Prezada
Priscila,
(...) Eu fico contente de saber que de alguma forma a minha resposta
foi
útil a voce. De fato, eu optei por escrever algo um pouco
racional/lógico demais e sempre fica uma dúvida
sobre o
que realmente voce tinha em mente. Sobre a lei do Progresso, iniciou na
revista Reformador, uma série de artigos sobre o assunto. A
revista existe na forma eletrônica e gratuita e pode ser
encontrada no link:
http://www.febnet.org.br/html/bibliote/reformad.html
Acho que esse artigo complemente de forma muito boa a
questão
sobre a Lei de Progresso à luz do Espiritismo.
Vamos às suas dúvidas.
Priscila:
Olá
Alexandre! Tudo bem com você? Honestamente espero que sim.
Quero
primeiramente agradecer pela prestatividade em colaborar com minhas
questões.
Alexandre:
Não tem de que.
Desculpe a demora para lhe responder agora.
Priscila:
Quando conversei com o Marcelo, não sabia que ele iria
buscar
respaldo, mas uma vez que ele foi, fico feliz e tomo a liberdade de
escrever diretamente pra você.
Alexandre:
Sem problemas. Use também, o e-mail do GEAE para o qual o
Marcelo havia enviado as suas questões:
editor@geae.inf.br.
Existe um conselho editorial formado por várias pessoas
que
podem auxiliar complementando as discussões com outros
pontos de
vista. Por isso, na próxima vez, escreva para o
endereço
acima para que todos possam participar enriquecendo nosso
diálogo.
Priscila:
Tenho comigo que por mais que eu tente me expressar e expor meus
pensamentos, nem sempre é possível total
compreensão, pois sei que entre o meu falar e o seu ouvir
há uma longa distância. De qualquer forma vou
tentar
escrever o que sinto e penso.
Alexandre:
Essa é uma dificuldade natural que todos temos. Certamente
que
uma outra pessoa interpretará de modo diferente tanto as
suas
perguntas quanto qualquer resposta. Acho que devemos fazer o melhor que
pudermos e ir conversando para esclarecer todos os pontos de vista.
Priscila:
Em primeiro lugar quero dizer que sou uma cristã tradicional
e
admito não ter muito conhecimento sobre a doutrina
espírita. O que eu penso é baseado na forma como
as
coisas me foram apresentadas até agora, e me utilizo delas
para
contra-argumentar.
Alexandre:
Tudo bem. Se voce puder, vá adquirindo as obras
básicas
pois elas sim são bem completas em todos esses pontos que
estamos discutindo. Existem versões eletrônicas em
pdf dos
livros das obras
básicas que podem ser carregadas em seu computador
gratuitamente. No link da revista acima procure o link para Biblioteca
Virtual e Obras Básicas.
Priscila:
Minha principal referência é a bíblia,
apesar de
saber que, como qualquer outro documento ela está sujeita a
contradições. O que eu entendo em
síntese é
que quem for bonzinho e seguir as leis de Deus vai pro céu,
vai
ser um espírito nobre e elevado. Quem for malvado, vai ser
castigado, porque tudo que se planta, se colhe. Sei também
que
Deus é um ser perfeito, onisciente, todo poderoso, que
possui um
amor ilimitado, é extremamente bondoso e justo.
Mas depois de muitas
análises, cheguei a uma triste conclusão: Ou Ele
não é Todo-Poderoso ou não
é totalmente
bom. Se fosse todo poderoso, poderia destruir o mal, sem precisar que a
humanidade passasse por todo esse
doloroso processo de evolução, ou de repente, num
passe
de mágica poderia purificar todas as almas, se Ele
não
faz isso, talvez seja porque
não é capaz de destruir o mal, sendo assim Ele
não
seria todo poderoso. Mas digamos que Ele tem poderes suficientes para
acabar com o mal, mas mesmo assim insiste no processo, então
Ele
não poderia ser totalmente bom porque impõe o
sofrimento
a humanidade.
Alexandre:
Esse é um dilema que todos nós temos e que a
Doutrina
Espírita nos ajuda a entender como pode Deus ser Bom e Justo
e
Todo Poderoso e ver o mundo
cheio de injustiças e outras coisas que nos repugnam a
razão.
Não será numa
resposta por e-mail que o assunto se
esgotará. Mas podemos adiantar que todas essas coisas se
encaixam se analisarmos o princípio da
Reencarnação junto com a Lei de
Progresso (que já comentamos) e como isso se liga
à
Bondade e Sabedoria Divinas.
Imagine que tivéssemos
sido criados já com todo o
conhecimento e amor em grau máximo. Qual seria o objetivo da
vida? O que
faríamos então? Que tarefa teríamos
que fazer
já que tudo
estaria no seu devido lugar? A idéia de um
paraíso sobre
as
núvens tocando arpa não soa meio
monótono?
O que vemos na prática,
isto é, ao nosso redor conosco e
com as outras pessoas? Vemos uma multiplicidade de caráter,
conhecimento, sentimento mostrando que somos bem diferentes uns dos
outros. Se Deus é justo, não podemos admitir que
Deus
tenha
criado seres essencialmente diferentes uns dos outros. Mas ao nos dar o
direito de ter livre-arbítrio e criar a Lei de Progresso com
base em nosso próprio esforço, Deus demonstra que
o
melhor para nós é que tenhamos o
mérito do
esforço no
bem e a responsabilidade naquilo que for incorreto. Se temos um
livre-arbítrio,
então cada indivíduo pode fazer uma escolha
dentro dos
seus limites. As consequências dessa escolha
ensinarão a
esse indivíduo
se sua decisão foi boa ou não. Alguns optam por
seguirem
por
um caminho diferente dos outros e com o passar dos milênios
(isso
não é um processo rápido) diferentes
personalidades se constroem em cada um de nós, onde as
nossas
experiências de outras vidas determinam nosso jeito de ser,
no
presente.
Se Deus, em sua sabedoria, permitiu que progredíssemos,
é
bastante lógico que uma única
encarnação
não
daria tempo para atingirmos sequer um décimo do objetivo
maior
que é o progresso de
modo mais completo, tanto intelectual quanto do sentimento. Por isso
precisamos reencarnar tantas vezes quanto necessário assim
como
um estudante repetirá um curso ou uma série
tantas vezes
quanto for necessária para atingir a formatura. Se torna
mais
fácil perceber a Justiça Divina neste processo.
Se lembra
da passagem em que Jesus diz "é necessário o
escândalo mas ai
por que venha o escândulo."? A necessidade está no
fato de
que o
escândalo desperta a atenção das
pessoas que podem
analisá-lo e aprender com ele. Mas aquele que infelizmente
serviu de intermediário
para o escândulo se compromete perante a Lei de Amor e, ao
invés de ir para o Inferno pagar eternamente (o que seria
injusto já que o seu débito é algo
finito), ele
terá uma outra
chance, em outra encarnação de corrigir e reparar
o erro.
Isso
não é uma idéia muito mais condizente
com a
Bondade e Justiça do
que outras idéias? Ele, o que causou o escândalo,
certamente passará por dificuldades e "aparentes
injustiças" no
mundo mas estará educando seu coração
e sua mente
para o
bem maior, que é o nosso maior objetivo.
Portanto, minha amiga, o
sofrimento que existe hoje no mundo existe apenas com objetivo de
educar e despertar a consciência daqueles (todos
nós) que
passam por ele. Quanta solidariedade não surge diante de um
acontecimento sofredor? Se lembra das toneladas de alimento e
até dinheiro que foram doados às vitimas do
Tsunami?
Tudo se encaixa e
não cai um fio de cabelo sem a
permissão de Deus. Se voce analisar a vida não
como um
período
entre o berço e o túmulo materiais, mas como um
contínuo que
vém de bem antes desta encarnação e
atingirá o futuro pós
morte, fica mais fácil perceber que o objetivo maior
está
sendo atingido e que Deus realmente quer o nosso bem.
Assim, na discussão sobre
"existir" ou "deixar de existir" fica mais compreensível por
que
Deus não deixou a
opção de "desaparecermos". Desaparecer seria
perder o
futuro de luz, amor, felicidade e paz que nos aguarda de acordo com o
nosso esforço em educarmos nossos instintos e fraquezas.
Qual
pai terrestre permite que um filho se mate só porque vive
momentos difíceis na escola ou na vida pessoal? Tudo passa e
como um espírito chamado Emmanuel escreveu, "uma noite de
tempestade e escuridão é sempre um momento que
precede um
belo dia seguinte" (eu usei as minhas palavras).
Priscila:
Existem duas forças lutando constantemente: o bem e o mal.
(Deus e o Diabo) O que eu me pergunto é porque que eles
não lutam
apenas entre si, porque a briga não pode se restringir
apenas a
eles dois? Por que
envolver a humanidade nesta batalha? A impressão que me
dá,
é que os dois ficam medindo
forças e se utilizam da humanidade para isso.
Alexandre:
Segundo o Espiritismo, o bem e o mal, o diabo e o anjo, são
simbolismos que representam a nossa luta interior. Quantas vezes
não nos
vemos em conflito íntimo entre fazer uma coisa ou outra
porque
de um lado
queremos ter algum prazer mas de outro vemos que esse prazer prejudica
ou ocorre às custas de outra pessoa? Segundo o
Espiritismo Deus existe e é a causa primeira de todas as
coisas.
Mas o diabo
é apena um símbolo do desvio do caminho do bem,
do amor,
das leis Divinas. Segundo o Espiritismo, Deus não criou um
diabo
ou um
satanás destinado a testar-nos. Deus criou
espíritos ou
almas que
desenvolvem as virtudes através de múltiplas
oportunidades de exercer
o bem ou se afastar do bem. O sofrimento é apenas a
consequência
do desequilíbrio que no fundo, nada mais é do que
um
impulso
para que retornemos ao bem. Se comermos muito doce de leite, a natureza
material do nosso organismo reagirá produzindo dor, nos
avisando
para reduzirmos o consumo. Note que não é
proibido comer
doce,
mas o excesso nos é prejudicial. Digamos que na vida moral
as
coisas sejam assim também. Excessos do egoísmo
nos levam
a
sofrimentos e desequilíbrios. Mas esses sofrimentos nos
"cutucarão"
para encontrarmos a solução que está
na
vivência
da prática do amor.
Priscila:
Há uma parte na bíblia que diz que tudo o que
pedires, tendo fé, lhe será concedido. Mas esta
frase pra
mim não é de todo
verdadeira, pois se você
pedir pra Deus para te isentar do sofrimento, isso não lhe
será concedido, e eu chego a conclusão que isso
não é
possível pois sem o sofrimento Deus não poderia
evidenciar seu poder.
Alexandre:
É por essa razão que os espíritos
ensinaram o que
chamamos de fé raciocinada. Se eu pedir para ganhar na
loteria,
mesmo que eu
tiver fé, não será suficiente para
ganhar na
loteria porque o sentimento de cobiça ou
ambição
anula o efeito
da fé.
Se eu desejo não mais
sofrer, e peço com fervor que Deus
me ajude a livrar-me do sofrimento, isso equivale a eu pedir a Deus que
eu consiga aprender a lição ou a virtude que
ainda não aprendi. As vezes pedimos a Deus que nos retire a
dor,
para vivermos felizes, mas não sabemos que a dor nos impede
de
cometer atos que nos trarão uma infelicidade e um remorso
muito
maior na outra vida. Não disse Jesus que era melhor "entrar
na
vida sem um olho ou sem um braço do que o olho ou o
braço
ser motivo de escândalo."? Já meditaste
na grandeza desta frase de Jesus? Aos olhos do mundo o cego de
nascença é um infeliz desgraçado mas
aos olhos
de Deus, essa pessoa está se reeducando para a vida Maior
que
é a espiritual. Entende que a lógica é
um pouco
mais ampla nessas questões?
Priscila:
E quando você me diz que eu não tenho direito a
inexistência, eu penso que Deus está me impondo o
sofrimento.
Alexandre:
Não! Deus quer realmente que voce se torne feliz! Mas o
caminho
para a verdadeira felicidade está sendo doloroso,
difícil, o que é natural. Afinal de contas tudo
que
é muito fácil
tem pouco mérito. Voce já conheceu
alguém que no
auge da
juventude sofreu um acidente e se tornou paralítico? Que
tristeza para a
família e para o jovem? Mas certamente ele irá
aproveitar
o tempo na cama se dedicando a pensamentos e leituras muito mais
instrutivas do que praticando excessos de juventude. Um exemplo mais
concreto: Um jovem, filhos de pais abastados, ao completar 18 anos,
ganhou de presente do tio um belo e forte cavalo. O jovem almejava ser
cavaleiro e a gente pode imaginar a alegria dele com o novo presente.
Todos os dias, por muitas horas do dia, ele ia cavalgar e treinar
saltos e etc. Os pais e demais familiares viviam muito contentes com a
alegria do nosso rapaz. Semanas seguintes, ao planejar mal um salto, o
cavalo deu um pulo para trás e o jovem foi
lançado ao
chão com tanta
violência que quebrou as pernas. "Maldito cavalo!!", "Quem
foi o
infeliz que deu um cavalo desses perigoso ao nosso filho" bradavam os
pais. O tio até foi embora para não apanhar dos
pais do
rapaz.
Voce pode imaginar bem o sofrimento tanto dele quanto da
família
ao ver um rapaz de 18 anos, na flor da juventude e saúde, de
cama sem poder fazer quase nada! Uma semana depois, chegou à
vila onde essa família morava um aviso do governo daquele
país
dizendo que todos os jovens seriam conclamados para se apresentar no
exército do país pois este havia entrado em
guerra com
o país vizinho. "Bendito cavalo!!" "Quem foi o messias que
enviou esse cavalo ao nosso menino!?" "Graças ao acidente o
jovem foi isento de ter que arriscar a vida nas frentes de batalha..."
Moral da história: o que
nos parece sofrimento agora, pode vir a ser um recurso que a
Providência Divina se lançou para evitar um mal
maior e
nos conduzir a outras experiências mais produtivas para
nós.
Percebe a idéia?
Priscila:
A dor, os problemas e o sofrimento transcende a minha vontade, qualquer
caminho ou opção que eu faça eu vou
sofrer, por
mais
inteligente ou sábio que uma pessoa seja, ela
inevitavelmente
vai sofrer. Quando você diz que eu
tenho que obrigatoriamente passar por esse processo querendo eu ou
não, eu penso que eu não tenho o livre
arbítrio,
porque liberdade pra mim
é poder decidir o meu destino seja ele qual for, e
não
quando ele é restrito a apenas duas escolhas.
Alexandre:
O livre-arbítrio existe sim. Ele existe na forma pela qual
voce
passa pela dificuldade. Há duas maneiras de vivenciar uma
experiência: dignamente, de acordo com o Evangelho; ou de
forma
revoltada, onde quase sempre nos envolvemos em novas dívidas
que
trarão novas futuras consequências para
nós mesmos.
Jesus não dizia que com
Ele "o jugo era suave e o fardo era
leve."? Isso nada mais significa que depositando no Criador nossa
confiança e agindo da melhor forma possível
diante de
nossos problemas, estes se tornam menores e passageiros pois sabemos
que um futuro melhor nos aguarda. Mas quando nos revoltamos e desejamos
"fugir" ao que nos cabe realizar, somente agravamos nossa
situação.
A questão da liberdade
fica, então, da seguinte forma:
hoje somos obrigados a colher o que plantamos nessa e em outras
encarnações passadas. Mas o nosso futuro depende
da boa
sementeira que fizermos no presente. Por isso, nossa liberdade depende
do conhecimento: quando aprendemos as Leis Morais de modo mais claro,
nos capacitamos para tomar decisões mais apropriadas frente
ao
nosso futuro. Por exemplo, estou sofrendo agora mas não vou
despejar no meu vizinho toda a minha dor. Estou sofrendo agora, mas meu
próximo está sofrendo ainda mais
e se eu puder ajudá-lo, como eu gostaria que me ajudassem,
isso
será muito bom!
Priscila:
Quando você me compara a um bebê que não
pode
decidir o que é bom ou ruim para si mesmo, eu
não sei se concordo, pois um bebê não
tem
noção de absolutamente
nada, nem de seus direitos e nem das regras que são lhe
impostas, diferentemente de mim, que
tenho noção das leis e sei das
conseqüências
do caminho que tomo.
Alexandre:
É isso mesmo que voce está falando! O
bebê
não tem conhecimento nenhum das coisas. Portanto
não tem
condições de escolher
o que é melhor.
Os pais fazem isso por ele. Nós somos como que
crianças
no ponto de vista espiritual. Deus escolhe por nós
várias
das
experiências que temos porque passar. Nossa
reação
perante elas
será mérito ou demérito nosso.
Note que eu não quis
comparar voce a um bebê. Desculpe se
voce entendeu dessa maneira. O bebê representa o
estágio
em que
desconhecemos as coisas.
Mas podemos nos comparar a crianças maiores ou menores.
Já temos algum progresso mas estamos longe da maturidade que
caracterizou a vida de Jesus, ou mesmo de personalidades como Gandhi e
Madre Tereza de Calcutá (temos o Chico Xavier como um bom
exemplo no
Movimento Espírita). Já sabemos alguma coisa mas
não sabemos
tudo. Por isso é que Kardec recomenda que a Doutrina
Espírita seja lida
com calma e analisada com relação a esses
aspectos.
Priscila:
Não digo
que não gostaria de ser perfeita, apenas
digo que o preço para se chegar a ela, pra mim é
muito
caro, e eu renunciaria a ela
pela liberdade da minha inexistência. Gostaria de deixar
claro
que a minha
lógica não se
dá a todas as pessoas, pelo contrário, a maioria
das
pessoas gostam de viver
apesar do sofrimento e dos problemas e gostam de servir a Deus
incondicionalmente, e eu
não vejo nada errado nisso, eu só penso que o que
eu vejo
como
liberdade, me é impossibilitado. Ficarei muito contente se
puder
esclarecer algo com
seu vasto
conhecimento, principalmente se caí em
contradição.
Abraços,
Priscila Presley
Eu gostaria de sugerir a voce que
tente ler as obras básicas. Elas contém
explicações para essas e muita outras
coisas que são importantíssimas. Kardec diz que
não devemos
aceitar nada apenas porque essa ou aquela pessoa disse ou esse ou
aquele espírito disse. É preciso que busquemos o
conhecimento
por nós próprios para que a fé se
solidifique em
nossos
corações. Ao meu ver, voce está mais
do que
preparada para fazer uma análise das obras
básicas. Eu e
os demais companheiros do
GEAE, assim como o seu amigo Marcelo, podemos ajudar mas não
podemos fazer a parte que lhe cabe.
Estaremos sempre a sua
disposiçao. Desculpe a demora de novo.
Um abraço,
Alexandre
Pensamento
e Elementos Gerais do Universo, Gilberto P. A. Oliveira, Brasil
Olá
irmãos!
(...) É correto o que a gente ouve dizer nos meios
espíritas
que o pensamento é matéria?
Gilberto Oliveira
Prezado Gilberto,
Quem lhe disse que o pensamento
é matéria certamente não é
um estudioso da
Doutrina Espírita.
O
pensamento, para nós,
espíritas, é uma poderosa força capaz
de grandes
realizações quando transformado em
ação.
Quando, porém, fica fixo em nossa mente sem produzir
absolutamente nada de útil, ele pode se transforar em
perigosa
doença psíquica. Daí a conhecida
filosofia que diz
"Somos o que pensamos". Pensamos no bem e somos agentes de
transformaçào na Terra para um mundo melhor.
Pensamos no
mal e somos destruidores das obras alheias. Se nosso pensamento
é fixo e travado na mente, ficamos doentes da alma.
Nas dimensões espirituais
o pensamento adquire mais poder pois nossos pensamentos podem ser
plasmados em nosso psiquismo e no psiquismo dos que sintonizam com o
nosso com grande faclidade, pois não encontram
resitênca
da matéria. São as chamadas ideoplastias.
Para se ter uma vaga idéia
do seu efeito basta lembrarnos dos relatos históricos de
histerias coletivas, como na célebre "invasão de
alienígenas" que, de brincadeira de primeiro de abril feita
no
rádio nos EUA na década de 40, se não
me engano,
gerou relatos convictos de visão e
interação com
os tais alienígenas que nunca existiram. Ou com a
adesão
em massa pelos alemães à tresloucada
idéia de
pureza de raça que Hitler criou e divulgou com seu poderoso
magnetismo pessoal. Muitos, mais tarde, cairam em si e ficaram sem
entender como tinham acreditado em tese tão absurda.
Espero ter ajudado o irmão
a entender que nós que estudamos o Espiritismo, nada falamos
que
contrarie o que a Ciência explica.
Um abraço fraterno,
Renato Costa
Prezado
irmão,
Concordo
com voce sobre o
pensamento, pois também tenho esse conceito sobre o
pensamento,
já que ele é um dos atributos do
espírito,
não pode ser matéria. Acredito mesmo que as
pessoas sem
maldade vão falando das coisas sem meditar na
essência.
Gostaria
de educadamente fazer
outra perguntinha curiosa que até hoje ainda não
obtive
resposta. Quando Allan Kardec em sua sabedoria, questionou os
espíritos sobre uma definição do que
seria a
matéria, eles disseram: a matéria é o
laço
que prende o espírito, é o instrumento de que
este se
serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua
ação.
Ora,
meu irmão, se a
matéria está dividida em orgânica e
inorgânica e aqui na pergunta não foi
especificado, o
princípio inteligente estaria atuando na matéria
bruta?
Esta pergunta me intringa, OK?
Gilberto Oliveira
Prezado Gilberto,
Nada na Codificação
ou de qualquer outra obra pode ser pinçado e examinado fora
de
contexto.
A
resposta que você
selecionou consta de O Livro dos
Espíritos, Parte
1a, Capítulo II, "Dos Elementos
Gerais do Universo". Para se entender a resposta é
necessário que se estude o todo do Capítulo.
Quando
os Espíritos deram,
como definição de matéria, a resposta
“A
matéria é o laço
que prende o Espírito; é o instrumento de que
este se
serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua
ação.”,
eles, certamente, não estavam falando da matéria
como
nós a percebemos. Afinal, quando o Espírito
está
desencarnado, ele só interage com a matéria
através de um encarnado, a que chamamos de
médium. Logo,
ele não é preso por essa matéria o
tempo todo nem
precisa usá-la obrigatoriamente.
Para sabermos de que
matéria falavam os Espíritos, temos de ler
adiante.
29. A
ponderabilidade é um atributo essencial da
matéria?
“Da matéria como a entendeis, sim; não,
porém, da
matéria considerada como fluido universal. A
matéria
etérea e sutil que constitui esse fluido vos é
imponderável. Nem por isso, entretanto, deixa de ser o
princípio da vossa matéria pesada.”
Como
podemos ver, os
Espíritos falavam da matéria considerada fluido
universal
e não da matéria como a conhecemos no plano
físico. Eles falavam do persispírito, como parte
nunca
desassociada do princípio inteligente e através
do qual
ele age.
Não
há nada de
estranho na resposta, como você pode ver. No entanto, temos
de
saber de que os Espíritos estão falando, antes de
tirarmos qualquer conclusão.
Um abraço fraterno,
Renato Costa
Irmão,
Eu
já li este capítulo
pois sou
estudioso da doutrina espírita sem fanatismo religioso, mas
o
que gostaria de saber não é do
espírito já
individualizado, mas do princípio inteligente ou seja do
elemento inteligente universal de onde partem as individualidades
espirituais, pois eu continuo achando essa pergunta mais profunda do
que parece, pelo motivo mesmo de que a matéria bruta
só
não poderia ter toda essa harmonia que nós
presenciamos
se o elemento inteligente não estivesse interagindo sobre o
elemento material ou seja o fluído cósmico
universal.
Obs. Falo aqui do elemento inteligente, não da sua
individualização. Eu não leio nada
isolado,
aguardo sua resposta.
Gilberto Oliveira
Prezado
Gilberto,
Sua dúvida está
cada vez mais interessante. Vejamos se posso ajudar.
No Item 55 do Capítulo I
de O Livro dos Médiuns. lê-se o seguinte (o
negrito
é meu):
55.
Hão dito que o Espírito é uma chama,
uma centelha.
Isto se deve entender com relação ao Espírito
propriamente dito,
como princípio
intelectual e
moral, a que se
não poderia atribuir forma determinada.
Mas, qualquer que seja o grau em que se encontre, o Espírito
está sempre revestido de um envoltório, ou
perispírito, cuja natureza se eteriza, à medida
que ele
se depura e eleva na hierarquia espiritual. De sorte que, para
nós, a idéia de forma é
inseparável da de
Espírito e não concebemos uma sem a outra. O
perispírito faz, portanto, parte integrante do
Espírito,
como o corpo o faz do homem. Porém, o
perispírito,
só por só, não é o
Espírito, do
mesmo modo que só o corpo não constitui o homem,
porquanto o perispírito não pensa. Ele
é para o
Espírito o que o corpo é para o homem: o agente
ou
instrumento de sua ação.
O
que Kardec chamou de "princípio
intelectual e moral"
no Item 55 acima citado é por ele e pelos
Espíritos
chamado de "princípio
inteligente" em
város outros trechos da
Codificação. No mesmo O Livro dos
Médiuns, sugiro,
por exemplo, consultar a resposta dos Espíritos à
questão 36 do Capítulo XXV. Vejamos (o negrito
é
meu):
283.
Evocação dos animais
36ª
Pode evocar-se o
Espírito de um animal?
"Depois
da morte do animal, o
princípio inteligente que nele havia se acha em estado
latente e
é logo utilizado, por
certos Espíritos incumbidos disso, para animar novos seres,
em
os quais continua ele a obra de sua elaboração.
Assim, no
mundo dos Espíritos, não há, errantes,
Espíritos de animais, porém unicamente
Espíritos
humanos."
Pelo
desenvolvimento do texto,
tudo indica, a meu ver, que o termo "Espírito", como aparece
na
questão de que estamos tratando em O Livro dos
Espíritos,
refere-se ao princípio Inteligente individualizado.
Ë
só assim entendendo, por sinal, que o texto faz sentido.
O
homem encarnado é
"espírito propriamente dito" + "persispírito" +
"corpo
físico" ou "princípio inteligente" +
"perispírito"
+ "corpo físico". Quando desencarnado, ele é
"espírito propriamente dito" + "persispírito" ou
"principio inteligente" + "perispírito". Como, no entanto, o
PI
e o perispírito nunca se separam, é comum
chamarms o todo
"PI + perispírito" de Espírito.
Meu
amigo Adésio Alves Machado
está
prestes a publicar um livro muito interessante que vai se chamar "O
Espírito em O Livro dos Espíritos", onde as
diversas
conotações em que o termo é utilizado
serão
comentadas. Espero ter ajudado.
Um grande abraço,
Renato Costa
Prezado Gilberto,
Eu
gostaria de acrescentar algumas
palavras ao que o Renato disse.
A origem da afirmativa de que o
pensamento é matéria está num
equívoco
muito frequente entre os espíritas e espiritualistas em
geral,
em que o fruto do pensamento é confundido com a origem do
pensamento.
Ao pensar e sentir, o
espírito, através do perispírito,
irradia fluidos.
Se alguém definir esses fluidos como sendo o pensamento,
daí sim ele será algo material pois toda a
matéria
e os fluidos decorrem do mesmo princípio material, comumente
chamado de Fluido Universal. Os espíritos podem "ver" nossos
pensamentos através das imagens que moldamos nos fluidos
espirituais ao nosso redor.
Mas se o pensamento for algo que
o espírito, em sua essência, gerou dentro de si,
fruto de
sua inteligência, daí não podemos dizer
que ele
é material pois os espíritos superiores disseram
que o
princípio inteligente é algo totalmente diferente
daquilo
que chamamos matéria.
Então, o importante
é a gente ter em mente sobre o que estamos falando ou lendo.
Os
espíritos sempre se preocuparam com a linguagem que
empregamos
para definir ou explicar as idéias e conceitos.
Note que a ciência sabe
descrever os fluxos elétricos entre os neurônios,
identificando áreas cerebrais que estão mais
ativas
quando fazemos esse ou aquele tipo de esforço
físico ou
mental. Mas ninguém é capaz de provar a origem do
primeiro impulso que determina que ação tomar,
que
pensamento ter, que preferência optamos, etc. O Espiritismo
é a chave para esse problema dizendo
que a origem dos pensamentos é o Espírito. Ok?
Espero ter
ajudado.
Alexandre Fonseca