################################################################# GRUPO DE ESTUDOS AVANCADOS ESPIRITAS - GEAE 10(53)/93 12/10/93 ################################################################# PLURALIDADE DAS EXISTENCIAS (continuacao do texto publicado no boletim 51) Terieis duvida em aceita-lo, mesmo 'a custa de varias existencias de prova? Facamos uma comparacao mais prosaica. Se a um homem que, embora nao esteja na mais extrema das miserias, experimenta entretanto privacoes consequentes da mediocridade de seus recursos, viessem dizer: "Eis uma imensa fortuna; podereis desfruta-la; mas para isso deveis trabalhar rudemente um minuto." Ainda que ele fosse o maior preguicoso da Terra, diria sem hesitar: "Trabalharemos um minuto, dois, uma hora, um dia se for preciso. Que representa isso, se minha vida vai acabar na abundancia?" Ora, que e' a duracao da vida corporal em relacao 'a eternidade? Menos que um minuto menos que um segundo. Temos ouvido o seguinte raciocinio: Como e' que Deus, soberananmente bom, pode impor ao homem recomecar uma serie de miserias e de tribulacoes? Acaso acharia ele que ha mais bondade em condenar o homem a um sofrimento perpetuo em consequencia de alguns momentos de erro do que lhe dar os meios de reparar as proprias faltas? Dois fabricantes tinham cada qual um operario que podia aspirar subir ate tornar-se socio. Aconteceu certo dia que esses operarios empregaram muito mal a sua jornada e mereceram ser postos na rua. Um dos fabricantes despediu o empregado, a despeito de suas suplicas; e este, nao tendo achado trabalho morreu na miseria. O outro disse ao seu: "Voce perdeu um dia e me deve uma compensacao; fazendo mal a sua tarefa, deve-me uma reparacao; por isso, permito-lhe recomecar. Porcure faze-la bem e eu o conservarei; assim podera sempre aspirar 'a posicao superior que lhe prometi". Sera necessario perguntar qual dos dois fabricantes foi o mais humano? Deus, que e' a propria clemencia, seria mais inexoravel que este homem. O pensamento de que a nossa sorte esteja para sempre fixada por alguns anos de prova, quando nem sempre dependeu de nos atingir a perfeicao na Terra tem algo de pungente, ao passo que a ideia contraria e' eminentemente consoladora, pois nos deixa a esperanca. Assim, sem nos pronunciarmos pro ou contra a pluralidade das existencias, sem preferir uma a outra hipotese, diremos que se nos fosse dado escolher, ninguem preferiria um julgamento sem apelo. Disse um filosofo que se Deus nao existisse seria preciso inventa- lo, para a felicidade do genero humano; o mesmo se poderia dizer da pluralidade das existencias. Mas, como diziamos, Deus nao nos pede permissao; nao consulta o nosso gosto. Ou e', ou nao e'. Vejamos de que lado as probabilidades e encaremos o problema sob um outro ponto de vista, sempre fazendo abstracao do ensino dos Espiritos, considerando-os apenas como estudo filosofico. E' evidente que sem reencarnacao havera' apenas uma unica existencia corporal; se nossa existencia corporal atual for a unica, cada alma sera criada ao nascer, a menos que se admita a sua anterioridade; neste caso e' de perguntar-se o que seria a alma antes do nascimento e se esse estado nao constituiria uma existencia, sob uma forma qualquer. Nao ha meio termo: ou a alma existia ou nao existia antes do corpo. Se existia, qual seria a sua situacao? Tinha ou nao consciencia de si mesma? Se nao tinha consciencia, e' como se nao existisse; se tinha sua individualidade, era progressiva ou estacionaria? Num caso como no outro, em que grau havia chegado ao corpo? Admitindo, segundo a crenca vulgar, que a alma nascesse com o corpo, ou, o que da no mesmo, que anteriormente 'a sua encarnacao tivesse apenas faculdades negativas, levantamos as seguintes questoes: 1 - Por que mostra a alma aptidoes tao diversas e independentes das ideias adquiridas pela educacao? 2 - De onte vem, nas criancas em tenra idade, a aptidao supra-nermal para tal arte ou tal ciencia, enquanto outras ficam, por toda a vida, mediocres ou inferiores? 3 - De onde as ideias inatas, que uns apresentam e outros nao? 4 - De onde, em certas criancas, instintos precoces de vicios ou de virtudes, sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza, contrastando com o meio onde nasceram? 5 - Por que, abstracao feita da educacao, certos homens sao mais adiantados que outros? 6 - Por que ha selvagens e civilizados? Por que se tomarmos um hotentote nos cueiros e o educarmos nos mais afamados liceus, jamais dele faremos um Laplace ou um Newton? Perguntamos qual a Filosofia ou a Teosofia (1) que podera resolver tais problemas? Ou as almas sao iguais ao nascer, ou nao sao. Se o sao, por que tao diversas aptidoes? Dir-se-a' que isto depende do organismo. Mas isto sera entao a mais monstruosa e a mais imoral das doutrinas. O homem nao passaria de uma maquina e de um joguete da materia; nao teria a responsabilidade de seus atos; poderia tudo lancar 'a conta de suas imprefeicoes fisicas. Se sao desiguais, e' que Deus assim as criou. Mas, entao, por que essa superioridade inata, concedida a alguns? Sera tal parcialidade conforme 'a justica de Deus e ao amor igual por ele dedicado a todas as criaturas? Admitamos, ao contrario, uma serie de anteriores existencias progressivas, e tudo ficara explicado. Ao nascer, trazem os homens a intuicao daquilo que adquiriram; sao mais ou menos adiantados, conforme o numero de existencias percorridas e conforme se achem mais ou menos afastados do ponto de partida; absolutamente como numa reuniao de individuos de todas as idades, cada um tera um desenvolvimento proporcionado ao numero de anos que tiver vivido; as existencias sucessivas serao para a vida da alma o que sao os anos para a vida do corpo. Reunamos um dia mil individuos de um a oitenta anos; suponhamos que um veu seja lancado sobre todo o seu passado e que, em nossa ignorancia, pensemos que todos eles nasceram no mesmo dia. Naturalmente perguntaremos como e' que uns sao grandes e outros pequenos, uns velhos e outros mocos, uns instruidos e outros ignorantes. Mas se se levantar a nuvem que os oculta o passado e se soubermos que uns viveram mais do que outros, tudo ficara explicado. Em sua justica, Deus nao poderia ter criado umas almas mais perfeitas que outras; entretanto, com a pluralidade das existencias, a desigualdade que vemos nada mais contera de contrario 'a mais rigorosa equidade. E' que vemos o presente e nao o passado. Repousara tal argumento sobre um sistema ou suposicao gratuita? Nao: nos partimos de um fato patente e incontestavel - a desigualdade de aptidoes e de desenvolvimento intelectual e moral, fato que achamos inexplicavel por todas as teorias ora em curso, ao passo que sua explicacao e' simples, natural e logica por uma outra teoria. Sera' natural preferir o que nao explica ao que explica? Relativamente 'a sexta questao, dirao, sem duvida, que o hotentote e' de uma raca inferior. Entao perguntamos se ele e' ou nao e' homem? Se o e', porque Deus o teria deserdado, e 'a sua raca, dos privilegios concedidos 'a raca caucasica? E se nao e' homem, porque procura-lo fazer cristao? A doutrina e' mais ampla que tudo isto. Para ela nao existem varias especies de homens: existem homens cujo Espirito sera mais ou menos atrasado, susceptivel, entretanto, de progredir. Nao sera isto mais conforme 'a justica de Deus? Acabamos de ver a alma no seu passado e no seu presente. Se a considerarmos em seu futuro, encontraremos as mesmas dificuldades. 1 - Se e' unicamente a nossa existencia presente que deve decidir do nosso porvir, qual sera, nessa vida futura, a posicao respectiva do selvagem e do homem civilizado? Estarao no mesmo nivel ou distanciados na soma de felicidades eternas? 2 - O homem que toda a vida trabalhou para se melhorar estara nas mesmas condicoes que os outros? 3 - Qual a sorte das criancas mortas em tenra idade, quando nao tiveram tempo de fazer nem o bem nem o mal? Se se acham entre os eleitos, por que este favor, quando nada fizeram por merece-lo? Por que privilegio foram liberadas das tribulacoes da vida? Nao havera uma doutrina que possa resolver estas questoes? Admitamos as existencias sucessivas e tudo estara explicado conforme 'a justica de Deus. Aquilo que nao se pode fazer numa existencia, far-se-a em outra. Assim, ninguem escapara 'a lei de progresso e todos serao recompensados segundo o merito real e ninguem sera excluido da felicidade suprema a que pode aspirar, sejam quais forem os obstaculos encontrados em sua rota. Estas questoes poderiam ser multiplicadas ao infinito, pois inumeraveis sao os problemas morais e psicologicos, cuja solucao so' e' encontrada na pluralidade das existencias. Nos nos limitamos aos mais gerais. Seja como for, talvez digam que a doutrina da reencarnacao nao e' admitida pela Igreja; que isto seria a derrubada da religiao. Nao e' objetivo nosso abordar este problema no momento: basta-nos haver demonstrado que ela e' eminentemente moral e racional. Mais tarde demonstraremos que a religiao se acha menos afastada dela do que se pensa e que com isto nao sofreria ela mais do que sofreu com a descoberta do movimento da Terra e dos periodos geologicos que, 'a primeira vista, pareciam desmentir os textos sagrados. O ensino dos Espiritos e' eminientemente cristao: apoia-se sobre a imortalidade da alma, as penas e recompensas futuras, o livre arbitrio do homem, a moral do Cristo. Nao e', portanto, anti- religioso. Como ficou dito, raciocinamos fazendo abstracao de todo o ensino espirita que, para certas criaturas, nao tem autoridade. Se, como tantos outros, adotamos a opiniao da pluralidade das existencias, nao foi apenas porque ela nos viesse dos Espiritos, ate aqui insluveis. Tivesse ela vindo de um simples mortal, e nos a teriamos adotado, nao hesitando em renunciar 'as nossas proprias ideias. Desde o momento em que um erro fica demonstrado, o amor proprio tera mais a perder do que a ganhar com a teimosa persistencia numa ideia falsa. Do mesmo modo nos a teriamos repelido, se vinda dos Espiritos, desde que nos tivesse parecido contraria 'a razao, como procedemos com muitas outras, de vez que sabemos, por experiencia, que se nao deve aceitar cegamente tudo quanto vem de sua parte, como aquilo que vem da parte dos homens. Resta-nos, pois, examinar a questao da pluralidade das existencias do ponto de vista do ensino dos Espiritos, de que maneira a devemos entender e, enfim, responder 'as mais serias objecoes que lhe possam opor. (1) Em 1859 ainda nao existia a doutrina teosofica, que so' apareceu em 1875. Kardec alude 'a Teosofia como forma imprecisa de ocultismo entao em voga (N. da Eq. Rev. Edicel) texto de Allan Kardec, publicado na Revista Espirita de 1858, traducao de Julio Abreu Filho, publicado pela EDICEL. EXPLICANDO Nao, meu amigo. Quando me desvencilhei do corpo fisico, ha quase vinte anos, o titulo de "espirita" nao me classificava as conviccoes. Como acontece a muita gente boa, acreditava mais no que via com os meus olhos e tateava com as minhas maos. Lia o Evangelho de Jesus e compulsava as impressoes de varios experimentadores da sobrevivencia; entretanto sem objetivos serios de estudo e sim na extravagancia das gralhas da inteligencia que vao 'a lavoura do espirito, gritando inutilmente e bicando aqui e ali para perturbar o crescimento das plantas e prejudicar-lhes a producao. Era um homem demasiadamente ocupado com a Terra para devotar-me 'as revelacoes do Ceu. Meus pensamentos jaziam tao vigorosamente encarnados nas preocupacoes mundanas, que nem a forca herculea da enfermidade conseguia deslocar-me para as visoes da vida superior. Ilhado na fortaleza de minha pretensa superioridade intelectual, ria ou chorava nas letras, acreditando, porem, que a fe seria apanagio das criaturas ignorantes e simples, indigna dos cerebros mergulhados em maiores cogitacoes. Situava-me entre a duvida e a ironia, quando a Morte, na condicao de meirinho da justica Divina, me intimou a comparecer no tribunal da realidade, mais cedo que eu supunha, e somente entao comecei a interessar-me pelo gigantesco esforco dos homens de boa vontade que, nos mais diversos climas do Planeta, se dedicam hoje 'a solucao dos enigmas inquietantes do destino e do ser. O tumulo nao e' apenas a porta de cinza. Morrer nao e' terminar. E, banhado ao clarao da verdade, por merce de Deus, incorporei-me 'a imensa caravana dos que despertam e trabalham na recuperacao de si mesmos. Nao estranhe, pois, se continuo em minha faina de escritor humilde, tentando nortear as minhas faculdades no rumo do bem. E' o que posso fazer, porquanto nao disponho de especializacao adequada para outro mister. Voce pergunta porque me consagro presentemente ao Espiritismo com Jesus, quando fui interprete da literatura fescenina, lancando varios livros picantes, e politico apaixonado na corrente partidaria a que me filiei, como defensor dos interesses de minha terra. Creia que, realmente, errei muito. Nem sempre consegui me equilibrar na corda bamba das conviccoes terrestres e, muita vez, cai escandalosamente em pleno espetaculo, 'a frente daqueles que me aplaudiam ou ma apupavam. Entretanto, a morte constrangeu-me ao reajustamento intimo. Acordei para um dia novo e procuro comunicar-me com os que ainda se encontram nos sombras da noite. Admito que poderia fazer coisa pior. Se me deixasse vencer pela tentacao, efetivamente integraria a vasta fileira dos Espiritos obstinados na peversidade que lhes e' propria, cavalgando os ombros de meus desafetos. Algo, porem, amadureceu dentro de mim. Aquilo que me trazia prazer causa-me agora repugnancia. A experiencia mostrou-me a parte inutil de minha vida e, por acrescimo de bondade do Senhor, voltei ao campo de minha propria sementeira, nao mais para deslustrar o servico da Natureza, mas para colaborar com o bem, a favor de mim mesmo. E' por essa razao que ainda estou escrevendo ... Convenca-se, contudo, de que nao possuo mais no vaso do coracao a tinta escura do sacarsmo e esteja certo de que me sinto excessivamente distante de qualquer milagre de sublimacao. Sou apenas um homem ... desencarnado, com o sadio proposito de regenerar-me. Depreendera voce, portanto, desta confissao, que em hipotese alguma poderia inculcar-me por guia espiritual dos meus semelhantes. A sepultura nao converte a carne que ela engole, voraz, em manto de santidade. Somos depois da morte o que fomos, e muita gente, que anda por ai mascarada, aqui encontra recursos para ser mais cruel. Quanto a mim, rendo gracas a Deus, por achar-me na condicao de pecador arrependido, esmurrando o proprio peito e clamando - "mea culpa, mea culpa ...." Nosso orientador real e' o Cristo, Nosso Senhor. Sem Ele, sem a nossa aplicacao aos seus ensinos e exemplos, respiraremos sempre na antiga cegueira que nos arroja aos despenhadeiros do infortunio. Procuremo-lo, pois, e ajudaremo-nos uns aos outros, e voce, que com tanta generosidade se interessa pela minha renovacao, nao se esqueca das oito letras de luz que brilham sobre o seu nome. Ser "espirita" e' continuar com Jesus o apostolado da redencao. E que voce prossiga com o Mestre, amando e servindo, no constante incentivo ao bem, e' tudo que lhe posso desejar. Irmao X, psicografado por Francisco C. Xavier, publicado no livro Cartas e Cronicas, editado pela Federacao Espirita Brasileira (FEB). REFLEXOES DE OSCAR FERREIRA CARNEIRO Nao se fantasie a humildade, porque ela caracteriza a superioridade espiritual. Caridade com os obsessores, porque eles apenas esperam a ocasiao de caminharem para o bem. E' preciso compreensao para aceitar as ofensas dos inimigos sem responde-las. Nem sempre o dar representa caridade. O doar-se em espirito, constroi com amor, no proximo, a gratidao que o eleva e nos da paz. O que se ufana de suas qualidades nao e' o que esta merecendo a aprovacao da espiritualidade superior. Almejar servir sempre e sempre, e' merecer ser servido. Na hora aprazada encontraremos irmaos que esperam o nosso amor - aproveitemos o momento concedido por Deus. Saber agradecer sempre e' a caracteristica dos que sabem se examinar conscienciosamente. ######################################### C O M E N T A R I O S ######################################### Meus amigos, este mes e' aniversario de Allan Kardec, nascido em 3 de outubro de 1804. E tambem e' o mes de aniversario do GEAE. No dia 17 faz um ano que o Raul Franzolin enviou para a Bras-net uma chamada, perguntado se haviam interessados em participar de um grupo de estudos. E no dia 20 do mesmo mes saia o primeiro boletim, com um texto do Franz. Eu gostaria de parabenizar todos os integrantes do Grupo e convida-los a participar da proxima edicao, que comemorara' estas datas. Um grande abraco, Jose Cid. __________________________________________________________________ ADESOES AO GEAE: Envie seus dados, tais como: Nome: Endereco: fone: E.mail: Profissao: COMENTARIOS: Envie seus comentarios diretamente para o GEAE. EDICOES ANTERIORES: Solicitacoes de edicoes anteriores do GEAE podem ser feitas para Jose Cid. ############################################## GRUPO DE ESTUDOS AVANCADOS ESPIRITAS - GEAE E. mail: Jose Cid: jac14@po.cwru.edu ##############################################