Na Vinha Do
Senhor
Rogério Coelho
Minas Gerais, Brasil
“(...) Curai os enfermos,
limpai os leprosos,
ressuscitai os mortos, expulsai os
demônios”.
- Jesus. (Mt., 10:8.)
Este registro de Mateus dá bem
o tom do ritmo de atividades do verdadeiro trabalhador da Vinha do Senhor.
Aprendemos com o insuperável Mestre de Lyon
:
“Nas
grandes calamidades, a caridade se
emociona e observam-se impulsos generosos, no sentido de reparar os
desastres. Mas, a par desses desastres
gerais, há milhares de desastres particulares, que passam
despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se
queixarem. Esses infortúnios discretos e
ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.”
Emmanuel
com sua verve e perspicácia habituais, identifica os vencidos da angústia, que despontam em todas as direções e que, na
verdade, apresentam-se como o campo do Senhor que nos compete limpar, arrotear,
sanear, cuidar, trabalhar:
“São os
que perderam o emprego que lhes garantia a estabilidade familiar e
desorientaram-se abatidos, à procura do pão; foram despejados do teto,
hipotecado à solução de constringentes necessidades, e vagueiam sem rumo;
encontram-se despojados de esperança, pela deserção dos afetos mais caros, e
abeiram-se do suicídio; caíram em perigosos conflitos da consciência e aguardam
leve sorriso que os reconforta; envelheceram sacrificados pelas exigências de
filhos queridos que lhes negaram a convivência nos dias da provação, e amargam
doloroso abandono; adoeceram gravemente e viram-se transferidos da equipe
doméstica para os azares da mendicância; transviaram-se no pretérito e
renasceram, trazendo no próprio corpo os sinais aflitivos das culpas que
resgatam, pedindo cooperação; despediram-se dos que mais amavam no frio portal
do túmulo e carregam os últimos sonhos da existência cadaverizados agora no
esquife do próprio peito; abraçaram tarefas de bondade e ternura e são mulheres
supliciadas de fadiga e pranto, conduzindo os filhinhos que alimentam à custa
das próprias lágrimas.
Gemem discretos
e surgem na forma de crianças desprezadas, à maneira de flores que a ventania
quebrou, desapiedada, no instante do amanhecer...
Para
eles, os que tombaram no sofrimento moral, a ciência dos homens não dispõe de
recursos. É por isso que Jesus, ao reuni-los
em multidão, no topo do monte, desfraldou a bandeira da Caridade e, proclamando
as bem-aventuranças eternas, no-los entregou por filhos do coração...”
Completa, o nobre Mentor de Francisco C. Xavier:
“(...)
Companheiro da Terra, quando estendes uma palavra consoladora ou um abraço
fraterno, uma gota de bálsamo ou uma concha de sopa, aliviando os que choram,
estás diante deles, na presença do Cristo, com quem aprendemos que o único
remédio capaz de curar as angústias da Vida nasce do amor, que se derrama,
sublime da ciência de Deus”.
Alerta-nos Bernardino:
“Não
digais, pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: “É a justiça de
Deus, importa que siga o seu curso”.
Dizei antes:
“Vejamos que meios o Pai misericordioso me
pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o
meu amparo material ou meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com
mais energia, paciência e resignação.
Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que cesse
esse sofrimento; se não me deu a mim, também como prova, como expiação talvez,
deter o mal e substituí-lo pela paz.
Ajudai-vos, pois, sempre, mutuamente, nas
vossas respectivas provações.
(...)
Deve o espírita estar compenetrado de que a sua Vida toda tem de ser um ato de
amor e de devotamento.
(...)
Todos estais na Terra para expiar; mas, todos, sem exceção, deveis esforçar-vos
por abrandar a expiação dos vossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e
caridade”.
Procuremos identificar os nossos talentos, buscando
multiplicá-los na lavoura do Bem com Jesus em favor dos filhos do Calvário.
Índice
Raul Franzolin Neto - Pirassunga, São Paulo
A vida na Terra
é algo intrigante e maravilhoso aos nossos olhos, da mesma forma
que a natureza e a beleza infinita do universo. A primeira forma de
vida no planeta surgiu há 3,5 bilhões de anos com as
bactérias. Elas estão entre nós até hoje, como resultado da fantástica adaptação
ecológica, e constituem a quantidade impressionante da metade da biomassa na
Terra
. Os seres multicelulares (animais) surgiram há
cerca de 600 milhões de anos e os primeiros antepassados do
Homem (Homo sapiens) há aproximadamente 5 milhões de
anos. Mais intrigante ainda, é saber que o número de
espécies existentes hoje, cerca de 30 milhões, representa
apenas 1% das mais de 3 bilhões que já povoaram a Terra.
Por que espécies aparecem e são extintas? A resposta fica
mesmo a cargo da dispendiosa evolução natural para
sobrevivência às modificações do meio.
Geneticamente, o Homem possui cerca de 30 mil
genes, sendo o mesmo número de genes que o camundongo. Mais
interessante ainda é que todas as diferenças existentes
entre nós e os camundongos ocorrem devido à apenas 300
genes.
Assim, do ponto de vista da matéria, as
diferenças entre as espécies são pequenas e
são meras necessidades de adaptações para
sobrevivência em ambiente hostil e competitivo. Mas e do ponto de
vista espiritual? Aí sim, as diferenças são
enormes. Cada ser humano apresenta inúmeras diferenças no
comportamento, no pensar, gostos, etc. Não há dois
indivíduos idênticos. Nós somos seres individuais.
O desafio da ciência é entender isso do ponto de vista
genético. Desse ponto, não há saída a
não ser pesquisar a vida espiritual, pois é no
espírito que está a causa desses efeitos.
Nesse ciclo evolutivo do Homem, o fato real
é que cada ser humano, nasce como fruto da
formação do corpo humano, cresce, envelhece e morre. Com
que objetivo? A vida, dada a complexidade das relações
entre os seres humanos, animal e vegetal e o meio ambiente, tem que ser
de extrema relevância de alguma forma.
O mundo espiritual é a chave do
entendimento maior. A busca constante do conhecimento da vida é
tarefa dignificante e desejável, tendo em vista o grande efeito
benéfico que isso representa para a própria
sobrevivência do homem no planeta. Religiões surgiram com
esse princípio, com o propósito de ligar o homem ao plano
espiritual.
O Espiritismo surgiu
na França em meados do
século XIX como filosofia de vida; como ciência que define
a existência da continuidade da vida após a morte e das
relações entre os planos de vida terrestre e espiritual e
como religião que trata do caráter moral dos homens e de
sua convivência em sociedade integrado ao meio ambiente. Nesse
aspecto, mantém o caráter de espiritismo cristão,
já que compreende perfeitamente os ensinamentos deixados por
Jesus Cristo, com os esclarecimentos das parábolas do Evangelho
com base na visão da continuidade da vida após a morte e
o processo de reencarnação.
Allan Kardec, o homem encarregado de codificar a
doutrina espírita sob a luz da Espiritualidade Maior, ao iniciar
os seus estudos sobre espiritismo e perceber que a existência de
espíritos, que nada mais são do que os próprios
homens que habitaram a Terra ou não, em diferentes corpos,
mantendo diferentes graus de capacidade intelectual e moral,
compreendeu que o simples fato da existência de outro plano de
vida e a possibilidade de contato entre eles já era algo de
imensa relevância com implicações fundamentais nas
relações entre os homens.
O Espiritismo é, portanto, ao mesmo tempo
filosofia, ciência e religião que tem por objetivo colocar
o homem em constante reflexão em busca de um caminho melhor para
a sua evolução espiritual rumo à felicidade
eterna. Infelizmente, como sempre aconteceu com muitos que se
propuseram em missões semelhantes, o Espiritismo sofreu e sofre
fortes preconceitos infundados ou por ignorância ou por
interesses diversos. Mas o seu crescimento é
incontestável e representará fundamental papel na
evolução espiritual do planeta Terra no futuro,
contribuindo para a harmonia universal dentro da Lei de Deus. Cabe a
nós, os obreiros do bem, dar uma pequena parcela nesse processo.
A filosofia espírita pode ser resumida
pelos seus princípios fundamentais proferidos em discurso por
Allan Kardec e publicados na Revue Spirite:
"Crer
num Deus todo-poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e na
sua imortalidade; na preexistência da alma como única
justificativa da presente existência; na pluralidade das
existências como meio de expiação,
reparação e adiantamento intelectual e moral; na
perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na felicidade crescente
com a perfeição; na remuneração
eqüitativa do bem e do mal, segundo o princípio: a cada um
segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem
exceções, favores nem privilégios para criatura
alguma; na duração da expiação limitada
à da imperfeição; no livre-arbítrio do
homem, deixando-lhe a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade
das relações entre o mundo visível e o mundo
invisível; na solidariedade que liga todos os entes passados,
presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida
terrestre como transitória e uma das fases da vida do
Espírito, que é eterna; aceitar corajosamente as provas,
visto ser o futuro mais desejável que o presente; praticar a
caridade por pensamentos, palavras e obras, na mais ampla
acepção do vocábulo; esforçar-se cada dia
para ser melhor do que na véspera, extirpando da alma alguma
imperfeição; submeter todas as suas crenças ao
controle do livre exame e da razão e nada aceitar por uma
fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais
irracionais que nos pareçam e não violentar a
consciência de ninguém; ver enfim, nas descobertas da
Ciência, a revelação das leis da Natureza, que
são as leis de Deus".
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Referências:
Drauzio Varella. 2006. Borboletas da alma, Companhia das Letras, SãoPaulo, 387p.
Allan Kardec. 1868. O espiritismo é uma religião? Revista
Espírita, ano XI, v. 12, dez. 1868, Edicel, São Paulo, p.
351360.
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