Ano 14 Número 501 2005



30 de Outubro de 2005


"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, 
face a face,
em todas as épocas da humanidade"

Allan Kardec



 ° EDITORIAL

Reflexão sobre a Vida, Kate Silva, Brasil





 ° ARTIGOS

Primeiro Encontro Espírita Italiano, Elsa Rossi, Inglaterra

Lei de Justiça, Amor e Caridade, Christiano Torchi, Brasil

Pequena Reflexão Sobre a Posse de Armas, Cláudio Fajardo, Brasil




 ° HISTÓRIA & PESQUISA

Revue Spirite  - Journal D´Études Psychologiques, Coleção 1858 - 1876





 ° QUESTÕES & COMENTÁRIOS

Visão a Distância, Carlos Iglesia, Brasil





 ° PAINEL

Agência Noticiosa Espírita, ADEP, Portugal


Numeração do Curso de Ciência & Espiritismo


Um Homem D´Outro Mundo, Alexander Zimmer, Brasil


I Fórum de Bioética de Santos, Giovani Campos, Brasil






 ° EDITORIAL

Reflexão sobre a Vida, Kate Silva, Brasil

Apresentação

A opinião muito bem expressa pela Kayte Silva na mensagem publicada abaixo é muito oportuna e nos faz refletir muito sobre o Dom da Vida. Temos visto ultimamente pela televisão, uma enorme quantidade de conflitos e catástrofes naturais acontecendo pelo mundo afora. Será que nós seres humanos não somos os maiores responsáveis pela existência dessas tragédias? Reflitamos um pouco sobre a questão e passemos a adotar uma postura permanente em nossas vidas, que venha contribuir efetivamente com a Paz e o equilíbrio no mundo.

Tomamos a liberdade de usar o artigo da Kayte Silva como Editorial para esta edição do nosso boletim, pela excelência da mensagem contida nele. Nossos agradecimentos a ela.

Muita Paz,
Editores do GEAE


Reflexão sobre a Vida

Dia desses, assistindo um programa de televisão intitulado, Vivendo entre os mortos, que abordava um ajuntamento de pessoas, homens, mulheres, crianças recém-nascidas e jovens de uma gangue, todos de nacionalidade haitiana, senti-me envergonhada das minhas próprias atitudes. Por vezes, sem me dar conta, reclamo disto ou daquilo que de acordo com a minha visão limitada das coisas, deveria ser de outra forma.

Este documentário mostrava a dura realidade destes indivíduos que por não terem condições de adquirir uma habitação digna, foram viver nas jaziguas de um cemitério.

Eu me perguntei aturdida.

- Meu Deus! Que mundo é este em que vivemos?

Todavia, embora o insólito da situação, o que mais prendeu minha atenção foi a frase dita por uma mulher anciã, cujas lágrimas escorriam por suas faces e quando indagada pela repórter do porquê, ela explicou que chorava porque a filha havia ido embora deixando aos seus cuidados, 10 filhos, todos ainda menores de idade que ela e marido, ambos sem trabalho não sabiam como sustentá-los a todos. Em seguida a pobre anciã completou aflita.

- Se o suicídio não fosse um pecado, há muito que eu estaria morta.

Esta frase me fez refletir horas a fio na importância da fé na vida de um ser seja ele encarnado ou desencarnado, na improtância de se acreditar em alguma coisa que nos impeça de nos atirarmos nos abismos das sombras. Se eu digo nós, é porque neste drama da vida nós, você também, estamos incluídos. Nenhuma criatura está isenta de vivenciar uma situação conflitante capaz de nos levar ao desespero, a descrença, a falta de fé e confiança em quem nos criou.

Aquela valiosa alma da anciã, da reportagem, avó de 10 nestos, é o exemplo vivo de que por mais sérios sejam nosssas dificuldades do dia-a-dia, nunca devemos perder a esperança.

Neste caso em particular, a pobre senhora continuava com suas lutas, por acreditar que o suicídio é um pecado. Como seria bom se alguma alma generosa a pudesse elucidar que o suicídio não é apenas UM PECADO, segundo algumas crenças, e sim, muito mais que isto! O suicídio é o quebrar de um elo que no tempo certo seria desatado. O suicídio não é apenas um pecado, é uma das maiores de todas as agressões as leis do criador, que estabeleceu para cada um de nós seus filhos, o tempo certo para abadonar a vestimenta física, não cabendo a nós, seres encarnados e nescessitados de clemência e piedade, abreviar este tempo com a desculpa de estarmos fazendo algo de bom para nós mesmos. Não cabe a nós, que amparados pela misericórdia Divina, a nós que imploramos por esta oportunidade de renacer em um novo corpo para cumprir as tarefas que deixamos incabadas, interromper este processo natural que é, nascer, viver e desencarnar, com a idéia do nada depois do túmulo. Não nos deixemos levar pela fraqueza moral nem pelos ataques dos seres das sombras que rondam nossos passos esperando que tropecemos para nos empurrar para o abismo.

Penso que contra esta ilusão do suicídio, do dormir para sempre, do estarei livre dos meus problemas, só existe um antíduoto; a fé em um Deus supremo que nunca nos abandona, que sempre, nos momentos mais difíceis, coloca em nosso caminho amigos disfarçados de anjos, com suas asas ocultas para nos amparar e progeter.

Não importa qual seja tua religião, pois não é ela quem nos salva, e sim, nossos atos e atitudes perante a vida e a tudo que nos cerca.

Para nós, os espíritas que acreditamos e defendemos a idéia da reencarnação, a idéia de que nada se perde para sempre, a certeza de que existe vida depois da vida, para nós espíritas convictos de que os nossos infortúnios de hoje são as consequências das nossas más ações das nossas vidas passadas e que nosso bem-estar futuro depende da semente que difundirmos no presente, o comprometimento é muito maior.

Temos, nós, o dever de refletir em frases como esta; "Se o suicídio não fosse pecado, há muito eu estaria morta", e procurar permanecermos atentos para ver se não estamos nos omitindo perante dramas como estes.

Esta anciã haitiana acredita em alguma coisa, é isso que a impede de por termo a vida. Entretanto, quantas centenas e centenas de pessoas existem espalhadas pelo mundo que não possuem o antídoto contra os males físicos e espirituais, se deixando arrastarem pelo desepero, interrompendo a vida, o presente maior que Deus nos deu?!

Vamos pensar nisso, meus amigos para saber dar uma melhor direção aos nossos passos.

Abraços fraterno a todos.
Kayte Silva.


Índice

 ° ARTIGOS


Primeiro Encontro Espírita Italiano, Elsa Rossi, Inglaterra

Movimento Espírita Italiano

No dia 9 de Outubro de 2005 aconteceu na cidade de Lecco, na Sala di Conferenze – P. A. Volontari del Soccorso di Calolziocorte, o Primeiro Encontro Espírita Italiano, com a presença de 23 participantes, vindos da cidade de Aosta (Centro Italiano Studi Spiritici Allan Kardec – 1 pessoa), cidade de Lecco (Gruppo Lechese Allan Kardec - 3 pessoas) , Milao – 9 pessoas sendo 5 do Sentieri dello Spirito, cidade de Belluno (Gruppo di Studi Spiritico de Belluno - 5 pessoas), cidade de Faenza – 3 pessoas, cidade de Peschiera – 1 pessoa Presentes ainda, Elsa Rossi (Inglaterra) Diretora do Departamento de Unificação para os Paises da Coordenadoria Europa do CEI, e Charles Kempf (França), vice presidente da União Francesa e Francofonica e Conselheiro do CEI, representando o Conselho Espírita Internacional.

Domenico Romagnolo, presidente do CISSAK, Centro Italiano Studi Spiritici Allan Kardec, representante do CEI na Itália , deu as boas vindas a todos. A prece de abertura foi feita por Gecy Lucia Savi, diretora do Gruppo di Studi Spiritico de Belluno. Em seguida, foi lido uma saudação do Secretário Geral do Conselho Espírita Internacional, sr. Nestor J. Masotti.

Justamente neste dia, aconteceu na Itália a greve dos ferroviários e aeroviários, impossibilitando que 8 pessoas inscritas pudessem participar.
A curiosidade de Lecco é que nesta cidade, o compositor brasileiro Carlos Gomes, quando encarnado, mantinha uma residência onde permanecia na Europa para realizar os consertos. Hoje Villa Gomes é um parque cultural e foi transformada em um Conservatório Musical, constando no parque toda a informação e foto do compositor.

A reunião transcorreu em clima de muita fraternidade. Todo trabalho exposto em slides por Charles Kempf, Elsa Rossi foram baseados nos folhetos CONHEÇA O ESPIRITISMO E DIVULGUE O ESPIRITISMO, em italiano, além de trechos de Obras Póstumas e Livro dos Médiuns, traduzidos ao Italiano. Todos os presentes receberam uma pasta contendo Apostila do Encontro, material de divulgação do Espiritismo, marcador de páginas, um livro espírita em Italiano. Os crachás e marcador de páginas, assim como outros materiais foram feito com esmero e muita dedicação, pelos anfitriões dirigentes do Gruppo Lecchese Allan Kardec, Regina Piccoli e Evi Alborguetti.

As dinâmicas das atividades desenvolvidas foram baseadas no Curso Internacional para Capacitação do Trabalhador Espírita proporcionado pelo Conselho Espírita Internacional e apoio da Federação Espírita Brasileira, em Julho de 2005 em Brasília.

Foi dado ênfase ao documento aprovado pelo CEI “Diretrizes para a Formação de um Pequeno Grupo de Estudos da Doutrina Espírita”, montado pelo Allan Kardec Study Group de Londres, e a Federação Espírita Uruguaya.

Para este Primeiro Encontro Espírita Italiano, foi criado um painel com os documentos do CEI em 15 idiomas. Foi montada uma pequena livraria com títulos de livros em italiano.

Na segunda parte das atividades do dia, foi criada uma Comissão composta por: Evi Alborguetti, Regina Zanella, Regina Piccoli, Domenico Romagnolo, Motta Figueiredo e Elsa Rossi para estudar o estatuto da futura Instituição Nacional que responderá pelo Movimento Espírita na Itália. Este estatuto será apresentado para apreciação de todos, no próximo Encontro que acontecera em 6 de Maio de 2006. Por maioria de votos, foi aprovada a cidade de Milão – sede do Sentieri dello Spirito dirigido por Regina Zanella e Maximo Oliva, para anfitriar o próximo Encontro.

Abraços,
Elsa Rossi

Índice

Lei de Justiça, Amor e Caridade, Christiano Torchi, Brasil


A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais.” (LE, 875)

De todas as Leis Morais, esta é a mais importante, uma vez que o progresso da humanidade tem seu princípio na sua aplicação, que se funda na certeza do futuro espiritual das criaturas e encerra todas as condições da felicidade do homem. Como alertam os Espíritos superiores, esta lei é a mais importante, por ser a que faculta ao homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras (LE, 648).

Por si só, a existência e o funcionamento das outras leis morais constituem a maior prova da Justiça, do Amor e da Caridade com que a Providência Divina distingue as suas criaturas.

Entretanto, quis Deus que também os homens praticassem essas leis entre si. Por isso, devemos procurar em nosso relacionamento com os semelhantes e mesmo conosco o ideal de Justiça, Amor e Caridade.

Entre os Ocidentais, a Justiça, na definição herdada do Direito Romano, de cunho pragmático, material, é a constante e firme vontade de dar a cada um o que é seu. A definição dada pelos Espíritos, a nosso ver, contudo, é mais abrangente e precisa: “A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais” (LE, 875).

O sentimento de Justiça é inato (pré-existente) no homem, o qual se revolta com a simples idéia de uma injustiça, entretanto, esse sentimento precisa ser aprimorado e desenvolvido pelo progresso moral de cada um de nós, pela prática do bem e da compreensão dos problemas alheios. Muitas vezes, em meio ao sentimento de justiça natural, misturam-se as paixões humanas que induzem as pessoas ao erro.

Por isso se diz que as leis humanas ainda são um pálido reflexo da Justiça verdadeira, porque, sendo mutáveis, elas apenas refletem os costumes e os caracteres da sociedade de uma determinada época. Assim, a justiça terrena é do tamanho da evolução do homem, o que já não acontece com a Justiça Divina, que é imutável.

Jesus, o mestre dos mestres, legou-nos a base da verdadeira Justiça, consagrada na sublime lição: “Queira cada um para os outros o que quereria para si mesmo”, o que significa dizer que Deus imprimiu no coração do homem a regra da verdadeira justiça, fazendo com que cada um deseje ver respeitados os seus direitos. Afinal, em condições normais, ninguém desejaria o próprio mal.

Quando estivermos em dúvida quanto ao nosso procedimento em relação ao semelhante, procuremos saber como gostaríamos que o semelhante procedesse em relação a nós, em circunstância idêntica. A resposta que encontrarmos será a que deverá ditar nosso comportamento em qualquer circunstância da vida.

O primeiro de todos os direitos naturais do homem é o de viver, motivo pelo qual ninguém tem o direito de agir contra a vida do semelhante.

O desejo de possuir no homem é natural, mas se transforma em egoísmo quando este deseja possuir somente para sua satisfação pessoal. A propriedade legítima é a aquela que foi adquirida sem prejuízo de outrem. Todavia, a acumulação de bens sem utilidade para ninguém, ou apenas para saciar as paixões, constitui um atentado contra a Lei da Justiça, do Amor e da Caridade (LE, 881 a 885).

Caridade não é, como muita gente imagina, pura e simplesmente prestar auxílio material aos necessitados.

O Espírito Neio Lúcio, no livro Jesus no Lar¹, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, no cap. 16, traz uma linda história, cuja autoria é atribuída a Jesus, que bem resume o espírito da Caridade:

“Em zona montanhosa, através de região deserta, caminhavam dois velhos amigos, ambos enfermos, cada qual a defender-se, quanto possível, contra os golpes do ar gelado, quando foram surpreendidos por uma criança semimorta, na estrada, ao sabor da ventania de inverno.

Um deles fixou o singular achado e clamou, irritadiço: - ‘Não perderei tempo. A hora exige cuidado para comigo mesmo. Sigamos à frente’.

O outro, porém, mais piedoso, considerou:

- ‘Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em humanidade’.

- ‘Não posso - disse o companheiro, endurecido - sinto-me cansado e doente. Este desconhecido seria um peso insuportável. Temos frio e tempestade. Precisamos ganhar a aldeia próxima sem perda de minutos’.

E avançou para diante em largas passadas.

O viajor de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o menino estendido, demorou-se alguns minutos, colando-o paternalmente ao próprio peito e, aconchegando-o ainda mais, marchou adiante, embora menos rápido.

A chuva gelada caiu, metódica, pela noite a dentro, mas ele, sobraçando o valioso fardo, depois de muito tempo atingiu a hospedaria do povoado que buscava. Com enorme surpresa, porém, não encontrou aí o colega que o precedera. Somente no dia imediato, depois de minuciosa procura, foi o infeliz viajante encontrado sem vida, num desvão do caminho alagado.
 
Seguindo à pressa e a sós, com a idéia egoística de preservar-se, não resistiu à onda de frio que se fizera violenta e tombou encharcado, sem recursos com que pudesse fazer face ao congelamento, enquanto que o companheiro, recebendo, em troca, o suave calor da criança que sustentava junto ao próprio coração, superou os obstáculos da noite frígida, guardando-se indene de semelhante desastre. Descobrira a sublimidade do auxílio mútuo... Ajudando ao menino abandonado, ajudara a si mesmo. Avançando com sacrifício para ser útil a outrem, conseguira triunfar dos percalços da senda, alcançando as bênçãos da salvação recíproca.” (Destacamos).

Concitados por Kardec a falarem sobre a esmola, os Espíritos mostraram-se enfáticos: “Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa-vontade de alguns” (LE, 888).

O que os Espíritos reprovam não é a esmola ou o auxílio material em si, que pode ser muito útil e indispensável numa emergência, mas a maneira por que habitualmente é dada. O homem de bem, que compreende a caridade de acordo com Jesus, vai ao encontro do miserável, sem esperar que este se humilhe, estendendo-lhe a mão (LE, 888a).

A legislação humana, inclusive a brasileira, nesse aspecto, vem sendo aperfeiçoada cada vez mais. Atualmente, prestigia-se muito o promover o ser humano menos afortunado, dar-lhe condições de garantir por si mesmo o seu próprio sustento, por meio da educação, do ensino profissionalizante e de outras atividades úteis que o auxiliem na manutenção e lhe dêem condições de vida digna. Não se concebe o auxílio material puro e simples a uma pessoa, durante vários anos, tornando-a dependente de nossa ajuda, como a prática da caridade legítima. Foi muito feliz e verdadeiro certo autor (anônimo para nós), ao enunciar tão grande máxima:

“Dê um peixe a um homem e o estará alimentando por um dia; ensine-o a pescar e o estará alimentando por toda a vida”.

Felizmente, a cidadania e o voluntariado estão caminhando rumo à maioridade, no Brasil. Nota-se a existência de uma revolução social silenciosa, neste sentido, que está apenas ensaiando os primeiros passos. Muitas famílias estão sendo beneficiadas com iniciativas desse gênero, por parte de organizações não-governamentais. As pessoas estão se sentindo mais úteis e mais felizes. Estão crescendo mais, em todos os sentidos. A doutrina jurídica cunhou o termo “Terceiro Setor” (o primeiro setor é o Governo, o segundo, as empresas e o terceiro, a sociedade civil) para identificar as instituições de direito privado, sem fins lucrativos, criadas e qualificadas com vistas ao exercício da solidariedade em favor do próximo. É a própria sociedade a ocupar o espaço deixado pelo Estado, em busca de uma qualidade de vida melhor para os cidadãos, em todos os aspectos.

Não sem motivo 2001 foi escolhido pelas Nações Unidas como o “ano internacional do voluntariado”, que encontrou grande repercussão no Brasil, graças à sua vocação espiritual, o que é uma grande oportunidade para se fortalecer em nossas terras as tradições de solidariedade que proporcionarão a construção de uma cultura de responsabilidade social enorme, inclusive nas empresas, uma vez que a economia não deve ser um fim em si mesma, mas sim um instrumento de engrandecimento humano, em todos os aspectos.

Como diz Stephen Kanitz², no suplemento do Guia da Cidadania, editado pela Abril³,

“Para resolvermos nossos problemas sociais, é necessário o envolvimento individual de cada um. Empresas podem doar recursos, o Estado pode recolher impostos, mas é o indivíduo em última instância que faz a diferença.” (Destacamos).

Entretanto, não podemos nos esquecer de que a fé sem obras é irmã das obras sem fé, posto que as atividades de benemerência constituem apenas um meio, uma vez que o fim almejado pelo trabalho social coletivo - que é a promoção do ser humano - repousa na espiritualização desse mesmo ser, de edificação paciente e progressiva, motivo pelo qual não pode basear-se apenas sobre a preocupação individualista dos seus empreendedores, sob o risco de degenerar em personalismo destruidor.

Como sabemos, há muito tempo os Centros Espíritas estão praticando esta modalidade de trabalho, sem estardalhaços, de forma silenciosa, fornecendo não somente o pão material e a instrução, mas principalmente a formação moral e espiritual dos seus freqüentadores, com fundamento no Espiritismo, um contributo à conquista não só dos direitos de cidadão comum, mas também da cidadania espiritual, tornando-os pessoas conscientes da necessidade de seu engajamento na era espiritual que se avizinha.

O apego às coisas materiais denuncia a nossa inferioridade, porque, quanto mais nos apegamos aos bens deste mundo, tanto menos compreendemos o nosso “destino”. Pelo desinteresse, ao contrário, demonstramos vislumbrar o futuro de um ponto mais elevado (LE, 895 e 897).

Ressalve-se, porém, que o desinteresse caracterizado pela prodigalidade (gasto excessivo) revela irresponsabilidade daquele que assim age. A riqueza representa um depósito de que uns e outros terão de prestar contas, porque terão de responder por todo o bem que podiam fazer e não fizeram, por todas as lágrimas que podiam ter estancado com o dinheiro que deram aos que dele não precisavam (LE 896).

Conforme ensina Jesus, a Caridade (LE, 886) abrange três requisitos essenciais:

a) benevolência para com todos (inclusive auxílio material, em casos emergenciais);
b) indulgência, isto é, compreensão para com as imperfeições do próximo [LE, 903 e 904], o que não significa cumplicidade com o erro; e
c) perdão às faltas alheias.

A Caridade é a maior das virtudes, porque proporciona aos homens colocar em prática o mandamento essencial que consubstancia os demais:  “amar ao próximo como a si mesmo” (ESE, XI:1-10). A essência desse amor visa, acima de tudo, à regeneração do homem pela educação, pela conquista de si mesmo. Essa a proposta do Consolador (GE, I:26-28) prometido por Jesus (LE, 876 e 878). Consciente de que o progresso moral e intelectual liberta a criatura humana, o Espírito Emmanuel chegou a afirmar que a maior caridade que se faz é a divulgação da Doutrina Espírita.

Como ensinam os Espíritos, o amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito.

Jesus também ensinou que devemos amar aos inimigos, assim entendido não o amor terno e sem jaça (sem mácula) que ainda não sabemos dar, devido à nossa falta de evolução, mas que, pelo menos, nos esforcemos em perdoá-los e lhes retribuamos o mal com o bem (LE, 887). Quem assim procede é o primeiro beneficiado, pois, além de não se nivelar ao erro do adversário, libera as suas tensões e torna-se mais livre. Trata-se de um procedimento científico, de uma terapêutica infalível, que nos assegura saúde física, psíquica e equilíbrio moral.

¹ 1994, p. 76-77 (Feb).
² www.filantropia.org
³ 2001, p. 74.


Índice

Pequena Reflexão Sobre a Posse de Armas, Cláudio Fajardo, Brasil

E eis que um dos estavam com Jesus, estendendo a mão, desembainhou a espada e, ferindo o servo do Sumo Sacerdote, decepou-lhe a orelha. Mas Jesus lhe disse: “Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão…” (Mt, 26: 51 e 52)

A questão do uso de armas pelo homem é tão antiga quanto a própria história da humanidade. Porém, foi Jesus, para nós ocidentais que nos tornamos cristãos, o primeiro que nos levou a pensar sobre o assunto de uma forma mais ampla.

Jesus disse a que veio:
"Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância." (Jo, 10: 10)

E nós, a que viemos? Será que já pensamos sobre isso?

O homem atual, segundo a ética dominante, justifica dizendo que é lícito armar-se por motivo de defesa, pois se não, como defender-se de bandidos?

Aquele discípulo do Senhor que desembainhou a espada também pensava em defesa, e o que seria mais justo ainda, defender o Príncipe da Paz, o Homem Amor.

Todavia, o próprio Jesus foi imperativo: “Guarda a tua espada…

A reflexão deve, portanto, ser aprofundada…

O que é o homem?

O dicionário responde: “Indivíduo da espécie animal que apresenta o maior grau de complexidade na escala evolutiva; o ser humano.” (Aurélio)

Porém, em uma visão mais espiritualista podemos afirmar que não somos seres humanos e sim que estamos seres humanos.

É que o homem é um ser espiritual em trânsito da brutalidade para angelitude.

O objeto da vida é tornar o ser melhor ou espiritualizá-lo; ou ainda, aproximar a criatura de seu Criador.

Entretanto, os adeptos do porte de armas podem afirmar que nada disso deve impedir o homem de lutar em favor da defesa da vida. Nesse ponto perguntamos, o que deve ser entendido por defesa? E como entender o vocábulo vida?

Tendo por objetivo a espiritualização, devemos defender o corpo ou o espírito? É uma atitude moral matar mesmo que em legítima defesa? O tema é polêmico e não temos a pretensão de solucioná-lo e nem de esgotar o tema; todavia, foi Jesus quem alertou: "Pois aquele que quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas o que perder a sua vida por causa de mim esse a salvará. Com efeito, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele perder ou arruinar a si mesmo?" (Lc, 9: 24 e 25)

Desta forma fica claro, a brutalidade e o armamentismo sempre existiram, porém, os grandes mestres do espírito, desde o Tao até o Evangelho, promovem é a vida e a segurança espiritual; e segundo o ensinamento de todos eles o desarmamento que se faz necessário é o do coração.

No plano em que vivemos vida e morte se alternam em matéria de conceito. O que é vida para uns para outros é morte e vice versa. Para o espiritualista convicto o sacrifício do que é transitório é passo para a vida.

O Cristo foi claro a respeito. Nós nos dizemos cristãos, todavia de que lado estamos? Será que somos cristãos com ou sem o Cristo? Será que queremos ser contados entre aqueles anônimos que ficaram com ele até o fim, ou dos que falando de uma forma fizeram de outra?

Pensemos…

Qando gritamos em favor da vida, de que vida estamos falando?

Cláudio Fajardo

Índice

° HISTÓRIA & PESQUISA

(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas")

Revue Spirite  - Journal D´Études Psychologiques, Coleção 1858 - 1876

Amigos,

É com grande satisfação que informamos que o site BIBLIOTECA ESPÍRITA VIRTUAL, da Federação Espírita do Paraná, está realizando um trabalho extraordinário de digitalização da coleção da Revue Spirite. Já estão disponíveis para consulta e download as edições completas de 1858 até 1876 e tudo indica que novas edições continuarão sendo disponibilizadas.

Os benefícios desta iniciativa para o pesquisador espírita - tanto para o que se dedica a conhecer melhor seus fundamentos doutrinários como para o que busca entender-lhe a história - são imensos. Principalmente as edições que se seguiram à desencarnação de Allan Kardec são extremamente raras e contém informações preciosas sobre anos decisivos para a Doutrina Espírita. Período em que ela estava bem estabelecida no velho continente - antes do recuo provocado pelos efeitos nefastos das guerras mundiais e dos regimes facistas e nazistas do entre-guerras - e começava a se estabelecer no novo mundo.

Nossos parabéns a FEP pela iniciativa e nossos agradecimentos por ter colocado ao alcance de todos nós este verdadeiro tesouro bibliográfico.

Muita Paz,
Carlos Iglesia

Índice

 ° QUESTÕES & COMENTÁRIOS

Visão a Distância, Carlos Iglesia, Brasil

Amigos,

Recebemos recentemente um questionamento sobre a "Visão a Distância" bastante interessante. Transcrevemos abaixo o e-mail que recebemos, omitindo os detalhes pessoais:

"Tenho uma filha que mora e trabalha em (...). Há alguns meses atrás ela namorava um rapaz que também trabalhava e morava na mesma cidade, contudo sua família é de outra cidade. Não cheguei a conhecer o rapaz, vi por fotografia e me senti mal, suas expressões não me agradaram. Minha filha namorou esse moço quase um ano.
   
Moro sozinha em um grande apartamento. Um dia, sentei-me à mesa para lanchar e de repente comecei a pensar sem me dar conta do filme que passava em minha cabeça. Vi minha filha na cidade de (...), na casa do rapaz. Chovia, e os vi brigando na casa do namorado. Cheguei a vê-lo numa rede gritando com minha filha. Os pensamentos continuavam divagando, e eu continuava também o lanche.
   
Em seguida, vi minha filha procurando sua bolsa e contando seu dinheiro, percebi que precisava do suficiente para pegar um taxi e para o ônibus de volta. Ela pretendia voltar para casa sem o namorado saber. Contudo, o que possuia não era o suficiente, portanto foi obrigada a permanecer na casa. Este não é um fato que mereça atenção, pois é corriqueiro, contudo, conversando com minha filha pelo telefone, narrei a ela tudo que tinha visto (pensado) e ela se assustou, pois tinha se passado exatamente como eu descrevera.
   
Procurei o estudo sobre a visão à distância e percebi que não se tratava de clarividência, porque esse fenômeno ocorre durante o sono; o espírito fora do corpo físico vê fatos que estão ocorrendo e se lembra de tudo, ou então em casos sonambúlicos, há possibilidade de acontecer o mesmo. No meu caso, eu estava acordada, comendo e pensando. Como é possível eu ter visto tudo com detalhes, se meu espírito não estava livre?
   
Eu estava sozinha, sentada, comendo e pensando. O que ocorreu comigo não foi clarividência, pois eu estava bem acordada. Não encontrei nenhuma explicação para o fato. Você já ouviu falar, ou já leu algo a respeito desse fato que ocorreu comigo ?"
   
Nossa resposta foi de que a clarividência é definida por Allan Kardec como uma propriedade inerente à alma (espírito encarnado) que dá a certas pessoas a faculdade de ver sem o auxílio dos orgãos da visão (no glosário do livro "Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas"). Ela também é chamada de "dupla vista" ou "vidência" e ocorre muitas vezes em uma situação de transe parcial, consciente ou não. Assim não há impedimento de que o fenômeno ocorra durante situações normais da vida cotidiana como as descritas no e-mail.

Possivelmente a pessoa que nos enviou o e-mail deve ter consultado a questão 447 do Livro dos Espíritos que diz que o fenômeno é o mesmo que ocorre no sono fisico. A resposta efetivamente diz que a dupla vista é resultado do maior grau de liberdade do espírito - que lhe permite ver sem os orgãos fisicos - o que também se passa no sono, mas não significa que ela ocorra somente nele. As questões seguintes trazem esclarecimentos adicionais a respeito.

Quanto ao episódio da foto, lembramos as respostas que os Espíritos deram as questões 389 e 390 do Livro dos Espíritos:

389. De onde vem a repulsa instintiva que se experimenta por certas pessoas, à primeira vista?
-- Espíritos antipáticos, que se percebem e se reconhecem, sem se falarem.

390. A antipatia instintiva é sempre um sinal de natureza má?
-- Dois Espíritos não são necessariamente maus, pelo fato de não serem simpáticos. A antipatia pode originar-se de uma falta de similitude do modo de pensar. Mas, à medida que eles se elevam, os matizes se apagam e a antipatia desaparece.

Muita Paz,
Carlos Iglesia

Índice

° PAINEL

Agência Noticiosa Espírita, ADEP, Portugal

Caros Amigos, 
 
Votos de muita paz, saúde e harmonia.
 
Como sabem, a ADEP tem um comunicado da agência noticiosa espírita que criámos, que visa informar todo o movimento espírita português das actividades que ocorrem em Portugal.

Estes comunicados têm tido uma aceitação fantástica, por parte de particulares, associações e jornalistas.
 
Assim, vimos solicitar que nos enviem informações acerca das vossas actividades para o mês de NOVEMBRO (palestras, convívios, colóquios, actividades de índole social ou cultural, outras actividades...).
 
Esta informação será enviada para cerca de 1300 endereços na Internet
                      
COMO FAZER UMA NOTÍCIA PARA NOS ENVIAR

Pretendemos que nos enviem os seguintes dados:

- o que vai acontecer
- onde
- como
- porquê
- quando
- com quem

procurando dar dados o mais claro possível (endereço da associação ou do local, nº de porta, código postal, telefone, e-mail, etc)
 
Gratos pela vossa colaboração, com amizade,
 
A DIRECÇÃO DA ADEP
 
Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal
Apartado 161     -     4711-910 BRAGA - PORTUGAL
www.adeportugal.org - E-mail: adep@adeportugal.org
Tel: 93 - 825 61 34 ; 96 - 161 04 57

Índice


Numeração do Curso de Ciência & Espiritismo

Amigos,

Contam os especialistas na arquitetura andaluza - da região sul da Espanha que durante a idade média era conhecida como Al Andaluz e era o centro de uma civilização esplêndida, junção das influências culturais árabes, judaicas e ibéricas - que seus arquitetos e artistas sempre deixavam propositadamente uma pequena falha, mesmo nas obras mais belas. Era um sinal de humildade e reconhecimento de que a perfeição absoluta só pertence a Deus.

Lembramo-nos desta pequena curiosidade histórica para - sem a pretensão de nos igualarmos aos artistas que construiram monumentos de grande beleza como o pátio dos leões no Alhambra de Granada - nos conformarmos com o fato de que, por mais revisões que façamos nos textos dos Boletins, sempre escapa algum pequeno engano. Não de propósito, como no caso dos mestres andaluzes, mas mesmo assim serve para nos lembrar de nossas limitações.

Na última edição do Boletim deixamos escapar um pequeno erro de numeração no título da última aula do Curso de Ciência & Espiritismo. Em vez de ser a 20ª aula como foi publicado, o correto seria 18ª. Já corrigimos a cópia disponível no site do GEAE - www.geae.inf.br/pt/boletins


Muita Paz,
Carlos Iglesia
editor@geae.inf.br


Índice


Um Homem D´Outro Mundo, Alexander Zimmer, Brasil

Sr. Editor

 

Estamos em cartaz no Rio de Janeiro, no Teatro Ipanema com um espetáculo musical entitulado UM HOMEM D'OUTRO MUNDO, sobre a vida do Chico Xavier.

Nosso espetáculo se preocupa em contar a história de vida de uma pessoa que foi um exemplo de humanidade, compaixão e solidariedade.
Gostaríamos muito que você pudesse nos dar uma força, divulgado nosso espetáculo no site. Para isso, lhe enviando o endereço do site, para que você possa saber um pouco mais sobre o espetáculo.

Quero desde já convidá-lo para assistir.

O site do espetáculo é www.umhomemdoutromundo.kit.net
 
Agradeço desde já.
 
Alexander Zimmer

Índice

I Fórum de Bioética de Santos, Giovani Campos, Brasil

Fórum discutirá temas da atualidade englobando os principais temas da bioética: eutanásia, utilização das células-tronco, aborto do anencéfalo.
 
Acontece dia 05 de novembro a partir das 8h, na Universidade Santa Cecília, o I Fórum de Bioética de Santos. Os temas serão "Questões Bioéticas e a Espiritualidade", com a Dra. Marlene Nobre, médica ginecologista e presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil (AME - Brasil) e Internacional (AME - Internacional) ; "Eutanásia. Podemos matar por compaixão?", Dr. Ricardo Sallum, médico otorrinolaringologista, professor titular da cadeira de Otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médica de Santos; "A questão do aborto do chamado anencéfalo", com Dra. Irvênia Luiza de Santis Prada, médica veterinária, professora titular da Faculdade de Medicina Veterinária da USP e pesquisadora de Neuroanatomia e "Mitos e Verdades sobre as células-tronco", com o Dr. Décio Iandoli Jr., médico cirurgião, professor titular da cadeira de Fisiologia da Universidade Santa Cecília.

As inscrições serão feitas apenas no dia do Fórum e todas as palestras serão interativas. Este fórum é destinado a médicos, enfermeiros e profissionais de saúde, bem como os interessados em geral pelo tema. As inscrições custam R$ 15,00. O I Fórum de Bioética tem o patrocínio da Associação Médico Espírita de Santos e o apoio  da Universidade Santa Cecília, Gardênia Flores e Pier 1. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (13) 9111-6487, com Giovana.

Índice



GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS

O Boletim GEAE é distribuido por e-mail aos participantes do Grupo de Estudos Avançados Espíritas
Inscrição/Cancelamento - inscricao-pt@geae.inf.br

Informações Gerais - www.geae.inf.br/pt/faq
Conselho Editorial - editor@geae.inf.br
Coleção dos Boletins em Português - www.geae.inf.br/pt/boletins
Coleção do "The Spiritist Messenger" - www.geae.inf.br/en/boletins
Coleção do "Mensajero Espírita" - www.geae.inf.br/el/boletins