Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

http://www.geae.inf.br

Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec

Ano 13 - Número 489 - 2005            15 de março de 2005


Editorial

Os Objetivos do GEAE

Artigos

Curso de Ciência e Espiritismo, 7ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil
A Espada de Dâmocles, Franklin Santana Santos, Brasil

História & Pesquisa

Vidência e Clarividência, Jáder dos Reis Sampaio, Brasil


Questões e Comentários

Mudança de Sexo, Ronaldo José Corrêa, Brasil
Esclarecimento sobre Afirmações de Kardec, Manoel Lopes, Brasil

Painel

Seminário Divaldo Pereira Franco, AKSC Nova Iorque, EUA
Por uma Sociedade Solidária e em Paz, ABRADE, Brasil



Editorial


Os objetivos do GEAE

Amigos,

Nós no GEAE sentimo-nos absolutamente satisfeitos com os resultados obtidos ao longo desses quase treze anos de existência do grupo, dentro da proposta que adotamos desde o início. O feedback que temos recebido constantemente dos nossos membros subscritores, também nos dá a certeza que estamos cumprindo com o papel a que nos propusemos.

A proposta do GEAE é simples e muito bem delineada no FAQ disponível em nossa página na Web, e resumidamente, nas palavras de um dos nossos editores, Carlos Iglesia, pode ser assim definida:

O GEAE é na prática um grupo de amigos que se reúne na Internet para o estudo da Doutrina Espírita, buscando na troca fraterna de idéias superar suas limitações individuais e compreendê-la um pouco melhor. Assim, nos interessa principalmente aprofundar conhecimentos, trocar idéias, discutir pontos difíceis, analisar as consequências práticas e entender melhor sua aplicação. Não está no nosso escopo entrar em polêmicas com adeptos de outras filosofias de vida ou mesmo tentar convencê-los de qualquer coisa.

É pois, neste espírito de simplicidade, fraternidade e boa vontade que nos reunimos neste veículo global para expor os nossos pontos de vistas e dividir as nossos experiências, visando sempre como fim último um aprendizado que nos impulsione na direção do bem e do progresso espiritual. Neste propósito, jamais nos furtamos à discussão séria e à troca de experiências que venham eventualmente somar nesses estudos que levamos a efeito constantemente. Aqueles que ainda não são tão bem familiarizados com a dinâmica dos trabalhos do GEAE, podem facilmente constatar esta realidade através de um passeio pelas páginas dos nossos 488 boletins, todos disponíveis na nossa homepage, e provavelmente ficarão surpresos com a imensa variedade de temas discutidos e estudados num processo interativo bastante dinâmico e fraterno.

Somos gratos a todos aqueles que entendendo a nossa proposta tem contribuído conosco no desenvolvimento deste humilde e despretencioso projeto, pois são eles os  maiores responsáveis pelos resultados obtidos pelo GEAE ao longo de sua existência.

Não faz parte da proposta do GEAE estimular ou participar de polêmicas em torno de temas relacionados com a fé, muito menos de tentar mudar a convicção de quem quer que seja. Um dos ensinamentos mais elementares e fundamentais da Doutrina Espírita é o respeito pelas convicções sinceras dos nossos irmãos. O Espiritismo é uma doutrina de caráter universalista que não tem como objetivo o proselitismo, a catequese ou a caça de adeptos e assim não vemos sentido de empregarmos nosso escasso tempo nesta tarefa. O que o Espiritismo visa em última instância é nos ajudar a nos tornarmos melhores seres humanos, pois é isto que contará em nossa jornada em busca do progresso e nisto buscamos empregar nossos esforços.

Enfim, é oportuno mais uma vez apresentar nossos objetivos, principalmente para os amigos que não os conhecem e que - por causa deste desconhecimento - volta e meia nos batem à porta com pedidos de participação em polêmicas com irmãos de outras correntes de pensamento. Não negamos que muitas vezes os  questionamentos e comentários são bastante engenhosos - até aproveitamos alguns para a seção de Questões e Comentários - mas no geral voltam a temas antigos, sustentados por sutilezas de linguagem e de interpretação que realmente pouco acrescentam aos nossos estudos.

Reafirmamos o nosso respeito fraternal às convicções sinceras, tanto dos amigos que procuram defender as idéias espíritas nestes debates como as dos que se colocam em campos antagônicos, mas nós realmente preferimos não participar dos debates.

Que cada um siga seu caminho em paz, sempre no exercício de sua liberdade de consciência, patrimônio inalienável do ser !

Muita Paz,
Antonio Leite
Editor GEAE

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Artigos

 

Curso de Ciência e Espiritismo, 7.a Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil 

Física e Espiritismo II: energia e matéria. Referências científicas na pesquisa espírita.


1. FÍSICA E ESPIRITISMO II: ENERGIA E MATÉRIA

Na aula anterior comentamos sobre como a teoria quântica da matéria confirma algumas afirmativas feitas pelos espíritos sobre as propriedades da matéria, em resposta a algumas questões do Livro dos Espíritos [1]. Aqui comentaremos sobre um conceito associado à matéria, frequentemente lembrado em textos espíritas: a energia. Ao tempo de Kardec, energia e matéria eram conceitos dissociados e somente no início do século passado, ambos os conceitos foram conectados. Isso decorre da Teoria da Relatividade, ilustrada pela célebre equação de Albert Einstein: E = mc². Essa equação demonstra a equivalência em energia de determinada porção de matéria cuja massa vale m¹. Como c² é um número relativamente elevado (da ordem de 10¹¹ km²s-² em unidades do Sistema Internacional), uma pequena quantidade de massa contém uma grande quantidade de energia.

Ao tempo de Kardec, o conceito de energia era algo independente do conceito de matéria. Isso pode ser verificado através dos teoremas ou leis de conservação, em Física Clássica, para a energia total e para a quantidade de massa em um sistema isolado. Energia e massa eram conservados de forma separada em cada fenômeno físico. Contudo, com a Teoria da Relatividade, energia e matéria se tornaram ligadas, e um novo teorema surgiu: a lei de conservação de massa-energia. Além da energia associada ao movimento, a chamada energia de repouso de um objeto tem que ser levada em consideração nos fenômenos em que a teoria clássica não vale. Experimentos modernos constataram que tanto a matéria pode ser transformada em energia quanto a energia pode se transformar em matéria. Isso demonstra que a matéria não é, em sua essência, algo sólido e denso como os nossos cinco sentidos nos fazem pensar. Ela tem que ser algo muito mais sutil e dinâmico para que possa se transformar em algo que é, por natureza, sutil e dinâmico.

É mais apropriado dizer, portanto, que energia e matéria são dois “estados” de um mesmo elemento universal. O Espiritismo fornece uma informação que se encaixa perfeitamente a isso ao dizer que toda a matéria que conhecemos decorre de um elemento primitivo batizado de Fluido Universal. Desde que matéria pode se transformar em energia e vice-versa, concluímos diretamente que a energia também é algo que decorre de alguma transformação do Fluido Universal.

Isso nos leva a uma interessante conclusão espírita: se energia é algo de natureza material, a essência do Espírito (ou princípio inteligente) não pode ser energética. Segundo os espíritos (questões 27 e 79 do Livro dos Espíritos [1]), existem dois princípios gerais no Universo: um elemento primitivo material (Fluido Universal) do qual decorre tudo o que chamamos de matéria; e um princípio inteligente do qual se individualizam os espíritos. Como o princípio inteligente não pode estar sujeito às leis que regem o comportamento da matéria, ele não pode ter natureza energética pois estaria suscetível às leis que regem as diversas transformações de energia. Em outras palavras, se o espírito fosse, em sua essência, uma outra forma de energia ele estaria sujeito à processos que poderiam transformá-lo em outras formas de energia ou mesmo em matéria já que, como vimos, energia pode ser transformada em matéria. Este comentário serve de apoio para analisarmos uma afirmativa do nosso amigo Chico Xavier: “espírito e energia são a mesma coisa” (ver página 25 da referência [2]). Como podemos verificar, perante conhecimentos atuais em Física, essa afirmativa está em desacordo com a Doutrina Espírita e a recomendação de Emmanuel é ficarmos com o Espiritismo.

Um ponto muito importante sobre a idéia de energia e matéria é que a realidade material que os nossos sentidos nos fazem perceber à nossa volta é verdadeiramente ilusória. A matéria possui uma estrutura cujas partes possuem propriedades diferentes do que estamos acostumados a perceber. Para nós espíritas, a matéria é uma transformação de uma dada porção de Fluido Universal que, por natureza, é o elemento material mais sutil disseminado pelo Universo. Para os cientistas, a matéria é algo misterioso. Levando-se em conta o desenvolvimento da teoria quântica da matéria, os cientistas não podem mais dizer com precisão o que é ou em que consiste aquilo que se chama matéria. O que é um elétron ou um quark? Ninguém sabe por enquanto. Apenas sabemos que eles existem, possuem determinadas propriedades físicas e obedecem a determinadas leis. A visão científica do mundo material se alterou bastante desde o tempo de Kardec e essa mudança é positiva pois a matéria, hoje, é vista como algo mais dinâmico e sutil. 

Nas próximas aulas, iniciaremos a discutir se os fenômenos mediúnicos podem ou não ser chamados de quânticos.

2. REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS NA PESQUISA ESPÍRITA

Na aula anterior comentamos sobre a diferença de valor científico entre um livro texto, um artigo científico, um artigo de divulgação e um livro de divulgação. A partir desta aula, iniciaremos a falar sobre o uso dessas fontes de informação na pesquisa espírita.

Pretendemos analizar o valor científico² de um trabalho de pesquisa espírita que utiliza conceitos de outras áreas do conhecimento. Em outras palavras, desejamos desenvolver critérios que possam guiar os estudiosos e pesquisadores espíritas em seus trabalhos. Não estamos considerando os trabalhos que apenas citam ou retransmitam os resultados recentes de outras pesquisas. Muito menos, estamos considerando aqui as idéias e especulações baseadas na opinião pessoal (mesmo a de um cientista) ou com base em alguma intuição pessoal. Estamos considerando o caso em que um trabalho de pesquisa resultará em conhecimento novo, mesmo que simples, ou em uma nova análise de um assunto já conhecido. Em outras palavras, estamos tratando de uma contribuição real ao conhecimento espírita, mesmo que seja algo simples (a simplicidade é amiga da ciência). Além de estarem em acordo com o Espiritismo e com as ciências básicas que foram utilizadas, as idéias decorrentes de um trabalho de pesquisa espírita devem ser úteis para o progresso da Humanidade, mesmo que, repetimos, se trate de algo simples.

Por essa razão, é extremamente importante saber se a base que estamos estudando e usando para construir o conhecimento é sólida. Se o assunto de estudo espírita envolver questões de ordem científica, as diferenças de valor científico entre livros e artigos, apresentadas na aula anterior (Boletim 488) pode determinar o grau de validade ou utilidade daquilo que produzimos. Se, por exemplo, utilizarmos somente livros de divulgação como base de nossas pesquisas, aumentamos a probabilidade de ter o valor dos nossos resultados reduzido a mera especulação pois o conteúdo desses livros é bastante mesclado de opiniões e pontos de vista de seus autores. Se, ao menos, conhecermos profundamente a área científica relacionada com o(s) livro(s) de divulgação utilizado(s), poderemos separar o que é opinião do autor dos conceitos científicos presentes no(s) livro(s). Certamente, que isso transparecerá no trabalho e precisamos estar seguros do nosso conhecimento para não cometer equívocos de ordem científica.

Essa é, apenas, uma face do problema sobre conhecer a fundo aquilo que pretendemos estudar. Muitas vezes nos interessamos em estudar coisas que não são de nossa especialidade e apesar de termos capacidade de aprender qualquer coisa, não será com fontes bibliográficas destinadas à divulgação pública (livros e artigos de divulgação) que nos tornaremos especialistas e conhecedores profundos de uma área qualquer do conhecimento.

Por isso recomendamos aos que pretendem escrever artigos ou livros para o público espírita sobre temas ligados a tópicos científicos que desconhecem, que procurem fontes básicas de reconhecido valor científico (livros texto e artigos científicos) para embasar o seu estudo; ou procure profissionais cientistas na área do assunto que se deseja estudar para consulta, ajuda e orientação. Vejamos o ponto de vista de Kardec:

Kardec, ao dizer que um cientista não tem autoridade para ajuizar se a Doutrina Espírita é correta ou não, simplesmente, por ser um cientista, sem querer nos fornece um valioso argumento com relação aos cuidados com os trabalhos de ordem científica. No ítem VII da Introdução do Livro dos Espíritos [1] Kardec diz: “Com relação às coisas notórias, a opinião dos sábios é, com toda razão, fidedigna, porquanto eles sabem mais e melhor do que o vulgo.” Mais adiante, nesse mesmo parágrafo, ele diz: “Assim, pois, consultarei, do melhor grado e com a maior confiança, um químico sobre uma questão de análise, um físico sobre a potência elétrica, um mecânico sobre uma força motriz.” Diante do grande desenvolvimento e da enorme complexidade atingida em todas as áreas do conhecimento, é mais prudente que os especialistas de cada área analisem como os conceitos de sua área se ligam (ou não) com o Espiritismo.

Muitas vezes somos incapazes de ler e entender os livros texto por causa da linguagem técnica e do emprego de notação especializada. É mais fácil para nós lermos artigos ou livros de divulgação. Certamente, há muitas informações úteis em livros e artigos de divulgação, que podem servir de insight para algumas idéias espíritas. Mas o trabalho científico requer algo mais do que apenas o primeiro insight. Além disso, em face do volume do conhecimento adquirido e da enorme tendência mundial para justificar atividades místicas de forma científica, a situação pode ser comparada a um campo onde procuramos determinada erva sem conhecermos quase nada sobre ela e sobre outras plantas. A chance de colhermos um joio acreditando ser a erva é muito grande quando consultamos livros de divulgação sem termos base mais aprofundada sobre o assunto. E, se não temos condições de avaliar se algo é cientificamente correto ou não, a recomendação espírita é que “mais vale repelir 10 verdades que admitir uma só mentira, uma só teoria falsa” (Espírito de Erasto no ítem 230 da ref. [3], e ref. [4]).

Notem que os comentários acima não sugerem que não se deve ler essa ou aquela obra; esse ou aquele determinado tipo de publicação. A recomendação que estamos fazendo aqui diz respeito ao significado da palavra “discernir” presente na seguinte afirmativa de Paulo de Tarso “Discerni tudo e ficai com o que é bom” (1 Ts 5,21).  A dificuldade é que em matéria de ciência, em geral, não temos base segura para “discernir tudo”.

Na próxima aula citaremos alguns exemplos de pesquisa espírita ou de interesse espírita que possuem valor científico.

¹m aqui, se refere à massa de repouso da partícula, isto é, a massa medida num referencial inercial que esteja em repouso com relação a ela.

²Aliás, esse é um dos objetivos desse conjunto de aulas sobre Ciência e Espiritismo: fornecer subsídios diversos para o pesquisador espírita avaliar a qualidade de seu trabalho de pesquisa espírita.

Referências

[1] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76a Edição (1995).
[2] M. S. Maior, Por trás do véu de Isis. Uma investigação sobre a comunicação entre vivos e mortos, Editora Planeta, (2004).
[3] A. Kardec, O Livro dos Médiuns, Editora FEB, 62ª Edição (1996).
[4] A. Kardec, Revista Espírita 8, p.257, (1861).

Continua no próximo Boletim
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A Espada de Dâmocles, Franklin Santana Santos, Brasil


Uma Estória da Mitologia Grega sob a Óptica Moral dos Ensinamentos do Cristo



Dâmocles conselheiro da corte de Dionísio, o Velho, tirano de Siracusa, século IV a.C, célebre ao longo da história, pelo lendário episódio da Espada de Dâmocles, que se tornou uma expressão que significa perigo iminente ou os riscos inerentes a posição de mando. Relatado por Marcus Tullius Cicero(106 a.C. - 43 a.C.) , em Tusculanae disputationum(1), libri III, 45 a.C, e por outros clássicos, o acontecimento é resumido assim: 


Era uma vez, um rei tirano chamado Dionísio, monarca de Siracusa, a cidade mais rica da Sicília. Vivia num palácio cheio de requintes e de coisas bonitas, atendido por uma criadagem sempre disposta a fazer-lhe às vontades. Naturalmente, por ser rico e poderoso, muitos siracusanos invejavam-lhe a sorte. Dâmocles estava entre eles. Era dos melhores amigos de Dionísio e dizia-lhe freqüentemente.

- Que sorte a sua! Você tem tudo que se pode desejar. Só pode ser o homem mais feliz do mundo!
Dionísio foi ficando cansado de ouvir esse tipo de conversa.
- Ora essa! Você acha mesmo que eu sou mais feliz do que todo mundo?
O amigo respondeu:
- Mas é claro! Olhe só o seu tesouro e todo o seu poder! Você não tem absolutamente nada com que se preocupar. Poderia sua vida ser melhor do que isso?
- Talvez você queira trocar de lugar comigo - disse Dionísio.
- Ora, eu nem sonharia com uma coisa dessas! Mas se eu pudesse ter sua riqueza e desfrutar de todos esses prazeres e da posicäo de comando por um dia apenas, não desejaria felicidade maior.
- Pois bem! Troque de lugar comigo por um dia apenas e desfrute disso tudo.

E então, no dia seguinte, Dâmocles foi levado ao palácio e todos os criados reais lhe puseram na cabeça as coroas de ouro. Ele sentou-se à mesa na sala de banquetes e foi-lhe servida lauta refeição. Nada lhe faltou ao seu bel-prazer. Havia vinhos requintados, raros perfumes, lindas flores e música maravilhosa. Recostou-se em almofadas macias. Sentiu-se o homem mais feliz do mundo.

- Ah, isso é que é vida! - confessou a Dionísio, que se encontrava sentado à mesa, na outra extremidade. - Nunca me diverti tanto.

De repente Dâmocles enrijeceu-se todo. O sorriso fugiu-lhe dos lábios e o rosto empalideceu. Suas mãos estremeceram. Esqueceu-se da comida, do vinho, da música. Só quis saber de ir embora dali, para bem longe do palácio, para onde quer que fosse. Pois havia observado que pendia bem acima de sua cabeça uma espada, presa ao teto por um único fio de crina de cavalo. A lâmina brilhava, apontando diretamente para seus olhos. Ele foi se levantando, pronto para sair correndo, mas deteve-se tremendo que um movimento brusco pudesse arrebentar aquele fiozinho fino e fizesse com que a espada lhe caísse em cima. Ficou paralisado, preso ao assento.

- O que foi, meu amigo? - perguntou Dionísio - Parece que você perdeu o apetite.
- Essa espada! Essa espada! - disse o outro, num sussurro - Você não está vendo?
- É claro que estou. Vejo-a todos os dias. Está sempre pendendo sobre minha cabeça e há sempre a possibilidade de alguém ou alguma coisa partir o fio. Um dos meus conselheiros pode ficar enciumado do meu poder e tentar me matar. As pessoas podem espalhar mentiras a meu respeito, para jogar o povo contra mim. Pode ser que um reino vizinho envie um exército para tomar-me o trono. Ou então, posso tomar uma decisão errônea que leve à minha derrocada. Quem quer  ser tirano, ocupar as primeira posições e controlar a ferro e fogo tudo e todos precisa estar disposto a aceitar esses riscos. Eles vêm junto com o poder, percebe?
- É claro que percebo! - disse Dâmocles - Vejo agora que eu estava enganado e que você tem muitas coisas no que pensar além de sua riqueza, fama e posição. Por favor, assuma o seu lugar e deixe-me voltar para a minha modesta casa.

Até o fim de seus dias, Dâmocles não voltou a querer trocar de lugar com o rei tirano, nem por um momento sequer.

Essa lenda grega é muito singular e se encaixa como uma luva em algumas passagens do Evangelho quando o Mestre Jesus disse: ´´Sabeis que os príncipes das nações as dominam e que os grandes as tratam com império. - Assim não deve ser entre vós; ao contrário, aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servo; - do mesmo modo que o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de muitos.`` S. Mateus, capítulo XX, vv. 20 a 28.(2) E nesta outra também: ´´Quando fordes convidados, ide colocar-vos no último lugar, a fim de, quando aquele que vos convidou chegar, vos diga: meu amigo, venha mais para cima. Isso então será para vós um motivo de glória, diante de todos os que estiverem convosco à mesa; - porquanto todo aquele que se eleva será rebaixado e todo o que se abaixa será elevado.`` S. Lucas, cap XIV, vv. 1 e 7 a 11(3) .

O Cristo coloca, portanto, a humildade como princípio incondicional da felicidade. Pois esta se encontra no servir  e não no ser servido, nem tão pouco em se sentir o todo poderoso apenas por ocupar momentaneamente uma posição de destaque. Pois o verbo ocupar, na esfera carnal, não significa maior saber intelectual muito menos moral e sim mais obrigações e deveres e muito amiúde ´débitos` perante a Lei, pois muitas vezes aqueles que apesar de estarem em uma posição dita de ´subalterno` ou ´inferior` costuma suplantar mais frequentemente senão em inteligência pelo menos em moral, aqueles os quais devem obedecer. A história está repleta de personagens exemplificando isto em ambos os sentidos.

Saibamos usar os nossos cargos de chefia, se estivermos investidos deles, com equilíbrio e serenidade. Delegando funções, repartindo o poder, solicitando colaboração e assistência, oferecendo liberdade de ação e respeitando o livre arbítrio de todos. Sem nunca impor os nossos pontos de vistas e acreditando que somos os donos da verdade. E pensando sempre que entre aqueles os quais dirigimos pode haver algum ou alguns que nos são mais desenvolvidos  na escala evolutiva. Os que são ´subordinados` também não ficam isentos, por sua vez, de cumprirem a risca com os deveres que lhes competem. Desenvolvendo cada vez mais a arte do respeito e da obediência para com os seus ´superiores`.

Nós  espíritas que temos a chave, no dizer do iluminado espírito Bezerra de Menezes, para compreender as palavras de Jesus com mais profundidade e entendimento,  por isso mesmo mais responsáveis seremos perante a Lei caso queiramos agir como Dâmocles e tentar obter o poder a todo preço, pois chegará um dia em que o finíssimo fio da crina de cavalo se partirá e ai de nós se estivermos embaixo da espada. O interesse com que muitos adeptos e médiuns que atuam na doutrina se lançam na busca por posições de destaque e notoriedade em presidências de centros, instituições, organismos e federações se constitui em verdadeira cegueira espiritual quando tem como raiz a ambição, o orgulho, a vaidade e os complexos de inferioridade de que são portadores. Querem fazer da doutrina um trampolim para sua ascenção social. Como a compensar a mediocridade da vida que levam., acreditando na ilusão de que o nosso valor como pessoa é medido  pelo posto que ocupamos.

Equivocam-se, pois aqueles que assim procedem, pois a Doutrina Espírita não se presta a isso e o combate com veemência.  Os grupos espíritas também não são uma empresa de direito privado com fins lucrativos ou reinado onde passamos o ´negócio` para a parentela consanguínea e os apadrinhados e nem tão pouco existem cargos vitalícios. Deveria haver um revezamento de tempos em tempos nas posições e nos postos afim de evitar o despotismo e também para que outros possam opinar e mostrar a sua capacidade de trabalho, desenvolver e/ou aprimorar qualidades. Allan Kardec, o bom senso encarnado na feliz frase de Camille Flammarion(4) é de uma precisão sem par com relacão a isso no Livro Obras Póstumas(5). É de se estranhar que uma pessoa permaneça na presidência de uma instituição por um período de tempo superior a 5 anos. Pois ao permanecer longos períodos em um determinado posto se cria uma vacuidade de liderança, pois quando esse líder desaparecer, o que certamente acontecerá uma vez que todos somos desencarnaveis, quem o subistituirá? E se existe uma pessoa ou pessoas capazes de substituí-lo é de se perguntar porque não há o compartilhamento dessa liderança desde já? Razão porque o mestre Kardec(5)  propôs as regras para o estabelecimento do comitê central que serve perfeitamente para qualquer tamanho de organização. Pois como diz o ditado popular duas ou mais cabeças sempre pensam melhor do que uma.

André Luiz na obra Nosso Lar(6) nos relata que em um período de 10 anos passaram 4 espíritos pela direção do Ministério da União Divina, sendo este a mais alta estância daquela colônia espiritual. O que equilave 2,5 anos na função. E observem que estamos falando de espíritos que foram delegados pelo Alto por suas inumeráveis qualidades intelectuais e morais. E é ainda o nosso querido André Luiz no mesmo livro(6) que  nos relata que a direção dos ministérios, departamentos e das colônias espirituais estão a cargo dos mais capacitados não só em saber, mas sobretudo em moral.


As instituições espíritas deveriam, pois, escolher  seus dirigentes não só pelos seus conhecimentos doutrinários e administrativos, mais mas também de acordo com ensinamentos kardecianos, e acima de tudo entre aqueles que mais amam o seu irmão, que mais secam lágrimas e que mais balsamizam as dores do corpo e da alma. E isto tudo pelo simples fato de que a Doutrina Espírita tem como estandarte e pedra angular dos seus postulados as bandeiras da Liberdade e da Faternidade, e mais ainda da Caridade e da Humildade.

Não percamos, pois, o nosso já escasso e precioso tempo na disputa por posições de mando, poderes temporais, chefias, governos e suas correspondências. Dizendo aqui mando e sou obedecido e poderia dizer, muito frequentemente, e sou detestado parafraseando o espírito Lázaro em uma mensagem psicografada contida no Evangelho Segundo o Espiritismo(7). Temos muito por trabalhar no burilamento do nosso próprio Eu. Busquemos os últimos lugares como servos humildes fazendo com que a nossa mão esquerda não saiba o que faz a mão direita, pois o Pai saberá nos dar um lugar mais elevado no Plano Espiritual se o merecermos. E Jesus nos adverte nesta frase: Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma? S.Mateus Cap XVI vv 26 .

Sejamos, portanto, sábios e sigamos os conselhos do Mestre de Amor e Humildade ao invés de Dâmocles, pois, Ele, Jesus Cristo, que por ter-se feito o menor foi, é e continuará a ser o Maior de todos, guiando-nos com seu imenso Amor em direção a Luz do Pai.

Um abraço fraterno a todos.

Bibliografia

1-Marcus Tullius Cicero (106 a.C. - 43 a.C.) , Tusculanae disputationum,Libri III- 45 a.C .
2- Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.117.ed., Rio de Janeiro: FEB, 2001.Cap VII- Bem-Aventurados os Pobres de Espírito.Itens 3 a 6.p 135-136.
3-Idem, ibidem,p 136
4-Kardec, Allan. Obras Póstumas.8a ed, Araras: IDE, 1993-Discurso pronunciado sobre o túmulo de Allan Kardec por Camille Flammarion, p 18-28.
5- Kardec, Allan. Obras Póstumas.8a ed, Araras: IDE, 1993- Cap Projeto.- 1868 p 328-354.
6-Xavier, Francisco C . Lar, pelo Espírito André Luiz. 25 ed, Rio de Janeiro: FEB,Cap XI Aprendendo sobre a Cidade Astral.p 53 
7-Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo- 117.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.Cap IX. A afabilidade e a docura. Item 6. p. 163.


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História & Pesquisa

(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas")

Vidência e Clarividência, Jáder dos Reis Sampaio, Brasil


Uma Revisão dos Conceitos na Literatura Espírita, Metapsíquica e Parapsicológica



1. Introdução


Estávamos lendo o livro "No Invisível", de Léon Denis, em nosso grupo mediúnico, quando o texto nos remeteu a uma questão recorrente: afinal, qual é a diferença entre a faculdade dos médiuns videntes e a clarividência?

O presente trabalho é um esforço para responder a esta questão a partir de algumas premissas:

·  Os conceitos se acham ambientados dentro da obra de cada autor, e podem variar leve ou notadamente quando analisado em obras de autores diferentes, e até mesmo em livros diferentes do mesmo autor.
·  No estudo do Espiritismo precisamos conhecer bem a terminologia empregada pelos seus principais contribuintes, a começar de Allan Kardec e dos clássicos, a fim de não confundirmos seu emprego.
·  O termo clarividência não foi criado por Kardec, embora tenha sido redefinido pelo codificador diante dos estudos dos fenômenos espirituais. Isto nos obriga a conhecer os significados que se encontram em teorias não espíritas, especialmente as que antecederam o Espiritismo e influenciaram o codificador.

Iniciamos, portanto com uma análise das definições encontradas nos trabalhos dos principais autores da Metapsíquica e da Parapsicologia. Em um segundo momento, revisamos a obra kardequiana. Posteriormente, analisamos um livro de Gabriel Delanne e terminamos a revisão com a análise de dois livros do autor espiritual, André Luiz.

Após concluirmos nosso trabalho, estivemos lendo os comentaristas contemporâneos e nos surpreendemos com as análises de Hermínio Miranda em seu "Diversidade dos Carismas", que não comentamos aqui mas recomendamos ao leitor que se interesse por alguns outros ângulos da questão e no estudo de mais alguns outros escritores que trataram do tema.

2. Estudo da Clarividência na Metapsíquica e na Parapsicologia: Em Busca de uma Trajetória Conceitual para o Termo.

Uma questão aparentemente recorrente nas tentativas acadêmicas de compreender os fenômenos descritos pelo Magnetismo francês e pelo Espiritismo tem sido se eles realmente o são como são descritos e se não poderiam ser explicado por qualquer causa física ou orgânica. Esta "teimosia reducionista" vem impedindo o avanço das pesquisas fartamente documentadas do século XIX.

Este é um dos motivos que levou à discussão metapsíquica de o que realmente seria a clarividência. A chamada transposição dos sentidos não seria na verdade um fenômeno telepático? Acreditando-se ler com os dedos, não estaria o sensitivo registrando os pensamentos das pessoas e creditando-o ao seu próprio corpo?

Richet entende como sinônimos os termos clarividência, lucidez sonambúlica, segunda vista e sugestão mental (p. 25).Todos estariam se referindo a um "sexto sentido", uma sensibilidade distinta da sensibilidade dos cinco sentidos, por este motivo denominada criptestesia e que por esta razão permitiria aos sensitivos obter conhecimentos por uma via diferente da dos sentidos e do raciocínio, metagnomia, portanto.

Na classificação que Richet desenvolveu para os fenômenos próprios dos possuidores deste sexto sentido, o termo clarividência não formou categoria de análise, embora Richet houvesse apresentado um grande número de experiências de percepções não telepáticas sem o uso dos sentidos. No livro referido, um tema recorrente do criador da metapsíquica é discutir as conclusões do livro de Myers, Podemore e Gurney "The Phantasms of the Living" onde se pretende reduzir as explicações aos fenômenos inabituais à telepatia. Richet apresenta inúmeros experimentos onde o experimentador desconhece o conteúdo de objetos e cartas percebidos por um sensitivo. Um termo que ele parece preferir à clarividência é hiperestesia.

Os trabalhos de Richet e da Metapsíquica parecem ter influenciado a parapsicologia americana de Rhine, no que diz respeito à classificação dos fenômenos e à necessidade da experimentação. Assim como Richet estabeleceu uma classificação geral para os fenômenos inabituais, Rhine denominou os chamados fenômenos parapsicológicos com um termo geral identificado como Y (psi), distinguindo-os a seguir. Na Parapsicologia a clarividência volta a ter um lugar como "faculdade de ver sem os olhos" e distinta de outras faculdades como a telepatia e a precognição.

Um autor bastante lido pelos metapsiquistas brasileiros, Robert Amadou, considera a clarividência como um termo empregado pelos antigos magnetizadores. Ele a define a seguir como:

"conhecimento de um evento objetivo, aparentemente independente da atividade sensorial ou racional. Assim se opõe a clarividência, por distinção arbitrária e discutida, porém, cômoda, à telepatia. Pode-se definir objetivamente a clarividência como uma coincidência inexplicável pelo acaso, uma percepção sensorial ou um raciocínio consciente ou inconsciente, entre o estado psicofisiológico do indivíduo ou seu comportamento e um acontecimento objetivo. Quando a clarividência se exerce supostamente sobre acontecimentos subjetivos, chama-se, então, leitura do pensamento." (1966, p. 380)

A nosso ver Amadou mais confunde que esclarece.

Em uma publicação mais recente o pesquisador Joseph Rush escreveu um artigo sobre a história dos estudos parapsicológicos e reafirmou o sentido original da clarividência, redigido por Grasset, como a faculdade de ver através de corpos opacos. Ele se refere a um trabalho de Richet, datado de 1888, onde ele conduz um experimento bem sucedido de cartas lacradas em envelopes (1986, p. 26) e a define como a "percepção não sensorial de informação normalmente não conhecida por ninguém".

O pesquisador brasileiro Hernani Guimarães Andrade considera a clarividência como:

"capacidade de perceber visualmente, sem usar o sentido da vista, cenas, imagens, seres, tanto visíveis quanto invisíveis para as pessoas comuns; posteriormente, este vocábulo, na Parapsicologia, adquiriu um significado mais amplo, abrangendo toda a gama de fenômenos compreendida pela criptestesia geral na nomenclatura de Richet" (p. 30) Envolveria portanto, fenômenos de telepatia, clariaudiência, transposição dos sentidos e premonição.

O que se conclui desta rápida incursão nas ciências dos fenômenos psíquicos não habituais é que mesmo nos dias de hoje o termo clarividência guarda uma dupla acepção, adotada de forma diferenciada pelos diferentes autores e que deve ser entendida antes de iniciar-se a leitura de uma obra do ramo. Alguns a empregam como sinônimo de faculdade paranormal, em um sentido mais amplo. Outros lhe preservam o sentido mais específico de "visão sem os olhos", ressalvadas as diferenças entre telepatia, precognição e memória extracerebral. Como a mediunidade praticamente saiu da "agenda" de pesquisa dos principais parapsicólogos, a parapsicologia não se pronuncia (senão ocasionalmente e de forma redutiva) sobre os fenômenos de vidência descritos pelo Espiritismo, não lhe permitindo distinção ou paralelo.

1 Capítulo completo do livro “O Transe Mediúnico e Outros Estudos”, de 1999. Uma versão simplificada foi enviada para publicação no Boletim GEAE


Continua no próximo Boletim
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Questões e Comentários 


Mudança de Sexo, Ronaldo José Corrêa, Brasil

Caros irmãos.

Sou adepto da espiritualidade, de maneira que o espiritismo entra nos meus estudos. Para ser mais claro, sou praticante e professor de yoga. Lendo a resposta dada a um internauta que pedia o ponto de vista do espiritismo em relação à mudança de sexo, gostaria de fazer meu comentário, diferente do que respondeu José Cid ("Como o espírito não tem sexo, qual a relevância da operação de mudança de sexo para o espírito?" ).

Acho equivocado pensar assim.  O corpo tem uma função espiritual, senão ele não existiria. O fato de eu nascer homem ou mulher, branco ou negro, alto ou baixo, feio ou bonito ... tem uma razão de ser, embora possa estar oculto a nós esse fato. O espiritismo adotou um termo de existência milenar, oriundo da Índia, berço da yoga, que é o popular "karma". Temos outro termo da mesma origem e de som semelhante. É a palavra "dharma". Uma das variadas traduções de dharma é dever. Todos nascemos com um dever (dharma) neste mundo. Creio que meu dharma seja dar aula de yoga, ser professor dessa arte. Não é meu dharma ser jogador de futebol, até porque ficaria difícil eu pôr em prática essa atividade sentado numa cadeira de rodas.

Eu nasci homem, baixo, destinado a ser careca (mas não barrigudo) com algumas aptidões e muitas inaptidões. Se eu nasci assim, é porque tenho uma missão a cumprir conforme meu karma me formou. Eu tenho que aprender a me desenvolver conforme os planos kármicos programados pra mim. Assumir um corpo de homem é meu dever, meu dharma. Se um tigre, cujo dharma é ser tigre, agir como uma vaca, ele estará transgredindo o seu dharma, estará pecando. Ele nasceu para ser tigre, para comer carne, não para ser vegetariano e mugir.

Tudo o que fazemos com o corpo tem importância para o espírito. Se o sexo nada tivesse a ver com o espírito, as prostitutas não estariam pecando, já que o sexo não afeta o espírito, os prostíbulos não estariam carregados de energias negativas. A palavra karma significa literalmente ação. E nossas ações devem ser de acordo com nosso dharma. No entanto, todos nós em variadas coisas transgredimos o dharma, fumando e bebendo, por exemplo. Mas esses atos todos sabemos que é uma ação adhármica. Aponto apenas a questão sexual abordada por não ser tão claramente vista sob a ótica espiritual. Não se trata de puritanismo, portanto, pois cometo erros que denunciam explicitamente minha incapacidade para ser puritano.

Em anexo estou enviando um artigo que escrevi sobre dharma.

Um abraço.
Ronaldo José Corrêa


Bom dia, Ronaldo.

A resposta simplificada (ou simplista) que dei na forma de um questionamento tem exatamente a interpretação que voce deu. Se o espírito não tem sexo, a mudança do sexo do corpo que recebemos por empréstimo para cumprir nossa missão de aprendizado tem diversas consequências, demonstrando a rebeldia do espírito.

A questão do puritanismo que voce tocou infelizmente vem impedindo uma discussão melhor do assunto e, acredito, impedindo as diferentes correntes de pensamento de interagir sadiamente. A realidade é que ainda somos muito ignorantes no que diz respeito a sexo.

No meu modo de ver a sexualidade faz parte das habilidades que devemos desenvolver. Não no sentido de pratica-la com desenvoltura, mas no sentido do uso racional, dentro de suas funções no corpo material, não só como fator de perpetuação da espécie mas também e sobretudo no aspecto energético.

Termino com outra pergunta: qual a relação entre a operação de mudança de sexo e o suicídio?

Um grande abraço,
José Cid.


Caro José Cid.

Obrigado por respondeu meu e-mail. Voce tem razão em dizer que somos bastante ignorantes em relação a sexo, pois nosso aprendizado é lento. Mas vamos aprendendo um com o outro, trocando idéias, como no nosso caso, eu aprendo um pouco com voce e voce comigo, neste nosso contato, e as vezes estamos "reaprendendo' o que já sabemos, pois nem tudo sabemos de cor. Eu aproveitei a oportunidade para apresentar esse ponto de vista oriental em relação ao sexo, que, na verdade, não é especificamente em relação ao sexo, mas ao comportamento em geral do ser humano.

Mencionei a questão do puritanismo porque sei que minha colocação vai desgostar algumas pessoas, gerando até polêmica, pois para algumas pessoas passarei a imagem de preconceituoso, baseado na idéia de que cada um tem o direto de ter seu gosto sexual seja qual for. Ter uma posição em que não se apóia isso é visto como preconceito. Com a intenção de não ser preconceituosos, algumas pessoas passam para o extremo oposto. Minha posição é mais ou menos conforme sugere a bíblia: contra o pecado, não contra o pecador. Senão eu seria contra mim mesmo.

Quanto à questão do suicídio, acredito que voce está mais habilitado do que eu para dizer; creio que voce está mais bem-informado a respeito desse ato, de suas conseqüências, para comparar com a operação de mudança de sexo. Acho que é mais fácil a voce responder a mim essa pergunta do que eu a voce. Ultimamente ando lendo muito romances espíritas. E recentemente fiquei sabendo que os usuário de drogas são recebidos como suicidas no plano astral. Isso alargou na minha mente a gravidade que represente esse ato terrível. Aliás, eu dou aula de yoga para dependentes de drogas. E comentei esse fato a eles.

Na minha pouca compreensão sobre o assunto, eu diria que se comete um suicídio "em miniatura" operando a mudança física do sexo, "matando" um pouco a forma física do sexo original, em que a pessoa nasceu. Não sei dimensionar a gravidade desse ato, mas é muito inferior ao suicídio propriamente dito. Mas consigo ver uma forma de suicídio, sim, na mudança de sexo.

Encerrando, sua resposta condiz com a que te mandei, enquanto a forma simplificada com que voce respondeu no site dá margem a interpretação diferente do que cremos. A comunicação, principalmente escrita, é uma tarefa espinhosa. Várias vezes tive que explicar melhor certas colocações minhas de meus artigos. O que falei sobre a operação de mudança de sexo foi facilmnente compreendido por voce, mas para outras pessoas, e até estudiosas dessas questões, como nós, acredito que terei explicar melhor e nem todos aceitarão meu ponto de vista.

Fico grato por trocarmos idéias.

Um abraço.
Ronaldo


Oi de novo, Ronaldo.

Acho que voce pegou o espírito da coisa (sem trocadilho...). Existem diversas formas de suicídio, seja na eliminação rápida da vida do corpo, seja na eliminação lenta, através dos diversos tipos de drogas e vícios que temos a disposição da humanidade. E o sucicídio interrompe aquela oportunidade de aprendizado. Não seria a troca de sexo a interrupção de uma oportunidade de aprendizado?

Mas, acho que vale a pena ressaltar, na criação o que vale sempre é a intenção. Nossos atos não são avaliados cartesianamente. O que permanece é a intenção. Outro aspecto importante é que não existe fardo (ou cruz ou karma ou etc) pesado demais. Tudo está na medida de nossas forças e do que temos à disposição para fortalecimento de nossa moral.

Um grande abraço,
José Cid.

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Esclarecimento sobre Afirmações de Kardec, Manoel Lopes, Brasil

Embora não seja Espírita, leio as obras Kardecistas a quase 30 anos, desde de minha adolescência. Recentemente iniciei novamente a leitura do Livro dos Espíritos e qual não foi minha surpresa em "perceber" algumas afirmativas de Kardec logo no inicio do L.E.,que me deixaram em dúvida, as quais cito abaixo:

a) No livro dos Espíritos, Introdução, item VII, 4ºparagrafo " A Ciência, propriamente dita, como ciência, portanto, é incompetente para se pronunciar na questão do Espiritismo: não tem que se ocupar com isso e seu julgamento, qualquer que seja, favoravel ou não, não poderia ter nenhuma importancia."

b) No mesmo paragrafo "O Espiritismo é o resultado de uma convicção pessoal que os sábios podem ter como indivíduos, abstração feita de sua qualidade de sábios; mas querer deferir a questão à Ciência, equivaleria a decidir a existência da alma por uma assembleia de físicos ou de astronomos."

Minha formação na área de exatas (Engenharia), me fez buscar no Espiritismo respostas a varias questões, como o significado da vida, morte etc... Mas  ercebendo que atualmente é grande o número de Espíritas citando assuntos pertinentes a Física Quantica, Eletricidade, Biologia, Medicina etc..., para justificarem conceitos espíritas, fiquei em dúvida quanto as afirmativas de Kardec.

Atenciosamente,
Manoel Lopes



Seu questionamento é muito oportuno e se encaixa bem à mensagem que estamos querendo passar com as "aulas de ciência e espiritismo" que estão sendo publicadas no Boletim do GEAE.

O sr. escreveu que ficou em dúvida com relação às palavras de Kardec sobre o fato das ciências ordinárias não poderem dizer nada sobre os conceitos espíritas. Ao meu ver, o ponto que podemos (e devemos) questionar é se as afirmativas sobre assuntos pertinentes a Física Quantica, Eletricidade, Biologia, Medicina etc..., usadas para justificar conceitos espíritas, estão ou não corretas.

Tem havido um certo engano no Movimento Espírita em que alguns companheiros valorosos, com a melhor das intenções, acreditam que é necessário que as ciências ordinárias básicas como a Física, a Química e a Biologia, confirmem os conceitos espíritas a pretexto de inserí-los na atualidade. Porém, por desconhecerem como o conhecimento é produzido nos meios científicos e acadêmicos, eles acabam por defenderem algumas idéias que não possuem respaldo científico já que não seguiram os rigores usuais do trabalho de pesquisa científica em cada área da ciência.

Existem algumas afirmativas dos espíritos sobre a matéria que, graças a Mecânica Quântica (O termo 'Física Quântica' não é utilizado pelos físicos por carecer de significado), podemos entendê-las melhor (isso será abordado em "aulas" futuras). Isso não significa que a Física está confirmando os conceitos espíritas pois essas afirmativas dos espíritos dizem respeito a propriedades da matéria. Portanto, aqui não temos comprovação nenhuma do Espiritismo por parte da Mec. Quântica.

Por outro lado, existem alguns problemas conceituais ligados à teoria quântica que geram conflitos com os conceitos espíritas. Comentaremos sobre isso em detalhes em "aulas" futuras.

O equívoco de se acreditar que a Mecânica Quântica explica conceitos espíritas decorre das interpretações de determinados fenômenos físicos. Os fenômenos ditos "não-locais" sugerem uma realidade "invisível". Mas, uma análise mais profunda do Espiritismo revela que todos os fenômenos espíritas são explicados em termos de fenômenos "locais". Isso será explicado melhor nas "aulas" futuras. O que quero dizer é que a falta de uma análise mais profunda dessas coisas acaba por revelar o desconhecimento do que é ciência, do que é o trabalho científico e, mesmo, das próprias teorias modernas na área em questão. Se por um lado a postura científica é aberta a novas descobertas, de outro lado, é preciso que todos os rigores de análise sejam utilizados e verificados antes de tomar alguma idéia nova como sendo "comprovada" ou "cientificamente comprovada".

Assim, os textos espíritas que afirmam com base na Física ou qualquer outra ciência, a confirmação dos conceitos espíritas, são muito fracos justamente no ponto de vista dessas próprias ciências.

Por isso, meu amigo, as palavras de Kardec estão muito bem colocadas. Assim como uma assembléia de músicos, por exemplo, jamais poderá decidir nada a respeito da construção de uma ponte, os cientistas de qualquer área não podem, só por isso, ter nenhum privilégio para decidirem qualquer coisa a respeito do Espiritismo.

Espero ter respondido à sua questão. Fique a vontade para questionar qualquer coisa.

Um abraço fraterno,
Alexandre

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Painel

 

Seminário com Divaldo Pereira Franco, AKSC Nova Iorque, EUA



Tema:
DIRETRIZES PARA O ÊXITO

Dia: 16 de março de 2005

Horário: 7:00 pm a 10: 00 pm (de 19 às 22 h)

Local: Community Church - 40 E 35 Street, NYC

Entre Madison e Park Ave
Trens: todos para a Estação Penn Station e 34 St ou trem 6 Estação 33 St

Convite: $15.00 para ajuda de custos

Esse é o tema do mini-seminário com o incomparável médium e orador espírita de todos os tempos, Divaldo Pereira Franco. O médium bahiano, internacionalmente conhecido, estará abordando o tema de mais uma obra da autoria de sua mentora Joanna de Ângelis, oferecendo luz e reflexão para a nossa renovação no decurso da jornada em nosso progresso espiritual. Pacifismo, medo e confiança, tédio, suicídio moral, adversários perigosos, resistência às más tendências, consciência alerta, infortúnios, esperança, entre outros tópicos de igual relevância serão conduzidos por Divaldo na noite do dia 16 de março.

Contamos com a sua presença,
Allan Kardec Spiritist Center de Nova Iorque

Mais detalhes veja o site AKSCenter.com


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Por uma Sociedade Solidária e em Paz, ABRADE, Brasil

O ser humano tem evoluído bastante em sua trajetória na Terra. As conquistas científicas e tecnológicas, nas mais diversas áreas do saber e de atuação, demonstram a formidável capacidade criativa que possuímos. Se compararmos os avanços conseguidos no último século, nestas áreas, em relação a todo o restante de período conhecido da nossa história, se perceberá que praticamente outro mundo foi criado. O que este enorme avanço intelectual não conseguiu, porém, foi distribuir de maneira harmoniosa o produto gerado por esse progresso. Um indicador sintomático deste quadro é que cerca de dois terços da humanidade vive em condições de pobreza e uma parcela pequena detém a maioria das riquezas globais.
 
Paradoxalmente, quantias exorbitantes de dinheiro são gastas na produção de armas pelos países desenvolvidos para fomentar guerras. Este montante monetário seria suficiente para minorar ou erradicar substancialmente a pobreza humana em poucos anos. Como modificar este panorama de desigualdade e insegurança? Como diminuir continuamente a manifestação da violência nas suas mais diversas nuanças?
 
O caminho da solidariedade como incentivadora da paz revela-se uma perspectiva possível para a transformação do mundo, caracterizadamente marcado pela prevalência da lógica da competição e da supremacia dos mais fortes sobre os menos afortunados economicamente. Nesta direção, a Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo – Abrade, entidade de caráter nacional que tem a finalidade de promover a comunicação social da doutrina espírita, se associa a Campanha da Fraternidade de 2005, cujo tema é “Solidariedade e Paz” e o lema é “Felizes os que promovem a paz”, uma iniciativa ecumênica do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic).
 
O desenvolvimento de uma cultura de paz é ponto convergente de todas as denominações filosóficas e religiosas comprometidas com a sustentabilidade do planeta. Sustentabilidade esta erigida pela paz individual, pela paz social e pelo equilíbrio ambiental, que constituem pilares essenciais para a edificação consistente da felicidade humana e que deve ser posta como prioridade de ação de todos os homens de boa vontade, de todos os credos e recantos em vida física ou espiritual. De Hélder Câmara a Chico Xavier; de Teresa de Calcutá a Martin Luther King; de Paulo Evaristo Arns a Henry Sobel, e de tantos outros, famosos e anônimos.
 
É imprescindível a união de esforços da grande família de Deus, numa relação alteritária e fraterna e, portanto, solidária, que possibilite garantir as condições favoráveis para a mudança social tão sonhada por todos. Mudança defendida por Jesus, há mais de dois mil anos, em praça pública, nos montes, nos templos, a qual acontecesse, sobretudo, no coração dos homens.
 
Promovamos, juntos e imediatamente, a paz, se quisermos, de fato, ver um mundo feliz, consciente de que ela se inicia, primeiramente, em cada um de nós.
 
Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE)
Home Page: http://www.abrade.com.br      E-mail: abrade@abrade.com.br   
Endereço: Rua Marechal Deodoro, nº 460, Encruzilhada, Recife - PE.  CEP: 52.030 - 170.

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