Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

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Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec

Ano 13 - Número 493 - 2005            14 de junho de 2005


Editorial

A tarefa de cada um, Antonio Leite, USA

Artigos

Veemente Defesa de Kardec, Rogério Coelho, Brasil
Curso de Ciência e Espiritismo, 11ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil
Adão e Eva, Renato Costa, Brasil
 

História & Pesquisa

O mundo em que viveu Kardec, Milton B. Piedade, Brasil
Filmes com fundo espiritualista, Gilberto Adami, Brasil

Questões e Comentários

Livre Arbítrio e Perfeição, Priscila Veiga Rocha, Brasil
Pensamento e Elementos Gerais do Universo, Gilberto P. A. Oliveira, Brasil
 
Painel
Asociacion Espirita Tercera Revelacion, Andres Abreo, Colombia
Centro Espírita Fraternidade e Amor, CEFA, USA
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita na UNICAMP - Universidade de Campinas


Editorial


A Tarefa de Cada Um, Antonio Leite, USA

Há um momento em nossas vidas em que todos nós nos rendemos ao inevitável apelo para o autoconhecimento. Enquanto isto não acontece, passamos pela vida como que anestesiados e insensíveis à realidade de nós mesmos, agindo e reagindo ao sabor dos ditames impostos pela sociedade em que vivemos.

A partir do ponto em que nos rendemos ao clamor íntimo do auto descobrimento,  iniciamos uma verdadeira cruzada na tentativa de obter respostas às questões relacionadas com o velho dilema do "Conhece-te a ti mesmo". Começamos então a questionar a nossa própria realidade existencial, a origem da vida, a razão de estarmos aqui nesta existência, o porquê das experiências ou relacionamentos a que somos expostos, e até alvoramo-nos no direito de questionar o acerto da decisão Daquele que nos criou e nos colocou nessas circunstâncias.

No extraordinário livro Memórias do Padre Germano encontramos um ilustrativo exemplo desse dilema que ainda é uma característica da avassaladora maioria dos espíritos encarnados no planeta terra, haja visto o baixo nível evolutivo dos seus habitantes. Através da maravilhosa obra de Amalia Domingo Soler, o padre Germano nos relata o dilema que viveu em uma das suas encarnações aqui em nosso orbe, na qual experimentou, como membro da igreja de Roma, a permanente e asfixiante sensação de viver se sentindo com um peixe fora d’água, especialmente ao desempenhar a espinhosa função eclesiástica de confessor. Em momento de inquietação angustiante, ele assim se manifesta:

 "Amado Deus, por que tive eu que nascer nas fileiras desta ordem religiosa?Por que Você me obrigou a ser guia dessas pobres ovelhas, meus paroquianos, se eu não posso tão pouco guiar a mim mesmo? Senhor, deve haver outras moradas no espaço, porque aqui neste planeta uma alma capaz de pensar fica asfixiada ao presenciar tanta miséria e hipocrisia. Eu desejo seguir o caminho certo, mas ao longo da jornada eu vejo tantas armadilhas!"

O exemplo é mesmo bem ilustrativo, mas cabe ressaltar que ao folhearmos as páginas deste excepcional livrinho, temos a convicção de que o padre Germano era um espírito em estágio evolutivo bem acima da maioria de todos nós e que cumpriu a sua missão naquela existência de forma exemplar, podendo mesmo servir de guia e modelo para todos nós que aspiramos passar pelos embates da vida e cumprirmos com a nossas tarefas onde quer que a vida nos coloque.

A Doutrina dos Espíritos veio para nos dar as respostas àquelas questões existencias e acima de tudo para nos mostrar com uma clareza insofismável, as razões e os porquês de estarmos aqui e expostos às experiências e aos relacionamentos que temos vivenciado nesta encarnação. É bem verdade que ela só nos dá as respostas de que necessitamos para cumprirmos com a nossa tarefa de espíritos encarnados e galgar alguns degraus a mais na nossa escala evolutiva rumo a felicidade. Mas o que é mais importante e digno da atenção de todos nós que aspiramos sincera e honestamente por um mundo de Paz e Harmonia, enfim, um mundo regenerado, é que além das respostas que obtemos através da mensagem dos espíritos, existe nesta mesma mensagem um apelo claro ao nosso senso de responsabilidade perante a Lei de Causa e Efeito. A esta sim, teremos que nos curvar, pois somente o respeito e a adesão incondicional às suas diretrizes propiciarão o advento de um mundo de Paz e Harmonia para todos nós.

Assim, que tenhamos ouvidos para ouvir e olhos para enxergar e adotemos em nossas vidas a máxima insculpida na Doutrina dos Espíritos que nos diz: "Fora da caridade não há salvação".

Muita Paz,
Antonio Leite
Editor GEAE

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Artigos

Veemente  Defesa  de  Kardec, Rogério Coelho, Brasil

Quando o Espiritismo contava apenas três anos de idade, já provocava a fúria dos detratores de plantão, em especial daqueles que se encontravam aprisionados nas constringentes e sufocantes muralhas dos ancilosados dogmas medievais, sob o guante de deslavada ignorância...

Muitas vezes (como Jesus o fazia) Kardec respondia as provocações com o silêncio; outras vezes, dava largas a monumentais réplicas que impressionavam pelo poder de demolição das argumentações antípodas.

Em agosto de 1860, quando visitava sua cidade natal, o periódico Gazette de Lyon publicou um artigo de um jornalista que se identificou apenas com as iniciais “C.M.”, intitulado: “Uma Sessão Entre os Espíritas”, lavrado com requintes de leviandade, inverdades, incoerências e abundantemente tendencioso, no qual os espíritas eram chamados, entre outros epítetos de: “alucinados” envolvidos em mil formas de aberrações, “laicos” que romperam com todas as crenças religiosas, “ignorantes”, “ineptos”, “ridículos”, pertencentes exclusivamente à classe operária. Ao Espiritismo chamou de “loucura nova renovada das antigas”.

O artigo termina assim: “(...) Antigamente a Igreja era bastante poderosa para impor silêncio a semelhantes divagações; ela feriria – talvez – muito forte, é verdade, mas deteria o mal. (Evidentemente o articulista se referia às fogueiras inquisitoriais).

Hoje, uma vez que a autoridade religiosa é impotente, uma vez que o bom senso não tem bastante império para fazer justiça a tais alucinações, a outra autoridade (referia-se à autoridade civil constituída) não deveria intervir neste caso, e colocar fim a práticas das quais o menor inconveniente é tornar ridículos aqueles que com isso se ocupam?”.
Esse conjunto de aleivosias fez com que Kardec escrevesse a seguinte carta1 ao redator da Gazette de Lyon (naturalmente dentro do espírito do direito de resposta, que evidentemente foi escamoteado pelo redator) na qual podemos observar o brilho intenso da verve e inteligência do Codificador do Espiritismo, bem como a justificativa para que seu conterrâneo Camille Flammarion o chamasse “Bom senso encarnado”:

Senhor,  Foi-me comunicado um artigo, assinado C.M., que publicastes na Gazette de Lyon, de 2 de agosto de 1860, sob o título: “Uma Sessão Entre os Espíritas”. Nesse artigo, se não fui atacado senão indiretamente, o sou na pessoa de todos aqueles que partilham as minhas convicções; mas isto não seria nada se as vossas palavras não tendessem a falsear a opinião pública sobre o princípio e as conseqüências das crenças espíritas, derramando o ridículo e a censura sobre aqueles que as professam, e que assinalais à vindita legal. Peço-vos permitir-me algumas retificações a esse respeito, esperando de vossa imparcialidade que, uma vez que crestes dever publicar o ataque, bem gostaríeis de publicar a minha resposta.

Não credes, Senhor, que o meu objetivo seja de procurar vos convencer, nem que vá restituir-vos injúria por injúria; quaisquer que sejam as razões que vos impeçam de partilhar a nossa  maneira de ver, não penso em indagá-las, e as respeito se são since­ras; não peço senão a reciprocidade praticada entre pessoas que sabem viver. Quanto aos epítetos descorteses, não está nos meus hábitos deles me servir.

Se tivésseis discutido seriamente os princípios do Espiritismo, se a eles opusésseis argumentos quaisquer, bons ou maus, teria po­dido vos responder; mas toda a vossa argumentação se limita a nos qualificar de ineptos, e não me cabe discutir convosco se tendes erro ou razão; eu me limito, pois, a levantar o que as vossas assertivas têm de inexato, fora de todo personalismo.

Não basta dizer às pessoas, que não pensam como nós, que elas são imbecis: isto está ao alcance de qualquer um; é necessário demonstrar-lhes que estão erradas; mas como fazê-lo, como entrar no cerne da questão se não se sabe dela a primeira palavra? Ora, creio que é o caso em que vos encontrais, de outro modo teríeis em­pregado melhores armas do que a acusação banal de estupidez. Quando tiverdes dado, ao estudo do Espiritismo, o tempo moral necessário, e vos previno que dele é necessário muito; quando tiverdes lido tudo o que possa assentar a vossa opinião, apro­fundado todas as questões, assistido como observador cons­cencioso e imparcial a alguns milhares de experiências, a vos­sa crítica terá algum peso; até lá, não é senão uma opinião indivi­dual que não se apóia sobre nada, e a respeito da qual podeis, em cada palavra, ser preso em flagrante delito de ignorância. O princípio de vosso artigo, disto é a prova: “Chamam-se ESPÍRITAS”, dizeis, “certos alucinados que rompe­ram com TODAS as crenças religiosas de sua época e de seu país”. Sabeis, Senhor, que esta acusação é muito grave, e tan­to mais grave que é, ao mesmo tempo, falsa e caluniosa? O Espiritismo está inteiramente fundado sobre o princípio da exis­tência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua individuali­dade depois da morte, sua imortalidade, as penas e as recom­pensas futuras. Ele não sanciona estas verdades somente pela teoria, sua essência é de dar-lhes provas patentes; eis por­que tantas pessoas, que não criam em nada, foram conduzidas para as idéias religiosas. Toda a sua moral não é senão o desenvolvimento destas máximas do Cristo: Praticar a ca­ridade, restituir o bem para o mal, ser indulgente com seu próxi­mo, perdoar aos inimigos, em uma palavra, agir para com os outros como gostaríamos que eles agissem para conosco. Achais, pois, estas idéias muito estúpidas? Romperam com toda a crença re­ligiosa aqueles que se apóiam sobre as próprias bases da religião? Não, direis, mas basta ser católico para ter estas idéias; tê-­las, seja; mas praticá-las é outra coisa, ao que parece. É bem evangélico a vós, católico, insultar bravas pessoas que não vos fizeram mal, que não conheceis e que tiveram bastante confiança em vós, para vos receber entre elas? Admitamos que estejam no erro; será prodigalizando-lhes injúria, irritando-as que as conduzireis?


O vosso artigo contém um erro de fato que prova, ainda uma vez, a vossa ignorância em matéria de Espiritismo. Dissestes: “Os adeptos são geralmente operários”. Sabei, pois, Senhor, para o vosso governo, que sobre os cinco ou seis milhões de Espíritas que existem hoje, a quase totalidade pertence às classes mais esclarecidas da sociedade; ele conta entre seus adeptos um número muito grande de médicos em todos os países, de advogados, de magistrados, de homens de letras, de altos funcionários, de oficiais de todos os graus, de artistas, de sábios, de negociantes, etc., pessoas que classificais muito levianamente entre os ineptos. Mas passemos por cima disto. As palavras insulto e injúria vos pare­cem muito fortes? Vejamos!

Pesastes bem a importância de vossas palavras quando, depois de ter dito que os adeptos são geralmente operários, acrescentais, a propósito das reuniões lionesas: Porque ali não recebem facilmente aqueles que, pelo seu exterior, anunciam MUITA IN­TELIGENCIA; os Espíritos não se dignam manifestar-se senão aos SIMPLES, provavelmente, foi o que nos valeu para ser ali admitido. (...) Assim, segundo vós, para se admitido nas reuniões de operários, é necessário ser operário, quer dizer, desprovido de bom senso, e ali não fostes introduzido senão porque, dissestes, provavelmente vos tomaram por um tolo. Seguramente, acreditando-se que tivésseis bastante espírito para inventar coisas que não são, muito certa­mente ter-lhe-iam fechado a porta.

Sabeis bem, Senhor, que não atacais somente os Espíritas, mas toda a classe operária, e em particular a de Lyon? (...) Derramais o ridículo sobre a sua linguagem; mas esque­ceis que seu estado não é o de fazer discursos acadêmicos? Há necessidade de um estilo tirado ao cordel para dizer o que se pensa? As vossas palavras, Senhor, não são apenas levianas, — emprego esta palavra com comedimento, — elas são impruden­tes.
 

Sabeis o que fazem esses operários espíritas lioneses, que tratais com tanto desdém? Em lugar de irem se distrair num caba­ré, ou de se nutrir de doutrinas subversivas e quiméricas; nessa oficina que comparais zombeteiramente ao antro de Trophomus, no meio desses teares, eles pensam em Deus. Ali os vi durante a minha estada; conversei com eles e es­tou convencido do que se segue: Entre eles, muitos maldiziam seu trabalho penoso: hoje o aceitam com a resignação do cristão, como uma prova; muitos viam com olhos de inveja e de ciúme a sorte dos ricos: hoje, eles sabem que a riqueza é uma prova ain­da mais arriscada do que a da miséria, e que o infeliz que sofre, e não cede à tentação, é o verdadeiro eleito de Deus; eles sa­bem que a verdadeira felicidade não está no supérfluo, e que aqueles que são chamados os felizes deste mundo, também têm cruéis angústias que o ouro não aquieta; muitos se riam da pre­ce: hoje, eles oram, e reencontraram o caminho da religião, que esqueceram, porque outrora não acreditavam em nada e hoje eles crêem; vários teriam sucumbido ao desespero: hoje, que conhecem a sorte daqueles que abreviam voluntariamente sua Vida, se resignam à vontade de Deus, porque sabem que têm uma alma, e que antes disto não estavam certos; porque sabem, enfim, que não estão senão de passagem sobre a Terra, e que a justiça de Deus não falta a ninguém...

(...) Objetareis, sem dúvida, que, em suas comunicações, os Espíritos dizem algumas vezes coisas absurdas. Isto é muito verdadeiro; eles fazem mais: dizem às vezes grosserias e impertinências. É que, deixando o corpo, o Espírito não se despoja imediatamente de todas as suas imperfeições; e é provável que aqueles que dizem coisas ridículas como Espíritos, o disseram mais ridículas ainda quando estavam entre nós; por isso, não aceitamos mais cegamente tudo o que vem de sua parte, quanto o que vem da parte dos homens. Mas me detenho, não tendo a intenção de fazer aqui um curso de ensinos; basta-me provar que faláveis do Espiritismo sem conhecê-lo.

Aceitai, Senhor, minhas cordiais saudações.

Allan Kardec.

1 - KARDEC, Allan. Revue Spirite. Outubro de 1860.

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Curso de Ciência e Espiritismo, 11ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil

1. COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA VERSUS CARACTERÍSTICA CIENTÍFICA


Quando a questão é avaliar o valor científico de um determinado assunto, muitas pessoas imaginam que é suficiente que ele envolva conceitos ou expressões de algumas ciências para que seu valor seja científico. Isso, porém, reflete o desconhecimento sobre como a Ciência se desenvolve e sobre como os cientistas trabalham.


Existem duas questões parecidas, mas de consequências diferentes, que precisam ser esclarecidas no momento atual em que o Movimento Espírita está super-valorizando os estudos de caráter científico. Uma delas é a seguinte: por quê o Espiritismo pode ser considerado uma disciplina científica? A outra é: o que torna uma pesquisa qualquer válida cientificamente perante a sociedade, nos dias de hoje? Pode parecer que ambas as questões estão intimamente ligadas mas, conforme veremos adiante, uma coisa, não necessariamente, leva à outra, isto é, não é o fato de reconhecermos o Espiritismo como possuindo características científicas que o torna aceito como tal pela sociedade.


Nas aulas 1 e 2 (Boletins 483 e 484), discutimos as características gerais de uma disciplina científica, de acordo com a Filosofia da Ciência. O Prof. Chibeni [1,2] demonstrou que o Espiritismo possui todos requisitos necessários para ser considerado uma disciplina científica. Em resumo, isso significa que ela possui um núcleo central, um cinturão de tópicos de estudo que faz a conexão entre o núcleo e a realidade, e regras de desenvolvimento da disciplina científica
.¹ Além disso, o Movimento Espírita conta com uma “comunidade” de estudiosos e pesquisadores que trabalham no desenvolvimento e esclarecimento da Doutrina Espírita.

Portanto, o reconhecimento, hoje, de que a Doutrina Espírita possui um aspecto científico não decorre somente do fato de Kardec ter afirmado isso, mas porque ela satisfaz todas as exigências de uma disciplina científica, de acordo com os conceitos mais amplos em Filosofia da Ciência.


Vamos agora analisar a outra questão. O que confere valor científico a um determinado trabalho de pesquisa, perante a sociedade?


O paradigma de cada disciplina científica, representado por seu núcleo central, define os padrões de rigor e as metodologias que devem ser seguidas para validar ou confirmar um trabalho de pesquisa. Isso é estudado e aprendido no processo de formação do cientista que, nos dias de hoje, ocorre em sua grande maioria nos chamados cursos de mestrado e doutorado, sendo este último de maior valor.²
Após a conclusão do trabalho de pesquisa é preciso divulgá-lo para a comunidade científica ou de pesquisadores da área em questão. A forma mais comum de divulgar o resultado ou produto final de um trabalho de pesquisa é a publicação de um ou mais artigos científicos em revistas científicas de circulação nacional ou internacional (nas aulas 3 e 4, Boletins 485 e 486, respectivamente, falamos sobre a divulgação das pesquisas científicas e sobre o método de análise por pares). Outras formas de avaliação e divulgação do produto final de uma pesquisa são a criação de novas tecnologias e patentes.

Uma característica das publicações científicas que algumas pessoas consideram uma desvantagem, é o caráter elitista das mesmas. Somente os cientistas de cada área tem capacidade de ler e entender um artigo científico escrito em linguagem bastante técnica ou matemática. Devido a essa dificuldade, existem os periódicos e livros de divulgação científica que, como dito na aula 6 (Boletim 488), de um lado apresentam os resultados das pesquisas científicas em linguagem mais acessível ao público leigo, mas por outro, perde em precisão nos conceitos divulgados.


Porém, as vantagens deste tipo de publicação são muitas. Uma delas é a seguinte. Imagine que algum cientista, por intuição ou genialidade própria, visualize um novo tipo de remédio para uma determinada doença. Por mais que ele realize todos os testes e experimentos exigidos pela área médica, jamais esse novo remédio receberá da comunidade científica o apoio para ser utilizado no tratamento da doença, se ela não tomar conhecimento deste trabalho de pesquisa. Somente um grupo de médicos especialistas no assunto da pesquisa podem avaliar se a pesquisa foi feita de modo correto e completo. Para isso, eles precisam conhecer os detalhes técnicos do trabalho e somente a revista científica fornece esse espaço para esse tipo de divulgação de teor técnico. Assim, os trabalhos de pesquisa devem ser publicados em revistas internacionais de cada área para que possam ser analisados, avaliados e reproduzidos.

Isso não se trata de capricho individual. Essa é a forma pela qual a comunidade científica desenvolveu o processo de divulgação dos trabalhos científicos.

Podemos, agora, analisar o seguinte questionamento que consideramos muito justo: será que o valor científico de um determinado assunto só existirá se o mesmo for publicado em uma revista científica? Isso não seria elitismo ou preconceito; ou ainda, não seria isso uma forma de limitar os tópicos de pesquisa considerados como válidos pela sociedade?


A resposta que, particularmente, considero mais justa é primeiro considerar que no ponto de vista filosófico mais amplo, muitas coisas podem ser consideradas como “científicas” ou possuindo um valor científico. Por exemplo, o filósofo norte americano Ken Wilber, em seu livro entitulado Quantum Questions [4] analisa, sob um certo ponto de vista menos rigoroso filosoficamente, o problema sobre a validade científica de uma área do conhecimento diferente como a religião. Ele propõe que o problema se situa na distinção entre “ser dogmático” ou não “ser dogmático”, isto é, se o conhecimento é acessível a terceiros através de um “treinamento” e “estudo”, ou se ele é imposto como válido. Nesse aspecto, Wilber defende que temas religiosos como o Budismo possuem valor científico. O Espiritismo possui essa característica de não impor os seus conceitos a ninguém e suas práticas são acessíveis a todos que desejam estudá-lo.


Porém, não podemos simplesmente condenar a sociedade ou a comunidade científica por adotar um critério de valores científicos para a forma de divulgação das pesquisas científicas. Mesmo sabendo que existe ainda muito preconceito, precisamos lembrar das seguintes palavras de Jesus (Cap. XXII do evangelho de São Mateus, dentre os versículos 15 e 22): “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”; e dos seguintes comentários de Kardec, presentes no ítem 7 do Cap. XI de O Evangelho Segundo o Espiritismo [3], sobre a expressão “Dai a César o que é de César”, que, entre outras coisas, “Prescreve o respeito aos direitos de cada um, como cada um deseja que se respeitem os seus. Estende-se mesmo aos deveres contraídos para com a família, a sociedade, a autoridade, tanto quanto para com os indivíduos em geral. ”.


Assim, se por um lado não temos dúvida de que o Espiritismo possui valor científico, de outro não podemos exigir que a sociedade reconheça e aceite da mesma forma. Além disso, quando Kardec afirmou, no ítem 55 do capítulo 1 de A Gênese [5] que: “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.”, Kardec deixou claro o respeito que tinha pela Ciência e pelo trabalho intelectual da Humanidade e, por isso, não podemos cair no extremo de desdenhar os métodos que a Ciência desenvolveu para validar seus trabalhos.

Cabe aqui, também, um outro comentário muito importante sobre valores científicos. Quando um cientista prestigiado pela sociedade por inúmeras contribuições ao progresso do conhecimento, expõe uma opinião contrária aos ensinamentos espíritas, vê-se rapidamente a manifestação dos companheiros espíritas em esclarecer o Movimento Espírita sobre o caráter pessoal e preconceituoso de tal opinião. Isso é muito válido pois ajuda a esclarecer as pessoas menos avisadas e pode até evitar males maiores decorrentes de idéias materialistas. No entanto, quando um cientista qualquer vem a público comentar suas crenças e idéias sobre assuntos espiritualistas, surge um entusiasmo significativo no meio espírita chegando ao ponto de se dizer que o Espiritismo está sendo confirmado ou provado por importantes cientístas. Infelizmente, a opinião a favor de qualquer conceito espírita tem o mesmo valor científico que as opiniões contrárias. Os críticos podem, da mesma forma, alegar que essa opinião tem caráter pessoal onde predominam as crenças de quem a emitiu. Portanto, uma opinião, por mais interessante e sugestiva que seja, não tem valor científico. Pode servir de inspiração, de intuição, de idéia, de motivação, etc., mas não tem valor de comprovação científica. Nesse aspecto, particularmente, o que consideramos uma das mais valiosas regras espíritas, é a recomendação de Kardec e dos espíritos superiores para que não acreditemos na opinião individual dos espíritos, mas que analisássemos tudo o que provém do mundo espiritual. Acrescentamos que essa regra de ouro deveria também ter valor para com as opiniões individuais dos encarnados, já que cada um de nós é um espírito em evolução e nossas opiniões precisam ser analisadas.


Toda essa discussão serve, agora, para justificar porque não consideramos, ainda, as pesquisas do Dr. Masaru Emoto como científicas (ver aula 9, Boletim 491). Somente os espiritualistas conhecem suas pesquisas. Dr. Emoto ainda não publicou nenhum artigo científico, sequer sobre os métodos que utiliza para obter os cristais da água. No entanto, existem diversas referências ao seu trabalho como representando a comprovação científica do fenômeno de absorção de fluidos espirituais pela água. Como dissemos em outra ocasião, respeitamos as nobres intenções do Dr. Emoto, mas não é prudente construir nada sobre um terreno que ainda é desconhecido. Ninguém constrói uma casa sobre a areia. O Movimento Espírita, em minha opinião, deve aguardar que as pesquisas do Dr. Emoto sejam reproduzidas e confirmadas por outros grupos de pesquisa, e publicadas nos devidos periódicos científicos especializados para que os próprios cientistas possam dar o crédito final.


De modo a percebermos que existem pessoas com experiência científica profissional e que, ao mesmo tempo, pretendem trabalhar na pesquisa em tópicos espiritualistas, citamos o Prof. Konstantin Korotkov, da Universidade Técnica de Tecnologias Informacionais, Mecânica e Óptica de Saint Petersburg, Rússia. O Prof. Korotkov tem trabalhado com um método de análise de descargas elétricas [6,7] sobre pequenas gotas de diversos materiais líquidos. Korotkov foi palestrante convidado na 1st. Istanbul Parapsychology Conference [8], ocorrida entre os dias 14 e 15 de maio deste ano, onde ele iria discutir novas formas de pesquisa na área de Bioeletrografia (denominação recentemente adotada para a fotografia Kirlian). O fato do Prof. Korotkov trabalhar cientificamente com o método de descargas elétricas em líquidos, nos sugere que ele possui muito mais respaldo científico em suas propostas espiritualistas do que o trabalho do Dr. Emoto. Esperamos que o Prof. Korotkov consiga realizar muitos progressos nessa área seja para aprimorar aplicações na área médica, seja para introduzir a comunidade científica em conceitos de valor espiritualista.


Na próxima aula, retornaremos a analisar questões ligadas à Física e ao Espiritismo.

¹ Ver regras “positivas” e “negativas” na aula 1 (Boletim 483).
² As excessões ficam por conta dos centros de pesquisa que as empresas privadas financiam onde, algumas vezes, profissionais sem formação acadêmica atuam de acordo com             determinações da empresa. Mas mesmo nesses locais, nos dias de hoje, profissionais com mestrado ou doutorado tem sido mais requisitados.

Referências

[1] S. S. Chibeni, Ciência Espírita (1991), Revista Internacional de Espiritismo Março, pp.45-52.
[2] S. S. Chibeni, O Espiritismo em seu tríplice aspecto Parte II (2003), Reformador Setembro, pp. 38-41.
[3] A. Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Editora FEB, 112a Edição, Rio de Janeiro (1996). A. Kardec, A Gênese, Editora FEB, 36ª Edição (1995).
[4] K. Wilber, Quantum Questions, Mystical Writings of the World’s Greatest Physicists, Shamballa Publications, 2nd. Edition (2001).
[5] A. Kardec, A Gênese, Editora FEB, 36a Edição,Rio de Janeiro (1995).[
[6] K. G. Korotkov, D. A. Korotkin, Concentration dependence of gas discharge around drops of inorganic electrolytes (2001), Journal of Applied Physics, 89, pp. 4732-4736.
[7] K. Korotkov, E. Krizhanovsky, M. Borisova, D. Korotkin, M. Hayes, P. Matravers, K. S. Momoh, P. Peterson, K. Shiozawa, A. Vainshelboim, Time dynamics of the gas discharge around drops of liquids (2004), Journal of Applied Physics, 95, pp. 3334-3338.
[8] http://www.ipc-istanbul.org

Continua no próximo Boletim

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Adão e Eva, Renato Costa, Brasil

(Artigo originalmente publicado na edição de Outubro de 2004 da Revista Internacional de Espiritismo)

A História de Adão e Eva é Real?

Vejamos, inicialmente, o que diz a Gênese bíblica, começando pela fala de Caim, após ser repreendido pelo Senhor devido ao fratricídio cometido.
 
4, 14. ... O primeiro que me encontrar matar-me-á. 15. ... O Senhor pôs em Caim um sinal, para que, se alguém o encontrasse, não o matasse. 16. Caim ... foi habitar na região de Nod, no oriente do Éden. 17. Caim conheceu sua mulher. Ela ... deu à luz Henoc. E construiu uma cidade ...

Por qual motivo teria Caim receio de que o matassem longe do Éden se, além dele, somente Adão e Eva habitavam a Terra? A única alternativa capaz de sustentar a hipótese de Adão e Eva terem sido o primeiro casal humano é supor que eles tivessem tido muitos outros filhos e que, por razão desconhecida, estes tivessem mudado anteriormente para as distantes regiões para onde Caim estava indo. A propósito, tal hipótese é utilizada por alguns irmãos de outras crenças na tentativa de justificar interpretações literais da Bíblia. O que torna frágil tal suposição, a nosso ver, é a total ausência de menção na Gênese a outros filhos que não os conhecidos. Ora, se tais supostos filhos tivessem sido agradáveis a Deus ou, pelo contrário, o tivessem desagradado, o motivo para sua mudança para longe do Éden constaria obrigatoriamente no relato bíblico, o que, definitivamente, não é o caso.
 
Essa ausência de registro bíblico poderia ser justificada dizendo-se que se deve tal fato a terem sido tais irmãos iniciadores de outras raças, sendo, portanto, sem importância para a tradição judaica. Uma leitura atenta do relato, no entanto, permite-nos facilmente contestar tal justificativa. Mesmo que a tradição omitisse o destino de outros filhos de Adão e Eva, jamais colocaria na boca do Senhor palavras sem sentido. No entanto, quando Caim demonstra preocupação em ser morto pelo “primeiro que me encontrar”, provando não saber quem poderia fazê-lo, o Senhor lhe assegura que ele não seria morto por “quem o encontrasse”. É evidente, tanto na fala de Caim quanto na resposta do Senhor, que Caim poderia encontrar, nas terras para onde ia, alguém que lhe era estranho, o que descarta a hipótese de que tal pudesse vir a ser um irmão seu.

Não bastasse o raciocínio acima, o texto fornece outra informação interessante que nos corrobora a interpretação. Diz o relato que Caim construiu uma cidade para morar com esposa e filho. Ora, se fosse para morar apenas com a mulher e o filho bastaria ter levantado uma casa. Se Caim construiu uma cidade é porque, na região para onde foi, existiam muitas pessoas e, por ser ele, dentre todos, o mais evoluído, tornou-se o líder que os levou a se organizar de forma civilizada.

A Raça Adâmica e o Advento da Civilização

Em O Livro dos Espíritos, somos informados:

50. A espécie humana começou por um único homem?
“Não; aquele a quem chamais Adão não foi o primeiro, nem o único a povoar a Terra.”

51. Poderemos saber em que época viveu Adão?
“Mais ou menos na que lhe assinais: cerca de 4.000 anos antes do Cristo.”

Sabemos do ensino dos Espíritos que, no plano espiritual, não se percebe a passagem do tempo da mesma forma que se dá com nós, encarnados. Ora, o estágio atual das pesquisas arqueológicas confirma que a civilização surgiu aproximadamente naquela época. Assim sendo, se entendermos Adão e Eva como uma figura mítica, eles bem podem representar o aparecimento das primeiras civilizações em nosso planeta.

O Item 38 do Capítulo XI de A Gênese trata da Raça Adâmica e aponta na mesma direção que essa nossa interpretação. Diz aí o Codificador:

“38. - De acordo com o ensino dos Espíritos, foi uma dessas grandes imigrações, ou, se quiserem, uma dessas colônias de Espíritos, vinda de outra esfera, que deu origem à raça simbolizada na pessoa de Adão e, por essa  razão mesma, chamada raça adâmica. Quando ela aqui chegou, a Terra já estava povoada desde tempos imemoriais, como a América, quando aí  chegaram os europeus.”

“Mais adiantada do que as que a tinham precedido neste planeta, a raça adâmica é, com efeito, a mais inteligente, a que impele ao progresso todas as outras. A Gênese no-la mostra, desde os seus primórdios, industriosa, apta às artes e às ciências, sem haver passado aqui pela infância espiritual ....”

Na seqüência, poderemos ver que Kardec interpreta Adão como uma alegoria a representar a chegada ao nosso orbe de uma colônia de Espíritos advindos de um mundo então mais evoluído, tendo sido eles que alavancaram a construção de cidades, o cultivo da terra, o fabrico dos metais e o progresso nas artes e nas ciências, conquistas que, em suma, definem o aquilo que entendemos como Civilização.


As Pirâmedes de Gizé - O Advento da Civilização

A partir do Item 43 do mesmo Capítulo de A Gênese, Kardec trata da “Doutrina dos Anjos Caídos e da Perda do Paraíso”.

“...Logo que um mundo tem chegado a um de seus períodos de transformação, a fim de ascender na hierarquia dos mundos, operam-se mutações na sua  população encarnada e desencarnada. É quando se dão as grandes emigrações e imigrações. Os que, apesar da sua inteligência e do seu saber, perseveraram no mal, sempre revoltados contra Deus e suas leis, se tornariam daí em diante um embaraço ao ulterior progresso moral, uma causa permanente de perturbação para a tranqüilidade e a felicidade dos bons, pelo que são excluídos da humanidade a que até então pertenceram e tangidos para mundos menos adiantados, onde aplicarão a inteligência e a intuição dos conhecimentos que adquiriram ao progresso daqueles entre os quais passam a viver, ao mesmo tempo que expiarão, por uma série de existências penosas e por meio de árduo trabalho, suas passadas faltas e seu voluntário endurecimento.”

A explicação de Kardec é clara, dispensando, a nosso ver, maiores esclarecimentos.
 
A Entrada no Reino Hominal

Analisando o Mito do Paraíso Perdido, vemos que a árvore da ciência do bem e do mal tem um significado evidente. O que é saber o que é certo e o que é errado senão a aquisição de uma consciência madura? Tentemos interpretar a mensagem por trás do mito.

As almas que animavam os humanóides viviam no Éden da ingenuidade. Não tendo ainda adquirido a consciência madura, isto é, sendo incapazes de discernir entre o certo e o errado, não eram responsáveis pelos seus atos, não sendo, portanto, submetidas a expiações. Quando essas almas provaram do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, isto é, quando sua consciência tornou-se madura e se tornaram Espíritos, elas foram expulsas do Éden da ingenuidade e passaram a comer “o pão com o suor do seu rosto”, isto é, tornaram-se responsáveis pelos seus atos, submetendo-se, a partir de então, à Lei da Causalidade.

Entendemos ser nossa leitura do mito plenamente conciliável com o que nos ensina a Codificação. Afinal, como dissemos, a informação que se depreende do acima citado Item 38 de A Gênese é que a colônia de Espíritos representada pelo mito de Adão e Eva teria sido responsável pelo advento daquilo que chamamos de Civilização.

Uma consulta à obra de Carlos Torres Pastorino, A Sabedoria do Evangelho, vem confirmar nossa interpretação e encerrar o nosso breve estudo. Comentando sobre a genealogia de Jesus, conforme apresentada no Evangelho de Lucas, diz o erudito professor:
 
“Passemos a Lucas. Dá-nos ele 76 gerações, de Adão a Heli. Recordemos que a palavra Adão (em hebraico ADAM) tem simplesmente o sentido do substantivo comum HOMEM. Não é nome próprio.

Então, diz-nos Lucas que, assim que a criatura sai do reino-animal para o reino-hominal, atingindo a fase humana (adâmica), ...”
 

Bibliografia
  
Kardec, Allan. A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 36 Ed. FEB, Rio de Janeiro, 1995.
_____, ____. O Livro dos Espíritos. 76 Ed. FEB, Rio de Janeiro, 1995.
Pastorino, Carlos Torres. A Sabedoria do Evangelho. Vol. I. Sabedoria, 1967.
Bíblia Sagrada. Tradução dos originais mediante a versão dos Monges de Mardesous pelo Centro Bíblico Católico. 112 Ed.. São Paulo, 1997.
 
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História & Pesquisa

(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas")

O mundo em que viveu Kardec, Milton B. Piedade, Brasil

Bom dia LIHPE.

A Lachâtre acaba de lançar um excelente livro.

Trata-se de uma coletânea de textos que leva o nome "Em torno de Rivail". O livro é resultado de três encontros de finais de semana em que seus autores (treze no total - com formação diversificada, criando equipe multidisciplinar) apresentaram e discutiram suas pesquisas e reflexões. Para compreender as origens do espiritismo é importante que possamos contextualiza-lo e analisar a relação do indivíduo com este contexto. Há muito pouco de informação sobre a Europa e principalmente sobre a França que viveu o homem Denizard Rivail.

O livro é dividido em três capítulos:
Edição primorosa de leitura obrigatória.

Foi feito o registro audiovisual das reuniões.

Quem sabe o Alexandre Rocha nos apresenta mais uma agradável surpresa futuramente.

Fraternalmente,

Milton B. Piedade

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 Filmes com fundo espiritualista, Gilberto Adami, Brasil

Caros Amigos,

Transcrevemos abaixo alguns itens de uma lista que nos foi passada pelo Milton B. Piedade com informações sobre filmes de fundo espiritualista. O Milton a recebeu de Gilberto Adami e ela foi compilada na lista voadores@yahoogrupos.com.br.

Como a lista é razoavelmente grande para o espaço disponível no Boletim (109 entradas) selecionamos apenas as entradas que nos pareceram mais interessantes pela forma como as idéias espiritualistas foram utilizadas no enredo. Alguns dos filmes indicados, como por exemplo "O Sexto Sentido", são realmente extraordinários e demonstram um trabalho muito bem feito de pesquisa.

Muita Paz,
Carlos Iglesia


SUGESTÕES DE FILMES COM FUNDO ESPIRITUALISTA
  
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Questões e Comentários 

Livre Arbítrio e Perfeição, Priscila V. Rocha, Brasil

(Referente comentários publicados no Boletim 491)
Prezada Priscila,

(...) Eu fico contente de saber que de alguma forma a minha resposta foi útil a voce. De fato, eu optei por escrever algo um pouco racional/lógico demais e sempre fica uma dúvida sobre o que realmente voce tinha em mente. Sobre a lei do Progresso, iniciou na revista Reformador, uma série de artigos sobre o assunto. A revista existe na forma eletrônica e gratuita e pode ser encontrada no link: http://www.febnet.org.br/html/bibliote/reformad.html

Acho que esse artigo complemente de forma muito boa a questão sobre a Lei de Progresso à luz do Espiritismo.

Vamos às suas dúvidas.

 Priscila: Olá Alexandre! Tudo bem com você? Honestamente espero que sim. Quero primeiramente agradecer pela prestatividade em colaborar com minhas
questões.

Alexandre: Não tem de que. Desculpe a demora para lhe responder agora.

Priscila: Quando conversei com o Marcelo, não sabia que ele iria buscar respaldo, mas uma vez que ele foi, fico feliz e tomo a liberdade de escrever diretamente pra você.

Alexandre: Sem problemas. Use também, o e-mail do GEAE para o qual o Marcelo havia enviado as suas questões: editor@geae.inf.br. Existe um conselho editorial formado por várias pessoas que podem auxiliar complementando as discussões com outros pontos de vista. Por isso, na próxima vez, escreva para o endereço acima para que todos possam participar enriquecendo nosso diálogo.

Priscila: Tenho comigo que por mais que eu tente me expressar e expor meus pensamentos, nem sempre é possível total compreensão, pois sei que entre o meu falar e o seu ouvir há uma longa distância. De qualquer forma vou tentar escrever o que sinto e penso.

Alexandre: Essa é uma dificuldade natural que todos temos. Certamente que uma outra pessoa interpretará de modo diferente tanto as suas perguntas quanto qualquer resposta. Acho que devemos fazer o melhor que pudermos e ir conversando para esclarecer todos os pontos de vista.

Priscila: Em primeiro lugar quero dizer que sou uma cristã tradicional e admito não ter muito conhecimento sobre a doutrina espírita. O que eu penso é baseado na forma como as coisas me foram apresentadas até agora, e me utilizo delas para contra-argumentar.

Alexandre: Tudo bem. Se voce puder, vá adquirindo as obras básicas pois elas sim são bem completas em todos esses pontos que estamos discutindo. Existem versões eletrônicas em pdf dos livros das obras básicas que podem ser carregadas em seu computador gratuitamente. No link da revista acima procure o link para Biblioteca Virtual e Obras Básicas.

Priscila: Minha principal referência é a bíblia, apesar de saber que, como qualquer outro documento ela está sujeita a contradições. O que eu entendo em síntese é que quem for bonzinho e seguir as leis de Deus vai pro céu, vai ser um espírito nobre e elevado. Quem for malvado, vai ser castigado, porque tudo que se planta, se colhe. Sei também que Deus é um ser perfeito, onisciente, todo poderoso, que possui um amor ilimitado, é extremamente bondoso e justo.

Mas depois de muitas análises, cheguei a uma triste conclusão: Ou Ele não é Todo-Poderoso ou não é totalmente bom. Se fosse todo poderoso, poderia destruir o mal, sem precisar que a humanidade passasse por todo esse doloroso processo de evolução, ou de repente, num passe de mágica poderia purificar todas as almas, se Ele não faz isso, talvez seja porque não é capaz de destruir o mal, sendo assim Ele não seria todo poderoso. Mas digamos que Ele tem poderes suficientes para acabar com o mal, mas mesmo assim insiste no processo, então Ele não poderia ser totalmente bom porque impõe o sofrimento a humanidade.

Alexandre: Esse é um dilema que todos nós temos e que a Doutrina Espírita nos ajuda a entender como pode Deus ser Bom e Justo e Todo Poderoso e ver o mundo cheio de injustiças e outras coisas que nos repugnam a razão.

Não será numa resposta por e-mail que o assunto se esgotará. Mas podemos adiantar que todas essas coisas se encaixam se analisarmos o princípio da Reencarnação junto com a Lei de Progresso (que já comentamos) e como isso se liga à Bondade e Sabedoria Divinas.

Imagine que tivéssemos sido criados já com todo o conhecimento e amor em grau máximo. Qual seria o objetivo da vida? O que faríamos então? Que tarefa teríamos que fazer já que tudo estaria no seu devido lugar? A idéia de um paraíso sobre as núvens tocando arpa não soa meio monótono?

O que vemos na prática, isto é, ao nosso redor conosco e com as outras pessoas? Vemos uma multiplicidade de caráter, conhecimento, sentimento mostrando que somos bem diferentes uns dos outros. Se Deus é justo, não podemos admitir que Deus tenha criado seres essencialmente diferentes uns dos outros. Mas ao nos dar o direito de ter livre-arbítrio e criar a Lei de Progresso com base em nosso próprio esforço, Deus demonstra que o melhor para nós é que tenhamos o mérito do esforço no bem e a responsabilidade naquilo que for incorreto. Se temos um livre-arbítrio, então cada indivíduo pode fazer uma escolha dentro dos seus limites. As consequências dessa escolha ensinarão a esse indivíduo se sua decisão foi boa ou não. Alguns optam por seguirem por um caminho diferente dos outros e com o passar dos milênios (isso não é um processo rápido) diferentes personalidades se constroem em cada um de nós, onde as nossas experiências de outras vidas determinam nosso jeito de ser, no presente.

Se Deus, em sua sabedoria, permitiu que progredíssemos, é bastante lógico que uma única encarnação não daria tempo para atingirmos sequer um décimo do objetivo maior que é o progresso de modo mais completo, tanto intelectual quanto do sentimento. Por isso precisamos reencarnar tantas vezes quanto necessário assim como um estudante repetirá um curso ou uma série tantas vezes quanto for necessária para atingir a formatura. Se torna mais fácil perceber a Justiça Divina neste processo. Se lembra da passagem em que Jesus diz "é necessário o escândalo mas ai por que venha o escândulo."? A necessidade está no fato de que o escândalo desperta a atenção das pessoas que podem analisá-lo e aprender com ele. Mas aquele que infelizmente serviu de intermediário para o escândulo se compromete perante a Lei de Amor e, ao invés de ir para o Inferno pagar eternamente (o que seria injusto já que o seu débito é algo finito), ele terá uma outra chance, em outra encarnação de corrigir e reparar o erro. Isso não é uma idéia muito mais condizente com a Bondade e Justiça do que outras idéias? Ele, o que causou o escândalo, certamente passará por dificuldades e "aparentes injustiças" no mundo mas estará educando seu coração e sua mente para o bem maior, que é o nosso maior objetivo.

Portanto, minha amiga, o sofrimento que existe hoje no mundo existe apenas com objetivo de educar e despertar a consciência daqueles (todos nós) que passam por ele. Quanta solidariedade não surge diante de um acontecimento sofredor? Se lembra das toneladas de alimento e até dinheiro que foram doados às vitimas do Tsunami?

Tudo se encaixa e não cai um fio de cabelo sem a permissão de Deus. Se voce analisar a vida não como um período entre o berço e o túmulo materiais, mas como um contínuo que vém de bem antes desta encarnação e atingirá o futuro pós morte, fica mais fácil perceber que o objetivo maior está sendo atingido e que Deus realmente quer o nosso bem.

Assim, na discussão sobre "existir" ou "deixar de existir" fica mais compreensível por que Deus não deixou a opção de "desaparecermos". Desaparecer seria perder o futuro de luz, amor, felicidade e paz que nos aguarda de acordo com o nosso esforço em educarmos nossos instintos e fraquezas. Qual pai terrestre permite que um filho se mate só porque vive momentos difíceis na escola ou na vida pessoal? Tudo passa e como um espírito chamado Emmanuel escreveu, "uma noite de tempestade e escuridão é sempre um momento que precede um belo dia seguinte" (eu usei as minhas palavras).

Priscila: Existem duas forças lutando constantemente: o bem e o mal. (Deus e o Diabo) O que eu me pergunto é porque que eles não lutam apenas entre si, porque a briga não pode se restringir apenas a eles dois? Por que envolver a humanidade nesta batalha? A impressão que me dá, é que os dois ficam medindo
forças e se utilizam da humanidade para isso.

 Alexandre: Segundo o Espiritismo, o bem e o mal, o diabo e o anjo, são simbolismos que representam a nossa luta interior. Quantas vezes não nos vemos em conflito íntimo entre fazer uma coisa ou outra porque de um lado queremos ter algum prazer mas de outro vemos que esse prazer prejudica ou ocorre às custas de outra pessoa? Segundo o Espiritismo Deus existe e é a causa primeira de todas as coisas. Mas o diabo é apena um símbolo do desvio do caminho do bem, do amor, das leis Divinas. Segundo o Espiritismo, Deus não criou um diabo ou um satanás destinado a testar-nos. Deus criou espíritos ou almas que desenvolvem as virtudes através de múltiplas oportunidades de exercer o bem ou se afastar do bem. O sofrimento é apenas a consequência do desequilíbrio que no fundo, nada mais é do que um impulso para que retornemos ao bem. Se comermos muito doce de leite, a natureza material do nosso organismo reagirá produzindo dor, nos avisando para reduzirmos o consumo. Note que não é proibido comer doce, mas o excesso nos é prejudicial. Digamos que na vida moral as coisas sejam assim também. Excessos do egoísmo nos levam a sofrimentos e desequilíbrios. Mas esses sofrimentos nos "cutucarão" para encontrarmos a solução que está na vivência da prática do amor.

Priscila: Há uma parte na bíblia que diz que tudo o que pedires, tendo fé, lhe será concedido. Mas esta frase pra mim não é de todo verdadeira, pois se você
pedir pra Deus para te isentar do sofrimento, isso não lhe será concedido, e eu chego a conclusão que isso não é possível pois sem o sofrimento Deus não poderia evidenciar seu poder.

Alexandre: É por essa razão que os espíritos ensinaram o que chamamos de fé raciocinada. Se eu pedir para ganhar na loteria, mesmo que eu tiver fé, não será suficiente para ganhar na loteria porque o sentimento de cobiça ou ambição anula o efeito da fé.

Se eu desejo não mais sofrer, e peço com fervor que Deus me ajude a livrar-me do sofrimento, isso equivale a eu pedir a Deus que eu consiga aprender a lição ou a virtude que ainda não aprendi. As vezes pedimos a Deus que nos retire a dor, para vivermos felizes, mas não sabemos que a dor nos impede de cometer atos que nos trarão uma infelicidade e um remorso muito maior na outra vida. Não disse Jesus que era melhor "entrar na vida sem um olho ou sem um braço do que o olho ou o braço ser motivo de escândalo."? Já meditaste na grandeza desta frase de Jesus? Aos olhos do mundo o cego de nascença é um infeliz desgraçado mas aos olhos de Deus, essa pessoa está se reeducando para a vida Maior que é a espiritual. Entende que a lógica é um pouco mais ampla nessas questões?

Priscila: E quando você me diz que eu não tenho direito a inexistência, eu penso que Deus está me impondo o sofrimento.

Alexandre: Não! Deus quer realmente que voce se torne feliz! Mas o caminho para a verdadeira felicidade está sendo doloroso, difícil, o que é natural. Afinal de contas tudo que é muito fácil tem pouco mérito. Voce já conheceu alguém que no auge da juventude sofreu um acidente e se tornou paralítico? Que tristeza para a família e para o jovem? Mas certamente ele irá aproveitar o tempo na cama se dedicando a pensamentos e leituras muito mais instrutivas do que praticando excessos de juventude. Um exemplo mais concreto: Um jovem, filhos de pais abastados, ao completar 18 anos, ganhou de presente do tio um belo e forte cavalo. O jovem almejava ser cavaleiro e a gente pode imaginar a alegria dele com o novo presente. Todos os dias, por muitas horas do dia, ele ia cavalgar e treinar saltos e etc. Os pais e demais familiares viviam muito contentes com a alegria do nosso rapaz. Semanas seguintes, ao planejar mal um salto, o cavalo deu um pulo para trás e o jovem foi lançado ao chão com tanta violência que quebrou as pernas. "Maldito cavalo!!", "Quem foi o infeliz que deu um cavalo desses perigoso ao nosso filho" bradavam os pais. O tio até foi embora para não apanhar dos pais do rapaz. Voce pode imaginar bem o sofrimento tanto dele quanto da família ao ver um rapaz de 18 anos, na flor da juventude e saúde, de cama sem poder fazer quase nada! Uma semana depois, chegou à vila onde essa família morava um aviso do governo daquele país dizendo que todos os jovens seriam conclamados para se apresentar no exército do país pois este havia entrado em guerra com o país vizinho. "Bendito cavalo!!" "Quem foi o messias que enviou esse cavalo ao nosso menino!?" "Graças ao acidente o jovem foi isento de ter que arriscar a vida nas frentes de batalha..."

Moral da história: o que nos parece sofrimento agora, pode vir a ser um recurso que a Providência Divina se lançou para evitar um mal maior e nos conduzir a outras experiências mais produtivas para nós.

Percebe a idéia?

Priscila: A dor, os problemas e o sofrimento transcende a minha vontade, qualquer caminho ou opção que eu faça eu vou sofrer, por mais inteligente ou sábio que uma pessoa seja, ela inevitavelmente vai sofrer. Quando você diz que eu tenho que obrigatoriamente passar por esse processo querendo eu ou não, eu penso que eu não tenho o livre arbítrio, porque liberdade pra mim é poder decidir o meu destino seja ele qual for, e não quando ele é restrito a apenas duas escolhas.

Alexandre: O livre-arbítrio existe sim. Ele existe na forma pela qual voce passa pela dificuldade. Há duas maneiras de vivenciar uma experiência: dignamente, de acordo com o Evangelho; ou de forma revoltada, onde quase sempre nos envolvemos em novas dívidas que trarão novas futuras consequências para nós mesmos.

Jesus não dizia que com Ele "o jugo era suave e o fardo era leve."? Isso nada mais significa que depositando no Criador nossa confiança e agindo da melhor forma possível diante de nossos problemas, estes se tornam menores e passageiros pois sabemos que um futuro melhor nos aguarda. Mas quando nos revoltamos e desejamos "fugir" ao que nos cabe realizar, somente agravamos nossa situação.

A questão da liberdade fica, então, da seguinte forma: hoje somos obrigados a colher o que plantamos nessa e em outras encarnações passadas. Mas o nosso futuro depende da boa sementeira que fizermos no presente. Por isso, nossa liberdade depende do conhecimento: quando aprendemos as Leis Morais de modo mais claro, nos capacitamos para tomar decisões mais apropriadas frente ao nosso futuro. Por exemplo, estou sofrendo agora mas não vou despejar no meu vizinho toda a minha dor. Estou sofrendo agora, mas meu próximo está sofrendo ainda mais e se eu puder ajudá-lo, como eu gostaria que me ajudassem, isso será muito bom!

Priscila: Quando você me compara a um bebê que não pode decidir o que é bom ou ruim para si mesmo, eu não sei se concordo, pois um bebê não tem noção de absolutamente nada, nem de seus direitos e nem das regras que são lhe impostas, diferentemente de mim, que tenho noção das leis e sei das conseqüências do caminho que tomo.

Alexandre: É isso mesmo que voce está falando! O bebê não tem conhecimento nenhum das coisas. Portanto não tem condições de escolher o que é melhor.
Os pais fazem isso por ele. Nós somos como que crianças no ponto de vista espiritual. Deus escolhe por nós várias das experiências que temos porque passar. Nossa reação perante elas será mérito ou demérito nosso.

Note que eu não quis comparar voce a um bebê. Desculpe se voce entendeu dessa maneira. O bebê representa o estágio em que desconhecemos as coisas.
Mas podemos nos comparar a crianças maiores ou menores. Já temos algum progresso mas estamos longe da maturidade que caracterizou a vida de Jesus, ou mesmo de personalidades como Gandhi e Madre Tereza de Calcutá (temos o Chico Xavier como um bom exemplo no Movimento Espírita). Já sabemos alguma coisa mas não sabemos tudo. Por isso é que Kardec recomenda que a Doutrina Espírita seja lida com calma e analisada com relação a esses aspectos.

Priscila: Não digo que não gostaria de ser perfeita, apenas digo que o preço para se chegar a ela, pra mim é muito caro, e eu renunciaria a ela pela liberdade da minha inexistência. Gostaria de deixar claro que a minha lógica não se dá a todas as pessoas, pelo contrário, a maioria das pessoas gostam de viver apesar do sofrimento e dos problemas e gostam de servir a Deus incondicionalmente, e eu não vejo nada errado nisso, eu só penso que o que eu vejo como liberdade, me é impossibilitado. Ficarei muito contente se puder esclarecer algo com seu vasto conhecimento, principalmente se caí em contradição.

Abraços,
Priscila Presley

Eu gostaria de sugerir a voce que tente ler as obras básicas. Elas contém explicações para essas e muita outras coisas que são importantíssimas. Kardec diz que não devemos aceitar nada apenas porque essa ou aquela pessoa disse ou esse ou aquele espírito disse. É preciso que busquemos o conhecimento por nós próprios para que a fé se solidifique em nossos corações. Ao meu ver, voce está mais do que preparada para fazer uma análise das obras básicas. Eu e os demais companheiros do GEAE, assim como o seu amigo Marcelo, podemos ajudar mas não podemos fazer a parte que lhe cabe.

Estaremos sempre a sua disposiçao. Desculpe a demora de novo.

Um abraço,
Alexandre

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Pensamento e Elementos Gerais do Universo, Gilberto P. A. Oliveira, Brasil

Olá irmãos!

(...) É correto o que a gente ouve dizer nos meios espíritas que o pensamento é matéria?

Gilberto Oliveira



Prezado Gilberto,

Quem lhe disse que o pensamento é matéria certamente não é um estudioso da Doutrina Espírita.

O pensamento, para nós, espíritas, é uma poderosa força capaz de grandes realizações quando transformado em ação. Quando, porém, fica fixo em nossa mente sem produzir absolutamente nada de útil, ele pode se transforar em perigosa doença psíquica. Daí a conhecida filosofia que diz "Somos o que pensamos". Pensamos no bem e somos agentes de transformaçào na Terra para um mundo melhor. Pensamos no mal e somos destruidores das obras alheias. Se nosso pensamento é fixo e travado na mente, ficamos doentes da alma.

Nas dimensões espirituais o pensamento adquire mais poder pois nossos pensamentos podem ser plasmados em nosso psiquismo e no psiquismo dos que sintonizam com o nosso com grande faclidade, pois não encontram resitênca da matéria. São as chamadas ideoplastias.

Para se ter uma vaga idéia do seu efeito basta lembrarnos dos relatos históricos de histerias coletivas, como na célebre "invasão de alienígenas" que, de brincadeira de primeiro de abril feita no rádio nos EUA na década de 40, se não me engano, gerou relatos convictos de visão e interação com os tais alienígenas que nunca existiram. Ou com a adesão em massa pelos alemães à tresloucada idéia de pureza de raça que Hitler criou e divulgou com seu poderoso magnetismo pessoal. Muitos, mais tarde, cairam em si e ficaram sem entender como tinham acreditado em tese tão absurda.

Espero ter ajudado o irmão a entender que nós que estudamos o Espiritismo, nada falamos que contrarie o que a Ciência explica.

Um abraço fraterno,
Renato Costa


Prezado irmão,

Concordo com voce sobre o pensamento, pois também tenho esse conceito sobre o pensamento, já que ele é um dos atributos do espírito, não pode ser matéria. Acredito mesmo que as pessoas sem maldade vão falando das coisas sem meditar na essência.

Gostaria de educadamente fazer outra perguntinha curiosa que até hoje ainda não obtive resposta. Quando Allan Kardec em sua sabedoria, questionou os espíritos sobre uma definição do que seria a matéria, eles disseram: a matéria é o laço que prende o espírito, é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.

Ora, meu irmão, se a matéria está dividida em orgânica e inorgânica e aqui na pergunta não foi especificado, o princípio inteligente estaria atuando na matéria bruta? Esta pergunta me intringa, OK?

Gilberto Oliveira



Prezado Gilberto,

Nada na Codificação ou de qualquer outra obra pode ser pinçado e examinado fora de contexto.

A resposta que você selecionou consta de O Livro dos Espíritos, Parte 1a, Capítulo II, "Dos Elementos Gerais do Universo". Para se entender a resposta é necessário que se estude o todo do Capítulo.

Quando os Espíritos deram, como definição de matéria, a resposta “A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.”, eles, certamente, não estavam falando da matéria como nós a percebemos. Afinal, quando o Espírito está desencarnado, ele só interage com a matéria através de um encarnado, a que chamamos de médium. Logo, ele não é preso por essa matéria o tempo todo nem precisa usá-la obrigatoriamente.

 Para sabermos de que matéria falavam os Espíritos, temos de ler adiante.

29. A ponderabilidade é um atributo essencial da matéria?

“Da matéria como a entendeis, sim; não, porém, da matéria considerada como fluido universal. A matéria etérea e sutil que constitui esse fluido vos é imponderável. Nem por isso, entretanto, deixa de ser o princípio da vossa matéria pesada.”

Como podemos ver, os Espíritos falavam da matéria considerada fluido universal e não da matéria como a conhecemos no plano físico. Eles falavam do persispírito, como parte nunca desassociada do princípio inteligente e através do qual ele age.

 Não há nada de estranho na resposta, como você pode ver. No entanto, temos de saber de que os Espíritos estão falando, antes de tirarmos qualquer conclusão.

Um abraço fraterno,
Renato Costa



Irmão,

Eu já li este capítulo pois sou estudioso da doutrina espírita sem fanatismo religioso, mas o que gostaria de saber não é do espírito já individualizado, mas do princípio inteligente ou seja do elemento inteligente universal de onde partem as individualidades espirituais, pois eu continuo achando essa pergunta mais profunda do que parece, pelo motivo mesmo de que a matéria bruta só não poderia ter toda essa harmonia que nós presenciamos se o elemento inteligente não estivesse interagindo sobre o elemento material ou seja o fluído cósmico universal. Obs. Falo aqui do elemento inteligente, não da sua individualização. Eu não leio nada isolado, aguardo sua resposta.

Gilberto Oliveira


Prezado Gilberto,

Sua dúvida está cada vez mais interessante. Vejamos se posso ajudar.

No Item 55 do Capítulo I de O Livro dos Médiuns. lê-se o seguinte (o negrito é meu):

55. Hão dito que o Espírito é uma chama, uma centelha. Isto se deve entender com relação ao Espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, a que se não poderia atribuir forma determinada. Mas, qualquer que seja o grau em que se encontre, o Espírito está sempre revestido de um envoltório, ou perispírito, cuja natureza se eteriza, à medida que ele se depura e eleva na hierarquia espiritual. De sorte que, para nós, a idéia de forma é inseparável da de Espírito e não concebemos uma sem a outra. O perispírito faz, portanto, parte integrante do Espírito, como o corpo o faz do homem. Porém, o perispírito, só por só, não é o Espírito, do mesmo modo que só o corpo não constitui o homem, porquanto o perispírito não pensa. Ele é para o Espírito o que o corpo é para o homem: o agente ou instrumento de sua ação.

O que Kardec chamou de "princípio intelectual e moral" no Item 55 acima citado é por ele e pelos Espíritos chamado de "princípio inteligente" em város outros trechos da Codificação. No mesmo O Livro dos Médiuns, sugiro, por exemplo, consultar a resposta dos Espíritos à questão 36 do Capítulo XXV. Vejamos (o negrito é meu):

283. Evocação dos animais

36ª Pode evocar-se o Espírito de um animal?

"Depois da morte do animal, o princípio inteligente que nele havia se acha em estado latente e é logo utilizado, por certos Espíritos incumbidos disso, para animar novos seres, em os quais continua ele a obra de sua elaboração. Assim, no mundo dos Espíritos, não há, errantes, Espíritos de animais, porém unicamente Espíritos humanos."

Pelo desenvolvimento do texto, tudo indica, a meu ver, que o termo "Espírito", como aparece na questão de que estamos tratando em O Livro dos Espíritos, refere-se ao princípio Inteligente individualizado. Ë só assim entendendo, por sinal, que o texto faz sentido.

O homem encarnado é "espírito propriamente dito" + "persispírito" + "corpo físico" ou "princípio inteligente" + "perispírito" + "corpo físico". Quando desencarnado, ele é "espírito propriamente dito" + "persispírito" ou "principio inteligente" + "perispírito". Como, no entanto, o PI e o perispírito nunca se separam, é comum chamarms o todo "PI + perispírito" de Espírito.

Meu amigo Adésio Alves Machado está prestes a publicar um livro muito interessante que vai se chamar "O Espírito em O Livro dos Espíritos", onde as diversas conotações em que o termo é utilizado serão comentadas. Espero ter ajudado.

Um grande abraço,
Renato Costa



Prezado Gilberto,

Eu gostaria de acrescentar algumas palavras ao que o Renato disse.

A origem da afirmativa de que o pensamento é matéria está num equívoco muito frequente entre os espíritas e espiritualistas em geral, em que o fruto do pensamento é confundido com a origem do pensamento.

Ao pensar e sentir, o espírito, através do perispírito, irradia fluidos. Se alguém definir esses fluidos como sendo o pensamento, daí sim ele será algo material pois toda a matéria e os fluidos decorrem do mesmo princípio material, comumente chamado de Fluido Universal. Os espíritos podem "ver" nossos pensamentos através das imagens que moldamos nos fluidos espirituais ao nosso redor.

Mas se o pensamento for algo que o espírito, em sua essência, gerou dentro de si, fruto de sua inteligência, daí não podemos dizer que ele é material pois os espíritos superiores disseram que o princípio inteligente é algo totalmente diferente daquilo que chamamos matéria.

Então, o importante é a gente ter em mente sobre o que estamos falando ou lendo. Os espíritos sempre se preocuparam com a linguagem que empregamos para definir ou explicar as idéias e conceitos.

Note que a ciência sabe descrever os fluxos elétricos entre os neurônios, identificando áreas cerebrais que estão mais ativas quando fazemos esse ou aquele tipo de esforço físico ou mental. Mas ninguém é capaz de provar a origem do primeiro impulso que determina que ação tomar, que pensamento ter, que preferência optamos, etc. O Espiritismo é a chave para esse problema dizendo que a origem dos pensamentos é o Espírito. Ok? Espero ter ajudado.

Alexandre Fonseca

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Painel


Asociacion Espirita Tercera Revelacion, Andres Abreo, Colombia

Respetados Hermanos:

Con inmensa satisfacción deseamos nuevamente compartir con ustedes el nuevo dominio del Portal en Internet de nuestra Asociación.

http://www.tercerarevelacion.org

Nuestro deseo es que esta pagina web se convierta en una nueva herramienta de divulgación para nuestra querida doctrina Espírita, la cual sera cada vez mejor con sus comentarios y sugerencias.

Esperamos poder satisfacer en algún nivel las expectativas de nuestros hermanos Espíritas.

Dios los Bendiga,

Fraternalmente,

Andrés Abreo Cubillos
Vicepresidente Doctrinario

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Centro Espírita Fraternidade e Amor, CEFA, USA

 Aos amigos e frequentadores do CEFA (Centro Espírita Fraternidade e Amor)

Depois de 10 anos no atual endereço (1150 Normandy Dr.) servindo ao Mestre Jesus, iniciamos uma nova etapa em novo endereço, onde estaremos a partir de 2 de Maio próximo:

1440 JF Kennedy Causeway suite 321
North Bay Village Fl 33141
Miami, USA

(Grove By the Bay Building, em frente ao Canal 7 de TV, amplo estacionamento atrás do edifício)

Continuamos com os mesmo telefones de contato:

Ph.: (305) 993-1378 - Vanessa
Ph.: (954) 349-8577 - Márcia

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Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita na UNICAMP - Universidade de Campinas

Grupo de Estudos Espíritas da Unicamp (GEEU)

Toda quinta-feira, 12:00-13:10
Sala FE03
da Faculdade de Engenharia Elétrica

Traga seu "Livro dos Espíritos"

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GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS

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