Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

http://www.geae.inf.br

Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec

Ano 13 - Número 490 - 2005            29 de março de 2005


Editorial

Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo

Artigos

Curso de Ciência e Espiritismo, 8ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil
Complexidade e Liberdade, Edgar Morin, França

História & Pesquisa

Vidência e Clarividência II, Jáder dos Reis Sampaio, Brasil

Questões e Comentários

Esclarecimento sobre Afirmações de Kardec, Manoel Lopes, Brasil
Informação sobre o Espírito do Médium ?, Sueli, Brasil

Painel

Centro de "Estudos Espíritas Boa Nova" de Nova Iorque em Novo Endereço, EUA
Espiritualidade no Cuidado do Paciente, AME, Brasil
1st British Spiritist Mini-Congress, BUSS, UK
Show em benefício do "Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo", CCDPE, Brasil
Seminário Espírita na cidade de Estocolmo,  Franklin Santana Santos, Suécia



Editorial


Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo


Caros Amigos,

Algumas vezes já tivemos oportunidade de trocar idéias nos editoriais que escrevemos sobre a capacidade do Espiritismo transformar nossa sociedade, estabelecendo uma firme base filosófica, cientifíca e moral sobre a qual o homem poderá edificar a civilização do porvir.
 
Pois bem, para que esta capacidade transformadora da Doutrina se transforme efetivamente em ato é necessário que a bagagem cultural espírita seja conhecida e estudada, dentro e fora dos grupos espíritas. O exemplo impressiona e arrebata, mas uma vez que a vivência dos postulados espíritas por seus adeptos chame a atenção geral para sua magnifica riqueza doutrinária, é necessário que as fontes de conhecimento a respeito dela estejam ao alcance dos que quiserem estudá-la.

O livro espírita hoje é uma realidade nas livrarias, mas mesmo com esta facilidade, ainda estão fora do alcance do estudioso comum a coleção completa e ordenada das obras que formam toda a base sobre a qual se assenta o conhecimento espírita. Também estão fora de seu alcance a história do movimento espírita, a musica e o teatro espíritas, a cinematografia e as pesquisas variadas desenvolvidas por espíritas sobre o problema do ser, do destino e da dor. Para acessá-las o estudioso terá que recorrer a varias bibliotecas de grupos espíritas, acessar coleções particulares e despender recursos na compra do material mais dificil de ser encontrado, quando não tiver que recorrer aos sebos para encontrar obras raras já fora de circulação. Naturalmente este caminho é um pouco menos difícil para o estudioso que é espírita, que cresceu e viveu no meio do movimento espírita e ao longo da vida colecionou as referências necessárias, mas o que dizer do aluno que deseje fazer uma tese de mestrado e que nunca tenha entrado em um grupo espírita ou do adepto de outras correntes filosóficas que deseja aprender um pouco sobre a doutrina mas tem receio de ser visto adentrando um grupo religioso diferente do seu ?

Buscando sanar esta dificuldade surgiu a idéia de se criar um pólo de difusão da informação espírita, para espíritas e não-espíritas, estruturado na forma de um Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo. Mais que uma biblioteca aberta ao público em geral, ou um local onde se realizarão eventos culturais espíritas, a idéia é que ele seja um agente dinamizador onde se encontre a disposição do pesquisador o acervo necessário para o desenvolvimento de seus conhecimentos e ao mesmo tempo onde ele possa gerar conhecimento novo para ser transmitido a sociedade em geral. E a disposição do pesquisador estarão todas as diferentes visões da Doutrina, sem personalismos ou sectarismos, pois a diversidade de idéias é um elemento fecundador para o continuado desenvolvimento de novos questionamentos e de novas soluções.

Este trabalho está em fase inicial, está partindo do acervo reunido durante anos seguidos pelo historiador espírita Eduardo Carvalho Monteiro, e de uma edificação doada para a localização dos trabalhos do CCDPE. A regularização está em andamento, está se estruturando o quadro social da instituição e levantando as verbas para criar-se as instalações adequadas a instituição, que inclusive se utilizará largamente da Internet para pesquisas em seu acervo.

O GEAE tem acompanhado o surgimento do CCDPE a partir do trabalho do Eduardo - que foi inclusive o idealizador da "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas" com a qual temos desenvolvido proveitosa parceria nos estudos sobre a história e a ciência espírita - e realmente não poderiamos deixar de falar um pouco dele. Tenho certeza que os amigos que buscarem conhecê-lo um pouco melhor não deixarão de ficar impressionados.

Muita Paz,
Carlos Iglesia
Editor GEAE

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Artigos

 

Curso de Ciência e Espiritismo, 8ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil

Física e Espiritismo III: Análise dos Fenômenos Espíritas. Exemplos de pesquisas com valor científico


1. FÍSICA E ESPIRITISMO III: ANÁLISE DOS FENÔMENOS ESPÍRITAS

Nas últimas aulas, comentamos a respeito da relação entre energia e matéria e como a teoria quântica nos leva a compreender algumas questões do Livro dos Espíritos [1]. Hoje, iniciaremos uma importante discussão sobre os fenômenos espíritas, analisando se eles teriam ou não características “quânticas”. Por fenômeno espírita estamos querendo dizer os fenômenos que se caracterizam pela mediunidade de efeitos inteligentes e de efeitos físicos. Nesta aula, relembraremos algumas características dos fenômenos mediúnicos à luz do Espiritismo e comentaremos sobre algumas características dos fenômenos quânticos. Na próxima aula, analisaremos se os fenômenos espíritas são ou não quânticos.

A característica básica da mediunidade de efeitos inteligentes, incluindo a intuição, é a forma como os espíritos se comunicam. Segundo os espíritos, em resposta à questão número 282 do Livro dos Espíritos [1]:


282. Como se comunicam entre si os Espíritos?

"Eles se vêem e se compreendem. A palavra é material: é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veículo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro.” (Grifos nossos).


A mesma explicação pode ser encontrada para o mecanismo de ação da prece (ítem 10 do cap. XXVII do Evangelho Segundo o Espiritismo[2]).
Os fenômenos de efeitos físicos requerem a presença de médiuns com uma aptidão especial (Cap. II da Segunda Parte do Livro dos Médiuns [3]) para fornecerem fluidos ditos animalizados. A mesma referência acima define as manifestações físicas como aquelas “que se traduzem por efeitos sensíveis, tais como ruídos, movimentos e deslocação de corpos sólidos. Para ressaltar melhor uma característica que nos interessa em nossa análise, vamos estudar a explicação dada pelo espírito de Erasto para o fenômeno de transporte (ítens de 96 a 99 do Livro dos Médiuns [3]). Segundo Erasto, esse fenômeno requer a combinação dos fluidos do espírito com o fluido vital do médium. Vamos transcrever uma das perguntas de Kardec sobre o assunto, feitas a um espírito que se prestou a realizar o fenômeno de transporte de flores, e ao espírito de Erasto. A resposta de Erasto contém um ponto importante para nós:


8ª Será possível trazer flores de outro planeta?
"Não; a mim não me é possível."
- (A Erasto) Teriam outros Espíritos esse poder?
"Não, isso não é possível, em virtude da diferença dos meios ambientes."

Essa questão é interessante porque se não é possível trazer um objeto de outro planeta em virtude das diferenças na atmosfera fluídica entre a Terra e o planeta, podemos deduzir diretamente que o fenômeno de transporte não ocorre por meios instantâneos e imateriais. O fenômeno requer que o espírito vá até o local onde se encontra o objeto e, de alguma forma, traga-o consigo viajando através do espaço até o ponto onde ele o apresentará.
<>Vejamos, agora, algumas características importantes dos fenômenos quânticos. Não é nosso objetivo expor uma longa explicação de todas as propriedades dos sistemas quânticos. O leitor que se interessar pelo assunto poderá estudá-lo profundamente em livros textos como o da referência [4]. Aqui, exporemos as idéias básicas que forem necessárias para nossa análise.

A primeira característica importante para nós (chamemo-la C1) é o fato de que ao nível microscópico, as trocas de energia somente ocorrem através de quantidades finitas pequenas (os quanta) de energia. No limite macroscópico, as quantidades de energia são tão grandes em comparação com os fenômenos em escala microscópica, que tudo funciona como se as trocas de energia fossem feitas com qualquer quantidade.


A segunda característica (chamemo-la C2) é a chamada dualidade onda-partícula, isto é, ora um objeto se comporta como se fosse uma onda; ora se comporta como se fosse uma partícula. Isso depende da forma como o observador prepara o experimento. Interpretações posteriores da Mecânica Quântica consideram que isso é uma consequência do chamado Princípio da Complementaridade que diz que a realidade nunca pode ser percebida em todas as suas características, mas que as várias formas se “complementam” na descrição da realidade.
A terceira característica (chamemo-la C3) decorrente do aspecto ondulatório dos fenômenos quânticos, é a propriedade conhecida como não-localidade. Alguns fenômenos como o chamado colapso da função de onda, o salto quântico e o chamado emaranhamento de duas ou mais partes de um sistema, apresentam a característica não-local. Nesses fenômenos, a própria partícula ou alguma informação relacionada ao sistema é transferida de um lugar para outro do espaço de forma instantânea sem que tenha havido ocupação dos espaços intermediários nesse deslocamento. Essas características decorrem das propriedades daquilo que chamamos função de onda do sistema. Segundo a interpretação de Copenhague da Mecânica Quântica, atualmente mais aceita, o quadrado do módulo da função de onda de um sistema quântico contém a informação sobre as probabilidades de ocorrência para os valores das diversas grandezas físicas que o sistema pode apresentar em uma determinada medida experimental. Discutiremos, em aula futura, como essa característica probabilística pode gerar um conflito com um importante princípio espírita caso atribuamos ao espírito ou a Deus a existência de uma função de onda. Na próxima aula faremos a análise dos fenômenos espíritas com base nas características dos fenômenos quânticos acima apresentados.

2. EXEMPLOS DE PESQUISAS DE INTERESSE ESPÍRITA COM VALOR CIENTÍFICO

<>Na aula anterior fizemos uma orientação com relação a busca de bibliografia com maior valor científico para os trabalhos de pesquisa de ordem científica, de interesse espírita. Tais bibliografias se justificam quando o trabalho de pesquisa visa trazer contribuições reais ao conhecimento espírita. Se a intenção é apenas divulgar outras pesquisas científicas e teorias novas ou expor idéias particulares baseadas em intuição ou opinião (deixando claro que se tratam de idéias ou opiniões apenas, sem valor científico), o rigor que comentamos não necessita ser tão severo já que esse tipo de trabalho ou texto não tem nenhum valor científico. Opinião, por mais respeitável que seja, por si só não tem valor científico. Faz parte do nosso estudo, aprender a discernir esse tipo de publicação daquela resultante de um trabalho de pesquisa mais elaborado.

Para não ocupar muito espaço vamos citar alguns exemplos de pesquisas de interesse espírita que possuem valor científico em função da qualidade das citações utilizadas e dos métodos e argumentos empregados no trabalho de pesquisa.


As pesquisas citadas na aula 4 (Boletim 486) na área médica, são bons exemplos de trabalhos de pesquisa mais elaborados. Como se pode perceber, os autores possuem formação acadêmica e científica na área em questão, o que favorece a realização do trabalho em moldes mais científicos. A área médica, ao nosso ver, é muito promissora para pesquisas de interesse espírita por lidar diretamente com o ser humano.

Os exemplos que apresentamos na aula 5 (Boletim 487) sobre contribuições da matemática, são trabalhos voltados para a divulgação no meio espírita de pesquisas científicas na área de Matemática Aplicada cujas consequências são de interesse espírita. Buscamos citar algumas referências originais (artigos científicos) dos trabalhos de pesquisa para que o leitor possa verificar que se tratam de pesquisa profissional e para que nosso trabalho tenha o respaldo científico.

Um conjunto de artigos de grande valor científico, filosófico e doutrinário são de autoria do Prof. Silvio Chibeni. Eles podem ser obtidos na ‘homepage’ da referância [5].

Alguns outros trabalhos serão apresentados em aulas futuras de acordo com a oportunidade. Na próxima aula comentaremos, a título de exemplo, sobre as pesquisas do Dr. Masaru Emoto com os cristais da água. Esse trabalho tem sido considerado por muitos grupos espiritualistas (incluindo os espíritas) como sendo científicamente comprovado quando esse não é o caso.

Referências

[1] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76a Edição (1995).
[2] A. Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Editora FEB, 112a Edição, Rio de Janeiro (1996).
[3] A. Kardec, O Livro dos Médiuns, Editora FEB, 62a Edição, Rio de Janeiro (1996).
[4] R. Eisberg, R. Resnick, Física Quântica, Átomos, Moléculas, Sólidos, Núcleos e Partículas, Tradução de Paulo Costa Ribeiro, Enio Frota da Silveira e Marta Feijó Barroso, Editora Campus, 21ª Tiragem, (2003).

[5] http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482/


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Complexidade e Liberdade, Edgar Morin, França

Este texto apareceu anteriormente na publicação de ensaios Thot, da Associação Palas Athena, São Paulo (no. 67, 1998, pp. 12-19) e encontra-se disponível no endereço:

http://www.geocities.com/pluriversu/complexi.html


A complexidade nos convoca para uma verdadeira reforma do pensamento, semelhante à produzida no passado pelo paradigma copernicano. Mas essa nova abordagem e compreensão do mundo, de um mundo que se "autoproduz", confere também  um novo sentido à ação: trata-se de fazer nossas apostas, o que vale dizer que com a complexidade ganhamos a liberdade.

A grande descoberta do século é que a ciência não é o reino da certeza. Ela se baseia, seguramente, numa série de certezas local e espacialmente situadas. A rotação da Terra em torno do sol, por exemplo, nos parece certa; mas seria possível dizer isso, tanto 100 milhões de anos antes de nossa era quanto depois, sabendo-se que o Universo está submetido a flutuações e perturbações, às quais hoje chamamos de movimento caótico? A ciência é de fato um domínio de múltiplas certezas, e não o da certeza absoluta no plano teórico. A obra de Popper se tornou indispensável para a compreensão de que uma teoria científica não existe como tal, a não ser que, na medida em que aceita ser falível, submete-se ao jogo da "falsificabilidade" e, portanto, aceita sua biodegradabilidade.

Ordem, Separabilidade e Lógica: os Pilares da Ciência Clássica

A ciência clássica se apóia nos três pilares da certeza, que são a ordem, a separabilidade e a lógica. Para ela, esses eram os fundamentos absolutos. A ordem do Universo, tal como entendida por Descartes e Newton, era o produto da perfeição divina. Com Laplace, a hipótese de Deus é descartada: a ordem funciona sozinha, é "autoconsolidada". A idéia de determinismo absoluto tornou-se objeto de uma crença quase religiosa entre os cientistas, que por isso se esqueceram de que ela não pode, de modo algum, ser demonstrada.

A segunda idéia-chave era a separabilidade. Conhecer é separar. face a um problema complicado, dizia Descartes, é preciso dividi-lo em pequenos fragmentos e trabalhá-los um após o outro. Assim, as disciplinas científicas são desenvolvidas a partir da divisão do interior das grandes ciências, a física, a biologia etc.,  o que dá origem a compartimentos sempre novos. No limite, pode-se dizer que a separação entre ciência e filosofia e, mais amplamente, entre ciência e cultura humanista — filosofia, literatura, poesia etc. —, está instituída em nosso século como uma necessidade legítima.

Nas ciências, a separação entre o observador e sua observação, ou seja, entre nós, humanos, que consideramos os fenômenos, e  estes (os objetos de conhecimento), tinha valor de certeza absoluta. O conhecimento científico, objetivo, implicava a eliminação do indivíduo e da subjetividade. Se existisse um sujeito, ele causaria perturbação — seria um ruído.

Terceiro pilar: a lógica, a indução. Com base em um número importante e variado de observações, podia-se tirar delas leis gerais. Quanto à dedução, era um meio implacável de conduzir à verdade. Os princípios aristotélicos da identidade, da não-contradição e do terceiro excluído, permitiam eliminar toda confusão, equívoco e contradição.

A lógica, a separabilidade e a ordem levaram para a ciência clássica essa certeza absoluta, na qual ela se baseia. E os resultados têm sido tão brilhantes que acabaram, paradoxalmente, colocando em xeque os princípios fundamentadores da separação. Foi a ordem, isto é, o determinismo (tudo o que escapa ao acaso, às perturbações e à imprevisão), que entrou primeiro em crise. Com efeito, a termodinâmica introduziu a desordem molecular no fenômeno chamado calor. Sabemos hoje que nosso Universo tem uma origem calorífica, surgiu de um fenômeno térmico inicial, uma espécie de explosão seguida de enorme agitação.

A presença da desordem universal se revela em todos os níveis: microscópico, cosmofísico e também histórico, humano. Em relação a este,  lembramos que a história não se reduz a processos determinísticos: é também feita de bifurcações, acasos, crises, daquilo que Shakespeare chamou de "o som e a fúria". Isso não quer dizer, no entanto, que a desordem tomou o lugar da ordem. Um Universo assim seria tão insensato e impossível como aquele em que reinasse a ordem pura.

No reinado da ordem pura não há criação, não há possibilidade de nada novo. Se só existisse a desordem, agitação, a álea, o Universo seria simplesmente inviável.
É preciso, portanto, que desde o começo um certo número de princípios, considerados como de ordem, provoquem, sob certas condições, alguns encontros nessa agitação de partículas. O princípio de interação forte ligará e formará núcleos; o princípio de interação eletromagnética impelirá os elétrons, para que eles se coloquem em volta do núcleo e formem os átomos; enfim, o princípio gravitacional atua no plano da formação dos astros, das galáxias...

Em outros termos, estamos diante deste paradoxo: as noções de ordem e desordem se repelem mutuamente. O Universo é um coquetel de ambas, uma mistura muito diferente segundo os casos, as condições, os lugares, os momentos... De acordo com o ângulo de observação, um dado fenômeno pode ao mesmo tempo se inclinar para um lado ou para o outro. Os átomos de carbono, por exemplo, são formados nos sóis anteriores ao nosso, pela reunião instantânea de três núcleos de hélio. No interior dessas fantásticas forjas que são os astros, as interações são inumeráveis e o encontro, no mesmo momento, de três núcleos de hélio, é tão raro quanto aleatório. Entretanto, uma vez ocorrido, uma lei entra em jogo: a do carbono que vai ser produzido.

É no encontro da ordem e da desordem que se produz a organização. Quando os três núcleos de hélio se reúnem, nasce uma delas, a do átomo de carbono. Essas organizações criam, no seu próprio interior, uma ordem que lhes é própria. O mundo dos seres vivos obedece a todas as leis da física e da química; sua ordem é baseada na autoprodução, na regeneração etc.

Quanto á separabilidade, percebeu-se que ela leva à divisão das partes constituintes dos conjuntos organizados em sistemas, o que proporciona um conhecimento insuficiente, mutilado. Pode-se extrair um corpo de seu meio natural, colocá-lo num contexto experimental, controlado pelas variações que sobre ele atuam. Não é possível conhecer, numa única avaliação, a relação profunda que existe entre o corpo e seu ambiente. Os seres vivos não são nada sem o seu meio. As experiências realizadas em cativeiro, para investigar a inteligência de seres sociais como os chimpanzés, não nos têm permitido saber o que eles aprenderam depois delas. Com efeito, no curso de observações pacientes desses animais, em seu meio natural e em suas sociedades, pôde-se constatar que os indivíduos são diferenciados e que existem relações muito complexas entre eles. O chimpanzé adulto, por exemplo, não pratica o incesto.

A separabilidade perdeu seu valor absoluto. Uma das peculiaridades de um conjunto organizado em sistema decorre do fato de que, ao existir, essa organização produz qualidades novas, chamadas "emergências". Estas retroagem sobre o todo, e não podem ser identificadas quando se tomam os elementos isoladamente. Desse modo, a organização viva gera um certo número de qualidades, como autoprodução, autonutrição e auto-reparação. Tais qualidades não se encontram nas partes, mas as beneficiam. Da mesma forma, uma sociedade produz emergências culturais, como a linguagem, que retroage sobre os indivíduos e lhes permite, por sua aquisição (que é também conhecimento), tornarem-se plenamente humanos.

Consumou-se hoje, nas ciências, uma segunda transformação. A primeira aconteceu na física, no começo deste século, e destronou a ordem. A outra começou na segunda metade do século, com as ciências ditas sistêmicas, que lidam com os sistemas ecológicos espontâneos, que nascem das interações entre as plantas, os animais, o terreno geofísico, o clima. Todas essas interações produzem um conjunto mais ou menos auto-regulado, submetido a perturbações. Dessa maneira, a partir dos anos 80, a ecologia começou a levar em conta, além dos ecossistemas, o sistema ainda mais complexo e mais ou menos regulado que é a biosfera. Isso permitiu acrescentar os seres humanos e sua civilização técnica, e prever com alguma certeza os riscos possíveis da desregulação.

A partir da descoberta da tectônica das placas, nos anos 60, as ciências da Terra (sismologia, vulcanologia, geologia), que não se comunicavam entre si,  hoje são articuladas umas às outras. Essa circunstância  tem permitido compreender o planeta como um conjunto articulado e complexo. O ecologista, por exemplo, não conhece todos os dados da zoologia,  botânica, física, geografia; tem um conhecimento parcial de cada uma, "um pouco de tudo", como dizia Pascal. No entanto, ao apelar para as competências dessas diferentes especialidades, ele dá um sentido a seus conhecimentos e os articula entre si. Infelizmente, a sociologia não fez essa revolução. A biologia também não.

A cosmofísica, na realidade, tornou-se inseparável da cosmologia, que é um ensaio de compreensão do mundo. A revolução da ressurreição do cosmos (durante um século, o espaço-tempo — uma espécie de infinito — havia tomado o seu lugar) começou logo que se constatou o afastamento das galáxias. Num determinado momento, supunha-se que elas eram muito próximas umas das outras e que havia existido um núcleo inicial. Hoje sabemos que o cosmos tem uma história e que ela sofreu transformações. O cosmólogo foi levado a refletir sobre o mundo, sua origem, seu propósito ou sentido, se é que existe um. Ele retoma assim a relação filosófica, reinventa uma filosofia em estado selvagem. Com efeito, por falta de interesse dos filósofos, os cientistas são obrigados a refletir sobre o sentido de suas descobertas.

A questão: "O que é o real?", que parecia tão evidente, reapareceu. O que é o Universo onde — para seguir d'Espagnat — as coisas obviamente separadas são, num certo nível, inseparáveis, a partir do momento em que interagem? Trata-se de falar de inseparabilidade na separabilidade. O grande desafio do conhecimento repousa sobre esse paradoxo: para uma mesma realidade, depara-se ao mesmo tempo com o contínuo e com o descontínuo. As célebres experiências sobre a onda e o corpúsculo, relativas à natureza da partícula,  mostraram que ela se comporta tanto como ondulação quanto como grânulo. Ou seja: ora de modo contínuo, ora de forma descontínua — o que é contraditório do ponto de vista lógico.  Reencontramos os mesmos problemas no que se refere à sociedade: se a consideramos de modo global, trata-se de um continuum. os indivíduos nela se dissolvem, como ainda imaginam numerosos sociólogos. Ou então, pode-se considerar que tanto os  indivíduos quando a sociedade se diluem, o que permite a certos autores dizer que esta não existe, e que só contam as interações entre as pessoas. No caso da espécie e do indivíduo é a mesma coisa: não existem senão indivíduos. Contudo, quando se leva em conta um longo espaço de tempo, eles se dissolvem e surge a noção contínua de espécie.

Eis o paradoxo do separável e do inseparável. Pascal não só já o havia colocado, mas tinha também indicado o caminho a seguir para avançar no conhecimento. Que dizia ele? Que "sendo todas as coisas ajudadas e ajudantes, causadas e causadoras, estando tudo unido por uma ligação natural e insensível, acho impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, e impossível conhecer o todo sem conhecer cada uma das partes". Nessa frase, de uma densidade e clareza extraordinárias, ele formula — no mesmo momento em que Descartes, triunfante, introduz o princípio da separação absoluta — o programa do conhecimento contemporâneo, que ainda não se conseguiu pôr em prática.

No que concerne à lógica, o umbral foi transposto no momento em que certos teóricos, ou pensadores, mostraram os limites da indução. Segundo o célebre exemplo de Popper, a regra geral que diz que "todos os cisnes são brancos" já não é una, porque não se pode pressupor que não existam, em algum lugar, cisnes negros. A indução não é certeza absoluta; significa, em muitos casos, a existência de fortes possibilidades, de quase-certezas. Essa "derrapagem", que ocorre também na dedução,  foi assinalada pelos gregos. É o "paradoxo de Creta", segundo o qual todos os cretenses são mentirosos. Se um deles disser a verdade será, portanto, um mentiroso, porque todos os demais o são.

Esse paradoxo foi retomado por Russell, que tentou superá-lo. Ele nos conduz ao teorema de Gödel, cujo sentido é múltiplo, desde que queiramos investigá-lo além de seus limites matemáticos.  É um problema de lógica fundamental, que nos ensina que nenhum sistema tem a capacidade de dar a si próprio a prova de sua consistência, atribuir-se uma certeza suficiente a partir de suas próprias fontes. Conseqüência metalógica:  nenhum ser humano pode se autoconhecer por completo. O mesmo  acontece com a Humanidade. Eis uma abertura reveladora da inconclusibilidade do conhecimento — e da lógica.

A partir daí, a ciência clássica se defrontou com a contradição e começou a temer o erro. Niels Bohr teve a coragem de afrontar a aporia da onda e do corpúsculo sem poder ultrapassá-la, o que significa reconhecer que se trata de dois termos contraditórios e complementares. Admite-se hoje que é possível chegar, por meios racionais e empíricos, a essas contradições. De resto, Kant já havia mostrado que no horizonte da razão havia um certo número de impasses fundamentais.

Pode-se enfrentar esse problema não sonhando entrar numa nova lógica, que nos permita integrar as contradições, mas mostrando que é possível promover um incessante jogo de circularidade entre nossa lógica tradicional e as transgressões necessárias ao progresso de uma racionalidade aberta. Esse propósito pode ser ilustrado tomando o aforismo de Heráclito: "Viver de morte, morrer de vida". Eis uma proposição extravagante. No entanto, sabemos hoje que os seres vivos — nosso organismo, por exemplo — ao funcionar degradam sua energia, isto é, as moléculas de suas células. Estas morrem e são substituídas por outras. Dizendo de outra forma, nossa vida continua graças à morte celular, porque o organismo é dotado de um poder de regeneração contínua. Cada batimento do coração, cada movimento respiratório, é uma obra de regeneração. O oxigênio é um detoxificante.

Do mesmo modo, uma sociedade vive da morte de seus indivíduos. Faz isso passando às novas gerações a cultura que começa a se decompor nos cérebros mais senis. É como viver da morte. Essa contradição lógica fundamental pode ser explicada, etapa por etapa, de modo segmentar, sem sair do caminho lógico (as células têm a capacidade de se reproduzir). Entretanto, para compreender esse fenômeno básico necessitamos do paradoxo (que vale também para os ecossistemas) chamado circularidade trófica, que ilustra a recursividade da vida: o ciclo vital, que é também de morte. São duas faces da mesma realidade. Morrer de vida: esse é o nosso processo de rejuvenescimento contínuo. É "mortificante" remoçar, eis a trágica lição da vida.

Estas formulações nos permitem unir o que  o pensamento clássico não conseguiu. Continua sendo verdade que o maior inimigo da vida é a morte, e que o maior desafio ao fenômeno da decomposição é o renascimento da vida. O pensamento deve ser capaz de confrontar os antagonismos, poder enxergar as aporias, sem que para tanto precise renegar o valor da lógica, a dedução ou a indução.

Notas:
1. EDGAR MORIN é diretor emérito do Centre National de la Recherche Scientifique, em Paris, e presidente da Association pour la Pensée Complexe, também sediada em Paris.
2. O texto acima nos foi gentilmente enviado pelo amigo e colaborador Mattos, de São Paulo, com a seguinte mensagem:

Prezado GEAE:

Encontrei na Internet, por acaso, um interessante texto que tem muito a ver com os assuntos tratados neste Grupo, envolvendo o tema Ciencia. O texto é profundo e requer uma base filosófica, mas como o Grupo tem abordado "Estudos Avançados" com maestria, creio ser-lhe pertinente. O grande recado do autor é a necessidade de entedermos as coisas como um todo, embora complexo, e não como hoje, onde a realidade é separada em um monte de "tijolinhos" estanques e incomunicáveis.

  Imaginando que talvez esse texto possa ser de interesse aos estudiosos do assunto, remeto-o ao GEAE.

  E, a propósito, desejo a todos Paz e Progresso nesta mudança de ano que, embora convencional (pois o tempo não depende de como nós o repartimos), serve para lembrar-nos que "tempus fugit" (o tempo voa).

Continua no próximo Boletim

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História & Pesquisa

(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas")

Vidência e Clarividência, Jáder dos Reis Sampaio, Brasil

Uma Revisão dos Conceitos na Literatura Espírita, Metapsíquica e Parapsicológica - Parte II

(Continuação do Artigo iniciado no Boletim 489)

3. Médiuns Videntes, Sonambúlicos e Clarividência na Obra de Allan Kardec.

Definição e Fenômenos de Clarividência

O  termo clarividência surge pela primeira vez com seu sentido próprio² na parte de "O Livro dos Espíritos" que trata da emancipação da alma. Na questão 402, Kardec trata de uma "espécie de clarividência" que acontece durante os sonhos, onde a alma tem a faculdade de perceber eventos que acontecem em outros lugares. Neste ponto, portanto, ele emprega o termo como uma faculdade de ver à distância sem o emprego dos olhos. Os sonâmbulos seriam capazes deste fenômeno devido à faculdade de afastamento da alma de seu respectivo corpo seguida da possibilidade de locomoção da mesma. (q. 432)

Pouco depois, na questão 428, ele indaga aos espíritos sobre a "clarividência sonambúlica". Ele certamente se refere à faculdade já bastante descrita na literatura que trata do sonambulismo magnético, que, na questão 426, os espíritos consideraram equivalente ao sonambulismo natural, com a diferença de ter sido provocado. Os espíritos lhe respondem que as duas faculdades possuem uma mesma causa: a percepção visual é realizada diretamente pela alma do clarividente. Logo a seguir, Kardec pergunta sobre os outros fenômenos da clarividência sonambúlica (q. 429) como a visão através dos corpos opacos e a transposição dos sentidos. Os espíritos reafirmam que os clarividentes vêem afastados de seus corpos, e que a impressão que afirmam de estarem "vendo" por alguma parte do corpo, reside na crença que possuem que precisam deste para perceberem os objetos. A existência da faculdade sonambúlica não assegura a veracidade de todas as informações obtidas neste estado, com o que concordam os espíritos (q. 430).

Dando continuidade à linha de indagações sobre o sonambulismo, Kardec pergunta de onde se originam os conhecimentos apresentados pelos sonâmbulos que eles não possuem em estado de vigília e que não se explicam diretamente pela percepção sonambúlica. Os espíritos argumentam que em estado de emancipação, os sonâmbulos podem acessar conhecimentos que lhes são próprios, originários de existências anteriores, ou de outros espíritos com quem comunicam-se (q. 431). Faz sentido, então, questionar se todos os sonâmbulos são médiuns sonambúlicos, distinção esta que Kardec aprofundará em "O Livro dos Médiuns". Ainda em "O Livro dos Espíritos", afirma-se que a maioria dos sonâmbulos vê os espíritos, mas que muitos deles podem crer que se trate de pessoas encarnadas, por lhes ser estranha a idéia de seres espirituais.

Êxtase e Clarividência

Kardec distingue os fenômenos sonambúlicos do êxtase e da dupla vista. O êxtase seria um sonambulismo profundo. Neste estado ocorreria o contato com espíritos etéreos, o que causa as impressões geralmente registradas pelos santos. Na questão 455 encontra-se a seguinte descrição:

"Cerca-o então resplendente e desusado fulgor, inebriam-no harmonias que na Terra se desconhecem, indefinível bem-estar o invade: goza antecipadamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que pousa um pé no limiar da eternidade. No estado de êxtase, o aniquilamento do corpo é quase completo. Fica-lhe somente, pode-se dizer, a vida orgânica. Sente-se que a alma se lhe acha presa unicamente por um fio, que mais um pequenino esforço quebraria sem remissão. Nesse estado, desaparecem todos os pensamentos terrestres, cedendo lugar ao sentimento apurado, que constitui a essência mesma do nosso ser imaterial "

Kardec, entretanto, admite que muitas vezes o extático é vítima da sua própria excitação, fazendo descrições pouco exatas e pouco verossímeis, podendo chegar a ser dominados por espíritos inferiores que se aproveitam da sua condição.

Êxtase, portanto, é um estado sonambúlico profundo caracterizado pela perda ou extrema redução da consciência dos eventos que acontecem ao redor do extático, alterações emocionais e um certo sentimento de "sagrado", onde o mecanismo básico é a emancipação da alma.

Lucidez e Clarividência

No livro "Definições Espíritas"³, Kardec define a clarividência como a "faculdade de ver sem o concurso da visão" e logo depois como "percepção sem o concurso dos sentidos". Posteriormente Kardec distingue clarividência de lucidez, da  seguinte forma:

"A palavra clarividência é mais genérica; lucidez se diz mais particularmente da clarividência sonambúlica." (KARDEC, 1997. p. 85)

Dupla Vista e Clarividência

A dupla vista, ao contrário, seria a faculdade de perceber pelos olhos da alma, sem que para tal, seja necessário o estado sonambúlico, em outros termos, sem que o percipiente entre em transe profundo.

A dupla vista seria uma faculdade permanente das pessoas que a possuem, embora não estejam continuamente em exercício da mesma. (q. 448) É uma faculdade que se manifesta de forma espontânea, embora a vontade de quem a possui tenha um papel em seu mecanismo e possa desenvolver-se com o exercício. Da mesma forma que a mediunidade, há organismos que são refratários a esta faculdade, e a hereditariedade parece desempenhar algum papel na transmissão da mesma. Kardec fez uma descrição das alterações psicofísicas que o portador da dupla vista ou segunda vista costuma apresentar (q. 455):

"No momento em que o fenômeno da segunda vista se produz, o estado físico do indivíduo se acha sensivelmente modificado. O olhar apresenta alguma coisa de vago. Ele olha sem ver. Toda a sua fisionomia reflete uma como exaltação. Nota-se que os órgãos visuais se conservam alheios ao fenômeno, pelo fato de a visão persistir, mau grado à oclusão dos olhos. Aos dotados desta faculdade ela se afigura tão natural, como a que todos temos de ver. Consideram-na um atributo de seus próprios seres, que em nada lhes parecem excepcionais. De ordinário, o esquecimento se segue a essa lucidez passageira, cuja lembrança, tornando-se cada vez mais vaga, acaba por desaparecer, como a de um sonho. O poder da vista dupla varia, indo desde a sensação confusa até a percepção clara e nítida das coisas presentes ou ausentes."

Kardec, em suas "Obras Póstumas" (1978, p. 101) faz uma afirmação preciosa para a distinção entre dupla vista e clarividência, que consideramos por bem transcrever:

"No sonamabulismo, a clarividência deriva da mesma causa 4; a diferença está em que, nesse estado, ela é isolada, independe da vista corporal, ao passo que é simultânea nos que dessa faculdade são dotados em estado de vigília."

É importante frisar que em Kardec o sonambulismo natural, o sonambulismo provocado ou magnético, o êxtase e a dupla vista são faculdades que possuem o mesmo mecanismo: a emancipação da alma. A clarividência seria um fenômeno passível de ocorrer nos dois primeiros estados. Embora a clarividência seja um fenômeno predominantemente anímico, há a possibilidade de ocorrerem percepções do mundo dos espíritos, ou seja, de sua associação com faculdades mediúnicas. Para evitar confusão, consideramos adequado o emprego do termo clarividência mediúnica.

Médiuns Videntes e Dupla Vista

Em "O livro dos médiuns" (parágrafo 167), Kardec considera como médiuns videntes as pessoas dotadas da capacidade de ver os espíritos. Nesta categoria temos os médiuns capazes de ver os espíritos em estado de vigília e os que apenas a possuem em estado sonambúlico ou próximo deste. A faculdade não é permanente, estando quase sempre associada a uma crise passageira. Podemos substituir o termo crise por transe, entendendo que por crise passageira o autor se refere aos chamados estados sub-hipnoidais ou de transe superficial.

As pessoas dotadas de dupla-vista podem ser consideradas médiuns videntes, as que percebem os espíritos durante os sonhos, não. As aparições acidentais e espontâneas não configuram a existência desta faculdade, que permite ver qualquer espírito que se apresente. Kardec afirma que este tipo de médiuns julga ver os espíritos com os olhos, mas tanto os vêem com olhos fechados quanto com olhos abertos.

A faculdade pode ser desenvolvida, mas Kardec recomenda que não se provoque este tipo de faculdade, para que o suposto médium não se torne joguete da sua imaginação. Ele considera prudente não dar crédito senão ante provas positivas, como " a exatidão no retratar Espíritos que o médium jamais conheceu quando encamados". Ao advogar a possibilidade de desenvolvimento da faculdade, entendemos que Kardec se refere às pessoas já dotadas da mesma, e não da errônea idéia de desenvolvimento da mediunidade em quem quer que seja.

Médiuns Sonambúlicos e Clarividência

Curiosamente, Allan Kardec distingue em duas classes de médiuns os médiuns videntes e os médiuns sonambúlicos. Ele justifica esta classificação dizendo que sonambulismo e mediunidade são "duas ordens de fenômenos que freqüentemente se acham reunidos". (parágrafo 172)

...o Espírito que se comunica com um médium comum também o pode fazer com um sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado de emancipação da alma facilita essa comunicação. Muitos sonâmbulos vêem perfeitamente os Espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns videntes.

Conclusões: Vidência e Clarividência em Allan Kardec

Como vemos, Kardec situa em seu plano analítico os fenômenos anímicos e mediúnicos, de forma obviamente distinta dos pesquisadores da Metapsíquica e da Parapsicologia.

Com as informações até então encontradas, concluímos que a distinção entre vidência e clarividência na obra de Allan Kardec pode ser explicada a partir do esquema abaixo:


            Estado de Consciência       /                    Transe Profundo                          /                 Transe Superficial
                                                                            /        (estado sonambúlico e de êxtase, em              /      (crise passageira, em terminologia kardequiana)
                                                                            /               terminologia kardequiana)                       /

             Fenômenos Anímicos         /      Clarividência sonambúlica ou lucidez                      Dupla vista

        Fenômenos Mediúnicos    /         Clarividência  mediúnica 5                       /                    Vidência mediúnica 6

             Mecanismo Geral                /                     Emancipação da alma             /               Emancipação da alma

          
Concluímos, portanto, que a chave da distinção entre a clarividência e a vidência mediúnicas, encontrada na obra kardequiana, reside na extensão do transe mediúnico.
           
O leitor da obra de Kardec deve cuidar-se também para não confundir clarividência com mediunidade, uma vez que ele emprega o termo em sentido amplo, podendo referir-se a fenômenos anímicos como a visão à distância sem o emprego dos olhos, visão através de corpos opacos e "transposição de sentidos" (que seria uma impressão do sonâmbulo, e não uma descrição do mecanismo do fenômeno, que é, em última ordem, a emancipação da alma). A relação entre clarividência e mediunidade fica bem ilustrada com o auxílio da figura abaixo:

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             Clarevidência Sonambúlica ou Lucidez
                                                                               Clarevidência Mediúnica                                            Vidência Mediúnica


Continua no próximo Boletim
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Questões e Comentários 


Esclarecimento sobre Afirmações de Kardec, Manoel Lopes, Brasil

Embora não seja Espírita, leio as obras Kardecistas a quase 30 anos, desde de minha adolescência. Recentemente iniciei novamente a leitura do Livro dos Espíritos e qual não foi minha surpresa em "perceber" algumas afirmativas de Kardec logo no inicio do L.E.,que me deixaram em dúvida, as quais cito abaixo:

a) No livro dos Espíritos, Introdução, item VII, 4ºparagrafo " A Ciência, propriamente dita, como ciência, portanto, é incompetente para se pronunciar na questão do Espiritismo: não tem que se ocupar com isso e seu julgamento, qualquer que seja, favoravel ou não, não poderia ter nenhuma importancia."

b) No mesmo paragrafo "O Espiritismo é o resultado de uma convicção pessoal que os sábios podem ter como indivíduos, abstração feita de sua qualidade de sábios; mas querer deferir a questão à Ciência, equivaleria a decidir a existência da alma por uma assembleia de físicos ou de astronomos."

Minha formação na área de exatas (Engenharia), me fez buscar no Espiritismo respostas a varias questões, como o significado da vida, morte etc... Mas  ercebendo que atualmente é grande o número de Espíritas citando assuntos pertinentes a Física Quantica, Eletricidade, Biologia, Medicina etc..., para justificarem conceitos espíritas, fiquei em dúvida quanto as afirmativas de Kardec.

Atenciosamente,
Manoel Lopes


Prezado amigo Manoel,

A  Introdução do Livro dos Espíritos foi o primeiro texto elaborado por Allan Kardec que aborda um resumo do que ele havia pesquisado sobre a relação dos planos Terreno e Espiritual, lançando ao mundo a Doutrina Espírita, ou mais conhecido como "Espiritismo".  Evidentemente, Kardec o escreveu em Paris, em 1855/57, dentro de um contexto de vida na Terra, bem diferente do que é o atual e muito mais ainda será no futuro com a evolução constante do planeta. Porém, o fundamental foi dito. O básico está perfeitamente alicerçado em base sólida, pois contém informações vinda do plano espiritual e analisada com muita seriedade, responsabilidade e com a supervisão definida do plano Espiritual Maior.

Ao se referir a Ciência propriamente dita, Kardec se refere, a ciência acadêmica da época, totalmente voltada ao materialismo. Dessa forma, a ciência é incompetente para julgar questões espirituais de que trata o espiritismo.

A convicção pessoal é algo que surge do espírito e não se encontra acoplada à parte física material e, portanto, o espiritismo é mesmo o resultado do pensamento individual e não da ciência tradicional. O espiritismo proporciona ajuda para o desenvolvimento mais eficiente da forma de vida pessoal. Por exemplo, a minha razão me diz que eu sou um Espírito, portanto, minha convicção pessoal encontra-se definida independente da prova científica do fato. Assim, para mim, o espiritismo está à frente da ciência, pois é o resultado de minha convicção pessoal. Mas o grau de convicção pessoal dependerá do estado evolutivo de cada um, que por sua vez, está ligado ao uso da razão. Daí, Kardec cita " ..que os SÁBIOS (Espíritos evoluídos) podem ter como indivíduo". No Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos um resumo da doutrina de Sócrates e Platão que diz no item VIII " Se a alma é imaterial, ela deve passar, após esta vida, para um mundo igualmente invisível e imaterial, da mesma maneira que o corpo, ao se decompor, retorna à matéria..." Isso é fruto de conficção pessoal com o uso de uma razão apurada. Na essência é o Espiritismo. Já para a ciência, isso somente terá valor a partir da prova científica da existência da alma imaterial. Já se passaram cerca de 2500 anos e nada se caminhou nessa área até agora.

Por outro lado, como tudo evolui, a ciência também faz progressos constantes e ao caminhar em novos tempos, a ciência entrará também no campo espiritual com novas descobertas científicas que contribuirão também com o avanço do espiritismo. A ciência avançará muito nessa linha, pois os cientístas serão mais evoluídos espiritualmente do que hoje e se interessarão naturalmente por essa importante área de pesquisa. Isso certamente já está acontecendo. Mas tudo acontece dentro do seu tempo necessário à harmonia do universo, pois a Providência Divina está sempre à frente da ciência.

Um abraço,

Raul Franzolin Neto
Editor GEAE

Estimado amigo Manoel Lopes,

A sua postura nos motiva ainda mais ao estudo e na busca do conhecimento. Voce relata em sua mensagem que muito embora não seja espírita, estuda as obras de Kardec por mais de trinta anos. Este é um exemplo que deveria ser seguido por muitos que se dizem espiritas, participam do movimento espirita, mas infelizmente não adotam o mesmo procedimento. O fato de voce não ser espirita é mesmo irrelevante, pois a Doutrina dos Espiritos é um ensinamento de caráter absolutamente universalista que visa como fim último o nosso aperfeiçoamento moral e a nossa melhora como seres humanos, independentemente das nossas convicções pessoais, isto porque não faz parte da essência dela o proselitismo e a conquista de adeptos. Tenho convicção que é mesmo nessa senda que caminha a humanidade, ou seja, estaremos cada vez mais ligados ao Criador e unidos pelos laços da verdadeira Fraternidade e do Amor, sem a necessidade de intermediários ou de nos afiliarmos a esta ou aquela denominação religiosa.

Nao sou um cientista na acepção acadêmica da palavra, mas gosto muito de estudar e pesquisar constantemente. Me recordo que a primeira vez que li o Livro dos Espiritos por volta de 1977, também fui tomado de surpresa com a mesma passagem da Introdução que voce menciona em sua comunicação. Entretanto, como bem mencionaram o Raul e o Alexandre, a afirmação de Kardec tinha como objeto a elite representativa do materialismo exarcebado da época, que a toda informação nova ou fenômeno estudado e verificado como fato, saindo esses dos estreitos limites das leis conhecidas até então por aquelas mentes materialistas, era condenado a priori sob o crivo do desdém e da arrogância. A Doutrina Espirita que é de fonte segura, está assentada numa base sólida por ter sido eregida sobre estes três pilares firmes da filosofia, da ciência e da religião (não no sentido ortodoxo da palavra, mas de ensinos morais). Esta base sólida é que lhe dá um caráter de racionalidade sem precedentes e a possibilidade de resistir aos frágeis ataques do materialismo nulificante, o qual quer nos reduzir ao nada. Kardec jamais poderia colocar em dúvida o valor do conhecimento científico legítimo, que é na verdade um dos maiores propulsores da humanidade rumo ao progresso intelectual e moral.

Herminio C. Miranda, um dos maiores escritores espiritas do Brasil, nos diz que: "Temos que reconhecer - não sem certa dose de humildade cristã - que não basta nossa crença inabalável nos fenômenos demonstrados, para torná-los aceitáveis aos outos. É preciso, para vencer a resistência da idéia preconcebida ou da mera preguiça humana de pensar, não apenas a nossa convicção de mais de século, mas o pronunciamento oficial da Ciência, que, para muitos de nossos irmãos, será a palavra final sobre o assunto." In Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos - 3@ Edição FEB - 1975 - 2 - A Ciência A Procura do Espirito, páginas 21/22.

Não tenho dúvidas que as explicações já fornecidas pelos companheiros Alexandre Fonseca e o Raul Franzolin foram suficientes para responder às suas indagações. Entretanto, me senti impelido a dar a minha singela contribuição com as colocações acima, mas especialmente com uma sugestão de leitura, já que voce demonstra ser um estudioso dedicado. Existem muitas obras na literatura espírita e espiritualista que explicam de forma bem clara e convincente o caráter científico das doutrinas do Espiritismo e do Espiritualismo. Poderiamos mencionar aqui, O Espiritismo Perante a Ciência, de Gabriel Delanne; Animismo e Espiritismo, de Alexander Aksakof; O Aspecto Científico do Sobrenatural (livrinho magistral e recém traduzido para o português), de Alfred Russel Wallace; Metapsíquica Humana, de Ernesto Bozzano; Por Que Creio na Imortalidade da Alma, de Sir Oliver Lodge; o livro acima mencionado de autoria de Herminio C. Miranda, dentre muitas e muitas outras. Entretanto, a obra que mais me cativou, neste particular, foi a de autoria do grande escritor americano Epes Sargent, intitulada Bases Científicas do Espiritismo (The Scientific Basis of Spiritualism, no original em Inglês).

Para que voce possa entender ainda melhor o motivo e as colocações de Allan Kardec na Introdução ao Livro dos Espíritos, objeto da sua indagação, eu vou mencionar uma pequena passagem da obra acima, a qual recomendo a sua leitura, cuja afirmação pelo autor, prende-se às mesmas razões que levaram Kardec a se pronunciar daquela forma, já que o livro deste último tem por essência reafirmar e deixar bem claro que ambas as doutrinas tem bases científicas inquestionáveis. Assim ele se expressa:

"O homem que possua mais saber e experiência em sua especialidade, por mais competente que seja para julgar os fatos já admitidos e dos detalhes não estranhos à sua rotina profissional, pode ser o menos competente para dar opinião justa sobre um fato ou fenômeno que venha introduzir uma mudança radical em suas noções sobre a matéria que ele imagine conhecer perfeitamente." (Destacamos). In Bases Científicas do Espiritismo, 5@ Edição - FEB - 2002, página 235.

Mais uma vez agradecemos pela sua amigável participação nos estudos fraternos do GEAE, e colocamo-nos à sua disposição caso necessite maiores informações neste e noutros assuntos.

 Fraternalmente,

Antonio Leite
Editor GEAE
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Informação sobre o Espírito do Médium  ?, Sueli, Brasil

Prezados Senhores

Sou assinante do Boletim, e ontem surgiu uma dúvida durante nossos estudos, que apresento a Vossas Senhorias, para possível elucidação.

Onde fica o espírito do medium quando incorporado? Várias situações surgiram:

a) fica ao lado do corpo físico
b) vai a outro lugar receber ensinamentos
c) fica ao lado do corpo físico e recebe ensinamentos

Sendo possível, por favor, respondam.

Atenciosamente grata
Sueli

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Painel

 

Centro de "Estudos Espíritas Boa Nova" de Nova Iorque em Novo Endereço, EUA


Queridos amigos & Companheiros.

Nós do Boa Nova, estamos muito felizes em poder comunicar a todos sobre a reabertura do Boa Nova no nosso novo endereço, do dia 21 de março de 2005, onde  estaremos recebendo a todos com muito carinho.

O novo endereço é:

28-17 da 36th Ave. Astoria.
Trem N ou W estação 36 Ave.

Aguardamos a sua presença e pedimos que divulguem esta nossa felicidade.

Muita Paz
Katy Meira & Boa Nova

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Espiritualidade no Cuidado do Paciente,  AME, Brasil

Olá,
 
Venho através deste email convidar a todos os profissionais da Área da Saúde e demais interessados para o Seminário "Espiritualidade no Cuidado do Paciente", dia 26 de maio no Teatro Cultura Artística (SP),  com a presença do Psiquiatra Norte Americano Dr. Harold Koenig, o maior pesquisador mundial sobre a relação religiosidade e o processo de adoecer e cura.
 
Gostaria de ressaltar que este evento Científico tem o apoio da Associação Paulista de Medicina e terá  enfoque ecumênico. Ocorrerá em conjunto com o V Congresso Nacional da Associação Médico - Espírita do Brasil, de 26 a 28 de maio, havendo a possibilidade de inscrição para apenas um ou aos dois Eventos.
 
Para maiores informações acessem o site:  http://www.amebrasil.org.br
 
Até lá,
  
Leandro Romani de Oliveira
Associação Médico-Espírita do Brasil

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1st British Spiritist Mini-Congress, BUSS, UK


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Show em benefício do "Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo", CCDPE, Brasil

Já estão a venda os convites para o show do Rossa Nova, cuja arrecadação ajudará a levantar fundos para o início das atividades do CCDPE (Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo). Eles podem ser adquiridos na Ticket Master ou solicitados à julianezu@terra.com.br
Show "Meus Caminhos" - Grupo Rossa Nova
Data: 16 de Abril de 2005
Hora: 21h
Direção Artística: Zé Rodrix
Produção: LC Produções Artísticas
Local: Espaço Cultural Santo Agostinho - http://www.ecsa.org.br
Rua Apeninos, 118 - Liberdade - São Paulo/SP
Ingressos: R$ 30,00
Promoção: R$ 15,00, com 50% de desconto nas vendas antecipadas até o dia 15/04/05, para todas as classes.

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Seminário Espírita na cidade de Estocolmo,  Franklin Santana Santos, Suécia


Temos a grata satisfação de convidá-lo para o seminário ”Evidência de vida após a morte: Uma visão positivista através da pintura mediúnica”,com o médium brasileiro de psicopictografia Florêncio Reverendo Anton Neto, pedagogo, terapeuta em regressão a vidas passadas, e atualmente acadêmico em Psicologia.

Os grupos espíritas, Andarna e Grão de Mostarda são associações civis, sem fins lucrativos e que têm como finalidade à divulgação da Doutrina Espírita nos seus tríplices aspectos: científico, filosófico e moral.

O Espiritismo é uma doutrina baseada na existência dos Espíritos, suas manifestações, seus ensinamentos e suas relações com o mundo dos encarnados.

Este seminário visa aumentar o conhecimento sobre a doutrina espírita, codificada por Allan Kardec, na sociedade sueca, estimular uma discussão científica sobre os fenômenos mediúnicos e fornecer subsídios, baseados em fatos e na razão, sobre a sobrevivência do espírito após o fenômeno biológico, o qual costumamos chamar morte.


Após a palestra, Florêncio fará uma demonstração da pintura mediúnica e depois responderá as perguntas do público.

O seminário ocorrera na Alviks Medborgarhus, Gustavslundsvägen 168 A, 2 andar
Dia-17 de abril de 2005-03-20 Horário-15.30 as 18.30.
Entrada franca – número limitado de vagas
As Pré-inscrições deverão ser feitas ate o dia 10-04-2005
http://www.andarna.se

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GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS

O Boletim GEAE é distribuido por e-mail aos participantes do Grupo de Estudos Avançados Espíritas
Inscrição/Cancelamento - inscricao-pt@geae.inf.br

Informações Gerais - http://www.geae.inf.br/pt/faq
Conselho Editorial - editor@geae.inf.br
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