Ano 15 Número 524 2007



30 de maio de 2007
 

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, 
face a face,
em todas as épocas da humanidade"

Allan Kardec



 ° EDITORIAL

O Mês das Mães


      


 ° ARTIGOS

Obrigado, Querida Mãe!

Reencarnação: Benção Divina ou um Castigo?

 

 ° HISTÓRIA & PESQUISA

Cronologia Espírita


          Referências Bibliográficas
   

 ° QUESTÕES & COMENTÁRIOS

Estudando o Livro dos Espíritos

Sobre o número de encarnações?
   

 ° PAINEL

O Espiritismo na Áustria

   



 ° EDITORIAL

O Mês das Mães

Amigos,

Maio é o mês das mães! Convencionou-se homenagear as mães no segundo domingo deste mês e, independente do lado comercial explorado na mídia, nessa data unem-se os corações celebrando o mais belo sentimento conhecido pela humanidade. O amor maternal é um laço indissolúvel, que transcende o breve período das encarnações e une os espíritos pela eternidade. Não é à toa que os Budistas, em seus treinamentos para a transformação moral do ser, costumam recomendar que apazigüemos nossos sentimentos de raiva lembrando-nos do amor materno e associando essa lembrança com aqueles que nos irritam. Ensinam que nas inumeráveis voltas no ciclo de reencarnações podemos já ter sido muitas vezes mães e filhos daqueles com quem nos relacionamos [1].

A Doutrina Espírita, desde os seus primórdios, no século XIX, posicionou-se ao lado dos que defendiam os direitos das mulheres. O espírito, em seu trajeto evolutivo, reencarna como mulher ou como homem dependendo do programa de realizações que traz para a vida. Não há dois gêneros de espíritos diferentes, há apenas papéis diferentes a desempenhar. E o papel de mãe é o mais valorizado de todos, pois sem sua abnegação, sem a acolhida em seu regaço do espírito reencarnante, não haveria a oportunidade de evolução.

Foi na difusão da Nova Revelação [2] que as mulheres ocidentais falaram pela primeira vez - de igual para igual - para o público em geral. Foram elas, as médiuns, que inauguraram a nova era de comunicação entre os dois planos da vida,[3] e em torno de sua mediunidade, se reúnem desde então muitos grupos espíritas. Médiuns como Ermance Dufaux, Eusápia Paladino, Yvonne A. Pereira e tantas outras, são testemunhos do papel de destaque que a mulher tem nesse movimento.

Assim, o Espiritismo sente-se confortável ao considerar a maternidade como sagrada. Ao valorizar o papel de mãe, em nada ele diminui os outros papéis assumidos por ela nas sociedades modernas. Apenas constata que - em uma escala de valores morais - não há nada mais sublime do que servir de "médium" ao milagre da vida.

A vida é muito preciosa para os espíritas, preciosa porque sem esse estágio no mundo da matéria, jamais desenvolveríamos nossas capacidades. Jamais aprenderíamos o que é amar, ter esperança, ser feliz e sonhar com o amanhã. A preciosa vida humana, a fantástica oportunidade de estarmos aqui, devemos às nossas mães.

Uma homenagem a todas as mães do mundo, as que ainda estão no plano da matéria e as que já nos precederam na viagem para a vida verdadeira. Nossas homenagens principalmente àquelas que, contra todas as expectativas dos que só vêem a matéria, tiveram a coragem de enfrentar as dificuldades deste mundo e não se recusaram a receber seus rebentos. O fardo que carregam, aos olhos do mundo, é em realidade maravilhosa dádiva de Deus.
 
Nossa homenagem profunda também a Maria de Nazaré, sem ela e sem a sua abnegação, não teríamos hoje as lições que nos transmitiu Jesus.
 
 Que a Paz de Deus esteja com todos,
 Os Editores

1 - vide por exemplo "A Arte de Lidar com a Raiva" de sua Santidade o Dalai Lama, publicado no Brasil pela editora Campus.

2 - O Moderno Espiritualismo e o Espiritismo. Vide a cronologia espírita publicada a partir do Boletim 505

3 - As irmãs Fox, vide o ano de 1848 na cronologia espírita.

Índice

 ° ARTIGOS

Obrigado, Querida Mãe!

Renato Costa

Muitos homens e mulheres passam o dia das mães com elas para lhes lembrar o quanto elas ainda são queridas por eles. Não é esse o meu caso, no entanto, pois a minha querida mãe faz quase vinte anos que voltou para o plano espiritual. Como ela já me visitou há alguns anos quando eu menos esperava, me envolvendo em espírito em carinhoso abraço, serena e amorosa como sempre foi, estou certo que estarei com ela no dia das mães. Não porque eu irei visitá-la, mas porque ela me visitará mais uma vez, atraída pelo amor que tenho por ela.
 
 A Doutrina Espírita nos dá um entendimento profundo sobre o significado de ser mãe. Ser mãe é ser o Espírito encarregado de alimentar, cuidar da saúde e educar um outro Espírito que é colocado aos seus cuidados, a missão mais sublime que alguém possa ter. Se os dois Espíritos são vinculados por laços de amor que vêm do passado, essa missão, além de sublime, é uma benção para o tutelado, pois indica que sua tutora é alguém que vela por ele há mais tempo que aquela única vida onde é sua mãe. Outra informação importante que o Espiritismo nos trás é que os Espíritos não têm sexo e, por isso, encarnam num ou noutro sexo alternadamente ficando mais ou menos tempo em um ou no outro. Assim sendo, ficamos sabendo que todos nós, sem exceção, já fomos mães em alguma existência.
 
Tive a felicidade de encontrar o Espírito que foi minha mãe nesta vida em diversas regressões. Foi assim que soube que ela me orienta e protege há mais de mil anos, que já foi minha esposa, minha patroa e, pelo menos uma outra vez, minha mãe, sempre com o mesmo olhar sereno e meigo e o leve sorriso no rosto. Sim, constatei ter tido o privilégio nesta existência de ter como mãe um Espírito que há muito me tem guiado com amor.
 
Obrigado, mãezinha querida, muito obrigado por estar a tanto tempo comigo, por ter sempre me orientado no caminho do bem, caminho esse que a senhora exemplificou tão bem com a sua maneira de ser nesta vida onde ainda me encontro. Que a senhora e todas as mães de todos os tempos sejam abençoadas por Jesus e por Maria, sua mãe, que também é mãe de todos nós. Que sejam fortalecidas principalmente aquelas que hesitam em sua missão e, por isso, precisam de força para concluí-la com êxito.

Índice

Reencarnação: Benção Divina ou um Castigo?

Warley Wanderson do Couto

Introdução

Nos dias de hoje, em meio a tanta violência, concorrência no mercado de trabalho e a conseqüente falta de tempo em que a maioria das pessoas se encontram, as pessoas estão se vendo na necessidade da busca da origem do SER, ou melhor, estão começando a dar mais valor às questões espirituais.

Dados secundários apontam que o Espiritismo tem aproximadamente 30 milhões de simpatizantes no Brasil, a maioria praticante de alguma outra religião. 

A doutrina da reencarnação, talvez pelo mistério em que a maioria das pessoas a enxergam, é o tema que mais desperta a curiosidade das pessoas.

Buscando não dar espaço para o desenvolvimento de conhecimentos incompletos a respeito da Doutrina da Reencarnação, é que este artigo foi escrito.

Desenvolvimento

JUSTIFICATIVAS para existência da reencarnação

Vamos admitir que, de acordo com a crença vulgar, a alma nasce com o corpo, ou o que vem a ser o mesmo, que antes de encarnar só dispõe de faculdades negativas nos surgem as seguintes questões:
  1. Por que a alma mostra aptidões tão diversas e independentes das idéias que a educação lhe fez adquirir?
  2. De onde vem a aptidão extra normal que muitas crianças revelam, para essa ou aquela parte, para essa ou aquela ciência, enquanto outras se conservam inferiores durante toda a vida? 
  3. De onde, em alguns, as idéias inatas ou intuitivas, que em outros não existem?
  4. De onde, em certas crianças, o instituto precoce que revelam para os vícios ou para as virtudes, os sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza, contrastando com o meio  em que elas nasceram?
  5. Por que, abstraindo-se da educação, uns homens são mais adiantados do que outros?
  6. Por que há selvagens e homens civilizados?
A questão 166 do livro dos espíritos nos esclarece que a vida da alma é anterior a criação do corpo e diante da necessidade de progredir o espírito, este retorna a vida na matéria quantas vezes forem necessárias ao seu desenvolvimento.
 
Mesmo assim, um grande número de pessoas acredita que a Reencarnação é invenção dos espíritas. Isso não é verdade. De acordo com os ensinamentos dos espíritos, o Espiritismo constitui uma lei da Natureza e há de ter existido desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na Antigüidade mais remota. 

Pitágoras, como se sabe, não foi o autor do sistema da metempsicose - ele o colheu dos filósofos indianos e dos egípcios, que o tinham desde tempos imemoriais. A metempsicose pressupõe o retorno do ser humano numa condição animal, como numa espécie de castigo por conseqüência de uma vida pretérita desregrada. O ensinamento dos espíritos condena veementemente essa possibilidade. A Doutrina Espírita é explicitamente evolucionista, progredir sempre, retroceder jamais.


RESISTÊNCIAS a idéia da Reencarnação

O MEDO

Acredito que o medo do desconhecido é uma das principais causas para as pessoas continuarem resistindo a essa realidade.  Dois fatores contribuíram para o nascimento desse MEDO nas pessoas, são eles:

1º - Temor da morte (Primeira Parte Cap.II, O Céu e o Inferno, Allan Kardec)

O homem, seja qual for a escala de sua posição social, desde selvagem tem o sentimento inato do futuro; diz-lhe a intuição que a morte não é a última fase da existência e que aqueles cuja perda lamentamos não estão irremissivelmente perdidos. A crença da imortalidade é intuitiva e muito mais generalizada do que a do nada. Entretanto, a maior parte dos que nele crê, nos apresentam possuídos de grande amor às coisas terrenas e temerosos da morte! Por quê?

Esse temor é um efeito da sabedoria da Providência e uma conseqüência do instinto de conservação comum a todos os viventes. Ele é necessário enquanto não se está  suficientemente esclarecido sobre as condições da vida futura, como contrapeso à tendência que, sem esse freio, nos levaria a deixar prematuramente a vida e a negligenciar o trabalho terreno que deve servir ao nosso próprio adiantamento. Assim é que, nos povos primitivos, o futuro é uma vaga intuição, mais tarde tornada simples esperança e,  finalmente, uma certeza apenas atenuada por secreto apego à vida corporal.

2º - A Sede de Poder pela Igreja durante o Império Romano

Apesar da profunda lógica que a reencarnação sempre refletiu, sabe-se que essa idéia não agradou muito os defensores da lei nos primórdios do cristianismo. A idéia era aceita e até ensinada por muitos como Orígenes e Clemente de Alexandria (que foram procurados e torturados pela sede de poder da Igreja no Império Romano).

Essa sede de poder era tão grande, ao mesmo tempo a nossa supervalorização pelas coisas materiais, que deixamos de lado o conhecimento inato da imortalidade da alma e passamos ao da morte, que ainda tanto nos aflige. Esse poder de persuasão foi tamanho, que até hoje temos irmãos pregando que a Bíblia não se refere à Reencarnação.

Algumas Passagens Sobre a Reencarnação na Bíblia

Velho Testamento

Gênesis 15:15 - E tu, irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado.

Gênesis 15:16 - E a quarta geração, voltarão para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia.

Moisés nos dá a certeza de que a vida continua e que a Morte não existe e ainda afirma sobre a necessidade da reencarnação

Jó nos dá indícios de que o conhecimento da Reencarnação fazia parte do cotidiano das pessoas naquele tempo.

Jó 1:20 - Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou;

Jó 1:21 - E disse: Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor.

Isaias reconhece, por óbvio, que é possível consultar os mortos (não os demônios, anjos que caem do céu para alguns, haja vista que não fala neles mas, de seres humanos que se foram, que já não fazem mais parte do mesmo plano físico em que estamos).

Isaías 8:18 Eis-me aqui, com os filhos que me deu o Senhor; como sinais e maravilhas em Israel da parte do Senhor dos exércitos, que habita no monte de  Sião. 8:19 Quando vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram, respondei: Não recorrerá um povo ao seu Deus? Acaso a favor dos vivos se interrogarão os mortos?

E no versículo 20 “se eles não falarem nada que edifique, não os ouça !!!”

Nos alertando que, da mesma forma que temos seres em evolução aqui, também temos no plano espiritual. Que devemos saber identificar os espíritos que realmente querem nos ajudar com bons conselhos, daqueles que querem apenas brincar e zombar da nossa cara.

Novo Testamento

Os apóstolos também nos dão à certeza de que a Reencarnação era vista e encarada com tranqüilidade não só entre os sábios, mas também entre os humildes de conhecimento.

Mateus 16:13 - E chegando Jesus às partes de Cesárea de Felipo, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem?

Mateus 16:14 - E eles disseram: Uns João Batista; outros Elias; e outros Jeremias ou um dos profetas.

Em João - Quando encontram o cego de nascença, Jesus nos dá a certeza e o consolo de que nem sempre os defeitos físicos que trazemos conosco são conseqüência do passado, muitas vezes podem ser para que as obras de Deus se realizem em nós, através do milagre ou até mesmo para desenvolvermos outras qualidades como o amor, por exemplo.

João 9:2 - Perguntaram-lhe os seus discípulos: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?

João 9:3 - Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus.

Eles acreditavam então na possibilidade da reencarnação e na possível preexistência da alma. Sua linguagem fazia mesmo crer que essa idéia estava difundida entre o povo, e Jesus parecia autorizá-la, em vez de combatê-la; Ele fala ainda das numerosas moradas de que se compõe à casa do Pai.

No diálogo com Nicodemus, Jesus nos ensina sobre a necessidade do nascer de novo da água

João 3:1 - Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus.

João 3:2 - Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.

João 3:3 - Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.

João 3:4 - Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?

João 3:5 - Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.

João 3:6 - O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.

João 3:7 - Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo.


Conclusão

Após tantas indicações sobre a Reencarnação, sem argumentos, alguns afirmam sua inexistência se apoiando no fato de não se lembrarem das existências anteriores.

Ora, que proveito poderíamos tirar das existências anteriores para melhoria da atual? Nenhuma! Se muitas vezes achamos, o fardo que carregamos pesado demais, imagina se tivéssemos conhecimento de tudo que já fizemos? Quanto não seria nossa humilhação pensando no que fomos!

A providência divina nos poupou de mais torturas e DEUS nos mostra que, para o nosso adiantamento, tais lembranças são inúteis. Durante cada existência damos um passo adiante.

DEUS não poderia ser mais justo em tornar o homem árbitro de sua própria sorte, pelos esforços que pode fazer para se melhorar. Como ele é justo e bom não poderia condenar seus filhos a tortura infinita pelos seus erros sem lhes dar os meios de se purificar.

Pela reencarnação, o futuro está nas mãos de cada um. Leva-se muito tempo, é claro, por isso sofremos as conseqüências. Mas é a suprema justiça, a esperança que jamais nos é obstruída. 

Santo Agostinho já adverte que “a cada um segundo suas obras”. Que possamos aproveitar ao máximo nossa estadia nessa grande escola chamada TERRA, desenvolvendo cada dia mais as qualidades que possamos levar conosco ao partir para a nossa verdadeira morada no plano espiritual.

Sigamos então os conselhos de Emmanuel: “não perca tempo”. Os dias voltam, mas os minutos são outros.


Referência Bibliográfica

Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Parte Segunda, capítulo IV Da pluralidade das existências. 76ª edição. FEB, 1995.

Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo IV Ninguém poderá ver o reino de DEUS se não nascer de novo. 112ª edição. FEB, 1996.

Kardec, Allan. O Céu e o Inferno, Primeira Parte, capítulo II Temor da Morte. 40ª edição. FEB, 1995.

Índice

 ° HISTÓRIA & PESQUISA

(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas")

Cronologia Espírita

(Compilação de datas significativas  para o Movimento Espírita iniciada no Boletim 505)


Lista de Eventos

1862

15 de janeiro de 1862
Paris, França.

Publicação da brochura "O Espiritismo em sua mais simples expressão" de Allan Kardec. "O objetivo dessa publicação é dar, num quadro muito sucinto, um histórico do Espiritismo, e uma idéia suficiente da Doutrina dos Espíritos, para que se lhe possa compreender o objetivo moral e filosófico. Pela clareza e pela simplicidade do estilo, procurarmos pô-la ao alcance de todas as inteligências. Contamos com o zelo de todos os verdadeiros Espíritas para ajudar na sua propagação." (Allan Kardec, Revista Espírita de janeiro de 1862).

KARDEC, 1971
WANTUIL e THIESEN, 1979

Fevereiro de 1862
Paris, França.

Kardec mostra no artigo "Novos médiuns americanos em Paris", de fevereiro de 1862, o absurdo da propaganda de um casal que se apresentava como "médiuns americanos". Eles se propunham realizar, para "divertimento dos salões franceses", sessões onde realizariam "tudo o que a ciência e o charlatanismo inventaram que pasma, em nossos dias, os incrédulos, até lhes dar uma fé robusta em tudo o que não é senão hábil malabarismo, onde se é cúmplice com seu desconhecimento".

A argumentação de Kardec é bastante sólida e aponta principalmente para o fato de que a imitação de um fenômeno não prova que ele não existe, apenas que é possível imitá-lo.

"(...) Aliás, é preciso fazer justiça àquele cavalheiro e àquela senhora: de modo algum eles procuram enganar o público. Não se fazem passar pelo que não são, apresentam-se francamente como hábeis imitadores, no que são mais respeitáveis que aqueles que falsamente se dizem médiuns (...). Mas, pela escamoteação, querer provar que os médiuns são escamoteadores, é um toque de novidade que os curiosos pagarão regiamente" (Allan Kardec, Revista Espírita de 1862).

O evento reportado por Kardec é interessante por refletir uma situação que estava afetando o Espiritualismo Moderno norte-americano. Os falsos médiuns e a forma como as fraudes foram explorados pelos adversários do movimento, acabaram levando-o ao declínio no país em que nasceu (vide 1848).  Na época em que esses "médiuns americanos" se anunciaram em Paris, os Estados Unidos estavam em plena guerra civil  (vide 1861).

 
KARDEC, 1971

Abril de 1862
Paris, França.

Kardec registra na Revista Espírita de abril, que a brochura "O Espiritismo em sua mais simples expressão" está sendo reimpressa após se esgotarem os quase dez mil exemplares da primeira edição. Ele também informa que tem notícias de traduções do texto para o alemão, o russo e o polonês. A versão em português, que não foi citada na Revista Espírita de abril, foi impressa em Paris ainda no ano de 1862. A tradução do francês para o português foi feita por Alexandre Canu.

DAMAZIO, 1994
KARDEC, 1971
WANTUIL, 1990

8 de abril de 1862

Boston, Estados Unidos.

O Jornal "Boston Daily Evening " traz a curiosa notícia de que alguns espiritualistas da União acreditavam que a Confederação estava usando médiuns para espionagem (vide 1861).

EPHEMERA. 2007

Setembro de 1862
Paris, França.

Na Revista Espírita de setembro de 1862 aparecem três comunicações que, no dizer de Allan Kardec, de certo modo constituem "a iniciação* de um jovem médium". As comunicações "Estudos Uranográficos" são do espírito Galileu através do médium Camille Flammarion. A médium tinha então 20 anos e iniciava sua brilhante carreira como Astrônoma. Ainda no final de 1862 ele publicou o livro “A Pluralidade dos Mundos Habitados” – “um estudo onde se expõe as condições de habitabilidade das terras celestes, discutidas do ponto de vista da astronomia, da fisiologia e da filosofia natural" (subtítulo do livro) -  que teve grande repercussão. A notícia sobre o livro aparece na Revista Espírita de janeiro de 1863 com extensos comentários de Kardec elogiando a obra.

FLAMMARION, 1995
SAMPAIO, 2007
KARDEC, 1971
KARDEC, 1862

Setembro-Outubro 1862
França.
 
Allan Kardec faz sua terceira viagem de divulgação do Espiritismo. Nessa viagem mais longa que as anteriores (de 1860 e 1861), Kardec visita 20 cidades em quatro semanas e participa de mais de 50 reuniões. A viagem é anunciada na Revista Espírita de setembro e uma breve nota a respeito dela é publicada na de novembro. O relato da viagem, contendo alguns dos discursos proferidos por Kardec, foi publicado no livro "Voyage Spirite en 1862" (Viagem Espírita de 1862).
 
KARDEC, 1971
KARDEC, ?
WANTUIL e THIESEN, 1979
 
Dezembro de 1862
Washington, Estados Unidos.

A médium Nettie Colburn Maynard realiza sua primeira sessão mediúnica na Casa Branca. Nas sessões, foram transmitidas comunicações dos espíritos para o presidente Abraham Lincoln. O presidente americano passava por momentos difíceis, sofria com morte de um de seus filhos (William, desencarnado em 20 de fevereiro de 1862) e com a situação do país dividido pela guerra civil (vide 1861). Os registros dessas sessões estão no livro "Was Abraham Lincoln a Spiritualist?", que traz as memórias da médium sobre esse período. 

MAYNARD, 2007
MAYNARD e RODRIGUES, 1981
WIKIPEDIA, 2007


Referências Bibliográficas


DAMAZIO, S. F. Da Elite ao Povo - Advento e Expansão do Espiritismo no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1994

EPHEMERA. Envisioning the Civil War. In Ephemera - 19th Century American Spiritualism's Fading Record. Disponível em http://www.spirithistory.com/war.html. Acesso em 12 de maio de 2007.

FLAMMARION, C. A Pluralidade dos Mundos Habitados. Trad. Norberto de Paula Lima. São Paulo: Icone Editora Ltda., 1995

KARDEC, A. Revista Espírita. Obras Completas de Allan Kardec. Trad. Julio Abreu Filho. São Paulo: EDICEL, 1971

KARDEC, A. Viagem Espírita em 1862. Trad. e prefácio de Wallace Leal V. Rodrigues. 2 ed. Matão (SP): O Clarim, ?

MAYNARD, N. C. Was Abraham Lincoln a Spiritualist?. Publicado originalmente em 1917. Disponível em http://www.snu.org.uk/fre_book.htm. Acesso em 13 de maio de 2007.

MAYNARD, N. C.; RODRIGUES, W. L. V. Sessões Espíritas na Casa Branca. 2. ed. Matão (SP): O CLARIM, 1981

SAMPAIO, J. dos R. Flammarion: Um Astrônomo diante do mundo dos Espíritos. In: Grupo de Estudos Avançados Espíritas. Disponível em http://www.geae.inf.br/pt/biografias/cflammarion.html. Acesso em 14 de maio de 2007.

WANTUIL, Z. Grandes Espíritas do Brasil. 7. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1990

WANTUIL, Z.; THIESEN, F. Allan Kardec. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1979

WIKIPEDIA. Abraham Lincoln. In: Wikipédia - A Enciclopédia Livre. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Abraham_Lincoln. Acesso em 6 de abril de 2007.

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* Consultei o original francês da Revista e a frase citada passa a idéia de "início/apresentação de um jovem médium" (le début d'un jeune médium).

Índice

 ° QUESTÕES & COMENTÁRIOS

Estudando o Livro dos Espíritos

Christiano Torchi

Provas da Existência de Deus

Caros amigos.

Bom dia!

Hoje, abordaremos as questões que tratam da prova da existência da divindade. A crença num ser superior, a que se dão vários nomes, é inata no ser humano, desde que esse tomou consciência de seu próprio existir.

Muitas pessoas, consideradas inteligentes, negam a existência de Deus, por receio de caírem no ridículo. Afinal, nunca viram, ouviram ou tocaram Deus – dizem elas. Entretanto, há muitas coisas invisíveis e imponderáveis aos olhos e tato humanos, que existem e interagem com as criaturas, como, por exemplo, no caso dos vírus e das bactérias.

É possível deduzir a origem de uma obra de arte, sem que necessariamente conheçamos o seu autor, observando a assinatura, o estilo e as características da obra. A todo efeito inteligente corresponde uma causa inteligente – eis uma dedução lógica inafastável ao  senso comum.

O Universo, que obviamente não foi criado pelo homem, revela perfeição, harmonia, ordem, precisão matemática, planejamento...

Logo, é inevitável concluir que uma inteligência superior – não importa o nome que lhe damos – fez tudo isso, pois que o Universo não poderia surgir do nada ou criar-se a si mesmo pelas forças cegas do acaso.

Fiquemos, por enquanto, com essas considerações, lembrando que a Natureza é a assinatura viva do Criador. Nesse sentido apontam as orientações dos amigos espirituais, a saber:


4 - Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?

Num axioma (premissa evidente que se admite como universalmente verdadeira sem exigência de demonstração) que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai à causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.

“Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar (idealizar) que o nada pôde fazer alguma coisa.” (Nota de Allan Kardec).

A questão n. 5 complementa a anterior, encadeando as idéias que devemos formar sobre a divindade. Esse é um dos métodos utilizados pelo Codificador, para aprofundar o leitor no estudo.

5 - Que dedução se pode tirar do sentimento instintivo que todos os homens trazem em si da existência de Deus?

A de que Deus existe; pois, donde lhes viria esse sentimento, se não tivesse uma base? É ainda uma conseqüência do princípio – não há efeito sem causa.

Ao compilar O Livro dos Espíritos, Kardec colocou-se na posição de questionador, de crítico, de “advogado da parte contrária”, dando, assim, aos Espíritos amigos, a oportunidade de desenvolver as idéias com maior amplitude e precisão.

É o que se infere das questões formuladas, como na seguinte, que decorre das anteriores.

Na seqüência, o mestre lionês fortalece a idéia exposta pelos instrutores com as próprias anotações. Ei-las:

6 - O sentimento íntimo que temos da existência de Deus não poderia ser fruto da educação, resultado de idéias adquiridas?

Se assim fosse, por que existiria nos vossos selvagens esse sentimento?

“Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse tão-somente produto de um ensino, não seria universal e não existiria senão nos que houvessem podido receber esse ensino, conforme se dá com as noções científicas.” (Nota de Allan Kardec).

Estabelecida a premissa de que Deus é a causa primeira de tudo, o autor – ainda no capítulo das “provas da existência de Deus” – abre parênteses para questionar sobre a formação da matéria, preparando o estudante para iniciar o estudo sobre a origem das coisas.

7 - Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas?

Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária.

Após a resposta dada à questão n. 7, o autor fez uma anotação importante. Ei-la:

“Atribuir à formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa.”

Na questão seguinte, a resposta dos amigos instrutores é um torpedo  contra a opinião daqueles que defendem a tese maluca de que a matéria se fez a si mesmo.

8 - Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso?

Outro absurdo! Que homem de bom-senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada.

Na questão n. 8, Kardec colocou em pauta a opinião de algumas pessoas que atribuem a formação das coisas a uma combinação fortuita da matéria ou ao acaso. Após a resposta contundente dos benfeitores, o Codificador arrematou, com precisão:

“A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso.”

9 - Em que é que, na causa primária, se revela uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências?

Tendes um provérbio que diz: Pela obra se reconhece o autor. Pois bem! Vede a obra e procurai o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!

“Do poder de uma inteligência se julga pelas suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência superior à Humanidade.

Quaisquer que sejam os prodígios que a inteligência humana tenha operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que opere, tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência superior é que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe dêem.” (Nota de Allan Kardec).
 
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OBS: As citações do Livro dos Espíritos foram retiradas da edição da FEB. A Federação Espírita Brasileira mantém em sua página uma versão disponível para download: http://www.febnet.org.br/file/135.pdf

Índice

Sobre o número de encarnações?

Vital Ferreira

Olá,

Gostaria de confirmar com o grupo algumas informações a respeito do número de (re)encarnações de cada um de nós na Terra:
  • Nós já passamos por milhares de reencarnações
  • Somos em um total de 20 bilhões de espíritos (seis encarnados para 14 desencarnados)
Procurei pela Internet por pesquisas que estimem o total de humanos nascidos na Terra*. As estimativas mais altas estão em torno de 120 bilhões. Daí poderíamos concluir que, em média, tivemos apenas seis encarnações na Terra (120 bilhões de encarnações / 20 bilhões de espíritos). Parece ser um número relativamente pequeno perto dos milhares que temos ouvido por aí, não?

Cordialmente,

Vital Cruvinel Ferreira
Engenheiro de Computação

* http://en.wikipedia.org/wiki/World_population#Number_of_humans_that_have_ever_lived

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Meu caro Vital,
 
As leis de Deus são tão sábias e amorosas que não existe limite algum para a quantidade de reencarnações de um Espírito em determinado mundo. Pense na analogia escolar. A rede escolar de Deus permite que o aluno repita o ano tantas vezes quanto necessitar para aprender o conteúdo de cada série. Mais que isso. Se um aluno não está aprendendo por um método, tentam-se outros até que ele aprenda cada lição. Seria tão bom se as redes escolares que o ser humano inventou fossem assim, não é? Todas as crianças, sem exceção, se formariam doutores.
 
Quanto ao número de encarnados e desencarnados, lembro que não estamos falando de um sistema fechado. Espíritos continuam vindo para a Terra para sua primeira existência aqui e outros continuam saindo daqui para ter sua próxima existência em outro mundo. Além disso, as estimativas da quantidade de espíritos desencarnados que ainda tem que encarnar na Terra são apenas opiniões pessoais deste ou daquele Espírito, nada tendo a ver com a Doutrina Espírita, que é baseada no ensino universal e concordante dos Espíritos. Por último, temos que levar em conta que a ciência humana mal sabe completar o nosso elo evolutivo desde os antropóides, que nos precederam, e a cada dia descobre novas civilizações antes desconhecidas, fazendo que tanto a pré-história quanto a história humana estejam muitíssimo longe de estar completas. Assim, os ditos 120 milhões são uma expectativa feita com uma base extremamente frágil.
 
Um grande abraço,
 
Renato Costa

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O Espiritismo na Áustria

Jáder Sampaio

(O Blog Espiritismo Comentado entrevistou Rejane Spiegelberg Planer, engenheira elétrica e nuclear, residente em Viena – Áustria, sobre as atividades de sua casa espírita.)

EC: Rejane, como nasceu o grupo espírita que você freqüenta na Áustria? Como ele se chama?

Rejane: As sementes da nossa casa - Sociedade para Estudos Espíritas Allan Kardec (VAK) - foram plantadas por Divaldo Franco em 1988, quando pela primeira vez, proferiu uma palestra em Viena, capital da Áustria. Um ano após, Raul Teixeira aqui esteve, e desde então, ambos vem apoiando o desenvolvimento desse núcleo espírita através de palestras e seminários, e orientando o grupo com sua sabedoria e vivência espírita.
 
A semente germinou sob a liderança de Josef Jackulak, tcheco de nascimento, que aos poucos foi reunindo os companheiros espíritas de Viena. A princípio, um pequeno grupo reunia-se em sua casa semanalmente para estudo e orações, depois devido ao crescente número de interessados, em local mais apropriado à rua Spengergasse 10/3, onde ainda hoje é a sede do VAK. No ano de 2000, a Sociedade para Estudos Espíritas Allan Kardec foi registrada oficialmente e legalizada na cidade de Viena. Desde então, Josef Jackulak é seu presidente e eu, apoio os trabalhos como vice-presidente.


À frente e à esquerda, Rejane, Divaldo Franco, atrás
Josef Jackulak e Nilson. Os demais são membros do VAK.

EC: Rejane, que atividades vocês fazem em sua casa espírita?

Rejane: Temos várias atividades por semana, concentradas em três dias: segunda, terça e sábado. São duas palestras semanais às terças-feiras e aos sábados. Nesses dias realizamos estudos especializados e oferecemos evangelização infantil (aos sábados). É rotina da casa o estudo para médiuns, pois acreditamos que o estudo faz parte do dia a dia do médium, ajudando no equilíbrio mental e emocional, mas atualmente também conduzimos um estudo especial para passistas. Na segunda-feira reunimos o grupo mediúnico e o grupo de orações e irradiações.

Além dessas atividades na sede do VAK em Viena, há 5 anos também atuamos junto a dois países vizinhos – a República Tcheca e a Eslováquia, onde também sob a liderança de Josef Jackulak organizamos 2 grupos espíritas locais. Esses grupos de cidadãos tchecos e eslovacos reúnem-se uma vez por mês para palestras e estudos espíritas nas cidades de Brno (República Tcheca) e Bratislava (capital da Eslováquia). As palestras são proferidas em português com tradução consecutiva para o idioma tcheco, ou diretamente em tcheco, uma vez que os participantes não falam português.

EC: Há quanto tempo vocês se organizaram?

Rejane: O grupo que originou a nossa Sociedade para Estudos Espíritas Allan Kardec, reúne-se desde 1988, portanto há quase 20 anos. No entanto, o VAK foi legalizado no ano de 2000, portanto há seis anos.

O grupo de Bratislava iniciou-se em 2002 e o grupo de Brno em 2005, um trabalho que vem amadurecendo aos poucos.

EC: Os trabalhadores do grupo são predominantemente brasileiros residentes na Áustria ou austríacos? As reuniões em seu grupo são realizadas em que idioma?

Rejane: Em Viena, o grupo é internacional. São brasileiros, portugueses, espanhóis, tchecos, austríacos, japoneses, todos residentes em Viena. Os trabalhadores da sociedade ainda são predominantemente brasileiros, mas esperamos e trabalhamos para aos poucos formar um grupo firme de trabalhadores austríacos, atendendo assim, a comunidade local e não somente a comunidade flutuante internacional ou de brasileiros residentes em Viena.

Desse modo, as reuniões da Sociedade para Estudos Espíritas Allan Kardec de Viena são realizadas em português ou alemão, dependendo dos participantes. Já fizemos experiências de conduzir as palestras também em inglês, mas o número de interessados não justificou a iniciativa, e optamos por manter o alemão e o português.

EC: Suas atividades estão articuladas com centros de outros países europeus?

Rejane: Iniciamos e continuamos dando nosso suporte a dois grupos: um na República Tcheca e outro na Eslováquia. Nesses grupos, damos palestras mensais traduzidas para o tcheco e o eslovaco.

Josef Jackulak é o pai dessa iniciativa, eu o acompanho na tarefa. Ele fala tcheco, e lidera o trabalho, e é um batalhador e divulgador do Espiritismo. É claro que o trabalho conjunto e o apoio mútuo são necessários, mas eu acredito que sem a sua força de nobre trabalhador da causa espírita, este trabalho no leste Europeu e aqui em Viena não seria feito
 


 Divaldo Franco e Josef Jackulak em Brno, na República Tcheca.


EC: Há outras atividades de divulgação doutrinária feitas por vocês?

Rejane: Anualmente organizamos as viagens de Divaldo Franco no leste europeu, que inclui República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Polônia e na ONU de Viena, e neste ano (2007), pela primeira vez em Istambul, na Turquia, onde estaremos dia 23 de maio. Organizamos também as visitas de Raul Teixeira e Juan Durante nesses países. São esses países, em minha opinião, as três estrelas que apóiam o desenvolvimento da nossa sociedade e do Espiritismo nessa região.

Além disso, atuamos junto a ONU em Viena, seja organizando palestras desses líderes do Espiritismo atual, como participando de eventos onde podemos divulgar o Espiritismo, ou oferecendo livros em inglês, que é a língua de trabalho na ONU. Os frutos desse trabalho minúsculo que vemos este ano, com a ida de Divaldo Franco a Turquia, que é organizada por um ex-colega da ONU, que acompanhou silenciosamente as palestras de Divaldo na ONU, desde 1992. O trabalho da espiritualidade é discreto, mas os frutos são colhidos na hora certa. 

EC: Você tem notícias das origens do Espiritismo Austríaco? Quando ele surgiu? Quem eram seus fundadores? Qual foi sua trajetória?

Rejane: Morando na Áustria há 18 anos, espírita de nascimento (minha família foi fundadora de um dos primeiros centros espíritas em Porto Alegre Brasil) não poderia deixar de buscar as origens do espiritismo na Áustria. O que sabemos no momento, é que em Viena existiu uma sociedade espírita já na época de Kardec, pois a Revista Espírita menciona uma troca de correspondência de Allan Kardec com o Sr. Delhez, que foi também o tradutor de O Livro dos Espíritos e outras obras da codificação para o alemão. A Sociedade Espírita de Viena existiu, portanto, desde a época de Kardec (1862).

No entanto, o império austro-húngaro abrangia um território muito maior do que a Áustria dos dias de hoje. Nossas pesquisas abrangem, portanto, a República Tcheca e Eslováquia, principalmente a região da Boêmia, e a Hungria. Nessas regiões existiram grupos espíritas até antes da segunda guerra mundial. Uma das conhecidas médiuns espíritas da região é a Baronesa Adelma von Vay, que também viveu no mesmo período e que deixou vários livros psicografados, entre eles citamos “Espírito, Forca e Matéria” (psicografado em 36 dias em 1869), e seus belos livros de orações, que infelizmente somente encontramos em língua tcheca. Depois disso, como em toda a Europa, o movimento espírita foi diminuindo até quase desaparecer. No entanto, no contato com os freqüentadores locais, principalmente na República Tcheca e Eslováquia, fomos descobrindo que alguns núcleos espíritas mantiveram-se em atividade quase em segredo em certas famílias espíritas. Muitos desses senhores e senhoras participam hoje de nossos estudos, e aos poucos vão tornando-se mais ativos trabalhadores espíritas, possibilitando assim o ressurgimento do Espiritismo em nossos dias nesses locais.
 (Foto da Baronesa Von Vay - Contribuição de Marco Milani/LIHPE)

EC: Você tem informações sobre os grupos na Áustria? Quantos são? Em que cidades estão situadas?

Rejane: Atualmente existem somente dois grupos espíritas na Áustria: a nossa Sociedade para Estudos Espíritas Allan Kardec (VAK) na capital, em Viena, e um grupo fundado em Dornbin, Voralberg.

EC: Há alguma singularidade no Espiritismo Europeu, quando comparado ao brasileiro?

Rejane: Sem esquecer que o Espiritismo codificado por Allan Kardec é um só, eu diria que existem diferenças sim, pois a cultura européia é diversa da cultura brasileira.

O Espiritismo brasileiro é de brasileiros, portanto, cresceu em torno da cultura do povo brasileiro, e sofreu e sofre a influência dessa cultura diversificada, colorida.

O espiritismo europeu, com algumas exceções, ainda cresce em torno dos imigrantes brasileiros, mas deve tomar um caráter local para que não se restrinja aos brasileiros e dissemine-se pelo povo local, atingindo o seu objetivo de educar o ser humano quanto aos mistérios da vida, de acabar com o misticismo e colocar o fenômeno na sua correta perspectiva, através dos aspectos científicos do Espiritismo, e trazer ao indivíduo, as metas primordiais, que são a auto-educação e busca pelo autoconhecimento.

Dar espaço para o desenvolvimento de grupos locais, com participação local, deve ser, na minha opinião a meta desses trabalhadores do Espiritismo no solo europeu.

EC: Vocês têm planos para o futuro? Quais são?

Rejane: Nossos planos são modestos. Seguir a doutrina através das orientações de Allan Kardec nas suas obras básicas, e principalmente seguir Jesus, sem jamais nos afastarmos dos ensinamentos do Mestre. Esses dois pontos já bastam para uma vida inteira. E a Sociedade é a nossa vida.

Esperamos seguir em frente e um dia, ser uma semente de luz no céu de Viena, iluminando os corações e as vidas de seus habitantes – sejam eles austríacos de nascimento ou de coração, ou passageiros do trem da vida, que aqui aportam por um tempo.


EC: Que dificuldades vocês têm enfrentado para poder estudar e praticar o Espiritismo na Áustria?

Rejane: Nenhuma. Nossa Sociedade foi legalizada no ano de 2000, como sociedade beneficente espírita na Áustria, sem dificuldades.


As dificuldades que encontramos são aquelas, normais de todo agrupamento humano, seja ele um centro espírita ou não. Como somos um grupo internacional, mas no momento predominantemente de brasileiros, temos de enfrentar os problemas da língua – tradução de material para a língua local, etc. Mas, seguindo Kardec, que foi e é universal, pois segue os ensinamentos do mestre Jesus, estamos seguros de seguir o caminho certo.


EC: Como os espíritas brasileiros podem auxiliar o trabalho de vocês?

Rejane: Os espíritas brasileiros vêm ajudando nossa Sociedade de vários modos. A Editora Leal e, portanto, Divaldo Franco e Nilson de Souza Pereira têm auxiliado e disponibilizado literatura em alemão, tcheco, húngaro e inglês, facilitando a divulgação do Espiritismo nas línguas locais. Alguns grupos ou indivíduos têm ajudado mandando DVDs, livros e material de consulta que ficam então disponíveis na nossa biblioteca, e servem de apoio ao trabalhador e de material de consulta e estudo.

Agradecemos a todos que procurarem ajudar através da doação de livros e material de estudo.


Finalizando gostaria de deixar nosso endereço:

Sociedade para Estudos Espíritas Allan Kardec
(Verein für spiritistische Studien Allan Kardec)
Spengergasse 10/3 – entrada pela Jahngasse 28
1050 Wien
email: vakardec@msn.com


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GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS
 
O Boletim GEAE é distribuido por e-mail aos participantes do Grupo de Estudos Avançados Espíritas
Inscrição pelo site do GEAE

O Cancelamento pode ser feito pelo site do GEAE ou por e-mail a editor@geae.inf.br

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