Boletim GEAE
Grupo de Estudos
Avançados Espíritas
http://www.geae.inf.br
Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição
Eletrônica
"Fé inabalável
é somente aquela que pode encarar a razão, face a face,
em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec
Ano 13 -
Número 489 - 2005
15 de março
de 2005
Editorial
|
Os
Objetivos do GEAE
|
|
Artigos
|
Curso de Ciência e Espiritismo,
7ª Aula, Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil |
A Espada de
Dâmocles, Franklin Santana Santos, Brasil
|
|
História
& Pesquisa
|
Vidência
e Clarividência,
Jáder dos Reis Sampaio, Brasil
|
|
Questões
e Comentários
|
Mudança
de
Sexo, Ronaldo José Corrêa, Brasil |
Esclarecimento
sobre
Afirmações de Kardec, Manoel Lopes, Brasil
|
|
Painel
|
Seminário
Divaldo Pereira
Franco, AKSC Nova Iorque, EUA
|
Por uma Sociedade
Solidária e em Paz, ABRADE, Brasil
|
|
Os
objetivos do GEAE
Amigos,
Nós no GEAE sentimo-nos
absolutamente satisfeitos com os resultados obtidos ao longo desses
quase treze anos de existência do grupo, dentro da proposta que
adotamos desde o início. O feedback que temos recebido
constantemente dos nossos membros subscritores, também nos
dá a certeza que estamos cumprindo com o papel a que nos
propusemos.
A proposta do GEAE é simples e muito bem delineada no
FAQ
disponível
em
nossa página na Web, e resumidamente, nas palavras de um dos
nossos editores, Carlos Iglesia, pode ser assim definida:
“
O GEAE é na prática um
grupo de amigos que se reúne na Internet para o estudo da
Doutrina Espírita, buscando na troca fraterna de idéias
superar suas limitações individuais e compreendê-la
um pouco melhor. Assim, nos interessa principalmente aprofundar
conhecimentos, trocar idéias, discutir pontos difíceis,
analisar as consequências práticas e entender melhor sua
aplicação. Não está no nosso escopo entrar
em polêmicas com adeptos de outras filosofias de vida ou mesmo
tentar convencê-los de qualquer coisa.”
É pois, neste espírito de simplicidade, fraternidade e
boa vontade que nos reunimos neste veículo global para expor os
nossos pontos de vistas e dividir as nossos experiências, visando
sempre como fim último um aprendizado que nos impulsione na
direção do bem e do progresso espiritual. Neste
propósito, jamais nos furtamos à discussão
séria e à troca de experiências que venham
eventualmente somar nesses estudos que levamos a efeito constantemente.
Aqueles que ainda não são tão bem familiarizados
com a dinâmica dos trabalhos do GEAE, podem facilmente constatar
esta realidade através de um passeio pelas páginas dos
nossos 488 boletins,
todos
disponíveis na nossa homepage, e provavelmente
ficarão surpresos com a imensa variedade de temas discutidos e
estudados num processo interativo bastante dinâmico e fraterno.
Somos gratos a todos aqueles que entendendo a nossa proposta tem
contribuído conosco no desenvolvimento deste humilde e
despretencioso projeto, pois são eles os maiores
responsáveis pelos resultados obtidos pelo GEAE ao longo de sua
existência.
Não faz parte da proposta do GEAE estimular ou participar de
polêmicas em torno de temas relacionados com a fé, muito
menos de tentar mudar a convicção de quem quer que seja.
Um dos ensinamentos mais elementares e fundamentais da Doutrina
Espírita é o respeito pelas convicções
sinceras dos nossos irmãos. O Espiritismo é uma doutrina
de caráter universalista que não tem como objetivo o
proselitismo, a catequese ou a caça de adeptos e assim
não vemos sentido de empregarmos nosso escasso tempo nesta
tarefa. O que o Espiritismo visa em última instância
é nos ajudar a nos tornarmos melhores seres humanos, pois
é isto que contará em nossa jornada em busca do progresso
e nisto buscamos empregar nossos esforços.
Enfim, é oportuno mais uma vez apresentar nossos objetivos,
principalmente para os amigos que não os conhecem e que - por
causa deste desconhecimento - volta e meia nos batem à porta com
pedidos de participação em polêmicas com
irmãos de outras correntes de pensamento. Não negamos que
muitas vezes os questionamentos e comentários são
bastante engenhosos - até aproveitamos alguns para a
seção de Questões e Comentários - mas no
geral voltam a temas antigos, sustentados por sutilezas de linguagem e
de interpretação que realmente pouco acrescentam aos
nossos estudos.
Reafirmamos o nosso respeito fraternal às
convicções sinceras, tanto dos amigos que procuram
defender as idéias espíritas nestes debates como as dos
que se colocam em campos antagônicos, mas nós realmente
preferimos não participar dos debates.
Que cada um siga seu caminho em paz, sempre no exercício de sua
liberdade de consciência, patrimônio inalienável do
ser !
Muita Paz,
Antonio Leite
Editor GEAE
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Curso
de Ciência e
Espiritismo, 7.a Aula,
Alexandre Fontes da Fonseca, Brasil
Física
e Espiritismo II: energia e matéria. Referências
científicas na pesquisa espírita.
1. FÍSICA E ESPIRITISMO II:
ENERGIA E MATÉRIA
Na aula anterior comentamos sobre
como a teoria
quântica da matéria confirma algumas afirmativas feitas
pelos espíritos sobre as propriedades da matéria, em
resposta a algumas questões do Livro dos Espíritos [
1].
Aqui comentaremos sobre um conceito associado à matéria,
frequentemente lembrado em textos espíritas: a energia. Ao tempo
de Kardec, energia e matéria eram conceitos dissociados e
somente no início do século passado, ambos os conceitos
foram conectados. Isso decorre da Teoria da Relatividade, ilustrada
pela célebre equação de Albert Einstein: E =
mc².
Essa equação demonstra a equivalência em energia de
determinada porção de matéria cuja massa vale m
¹.
Como c² é um número relativamente elevado (da ordem
de
10¹¹ km²s-² em unidades do Sistema Internacional),
uma pequena
quantidade de massa contém uma grande quantidade de energia.
Ao tempo de Kardec, o conceito de energia era algo
independente do
conceito de matéria. Isso pode ser verificado através dos
teoremas ou leis de conservação, em Física
Clássica, para a energia total e para a quantidade de massa em
um sistema isolado. Energia e massa eram conservados de forma separada
em cada fenômeno físico. Contudo, com a Teoria da
Relatividade, energia e matéria se tornaram ligadas, e um novo
teorema surgiu: a lei de conservação de massa-energia.
Além da energia associada ao movimento, a chamada
energia de
repouso de um objeto tem que ser levada em
consideração
nos fenômenos em que a teoria clássica não vale.
Experimentos modernos constataram que tanto a matéria pode ser
transformada em energia quanto a energia pode se transformar em
matéria. Isso demonstra que a matéria não
é, em sua essência, algo sólido e denso como os
nossos cinco sentidos nos fazem pensar. Ela tem que ser algo muito mais
sutil e dinâmico para que possa se transformar em algo que
é, por natureza, sutil e dinâmico.
É mais
apropriado dizer, portanto, que energia e matéria
são dois “estados” de um mesmo elemento universal. O Espiritismo
fornece uma informação que se encaixa perfeitamente a
isso ao dizer que toda a matéria que conhecemos decorre de um
elemento primitivo batizado de Fluido Universal. Desde que
matéria pode se transformar em energia e vice-versa,
concluímos diretamente que a energia também é algo
que decorre de alguma transformação do Fluido Universal.
Isso nos leva a uma interessante conclusão
espírita: se
energia é algo de natureza material, a essência do
Espírito (ou princípio inteligente) não pode ser
energética. Segundo os espíritos (questões 27 e 79
do Livro dos Espíritos [
1]), existem dois
princípios
gerais no Universo: um elemento primitivo material (Fluido Universal)
do qual decorre tudo o que chamamos de matéria; e um
princípio inteligente do qual se individualizam os
espíritos. Como o princípio inteligente não pode
estar sujeito às leis que regem o comportamento da
matéria, ele não pode ter natureza energética pois
estaria suscetível às leis que regem as diversas
transformações de energia. Em outras palavras, se o
espírito fosse, em sua essência, uma outra forma de
energia ele estaria sujeito à processos que poderiam
transformá-lo em outras formas de energia ou mesmo em
matéria já que, como vimos, energia pode ser transformada
em matéria. Este comentário serve de apoio para
analisarmos uma afirmativa do nosso amigo Chico Xavier:
“
espírito e energia são
a mesma coisa” (ver página
25 da referência [
2]). Como podemos verificar,
perante
conhecimentos atuais em Física, essa afirmativa está em
desacordo com a Doutrina Espírita e a recomendação
de Emmanuel é ficarmos com o Espiritismo.
Um ponto muito importante sobre a idéia de
energia e
matéria é que a realidade material que os nossos sentidos
nos fazem perceber à nossa volta é verdadeiramente
ilusória. A matéria possui uma estrutura cujas partes
possuem propriedades diferentes do que estamos acostumados a perceber.
Para nós espíritas, a matéria é uma
transformação de uma dada porção de Fluido
Universal que, por natureza, é o elemento material mais sutil
disseminado pelo Universo. Para os cientistas, a matéria
é algo misterioso. Levando-se em conta o desenvolvimento da
teoria quântica da matéria, os cientistas não podem
mais dizer com precisão o que é ou em que consiste aquilo
que se chama matéria. O que é um elétron ou um
quark? Ninguém sabe por enquanto. Apenas sabemos que eles
existem, possuem determinadas propriedades físicas e obedecem a
determinadas leis. A visão científica do mundo material
se alterou bastante desde o tempo de Kardec e essa mudança
é positiva pois a matéria, hoje, é vista como algo
mais dinâmico e sutil.
Nas próximas aulas, iniciaremos a discutir se
os fenômenos mediúnicos podem ou não ser chamados
de
quânticos.
2. REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS NA PESQUISA
ESPÍRITA
Na aula anterior comentamos sobre a diferença
de valor científico entre um livro texto, um artigo
científico, um artigo de divulgação e um livro de
divulgação. A partir desta aula, iniciaremos a falar
sobre o uso dessas fontes de informação na pesquisa
espírita.
Pretendemos analizar o valor científico
²
de um
trabalho de pesquisa espírita que utiliza conceitos de outras
áreas do conhecimento. Em outras palavras, desejamos desenvolver
critérios que possam guiar os estudiosos e pesquisadores
espíritas em seus trabalhos. Não estamos considerando os
trabalhos que apenas citam ou retransmitam os resultados recentes de
outras pesquisas. Muito menos, estamos considerando aqui as
idéias e especulações baseadas na opinião
pessoal (mesmo a de um cientista) ou com base em alguma
intuição pessoal. Estamos considerando o caso em que um
trabalho de pesquisa resultará em conhecimento novo, mesmo que
simples, ou em uma nova análise de um assunto já
conhecido. Em outras palavras, estamos tratando de uma
contribuição real ao conhecimento espírita, mesmo
que seja algo simples (a simplicidade é amiga da ciência).
Além de estarem em acordo com o Espiritismo e com as
ciências básicas que foram utilizadas, as idéias
decorrentes de um trabalho de pesquisa espírita devem ser
úteis para o progresso da Humanidade, mesmo que, repetimos, se
trate de algo simples.
Por essa razão, é extremamente
importante saber se a base
que estamos estudando e usando para construir o conhecimento é
sólida. Se o assunto de estudo espírita envolver
questões de ordem científica, as diferenças de
valor científico entre livros e artigos, apresentadas na aula
anterior (Boletim 488) pode determinar o grau de validade ou utilidade
daquilo que produzimos. Se, por exemplo, utilizarmos somente livros de
divulgação como base de nossas pesquisas, aumentamos a
probabilidade de ter o valor dos nossos resultados reduzido a mera
especulação pois o conteúdo desses livros é
bastante mesclado de opiniões e pontos de vista de seus autores.
Se, ao menos, conhecermos profundamente a área científica
relacionada com o(s) livro(s) de divulgação utilizado(s),
poderemos separar o que é opinião do autor dos conceitos
científicos presentes no(s) livro(s). Certamente, que isso
transparecerá no trabalho e precisamos estar seguros do nosso
conhecimento para não cometer equívocos de ordem
científica.
Essa é, apenas, uma face do problema sobre
conhecer a fundo
aquilo que pretendemos estudar. Muitas vezes nos interessamos em
estudar coisas que não são de nossa especialidade e
apesar de termos capacidade de aprender qualquer coisa, não
será com fontes bibliográficas destinadas à
divulgação pública (livros e artigos de
divulgação) que nos tornaremos especialistas e
conhecedores profundos de uma área qualquer do conhecimento.
Por isso recomendamos aos que pretendem escrever
artigos ou livros para
o público espírita sobre temas ligados a tópicos
científicos que desconhecem, que procurem fontes básicas
de reconhecido valor científico (livros texto e artigos
científicos) para embasar o seu estudo; ou procure profissionais
cientistas na área do assunto que se deseja estudar para
consulta, ajuda e orientação. Vejamos o ponto de vista de
Kardec:
Kardec, ao dizer que um cientista não tem
autoridade para
ajuizar se a Doutrina Espírita é correta ou não,
simplesmente, por ser um cientista, sem querer nos fornece um valioso
argumento com relação aos cuidados com os trabalhos de
ordem científica. No ítem VII da Introdução
do Livro dos Espíritos [
1] Kardec diz: “
Com
relação às coisas notórias, a
opinião dos sábios é, com toda razão,
fidedigna, porquanto eles sabem mais e melhor do que o vulgo.”
Mais
adiante, nesse mesmo parágrafo, ele diz: “
Assim, pois,
consultarei, do melhor grado e com a maior confiança, um
químico sobre uma questão de análise, um
físico sobre a potência elétrica, um mecânico
sobre uma força motriz.” Diante do grande desenvolvimento
e da
enorme complexidade atingida em todas as áreas do conhecimento,
é mais prudente que os especialistas de cada área
analisem como os conceitos de sua área se ligam (ou não)
com o Espiritismo.
Muitas vezes somos incapazes de ler e entender os
livros texto por causa da linguagem técnica e do emprego de
notação especializada. É mais fácil para
nós lermos artigos ou livros de divulgação.
Certamente, há muitas informações úteis em
livros e artigos de divulgação, que podem servir de
insight para algumas
idéias espíritas. Mas o trabalho
científico requer algo mais do que apenas o
primeiro insight.
Além disso, em face do volume do conhecimento adquirido e da
enorme tendência mundial para justificar atividades
místicas de forma científica,
a situação
pode ser comparada a um campo onde procuramos determinada erva sem
conhecermos quase nada sobre ela e sobre outras plantas. A
chance de
colhermos um joio acreditando ser a erva é muito grande quando
consultamos livros de divulgação sem termos base mais
aprofundada sobre o assunto. E, se não temos
condições de avaliar se algo é cientificamente
correto ou não, a recomendação espírita
é que “
mais
vale repelir 10 verdades que admitir uma só
mentira, uma só teoria falsa” (Espírito de Erasto
no
ítem 230 da ref. [
3], e ref. [
4]).
Notem que os comentários acima não
sugerem que não se deve ler essa ou aquela obra; esse ou aquele
determinado tipo de publicação. A
recomendação que estamos fazendo aqui diz respeito ao
significado da palavra “discernir” presente na seguinte afirmativa de
Paulo de Tarso “Discerni tudo e ficai com o que é bom” (1 Ts
5,21). A dificuldade é que em matéria de
ciência, em geral, não temos base segura para “discernir
tudo”.
Na próxima aula citaremos alguns exemplos de
pesquisa espírita ou de interesse espírita que possuem
valor científico.
Referências
[1] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora
FEB, 76a
Edição (1995).
[2] M. S. Maior, Por trás do véu de Isis.
Uma
investigação sobre a comunicação entre
vivos e mortos, Editora Planeta, (2004).
[3] A. Kardec, O Livro dos Médiuns, Editora FEB,
62ª
Edição (1996).
[4] A. Kardec, Revista Espírita 8, p.257,
(1861).
Retorno ao Índice
A
Espada de Dâmocles, Franklin Santana Santos,
Brasil
Uma Estória da
Mitologia Grega sob a Óptica Moral dos Ensinamentos do Cristo
Dâmocles conselheiro
da corte de Dionísio, o Velho,
tirano de Siracusa, século IV a.C, célebre ao longo da
história, pelo lendário episódio da Espada de
Dâmocles, que se tornou uma expressão que significa
perigo
iminente ou os riscos inerentes a posição de mando.
Relatado por Marcus Tullius Cicero(106 a.C. - 43 a.C.) , em Tusculanae
disputationum(1), libri III, 45 a.C, e por outros
clássicos, o
acontecimento é resumido assim:
Era uma vez, um rei
tirano
chamado Dionísio, monarca de
Siracusa, a cidade mais rica da Sicília. Vivia num
palácio cheio de requintes e de coisas bonitas, atendido por uma
criadagem sempre disposta a fazer-lhe às vontades. Naturalmente,
por ser rico e poderoso, muitos siracusanos invejavam-lhe
a sorte. Dâmocles estava entre eles. Era dos melhores amigos de
Dionísio e dizia-lhe freqüentemente.
-
Que sorte a sua! Você tem tudo que se pode desejar. Só
pode ser o homem mais feliz do mundo!
Dionísio foi ficando
cansado de ouvir esse tipo de conversa.
- Ora essa! Você acha
mesmo que eu sou mais feliz do que todo
mundo?
O amigo respondeu:
- Mas é claro! Olhe
só o seu tesouro e todo o seu poder!
Você não tem absolutamente nada com que se preocupar.
Poderia sua vida ser melhor do que isso?
- Talvez você queira
trocar de lugar comigo - disse
Dionísio.
- Ora, eu nem sonharia com uma
coisa dessas! Mas se eu pudesse ter sua
riqueza e desfrutar de todos esses prazeres e da posicäo de
comando por um dia apenas, não desejaria felicidade maior.
- Pois bem! Troque de lugar
comigo por um dia apenas e desfrute disso
tudo.
E então, no dia
seguinte,
Dâmocles foi levado ao
palácio e todos os criados reais lhe puseram na cabeça as
coroas de ouro. Ele sentou-se à mesa na sala de banquetes e
foi-lhe servida lauta refeição. Nada lhe faltou ao seu
bel-prazer. Havia vinhos requintados, raros perfumes, lindas flores e
música maravilhosa. Recostou-se em almofadas macias. Sentiu-se o
homem mais feliz do mundo.
-
Ah, isso é que é vida! - confessou a Dionísio,
que se encontrava sentado à mesa, na outra extremidade. - Nunca
me diverti tanto.
De repente Dâmocles
enrijeceu-se todo. O sorriso fugiu-lhe dos
lábios e o rosto empalideceu. Suas mãos estremeceram.
Esqueceu-se da comida, do vinho, da música. Só quis saber
de ir embora dali, para bem longe do palácio, para onde quer que
fosse. Pois havia observado que pendia bem acima de sua cabeça
uma espada, presa ao teto por um único fio de crina de cavalo. A
lâmina brilhava, apontando diretamente para seus olhos. Ele foi
se levantando, pronto para sair correndo, mas deteve-se tremendo que um
movimento brusco pudesse arrebentar aquele fiozinho fino e fizesse com
que a espada lhe caísse em cima. Ficou paralisado, preso ao
assento.
- O que foi, meu amigo? - perguntou
Dionísio - Parece que
você perdeu o apetite.
- Essa espada! Essa
espada! - disse o outro, num sussurro - Você
não está vendo?
- É claro que
estou. Vejo-a todos os dias. Está sempre
pendendo sobre minha cabeça e há sempre a possibilidade
de alguém ou alguma coisa partir o fio. Um dos meus conselheiros
pode ficar enciumado do meu poder e tentar me matar. As pessoas podem
espalhar mentiras a meu respeito, para jogar o povo contra mim. Pode
ser que um reino vizinho envie um exército para tomar-me o
trono. Ou então, posso tomar uma decisão errônea
que leve à minha derrocada. Quem quer ser tirano, ocupar
as primeira posições e controlar a ferro e fogo tudo e
todos precisa estar disposto a aceitar esses riscos. Eles vêm
junto com o poder, percebe?
- É claro que
percebo! - disse Dâmocles - Vejo agora que
eu estava enganado e que você tem muitas coisas no que pensar
além de sua riqueza, fama e posição. Por favor,
assuma o seu lugar e deixe-me voltar para a minha modesta casa.
Até o fim de seus dias,
Dâmocles não voltou a
querer trocar de lugar com o rei tirano, nem por um momento sequer.
Essa lenda grega é
muito
singular e se encaixa como uma luva em
algumas passagens do Evangelho quando o Mestre Jesus disse:
´´Sabeis que os príncipes das nações
as dominam e que os grandes as tratam com império. - Assim
não deve ser entre vós; ao contrário, aquele que
quiser tornar-se o maior, seja vosso servo; - do mesmo modo que o Filho
do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida
pela redenção de muitos.`` S. Mateus, capítulo XX,
vv. 20 a 28.(2) E nesta outra também:
´´Quando
fordes convidados, ide colocar-vos no último lugar, a fim de,
quando aquele que vos convidou chegar, vos diga: meu amigo, venha mais
para cima. Isso então será para vós um motivo de
glória, diante de todos os que estiverem convosco à mesa;
- porquanto todo aquele que se eleva será rebaixado e todo o que
se abaixa será elevado.`` S. Lucas, cap XIV, vv. 1 e 7 a 11(3) .
O Cristo coloca,
portanto, a
humildade como princípio
incondicional da felicidade. Pois esta se encontra no servir e
não no ser servido, nem tão pouco em se sentir o todo
poderoso apenas por ocupar momentaneamente uma posição de
destaque. Pois o verbo ocupar, na esfera carnal, não significa
maior saber intelectual muito menos moral e sim mais
obrigações e deveres e muito amiúde
´débitos` perante a Lei, pois muitas vezes aqueles que
apesar de estarem em uma posição dita de
´subalterno` ou ´inferior` costuma suplantar mais
frequentemente senão em inteligência pelo menos em moral,
aqueles os quais devem obedecer. A história está repleta
de personagens exemplificando isto em ambos os sentidos.
Saibamos usar os nossos
cargos de
chefia, se estivermos investidos
deles, com equilíbrio e serenidade. Delegando
funções, repartindo o poder, solicitando
colaboração e assistência, oferecendo liberdade de
ação e respeitando o livre arbítrio de todos. Sem
nunca impor os nossos pontos de vistas e acreditando que somos os donos
da verdade. E pensando sempre que entre aqueles os quais dirigimos pode
haver algum ou alguns que nos são mais desenvolvidos na
escala evolutiva. Os que são ´subordinados` também
não ficam
isentos, por sua vez, de cumprirem a risca com os deveres que lhes
competem. Desenvolvendo cada vez mais a arte do respeito e da
obediência para com os seus ´superiores`.
Nós
espíritas
que temos a chave, no dizer do
iluminado espírito Bezerra de Menezes, para compreender as
palavras de Jesus com mais profundidade e entendimento, por isso
mesmo mais responsáveis seremos
perante a Lei caso queiramos agir como Dâmocles e tentar obter o
poder a todo preço, pois chegará um dia em que o
finíssimo fio da crina de cavalo se partirá e ai de
nós se estivermos embaixo da espada. O interesse com que muitos
adeptos e
médiuns que atuam na doutrina se lançam na busca por
posições de destaque e notoriedade em presidências
de centros, instituições, organismos e
federações se constitui em verdadeira cegueira espiritual
quando tem como raiz a
ambição, o orgulho, a vaidade e os complexos de
inferioridade de que são portadores. Querem fazer da doutrina um
trampolim para sua ascenção social. Como a compensar a
mediocridade da vida que levam., acreditando na ilusão de que o
nosso valor como pessoa é medido pelo posto que ocupamos.
Equivocam-se, pois aqueles que assim procedem, pois a Doutrina
Espírita não se presta a isso e o combate com
veemência. Os grupos espíritas também
não são uma empresa de direito privado com fins
lucrativos ou reinado onde passamos o ´negócio` para a
parentela consanguínea e os apadrinhados e nem tão pouco
existem cargos vitalícios. Deveria haver um revezamento de
tempos em tempos nas posições e nos postos afim de evitar
o despotismo e também para que outros possam opinar e mostrar a
sua capacidade de trabalho, desenvolver e/ou aprimorar qualidades.
Allan Kardec, o bom senso encarnado na feliz frase de Camille
Flammarion(4) é de uma
precisão sem par com
relacão a isso no Livro Obras Póstumas(5). É de se
estranhar que uma pessoa permaneça na presidência de uma
instituição por um período de tempo superior a 5
anos. Pois ao permanecer longos períodos em um determinado posto
se cria uma vacuidade de liderança, pois quando esse
líder desaparecer, o que certamente acontecerá uma vez
que todos somos desencarnaveis, quem o subistituirá? E se existe
uma pessoa ou pessoas capazes de substituí-lo é de se
perguntar porque não há o compartilhamento dessa
liderança desde já? Razão porque o mestre
Kardec(5) propôs as
regras para o estabelecimento do
comitê central que serve perfeitamente para qualquer tamanho de
organização. Pois como diz o ditado popular duas ou mais
cabeças sempre pensam melhor do que uma.
André Luiz na
obra Nosso Lar(6) nos relata que em
um período de 10 anos
passaram 4 espíritos pela direção do
Ministério da União Divina, sendo este a mais alta
estância daquela colônia espiritual. O que equilave 2,5
anos na função. E observem que estamos falando de
espíritos que foram delegados pelo Alto por suas
inumeráveis qualidades intelectuais e morais. E é ainda o
nosso querido André Luiz no mesmo livro(6) que nos relata
que a direção dos ministérios, departamentos e das
colônias espirituais estão a cargo dos mais capacitados
não só em saber, mas sobretudo em moral.
As
instituições
espíritas deveriam, pois,
escolher seus dirigentes não só pelos seus
conhecimentos doutrinários e administrativos, mais mas
também de acordo com ensinamentos kardecianos, e acima de tudo
entre aqueles
que mais amam o seu irmão, que mais secam lágrimas e que
mais balsamizam as dores do corpo e da alma. E isto tudo pelo simples
fato de que a Doutrina Espírita tem como estandarte e pedra
angular dos seus postulados as bandeiras da Liberdade e da Faternidade,
e mais ainda da Caridade e da Humildade.
Não percamos,
pois, o nosso já escasso
e precioso tempo
na disputa por posições de mando, poderes temporais,
chefias, governos e suas correspondências. Dizendo aqui mando e
sou obedecido e poderia dizer, muito frequentemente, e sou detestado
parafraseando o espírito Lázaro em uma mensagem
psicografada contida no Evangelho Segundo o Espiritismo(7). Temos muito
por trabalhar no burilamento do nosso próprio Eu. Busquemos os
últimos lugares como servos humildes fazendo com que a nossa
mão esquerda não saiba o que faz a mão direita,
pois o Pai saberá nos dar um lugar mais elevado no Plano
Espiritual se o merecermos. E Jesus nos adverte nesta frase: Pois que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que
dará o homem em recompensa da sua alma? S.Mateus Cap XVI vv 26 .
Sejamos, portanto,
sábios
e sigamos os conselhos do Mestre de
Amor e Humildade ao invés de Dâmocles, pois, Ele, Jesus
Cristo, que por ter-se feito o menor foi, é e continuará
a ser o Maior de todos, guiando-nos com seu imenso Amor em
direção a Luz do Pai.
Um abraço fraterno
a todos.
Bibliografia
1-Marcus
Tullius Cicero (106 a.C. - 43 a.C.) ,
Tusculanae
disputationum,Libri III- 45 a.C .
2- Kardec, Allan. O Evangelho
Segundo o
Espiritismo.117.ed., Rio de
Janeiro: FEB, 2001.Cap VII- Bem-Aventurados os Pobres de
Espírito.Itens 3 a 6.p 135-136.
3-Idem, ibidem,p 136
4-Kardec, Allan. Obras
Póstumas.8a
ed, Araras: IDE,
1993-Discurso pronunciado sobre o túmulo de Allan Kardec por
Camille Flammarion, p 18-28.
5- Kardec, Allan.
Obras
Póstumas.8a ed, Araras: IDE, 1993- Cap
Projeto.- 1868 p 328-354.
6-Xavier, Francisco C .
Lar, pelo
Espírito André Luiz. 25
ed, Rio de Janeiro: FEB,Cap XI Aprendendo sobre a Cidade Astral.p
53
7-Kardec, Allan.
O Evangelho
Segundo o Espiritismo- 117.ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2001.Cap IX. A afabilidade e a docura. Item 6. p. 163.
Retorno ao Índice
Vidência
e
Clarividência, Jáder dos Reis Sampaio,
Brasil
Uma Revisão dos Conceitos na Literatura Espírita,
Metapsíquica
e Parapsicológica
1.
Introdução
Estávamos lendo o livro
"No Invisível", de Léon Denis, em nosso grupo
mediúnico, quando o texto nos remeteu a uma questão
recorrente: afinal, qual é a diferença entre a faculdade
dos médiuns videntes e a
clarividência?
O presente trabalho é um
esforço para responder a esta questão a partir de algumas
premissas:
·
Os conceitos se acham ambientados dentro da obra de cada autor, e podem
variar leve ou notadamente quando analisado em obras de autores
diferentes, e até mesmo em livros diferentes do mesmo autor.
· No estudo do
Espiritismo precisamos conhecer bem a terminologia empregada pelos seus
principais contribuintes, a começar de Allan Kardec e dos
clássicos, a fim de não confundirmos seu emprego.
·
O termo clarividência não foi criado por Kardec, embora
tenha sido redefinido pelo codificador diante dos estudos dos
fenômenos espirituais. Isto nos obriga a conhecer os significados
que se encontram em teorias não espíritas, especialmente
as que antecederam o Espiritismo e influenciaram o codificador.
Iniciamos, portanto com uma
análise das definições encontradas nos trabalhos
dos principais autores da Metapsíquica e da Parapsicologia. Em
um segundo momento, revisamos a obra kardequiana. Posteriormente,
analisamos um
livro de Gabriel Delanne e terminamos a revisão com a
análise de dois livros do autor espiritual, André Luiz.
Após concluirmos nosso
trabalho, estivemos
lendo os comentaristas contemporâneos e nos surpreendemos com as
análises de Hermínio Miranda em seu "Diversidade dos
Carismas", que não comentamos aqui mas
recomendamos ao leitor que se interesse por alguns outros ângulos
da questão e no estudo de mais alguns outros escritores que
trataram do tema.
2.
Estudo da Clarividência na
Metapsíquica e na Parapsicologia: Em Busca de uma
Trajetória Conceitual para o Termo.
Uma questão aparentemente
recorrente nas tentativas acadêmicas de compreender os
fenômenos descritos pelo Magnetismo francês e pelo
Espiritismo tem sido se eles realmente o são como são
descritos e se
não poderiam ser explicado por qualquer causa física ou
orgânica. Esta "teimosia reducionista" vem impedindo o
avanço das pesquisas fartamente documentadas do século
XIX.
Este é um dos motivos que
levou à discussão metapsíquica de o que realmente
seria a clarividência. A chamada transposição dos
sentidos não seria na verdade um fenômeno
telepático? Acreditando-se ler com os dedos, não estaria
o sensitivo registrando os pensamentos das pessoas e creditando-o ao
seu próprio corpo?
Richet entende como
sinônimos os termos clarividência, lucidez
sonambúlica, segunda vista e sugestão mental (p.
25).Todos estariam se referindo a um "sexto sentido", uma sensibilidade
distinta da sensibilidade dos cinco sentidos, por este motivo
denominada criptestesia e que
por esta razão permitiria aos sensitivos obter conhecimentos por
uma via diferente da dos sentidos e do
raciocínio, metagnomia,
portanto.
Na classificação
que Richet desenvolveu para os fenômenos próprios dos
possuidores deste sexto sentido, o termo clarividência não
formou categoria de análise, embora Richet houvesse apresentado
um grande número de experiências de
percepções não telepáticas sem o uso dos
sentidos. No livro referido, um tema recorrente do criador da
metapsíquica é discutir as conclusões do livro de
Myers, Podemore e Gurney "The Phantasms of the Living" onde se pretende
reduzir as explicações aos fenômenos inabituais
à telepatia. Richet apresenta inúmeros experimentos onde
o experimentador desconhece o conteúdo de objetos e cartas
percebidos por um sensitivo. Um termo que ele parece preferir à
clarividência é hiperestesia.
Os trabalhos de Richet e da
Metapsíquica parecem ter influenciado a parapsicologia americana
de Rhine, no que diz respeito à classificação dos
fenômenos e à necessidade da experimentação.
Assim como Richet
estabeleceu uma classificação geral para os
fenômenos inabituais, Rhine denominou os chamados fenômenos
parapsicológicos com um termo geral identificado como Y (psi), distinguindo-os a seguir.
Na Parapsicologia a clarividência volta a ter um lugar como
"faculdade de ver sem os olhos" e distinta de outras faculdades como a
telepatia e a precognição.
Um autor bastante lido pelos
metapsiquistas brasileiros, Robert Amadou, considera a
clarividência como um termo empregado pelos antigos
magnetizadores. Ele a define a seguir como:
"conhecimento de
um evento objetivo,
aparentemente independente da atividade sensorial ou racional. Assim se
opõe a clarividência, por distinção
arbitrária e discutida, porém, cômoda, à
telepatia. Pode-se definir objetivamente a clarividência como uma
coincidência inexplicável pelo acaso, uma
percepção sensorial ou um raciocínio consciente ou
inconsciente, entre o estado psicofisiológico do
indivíduo ou seu comportamento e um acontecimento objetivo.
Quando a clarividência se exerce supostamente sobre
acontecimentos subjetivos, chama-se, então, leitura do
pensamento." (1966, p. 380)
A nosso ver Amadou mais confunde
que esclarece.
Em uma publicação
mais recente o pesquisador Joseph Rush escreveu um artigo sobre a
história dos estudos parapsicológicos e reafirmou o
sentido original da clarividência, redigido por Grasset, como a
faculdade de ver
através de corpos opacos. Ele se refere a um trabalho de Richet,
datado de 1888, onde ele conduz um experimento bem sucedido de cartas
lacradas em envelopes (1986, p. 26) e a define como a
"percepção não sensorial de
informação normalmente não conhecida por
ninguém".
O pesquisador brasileiro Hernani
Guimarães Andrade considera a clarividência como:
"capacidade de
perceber visualmente,
sem usar o sentido da vista, cenas, imagens, seres, tanto
visíveis quanto invisíveis para as pessoas comuns;
posteriormente, este vocábulo, na Parapsicologia, adquiriu um
significado mais amplo, abrangendo toda a gama de fenômenos
compreendida pela criptestesia geral na nomenclatura de Richet" (p. 30)
Envolveria portanto, fenômenos de telepatia,
clariaudiência, transposição dos sentidos e
premonição.
O que se conclui desta
rápida incursão nas ciências dos fenômenos
psíquicos não habituais é que mesmo nos dias de
hoje o termo clarividência guarda uma dupla
acepção, adotada de forma diferenciada pelos
diferentes autores e que deve ser entendida antes de iniciar-se a
leitura de uma obra do ramo. Alguns a empregam como sinônimo de
faculdade paranormal, em um sentido mais amplo. Outros lhe preservam o
sentido mais específico de "visão sem os olhos",
ressalvadas as diferenças entre telepatia,
precognição e memória extracerebral. Como a
mediunidade praticamente saiu da "agenda" de pesquisa dos principais
parapsicólogos, a parapsicologia não se pronuncia
(senão ocasionalmente e de forma redutiva) sobre os
fenômenos de vidência descritos pelo Espiritismo,
não lhe permitindo distinção ou paralelo.
1 Capítulo completo do livro “O Transe Mediúnico e
Outros Estudos”, de 1999. Uma versão simplificada foi enviada
para publicação no Boletim GEAE
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Índice
Mudança
de Sexo, Ronaldo José Corrêa, Brasil
Caros irmãos.
Sou adepto da
espiritualidade, de maneira que o espiritismo entra nos meus estudos.
Para ser mais claro, sou praticante e professor de yoga. Lendo a
resposta dada a um internauta que pedia o ponto de vista do espiritismo
em relação à mudança de sexo, gostaria de
fazer meu comentário, diferente do que respondeu José Cid
("Como o espírito não tem sexo, qual a relevância
da operação de mudança de sexo para o
espírito?" ).
Acho equivocado pensar
assim. O corpo tem uma função espiritual,
senão ele não existiria. O fato de eu nascer homem ou
mulher, branco ou negro, alto ou baixo, feio ou bonito ... tem uma
razão de ser, embora possa estar oculto a nós esse fato.
O espiritismo adotou um termo de existência milenar, oriundo da
Índia, berço da yoga, que é o popular "karma".
Temos outro termo da mesma origem e de som semelhante. É a
palavra "dharma". Uma das variadas traduções de dharma
é dever. Todos nascemos com um dever (dharma) neste mundo. Creio
que meu dharma seja dar aula de yoga, ser professor dessa arte.
Não é meu dharma ser jogador de futebol, até
porque ficaria difícil eu pôr em prática essa
atividade sentado numa cadeira de rodas.
Eu nasci homem, baixo,
destinado a ser careca (mas não barrigudo) com algumas
aptidões e muitas inaptidões. Se eu nasci assim, é
porque tenho uma missão a cumprir conforme meu karma me formou.
Eu tenho que aprender a me desenvolver conforme os planos
kármicos programados pra mim. Assumir um corpo de homem é
meu dever, meu dharma. Se um tigre, cujo dharma é ser tigre,
agir como uma vaca, ele estará transgredindo o seu dharma,
estará pecando. Ele nasceu para ser tigre, para comer carne,
não para ser vegetariano e mugir.
Tudo o que fazemos com o
corpo tem importância para o espírito. Se o sexo nada
tivesse a ver com o espírito, as prostitutas não estariam
pecando, já que o sexo não afeta o espírito, os
prostíbulos não estariam carregados de energias
negativas. A palavra karma significa literalmente ação. E
nossas ações devem ser de acordo com nosso dharma. No
entanto, todos nós em variadas coisas transgredimos o dharma,
fumando e bebendo, por exemplo. Mas esses atos todos sabemos que
é uma ação adhármica. Aponto apenas a
questão sexual abordada por não ser tão claramente
vista sob a ótica espiritual. Não se trata de
puritanismo, portanto, pois cometo erros que denunciam explicitamente
minha incapacidade para ser puritano.
Em anexo estou enviando um artigo que escrevi sobre dharma.
Um abraço.
Ronaldo José Corrêa
Bom dia, Ronaldo.
A resposta simplificada (ou
simplista) que dei na forma de um questionamento tem exatamente a
interpretação que voce deu. Se o espírito
não tem sexo, a mudança do sexo do corpo que recebemos
por empréstimo
para cumprir nossa missão de aprendizado tem diversas
consequências, demonstrando a rebeldia do espírito.
A questão do
puritanismo que voce tocou infelizmente vem impedindo uma
discussão melhor do assunto e, acredito, impedindo as diferentes
correntes de pensamento de interagir sadiamente. A realidade é
que ainda
somos muito ignorantes no que diz respeito a sexo.
No meu modo de ver a
sexualidade faz parte das habilidades que devemos desenvolver.
Não no sentido de pratica-la com desenvoltura, mas no sentido do
uso racional, dentro de suas funções no corpo material,
não só como fator de perpetuação da
espécie mas também e sobretudo no aspecto
energético.
Termino com outra pergunta:
qual a relação entre a operação de
mudança de sexo e o suicídio?
Um grande abraço,
José Cid.
Caro José Cid.
Obrigado por respondeu meu
e-mail. Voce tem razão em dizer que somos bastante ignorantes em
relação a sexo, pois nosso aprendizado é lento.
Mas vamos aprendendo um com o outro, trocando idéias, como no
nosso caso, eu aprendo um pouco com voce e voce comigo, neste nosso
contato, e as vezes estamos "reaprendendo' o que já sabemos,
pois nem tudo sabemos de cor.
Eu aproveitei a oportunidade para apresentar esse ponto de vista
oriental em relação ao sexo, que, na verdade, não
é especificamente em relação ao sexo, mas ao
comportamento em geral do ser humano.
Mencionei a questão do
puritanismo porque sei que minha colocação vai desgostar
algumas pessoas, gerando até polêmica, pois para algumas
pessoas passarei a imagem de preconceituoso, baseado na idéia de
que cada um tem o direto de ter seu gosto sexual seja qual for. Ter uma
posição em que não se apóia isso é
visto como preconceito. Com a intenção de não ser
preconceituosos, algumas pessoas passam para o extremo oposto. Minha
posição é mais ou menos conforme sugere a
bíblia: contra o pecado, não contra o pecador.
Senão eu seria contra mim mesmo.
Quanto à
questão do suicídio, acredito que voce está mais
habilitado do que eu para dizer; creio que voce está mais
bem-informado a respeito desse ato, de suas conseqüências,
para comparar com a
operação de mudança de sexo. Acho que é
mais fácil a voce responder a mim essa pergunta do que eu a
voce. Ultimamente ando lendo muito romances espíritas. E
recentemente fiquei sabendo que os usuário de drogas são
recebidos como suicidas no plano astral. Isso alargou na minha mente a
gravidade que represente esse ato terrível. Aliás, eu dou
aula de yoga para dependentes de drogas. E comentei esse fato a eles.
Na minha pouca
compreensão sobre o assunto, eu diria que se comete um
suicídio "em miniatura" operando a mudança física
do sexo, "matando" um pouco a forma física do sexo original, em
que a pessoa nasceu. Não sei dimensionar a gravidade desse ato,
mas é muito inferior ao suicídio propriamente dito. Mas
consigo ver uma forma de suicídio, sim, na mudança de
sexo.
Encerrando, sua resposta
condiz com a que te mandei, enquanto a forma simplificada com que voce
respondeu no site dá margem a interpretação
diferente do que cremos. A comunicação, principalmente
escrita, é uma tarefa espinhosa. Várias vezes tive que
explicar melhor certas colocações minhas de meus artigos.
O que falei sobre a operação de mudança de sexo
foi facilmnente compreendido por voce, mas para outras pessoas, e
até estudiosas dessas questões, como nós, acredito
que terei explicar melhor e nem todos aceitarão meu ponto de
vista.
Fico grato por trocarmos idéias.
Um abraço.
Ronaldo
Oi de novo, Ronaldo.
Acho que voce pegou o
espírito da coisa (sem trocadilho...). Existem diversas formas
de suicídio, seja na eliminação rápida da
vida do corpo, seja na eliminação lenta, através
dos diversos tipos de drogas e vícios que temos a
disposição da humanidade. E o sucicídio interrompe
aquela oportunidade de aprendizado. Não seria a troca de sexo a
interrupção de uma oportunidade de aprendizado?
Mas,
acho que vale a pena ressaltar, na criação o que vale
sempre é a intenção. Nossos atos não
são avaliados cartesianamente. O que permanece é a
intenção. Outro aspecto importante é que
não existe fardo (ou cruz ou karma ou etc) pesado demais. Tudo
está na medida de nossas forças e do que temos à
disposição para fortalecimento de nossa moral.
Um grande abraço,
José Cid.
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ao Índice
Esclarecimento sobre
Afirmações de Kardec, Manoel Lopes, Brasil
Embora não seja
Espírita, leio as obras Kardecistas a
quase 30 anos, desde de minha adolescência. Recentemente iniciei
novamente a leitura do Livro dos Espíritos
e qual não foi minha surpresa em "perceber" algumas afirmativas
de Kardec logo no inicio do L.E.,que me deixaram em dúvida, as
quais cito abaixo:
a) No livro dos
Espíritos,
Introdução, item VII,
4ºparagrafo " A Ciência,
propriamente dita, como
ciência, portanto, é
incompetente para se pronunciar na
questão do Espiritismo: não tem que se ocupar com isso e
seu julgamento, qualquer que seja, favoravel ou não, não
poderia ter nenhuma importancia."
b) No mesmo paragrafo "O Espiritismo
é o resultado de uma
convicção pessoal
que os sábios podem ter como
indivíduos, abstração feita de sua qualidade de
sábios; mas querer deferir a questão à
Ciência, equivaleria a decidir a existência da alma por uma
assembleia de físicos ou de astronomos."
Minha formação na
área de exatas (Engenharia), me
fez buscar no Espiritismo respostas a varias questões, como o
significado da vida, morte etc... Mas ercebendo que atualmente
é grande o número de
Espíritas citando assuntos pertinentes a Física Quantica,
Eletricidade, Biologia, Medicina etc..., para justificarem conceitos
espíritas, fiquei em dúvida quanto as afirmativas de
Kardec.
Atenciosamente,
Manoel Lopes
Seu questionamento é muito
oportuno e se encaixa bem à
mensagem que estamos querendo passar com as "aulas de ciência e
espiritismo"
que estão sendo publicadas no Boletim do GEAE.
O sr. escreveu que ficou em
dúvida com
relação às palavras de Kardec sobre o fato das
ciências ordinárias
não poderem dizer nada sobre os conceitos espíritas. Ao
meu ver, o ponto que podemos (e devemos) questionar é se as
afirmativas sobre assuntos pertinentes a Física Quantica,
Eletricidade, Biologia, Medicina
etc..., usadas para justificar conceitos espíritas, estão
ou
não corretas.
Tem havido um certo engano no
Movimento Espírita em que alguns companheiros valorosos, com a
melhor das intenções,
acreditam que é necessário que as ciências
ordinárias
básicas como a Física, a Química e a Biologia,
confirmem os conceitos espíritas a pretexto de inserí-los
na atualidade. Porém, por
desconhecerem como o conhecimento é produzido nos meios
científicos e
acadêmicos, eles acabam por defenderem algumas idéias que
não possuem
respaldo científico já que não seguiram os rigores
usuais do trabalho de
pesquisa científica em cada área da ciência.
Existem algumas afirmativas dos
espíritos sobre a matéria
que, graças a Mecânica Quântica (O termo
'Física Quântica'
não é utilizado pelos físicos por carecer de
significado), podemos entendê-las
melhor (isso será abordado em "aulas" futuras). Isso não
significa que
a Física está confirmando os conceitos espíritas
pois essas afirmativas dos
espíritos dizem respeito a propriedades da matéria.
Portanto, aqui
não temos comprovação nenhuma do Espiritismo por
parte da Mec. Quântica.
Por outro lado, existem alguns
problemas conceituais ligados à
teoria quântica que geram conflitos com os conceitos
espíritas.
Comentaremos sobre isso em detalhes em "aulas" futuras.
O equívoco de se acreditar
que a Mecânica Quântica
explica conceitos espíritas decorre das
interpretações de
determinados fenômenos físicos. Os fenômenos ditos
"não-locais" sugerem
uma realidade "invisível". Mas, uma análise mais profunda
do Espiritismo revela que todos os fenômenos espíritas
são explicados em termos de
fenômenos "locais". Isso será explicado melhor nas "aulas"
futuras. O que quero dizer
é que a falta de uma análise mais profunda dessas coisas
acaba por
revelar o desconhecimento do que é ciência, do que
é o
trabalho científico e, mesmo, das próprias teorias
modernas na área em questão.
Se por um lado a postura científica é aberta a novas
descobertas, de outro
lado, é preciso que todos os rigores de análise sejam
utilizados e verificados
antes de tomar alguma idéia nova como sendo "comprovada" ou
"cientificamente comprovada".
Assim, os textos espíritas
que afirmam com base na Física ou qualquer outra ciência,
a confirmação dos
conceitos espíritas, são muito fracos justamente no ponto
de vista dessas
próprias ciências.
Por isso, meu amigo, as palavras
de Kardec estão muito bem
colocadas. Assim como uma assembléia de músicos, por
exemplo, jamais
poderá decidir nada a respeito da construção de
uma ponte, os cientistas
de qualquer área não podem, só por isso, ter
nenhum
privilégio para decidirem qualquer coisa a respeito do
Espiritismo.
Espero ter respondido à
sua questão. Fique a vontade para
questionar qualquer coisa.
Um abraço fraterno,
Alexandre
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Seminário
com
Divaldo Pereira
Franco, AKSC Nova Iorque, EUA
Tema: DIRETRIZES
PARA O ÊXITO
Dia: 16 de março de 2005
Horário: 7:00 pm a 10:
00 pm (de 19 às 22 h)
Local: Community Church - 40 E
35 Street, NYC
Entre Madison e Park Ave
Trens: todos para a Estação Penn Station e 34 St ou trem
6 Estação 33 St
Convite: $15.00 para ajuda de custos
Esse é o tema do
mini-seminário com o
incomparável médium e orador espírita de todos os
tempos, Divaldo Pereira Franco. O médium bahiano,
internacionalmente conhecido, estará abordando o tema de mais
uma obra da autoria de sua mentora Joanna de Ângelis, oferecendo
luz e reflexão para a nossa renovação no decurso
da jornada em nosso progresso espiritual. Pacifismo, medo e
confiança, tédio, suicídio moral,
adversários perigosos, resistência às más
tendências, consciência alerta, infortúnios,
esperança, entre outros tópicos de igual relevância
serão conduzidos por Divaldo na noite do dia 16 de março.
Contamos com a sua presença,
Allan Kardec Spiritist Center de Nova Iorque
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Por uma Sociedade Solidária e em Paz,
ABRADE, Brasil
O ser humano tem evoluído
bastante em sua trajetória na Terra. As conquistas
científicas e tecnológicas, nas mais diversas
áreas do saber e de atuação, demonstram a
formidável capacidade criativa que possuímos. Se
compararmos os avanços conseguidos no último
século, nestas áreas, em relação a todo o
restante de período conhecido da nossa história, se
perceberá que praticamente outro mundo foi criado. O que este
enorme avanço intelectual não conseguiu, porém,
foi distribuir de maneira harmoniosa o produto gerado por esse
progresso. Um indicador sintomático deste quadro é que
cerca de dois terços da humanidade vive em
condições de pobreza e uma parcela pequena detém a
maioria das riquezas globais.
Paradoxalmente, quantias exorbitantes de dinheiro são gastas na
produção de armas pelos países desenvolvidos para
fomentar guerras. Este montante monetário seria suficiente para
minorar ou erradicar substancialmente a pobreza humana em poucos anos.
Como modificar este panorama de desigualdade e insegurança? Como
diminuir continuamente a manifestação da violência
nas suas mais diversas nuanças?
O caminho da solidariedade como incentivadora da paz revela-se uma
perspectiva possível para a transformação do
mundo, caracterizadamente marcado pela prevalência da
lógica da competição e da supremacia dos mais
fortes sobre os menos afortunados economicamente. Nesta
direção, a Associação Brasileira de
Divulgadores do Espiritismo – Abrade, entidade de caráter
nacional que tem a finalidade de promover a comunicação
social da doutrina espírita, se associa a Campanha da
Fraternidade de 2005, cujo tema é “Solidariedade e Paz” e o lema
é “Felizes os que promovem a paz”, uma iniciativa
ecumênica do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do
Brasil (Conic).
O desenvolvimento de uma cultura de paz é ponto convergente de
todas as denominações filosóficas e religiosas
comprometidas com a sustentabilidade do planeta. Sustentabilidade esta
erigida pela paz individual, pela paz social e pelo equilíbrio
ambiental, que constituem pilares essenciais para a
edificação consistente da felicidade humana e que deve
ser posta como prioridade de ação de todos os homens de
boa vontade, de todos os credos e recantos em vida física ou
espiritual. De Hélder Câmara a Chico Xavier; de Teresa de
Calcutá a Martin Luther King; de Paulo Evaristo Arns a Henry
Sobel, e de tantos outros, famosos e anônimos.
É imprescindível a união de esforços da
grande família de Deus, numa relação
alteritária e fraterna e, portanto, solidária, que
possibilite garantir as condições favoráveis para
a mudança social tão sonhada por todos. Mudança
defendida por Jesus, há mais de dois mil anos, em praça
pública, nos montes, nos templos, a qual acontecesse, sobretudo,
no coração dos homens.
Promovamos, juntos e imediatamente, a paz, se quisermos, de fato, ver
um mundo feliz, consciente de que ela se inicia, primeiramente, em cada
um de nós.
Associação Brasileira de
Divulgadores do Espiritismo (ABRADE)
Home Page: http://www.abrade.com.br
E-mail: abrade@abrade.com.br
Endereço: Rua Marechal Deodoro, nº 460, Encruzilhada,
Recife - PE. CEP: 52.030 - 170.
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