas as coisas; marca uma era de renovacao. Saibamos, pois, esperar, e nao pecamos a uma epoca mais do que ela pode dar. Como as plantas, e' preciso que as ideias amadurecam para serem colhidos os frutos. Alem disso, saibamos fazer as concessoes necessarias nas epocas de transicao, porque nada, na natureza, se opera de maneira brusca e instantanea. Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembleias religiosas deve ser a _comunhao de pensamentos_; e' que, com efeito, a palavra _religiao_ quer dizer _laco_. Uma religiao, em sua acepcao nata e verdadeira, e' um laco que _religa_ os homens numa comunidade de sentimentos, de principios e de crencas. Consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos principios codificados e formulados em dogmas ou artigos de fe'. E' neste sentido que se diz: _a religiao politica_; entretanto, mesmo nesta acepcao, a palavra _religiao_ nao e' sinonima de _opiniao_; implica uma ideia particular; a _de fe' conscenciosa_; eis porque se diz tambem: _a fe' politica_. Ora os homens podem envolver-se, por interesse num partido, sem ter fe' nesse partido, e a prova e' que o deixam sem escrupulo, quando encontram seu interesse alhures, ao passo que aquele que o abraca por conviccao e' inabalavel; persiste `a custa dos maiores sacrificios e e' a abnegacao dos interesses pessoais que e' a verdadeira pedra de toque da fe' sincera. Contudo, se a renuncia a uma opiniao, motivada pelo interesse, e' um ato de despresivel covardia, e', ao contrario, respeitavel, quando fruto do reconhecimento do erro em que se estava; e', entao, um ato de abnegacao e de razao. Ha' mais coragem e grandeza em reconhecer abertamente que se enganou, do que persistir, por amor-proprio, no que se sabe ser falso e para nao se dar um desmentido a si-proprio, o que acusa mais teimosia do que firmeza, mais orgulho do que razao, e mais fraqueza do que forca. E' mais ainda: e' hipocrisia, porque se quer parecer o que nao se e'; alem disso e' uma acao ma', porque e' encorajar o erro por seu proprio exemplo. O laco estabelecido por uma religiao, seja qual for o seu objetivo, e', pois um laco essencialmente moral, que liga coracoes, que identifica os pensamentos, as aspiracoes, e nao somente o fato de compromissos materiais, que se rompem `a vontade, ou da realizacao de formulas que falam mais aos olhos do que ao espirito. O efeito desse laco moral e' o de estabelecer entre os que ele une, como consequencia da comunidade de vistas e de sentimentos; _a fraternidade e a solidariedade_, a indulgencia e a benevolencia mutuas. E' nesse sentido que tambem se diz: a religiao da amizade, a religiao da familia. Se assim e', perguntarao, entao o Espiritismo e' uma religiao ? Ora, sim, sem duvida, senhores. No sentido filosofico, o Espiritismo e' uma religiao, e no's nos glorificamos por isto, porque e' a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhao de pensamentos, nao sobre uma simples convencao, mas sobre bases mais solidas: as mesmas leis da natureza. Porque, entao, declaramos que o Espiritismo nao e' uma religiao ? Porque nao ha' uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que na opiniao geral, a palavra religiao e' inseparavel da de culto; desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo nao tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religiao, o publico nao veria ai senao uma nova edicao, uma variante, se se quiser, dos principios absolutos em materia de fe'; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimonias e de privilegios; nao o separaria das ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes se levantou a opiniao publica. As reunioes espiritas podem, pois, ser feitas religiosamente, isto e', com o recolhimento e o respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de que se ocupa. Pode-se mesmo, na ocasiao, ai fazer preces que, em vez de serem ditas em particular, sao ditas em comum, sem que por isto as tomem por _assembleias religiosas_. Nao se pense que isto seja um jogo de palavras; a nuanca e' perfeitamente clara, e a aparente confusao e' devida a falta de um vocabulo para cada ideia. Qual e', pois o laco que deve existir entre os Espiritas ? Eles nao estao unidos entre si por nenhum contrato material, por nenhuma pratica obrigatoria. Qual o sentimento no qual se devem confundir todos os pensamentos ? E' um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitario: o da caridade para todos, ou, por outras palavras: o amor do proximo, que compreende os vivos e os mortos, desde que sabemos que os mortos sempre fazem parte da humanidade. A caridade e' a alma do Espiritismo: ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes; eis porque se pode dizer que nao ha' verdadeiro Espirita sem caridade. Mas a caridade e' ainda uma dessas palavras de sentido multiplo, cujo inteiro alcance deve ser bem compreendido. E se os Espiritos nao cessam de pregar e a definir, e' que, provavelmente, reconhecem que isto ainda e' necessario. O campo da caridade e' muito vasto: compreende duas grandes divisoes que, em falta de termos especiais, podem designar-se pelas expressoes: _Caridade beneficente_ e _Caridade benevolente_. Compreende-se facilmente a primeira, que e' naturalmente proporcional aos recursos materiais de todos, ao mais pobre ao mais rico. Se a benevolencia. Que e' preciso, entao, para praticar a caridade benevolente ? Amar ao proximo como a si-mesmo; ora, se se amar ao proximo tanto quanto a si, amar-se-o-a' muito; agir-se-a' para com o outrem como se quereria que os outros agissem para conosco; nao se quereria fazer mal a ninguem, porque nao quereriamos que no-lo fizessem. Amar o proximo e', pois abjurar de todo sentimento de odio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciume, de vinganca, numa palavra, todo desejo e todo pensamento de prejudicar; e' ser indulgente para as imperfeicoes de seus semelhantes e nao procurar a palha no olho do vizinho, quando nao se ve a trave no seu; e' cobrir ou desculpar as falhas dos outros, em vez de se comprazer em as por em relevo por espirito de aviltamento; e' ainda nao se fazer valer `a custa dos outros; nao procurar esmagar a pessoa sob o peso de sua superioridade; nao desprezar ninguem por orgulho. Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade pratica, sem a qual a caridade e' palavra va~; e' a caridade do verdadeiro Espirita, como do verdadeiro cristao; aquela sem a qual aquele que diz: _Fora da Caridade nao ha' salvacao_, pronuncia sua propria condenacao, tanto neste quanto no outro mundo. Quanta coisa haveria de dizer a tal respeito ! Que belas instrucoes nos dao os Espiritos incessantemente ! Sem o receio de alongar-me e de abusar de vossa paciencia, senhores, seria facil demonstrar que, em se colocando no ponto de vista do interesse pessoal, egoista, se se quiser, porque nem todos os homens estao maduros para uma completa abnegacao, para fazer o bem unicamento por amor do bem, seria facil demonstrar que tem tudo a ganhar em agir deste modo e tudo a perder agindo diversamente, mesmo em suas relacoes sociais; depois, o bem atrai o bem e a protecao dos bons Espiritos; o mal atrai o mal e abre as porta `a malevolencia dos maus. Mais cedo ou mais tarde o orgulhoso sera' castigado pela humilhacao, o ambicioso pelas decepcoes, o egoista pela ruina de suas esperancas, o hipocrita pela vergonha de ser desmascarado; aquele que abandona os bons Espiritos por estes e' abandonado e, de queda em queda, se ve, por fim, no fundo do abismo, ao passo que os bons Espiritos, erguem, amparam aquele que, nas maiores provacoes, nao cessa de se confiar a Providencia e jamais se desvia do reto caminho; aquele, enfim, cujos secretos sentimentos nao dissimulam nenhum pensamento oculto de vaidade ou de interesse pessoal. Entao, de um lado, ganho assegurado; do outro, perda certa; cada um, em virtude do livre-arbitrio, pode escolher a chance que quer correr, mas nao podera' queixar-se senao de si-mesmo pelas consequencias de sua escolha. Crer num Deus todo-poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua imortalidade; na pre'-existencia da alma como unica justificacao do presente; na pluralidade das existencias como meio de expiacao, de reparacao e de adiantamento moral e intelectual; na perfectabilidade dos seres mais imperfeitos; na felicidade crescente com a perfeicao; na equitavel remuneracao do bem e do mal, conforme o principio: a cada um segundo suas obras; na igualdade da justica para todos, sem excecoes, favores nem privilegios para nenhuma criatura; na duracao da expiacao limitada pela imperfeicao; no livre-arbitrio do homem, que lhe deixa sempre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade que religa todos os seres passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre como transitoria e uma das fases da vida do Espirito, que e' eterna; aceitar corajosamente as provacoes, em vista do futuro mais invejavel que o presente; praticar a caridade em pensamentos, palavras e obras na mais larga acepcao do palavra; esforcar-se cada dia para ser melhor que na vespera, extirpando alguma imperfeicao de sua alma; submeter todas as crencas ao controle do livre exame e da razao e nada aceitar pela fe' cega; respeitar todas as crencas sinceras, por mais irracionais que nos parecam e nao violentar a consciencia de ninguem; ver enfim nas descobertas da ciencia a revelacao das leis da natureza, que sao as leis de Deus: eis o _Credo, a religiao do Espiritismo_, religiao que se pode conciliar com todos os cultos, isto e', com todas as maneiras de adorar a Deus. E' o laco que deve unir todos os Espiritas numa santa comunhao de pensamentos, esperando que ligue todos os homens sob a bandeira da fraternidade universal. Com a fraternidade, filha da caridade, os homens viverao em paz e se pouparao males inumeraveis, que nascem da discordia, por sua vez filha do orgulho, do egoismo, da ambicao, do ciume e de todas as imperfeicoes da humanidade. O Espiritismo da' aos homens tudo o que e' preciso para a felicidade aqui na terra, porque lhes ensina a se contentarem com o que tem. Que os Espiritas sejam, pois, os primeiros a aproveitar os beneficios que ele tras, e que inaugurem entre si o reino da harmonia, que resplandecera' nas geracoes futuras. Os Espiritos que nos rodeiam aqui sao inumeraveis, atraidos pelo objetivo que nos propuzemos ao nos reunir, a fim de dar aos nossos pensamentos a forca que nasce da uniao. Demos aos que nos sao caros uma boa lembranca e o penhor de nossa afeicao, encorajamento e consolacoes aos que estao necessitados. Facamos de modo que cada um recolha a sua parte dos sentimentos de caridade benevolente, de que estivermos animados, e que esta reuniao de os frutos que todos tem o direito de esperar. Allan Kardec _____________________________________________________________________ COMENTARIO ------------ Sobre o livro: "Da elite ao povo", por Carlos Iglesia _____________________________________________________________________ Qualquer um pode constatar que, passando-se os olhos rapidamente pelo acervo de uma livraria espirita, o numero de livros dedicados a estudos historicos e' relativamente pequeno. Dentre estes poucos, normalmente se encontram biografias de vultos eminentes do movimento - como o estudo admiravel de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen: "Allan Kardec" (FEB) - ou trabalhos voltados a personalidades de destaque na cultura em geral que se interessaram pela doutrina, como por exemplo, o excelente "Monteiro Lobato e o Espiritismo" de Maria Jose Sette Ribas (Editora Nova Luz). Tambem se podem encontrar alguns livros dedicados a registrar as lembrancas de pessoas que participaram ativamente da historia recente, onde poderiamos citar "60 Anos de Espiritismo no Estado de Sao Paulo - Nossa vivencia" de Ary Lex (FEESP). Pois bem, eis o motivo de nos ter causado surpresa encontrar, em uma livraria normal, um livro contendo um estudo historico sobre o advento e a expansao do Espiritismo no Rio de Janeiro. O livro de titulo "Da Elite ao Povo" (Editora Bertrand do Brasil), cobre os primordios do movimento no Rio de Janeiro, desde o momento em que a elite cultural do imperio, fortemente influenciada pela cultura francesa, recebe as primeiras noticias da nova doutrina ate' as primeiras decadas desse seculo. Sua autora Sylvia F. Damazio e', segundo a apresentacao do livro, pesquisadora do setor de historia da Fundacao Casa de Rui Barbosa. O estudo tambem nao deixa de mencionar como os cultos afro-brasileiros foram influenciados pelas ideias espiritas, em um sincretismo religioso similiar ao ocorrido anteriormente entre esses cultos e o Catolicismo. Em suma, o livro e' bastante interessante. Fazemos votos que a autora continue suas pesquisas e nao nos deixe de trazer novos trabalhos sobre a implantacao da doutrina em nosso pais, ajudando nao so' a entender as caracteristicas do movimento por estas terras, como tambem trazendo novas luzes a respeito do modo como o Espiritismo se propagou a partir do seu surgimento na Franca. Atenciosamente, Carlos Iglesia _____________________________________________________________________ PERGUNTAS ----------- Referencias do Osservatore Romano? por Francisco Curado _____________________________________________________________________ Ha' alguns meses li a noticia, publicada por alguns grupos de divulgacao e estudo do espiritismo, (como o GEAE e a SEDA) que o Osservatore Romano, orgao oficial do Vaticano, teria publicado um artigo da pena de um eminente teologo catolico, admitindo a comunicacao com os espiritos. Esta noticia, a ser verdadeira, constituiria, a meu ver, um "volte face" na posicao oficial da Igreja Catolica, pelo que a reputo de grande importancia, devido ao impacte que tal podera' ter para tantos milhoes de seguidores daquela Igreja. Apesar da importancia desta noticia e da divulgacao que na altura teve em determinados meios espiritas, ate' hoje ninguem me conseguiu indicar a fonte da mesma, ou seja em que numero do referido periodico do Vaticano surgiu a noticia. Ora sem acesso a fonte, ela nao passa de um mero boato. Venho assim solicitar a qualquer pessoa que me saiba indicar a fonte da referida noticia, a amabilidade de ma indicar bem como a todos os subscritores do GEAE que poderao estar interessados. Fico desde ja grato pela atencao que me queiram dispensar relativamente a este assunto. Francisco Curado, Braga, Portugal ____________________________________________________________________ PAINEL -------- Livros Espiritas em Alemao, por Rafael Peregrino ____________________________________________________________________ Diletos amigos de Ideal Espirita. Estamos envolvidos em um empreendimento dos mais importantes pelas terras onde nos situamos no momento. O grupo espirita do qual participamos tem como finalidade a divulgacao da Doutrina Espirita dentro da Alemanha, de acordo com as nossas possibilidades e naturais limitacoes. Muitos devem saber, que em uma certa epoca da historia alema foram destruidos livros que trouxessem outras ideologias que nao aquela que as liderancas politicas do pais queriam implantar. Resultado: muitos livros foram destruidos e poucos livros espiritas restaram nas prateleiras das bibliotecas mais antigas. Portanto, literatura espirita por aqui e' coisa rara. Os grupos espiritas alemaes, em um trabalho conjunto, estao realizando uma pesquisa minuciosa sobre o que restou dessa literatura quase esquecida. Encontramos muitos livros, conforme voces podem verificar na pagina de literatura espirita do nosso site (http://www.schlund.de/bsos/) Apos encontrar e negociar com uma editora que pode publicar tais livros, nos deparamos com dois obstaculos a serem vencidos : 1. A questao dos direitos autorais 2. A demanda por livros espiritas na lingua alema A solucao para a primeira questao esta' sendo providenciada, mas a da segunda e' um pouco mais ampla e precisamos da ajuda de todos voces. Por favor, quem estiver interessado em livros espiritas em alemao (agora ou no futuro), ou conhece alguem que possa se interessar, por favor entre em contato conosco. Precisamos fazer uma especie de lista de intencoes, de preferencia com numeros, para mostrar aos senhores da editora que vale a pena o investimento. Agradecemos sinceramente a colaboracao de todos. Um abraco fraterno. ____________________________________________________________________ PAINEL -------- I Encontro do GEAE ____________________________________________________________________ Vem ai' o I ENCONTRO DO GRUPO DE ESTUDOS AVANCADOS ESPIRITAS. A G U A R D E M !! Estamos iniciando os preparativos para a realizacao do I ENCONTRO DO GEAE a ser realizado em Sao Paulo, Brasil em 1998. Necessitamos da colaboracao de voluntarios para a organizacao do evento. Os interessados favor entrar em contato conosco. .--- .-- .--. .-- / -, /- /__/ /- `--' `--/ / `-- GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS .---------------------'''''--''--'''''''--'''''''''--'''''''''------. | . Boletim semanal de distribuição eletrônica | | . Homepage "The Spiritism Web" com informações espíritas em | | geral: livros eletrônicos, periódicos, boletins e | | inscrição no GEAE, etc e sobre o movimento espírita mundial: | | instituições, eventos, páginas espíritas na internet, etc. | | | | Conselho Editorial: | | - Ademir L. Xavier Jr. (Campinas - SP, Brasil) | | - Carlos A. Iglesia Bernardo (São Paulo - SP, Brasil) | | - José Cid (Rio de Janeiro - RJ, Brasil)| | - Raul Franzolin Neto (Pirassununga - SP, Brasil) | | - Sérgio A. A. 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