################################################################# GRUPO DE ESTUDOS AVANCADOS ESPIRITAS - GEAE 04(80)/94 19/04/94 ################################################################# EDUCACAO PARA A MORTE Vou me deitar para dormir. Mas posso morrer durante o sono. Estou bem, nao tenho nenhum motivo especial para pensar na morte neste momento. Nem para deseja'-la. Mas a morte nao e' uma opcao, nem uma possibilidade. E' uma certeza. Quando o Juri de Atenas condenou Socrates `a morte, ao inves de lhe dar um premio, sua mulher correu aflita para a prisao, gritando-lhe: "Socrates, os juizes te condenaram `a morte". O filosofo respondeu calmamente: "Eles tambem ja' estao condenados.". A mulher insistiu no seu desespero: "Mas e' uma sentenca injusta!" E ele perguntou: "Preferias que fosse justa?" A serenidade de Socrates era o produto de um processo educacional: a Educacao para a Morte. E' curioso notar que em nosso tempo so' cuidamos da Educacao para a Vida. Esquecemo-nos de que vivemos para morrer. A morte e' o nosso fim inevitavel. No entanto, chegamos geralmente a ela sem o menor preparo. As religioes nos preparam, bem ou mal, para a outra vida. E depois que morremos encomendam o nosso cadaver aos deuses, como se ele nao fosse precisamente aquilo que deixamos na Terra ao morrer, o fardo inutil que nao serve mais para nada. Quem primeiro cuidou da Psicologia da Morte e da Educacao para a morte, em nosso tempo, foi Allan Kardec. Ele realizou uma pesquisa psicologica exemplar sobre o fenomeno da morte. Por anos seguidos falou a respeito com os espiritos de mortos. E, considerando o sono como irmao ou primo da morte, pesquisou tambem os espiritos de pessoas vivas durante o sono. Isso porque, segundo verificara, os que dormem saem do corpo durante o sono. Alguns saem e nao voltam: morrem. Chegou, com antecedencia de mais de um seculo, a esta conclusao a que as ciencias atuais tambem chegaram, com a mesma tranquilidade de Socrates, a conclusao de Victor Hugo: "Morrer nao e' morrer, mas apenas mudar-se". As religioes podiam ter prestado um grande servico `a Humanidade se houvessem colocado o problema da morte em termos de naturalidade. Mas, nascidas da magia e amamentadas pela mitologia, so' fizeram complicar as coisas. A mudanca simples de que falou Victor Hugo transformou-se , nas maos de clerigos e teologos, numa passagem dantesca pela "selva selvaggia" da Divina Comedia. Nas civilizacoes agrarias e pastoris, gracas ao seu contato permanente com processo naturais, a morte era encarada sem complicacoes. Os rituais suntuosos, os cerimoniais e sacramentos surgiram com o desenvolvimento da civilizacao, no deslanche da imaginacao criadora. A mudanca revestiu-se de exigencias antinaturais, complicando-se com a burocracia dos passaportes, recomendacoes, transito sombrio na barca de Caronte, processos de julgamento seguido de condenacoes tenebrosas e assim por diante. Logo mais, para satisfazer o desejo de sobrevivencia, surgiu a monstruosa arquitetura da morte, com mausoleus, piramides, mumificacoes, que permitiam a ilusao do corpo conservado e da permanencia ficticia do morto acima da terra e dos vermes. Morrer ja' nao era morrer, mas metamorfosear-se, virar mumia nos sarcofagos ou assombracao malefica nos misterios da noite. As mumias, pelo menos, tiveram utilidade posterior, como vemos na Historia da Medicina, servindo para os efeitos curadores do po' de mumia. E quando as mumias se acabaram, nao se achando nenhuma para remedio, surgiram os fabricantes de mumias falsas, que supriam a falta do po' milagroso. Os mortos socorriam os vivos na forma lobateana do po' de pirimpimpim. Muitos anos de Augusto Comte, os medicos haviam descoberto que os vivos dependiam sempre e cada vez mais da assistencia e do governo dos mortos. De toda essa embrulhada resultou o pavor da morte entre os mortais. Ainda hoje os antropologos podem constatar, entre os povos primitivos, a aceitacao natural da morte. Entre as tribos selvagens da Africa, da Australia, da America e das regioes articas, os velhos sao mortos a pauladas ou fogem para o descampado a fim de serem devorados pelas feras. O lobo ou o urso que devora o velho e a velha expostos voluntariamente ao sacrificio sera' depois abatido pelos jovens cacadores que se alimentam da carne do animal reforcada pelos elementos vitais dos velhos sacrificados. E' um processo generoso de troca no qual os clas e as tribos se revigoram. O pavor maior da morte provem da ideia da solidao e escuridao. Mas os teologos acharam que isso era pouco e oficializaram as lendas remotas do Inferno, do Purgatorio e do Limbo, a que nao escapam nem mesmo as criancas mortas sem batismo. De tal maneira se aumentaram os motivos do pavor da morte, que ela chegou a significar desonra e vergonha. Para os judeus, a morte se tornou a propria impureza. Os tumulos e os cemiterios foram considerados impuros. Os cenotafios, tumulos vazios construidos em honra aos profetas mostram bem essa aversao `a morte. Como podiam eles aceitar um Messias que vinha da Galileia dos Gentios, onde o Palacio de Herodes fora construido sobre terra de cemiterios? Como aceitar esse Messias que morreu na cruz, vencido pelos romanos impuros, que arrancara Lazaro da sepultura (ja' cheirando mal) e o fizera seu companheiro nas lides sagradas do messianismo? Ainda em nossos dias o respeito aos mortos esta' envolvido numa forma velada de repulsa e depreciacao. A morte transforma o homem em cadaver, risca-o do numero dos vivos, tira-lhe todas as possibilidades de acao e portanto de significacao no meio humano. "O morto esta' morto", dizem os materialista e o populacho ignaro. O Papa Paulo VI declarou, e a imprensa mundial divulgou em toda parte, que "existe uma vida apos a morte, mas nao sabemos como ela e'". Isso quer dizer que a propria Igreja nada sabe da morte, a nao ser que morremos. A ideia cristao da morte, sustentada e defendida pelas diversas igrejas, e' simplesmente aterradora. Os pecadores ao morrer se veem diante de um Tribunal Divino que os condena a suplicios eternos. Os santos e os beatos nao escapam `as condenacoes, nao obstante a misericordia de Deus, que nao sabemos como pode ser misericordioso com tanta impiedade. As proprias criancas inocentes, que nao tiveram tempo de pecar, vao para o Limbo misterioso e sombrio pela simples falta do batismo. Os criminosos broncos, ignorantes e todo o grosso da especie humana sao atirados nas garras de Satanas, um anjo decaido que so' nao encarna o mal porque nao deve ter carne. Mas com dinheiro e a adoracao interesseira a Deus essas almas podem ser perdoadas, de maneira que so' para os pobres nao ha' salvacao, mas para os ricos o Ceu se abre ao impacto dos "tedeuns" suntuosos, das missas cantadas e das gordas contribuicoes para a Igreja. Nunca se viu soberano mais venal e tribunal mais injusto. A depreciacao da morte gerou o descabido comercio dos traficantes do perdao e da indulgencia divina. O vil dinheiro das roubalheiras e injusticas terrenas consegue furar a Justica Divina, de maneira que o desprestigio dos mortos chega ao maximo da vergonha. A felicidade eterna depende do recheio dos cofres deixados na Terra. Diante de tudo isso, o conceito dea morte se azinhavra nas maos dos cambistas da simonia, esvazia-se na descrenca total, transforma-se no conceito do nada, que Kant definiu como conceito vazio. O morto apodrece enterrado, perdeu a riqueza da vida, virou pasto de vermes e sua misteriosa salvacao depende das condicoes financeiras da familia terrena. O morto e' um fraco, um falido e um condenado, inteiramente dependente dos vivos na Terra. O povo nao compeende bem todo esse quadro de miserias em que os teologos envolveram a morte, mas sente o nojo e o medo da morte, introjetados em sua consciencia pela farca dos poderes divinos que o ameacam desde o berco ao tumulo e ao alem-tumulo. Nao e' de admirar que os pais e as maes, os parentes dos mortos se apavorem e se desesperem diante do fato irremissivel da morte. Jesus ensinou e provou que a morte se resolve na "Pascoa" da resurreicao, que ninguem morre, que todos temos o corpo espiritual e vivemos no alem-tumulo como vivos mais vivos que os encarnados. Paulo de Tarso proclamou que o corpo espiritual e' o corpo da ressurreicao (cap. 12 da primeira Epistola aos Corintios), mas a permanente imagem do Cristo crucificado, das procissoes absurdas do Senhor Morto, -- heresia clamorosa --, as cerimonias da Via-Sacra e as imagens aterradoras do Inferno Cristao -- mais impiedoso e brutal do que os Infernos do Paganismo -- marcados a fogo na mente humana atraves de dois milenios, esmagam e envilecem a alma supersticiosa dos homens. Nao e' de admirar que os teologos atuais, divididos em varias correntes de sofistas cristao modernissimos, estejam hoje proclamando, com uma alegria leviana de debiloides, a Morte de Deus e os estabeleciemnto do Cristianismo Ateu. Para esses novos teologos, o Cadaver de Deus foi enterrado pelo Louco de Nietsche, criacao fantastica e infeliz do pobre filosofo que morreu louco. O clero cristao, tanto catolico como protestante, tanto do Ocidente como do Oriente, perdeu a capacidade de socorrer e consolar os que se desesperam com a morte de pessoas amadas. Seus instrumentos de consolocao perderam a eficiencia antiga, que se apoiava no obscurantismo das populacoes permanentemente ameacadas pela Ira de Deus. A Igreja, Mae da Sabedoria Infusa, recebida do Ceu como graca especial concedida aos eleitos, confessa que nada sabe sobre a vida espiritual e so' aconselha aos fieis as praticas antiquadas das rezas e cerimonias pagas, para que os mortos queridos sejam beneficiados no outro Mundo ao tinir das moedas terrenas. O Messias espantou a chicote os animais do Templo que deviam ser comprados para o sacrificio redentor no altar simoniaco e derrubou as mesas dos cambistas, que trocavam no Templo as moedas gregas e romanas pelas moedas sagradas dos magnatas dispenseiros da misericordia divina. O episodio esclarecedor foi suplantado na mente popular pelo impacto esmagador das ameacas celestiais contra os descrentes, esses rebeldes demoniacos. Em vao o Cristo ensinou que as moedas de Cesar so' valem na Terra. Ha' dois mil anos essas moedsa impuras vem sendo aceitas por Deus para o resgate das almas condenadas. Quem pode, em sa consciencia, acreditar hoje em dia numa Justica Divina que funciona com o mesmo combustivel da Justica Terrena? Os sacerdotes foram treinados a falar com voz empostada, meliflua e fingida, para, `a semelhanca da voz das antigas sereias, embalar o povo nas ilusoes de um amor venal e sem piedade. Voz doce e gestos compassivos nao conseguem mais, em nossos dias, do que irritar as pessoas de bom senso. O Cristo Consolador foi traido pelos agentes da misericordia divina que desceu ao banco das pechinchas, no comercio impuro das consolacoes faceis. Os homens preferem jogar no lixo as suas almas, que Deus e o Diabo disputam nao se sabe porque. Extraido do Livro "Educacao para a Morte", de Herculano Pires, e enviado pelo Sergio. NOS, OS MAL-EDUCADOS O texto de nosso amigo Herculano Pires nos mostra a a melhor direcao para nossos esforcos durante nossa (breve) passagem pela Terra. Ele nos lembra que a unica coisa certa que temos na vida e' que ela acaba ... Naturalmente que isso nao deve servir de desistimulo do tipo "eu tenho tantos defeitos que jamais poderei corrigi-los, ainda mais em tao pouco tempo". Da mesma forma que nossa passagem pela Terra tera um limite de tempo, ela nao sera' a unica, e, nos, os eternos repetentes, poderemos voltar e prosseguir na luta para reparar nossos erros. Com esta certeza em mente, porque nao nos esforcarmos? A vida e' uma constante busca do equilibrio entre as necessidades que nos criamos, as que a sociedade exige de nos e as que nos temos. Nos criamos a necessidade de ter isso ou aquilo, de ser assim ou assado, de atingir determinado patamar ou status social. A sociedade exige que nos nos adaptemos a suas distorcoes, criando estereotipos a serem adotados. Mas nos temos apenas uma necessidade: repararmos nossos erros, progredindo no aprendizado para a vida eterna. Sera que este objetivo e' incompativel com o mundo em que vivemos? Nao, porque senao nao estariamos aqui. Nos estamos realizando nossos "estudos" na Terra porque e' aqui que nos encontramos afinidade. Aqui estao aqueles que precisam de nos e aqueles que nos ajudarao. A sociedade que nos temos foi construida por nos mesmos, em nossas vindas anteriores ao mundo dos encarnados. De todas as barreiras a serem vencidas, a mais dificil, a mais importante e a mais escondida esta dentro de nos mesmos. Ela que cria necessidades irreais e desculpas insensatas. Jose ######################################### C O M E N T A R I O S ######################################### INCORPORACAO OU NAO? Prezado Jose, Obrigada pelo boletim. Estou achando os topicos interessantes. Pena ter tao pouco tempo para debater certos topicos. Mas um deles me chamou particular atencao. E o que apresenta o livro de Bezerra de Menezes. Pelo que via no centro espirita que frequentava no Brasil, as pessoas realmente "incorporavam" pois em muitos casos nem sabiam o que havia passado. Sei que existem os mediums conscientes e os inconscientes mas em ambos os casos ha a incorporacao. No principio de Junho Divaldo Pereira Franco vira aqui em Viena fazer palestras. Este ano o numero de brasileiros interessados ja e suficiente para montar um seminario so com brasileiros. Nos anos passados uma senhora austriaca que fala portugues fazia as traducoes. Mas naturalmente nao e a mesma coisa ouvi-lo falar direto, sem interrupcoes. Um abraco, Selma ------------------------------- Prezado Jose, Ai vai a mensagem de volta e meus comentarios. Achei interessante sua explicacao para a incorporacao. A minha impressao era de que o espirito do medium saia para dar lugar ao do espirito comunicante. Acho que ate ouvi falar que as coisas tinham que ser feitas com muito cuidado pois em alguns casos o espirito do medium podia sofrer um choque e nao re-incorporar. Voce alguma vez leu Longsam Rampa? Num dos livros ele fala que, como o corpo dele estava muito debilitado ele "entrou" no corpo de um outro homem, que ia morrer e que estava com o fisico bom. Ele ate conta como foi essa entrada. Quando voce falou sobre "cada espirito , cada corpo" me lembrei desta passagem. Um grande abraco, Selma -------------------------------- Oi Selma. Infelizmente houve algum problema e a mensagem que te enviei nao voltou. Eu vou escrever novamente, e, se voce perceber algo de diferente ou que eu tenha esquecido, me avisa. Bom, em primeiro lugar voce falou em participacao e pouco tempo para debates. Eu acho otimo quando recebo pequenas mensagens como a sua, que, na realidade nos faz comecar uma discussao. E essas mensagens nao levam mais de 5 minutos para escrever e mandar. Eu ja disse (escrevi) varias vezes que acredito no "bate-papo" como forma de enriquecimento. Somente discutindo e trocando ideias que nos poderemos chegar a alguma conclusao. A incorporacao nao acontece, conforme Kardec pode concluir com suas pesquisas. Nosso corpo e' moldado 'a semelhanca de nosso perispirito e serve apenas para nosso uso, cada espirito tem um corpo somente seu enquanto esta encarnado, e, naturalmente, nenhum quando desencarnado. Quando o deixamos, a materia deixa de viver. O perispirito esta ligado ao corpo por um "cordao", que se desfaz quando "morremos", o que liberta o espirito. O fato de um medium nao saber o que se passou nao significa que ele tenha deixado o corpo, apenas que ele nao se lembra do que disse. A comunicacao mediunica nada mais e' que o espirito desencarnado que transmite seu pensamento (ou mensagem) para o espirito encarnado que o materializa atraves do corpo. A lembranca ou nao do que foi dito ou escrito nao serve para atestar o afastamento total do espirito do medium do corpo, que seria "emprestado" ao espirito comunicante. Eu conheco mediuns que se transfiguram completamente durante a comunicacao, assumindo postura e expressao corporal/ facial do espirito comunicante. Tambem nao existem atores excelentes que assumem completamente a postura do personagem, mesmo que esta seja radicalmente diferente da sua? Seria excelente se voce pudesse nos dizer o que se passar na visita de Divaldo. Sera que voce e outros que estao na Europa e terao oportunidade de estar la nos enviariam noticias? Na sua segunda carta voce cita Longsam Rampa. Eu nao conheco e nao creio que faca parte da literatura Espirita. Pelo nome me parece algo espiritualista ou hinduista. Sera que alguem saberia dizer melhor? A crenca de que um espirito pode sair de um corpo e entrar em outro e' muito antiga, fazendo parte das crendices de povos superticiosos, estando ligada 'a crenca de que um espirito poderia entrar no corpo de um animal e e "usa-lo" para se vingar de seus inimigos, etc. Mas ficou provado com as pesquisas de Kardec que isso nao passava de supersticao. Um grande abraco, Jose Cid. __________________________________________________________________ ADESOES AO GEAE: Envie seus dados, tais como: Nome: Endereco: fone: E.mail: Profissao: COMENTARIOS: Envie seus comentarios diretamente para o GEAE. 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