Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

http://www.geae.inf.br

Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec

Ano 13 - Número 495 - 2005            12 de julho de 2005


Editorial

A Responsabilidade de Cada Um na Disseminação da Boa Nova

Artigos

Curso de Ciência e Espiritismo, 13ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil
Auto-Aperfeiçoamento, Felinto Elízio Duarte Campelo, Brasil
 

História & Pesquisa

Ciência e Religião, Geraldo José de Paiva, Brasil

Questões e Comentários

Espíritos na Guerra, Valéria Pereira, Brasil
Consulta sobre Mediunidade, Luis, Brasil
 
Painel
Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo, Eduardo Monteiro, Brasil



Editorial


A Responsabilidade de Cada Um na Disseminação da Boa Nova

Ao reler a nossa própria trajetória pessoal pela vida afora, constatamos muitos equívocos e paradoxos em nosso comportamento no que diz respeito a nossa atitude perante às questões relacionadas com a nossa própria existência, a existência da alma ou espírito e a sobrevivência deste à morte física, a possibilidade de um permanente intercâmbio entre o mundo físico e o espiritual, a reencarnação, enfim, essa problemática que tanto diz respeito e afeta a nossa vida.

 Em um primeiro momento, quando o véu da ignorância paira sobeiranamente sobre as nossas mentes e empana quase que por completo a nossa inteligência e razão, mantemo-nos como que anestesiados e insensíveis ao conhecimento dessa realidade. Este ainda não é o mais crítico dos momentos no tocante a nossa intransferível responsabilidade perante a vida e o progresso moral, pois somos nesta fase beneficiados pela atenuante da falta de conhecimento.

No prosseguimento da nossa jornada rumo ao conhecimento das coisas e do entendimento da própria vida, inisistimos nos enganos e paradoxos. No ponto em que já desenvolvemos relativamente o conhecimento intelectual, somos como que acometidos pela enfermidade do orgulho e da vaidade. Aí então, passamos a traçar conjecturas e imaginamo-nos as pessoas mais capazes e habilitadas a emitir um parecer rational sobre os dilemas da vida e suas consequências práticas. Assumimos a postura do mais lúcido dos filósofos e julgamo-nos os únicos pesquisadores capazes de desvendar os segredos que levam à Verdade. Assim, do púlpito da nossa pedante arrogância desafiamos e debochamos daqueles que ousam enveredar pelos caminhos do autoconhecimento, especialmente os que levam à descoberta da nossa realidade intrínsica de seres imortais.

Tudo, dizemos, não passa de misticismo, ocultismo, superstição, enfim, coisas indignas de serem ao menos cogitadas e objeto de estudos e considerações mais sérias. Como diria jocosamente o lúcido escritor espírita, Hermínio C. Miranda, que ao darmos azo a tão despropositado absurdo que representam essas possibilidades temerárias, correríamos o risco de se nos deparar com o seguinte dilema: " - então, meu Deus!, somos todos espíritos sobreviventes, reencarnantes, comunicantes e até imortais! Um horror!" 

Continuamos a nossa jornada de aprendizado pelos corredores da melhor e mais apropriada de todas as escolas - a própria vida. Nessa longa caminhada, por razões e 'coincidências' que na maioria das vezes não procuramos analisar mais sabiamente, quiçá uma delas a dor, vamos nos encontrar mais adiante, em posição um pouco mais de vanguarda, e aí já até admitimos sondar essas questões existenciais com mais abrandamento. Iremos nos surpreender até, quando nos vermos mais à frente, integrados às fileiras de uma das mais variadas correntes do pensamento, seita ou religião. Como somos espíritos imortais em longa jornada de aprendizado, muito embora não tenhamos admitido tão estapafúrdia idéia por longos séculos e talavez milênios, a razão nos diz que a probabilidade mais acertada é a de que antes de chegarmos aonde nos encontramos nesta fase da vida, fizemos pouso em muitas paradas.

Como sabemos, a natureza não dá saltos. Apesar do conhecimento intelectual que até aqui adquirimos ao longo dessas pretéritas experiências vividas na carne e fora dela, bem como o abrandamento da nossa postura em relação aos questionamentos existenciais mais urgentes, e mais ainda, apesar do exercício salutar do relacionamento humano mais direto nas fileiras dos credos por onde fizemos paradas, fato é que ainda perpetuam-se os equívocos e os desacertos mais triviais. O orgulho, a vaidade e a falta de humildade empanam a nossa razão e ainda nos prendem aos atavismos do passado e nos impedem de enxergar a humanidade como uma grande família universal, da qual somos todos membros e como tal devemos nos tratar, não importando a que segmento social, filosófico ou religioso fizermos parte.

Assim, tem sido a nossa jornada, repleta de equívocos, erros e também acertos, convenhamos, mas enfim, de aprendizado. Hoje nos encontramos vivendo em um mundo em que os valores humanísticos são apregoados às escâncaras, muito embora praticados à míngua. Mas se não os incorporamos na prática em nossas vidas diária, não é por causa de ignorância ou falta de conhecimento, é opção mesmo. Afinal de contas já se vão mais de dois mil anos em que repetidamente temos recebido a visita de inúmeros mensageiros do Amor e da Verdade, os quais insistentemente têm nos falado dessas coisas, inicialmente por metáforas e parábolas, e posteriormente, em linguagem clara e incontroversa. Na altura dos acontecimentos, pois, encontramo-nos em uma situação em que não mais seremos beneficiados pela atenuante da dúvida ou falta de conhecimento. Não, este tempo já passou. A razão nos adverte e naturalmente nos impulsiona na direção de um raciocínio mais lógico e compatível com o nosso grau de progresso moral e intelectual. Quer aceitemos ou não, nossa consciência nos mostra que o princípio da responsabilidade individual é o apelo maior e constante a proclamar a máxima do "A quem mais se dá, mas será cobrado".

Depois de muitas idas e vindas aqui nos encontramos em pleno século 21, ainda um pouco atônitos por testemunhar de perto tantos equívocos, desacertos e sofrimentos, apesar de vivermos em um mundo globalizado onde o progresso tecnológico alcançou patamares jamais visto, e muitos até bem recente inimagináveis.

 Nós outros que fomos ao longo dessa jornada contemplados com a dádiva dos conhecimentos esclarecedores da doutrina consoladora dos espíritos, podemos nos considerar privilegiados. Seria este mesmo o entendimento que devemos ter frente a esta realidade?

Não resta a menor dúvida que os ensinamentos sábios e seguros da Doutrina Espírita podem ser comparados a um poderoso e eficiente jato de luz a iluminar a nossa caminhada rumo ao progresso espiritual. Entretanto, devemos compreender que temos que ir além do simples conhecimento e nos render ao seu apelo maior, quer seja, aquele que nos fala do verdadeiro senso de responsabilidade individual e comprometimento com os valores objeto da proposta espírita. Somente assim, poderemos nos sentir verdadeiros privilegiados por ter tido a abençoada oportunidade de, nesta existência, ter travado contacto com esses tão benéficos ensinamentos.

Finalmente, voltamos a nossa atenção para o ponto essencial circunscrito no título desta despretenciosa mensagem editorial.

É muito natural que queiramos dividir com os nossos irmãos um pouco daquilo que nos tem feito tanto bem. Afinal de contas, nos imaginamos preparados para iniciar tal empreitada, uma vez que entramos para as fileiras do Espiritismo já há muito tempo, diremos nós. E neste ponto, mais uma vez recorro à sutileza do humilde escritor espírita Hermínio Miranda que alhures afirmou mais ou menos o seguinte: "é fato que já entramos no Espiritismo, mas o que precisamos é ter a certeza de que o Espiritismo entrou em nós."

E aqui, encerramos com uma mensagem para todos aqueles que se põem a serviço da nobre tarefa de disseminar a Doutrina dos Espíritos, especialmente quando este reconhecido ato de caridade é dirigido para irmãos de outras culturas. Primeiramente, jamais percamos de vista que o exemplo é o maior entre todos os meios de que dispomos para o exercício desse mister. Quanto ao mais, a Doutrina dos Espíritos está assentada em base sólida e segura - A Codificação -, a qual não foi objeto de interpolações e interpretações duvidosas. Assim, tenhamos a humildade de estudá-la com dedicação e perseverança, para que possamos nos habilitar a disseminar os seus ensinamentos com simplicidade e clareza, que são características da sua própria mensagem, nos abstendo de restringi-la ou atrofiá-la com a aplicão de rótulos de qualquer natureza, pois a sua mensagem é universal e apela para o coração e a mente de qualquer ser humano, esteja ele na posição que estiver.

Muita Paz,
Antonio Leite - Editor GEAE

Retorno ao Índice

Artigos


Curso de Ciência e Espiritismo, 13ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil

O Espiritismo e a Universidade

Alexandre Fontes da Fonseca


O Espiritismo é a única doutrina espiritualista que não foi desenvolvida unicamente a partir dos esforços intelectuais de uma única pessoa ou único grupo de pessoas. Ele representa o ensinamento dos Espíritos, seres humanos despojados do corpo físico, que além de descortinarem um mundo espiritual além dos limites da matéria, eles próprios apresentaram as leis que o regem. O Espiritismo não representa o mérito de um único Espírito pois por mais inteligente e evoluído que fosse, jamais forneceria as experiências que o conjunto de Espíritos, com maior ou menor grau evolutivo, poderia dar. Essa é uma característica muito especial pois se porventura todos os livros espíritas fossem destruídos, os Espíritos poderiam se comunicar novamente transmitindo suas mensagens aos homens.


Mesmo sabendo que a autoria do Espiritismo pertence aos Espíritos, sabemos que eles não poderiam tê-la materializado sozinhos. Eles precisaram da uma mente sensata para o trabalho de codificação do Espiritismo. Coube ao nosso irmão Allan Kardec, de reconhecida altura moral e intelectual, o trabalho de receber as informações dos Espíritos, analisá-las e deduzir as leis que regem o mundo espiritual, construindo a Doutrina Espírita que é o nosso porto seguro no estudo das verdades espirituais. A formação de Kardec como educador levou-o a escrever a Doutrina Espírita de modo bastante didático, facilitando o estudo de cada pessoa interessada independente do grau de instrução.


Curiosamente, os Espíritos superiores não desejaram aproveitar o prestígio que o sobrenome Rivail detinha como educador e cientista, junto às academias de Ciência da sua época. Eles sugeriram que Rivail se utilizasse de um nome usado por ele em outra encarnação, para então assinar as obras da codificação: Allan Kardec. Esse fato é muito importante pois revela que os Espíritos superiores não tiveram a intenção do Espiritismo nascer como uma disciplina científica, no interior das cátedras, com o brilho e o respeito análogos aos das teorias modernas da época. Quiseram os Espíritos que o Espiritismo nascesse como uma humilde porém verdadeira doutrina destinada a todas as pessoas sem distinção, que não estivesse circunscrita a um meio social em especial e que não fosse privilégio de alguns poucos iniciados no campo da Ciência e da Filosofia. Os Espíritos desejaram (e desejam ainda) que as pessoas busquem conhecer o Espiritismo não pelo prestígio pessoal de Rivail, mas pelo simples e sincero interesse pelo assunto.


Estamos dizendo isso pois o Movimento Espírita já a mais de 10 anos [1] vém discutindo as possíveis relações entre o Espiritismo e a instituição conhecida como Universidade. Alguns companheiros defendem a inserção do Espiritismo na Universidade como disciplina científica e tópico de pesquisa chegando ao ponto de acreditarem ser esse o único caminho para o progresso do Espiritismo [2], enquanto que outros, sem discordarem de modo absoluto, levantam questionamentos e analisam algumas consequências dessa idéia [1].


Nesta aula, analisaremos a necessidade do Espiritismo se inserir nos meios acadêmicos como condição de sobrevivência e, em seguida, comentaremos a respeito de algumas características ideais que uma Universidade Espírita deve satisfazer, ao nosso ver, para cumprir de modo eficiente o papel que a sociedade espera de uma instituição desse porte. Os comentários a seguir foram tirados de alguns trabalhos de nossa autoria sobre o assunto, publicados na literatura espírita [3-7].


A sobrevivência do Espiritismo e do Movimento Espírita não depende da Universidade abrigá-lo como teoria acadêmica ou tópico de pesquisa. A sobrevivência do Espiritismo depende exclusivamente do Movimento Espírita, de como ele trabalha a divulgação e a prática dos conceitos e ensinamentos doutrinários (vide o Editorial deste Boletim). Aliás, assim se expressou Leon Denis na introdução do livro No Invisível: “O Espiritismo será o que o fizerem dele os homens”. Individualmente, a sobrevivência do Espiritismo depende de nosso esforço no estudo e na prática da Doutrina Espírita em pleno acordo com os ensinamentos cristãos. Podemos acrescentar ainda que a sobrevivência do Espiritismo depende da recomendação do Espírito de Verdade presente no ítem 5 do Cap. VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Espíritas! amai-vos, este o primeiro mandamento; instruí-vos, este o segundo”. Se soubermos nos amar uns aos outros (respeitando nossas diferenças e limitações) e nos mantermos sempre estudando (Jesus: “conhecereis a verdade e ela vos libertará” JO 8,32), toda atividade que iniciarmos em nome do Espiritismo progridirá tendo o apoio dos bons Espíritos.


Se a inserção do Espiritismo na Universidade não é condição necessária para sua sobrevivência, isso não significa que não pode haver benefícios decorrentes dessa inserção. Entretanto, qualquer projeto de inserção do Espiritismo na Universidade não poderá prescindir das recomendações do Espírito de Verdade de modo que o projeto esteja completo sem o risco de desvirtuar-se em seus objetivos mais nobres. Assim, antes de querermos ver tópicos espíritas divulgados nas paredes e corredores dos institutos e faculdades, devemos nos preocupar com nossa postura cristã perante nós mesmos e os colegas de trabalho. Sendo o meio acadêmico um local em que o orgulho encontra terra fértil para se desenvolver, como nós espíritas que estudamos ou trabalhamos em uma Universidade estamos nos portando com relação aos outros? Como nos sentimos quando nossos colegas obtém sucesso, destaque e prêmiações enquanto nosso trabalho caminha sem muita valorização? Como agimos perante os servidores de funções mais simples dentro da instituição que nos emprega? É certo que nos sentimos honrados ao sabermos da existência de mais uma tese espírita bem sucedida. Porém, tão importante ou mais, é ter a certeza de que o recém formado mestre ou doutor se esforçou por pautar seus atos pelos ensinamentos cristãos iluminados pelo Espiritismo. É certo que sentimos muita satisfação ao ter notícias sobre a publicação de artigos espíritas em revistas científicas, mas não devemos nos esquecer da alegria de nos sentirmos em esforço por nossa reforma íntima, muito mais necessária ao nosso aprimoramento do que o artigo científico. Não achamos que é errado buscar alargar os limites de divulgação do Espiritismo para além dos livros e periódicos espíritas. Mas a inserção do Espiritismo na Universidade, assim como qualquer projeto espírita perante a sociedade, deve ser completa e não ocorrer apenas sob o aspecto intelectual.


Aqui vale um importante comentário. O jovem espírita, estudante universitário, que deseja iniciar os estudos de pós-graduação, não deve, ao nosso ver, se sentir pressionado a realizar um projeto de pesquisa espírita. Sabemos do sucesso de alguns companheiros espíritas com teses ligadas ao Espiritismo, como a tese de Doutoramento na área de Educação da Dra. Dora Incontri [8]; na área de Psiquiatria do Dr. Alexander de Almeida [9] e de mestrado na área de Literatura de Alexandre Caroli Rocha [10] (ver Ref. [11] para conhecer uma lista de teses espíritas já realizadas). No entanto, isso não justifica nenhuma ansiedade ou precipitação em tentar realizar projetos de mestrado ou doutorado sem o apoio de um bom orientador, sem a preparação de um bom projeto em que as motivações, o cronograma de atividades e os objetivos previstos sejam bem analisados e descritos. Se um estudante espírita encontrar essas condições para a realização de seu curso de pós-graduação e tiver vontade de fazê-lo, certamente que ele terá o apoio não somente do Movimento Espírita mas também dos bons Espíritos. Mas se alguma dessas condições não puder ser satisfeita, é preferível adiar o ideal e realizar um bom mestrado ou doutorado em um assunto acadêmico usual, do que arriscar-se num projeto mal preparado e perder a chance de se formar de modo satisfatório. Ninguém deve achar que é falta de coragem moral realizar projetos de mestrado ou doutorado em outros assuntos que não envolvem o Espiritismo. O fato de uma tese ser espírita não torna os seus autores pessoas especiais e melhores que os outros assim como o fato de um projeto não ser espírita não torna o seu autor menos especial do que ninguém. Muitas vezes, uma boa tese em assunto não-espírita pode levar o seu autor(a) a conquistar oportunidades profissionais em posições de grande destaque acadêmico onde, como espírita, ele ou ela poderá fazer muito pela divulgação do Espiritismo.


Se a inserção do Espiritismo na Universidade é assunto que merece ainda muita discussão, a idéia de uma Universidade com adjetivo espírita é algo ainda mais delicado. Por exemplo, o que diríamos de um Hospital Espírita que oferecesse apenas água fluidificada e passes no tratamento aos necessitados, doentes e acidentados? Diríamos não se tratar de um Hospital e que no máximo seria uma Casa Espírita. Para que uma instituição seja um Hospital, é necessário que ela tenha tudo o que a sociedade prevê em suas leis para a existência e funcionamento de um Hospital, como médicos, enfermeiros, prédios adequados, equipamentos variados, etc. Da mesma forma, o que diríamos de uma Universidade Espírita que não satisfazesse tudo o que a sociedade espera de uma Universidade? A sociedade já conta com algumas instituições de ensino superior espíritas. Nossos comentários não se baseiam nas características dessas instituições e, portanto, não se referem a nenhuma delas. A nossa contribuição, aqui, se resume na discussão de algumas características que, ao nosso ver, são ideais para uma Universidade Espírita cumprir tudo o que a sociedade e o Espiritismo esperam dela.

Primeiramente, por ser espírita, deverá a Universidade Espírita, como um todo (instituição e servidores), pautar seu regulamento e comportamento pelos princípios da Doutrina Espírita. Sem exigir que ninguém se torne espírita (a lei garante a liberdade de crença religiosa), todas as atividades realizadas na Universidade Espírita e em nome dela deverão estar de acordo com os ensinamentos doutrinários e cristãos. Sendo uma instituição social com adjetivo espírita, a Universidade Espírita deverá ser um verdadeiro exemplo da máxima “Dai a César o que é de César e a Deus o que é Deus”, seguindo fielmente as leis civis sem faltar com as leis morais.


As pessoas olham a Universidade como um local de progresso, de geração de riquezas, de oportunidade e estudo. Alguns a vêem como porta de entrada para uma carreira promissora e outros como o local onde a cura de determinadas doenças surgirá. O que as pessoas desconhecem é que para ter esse status a Universidade precisa realizar e manter uma série de atividades muito específicas executadas por pessoas com uma determinada formação e competência.

Uma Universidade se caracteriza pela união de diversas faculdades e institutos responsáveis, cada um, por uma área do conhecimento. Uma Universidade tem dois objetivos básicos: ensino e pesquisa. Como ensino, ela oferece cursos básicos de nível superior que preparam os indivíduos para a exerção de cargos e funções junto à sociedade. Oferece, ainda, como extensão, cursos específicos voltados para o interesse de determinados setores da sociedade como a comunidade e indústrias. Como pesquisa, a Universidade realiza trabalhos de teor básico e aplicado, sob o rigor científico de cada área específica. O produto de toda pesquisa, mesmo a pesquisa básica, contribui para o desenvolvimento da sociedade e do país através de novos conhecimentos que ajudam no desenvolvimento de novas tecnologias, no aprimoramento da saúde e no desenvolvimento social. A sociedade esperará que os profissionais que atuem na Universidade Espírita tenham formação e experiência científica e acadêmica necessárias para a execução das atividades universitárias de ensino e pesquisa. Qualquer instituição que tenha como objetivo se tornar uma Universidade Espírita deve buscar a excelência tanto no ensino quanto na pesquisa.

Não podemos nos furtar da análise de questionamentos sérios no tocante à ideia de um projeto de uma Universidade Espírita. Por exemplo, deve-se exigir que os funcionários, docentes e pesquisadores de uma Universidade Espírita sejam espíritas? Como o nosso país garante por lei a liberdade de opção religiosa, acreditamos que essa exigência não cabe. No entanto, a Universidade Espírita pode ter um regulamento próprio que busque orientar estudantes e funcionários para o bom comportamento dentro da Universidade de acordo com os princípios doutrinários.


Que tipo de pesquisas a Universidade Espírita pode realizar? Em princípio, qualquer assunto é passível de ser estudado na Universidade Espírita, desde que não tenha objetivos menos dignos. Deve ela só realizar pesquisas de interesse espírita? Para ter respaldo científico a Universidade Espírita deve se dedicar, também, a pesquisas usuais. Na medida que a Universidade Espírita produzir pesquisa de boa qualidade sobre assuntos acadêmicos normais (não-espíritas), ela fortalece os seus docentes/pesquisadores para as atividades de ensino e pesquisa; se habilita a receber, através de seus pesquisadores, financiamento de instiuições públicas e privadas de fomento à pesquisa; e desenvolve uma imagem muito positiva junto à sociedade mostrando que ser espírita é ser e trabalhar de modo tão sério e responsável quanto qualquer outro setor da sociedade. Isso favoreceria, indiretamente, a realização de trabalhos de pesquisa de interesse espírita já que a Universidade Espírita poderia, então, destinar uma maior parte de sua renda para o financiamento dessas pesquisas que, infelizmente, não são reconhecidas como assuntos de interesse pelos cientistas em geral.


Os cursos profissionais de graduação e pós-graduação, cujos diplomas são reconhecidos pelos órgãos governamentais competentes, que formam os indivíduos para o mercado de trabalho, possuem custo relativamente elevado e que infelizmente não podem ser gratuitos. A Universidade Espírita primará pela honestidade jamais cobrando valores incompatíveis com os custos, definindo claramente a destinação ou o emprego dos lucros que obtiver. Deve a Universidade, então, possuir cursos sobre Espiritismo? Deve-se cobrar por esses cursos? Em nossa opinião, desde que sejam cursos livres, gratuitos e não-obrigatórios, não vemos nenhum problema. Livres no sentido de que qualquer pessoa pode ter acesso aos mesmos; gratuitos para que todos possam ter acesso ao conhecimento espírita; e não-obrigatórios no sentido de que não se deve obrigar ninguém, nem alunos e funcionários, a aceitar o Espiritismo, em respeito ao direito pessoal de opção pela crença religiosa. Além disso, o Espiritismo não deve, ao nosso ver, se tornar um estudo passível de recebimento de diploma, notas, etc., pois isso criaria um sistema de hierarquias prejudicial ao Movimento Espírita. Por exemplo, um doutor em Espiritismo seria alguém que sabe mais do que outros espíritas? Um diploma em curso de Espiritismo permitiria que o indivíduo tivesse uma melhor colocação no mercado de trabalho? Essas questões são muito importantes e precisam ser debatidas no Movimento Espírita pois a Doutrina Espírita, desde sua origem, não surgiu para ficar circunscrita a determinado meio ou grupo social e deve ser divulgada de modo gratuito, no caso de palestras e cursos, e de modo mais barato possível no caso de livros e revistas.

Para finalizar, apresentaremos um questionamento que parecerá contraditório, mas que precisa ser analisado por todos os interessados. Será realmente necessária a existência de uma Universidade Espírita? Se ela deve oferecer cursos usuais (não-espíritas); se ela deve realizar pesquisa usual (não-espírita); se ela não pode exigir que todos os seus funcionários e alunos sejam espíritas; se ela, por fim, oferecerá serviços tão bons quanto os de qualquer outra universidade; será que é necessário criar uma em especial que tenha o adjetivo espírita? Não pretendemos responder a essa questão pois o assunto não encerra aqui. Como mencionado anteriormente, já existem algumas instituições de ensino superior espíritas e desejamos que elas progridam cada vez mais, cumprindo de modo eficiente o seu papel na sociedade. Nossa intenção é trazer à tona questões necessárias para que as pessoas interessadas no assunto meditem na melhor forma de empregar seus esforços nesse ideal que, no fundo, está contido em um ideal maior que todos temos que é o de divulgar a Doutrina Espírita para toda a Humanidade. Todos os comentários, críticas e sugestões são e serão sempre muito bem vindos.

Referências

[1] A. P. Chagas, O Espiritismo na Academia? (1994), Revista Internacional de Espiritismo, Fevereiro p. 20; Março p. 41.
[2] D. Incontri, O Espiritismo na Universidade (2003) Boletim do GEAE 467.
[3] A. F. da Fonseca, O Espiritismo na Universidade: condições necessárias mas não suficientes (2004), Jornal Alavanca 490, p. 3.
A. Kardec, Revista Espírita 8, p.257, (1861).
[4] A. F. da Fonseca, Universidade Espírita: Função e Componentes (2004), Jornal Alavanca 492, p. 3.
[5] A. F. da Fonseca, Universidade Espírita: Docentes Espíritas (2004), Jornal Alavanca 493, p. 3.
[6] A. F. da Fonseca, Pesquisa Espírita e Espiritualista (2005), Jornal Alavanca 494, p. 3.
[7] Uma cópia dos artigos [3-6] pode ser encontrada em: www.ieja.org .
[8] www.uniespirito.com.br/teses/pedagogia_espirita.pdf
[9] http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-12042005-160501/
[10] www.universoespirita.org.br/contato/teseacrocha.pdf
[11] http://www.feparana.com.br/banco_teses/banco_teses.htm

Retorno ao Índice

Auto-Aperfeiçoamento, Felinto Elízio Duarte Campelo, Brasil

Aquele que, todas as noites, lembrasse todas  as suas ações do dia e se perguntasse o que fez de bem ou de mal, pedindo a Deus e ao seu anjo guardião que o esclarecessem, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar, porque, acreditai-me, Deus o assistirá”.

LIVRO DOS ESPÍRITOS - QUESTÃO 919-A

 No Evangelho de Marcos, cap. 14, v. 38, encontramos a afirmação clara e objetiva de Jesus: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação”.

 De fato, não padece dúvida que vigilância e oração são ferramentas  imprescindíveis a quem decide trabalhar o próprio aperfeiçoamento espiritual.

O hábito de vigiar os pensamentos para controlar as ações, de orar para, ao influxo do Senhor, reunir forças tornará o homem habilitado ao laborioso processo de reforma íntima.

Vigilante e fortalecido pela oração, em sintonia com o seu Guia Espiritual, animado por pensamentos sadios, o postulante à perfeição estará em condição de reverter suas reações negativas ante o infortúnio e a dor, de domar seus impulsos agressivos no convívio familiar, no exercício profissional, na relação com o próximo, no trato com companheiros de fé e com irmãos que adotam outras convicções religiosas.

Exercendo a auto-análise do seu procedimento a cada dia, vigiando e orando, desenvolverá as virtudes que aureolam a alma cristã, quais sejam: a fé sem preconceitos, o amor abrangente, o perdão amplo e incondicional, a caridade sem presunção, a esperança de confraternização universal sem restrições.

É certo que, no curto espaço de tempo de uma vida terrena, não é possível conquistar todo o progresso a que o Espírito foi destinado em sua criação, mas Deus, infinitamente sábio e misericordioso, conceder-lhe-á tantas reencarnações, neste e em outros orbes, quantas forem necessárias ao seu aprimoramento.

Retorno ao Índice  

História & Pesquisa

(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas")

Ciência e Religião, Geraldo José de Paiva, Brasil


 
Nota do Editor: O texto abaixo encontra-se publicado na ComCiência - Revista Eletrônica de Jornalismo Científico e nos foi remetido pelo amigo Pedro Vieira, com a seguinte nota:

O digno professor fez uma análise precisa e muito interessante.

Lembro-me bem de São Luís que, em O Livro dos Médiuns, resumiu de forma brilhante o papel do Espiritismo perante a Ciência, também sendo um diagnóstico preciso e um aviso sobre essa pretensa separação. Vejamos:

"Tem-se-vos dito uma coisa muito verdadeira, que desejamos relembrar-vos: que o Espiritismo é simplesmente uma moral e que não deverá sair, nem muito, nem pouco, dos limites da filosofia, se não quiser cair no domínio da curiosidade.

Deixai de lado as questões de ciência: a missão dos Espíritos não é resolvê-las, poupando-vos ao trabalho das pesquisas; mas, procurai tornar-vos melhores, porquanto é assim que realmente progredireis." (O Livro dos Médiuns, Capítulo XXXI, item XVII)

Delimitando-se corretamente as coisas, a harmonia será natural.
 
 
Ao acompanhar o noticiário relativo à eleição do papa, deparei-me com várias matérias que reuniam ciência e religião, quase sempre em oposição. Como em geral são matérias escritas por jornalistas sem especialização em um ou outro dos assuntos e, menos raro do que desejável, em nenhum deles, a informação que acaba sendo passada é repleta de confusão. Felizmente, a quantidade de notícias acaba não surtindo nenhum efeito apreciável no âmbito da cognição. No âmbito da afetividade, porém, as matérias consolidam a disposição negativa de muitos leitores em relação à religião.

Não é possível falar de ciência e religião em abstrato. Há muitas ciências e muitas religiões que mantêm relações diversas entre si. E essas relações variam com o tempo, imbricadas que estão na cultura e nas subculturas de épocas e lugares. Atualmente, por exemplo, há ramos do budismo que não têm dificuldade em pautar-se pela ciência e, pela voz do Dalai-Lama, afirmam que abandonarão o conceito de reencarnação se a ciência provar sua inexistência. O espiritismo kardecista, semelhantemente, se interessa por confirmar reciprocamente religião e ciência. O islamismo chega a afirmar que as descobertas da ciência se encontram no Alcorão. No âmbito do cristianismo, particularmente nos Estados Unidos, assistem-se a múltiplos esforços de convergência entre religião e ciência, mais da parte de teólogos que de cientistas.

Feita a ressalva de que não existe ciência nem religião em abstrato, e restringindo-nos à ciência contemporânea, de matriz ocidental, e ao cristianismo, penso que há dois ou três níveis de discussão. Ciência e religião podem ser consideradas do ponto de vista da epistemologia, enquanto modos de acesso ao conhecimento. Acredito que será importante determinar o respectivo objeto de conhecimento, o fundamento da aceitação ou rejeição desse objeto, as condições cognitivas e afetivas de acesso ao objeto, a coerência das construções relativas ao objeto. Julgo que a diferença básica entre ciência e religião reside no respectivo objeto: uma realidade não empírica de caráter intersubjetivo ou uma realidade empírica de caráter objetivo. Esse primeiro nível de discussão poderia desdobrar-se em dois, de natureza realmente distinta: o da relação entre ciência e religião e o da relação entre ciência e teologia. Teologia não é religião, e religião não é teologia, embora tenham a ver uma com a outra. No extremo, seria possível um teólogo sem religião, na conhecida atitude filosófica do als ob. De fato, a teologia não é teologal, no sentido de alcançar o próprio Deus. A comparação entre ciência e religião me parece mais natural nesse segundo nível de discussão, a saber entre duas ciências, a ciência empírica e a ciência de Deus. Como ambas são ciências, compartilham das mesmas suposições e exigências epistemológicas e constroem-se historicamente. Essa construção histórica, aliás, é que permite encontros e desencontros que, no longo prazo, podem se revelar relevantes ou superficiais. A título de curiosidade, registro a existência de um periódico editado desde 1988 em Kampen, Holanda, intitulado Journal of Empirical Theology. Aceito o segundo nível de discussão, haveria um terceiro, que é o da pessoa concreta envolvida na pesquisa científica e na adesão/não adesão religiosa. Esse é um nível de talvez maior complexidade, porque abrange a pessoa inteira e não só a atividade mental da conceituação, da proposição, do raciocínio. No restante do artigo pretendo elaborar alguns aspectos de cada um desses níveis de discussão.

Penso que relacionar religião cristã e ciência ocidental como acessos específicos às realidades empírica e não empírica ou meta-empírica é, rigorosamente falando, um beco sem saída, no qual não se devia entrar. Como não há comunidade de objeto, encontra-se a aporia bem estabelecida desde Kant. Note-se, aliás, que o melhor entendimento das provas escolásticas da existência de Deus, compendiadas nas cinco vias de Santo Tomás de Aquino, é o de que são provas de conveniência, e não de demonstração, o que nos levará ao terceiro nível da discussão. Na melhor das hipóteses, que ainda não seria uma hipótese boa, a discussão se desenrolaria, não entre ciência e religião, mas entre ciência e filosofia. Uma ilustração desse esforço encontra-se na fervorosa contenda acerca do purpose, ou finalidade do mundo Penso que a única maneira de se manter em nível epistemológico comparável seria retornar ao postulado de uma estrutura a priori de apreensão do divino ou do numinoso, proposta por Otto, com raízes em Schleiermacher e tão influente em Mircea Eliade. Infelizmente, esse postulado se revelou inoperante, pois que resultava de todo um envolvimento anterior de Otto com o cristianismo. Talvez o sagrado, de Eliade, fosse um objeto mais apropriado à comparação epistemológica, mas para seu reconhecimento bastam as estruturas de apreensão de uso comum. A analogia que me ocorre, nesse nível de discussão, é com a arte. Digo analogia, pois a comparação falha no essencial. Frente à arte e à religião, Freud em determinado momento estacou no escrutínio da psicanálise: essa não tinha recurso para entender o processo criativo do artista e a grandiosidade da religião. Talvez, assim como somos estruturados para apreender os estímulos por via dos estereótipos, isto é, por limitações cognitivas inerentes a nossa posição na escala evolutiva, estejamos também destinados a nos acercar da arte, da religião e da ciência por vias paralelas.

O segundo nível de discussão põe em pé de igualdade a ciência e a teologia. Reconhecemos nesse nível muitas semelhanças: preferência por modelos, prevalência de métodos, substituição de interesses, filiações intelectuais, disputa por recursos financeiros e, para não fugir do jargão, mudança de paradigmas ao longo do tempo. Creio que, nesse nível, ciência e teologia estão próximas. Se há interesse em aprofundar objetos específicos de que se ocupam uma e outra, por exemplo o início da vida humana, essencial para se julgar a liceidade das pesquisas com células-tronco, a teologia fará bem em inteirar-se do estado da arte das ciências da vida e essas do estado da arte da teologia. É óbvio que tal intercâmbio só terá sentido numa cultura ou sociedade em que ciência e religião são parâmetros do pensamento e da ação. É esse o caso brasileiro. Em minha experiência de ensino de psicologia da religião para alunos de graduação e de pós-graduação de diversas procedências acadêmicas, tenho observado que um entrave sério para qualquer diálogo é a desinformação relativa ao interlocutor. Assim, para retornar ao exemplo da pesquisa com células-tronco, primeiro há de se remover conceitos e preconceitos. Os teólogos não podem imaginar que os cientistas sejam incompetentes para estudar os fenômenos da vida, ou que sejam movidos pela ambição do poder, ou que sejam levianos e imprudentes na pesquisa, ou que sejam uma massa compacta entrincheirada atrás de evidências. Os cientistas tampouco podem imaginar que os teólogos sejam unânimes ou tenham o mesmo grau de certeza, ou que qualquer posição teológica alcance o estatuto de dogma (uma palavra freqüentemente mal entendida), ou que os teólogos não conheçam a história de seus próprios conceitos e teorias, ou que não saibam distinguir entre dogma e moral ou não procurem informar-se do avanço da ciência. Ao contrário, no nível da discussão científica é prudente supor entre os interlocutores sutileza e sofisticação de conhecimento, além de boa intenção e de amor à verdade e às pessoas.

O terceiro nível de discussão, a saber, o das pessoas concretas, foi, em parte, objeto de longa pesquisa que empreendi com pesquisadores da Universidade de São Paulo. Digo em parte, porque não pesquisei religiosos e teólogos em suas relações com a ciência. A descrição da pesquisa e de seus resultados encontram-se em A religião dos cientistas: uma leitura psicológica (São Paulo: Loyola, 2000). Nesse estudo interessei-me menos pela dimensão epistemológica da ciência e da religião e muito mais pelas vicissitudes pessoais e psicossociais dos cientistas na adesão ou na rejeição da religião. Entrevistei longamente vinte e seis pesquisadores com carreira consolidada nas áreas de física, zoologia e história, homens e mulheres, quase todos brasileiros, alguns de renome internacional. A entrevista tinha como eixo a resposta do entrevistado às interpelações da ciência e da religião nas esferas do pensamento e da vida. Para contextualizar essa resposta, solicitei referências ao ambiente familiar e aos anos de formação acadêmica, à educação religiosa, a alguma experiência marcante, que aproximou ou afastou da religião e da ciência, à posição de professores e colegas frente à religião, ao impacto dos estudos na formação religiosa anterior, ao eventual desenvolvimento da uma visão de vida alternativa à visão religiosa, ao interesse pelo esoterismo, à necessidade subjetiva de algum tipo de salvação, à educação religiosa dos filhos, às reações do ambiente acadêmico ao fato religioso. Como referência teórica cognitiva vali-me do modelo lewiniano do espaço de vida, que mostra a organização psíquica das diversas regiões da mente, e como instrumento de análise dos conflitos inconscientes utilizei a psicanálise, na aplicação que dela faz A.Vergote, de Leuven, à questão do ateísmo. Os resultados mais salientes da pesquisa são os que evidenciaram que nenhum dos entrevistados justificou sua adesão a uma visão religiosa ou sua rejeição dela com argumentos científicos. Ao contrário, foram as influências da família, de colegas, de grupos de amigos ou de profissão e da cultura circundante que os encaminharam, mesmo no atravessamento de crises pessoais, seja à aceitação de uma relação religiosa seja a sua recusa.

Não estou em condição de excluir casos em que as convicções científicas levem à rejeição da relação religiosa, pois encontrei essa justificativa fora do contexto da pesquisa. Entre os entrevistados, porém, tal não ocorreu. As razões de aceitação ou recusa da adesão religiosa não implicam nem a manutenção nem o abandono da religiosidade: a pesquisa encontrou tanto a manutenção refletida das referências religiosas anteriores, como a adesão a novas formas religiosas, inclusive de ordem impessoal e cósmica, como o abandono de qualquer filiação religiosa e sua substituição por um sistema de referência muitas vezes designado como secularizado. A conexão ou desconexão religiosa, com efeito, embora contenha elementos da ordem do conhecimento, é um empenho da pessoa toda. Por vezes, como Freud notou, as matrizes afetivas se opõem ao próprio conhecimento, tanto no sentido de aderir ao que o conhecimento questiona, como no sentido de rejeitar o que o conhecimento propõe. Aliás, no registro do inconsciente, foram exatamente os conflitos, resolvidos ou não, ligados à autonomia e à relação com as figuras parentais que orientaram a manutenção, a transformação ou o abandono da relação religiosa primeira. Além das matrizes afetivas, o estabelecimento social da realidade, único critério em tema tão pouco empírico como o da relação religiosa, faz depender dos grupos de referência o comportamento concreto da aceitação ou da rejeição religiosa. O que, portanto, concretamente encaminha a decisão favorável ou desfavorável à religiosidade ou ao agnosticismo/ateísmo são as prolongadas e múltiplas vivências do cientista com as diversas subculturas e com a cultura geral, que lhe fornecem o sentido de suas opções. O que parece, em abstrato, uma discussão epistemológica de primeiro e segundo nível é, muitas vezes, o precipitado das elaborações concretas desse terceiro nível de entendimento do que seja ciência e religião. É aqui que eu situaria muitos dos esforços, a que acima aludi, de fazer convergir (ou divergir) ciência e religião. Aqui, também, colocaria a posição avançada por Otto. Em outras palavras, é o contexto pessoal, grupal e cultural que fornece aos interessados, de forma pouco reflexa, os pressupostos com os quais trabalham na formulação e no encaminhamento de muitos problemas, inclusive o das relações entre ciência e religião. Porém se dermos crédito a Lacan (Le triomphe de la religion e Discours aux catholiques, Paris: Seuil, 2005), a cultura portadora da religião parte com grande vantagem, pois não há como a religião para conferir sentido, e esse sentido se faz mais imperativo na medida em que os cientistas, com o avanço da pesquisa, penetram a opacidade do real e necessitam transformá-lo em simbólico, isto é, em algo humano.

Geraldo José de Paiva é professor do Instituto de Psicologia Universidade de São Paulo.

Retorno ao Índice

Questões e Comentários 


Espíritos na Guerra, Valéria Pereira, Brasil

Ola!!

Diga-me, dia desses assisti a um filme de guerra e me ocorreu uma dúvida: como se sente um espírito ao desencarnar no meio de uma guerra, ouvindo todos aqueles tiros, rajadas, companheiros despedaçados, gritos, voz do comando dos seus superiores? A guerra traumatiza os espíritos, da mesma forma como ocorre com os sobreviventes? E o seu perispírito, como fica neste caso?

Pergunto, pois já ouvi relatos de filhos cujos pais eram sobreviventes de guerras, que ao retornarem para suas casas ja não eram mais as mesmas pessoas. Eles tornaram-se perturbados, agressivos, as vezes até mesmo violentos, tamanha era a rotina de violência com a qual se deparavam diariamente nos campos de batalha.

Obrigada,
Valéria
 

 
Prezada Valéria,

Os Espíritos que desencarnam em uma guerra são de natureza tão variável quanto os que vivem em um país que se encontra em paz. Assim sendo, haverá várias situações a analisar. Faremos uma análise simples, dividindo as situações em apenas três. No entanto, devemos saber que as variedades possíveis são inúmeras e que há uma grande estratificação entre as duas situações extremas.

O Espírito de bom grau de evolução, que está na guerra contra a sua vontade pois não ama a violência e não se compraz com a morte dos irmãos a quem os outros chamam de inimigos, desencarna com certa perturbação pois a violência choca os sentidos. No entanto, como usa seus sentidos materiais com o cuidado de não obliterar os espirituais, logra estar parcialmente alheio à violência, vibrando amor pela humanidade e orando pela paz, ao mesmo tempo em que se comporta com nobreza, auxiliando aos necessitados e sofredores que lhe é possível auxiliar, sem se preocupar sobre de que lado estão. Assim, quando desencarna, o faz auxiliado por equipes espirituais de socorro e logo se afasta do ambiente hostil.

Os Espíritos neutros, que gostam da violência, mas, mais que isso, anseiam o descanso, desencarnam envolvidos pelas emoções da luta. Apesar de não estarem encharcados de ódio pelos inimigos, se encontram, de certa forma, com todas as suas emoções focadas na batalha, pois dependem exclusivamente de seus sentidos materiais e é por eles que percebem o mundo. Podem, assim, levar um tempo um pouco maior para se restabelecerem e saírem da batalha para uma nova realidade.

Por fim, o Espírito que se compraz na guerra, que odeia figadalmente os inimigos, que sente prazer em vê-los sofrer e quer eliminá-los de todo modo, este desencarna e continua na batalha, geralmente não se dando conta de que desencarnou por dias, meses ou até séculos. Contam os Espíritos que há batalhas clássicas da história que duram até hoje, tamanho o ódio e a perturbação de alguns Espíritos que nelas estavam envolvidos.

O perispírito reflete a situação emocional do Espírito. Assim, quanto mais preso a matéria está o Espírito, mais seu perispírito refeltirá o que ocorre com o corpo. Um Espírito ignortante, ao ter o braço decepado em uma batalha, sentirá que perdeu o braço e, ao desencarnar, verá seu perispírito sem o braço e achará normal pois "sabe" que o perdeu. O Espírito evoluído, por outro lado, pode morrer em uma explosão, ter seu corpo físico pulverizado em milhões de pedaços, mas, como se sabe imortal e indestrutível, continua se sentindo íntegro e nada se passa com o seu perispírito.

Mais uma vez, falei de situações extremas. Entre uma e outra, existem inúmeras gradações.

Com respeito ao veterano de guerra, muita coisa, também, pode ocorrer. Ele pode, sem dúvida, viver acompanhado de Espíritos desencarnados cujas mortes provocou na guerra. Pode, além disso, estar ele mesmo com a mente cheia de lembranças que lhe causam sofrimento, como a morte de amigos, o desespero de mulheres, crianças e velhos a quem quiz ajudar e não conseguiu ou, pior, a quem fez morrer, por força de um ato impensado, vindo a lhe pesar, de imediato, o remorso. São muitos os problemas mentais e emocionais, para não falar dos físicos, que acometem os veternaos de guerra.

Ouçamos sempre a nossa querida Joanna de Ângelis e promovamos a paz interior, a única verdadeira. Como ela diz, a paz dos homens é imposta pelas armas e pela força. Por isso é transitória e enganosa, parecendo-se com um pântano, tranquilo na superfície mas asmático e mortífero no interior. A paz verdadeira, segundo a mentora, emerge do coração feliz, que ama, age e confia.

Muita paz
Renato Costa

Retorno ao Índice

Consulta sobre Mediunidade, Luis, Brasil

Caro Editor.

Tenho recebido vários motivos para adentrar-me nesse mundo de corpo e alma. Venho de família mediúnica e já tive indícios de mediunidade, presencial com entidades, não identificadas talvez pelo fato de não ter sido instruído na doutrina, e algumas vezes cognitivas, com previsões de fatos corriqueiros do dia a dia que, se seguidos, teriam evitado dores de cabeça a algumas pessoas.

Completo 32 anos agora em julho, pai de família e casado à 8 anos, tenho uma vida agitada, não só no emprego, onde trabalho com tecnologia, trabalho este que consome muito do meu tempo e de minha capacidade mental, além de uma faculdade de engenharia noturna, que consome aquele resto de tempo que não tenho. Esta tem sido minha vida já a três anos e creio que ainda por mais três anos se repitam.

A questão: Sinto que esteja sendo chamado para realizar aquilo que tem que ser realizado, porém não me sinto preparado para tal. Sinto que a pressão tem aumentado com o passar do tempo, porém com as pendências que tenho do dia a dia. A questão é, o quanto o chamado pode influenciar na hora de iniciar os trabalhos. Apesar da pressão, pode ser somente um lembrete de que tenho que fazer o que deve ser feito? Como ajudar ao próximo, se temos problemas internos na família que ainda não puderam ser resolvidos? Como saber exatamente qual é a hora?

Desde já obrigado
Luis

Amigo Luis,

Não tenha dúvida, o estudo e a busca do conhecimento é mesmo a melhor saída. Através do estudo consciencioso e persistente você irá aos poucos entendendo melhor a mediunidade, que sem dúvida lhe foi outorgada como ferramenta para auxiliá-lo no serviço fraterno ao próximo e no seu aprendizado rumo ao seu processo espiritual.

A Doutrina Espírita é sem dúvida o porto seguro em que você encontrará o auxílio de que necessita para ter um melhor entendimento desta faculdade que nada mais é do que um fenômeno natural, como muitos outros. Obviamente que a fonte mais segura, a base essencial, é mesmo as obras da Codificação, em especial O Livro dos Mediuns. Entretanto, temos hoje uma vasta e rica literatura no assunto,  e tomo aqui a liberdade de mencionar dois autores de minha preferência: José Herculano Pires e Hermínio C. Miranda.

Do primeiro autor recomendo a leitura da obra Mediunidade - Conceituação da Mediunidade e Análise Dos Seus Problemas Atuais.           

O Hermínio Miranda aborda a questão da mediunidade em seu caráter prático, com muita propriedade. Não tenho dúvida que muitos dos seus questionamentos serão respondidos apropriadamente através da leitura do Diversidade dos Carismas - Teoria e Prática da Mediunidade (Volume I e II). Esta é uma obra que deveria ser lida e relida e ainda transformar-se no livro de cabeceira de qualquer pessoa interessada em entender melhor os mecanismos dessa tão abrangente faculdade de que todos somos possuidores, uns em graus mais ostensivos que outros. Escritor moderno, erudito e com uma vasta experiência no trato com a questão dos fenômenos psíquicos e outros temas relacionados com a alma e as áreas do conhecimento científico ligadas a esta, tais como a psicologia, a parapsicologia, a psicanalise, e a psiquiatria, ele consegue, em uma linguagem simples e acessível ao leitor comum, nos dar uma visão bem ampla e clara da realidade do espirito e sua trajetória rumo ao progresso espiritual. O que mais gosto no Hermínio é que ao lermos as suas obras percebemos claramente a sua vasta erudição, o que somente é possível de se conceber pela aceitação da teoria das vidas sucessivas, mas a humildade é a tônica maior em suas colocações, especialmente quando opina sobre questões cujo índice de controvérsia é aparente. Sou mesmo um grande apreciador dos seus livros, os quais já passam de trinta.

Caso o amigo pretenda familiarizar-se mais com os trabalhos deste autor, eu ainda sugeriria a leitura do seu último livro, As Duas Faces da Vida, que é uma coletânea de artigos, entrevistas e conferências, as quais foram publicadas ao longo dos útimos trinta anos em diferentes veículos de comunicação. Mencionaria aqui um dos artigos - A Mediunidade da Princesa Católica - cuja leitura imagino que lhe seria muito apropriada, uma vez que vejo muita semelhança com a abordagem que voce começa a ter com o problema de sua própria experiência mediúnica. Registro aqui dois pequenos trechos do referido artigo que se encontra às paginas 169-190 do referido livro:

"Estamos lidando com fenômenos naturais, tão naturais como a chuva, o sol, as estações do ano, o crescimento das plantas, o movimento dos astros. E como fenômenos naturais, regidos por leis naturais, esses aspectos da vida deveriam ser ensinados nos lares, nas escolas, nas instituições culturais e religiosas. Deveriam constar de livros, estudos, papéis, conferências e aulas, para que não houvesse tamanho despreparo das pessoas no tratamento do que ocorre nessa área tão importante quanto desconhecida do psiquismo humano. E desconhecida porque ignorada, e ignorada deliberadamente. É uma lástima. (…)

Um dia se descobrirá  que a mediunidade, tanto quanto a reencarnação, intercâmbio espiritual e sobrevivência do ser não são invenções nem propriedades da doutrina espírita, mas fatos, realidades, aspectos relevantes da lei natural. A partir desse momento, poderá ser montado um modelo inteligente para atender às multidões que vivem, na dimensão espiritual, o desespero de suas angustiantes aflições, tanto quanto aos encarnados que ignorem os próprios recursos de que foram dotados para servir, aprender e evoluir." (Grifos nossos).

Assim meu amigo, siga em frente no seu propósito de estudar e conhecer melhor os mecanismos dessa faculdade que é ferramenta salutar no trabalho do bem.

Muita Paz,
Antonio Leite - Editor GEAE


Retorno ao Índice

Painel


Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo, Eduardo Monteiro, Brasil

Apresentação

Reunimo-nos para a criação de uma Fundação ou outra forma de Sociedade de caráter civil privado que possa gerenciar, conservar, ampliar e colocar à disposição permanente do público espírita e não espírita o patrimônio em livros, documentos, fitas de áudio e vídeo, DVDs, CDs, Jornais, Revistas, Microfilmes, objetos, quadros, etc, pertencentes ao acervo cultural espírita.

O projeto de um Centro Cultural Espírita pretende constituir-se como um aglutinador de acervos documentais (arquivos e coleções de valor histórico), informações, referências, estudos e pesquisas sobre o Espiritismo.

Tem a finalidade de produzir coleções e arquivos, e também abrigar as coleções e arquivos produzidos, acumulados ou publicados por pessoas, organizações espíritas e demais entidades. Recebidos por custódia, doação, aquisição ou parcerias.

Os documentos serão preservados em espaço especialmente projetado para conservá-los. Além de consultas feitas por estudiosos e pesquisadores, o acervo poderá servir como fonte de informação e referência para a publicação de livros, pelo Centro de Pesquisas e por editores comerciais. Poderá ser utilizado em teses de pós-graduação universitária, e servir de base para eventos, exposições, filmes, vídeos e programas de rádio, televisão e periódicos.

Incentivar, promover e elaborar projetos culturais espíritas, e desenvolver pesquisas históricas, tendo inicialmente seu próprio acervo como fonte privilegiada de consulta.

Descritivo

            Áreas do Centro de Cultura:
            A - Biblioteca
            B - Centro de documentação histórica
            C - Museu da imagem e do som
            D - Centro de mídia
            E - Centro de cultura, pesquisa e projetos

A - Biblioteca

Biblioteca especializada espírita: Biblioteca especializada de livros e periódicos separada por áreas temáticas: obras doutrinárias fundamentais e complementares; catálogo de obras espíritas; obras sobre educação, arte, literatura, história, ciências, filosofia e religião comparada.

Biblioteca de obras raras: Seleção de livros e periódicos do acervo espírita, obedecendo aos critérios de antiguidade, valor histórico e inexistência de novas impressões. Deste acervo poderá surgir uma Biblioteca Digital de Obras Raras, tornando disponível para pesquisadores e público em geral o conteúdo integral de seus títulos.

Biblioteca de monografias: Arquivo de teses e dissertações, pesquisas, e originais de livros publicados e não publicados.

B - Centro de documentação histórica

Um ambiente especialmente projetado para preservação de documentos.

Arquivo de documentos históricos: Pretende abranger: originais, cópias reprográficas, fac-símiles, digitalizados. Textos literários, históricos e jornalísticos. Correspondências, monografias, publicações periódicas (revistas, jornais, boletins informativos), comunicados e panfletos, cartazes, postais, recortes, fotografias, documentos históricos, filmes, slides, fitas de áudio.

C - Museu da imagem e do som

Composto de filmes, vídeos, fotografias, depoimentos orais, músicas, partituras e cartazes. Com uma proposta baseada na disponibilização, por reprodução, de seu acervo.

Arquivos áudio-visual: Abrange músicas, registros históricos, entrevistas, depoimentos, palestras, encontros, programas de televisão, reportagens, depoimentos, entrevistas.

Iconografia: As coleções iconográficas compreendem imagens sobre papel, constituindo um acervo documental informativo essencial ao conhecimento histórico, sociológico, artístico. São: fotografias, cartazes, selos, slides.

Estúdio de gravação: Gravação digital de vídeo, som e fotografia.  Com o intuito de resgatar a história contemporânea espírita, promover um programa de história oral, recolhendo depoimentos de personalidades que atuaram no cenário da doutrina espírita.

D - Centro de mídia

Setor de catalogação, digitalização e restauração: Esta ação visa promover o arranjo, descrição e catalogação do acervo arquivístico e bibliográfico sob a guarda do Centro Cultural do Espiritismo.

Um laboratório equipado nas áreas de conservação, restauro, encadernação, microfilmagem e fotografia, visando a estabilização ou o retardamento do processo de envelhecimento do acervo, prolongando seu tempo de vida e a qualidade de acesso às informações.

Registro do acervo do Centro Cultural do Espiritismo através da microfilmagem, digitalização e fotografia.

Pretende-se criar um banco de dados em CD-ROM para protegê-los de acidentes, arquivando cópias distintas.

Internet: Uma base de dados catalogada com o objetivo de propiciar um acesso mais rápido e eficiente às informações existentes no acervo documental do Centro Cultural do Espiritismo.

E - Centro de cultura, pesquisa e projetos

Exposições e edição de obras: Edição de obras de interesse histórico e doutrinário. Catálogos de imagens e documentos históricos. Revistas e boletins históricos e culturais da doutrina espírita. Exposições temáticas.

Banco de projetos culturais espíritas: Orientação e elaboração de projetos culturais espíritas como: edição de obras; pesquisas; exposições; eventos; convênios; etc.

Aquisições e recebimento de doações de obras e documentos.

Convênios e parcerias para administração de acervos.

Ambientes culturais: Equipamento multidisciplinar, abrigando espetáculos de teatro, dança, música, cinema e exposições de artes visuais. Pretende compreender: auditório, teatro, sala de projeção, salas de reunião, museu.

Histórico da Elaboração do Planejamento Estratégico

O Primeiro Encontro de Planejamento do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo foi realizado em decorrência de deliberação dos participantes da reunião de fundação da entidade, realizada em 24.07.2004, na sede da Fundação Herculano Pires, cidade de São Paulo.

Foram convidadas a participar do referido encontro todas as pessoas que direta e indiretamente estiveram envolvidas com as idéias e iniciativas que culminaram com a fundação do Centro de Cultura.

O objetivo do Encontro foi o de construir um conjunto de referências relacionadas com as finalidades e “modus operandi” do Centro de Cultura, visando a planejar as ações que venham a efetivamente orientar e materializar os ideais concebidos e indicados no Projeto existente.

Para a realização do referido encontro foi utilizada metodologia baseada nos princípios de Planejamento Estratégico, evitando-se o rigor técnico de todas as etapas típicas que a referida e conhecida metodologia exige. Assim foi feito em virtude  da ausência de dados e pesquisas preliminares sobre essa natureza de atividade no meio espírita e portanto, requerendo com mais flexibilidade, discussões que pudessem gerar uma compreensão mais ampla das atividades nascentes.

O referido Encontro foi realizado nas instalações do Núcleo Espírita O Semeador de Santo André e coordenado por Mário Bardella Jr., um de seus dirigentes, em virtude de sua experiência profissional na área e em virtude de outras iniciativas de planejamento  na formação de entidades / atividades espíritas.

A partir da consolidação dos dados debatidos nesse trabalho, estabelecemos nossa missão e os valores que se seguem.

Missão
· Nossa missão é preservar, apoiar e divulgar a cultura espírita para facilitar a compreensão do Espiritismo e de sua história.

Valores
· Nossa conduta deve expressar os seguintes valores e princípios fundamentais:
· Empenho e determinação em nossos esforços para formar um acervo da produção cultural do Espiritismo ou a ele relacionada.
· Transparência e respeito à ética espírita em nossa conduta pessoal, nas relações interpessoais e nas interinstitucionais.
· Asseguramento de condições financeiras para a manutenção da entidade por meio de patrocínios, parcerias, doações, contribuições, e bens ou serviços      condizentes à nossa missão.
· Estabelecimento de parcerias com entidades afins.

Participantes

Estiveram presentes no Primeiro Encontro de Planejamento as seguintes pessoas:
    · Amauri Ramos - Revista Universo Espírita
    · Carlos Alberto Iglesia Bernardo- GEAE
    · Camila de Andrade- USE/SP/Jabaquara; Fundação André Luiz; FEAS
    · Cristian Fernandes- Sociedade Estudos Espíritas “3 de Outubro”; ADELER e FEAS
    · Diógenes Lima de Camargo- Aliança Espírita Evangélica
    · Eduardo Carvalho Monteiro  - USE-SP e Liga dos Historiadores Espíritas
    · Lilia Passos Abbruzzini Quirino- Bibliotecária Aposentada
    · Mario Bardella Jr.  (Marinho)- N.E. O Semeador - Santo André
    · Noeli Aparecida Benassi Teubl- Fraternidade Universal Branca
    · Paulo Henrique de Figueiredo- USE/SP/Lapa; T.E. Emmanuel Swedenborg; C.E. Irmão Itajubá
    · Paulo Sérgio M. Peixoto- Grupo Espírita Paz e Renovação - GEPAR; 38ª. Conselho Espírita de Unificação de Niterói - 38ª. CEUNIT
    · Ricardo Almeida
    · Roberto Drágva Filho- Centro Espírita Jesus Gonçalves
    · Rubens Silva Quirino- Fraternidade Universal Branca
    · Saulo de Tarso Ferreira Netto- Centro de Estudos e Pesquisas Espíritas Allan Kardec - CEPEAK  (RJ)
    · Thiago Borges de Aguiar-  Educador - Templo espírita Emmanuel Swendenborg
    · Umberto Teubl - Fraternidade Universal Branca
    · Valdir Manenti - N.E. O Semeador - Santo André

Integraram-se posteriormente:

    > Alexandre Rocha, da Editora Lachâtre
    > Alvaro Antonio de Paula, da USE distrital Lapa e SEE 3 de outubro
    > Antonio Carlos Molina, da editora Paidéia
    > Dora Incontri, da Associação Brasileira da Pedagogia Espírita (ABPE), Ed Comenius
    > Eder Fávaro, da ADE-SP, ABRADE, RBN, TV Vivência Espírita, C.E. Obreiros
    > Geraldo Ribeiro da Silva, do GE Batuira
    > Gilvana da Silva Jacomini, Rede Boa Nova de Rádio e tV
    > Herculano Ferraz Pires, da Fundação Virgínia e Herculano Pires e editora Paidéia
    > Isabel Valle
    > Ivanir do Carmo Caurim
    > Izabel Ribeiro Vitusso, jornalista e editora do jornal “Correio Fraterno”
    > Jether Jacomini Filho, da Rede Boa Nova de Rádio e TV
    > João Roberto Nascimento
    > José Renato dos Santos
    > Julia Nezu Oliveira, da USE-SP, ADE-SP,  ABRADE, RBN, ABPE e FEAS.
    > Madison Rocha Britto
    > Marcelo Stanczyk - Centro Espírita Ismael; C E Servos de Jesus
    > Maria Lúcia Teixeira de Araújo
    > Neyde Schneider, da USE-SP e SEE 3 de Outubro
    > Oceano Vieira de Melo - Grupo Espírita Batuira - pesquisador
    > Sônia Zaghetto, Assessora de Imprensa da FEB
    > Sylvio Pellicano, do Instituto de Laborterapia, da FEESP
    > Tatiana Camargo Guerra
    > Marla Canton Cola Francisco
    > Matheus Augusto dos Anjos da Silva - Grupo Espírita Gina e LALEC
    > Oswaldo Cresto - Grupo Noel
    > Carlos Adalberto Antonellini - Grupo Espírita Gina
    > Ombretta Gori Sacco -  Grupo Espírita Gina e LALEC
    > Paula Nilza Arantes Cardoso Macedo - Templo Espírita Emmanuel Swedenborg
    > Emília Aparecida dos Santos Coutinho - Liga dos Historiadores Espíritas e Rede Hispana
    > Nilton Bustamante -
    > Walmir Ronald Guimarães Silva
    > Walter Rodrigues Rubeno
    > Wilson Rodrigues de Melo
    > Márcia Valente - Feesp e USE Jabaquara
    > Wanda Guerreiro - USE Jabaquara

Aos amigos do CCDPE que estão chegando, informamos a linha mestra dos objetivos do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo para conhecimento e divulgação a outros interessados a participar do Projeto.

Como é de conhecimento geral já temos uma sede e um patrimônio cultural em livros, documentos, hemeroteca, pinacoteca, etc.. com os quais o Centro Cultural iniciará suas atividades assim que tiver condições físicas de ocupação de sua sede e estiver regularizada juridicamente. Porisso pedimos apoio de todos nessa hora decisiva da constituição da Entidade.

Eduardo Carvalho Monteiro


Retorno ao Índice


GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS

O Boletim GEAE é distribuido por e-mail aos participantes do Grupo de Estudos Avançados Espíritas
Inscrição/Cancelamento - inscricao-pt@geae.inf.br

Informações Gerais - http://www.geae.inf.br/pt/faq
Conselho Editorial - editor@geae.inf.br
Coleção dos Boletins em Português - http://www.geae.inf.br/pt/boletins
Coleção do "The Spiritist Messenger" - http://www.geae.inf.br/en/boletins
Coleção do "Mensajero Espírita" - http://www.geae.inf.br/el/boletins