# B o l e t i m ############################################# .--- .-- .--. .-- GRUPO DE ESTUDOS AVANCADOS ESPIRITAS / __ /_ /__/ /_ _____________________________________________ / / / / / / `---' `--/ / `-- 03 (180) 96 19 Marco 96 ################################################################### ************************INDICE************************ O CARATER CIENTIFICO DO ESPIRITISMO - PARTE III COMENTARIOS DO JOSE CID, SOBRE CIENCIA E ESPIRITISMO ****************************************************** O CARATER CIENTIFICO DO ESPIRITISMO - PARTE III Caros colegas do GEAE Retomando meus estudos sobre o carater cientifico do espiritismo, fiz as seguintes anotacoes, as quais submeto `a divulgacao no intuito de terem alguma serventia para aqueles que, como eu, tem duvidas sobre o assunto. No artigo anterior apresentei breves definicoes de que sao Ciencia, Teoria, e Positivismo, e apresentei tambem algumas citacoes do filosofo Silvio Chibeni acerca dos conceitos tradicional (falho) e moderno de Ciencia. O Espiritismo, assim como a Fisica, a Quimica e a Biologia, que sao as ciencias maduras, nao se enquadra no figurino do conceito tradicional de ciencia, pois esse conceito nao corresponde `a maneira como tais ciencias foram ou sao feitas. Mas o Espiritismo, como as ciencias maduras, encaixa-se perfeitamente aos conceitos modernos de ciencia, que foram elaborados a partir de pesquisas historicas sobre como se fez e se faz a ciencia. Dai porque e' importante sabermos porque o conceito tradicional de ciencia e' falso, pois como ele e' falso nao pode ser usado para refutacao da cientificidade do Espiritismo. Finalizei o artigo comprometendo-me a apresentar em seguida uma serie de argumentos e exemplos que lastreiariam os textos ja' apresentados, o que passo a fazer a seguir. No seu artigo intitulado Concepcoes de Ciencia o Silvio Chibeni apresenta uma serie de argumentos e de exemplos muito interessantes sobre os conceitos tradicional e moderno de Ciencia, os quais passo a citar e comentar. Diz ele a respeito da veneracao da ciencia na nossa sociedade: ========== "Essa atitude de veneracao frente a ciencia deve-se, em grande parte, ao extraordinario sucesso pratico alcancado pela fisica, pela quimica e talvez pela biologia. Assume-se, implicita ou explicitamente, que por detras desse sucesso existe um "metodo" especial, uma "receita" que, quando seguida, redunda em conhecimento certo, seguro." ========== Esse metodo especial de que ele fala e' o ja' citado anteriormente "metodo cientifico", cogitado inicialmente por Francis Bacon, cujas ideias (falhas) ainda gozam de grande aceitacao na comunidade cientifica nos dias de hoje. Diz-nos Chibeni: ========== "A questao do "metodo cientifico" tem constituido uma das principais preocupacoes dos filosofos, desde que a ciencia ingressou em uma nova era (ou nasceu, como preferem alguns), no seculo 17. Formou-se em torno dela e de outras questoes correlacionadas, um ramo especial da filosofia, a filosofia da ciencia. Investigacoes pioneiras sobre o "metodo cientifico" foram conduzidas por Francis Bacon (1561-1626). Suas concepcoes, secundadas, no seculo 17, por declaracoes de eminentes cientistas, como Galileo, Newton, Boyle, e, no seculo seguinte, pelos Enciclopedistas, vieram a gozar de ampla aceitacao, nao tanto entre os filosofos, mas principalmente entre os cientistas, que ate hoje muitas vezes afirmam seguir o metodo baconiano em suas pesquisas. Isso e' singular, visto que os estudos recentes em historia da ciencia vem revelando que os metodos efetivamente empregados pelos grandes construtores tanto da ciencia classica quanto da moderna tem muito pouco a ver com as prescricoes do filosofo ingles." ========== Fica assim reafirmado que as prescricoes de Bacon sao falhas. Nao correspondem aos metodos efetivamente empregados tanto na ciencia classica quanto na moderna. A seguir o Chibeni mostra porque a ideia de que existe um metodo seguro e objetivo de se obter as leis cientificas a partir dos fatos e' falsa: ========== "Simplificadamente, podemos identificar nas multiplas variantes dessa visao da atividade cientifica e da natureza da ciencia a que chamaremos visao comum da ciencia algumas pressuposicoes centrais: a) A ciencia comeca por observacoes empiricas. Bacon defendeu esse principio de forma enfatica. Propos que a etapa inicial da investigacao cientifica deveria consistir na elaboracao, com base na experiencia, de extensos catalogos de observacoes neutras dos mais variados fenomenos, aos quais chamou "tabuas de coordenacoes de instancias" (Novum Organum, II, 10). Como exemplo, elaborou ele mesmo uma lista de instancias de corpos quentes, visando iniciar o estudo cientifico da natureza do calor. Essa tabua e entao complementada por duas outras, igualmente de longa extensao, reunindo "instancias negativas" (corpos privados de calor) e casos de corpos que possuem uma "disposicao" para o calor. b) As observacoes sao neutras. As referidas observacoes podem e devem ser feitas sem qualquer antecipacao especulativa, sem qualquer diretriz teorica. A mente do cientista deve estar limpa de todas as ideias que adquiriu dos seus educadores, dos teologos, dos filosofos, dos cientistas; ele nao deve ter nada em vista, a nao ser a observacao pura. c) Inducao. As leis cientificas sao extraidas do conjunto das observacoes por um processo supostamente seguro e objetivo, chamado inducao, que consiste na obtencao de proposicoes gerais (como as leis cientificas) a partir de proposicoes particulares (como os relatos observacionais). Servindo-nos de uma ilustracao simples, temos que a lei segundo a qual todo papel e combustivel seria, segundo a visao que estamos apresentando, obtida de modo seguro de um certo numero de observacoes de pedacos de papel se queimando. A lei representa, pois, uma generalizacao da experiencia. O processo inverso, de extracao de proposicoes particulares de uma lei geral, assumida como verdadeira, cai no dominio da logica, sendo um caso de deducao. Dentro do ambito restrito de nossa discussao, o processo dedutivo nao apresenta maiores dificuldades; podemos assumir que se a verdade de uma proposicao estiver assegurada, tambem o estara a de todas as proposicoes que dela decorrerem dedutivamente, pelo uso das leis da logica. Tais leis, no entanto, nao asseguram a validade do processo indutivo. Voltando ao nosso exemplo, temos que nenhum conjunto de observacoes de incineracao de pedacos de papel, por maior e mais variado que seja, e suficiente para justificar logicamente a lei segundo a qual todo papel e combustivel. Nao ha contradicao formal, logica, em se afirmar que embora todos os pedacos de papel ja examinados tenham se queimado, esta folha nao e combustivel. Isso pode contrariar o senso-comum, as leis da quimica e da fisica, mas nao as da logica. Bacon e seus seguidores esclarecidos naturalmente reconheceram esse ponto. Acreditaram, porem, ser possivel oferecer garantias extra- logicas, mas igualmente cabais e objetivas, ao processo indutivo. Ao lado da suposta neutralidade da base empirica, isso asseguraria a objetividade e a certeza do conhecimento cientifico." ========== Como nos faz ver o Chibeni, a questao da validade do processo indutivo de extracao das leis gerais de um fenomeno a partir de resultados empiricos e' uma questao-chave. O processo indutivo nao e' o caminho seguro e objetivo para se chegar a uma teoria a partir dos resultados experimentais que a crenca popular imagina que ele seja. Em resumo, a inseguranca e a subjetividade estao presentes na inducao. Em seguida o Chibeni mostra-nos as falhas da visao comum de Ciencia: ========== "Iniciemos a nossa breve e simplificada exposicao das objecoes a visao comum da ciencia prosseguindo no exame da questao da justificacao da inducao. Eliminada a possibilidade de justificacao logica, resta, segundo os pressupostos empiristas dos proprios defensores dessa concepcao, unicamente a justificacao empirica. No entanto, os filosofos John Locke e David Hume apontaram, no final do seculo 17 e inicio do 18, que a justificacao empirica da inducao envolve dificuldades insuperaveis. Essa constatacao veio a exercer uma enorme influencia na filosofia, estimulando, por um lado, a retomada de doutrinas racionalistas (Kant) e, por outro, a reformulacao dos objetivos empiristas, com o reconhecimento de que o ideal original de certeza e infalibilidade do conhecimento geral do mundo exterior nao pode ser atingido. Procurou-se, assim, determinar condicoes nas quais o salto indutivo seja feito da maneira mais segura possivel. Entre as condicoes que tem sido propostas destacariamos: d) o numero de observacoes de um dado fenomeno deve ser grande; e) deve-se variar amplamente as condicoes em que o fenomeno se produz; e f) nao deve existir nenhuma contra-evidencia, i.e., observacao que contraria a lei. Embora parecam prima facie razoaveis,um pouco de reflexao e inspecao cuidadosa da historia da ciencia revelam que tais condicoes nao sao nem suficientes para garantir as inferencias indutivas, nem necessarias ao estabelecimento de nossas melhores teorias cientificas. Que nao sao suficientes para assegurar a validade do processo indutivo ja esta claro de nossas consideracoes anteriores. Dada uma proposicao geral qualquer, nao importa quao numerosas e variadas tenham sido as observacoes que lhe forneceram suporte indutivo, e sempre possivel que a proxima observacao venha a contrariar as anteriores, falseando a proposicao geral. Se apelarmos para o principio da regularidade da natureza, estaremos na obrigacao de justifica-lo. Mas um tal principio evidentemente nao e de natureza logica; e se quisermos lhe dar justificacao empirica, caimos de novo no problema da inducao. Alem disso, podemos ver que as condicoes acima tambem nao sao necessarias para as mais importantes teorias cientificas. Primeiro, quando a condicao (d), atentemos para o fato de que alguns dos mais fundamentais experimentos cientificos nao foram repetidos senao umas poucas vezes, ou mesmo, como e comum, foram realizados apenas uma vez. Muitas das generalizacoes empiricas nas quais mais certeza depositamos resultaram de uma unica observacao. Quem, por exemplo, duvidava de que a explosao de bombas atomicas causa a morte de seres humanos apos Hiroshima haver sido arrasada? Depois, quanto a condicao (e), notemos que a variacao das condicoes de observacao tambem nao tem ocorrido ao longo do desenvolvimento da ciencia. Essa exigencia e inexequivel, se interpretada rigorosamente, ja que ha infinitos fatores que em principio poderiam influir. Por exemplo, para verificarmos a lei da queda dos corpos, teriamos que variar nao somente a forma e a massa do corpo que cai, e o meio no qual se move, mas tambem a sua temperatura, a sua cor, a hora do dia na qual o experimento e feito, a estacao do ano, o sexo do experimentador, o seu cheiro, etc. Isso faz ver que ha sempre pressuposicoes teoricas guiando a escolha das condicoes que devem ser controladas ou variadas; sao nossos pressupostos teoricos que nos causam riso diante de algumas das condicoes que acabamos de enumerar. Este ponto sera retomado adiante, dada a sua importancia. Finalmente, nem mesmo a condicao (f) tem sido respeitada pela ciencia. As teorias cientificas nascem e se desenvolvem em meio a inumeras "anomalias" ou contra-exemplos empiricos. A teoria de Copernico conviveu, ate o advento do telescopio, com o contra- exemplo observacional da invariancia das dimensoes de Venus ao longo do ano. A mecanica newtoniana atingiu a gloria mesmo tendo que aguardar decadas antes que pudesse entrar em acordo com as observacoes da trajetoria da Lua; e nem foi abandonada no seculo 19 quando nao pode dar conta da orbita de Urano. A hipotese de Prout sobre os pesos atomicos dos elementos quimicos esperou quase um seculo antes que seu conflito com abundantes experiencias fosse removido. Passemos agora as objecoes ao principio (a) da visao comum da ciencia, comeco da investigacao cientifica pelas observacoes. Nosso comentario acima sobre a variacao das condicoes de observacao ja indica uma dificuldade: se nao tivermos nenhuma diretriz teorica para guiar-nos as observacoes, estas nao poderao ser levadas a cabo, ja que teriamos que considerar uma infinidade de fatores. Essa constatacao de que, por uma questao de principio, a investigacao cientifica nao pode principiar de observacoes puras e reforcada pelo testemunho historico. Os catalogos baconianos sao uma ficcao, nunca tendo sido eleborados por qualquer cientista (como alguem poderia elabora-los?). O cientista, quando vai ao laboratorio, sempre tem uma ideia, ainda que provisoria e reformulavel, do que deve ou nao ser observado, controlado, variado. E interessante ainda lembrar que ha casos notaveis de descobertas de leis cientificas estimuladas por fatores claramente nao- empiricos. Um exempo tipico (ao qual voltaremos em outra secao), e a ideia, ocorrida ao fisico frances Louis de Broglie, de que a materia dita "ponderavel" (eletrons, atomos, etc.) apresentaria um comportamento ondulatorio. Essa ideia, que contribuiu decisivamente para os desenvolvimentos que levaram ao surgimento da mecanica quantica, nao se baseava de modo direto em nenhuma evidencia empirica disponivel na epoca (1924), mas na consideracao estetica, de simetria, de que se a luz, tida como de natureza ondulatoria, apresentava, em determinadas circunstancias, um comportamento corpuscular (fato esse, alias, tambem constatado depois de haver sido previsto teoricamente por Einstein), entao os corpusculos materiais igulamente deveriam, em certas circunstancias, comportar- se como ondas." ========== No citado artigo o Chibeni apresenta tambem uma outra concepcao de Ciencia surgida no inicio deste seculo (o Falseacionismo de Popper) que visava superar as falhas do indutivismo, mas que se mostrou igualmente falha. Se esses conceitos antigos de Ciencia nao servem, que se pode colocar no lugar deles? No proximo artigo apresentarei os estudos relativos a visao moderna de ciencia, a qual a Teoria Espirita elaborada por Kardec atende tao bem quanto as mais maduras ciencias como a quimica, a fisica e a biologia, e a qual as outras tentativas de ciencia do espirito como a Metapsiquica, a Parapsicologia, Psicotronica, etc., nao atendem, pois todas foram concebidas com base no falho conceito positivista de ciencia, carecendo todas, para comecar, de uma teoria, sem o que nao ha' ciencia. Fraternalmente Luiz Otavio ######################################### C O M E N T A R I O S ######################################### DO JOSE CID, SOBRE CIENCIA E ESPIRITISMO Muito importante o que tem acontecido nos ultimos meses. Por varios numeros do nosso Boletim vemos que varias pessoas tem opinado sobre este assunto, o que tem levado varias pessoas, notadamente o Luiz Otavio, a estudar mais profundamente sobre as semelhancas e diferencas entre a ciencia e o Espiritismo. Todos nos temos aproveitado muito com esta troca de ideias. Esta e' a unica forma que existe de aprimorar nossos conhecimentos no assunto - o intercambio. Um grande abraco, Jose Cid. .--- .-- .--. .-- / -, /- /__/ /- `--' `--/ / `-- GRUPO DE ESTUDOS AVANCADOS ESPIRITAS G-------------------'''''--''--'''''''--'''''''''--'''''''''------G E Para participar do GEAE envie seus dados para jac14@po.cwru.edu E A Nome: Endereco: Fone: A E E-mail: Profissao: E G --------------------------------------------------------------- G E Envie seus comentarios diretamente para o GEAE. E A Editado por Jose Cid - E-mail : jac14@po.cwru.edu A E * E G Pagina Espirita na WWW - http://zen.uninova.pt/~saf/geae.html G E Edicoes anteriores do Boletim, Instituicoes Espiritas em E A diversos paises, Livros e Revistas Espiritas e muito mais! 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