Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

http://www.geae.inf.br

Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec

Ano 12 - Número 480 - 2004            31 de agosto de 2004


Editorial

Sofrimento e Evolução

Artigos

Um Diálogo Fraterno sobre a Ciência & Espiritismo V
Algumas frases de Chico Xavier

História & Pesquisa

A Pesquisa Qualitativa Entre a Fenomenologia e o Empirismo-Formal, Jáder dos Reis Sampaio, Brasil

III Encontro Nacional da Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas

Questões e Comentários

Questões Intrincadas sobre o Espiritismo III
Comentários sobre Questões Intrincadas..., Mattos, Brasil

Painel

Livraria Espírita Ambulante
Site Espírita em Sueco, Nils Hansson, Suécia



Editorial

Sofrimento e Evolução

As dificuldades e a dor são causas, sofrimento é efeito. Não é o sofrimento, a rigor, que faz evoluir. Sequer as suas causas. Se o Espírito, diante da dificuldade ou da dor, fica sem ação, imprecando contra Deus ou maldizendo a vida, de nada valeu a dificuldade ou a dor em sua evolução. Os Espíritos evoluem quando se esforçam para superar as dificuldades e quando a dor os força a meditar sobre a vida, procurando propósitos para suas ações. A evolução é, portanto, antes de tudo, um ato de vontade, servindo a dificuldade e a dor como simples motivações para despertar a vontade de evoluir.

Sendo efeito, por outro lado, o sofrimento é mera reação emocional. Pode uma pessoa estar com um tumor maligno em estado de metástase, sofrendo dores incríveis e, no entanto, ser feliz, não se sentir sofrendo. Outra pode estar com o corpo saudável, ser rica, sem problema algum de ordem material e se sentir profundamente infeliz, em grande sofrimento. Não é raro vermos um trabalhador pobre, ganhando salário mínimo, com quatro filhos, morando em um barraco, rindo, brincando e, então, nos perguntarmos, intimamente: “Está rindo de que, o pobre coitado?” Por outro lado, ao sabermos que um empresário rico, poderoso e “sem problemas” se suicidou, logo pensamos: “Como é possível? Ele que tinha tudo.”

Essas dúvidas e reações não ocorrerão conosco se entendermos bem a Doutrina Espírita, conforme acabamos de mostrar.

Saibamos, portanto, aceitar todas as dificuldades e dores que nos acometem durante a vida com equilíbrio emocional, logrando sempre concluir qual a finalidade educacional dos mesmos em nosso caminhar rumo à meta desejada. Que consigamos vibrar sempre de modo a que os Bons Espíritos, nossos guias e protetores, possam nos ajudar em tal intento.

Muita paz,
Os Editores
Editor GEAE

Retorno ao Índice

Artigos

Um Diálogo Fraterno sobre a Ciência & Espiritismo V

(Continuação do Artigo iniciado no Boletim 476)

13 ) O que é matéria? O que é energia?

[Ademir] A definição de matéria e energia adquire variadas conceituações dependendo da área específica da física. Por exemplo, no caso da mecânica clássica, a matéria é aquilo que tem extensão e massa, a energia é uma quantidade que se conserva mas não tem conexão mais íntima com a matéria, sendo algo como uma "virtude" que a matéria adquire e que potencializa o movimento (a energia é uma das constantes associadas a um determinado estado de movimento). Já com áreas da física mais modernas - e dependendo do objeto de estudo como no caso das partículas elementares, energia e matéria se associam intimamente. Há partículas que não tem massa definida, por exemplo. De qualquer forma é importante ressaltar a diferença de interpretação e cuidado que se deve ter ao se utilizar a palavra "energia" fora de seu sentido próprio que é o fornecido pela área da física em particular. Fora desse escopo é possível encontrar as mais variadas definições que guardam pouca relação com o significado original.

[Alexandre] É muito difícil definir de forma precisa os conceitos de matéria e energia hoje. A resposta do Ademir acima é muito boa e não há necessidade de repetir. Quero aproveitar o ensejo da pergunta para dar uma idéia de como as coisas são mais difíceis do que a gente pensa quando pretendemos fazer a ponte entre física e espiritismo.

Concordamos que muitos resultados da física moderna corroboram algumas afirmativas dos espíritos, questões essas impossíveis de serem testadas ou avaliadas por Kardec com o conhecimento científico de sua época. Porém existe, ao meu ver, um excesso de entusiasmo quando se passa a idéia de que “a ciência está comprovando o espiritismo” ou “a física dá suporte...” ou “a física leva ao espiritismo”. Isso pode ser pensado num sentido filosófico particular mas não no sentido mais profundo. Eu quero dizer que podemos interpretar alguns desses resultados como sendo a favor do que os espíritos disseram. Mas do ponto de vista científico essas afirmativas tem tão pouco valor quanto aquelas que dizem que Deus não existe, que a alma não existe, usando, também, conceitos científicos. O que quero dizer é que nós espíritas facilmente “julgamos” aqueles que dizem que Deus e o espírito não existem dizendo que “isso é um preconceito de materialista”. Mas ficamos muito entusiasmados quando um colega deles, afirma publicamente que acredita em Deus e nos espíritos. Isso não é um critério honesto e muito menos científico. Como mencionado anteriormente, opinião é sempre opinião seja a favor ou contra.

Vejamos o seguinte exemplo: “a física mostra que a matéria não existe porque vivemos num mundo de energias”. Mas o materialista pode muito bem usar a mesma base científica e dizer que “o mundo de energias é material”. Isto pois quando usamos a equação de Einstein E=mc^2  para dizer que a matéria “densa” é energia a relação vale como m=E/(c^2) o que pode ser interpretado de forma inversa. Na verdade, o que podemos dizer, como físicos, é que matéria (massa) e energia são dois “estados” de uma mesma “coisa”. Infelizmente, cientificamente isso não prova nada com relação aos fluidos espirituais. Isto não é um argumento científico forte para dizer que temos um corpo espiritual que sobrevive à morte do corpo físico.

14) Em que a fisica quântica muda os conceitos de matéria e energia já consagrados? Em que a fisica quântica abriria espaço para interpretações espiritualistas?

[Ademir] Não é possível nesse espaço responder com suficiente propriedade a essa questão. Isso porque a mecânica quântica é um paradigma da física que exige um tratamento especial, com a inserção de outros conceitos fundamentais não presentes na física clássica e que demandariam maior espaço para apresentação. Há várias referências sobre o assunto que o leitor pode consultar. Digamos entretanto que noções como posição no espaço e definição de estado - o que uma coisa realmente é num determinado momento - adquirem interpretações bastante peculiares na mecânica quântica, o que parece ter causado a impressão de que a mecânica quântica tenha aberto a possibilidade de conexão com interpretações espiritualistas. Pelo que sei grande parte do debate gira em torno de questões de interpretação da teoria. Mas não a ponto de se tentar extender o paradigma (quântico) já existente que funciona muito bem. A questão é saber que extensão (e conexão com conceitos fora da teoria) poderia trazer a tona um paradigma que funcione melhor que o existente e que justifique sua adoção. Se isso não acontecer essas tentativas podem ser enquadradas como meras especulações.

[Alexandre] Uma das maiores contribuições que a física moderna (mecânica quântica e teoria da relatividade) trouxeram foi o que eu chamaria de “desmaterialização” da matéria. A matéria tem uma estrutura íntima que em essência é algo bastante sutil. Isso é um conceito que à época de Kardec não se tinha. Então isso deveria sugerir às mentes dos cientistas de que “há mais entre a terra e o céu do que a vã” ciência já descobriu.

Mas isso é um passo e faltam muitos até chegarmos à alguma constatação da existência dos fluídos por meios da física. Eu tenho estudado um pouco as interpretações da teoria quântica tentando analisar as consequências para os conceitos espíritas. Estou trabalhando numa futura publicação em que discuto que alguns destes conceitos quânticos trazem conflitos com princípios espíritas básicos como a questão da causa e efeito. Portanto, se por um lado a fisica quântica ajudou a mudar a mentalidade com relação a matéria, precisamos ter cautela pois ela pode não estar em completo acordo com o Espiritismo.

E a julgar pelo extenso debate que ainda temos hoje, sobre as interpretações da mecânica quântica eu ficaria com o Espiritismo aguardando o desenvolvimento da primeira.

Para dar um exemplo de que a gente tem que ser mais cauteloso com as nossas conclusões, na revista Nature de 6 de fevereiro de 2004 foi publicada uma nota de divulgação sobre alguns trabalhos sobre a tentativa de se medir alguma variação na velocidade da luz em referenciais diferentes. Segundo esta nota, os cientistas bolaram um experimento altamente preciso cujos resultados eram coisa do tipo 30 vezes melhor do que já foi feito antes. Mesmo assim eles mediram que a velocidade da luz não se altera com a diferença de referencial. Eles comentaram que isso tem forte implicações nas teorias modernas de supercordas, por exemplo. Isto pois, segundo essas teorias (supercordas), deve existir uma diferença pequena na velocidade da luz em determinados limites. Como as medidas não mostraram essa diferença isso sugere que essas teorias modernas (frequentemente usadas para dar ênfase ao espiritismo) ainda não estão corretas.


Continua no próximo Boletim
Retorno ao Índice


Algumas frases de Chico Xavier

(Fonte: “O Evangelho de Chico Xavier” de Carlos A. Baccelli - As frases foram enviadas pelo nosso amigo Leo Strumillo como parte de uma apresentação em power point homenageando o grande médium mineiro)

“O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu que nos amássemos uns aos outros.”

“Nenhuma atividade  no bem é insignificante... As mais altas árvores são oriundas de minúsculas sementes. A repercussão da  prática do bem é inimaginável... Para servir a Deus, ninguém necessita sair do seu próprio lugar ou reivindicar condições diferentes daquelas que possui.”

“Os Espíritos Amigos sempre mostram disposição de nos auxiliar, mas é preciso que, pelo menos, lhes ofereçamos uma base... Muitos ficam na expectativa do socorro do Alto, mas não querem nada com o esforço de renovação; querem que os espíritos se intrometam na sua vida e resolvam seus problemas...  Ora, nem Jesus Cristo, quando veio à Terra, se propôs resolver o problema particular de alguém... Ele se limitou a nos ensinar o caminho, que necessitamos palmilhar por nós mesmos.”

"Nunca quis mudar a religião de ninguém, porque, positivamente, não acredito que a religião a seja melhor que a religião b... Nas origens de toda religião cristã está o Pensamento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quem seguir o Evangelho... Se Allan Kardec tivesse escrito que “fora do Espiritismo não há salvação”, eu teria ido por outro caminho. Graças a Deus ele escreveu  “Fora da Caridade”, ou seja, fora do Amor não há salvação...”

"Devemos orar pelos políticos, pelos administradores da vida pública. A tentação do poder é muito grande. Eu não gostaria de estar no lugar de nenhum deles. A omissão de quem pode e não auxilia o povo, é comparável a um crime que se pratica contra a comunidade inteira. Tenho visto muitos espíritos dos que foram homens públicos na Terra em lastimável situação na Vida Espiritual...”

“O desespero é uma doença. E um povo desesperado, lesado por dificuldades enormes, pode enlouquecer, como qualquer indivíduo. Ele pode perder o seu  próprio discernimento. Isso é lamentável, mas pode-se dizer que tudo decorre da ausência de educação, principalmente de formação religiosa.”

“Sem Deus no coração, as futuras gerações colocarão em risco a Vida no planeta. Por maior seja o avanço tecnológico da Humanidade, impossível que o homem viva em paz sem que a idéia de Deus o inspire em suas decisões.”

"Devemos fazer tudo para evitar uma guerra, que viria sem dúvida, ser um atraso na marcha progressiva da Humanidade. Quando surge uma guerra de proporções maiores, quase tudo se desmantela e, praticamente, tem que ser reiniciado....”

“Gente há que desencarna imaginando que as portas do Mundo Espiritual irão se lhes escancarar... Ledo engano! Ninguém quer saber o que fomos, o que possuíamos, que cargo ocupávamos no mundo; o que conta é a luz que cada um já tenha conseguido fazer brilhar em si mesmo...”

"Sem a idéia da reencarnação, sinceramente, com todo respeito às demais religiões, eu não vejo uma explicação sensata, inclusive, para a existência de Deus.”

"Uma das coisas que sempre aprendi com os Benfeitores Espirituais é não tolher o livre arbítrio de ninguém; os que viveram na minha companhia sempre tiveram a liberdade para fazer o que quiseram...”

"Existem pessoas que se sentem ofendidas, magoadas por qualquer coisa: à mais leve contrariedade, se sentem humilhadas... Ora, nós não viemos a este mundo para nos banhar em águas de rosas... Somos espíritos altamente endividados - dentro de nós o passado ainda fala mais alto... ... Não podemos ser tão suscetíveis assim..."

“Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar... As facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito.”

"Emmanuel sempre me ensinou assim: -“Chico, se as críticas dirigidas a você são verdadeiras, não reclame; se não são, não ligue para elas...”

“Graças a Deus, não me lembro de ter revidado a menor ofensa das inúmeras que sofri, certamente objetivando, todas elas, o meu aprendizado, e não me recordo de que tenha, conscientemente, magoado a quem quer que fosse...”

“Emmanuel sempre me disse: - Chico, quando você não tiver uma palavra que auxilie, procure não abrir a boca...”

“Sabemos que precisamos de certos recursos, mas o Senhor não nos ensinou a pedir o pão, mais dois carros, mais um avião... Não precisamos de tanta coisa para colocar tanta carga em cima de nós. Podemos ser chamados hoje à Vida Espiritual...”

“Tudo que criamos para nós, de que não temos necessidade, se transforma em angústia, em depressão...”

“A doença é uma espécie de escoadouro de nossas imperfeições; inconscientemente, o espírito quer jogar para fora o que lhe seja estranho ao próprio psiquismo...”

“Abençoemos aqueles que se preocupam conosco, que nos amam, que nos atendem as necessidades... Valorizemos o amigo que nos socorre, que se interessa     por nós, que nos escreve, que nos telefona para saber como estamos indo... A amizade é uma dádiva de Deus ... Mais tarde, haveremos de sentir falta daqueles que não nos deixam experimentar solidão!”

“A caridade é um exercício espiritual... Quem pratica o bem, coloca em movimento as forças da alma. Quando os espíritos nos recomendam, com insistência a prática da caridade, eles estão nos orientando no sentido de nossa própria evolução; não se trata apenas de uma indicação ética, mas de profundo significado filosófico...”

“Tudo o que pudermos fazer no bem, não devemos adiar... Carecemos somar esforços, criando, digamos, uma energia dinâmica que se anteponha às forças do mal...  .... Ninguém tem o direito de se omitir”

“Uma das mais belas lições que tenho aprendido com o sofrimento: Não julgar, definitivamente não julgar a quem quer que seja.”

“O exemplo é uma força que repercute, de maneira imediata, longe ou perto de nós... Não podemos nos responsabilizar pelo que os outros fazem de suas vidas; cada qual é livre para fazer o que quer de si mesmo, mas não podemos negar que nossas atitudes inspiram atitudes, seja no bem quanto no mal.”

"Sempre recebi os elogios como incentivos dos amigos para que eu venha a ser o que tenho consciência de que ainda não sou...”

"Fico triste quando alguém me ofende, mas, com certeza, eu ficaria mais triste se fosse eu o ofensor... Magoar alguém é terrível!...”

“A gente deve lutar contra o comodismo e a ociosidade; caso contrário, vamos retornar ao Mundo Espiritual com enorme sensação de vazio... Dizem que eu tenho feito muito, mas, para mim, não fiz um décimo do que deveria ter feito...”

“A questão mais aflitiva para o espírito no Além é a consciência do tempo perdido.”

“Confesso a vocês que não vi o tempo correr... Por mais longa nos pareça, a existência na Terra é uma experiência muito curta. A única coisa que espero depois da minha desencarnação é a possibilidade de poder continuar trabalhando.”

“Devemos aceitar a chegada da chamada morte, assim como o dia aceita a chegada da noite - tendo confiança que, em breve, de novo há de raiar o sol...”

“Tudo tem seu apogeu e seu declínio... É natural que seja assim; todavia, quando tudo parece convergir para o que supomos o nada, eis que a vida ressurge, triunfante e bela!... Novas folhas, novas flores, na indefinida bênção do recomeço!...”

Retorno ao Índice

História & Pesquisa

(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas" -  Comitê Editorial da LIHPE)

A Pesquisa Qualitativa Entre a Fenomenologia e o Empirismo-Formal, Jáder dos Reis Sampaio, Brasil


Resumo

Metodologia e epistemologia são duas áreas relacionadas, mas independentes entre si. É muito comum na pesquisa administrativa brasileira entender-se a pesquisa chamada de qualitativa a partir de um referencial epistemológico empirista-formal. Realizou-se uma análise das contribuições teóricas ao tema por autores clássicos e contemporâneos. A proposta do presente trabalho teórico é distinguir a orientação epistemológica baseada no empirismo-formal da que se fundamenta na fenomenologia. Aceita esta distinção e o “status” científico destas duas matrizes de conhecimento, mostra-se que há implicações metodológicas distintas para a pesquisa qualitativa, seja com relação ao objetivo, seja com relação à abordagem do objeto, seja com relação à construção de construtos e indicadores. Desta forma, a pesquisa qualitativa não é uma pesquisa para a qual não se teve fôlego para estudar um número suficiente de eventos que permitam generalização, nem está às voltas com um tipo de objeto que permite apenas uma mensuração não métrica e muito menos é uma abordagem menor da ciência porque não consegue estabelecer com fundamento leis que estabelecem relações determinantes ou probabilísticas entre eventos. Trata-se de um tipo de pesquisa própria para a análise em profundidade de fenômenos onde se pressupõe, ou se busca entender melhor, a singularidade ou a subjetividade.

Palavras-Chave: Pesquisa Qualitativa, Metodologia de Pesquisa, Epistemologia

Introdução

Sempre que se discute uma pesquisa científica, está se optando por uma certa produção de conhecimento que atende a determinados parâmetros ou exigências propostos por um determinado grupo de pesquisadores. Um equívoco que geralmente se comete é pressupor a existência de uma teoria epistemológica única que fundamentaria a escolha dos métodos de investigação.

Em meio ao pensamento administrativo, a noção de ciência mais difundida filia-se às escolas derivadas do empirismo. Mesmo nesta tradição, há muitas escolas epistemológicas concorrentes, como o empirismo lógico, o empirismo probabilista, o empirismo crítico e o evolucionista. Em ruptura à tradição empirista, temos inúmeras escolas de teoria do conhecimento, como a fenomenológica (e seus desdobramentos) e a pragmática.

A idéia que o conhecimento científico é um tipo de conhecimento verdadeiro, e que a aplicação da metodologia científica conduz à obtenção da verdade, é um mito de difícil sustentação se o leitor se dispuser a analisar atentamente os pressupostos sobre os quais se constrói uma dada teoria epistemológica.

O Que é Ciência?

Francis Bacon (1561-1626), ao redigir sua obra “Novum Organum” lançou algumas das bases da ciência moderna. Propôs que o estudo se voltasse à análise da natureza, cujos resultados pudessem permitir uma acumulação sistemática do conhecimento. Propôs o método indutivo como o caminho para atingir este objetivo, através da experiência escriturada, que compreendia a observação sistemática e a realização de experimentos. O filósofo natural deveria observar as condições em que um determinado fenômeno ocorria (tábua de presença), as condições em que ele não ocorria (tábua de ausência) e registrar os diferentes graus de variação do fenômeno a fim de descobrir possíveis correlações entre as variações (tábua das graduações). Feitas as observações o pesquisador procuraria estabelecer induções amplificadoras (generalizações) extraindo o que existe de geral em uma coleção de fenômenos e estendendo por analogia aos demais nas mesmas condições. Em Bacon já temos uma distinção entre ciência (fruto da experiência humana) e especulação ou metafísica (fruto do raciocínio calcado na “lógica vulgar” ou mesmo da revelação divina).

Isaac Newton (1642-1727) abriu mão da análise teórica calcada em uma autoridade (pelo menos formalmente) para analisar as regularidades físicas, tendo por parâmetros comparativos os modelos da álgebra. Uma frase famosa onde ele expõe sua crítica ao emprego de hipóteses foi: “hypotheses non fingo” Ele possibilitou uma certa forma de se fazer ciência, onde se procura o avanço do conhecimento através da identificação de regularidades constatadas matematicamente e por indução, ou, simplesmente, “leis naturais”. Newton, portanto, adiciona as matemáticas ao método de Bacon.

Uma das dificuldades que este procedimento gerava envolvia a sucessiva complexificação das teorias explicativas dos fatos estudados, o que poderia fazer com que os cientistas se perdessem no “perigo da especulação” a partir das mesmas. Um filósofo que deu uma contribuição histórica a este problema foi David Hume (1711-1776), com sua famosa “investigação acerca do conhecimento humano”. Ele defende a identificação de nexos de causalidade dos fenômenos naturais (entendidos como sucessões temporais entre dois fenômenos percebidos em bases de uma vinculação necessária, ou seja, para que o segundo aconteça é necessário que o primeiro o anteceda) e toma como critério de verdade a possibilidade de retorno das teorias às bases empíricas que as geraram (fenômenos sensíveis), ou seja, às percepções originais. Criticando o pensamento cartesiano, ele admite a lógica dedutiva apenas para a matemática (porque consiste em relações entre símbolos), considerando-a criadora de sofismas e ilusões quando aplicada ao mundo natural, que necessariamente não se comporta segundo a lógica.

Seu projeto de construção do conhecimento foi muito bem sucedido no mundo das ocorrências físicas, e marcou uma distinção entre as Físicas e as Metafísicas, que gerou um certo desprezo nos meios acadêmicos por estas últimas. Ele foi extremamente influente até o final do século XIX e início do século XX, quando físicos como Albert Einstein propuseram teorias que invalidavam a aplicação das leis de Newton a territórios pouco conhecidos da Física, como as
partículas subatômicas, o que gerou uma desconfiança na capacidade de generalização das conclusões obtidas por estes métodos.

Grosso modo, temos então uma noção de ciência, que seria um método de produção de conhecimento verificável e acumulável, que estabelece nexos de causalidade entre fenômenos, a partir da observação sistemática e experimentação de fenômenos naturais com a finalidade de identificarem-se, por generalização, regularidades (leis) passíveis de descrição matemática.

Esta definição será quase que totalmente criticada no século XX. Bachelard e Kuhn criticariam a cumulatividade do conhecimento científico introduzindo conceitos como corte epistemológico e mudança de paradigma, respectivamente. Carnap abriu mão do conceito de verificabilidade, substituindo-o pelo de confirmabilidade. Popper estenderia as críticas à indução e à generalização, questionaria os fundamentos epistemológicos do probabilismo e proporia a falseabilidade e a falsificação, assim como a transitoriedade das teorias científicas aceitas. Todos os autores citados tratam das chamadas ciências naturais. Evitaremos o desenvolvimento destas contribuições porque elas nos fazem perder a linha mestra do presente trabalho.

Continua no próximo Boletim

Retorno ao Índice

III Encontro Nacional da Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas

Local: Auditório da Associação Espírita Célia Xavier
Endereço: Rua Coronel Pedro Jorge 314 – Prado
Inscrições: Site Panorama Espírita (www.panoramaespirita.com.br) e Secretaria da Associação Espírita Célia Xavier
Inscrição:

1. Inscrever-se no site panorama espírita (http://www.panoramaespirita.com.br/liga_histo_pesq_esp/III_ENLIHPE/formulario.html)
2. Depositar 20 reais na conta do evento - Operação 003 - Depósito em conta corrente - pessoa jurídica
3. Enviar e-mail confirmando o depósito (jadersampaio@uai.com.br ou jadersampaio@ig.com.br)
4. Receber por e-mail o comprovante de inscrição contendo o número de inscrição, local do evento, programação e informações sobre reservas de hotel.

Programação do III Encontro Nacional da Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas

13:00 – 13:30 – Credenciamento dos Participantes
13:30 – 14:00 – Mesa de Abertura e Homenagem a Napoleão Araújo
Eduardo Carvalho Monteiro e Milton B. Piedade – Coordenadores da LIHPE
Alexandre Zaghetto – Representante da Federação Espírita Brasileira
José Antônio Balieiro – Representante da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo
Felipe Estabile – Representante da União Espírita Mineira
Marcos Aurélio Machado – Diretor Administrativo da Associação Espírita Célia Xavier
Jáder Sampaio – Coordenação Local do ENLIHPE
14:00 – 15:00 – Simpósio: Preservação da Memória no Movimento Espírita
Miriam Hermeto de Sá Mota – Belo Horizonte
Jáder dos Reis Sampaio – Belo Horizonte
15:00 – 16:15 – Mesa de Apresentação de Trabalhos
O Espiritismo no Século XIX – Eduardo Carvalho Monteiro – São Paulo (SP)
Allan Kardec, Médium – Gil Restani de Andrade – Belo Horizonte (MG)
Allan Kardec através da Psicografia de Zilda Gama – Milton B. Piedade – São Paulo (SP)
16:15 – 16:45 – Lanche
16:45 – 18:00 – Mesa de Apresentação de Trabalhos
Resgate Histórico do Magnetismo Animal – Paulo Henrique de Figueiredo – São Paulo (SP)
Um Médium de Cura da Época de Allan Kardec – Jorge Damas Martins- Rio de Janeiro (RJ)
Perfil de Dois Batalhadores da Causa Espírita – Alexandre Rocha – Niterói (RJ)
18:00 – 19:00 – Mesa de Autores e Tradutores
História da Radiodifusão Espírita – Eduardo Carvalho Monteiro – São Paulo (SP)
Bezerra de Menezes: o 13o. Apóstolo – Jorge Damas Martins – Rio de Janeiro (RJ)
Dr March em Dois Planos – Alexandre Rocha – Niterói (RJ)
O Aspecto Científico do Sobrenatural – Jáder R. Sampaio (Tradutor) – Belo Horizonte (MG)
19:00 – 20:00 – Noite de Autógrafos e Café Mineiro
20:00 – 20:30 – A Vida Depois da Vida (Filme)
20:30 – 22:00 – As Mesas Girantes – (Peça Teatral da Companhia Espírita Laboro)
8:30 – 9:30 – Simpósio: Pesquisa Espírita no Brasil
Jáder dos Reis Sampaio – Belo Horizonte
Alexandre Fontes da Fonseca – Brotas (SP)
9:30 – 10:45 – Mesa de Apresentação de Trabalhos
Ética Espírita: Um Esforço para sua Delineação – Jomar T. Gontijo – Divinópolis (MG)
Controle do Caos e Influência dos Espíritos na Natureza – Alexandre Fontes da Fonseca – Brotas (SP)
Ciência, Tecnologia e Sociedade à Luz do Espiritismo – Thelma Virgínia Rodrigues – Poços de Caldas (MG)
10:45 – 11:15 – Lanche
11:15 – 12:45 – Mesa Institucional: Trabalhos e Projetos de Preservação da Memória e Desenvolvimento da Pesquisa Espírita
Federação Espírita Brasileira – Alexandre Zaghetto
União Espírita Mineira – Felipe Estabile Moraes (Diretor do Departamento de Assuntos de Unificação da União Espírita Mineira)
União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo – José Antônio Balieiro (1o. Vice-Presidente da USE-SP) e Eduardo Carvalho Monteiro (Diretor da Assessoria Pró-Memória da USE-SP)
Projeto de Criação do Centro Cultural de Espiritismo – Eduardo Carvalho Monteiro e Paulo Henrique de Figueiredo
12:45 – 13:00 – Mesa de Encerramento das Atividades e Momento Musical

Retorno ao Índice

Questões e Comentários 


Questões Intrincadas sobre o Espiritismo III

(Continuação do Artigo iniciado no Boletim 478)

4) Por que usar sempre a lógica da “justiça de Deus” para explicar a reencarnação? A reencarnação é tratada dentro do espiritismo como uma peça lógica para preencher a lacuna da justiça, para explicar, por exemplo, porque alguns nascem pobres e/ou doentes, outros ricos e/ou saudáveis. Mas essa é a única possibilidade de explicação justa e lógica? O que é justiça? Quem somos nós para avaliar a justiça de Deus? Por que temos necessidade de saber se esse ou aquele fato é justo e simplesmente não confiamos em Deus?

Nossa compreensão das leis de Deus é certamente limitada pelo nosso estágio evolutivo. No entanto, uma coisa sabemos: que qualquer virtude que possa ser atribuída a Deus há de ser mais perfeita que aquela que existe na Terra. Ora, um pai justo dá privilégio a um filho em prejuízo de outro? Certamente que não. Se um pai coloca um filho no melhor colégio, o veste com as melhores roupas e o alimenta com as mais requintadas iguarias, estará sendo justo se  colocar o outro no pior, vesti-lo com farrapos e dar-lhe a comida que sobra na mesa? Basta olhar para a sociedade humana e vermos que não pode haver justiça em uma única existência. A reencarnação pode não ser a única explicação lógica para uns nascerem assim e outros, assado, mas é a única que foi apresentada até agora. Sinceramente, você conhece alguma outra para nos apresentar?

*

A reencarnação é a única forma de verificarmos que Deus não é somente justo mas, também, bom e sábio. Mas a reencarnação não possui como base apenas tais conceitos. A reencarnação tem também como base a idéia de progresso. Segundo os Espíritos superiores, e isso é bastante racional, o nosso objetivo final é o progresso tanto em amor quanto em conhecimento. Como atingir grau máximo em uma só encarnação? Precisamos de muitas encarnações para aprender uma fração muito pequena das coisas.

*

Você nos pergunta “O que é justiça?”. A noção de justiça parece ser inata no ser humano. Experimente distribuir diferentemente brinquedos ou guloseimas entre as crianças (mesmo com menos de 2 anos de idade) para notar como a mente infantil percebe a incoerência de justiça. A Justiça é um princípio da vida. Na natureza nada existiria se não houvesse justiça. Por exemplo, se os elementos químicos parassem de obedecer às leis químicas e bioquímicas, não estaríamos aqui debatendo esse assunto. Se os corpos celestes fizessem "greve" contra as leis da gravitação, nem imaginamos o que ocorreria, em seguida. O que acontece quando as pessoas desrespeitam as leis da sociedade? A vida se torna algo muito difícil e, se os corpos da natureza não tem livre-arbítrio para fugir às suas leis, os seres humanos criaram tribunais onde as pessoas são julgadas com relação aos atos em desacordo com a lei.

E, com relação a Deus? Deus não criou leis para o universo? Deus só criou leis para a matéria? O que fizeram Moisés, Jesus e muitos outros senão traduzir em linguagem e exemplos humanos a Lei Divina? Se existe Lei, então existe Justiça. Logicamente que nossas imperfeições impedem que a compreendamos de forma absoluta. Mas ela existe. E isso é tão patente que em todos os tempos as religiões sempre atribuíram valores de punição e recompensa futuras pelos atos cometidos. Ainda hoje, a idéia das penas eternas ou do paraíso eterno nada mais é do que aplicação da Justiça. Já imaginou se quem faz o bem e acredita em Deus vai para o inferno e quem peca vai para o céu? Cadê a justiça? Perguntaríamos!

Se somos verdadeiramente justos, devemos punir conforme a gravidade do delito e não o contrário. Agora, é sempre possível imaginar que Deus puniria o justo e presentearia o que faz pouco ou nenhum caso da lei. A maior contradição que existe à noção de justiça (Divina) é a idéia de inferno que pune com rigor absoluto (eterno) uma falha finita e limitada no tempo. Na forma como é ensinada é uma idéia falsa que afasta muitos da religião, pois experimentalmente sabemos que não existe nada como uma região física de suplícios eternos, o que existe é a sobrevivência do ser além da morte e seu suplício íntimo, vitimado talvez, por uma consciência culpada, de difícil reconciliação imediata com o que é certo. Mas esse suplício está longe de ser eterno e faz parte da experiência de vida dessa alma antes de angariar novos vôos em direção a melhor compreensão das leis morais que regulam a relação entre os seres humanos e deles com Deus. 

*

A sua pergunta "Quem somos nós para avaliar a justiça de Deus?" possui um erro lógico fundamental. Ninguém tem dúvida de que somos criaturas ainda longe da perfeição e que não podemos nos comparar a Deus, Inteligência Suprema, Causa Primária de Todas as Coisas. Mas dentro de nossa posição evolutiva relativa, temos o dever de avaliar o que é justo ou não, que está intimamente ligado ao que é bom ou não, para nós e para nosso próximo. Como vamos pautar nossas ações se não pudermos avaliá-las? Como vamos ser responsáveis por atos que não avaliamos e, por conseguinte, como vamos para o "céu" ou para o "inferno" se não temos condições de avaliar a justiça de Deus? Como pode ver, amigo, Deus nos deu a inteligência para a usarmos não somente na transformação material do nosso planeta, mas também para compreendermos alguns de seus desígnios.

Note, ainda, que Jesus mesmo fez avaliações da justiça de Deus. Quando lemos a parábola do bom samaritano, por exemplo, vemos que Jesus está nos dando um exemplo de como avaliar a justiça de Deus. Se nossos atos forem bons para com o próximo, independentemente da sua crença ou raça, estarmos de acordo com a Justiça Divina. Jesus também afirmou que "a cada um segundo suas obras" (Mateus 16, 27) e não “segundo suas crenças”. Essa é uma afirmativa clara e não
simbólica.

Continua no próximo Boletim

Retorno ao Índice

Comentários sobre Questões Intrincadas..., Mattos, Brasil



Prezado Editor do GEAE:
 
Lendo o artigo sobre "Questoes Intrincadas" (#479), vi a frase: "Definitivamente, e assim nos ensinou Kardec, aceitamos as revelações pela lógica do conteúdo. E é pela lógica do conteúdo que sabemos que elas vieram de Espíritos superiores."
 
Reconheço a validade desse critério para separar a Verdade da Falsidade (com o uso da Lógica), e sempre tenho-o usado. Aliás, foi exatamente isso que me aproximou de Kardec, quando encontrei nele muito mais lógica do que em várias religiões. Por exemplo, no Cristianismo e no Islamismo, um espírito pode ser condenado eternamente ao fogo do inferno, o que contraria frontalmente suas mesmas explicações sobre a infinita bondade e justiça do Criador. Kardec resolveu-me essa contradição, mostrando que ninguém é criado simples e ignorante para ser depois condenado ao fogo eterno (seria um sadismo...). Ao contrário, depois de "pagar as contas", todos estarão condenados - isto sim - ao Paraíso, em perfeita coerência com a Infinita Bondade do Criador.

Mas... no século XX, alguns cientistas começaram a por em dúvida a validade absoluta da Lógica, mostrando que ela também pode nos levar a "becos sem saída". Em particular, o famoso "Teorema da Incompletude" (Incompletness Theorem) de Kurt Gödel (1906-1978), provou ser impossível se ter uma descrição completa e consistente da realidade, devido a falhas internas da própria Lógica. Ele provou que, se tentarmos construir uma teoria totalmente lógica e coerente, fatalmente iremos cair em contradições e em conclusões sem-pé-nem-cabeça.

A descoberta de Gödel causou um desmoronamento na fundação das ciências, ao mostrar que elas não estavam assentadas em bases sólidas. Muitos livros surgiram a partir dai. Eis alguns:

-- "O Fim da Ciência", de John Horgan (Cia das Letras, 1996, traduzido de "The End of Science")
-- "Mathematics, The Loss of Certainty", de Morris Kline (Oxford University Press, 1980)
-- "The Logic of Failure", de Dietrich Dorner (Rowohlt Verlag, 1996)
-- "Grandezas e Misérias da Logistica", de Mário Ferreira dos Santos (Ed Matese, 1966)

Assim, embora não tenhamos no momento outra ferramenta material que não a Lógica, devemos usá-la com parcimonia e conhecer-lhe as limitações. Afinal, essa é mais uma Questão Intricada, não do Espiritismo, mas do nosso próprio pensamento!

Não sem razão, e com muita sapiência, ja dizia Kardec: "Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade"

Pax Vobis
Mattos, de S.Paulo


Ola Mattos,
 
Concordo totalmente com você. Diriamos que a lógica ordinária, a que usamos no dia-a-dia é mais que suficiente para extrairmos uma visão "consistente" da realidade e erigirmos teorias sobre o mundo, o Espiritismo sendo uma delas. As limitações da lógica, acredito eu, devem-se, como você coloca, a nossa própria limitação como Espíritos em evolução. Certamente existem fundamentos mais absolutos para o conhecimento e de como ele pode ser manipulado. Mas, no momento, nossa lógica é limitada. Como você mesmo coloca, é preferível ter alguma lógica - como no caso da Doutrina Espírita - a não ter nenhuma. Parece que nos seus primeiros passos na direção do raciocínio, o Espírito deve aprender a usar da lógica, no começo, no seu dia-a-dia e, finalmente, aplicá-la as grandes questões da vida.
 
Assim somos como as crianças que aprendem paulatinamente o uso da lógica, muito embora a lógica que aprendem na infância será suplantada por formas mais avançadas de raciocínio e de manipulação de pensamento. Essa lógica maior, por hora e enquanto criança, ela nem sonha em utilizar.
 
Muita paz,
Ademir


Sim, Ademir!

É exatamente a essa "Lógica Maior" que ainda não temos acesso, em nossa carreira evolutiva.

Boa síntese, a sua!

Aliás, embora eu não tenha comentado (para não tornar meu texto muito comprido), Marx e Engels, com base em Hegel (um padre católico), também desenvolveram (nos tempos de Kardec) uma outra Lógica, a "Lógica Dialética", para tentar explicar aquilo que nossa lógica não explicava, na área política-econômica. Nessa Lógica, a contradição não só é válida, como também faz parte do raciocínio que explica a História, a evolução da sociedade, e o progresso em geral.

Essa tentativa ajudou, mas não resolveu todos os problemas.

Mais recentemente (anos 60s), também foi criada, pelo prof. Lotfi Zadeh, da Universidade da Califórnia - Berkeley, a "Lógica Aproximada" que (talvez) venha a se impor, ao rechaçar o apenas "certo ou errado" da Lógica Comum (binária), e admitir escalas contínuas que vão desde o Errado até o Certo, mas passando pelo "Menos Errado", "Meio Certo", "Quase Certo" etc. Ver, a respeito, "Fuzzy Logic, The Revolutionary Computer Technology That is Changing our World", de Mcneill e Freiberger (Ed Simon & Schuster, 1993).

Como você vê, meu caro Ademir, a Humanidade continua procurando a (sua) Lógica Maior!

Pax Vobis
Mattos


Prezado Mattos,

Estou longe de conhecer a fundo o Teorema de Gödel e suas implicações.

Mas seus comentários me fizeram lembrar de uma conversa com um amigo matemático (também espírita) que foi quem primeiro comentou esse assunto comigo.

Eu me lembro muito bem que ele me disse algo só um pouquinho diferente do que o sr. colocou.

Ele me disse que o Teorema de Gödel afirma sim que a lógica é insuficiente para dar conta de explicar todo um sistema. Mas o que o meu amigo destacou é que isso significa que precisamos de "algo mais" ou "algo externo ao sistema" para que seja usado como base para completá-lo ou explicá-lo.

Por exemplo, os postulados de uma teoria física constituem esse "algo mais" que o próprio sistema não explica. Einstein postulou que as leis da física tinham que ser as mesmas em todos os referenciais inerciais e isso foi o princípio que resultou nos resultados de sua teoria. Outro exemplo: ninguém sabe por quê ao nível microscópico a matéria somente troca energia em pacotes finitos (os quanta). Mas é assim que a natureza funciona e Max Planck foi o que primeiro percebeu isso.

Eu estou longe de ter estudado mais profundamente as questões sobre o fim da ciência. Mas o que eu vejo é que a ciência está muito longe de um fim ainda mais agora que os cientistas perceberam que a multidisciplinaridade é algo necessário para se entender diversos campos da natureza ainda não explorados como o fenômeno (físico) da vida.

Portanto, em meu entender, o Teorema de Gödel não desvaloriza nenhuma conquista científica e o Espiritismo também não tem nada a temer dos seus resultados. Talvez até pelo contrário: se os sistemas são "incompletos" sempre necessitaremos de um "algo mais" como "causa primeira" e isso não é um argumento ruim para nós espíritas.

Agradecemos pelos seus comentários que muito tem enriquecido as discussões no GEAE.

Um grande abraço fraterno,
Alexandre


Meu caro Alexandre:

O titulo "O Fim da Ciência" (livro que eu citei), obviamente é sensacionalista e objetiva as vendas. Postular o "fim da ciência" é postular a volta à ignorância (e note que Espiritismo também é uma Ciência, embora não oficial nem ortodoxa). E, pelos ensinamentos de Kardec, não há retrocesso evolutivo, como bem a História tem mostrado ad nauseam.

Dessa forma, o "fim da ciência" só pode significar "o fim da ciência convencional". Jamais poderia eu conceber uma volta ao caos cognitivo e anárquico, como ocorria em priscas eras.

Em verdade, como diria Marx, estamos (isto sim) em um processo de mudança - qualitativa - no conhecimento científico, onde o novo nega o velho e o suplanta, para depois ser novamente negado pelo novíssimo, prosseguindo assim a evolução.

O Ademir, do GEAE, me enviou um email a propósito (mandei c/c p/ você), onde (ele) sintetisou (brilhantemente) o que eu queria dizer: Caminhamos para uma Logica Maior!

Nesse mesmo email para o Ademir, eu complementei minhas ponderações, mostrando que (de fato) a Humanidade continua procurando formas mais aprimoradas de raciocinio. Dê uma olhada nele (no email).

Eu sempre me preocupei com esse assunto (a Lógica), pois todas as ações humanas (racionais) são advindas desse "software" que recebemos ao nascer: nossa Lógica Interna. Assim, se o "programa" de nosso cérebro tem "bugs" (falhas), então podemos seguir caminhos errados (como nos "crashes" dos computadores). E, como mostrou Gödel, de fato, nosso software material tem bugs!

Talvez por isso, muitas vezes, os espíritos tenham dito para Kardec (quando ele não entendia alguns conceitos): "Voces precisam primeiro se entender com a linguagem que voces usam". Achei muito _profunda_ essa colocação de nossos amigos invisíveis, pois mostraram quão limitados são nossos instrumentos materiais (nossa Lógica e nossa Linguagem), impedindo-nos de entender assuntos mais profundos e intrincados. Aliás, nossa linguagem é mesmo muito limitada e falha. Veja (por exemplo) a frase: "João foi com Pedro em sua casa". Ou entao esta outra: "Eu estou mentindo". Os espiritos têm razão!

Quanto à sua menção aos "pacotes de energia", lembrei-me de uma noticia que enviei por estes dias para o GEAE, citando uma descoberta recente sobre o teletransporte de matéria, tema bem discorrido por Kardec há 150 anos. Por relevante, remeto-o novamente aqui embaixo.

Assim, meu caro Alexandre, como você vê, estamos totalmente de acordo, malgrado nossa limitada linguagem não nos tenha permitido ser totalmente claros.

Pax Vobis
Mattos, de Sao Paulo

Retorno ao Índice

Painel

Livraria Espírita Ambulante

Livraria

Diz um velho ditado popular que "se Maomé não vai a montanha, a montanha vai a Maomé" e dele nos recordamos quando encontramos estacionado em uma praça do Tatuapé, aqui em São Paulo, o ônibus com a "Livraria Espírita Ambulante Chico Xavier" - afinal, nos pareceu que, com esta iniciativa, se as pessoas não vão aos livros espíritas, eles vão até elas !

A importância do livro - da palavra escrita - para a Doutina Espírita é imensa, não só sua base são os livros de Allan Kardec, principalmente o "Livro dos Espíritos", como toda a sua divulgação e desenvolvimento tem tido o livro como principal veículo. Veja-se, por exemplo, a obra de Chico Xavier desde o Parnaso de Além-Tumulo até os trabalhos de Humberto de Campos, André Luiz, Emmanuel, etc ...

LivrosO livro é também o veículo por excelência das mensagens de consolo e conforto, afinal, quem já não buscou nas mensagens de além-tumulo o consolo para a perda de entes queridos ? Quem não buscou nos textos mediunicos as respostas para o problema do ser, do destino e da dor ? Quem não buscou saber o destino da grande viagem para o além-tumulo, a qual nos todos nós seremos obrigados a fazer, mais cedo ou mais tarde ?

Assim, não foi sem grande curiosidade que entramos no ônibus, curiosidade em ver como essa preciosidade - que é o conhecimento espírita - é levada a circular pelos bairros paulistanos. E não ficamos decepcionados, ali encontramos uma vasta seleção de obras espíritas, das mais procuradas - os romances mediunicos - até as mais profundas, como o livro de Hernani Guimarães Andrade sobre a história da Parapsicologia.

O onibus que roda em São Paulo é parte de um trabalho mais amplo. Tudo começou há cerca de 30 anos quando Adjair Fernandes de Faria, da cidade de Uberlândia (MG),  passou por uma grave doença e, mesmo desenganado pelos médicos, conseguiu se recuperar ao encontrar a Doutrina Espírita. O encontro se deu através de um amigo espírita que lhe levou o "Livro dos Espíritos" e o "Evangelho Segundo o Espiritismo" para ler quando estava acamado. Com a recuperação veio o envolvimento cada vez maior com a Doutrina e a abertura de uma livraria espírita para ajudar na sua divulgação (a livraria está completando 17 anos).

Com o desenvolvimento do trabalho veio o primeiro ônibus espírita - por volta de 1990 - para circular pelos bairros de Uberlândia e, após um curioso incidente, um onibus maior para circular pelo Brasil. Esta segunda "Livraria Ambulante" veio substituir um automóvel novo que havia sido roubado e encontrado - de forma totalmente inesperada em Araguaia - assim que a familia tinha se decidido por trocá-lo por um ônibus caso fosse recuperado. Neste ônibus o Adjair já circulou por  621 cidades.

FernandaA terceira Livraria Espírita Ambulante, a que circula agora pelos bairros de São Paulo, surgiu há cerca de três anos. Fernanda, filha de Adjair, é quem cuida desta livraria. Foi ela quem nos recebeu ao visitarmos o onibus e - enquanto orientava alguns outros visitantes na seleção dos livros - nos contou a história deste trabalho. A propósito, não poderiamos deixar de observar que o trabalho da Fernanda - segundo ela na linha definida por seu pai - é de verdadeira orientação a pessoa interessada em conhecer o Espiritismo. Ela, com grande atenção, procura entender o que cada pessoa busca ao entrar no onibus e a direciona para o livro que atenda melhor a suas necessidades de conhecimento.

Neste trabalho, que é interrompido apenas de três em três meses quando a familia volta a se reunir em Uberlândia, Fernanda teve oportunidade de passar por diversas experiências. Existiram mesmo casos de irmãos de outras religiões - ainda presos a concepções bastante limitadas da verdade - que vieram até a porta do onibus dizer que ela estava a serviço do "demônio". Casos em que foi necessária muita paciência e jeito para esclarecê-los sobre o que é realmente o Espiritismo. E a proteção espiritual também nunca lhes faltou em todas as andanças em prol da Doutrina.

"A gente agradece a Deus por ele nos dar esta tarefa, de estar divulgando a Doutrina, onde a gente aprende muito. Isto aqui é uma benção." (Fernanda).

A "Livraria Ambulante Chico Xavier" ficou na Praça do Bom Parto até o dia 10 de julho e dai vai para outros locais aqui da cidade, normalmente escolhidos pela intuição, com a condição de que ofereçam um local de movimento sem atrapalhar o comércio local. O onibus é instalado com autorização da prefeitura e a devida regularização na Eletropaulo (energia elétrica) e nas autoridades de transito. Para saber a localização atual dos onibus com a "Livraria Ambulante" basta enviar um e-mail para "vendas@livrariachicoxavier.com.br" ou ligar para (11) 9757-3209.

Amigos, fiquei bastante impressionado com o trabalho realizado por esta familia e recomendo que tendo oportunidade não deixem de visitar uma das Livrarias Espíritas Ambulantes. No minimo terão uma visão completamente nova da importância de se colocar o livro espírita ao alcance dos leitores !

Muita Paz,
Carlos Iglesia

Retorno ao Índice

Site Espírita em Sueco, Nils Hansson, Suécia

Caros amigos
 
É com imensa alegria que comunicamos o lancamento do site espírita ANDARNA(Os Espíritos) http://www.andarna.se na cidade de Estocolmo – Suécia. O site é bilíngüe(Sueco e Inglês) e tem o objetivo de divulgar a doutrina espírita junto a população sueca e traduzir obras para o sueco. O site já conta com várias páginas, mas muito ainda estar por preencher. Estamos colocando novidades todos os dias. Teremos livros on-line, livraria virtual, página infantil etc. O presidente é o médico geriatra Franklin Santana Santos(MD, PhD) no momento cursando o pós doutorado no Instituto Karolinska e trabalhando com a doutrina espírita há 20 anos.

Address: Killinggränd, 27 - 175 45 - Järfälla

Tel: + 46 (0) 08 580 17463
e-mail: ord@andarna.se
President: Franklin Santana Santos
Language: Swedish, English and Portuguese   
 
Ficaremos gratos caso possam divulgar essa informação
 
Abraço Fraterno

Retorno ao Índice

GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS

O Boletim GEAE é distribuido por e-mail aos participantes do Grupo de Estudos Avançados Espíritas
Inscrição/Cancelamento - inscricao-pt@geae.inf.br

Informações Gerais - http://www.geae.inf.br/pt/faq
Conselho Editorial - editor@geae.inf.br
Coleção dos Boletins em Português - http://www.geae.inf.br/pt/boletins
Coleção do "The Spiritist Messenger" - http://www.geae.inf.br/en/boletins
Coleção do "Mensajero Espírita" - http://www.geae.inf.br/el/boletins