Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

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Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec

Ano 12 - Número 478 - 2004            15 de julho de 2004


Editorial

Fé e Razão

Artigos

Um Diálogo Fraterno sobre a Ciência & Espiritismo III
Universidade da Alma. Cidade Universitária do Espírito, Luiz Carlos D. Formiga & André Luiz B. Formiga

História & Pesquisa

Os Grandes Vultos da Doutrina: Pierre Gaetan Leymarie, Paulo Toledo Machado, Brasil

Desativação do endereço editor-lihpe@geae.inf.br

Questões e Comentários

Questões Intrincadas sobre o Espiritismo I

Painel

IV Congresso Internacional de Terapia de Vida Passada
Novo Endereço do Spiritist Group of Brighton, Elsa Rossi, Reino Unido



Editorial


Fé e Razão


Vive-se atualmente um momento de impasse com a Ciência a demonstrar que podemos interferir muito mais em assuntos considerados até em tão "sagrados" e, por outro lado, o crescimento de movimentos religiosos que insistem em "desafiar" a Ciência. Tais grupos propõem uma visão do mundo em absoluto conflito com a descrição científica da realidade. Como conciliar esses dois pontos de vista?
 
Lembremos as antigas escolas de pensamento: cada indivíduo, instituição ou agrupamento social é atraído ou advoca um ponto de vista de acordo com sua própria bagagem intelectual e moral. Tal como as abelhas, os indivíduos se afinam uns com os outros de acordo com seus próprios gostos pessoais e padrões de opinião. Os grandes movimentos religiosos (de todos os matizes) e agrupamentos científicos são como grandes colméias que atraem Espíritos afins. Uns veêm Deus em uma simples pedra, outros apenas nos raios do Sol enquantro que há outros que não acreditam em nada.
 
Em grande parte o debate toma proporções imerecidas justamente porque ambos os lados apenas apreendem aspectos parciais da realidade. Mas nos dois lados, o Espírita deve observar com atenção as descobertas científicas e evidências empíricas que sempre trazem as novidades do "Livro da Natureza". Esse foi o primeiro livro escrito pela mão daquele que criou todo o Universo e que, portanto, tem precedência natural sobre qualquer outro livro seja ele considerado sagrado ou não.
 
A Doutrina Espírita apóia e advoca todas as teorias científicas, não tendo nada contra esse ou aquele posicionamento da Ciência. Sabemos que não existe uma "ciência oficial"; oficial apenas pode ser a breve opinião de alguma comunidade de cientistas. Mas a Doutrina Espírita vai mais além por considerar que o Universo teve um começo bem determinado, uma causa primeira. Essa causa possui inteligência. Além disso, advoca que somos seres sem fim na criação. O conhecimento espírita é bem o complemento espiritualista que falta às considerações puramente científicas. Todas as proposições que pretendem dar andamento seguro ao debate entre a Fé e a Razão passarão pelas questões e considerações feitas na Doutrina Espírita. Por isso, a Doutrina Espírita, na minha humilde opinião, é bem o ponto presente de convergência entre Fé e Razão, entre Ciência e Religião, embora sejam raros os lados do debate que tenham condição de reconhecer esse fato.
 
Estejamos certos desse fato e acolhamos com interesse as novas proposições da Ciência, venham elas de onde for, ainda mais certos de que todas essas coisas estam previstas nas Leis da Natureza da qual a Doutrina Espírita, através de seus princípios, também faz parte.
 
Muita paz,
Editores GEAE

Editor GEAE

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Artigos

 

Um Diálogo Fraterno sobre a Ciência & Espiritismo III

(Continuação do Artigo iniciado no Boletim 476)

9) O que significa dizer que algo é comprovado pela ciência? Quem emite esta comprovação?

[Ademir] O termo "comprovado pela ciência" é de utilização popular e não tem paralelo preciso na atividade científica.

Em geral significa dizer que a "ciência" - talvez confundidada como a atividade dos cientistas ou pela opinião deles - endossa essa ou aquela crença ou proposição. Podemos dizer que a ciência "comprovou" que a Terra gira em torno do Sol? Podemos dizer que, dentro das ciências, há um ramo da física ou da astronomia que tem um modelo muito bem sucedido onde a Terra orbita o Sol e não o oposto. Esse modelo é a base para a crença por parte dos cientistas de que a Terra se move em torno do Sol.

A crença popular da comprovação não segue dessa cadeia de raciocínio: vem da autoridade conferida aos cientistas. Como esses dizem que a Terra gira em torno do Sol, então diz-se que a "ciência comprovou" que a terra gira em torno do sol de fato.

Há que se separar aqui duas coisas:

(1) a estruturação do paradigma se faz em uma linguagem específica que, em geral, está fora do alcançe dos leigos. O paradigma em si prevê um conjunto de fenômenos e descreve a Natureza de uma forma específica que só é acessível ao profissional;

(2) a opinião dos cientistas. Cai-se agora em uma questão de autoridade: quem tem mais autoridade, um astrônomo ou um físico (na questão acima)? E se compararmos com a opinião de um físico de partículas? E se utilizarmos a opinião de um biólogo?

Está bastante claro que o que a ciência descreve não pode depender da opinião dos cientistas, embora a opinião popular se reporte explicitamente a tal opinião. Assim o julgamento popular é bastante deficiente e, como consequência disso, muitas "comprovações" carecem de sentido, principalmente quando se referem a opinião de cientistas que divergem sobre determinado assunto ou quando dizem respeito a opinião derivada de modelos (paradigmas) que foram revistos.

[Alexandre] O Ademir separou bem as concepções que existem quanto à expressão "comprovação cientifíca". Em geral, as pessoas atribuem às opinioes dos cientistas (mormente os grandes premios-Nobel) um valor especial. De fato, não existe uma definição precisa para “comprovação cientifica” que possa ser apresentada numa frase.

Eu gostaria de colocar essa questão da seguinte maneira. Quando é que um resultado de uma pesquisa qualquer pode ser considerado como cientificamente válido? Aí entra a questão já bem apresentada pelo Ademir sobre os paradigmas de cada ciência. Cada paradigma define seus métodos específicos de validação de um resultado. Eu tenho usado a expressão "comprovação científica" nesse sentido.

Vou dar um exemplo interessante cujos detalhes eu não domino completamente mas a idéia é clara e está em acordo com o que o Ademir explicou. Recentemente, os cientistas divulgaram que o neutrino tem massa. Isto é, isso foi comprovado cientificamente. Mas notem que ninguém pegou um punhado de neutrinos e pos numa balança. A forma pela qual eles concluiram que o neutrino tem massa envolve muita teoria. Se não me engano a medida experimental foi a contagem do número de um determinado tipo de neutrino que, dependendo do resultado significaria que os neutrinos tem massa, porque uma certa teoria explica que se ele tiver massa o número de um determinado tipo de neutrino será maior (daqueles que vem do sol).

Então aqui vemos que o paradigma determinou COMO o experimento deveria ter sido feito para determinar se o neutrino tem ou não massa. O experimento foi feito e a massa do neutrino foi enfim descoberta. Houve uma comprovação científica em termos do paradigma que dirige esse ramo da física.

Outro ponto que acabou se tornando algo quase que obrigatório é a questão da publicação de artigos em revistas científicas "per reviewed". Este é um ponto delicado e discutível, mas, geralmente, quando uma pesquisa é publicada numa revista cientifíca, ela se torna, digamos assim, meio caminho andado rumo a ser considerada "comprovada cientificamente". Na verdade, a publicação confere um status de que a pesquisa foi analisada de acordo com os métodos definidos pelo paradigma em questão. Porém, o que a gente vê, é que ou esse artigo será verificado por outros cientistas e citado como correto, ou outros cientistas encontrarão erros nesse artigo e vão citá-lo por isso em futuras pesquisas. Assim, um assunto pode ser considerado como "comprovado" após os debates cientificos ocorridos ao nivel das publicações (artigos), confirmando ou refutando cada resultado. De qualquer forma, a publicação de um artigo, mesmo que em revista de impacto menor, reflete o trabalho de cada cientista.

Nesta história de "comprovação cientifica" existe também dois aspectos. Um é o trabalho puramente teórico. Este, para ser válido, deverá satisfazer os métodos e ferramentas teóricas previstos pelo paradigma em questão. O segundo aspecto é a verificação dos fatos, experimentalmente (quando isso é possivel) ou através da observação. Notem que o Ademir mencionou sobre grandes descobertas que primeiro foram previstas teoricamente e, depois, foram confirmadas experimentalmente como, por exemplo, o aspecto ondulatório do eletron e a existência do positron (anti-partícula do eletron). Esses são grandes exemplos mas eu gostaria de ressaltar que muitos outros exemplos de previsões teóricas que não se confirmaram existiram e, naturalmente, cairam no esquecimento por não terem dado certo.

Assim, quem ou, melhor, o que determinou que uma previsão teórica estava correta ou nao? Resposta: os fatos (Kardec foi muito sábio nesse ponto!). Se ninguém tivesse medido (querendo ou não) ou observado a existência do positron, isso não teria o valor que tem hoje. Portanto, a "comprovação" dos fatos tem um peso maior do que uma "comprovação" puramente teórica e é justamente o fato que dita o valor de uma teoria.

Perdoem-me a extensão mas os detalhes ajudam a explicar pontos importantes. Considerem o exemplo simples de um objeto que deixamos cair no chão, a partir de uma determinada altura. A mecânica clássica explica isso muito bem. Se eu soltar uma bola de gude de uma altura de 1 metro a mecânica de Newton prevê com uma precisão muito grande a posição do centro da bola de gude em cada instante até tocar o chão. Mas será que as mesmas equações me explicam, também com precisão, a posição do centro de uma folha de papel que cai da mesma altura? A resposta é não pois, no caso do papel a força de resistência do ar não pode ser desprezada (como foi no caso da bola de gude). Esse tipo de consideração é muito comum em fisica: toda hora os fisicos tentam descobrir onde eles podem simplificar algumas equações para facilitar o estudo de um conjunto (limitado) de fenômenos. Então, eu nao posso usar as equações obtidas para a bola de gude no caso do papel. Nesse caso, eu tenho que incluir a força de resistência do ar para obter uma melhor explicação ou predição do fenômeno. Em seguida eu pego uma folha de papel e faço a experiência de modo a verificar se a teoria (equações) está correta. Muitas vezes, o experimento diz que as equações estão erradas e torna o cientista a reformular as suas equações levando em conta algum outro termo para tentar explicar os dados.

Porque eu escrevi isso acima? Vemos que os resultados teóricos pertencentes a um dominio ou disciplina cientifica são subconjuntos do conjunto maior de teorias (leis complementares) ligadas ao paradigma dessa disciplina. Mas vemos que as leis complementares de um subconjunto pode não valer dentro de outro subconjunto e isso precisa estar bem claro na mente dos cientistas para não enfiarem os pés pelas mãos, usando equações de um campo no subconjunto errado. Esse o ponto que eu queria destacar que eu vou comentar mais abaixo.

Agora o ponto que nos interessa de perto. Quando nós temos uma idéia, ou tese, ou proposição, ou algum resultado de pesquisa, precisamos utilizar os métodos específicos da disciplina científica associada ao assunto para "comprovar", isto é, demonstrar a validade de nossa idéia, tese, ou resultado de pesquisa.
 
Essa questão se torna difícil e delicada quando um assunto pertence a fronteira entre duas ou mais ciências. Por exemplo, ao usarmos fisica ou matemática para explicar certas propriedades do DNA, é preciso satisfazer tanto os critérios e métodos dos paradigmas da fisica utilizados, quanto aqueles da biologia e da química. Se eu for muito específico na fisica e não prestar atenço às informações biológicas o meu trabalho não será aceito como válido, cientificamente.

A mesma coisa tem que valer para com as tentativas de relacionar-se a fisica e o espiritismo. Devemos aplicar o rigor de cada uma das ciências envolvidas (fisica e espiritismo) se quisermos obter um resultado válido perante os paradigmas de ambas. É preciso ter um cuidado mais que redobrado ao utilizar (ou tentar utilizar) definições e equações da fisica para descrever algo de ordem espiritual pois precisamos verificar se as equações que usamos, que pertencem a um determinado subconjunto de fenômenos fisicos, podem ser aplicados no fenômeno espírita que pretendemos. Esse é o ponto que é muito delicado, requer muita discussão por nao sabermos bem o que é o mundo espiritual, ou melhor, o que são os fluídos que o compõem? E nesse ponto é que eu faço o meu alerta (artigo fisica quantica I: alerta) de que não se publicou ainda as explicações que permitirão a nós analisarmos se a idéia ou tese proposta tem valor científico de acordo com a física e o espiritismo.

Notem que eu não posso afirmar que elas não são válidas. Mas sem ver a explicação delas elas tem o mesmo valor de uma opinião (vide comentários do Ademir sobre opinião, mesmo a de um cientista).

Uma opinião não pode ser divulgada como uma tese "comprovada". Os leitores leigos não sabem discernir e tomam por "comprovação científica" as afirmativas feitas pelos cientistas, mesmo sendo eles espíritas, e mesmo tendo elas sido feitas com a mais nobre das intenções. Todo cidadão tem o direito de possuir e crer nas teses que quiser, nas teorias e idéias que quiser. Mas ninguém tem o direito de divulgá-las como verdades relativas a uma ciência sem satisfazer os critérios e métodos determinados pelos paradigmas da mesma. O máximo que alguém pode fazer é divulgar sua idéia dizendo ser uma idéia particular, uma opinião que ela acredita ser verdade, mas que não pode ser tomada ainda como "cientificamente comprovada" e que ela pode e deve ser analisada pelos demais companheiros que se interessarem.
 
De fato, uma coisa é o que a comunidade científica "pensa" ser o que é ciência. Outra coisa é o que ela realmente é ou deveria ser.

O ponto central é que é necessário que as idéias novas sejam publicadas junto com a explicação das mesmas ou com fatos que a suportem.

Se uma idéia é puramente espírita, isto é, pertence e está ligada apenas ao paradigma espírita a explicação da idéia proposta só depende dos conceitos pertencentes ao Espiritismo.

Portanto, explicações para Jesus, os espíritos, a reencarnação, a mediunidade só dependem do paradigma espírita e isso não está em conflito com o conceito de ciência.

Chibenni já demonstrou que do ponto de vista filosófico mais rigoroso, a Doutrina Espírita é uma Ciência legítima, com seu próprio paradigma e métodos. Os artigos do prof. Chibenni podem ser obtidos em: http://www.geocities.com/chibeni

Se a idéia é puramente ligada a física ou à química ou à biologia, as formas de se defender as novas idéias e pesquisas (ou investigações) só dependem de cada uma dessas ciências em separado.

Se uma idéia nova é o que a gente chama de interdisciplinar, então isso significa que ela está ligada a mais de uma ciência ao mesmo tempo. Por exemplo, o estudo da estrutura tridimensional do DNA envolve física, biologia e química. Então, nesses casos, as idéias e pesquisas novas devem ser explicadas e embasadas de acordo com os paradigmas atuais de todas as ciências envolvidas.

Por fim, o ponto onde quero chegar é que se uma idéia nova está ligada ao mesmo tempo, ao Espiritismo e a qualquer outra ciência básica, como a física, por exemplo, essa idéia nova deve ser explicada de acordo tanto com o Espiritismo quanto com a física. A idéia nova não pode satisfazer apenas aos critérios de uma das ciências envolvidas. Ela deve satisfazer os critérios e rigores das duas.

No Espiritismo estamos acostumados a passar todas as mensagens recebidas mediunicamente pelo crivo da razão, e quando não podemos fazer essa análise, devemos passar pelo crivo do consenso universal. Ou seja se um espírito desencarnado, não importa quem seja ou em nome de quem esteja escrevendo, transmitir uma mensagem sobre assunto novo, o correto é por de molho e esperar por outras mensagens de espíritos em outros lugares e por outros médiuns. Mas se um assunto novo é transmitido por um "espírito encarnado" por que não aplicar o mesmo cuidado?


Continua no próximo Boletim

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Universidade da Alma. Cidade Universitária do Espírito, Luiz Carlos D. Formiga & André Luiz B. Formiga

1. As Cidades Universitárias.


Em 1965, no Anuário Espírita, falando a respeito da Codificação Espírita, Yvonne Pereira diz que "essa obra é imortal como imortal é o Evangelho, uma vez que ambos são revelações divinas e porque sempre existirão cérebros e corações necessitados de renovação e esclarecimentos através deles. Por enquanto é, com efeito, a fonte Kardecista a única habilitada em assuntos de Espiritismo capaz de expandir renovações para o futuro, visto ser o alicerce de quanto existe a respeito, até agora".

Por intermédio da mediunidade de Yvonne pudemos ler a narrativa sobre a "Cidade Universitária" espiritual, onde ciclos novos de estudo e aprendizagem se franqueariam para espíritos em evolução, segundo seus desejos." (31)

Uma Cidade Universitária no Além!

Para nós que estamos professor universitário é um bom tema para reflexões. Pena que nossos recursos pessoais sejam tão escassos. No entanto, vamos tentar repassar algumas idéias, mesmo imperfeitas, das dificuldades que encontramos no ensino superior.

Yvonne Pereira afirma que "Allan Kardec é ainda o grande desconhecido, para os espíritas, dado que a minoria é que o conhece plenamente. Ele tratou de Ciência, de Filosofia e de Moral e tais matérias, de suma grandeza, não podem ser apenas lidas uma ou duas vezes, mas estudadas, continuamente, com método analítico, observação acurada, amor e perseverança, a fim de serem bem compreendidas e praticadas".

Na universidade ou na casa espírita as perguntas são importantes. Recordo-me da questão feita, num estudo da mocidade e que foi respondida por um jovem espírita: "se Jesus já ensinou as Leis de Deus, qual a utilidade do Espiritismo?" (4)

Uma outra dúvida, sobre as condições da vida após a morte, apresentada por um cardiologista nos chamou a atenção. Diversas pessoas já nos fizeram a mesma questão e outros nos confessaram que iriam deixar para ler o livro "Nosso Lar" depois que melhor estivessem inteirados dos postulados básicos da Doutrina Espírita.
Leewenhoek (1632-1723) descreveu, com auxílio de microscópios óticos, o mundo "invisível" dos micróbios: "Recebi em minha casa diversos cavalheiros, que estavam ansiosos por ver os micróbios do vinagre. Alguns deles ficaram tão enojados do espetáculo, que juraram nunca mais usar vinagre. Mas o que seria se se contasse a essa gente que existem mais germes na boca humana, vivendo na escuma junto aos dentes, do que homens em todo o reino?"

Algumas pessoas respondem da mesma forma (nunca mais usar vinagre) diante da realidade do espírito imortal. Admitem a sua existência, mas não querem pensar no "após a morte".

Se não é como o espírito André Luiz escreve, através do médium Francisco Cândido Xavier, como será? Diversos médiuns descrevem relatos parecidos e coincidentes. Como coincidentes e parecidos são os relatos das pessoas que tiveram a experiência autoscópica. Aparentemente morto o indivíduo chega ao hospital. Algum tempo depois seu coração recomeça a bater. Depois contam as histórias de suas mortes. É a experiência de morte iminente, onde há extraordinária percepção de visões, sons e acontecimentos que a pessoa tem, quando clinicamente morta, próxima ao retorno impossível.

E as materializações de espíritos?

Para onde foi e de onde veio Katie King (espírito) após despedir-se de Florence Cook (médium) nas memoráveis experiências de William Crookes?

Já me disseram que não gostariam que fosse como André Luiz relata, porque é muito palpável, material, muito semelhante ao nosso plano terráqueo. Um pesquisador, Nobel de Física, afirmou que "o mundo que observamos não é senão uma minúscula película na superfície da verdadeira realidade". A nossa ansiedade nos faz desafiar uma pessoa, que passou pela experiência autoscópica, a provar que a morte do corpo não mata a vida. Por outro lado os que passaram por ela não parecem interessados em fornecer tal prova a terceiros. Um psiquiatra que teve tal experiência fez uma síntese: "pessoas que tiveram experiência sabem. Os outros devem esperar" (13).

Usaremos algumas informações colhidas na "Mansão da Esperança", situada na Cidade Universitária espiritual. Antes, porém, vamos visitar outras universidades mais próximas de nossa materialidade (2, 7).

Na universidade, desde 1966, vivenciamos ensino-pesquisa-extensão (20).

O Brasil possui várias universidades. Algumas delas, na realidade, não passam de escolas massificadas de terceiro grau, onde professores dissociam ensino-pesquisa. A produção do conhecimento é cantada, em prosa e verso, mas na prática não se encontra quase nada. Como as pessoas, universidades também podem adoecer. Encontramos enfermidades adquiridas, quando as instituições são atacadas por governos patogênicos "por excelência". Pode-se adoecer também pelo ataque de pessoas anfibiontes, como aqueles microorganismos potencialmente patogênicos que fazem parte da "flora" humana normal; por motivos políticos diversos, a instituição fica com a resistência baixa e eles as atacam (5,6). Outros, com verdadeiro espírito universitário pesquisam novos antibióticos para combaterem infecções.

Do Sistema Especial de Reserva de Vagas, para estudantes egressos de escolas públicas nas instituições de educação superior, só mais adiante colheremos os frutos, mas certamente alunos serão penalizados pelo mau ensino que o colega recebeu no ensino médio.

No livro de Yvonne (31), pudemos perceber como deve ter sido o critério utilizado para admissão dos novos alunos naquela universidade. Diz o diretor aos calouros: " – Iniciais neste momento fase nova em vossa existência de Espíritos delituosos, meus caros amigos! Dentre tantos padecentes que convosco chegaram a esta Colônia, fostes os únicos a atingir condições indispensáveis às lutas do aprendizado espiritual que vos conferirá base sólida para aquisição de valores pessoais nos dias porvindouros".

Hoje há entre espíritas um interesse maior pela universidade. Os que são docentes estão procurando oferecer reflexões, mesmo modestas como essas.

Apesar das inúmeras iniciativas, o preconceito na academia ainda se manifesta quando nos revelamos espíritas. O brasileiro é preconceituoso. Há preconceito com o deficiente visual, com o negro, epilepsia, hanseníase, AIDS (13,21,32).

2. Vinte e Nove de Agosto.

Não é por acaso que, tenho em mãos a tese do doutorando Brasilio Marcondes Machado (27), apresentada no dia 29 de agosto e defendida no dia 26 de dezembro. Brasilio é semelhante ao cego de nascença, que curado por Jesus deu o seu testemunho, diante dos fariseus (16). Na tese, diversos pontos me chamaram a atenção. Um deles, de valor "estimativo", foi o dia de sua apresentação. Na pós-graduação, também defendemos tese de mestrado no mesmo dia, embora 52 anos depois. O vinte e nove de agosto se repete em 1979, quando defendemos na UFRJ a tese de doutoramento.

Os temas e os resultados são diferentes.

Brasilio traz uma "Contribuição ao estudo da Psychiatria (Espiritismo e Metapsychismo)", em 1922.

Outro ponto que nos chamou a atenção é a nota, na folha de rosto: "A Faculdade não approva nem reprova as opiniões exaradas nas theses pelos seus autores". Art. 95 do Regimento Interno da Faculdade de Medicina do Rio de janeiro".

Um terceiro ponto, encontrado antes das dedicatórias é "Uma Explicação", oferecida pelo doutorando.

"- Ao apresentar minha these para defesa perante a Faculdade, não cometti a ingenuidade de esperar fosse approvada, não obstante dispor o art. 95 do Regimento Interno vigente que a Faculdade não approva nem reprova as opiniões exaradas nellas pelos seus autores".

"Temia fosse rejeitada sob a allegação do que dispõe o art. 94: - os alumnos que concluírem o curso médico poderão defender these sobre assumpto à sua escolha dentre as matérias ensinadas no referido curso".

"Aconteceu, porém que essa allegação não poderia ser feita porque já havia sido defendida e approvada uma these contra o espiritismo".

"Assim, fui chamado à defesa do meu trabalho a 26 de dezembro, as 13:30 horas".

"Reprovado".

"Deste resultado julguem os que me lerem, pois não quero ser juiz em causa própria".

"Graças a Deus as fogueiras estão extinctas e os Torquemadas fora de moda"

"Le monde marche..."

"Vou esperar o um dia depois do outro para voltar à defesa desta mesma causa que, então, será a de todos nós, na sciencia ou fora dela".

Vinte e nove de agosto - um dia especial que nos marcou!

Não conhecemos o Dr. Machado, mas parece não haver dúvida de sua condição de médico e espírita verdadeiro (22).


3. Pessoas e Números Estimulantes.

Uma questão, ainda, não resolvida pelas universidades é a do tempo integral e dedicação exclusiva. Alguns professores preferem o horário parcial, para chegarem a um salário melhor na iniciativa privada, o que não conseguiriam com a dedicação exclusiva. Encontramos os que optaram pelo horário integral, mas não o cumprem. Isso cria um problema. É através do processo de socialização que ideais, valores e crenças passam a ser entendidas e visualizadas como referências importantes para o desenvolvimento da ciência e do saber (28,29).

A relação professor-aluno, na Cidade Universitária descrita pela médium Yvonne, é logo de início uma atitude de transparência. Narra um dos calouros: - "Participou-nos, em seguida, que sua primeira aula consistiria na apresentação de sua personalidade a nós outros, seus discípulos".

A atitude do instrutor não era de mera formalidade; apresentação de sua linha de pesquisa; listagem de seus trabalhos publicados em revistas de renome internacional "espiritual", mas na "apresentação de sua personalidade".

Continua narrando o aprendiz: - "Que necessário seria que o conhecêssemos intimamente, a fim de que seus exemplos nos estimulassem na senda espinhosa em que seríamos chamados a solver vultosos débitos, porquanto será sempre de boa pedagogia que o mentor apresente seus próprios exemplos aos alunos, a quem inicie, e também para que aprendêssemos a amá-lo, e nele confiar, tornando-nos seus amigos, considerando-o bastante digno de ser ouvido e acatado".

Esses calouros são espíritos que carregam grandes débitos e, portanto, iniciam a vida universitária com algumas dificuldades. Teriam eles liberdade total no campus universitário?

O primeiro dos direitos naturais é o de viver. Um dos princípios fundamentais da justiça é a liberdade. Determinadas ações, desenvolvidas por uma pessoa podem restringir a liberdade da outra. Este princípio não pode exigir a oferta incondicional da liberdade total a todos. Esta deve ser contida pela necessidade de proteger a do próximo. Um outro princípio é o da "diferença". Com base neste princípio, é que as desigualdades sociais e econômicas devem ser organizadas, da forma que tragam os maiores benefícios aos menos favorecidos e possam propiciar funções e posições acessíveis a todos, em condições de uma justa igualdade de oportunidades (13).

Mello (30) diz que "a igualdade", princípio jurídico-filosófico é base dos direitos humanos. Mas, não existe igualdade jurídica, quando há uma desigualdade de fato. A ação afirmativa visa corrigir a distorção. Desenvolvida nos EUA, é ação necessária para proteger aqueles que iniciam a sua "corrida" na sociedade em condições desvantajosas.

Faz-se necessária uma ação afirmativa (descriminação positiva), no ensino superior, protegendo aqueles universitários que demonstram maior potencial para o ensino superior, para a produção do conhecimento. No entanto, estes alunos podem iniciar sua "corrida", em condições desvantajosas, numa universidade eventualmente agredida por um governo inábil ou populista. A discriminação positiva poderá oferecer melhores resultados, se os responsáveis pela educação superior perceberem que esses alunos diferenciados (o que a universidade tem de melhor), não pertencem a uma classe social, mas também oferecerem, em contra-partida, as condições reais para sua formação. Muitos destes alunos e professores, mesmo na adversidade, conseguem produzir conhecimento, aceito pelos pares em revistas de impacto. O que eles não fariam se as condições fossem outras?

Imaginem a produção de um professor universitário, que viesse de um país desenvolvido para trabalhar numa universidade brasileira? Sua condição - ser "resiliente".
Recentemente a UFRJ divulgou os resultados com um novo curso de graduação, voltado para a pesquisa e o ensino. No final, 17 alunos, "resilientes", haviam apresentado 153 comunicações; 14 delas em Congressos Internacionais; 13 alunos assinavam trabalhos publicados em revistas internacionais. No ano seguinte, encontramos 18 aprovações em concursos públicos para a pós-graduação (2,24).

Em 1980, divulgamos os resultados do acompanhamento de 255 biomédicos formados pela Faculdade de Ciências Médicas da UERJ. Olhando as turmas, de 1968 a 1978 encontramos números estimulantes e motivos para uma ampla discussão sobre ensino-pesquisa. Professores universitários eram = 80; Mestres ou mestrandos = 103; doutorandos = 6; doutores = 8, em apenas 11 anos (7,8,10,11).


4. Para Sobreviver.

Em 1994, comentamos a necessidade dos governos estarem alertas com relação às doenças transmissíveis (6). Posteriormente, ressaltamos a importância da vacinação (26), contra as doenças microbianas. Quando os governos não realizam ações preventivas, os surtos epidêmicos reaparecem ocasionando perdas e danos. Com relação à universidade de qualidade podemos encontrar a iatrogenia "da omissão" e "intromissão". As universidades e seus docentes-pesquisadores adoecem.

A professora, Fátima Araújo de Carvalho (3), que realizou seus estudos de pós-graduação estudando um tema "em alta", nos diz que "a resiliência é caracterizada por um conjunto de atitudes adotadas pelo ser humano para resistir aos embates da vida. O ser resiliente não foge das opressões e consegue neutralizar seus efeitos, sem que necessariamente as mesmas sejam afastadas ou diminuídas".

A professora, Fátima, de São José dos Campos, nos remete ao texto de Heloisa Helvécia - "Resiliência em Alta".

Heloisa, na Folha de São Paulo, destaca o termo deslocado da Física: "este conceito nomeia a propriedade de alguns materiais de acumular energia, quando exigidos e estressados, a voltar ao seu estado original sem qualquer deformação".

A articulista da Folha diz que "essa característica vem contando pontos como competência humana". Seria a mesma "habilidade do elástico, ou da vara do salto em altura – aquela que enverga no limite máximo sem quebrar, volta com tudo e lança o atleta para o alto".

Procurando elucidar o tema, Fátima enviou carta para a seção do leitor, com o seguinte comentário: no texto "Resiliência: um conceito em alta" há falha em fazer a simples transposição do conceito de resiliência da Física para a psicologia. Na Física, a resiliência, refere-se à propriedade que os corpos têm de voltar à sua forma original sem deformação. Aplicada aos seres humanos, é a capacidade do indivíduo de superar situações de risco e voltar transformado, crescendo com a experiência. Assim, diz-se, que um indivíduo é resiliente quando consegue superar as adversidades, encontrando forças para aprender com elas. É preciso tomar cuidado, para que não façamos como nos EUA, atribuindo a tudo o conceito de resiliência, de meias de seda a comida para cachorro, só para usar um conceito "da moda".

Não duvidamos da existência de pessoas com alto índice de resistência à frustração, no entanto as agressões podem ocorrer até em pessoas (universidades) "vacinadas" (26). São muitos os que solicitam aposentadoria após acontecimentos angustiantes. Por esse motivo, é necessário ressaltar a importância da angústia na determinação de doenças orgânicas. O estresse pode ser causado por qualquer tipo de situação, que exija uma fase de adaptação orgânica e/ou emocional, com gasto de energia superior àquele a que o organismo está acostumado. O estresse pode ser físico, psíquico ou misto. Um exemplo é internação hospitalar, que induz a estados emocionais intensos. Há momentos, em que encontramos a universidade na porta da UTI.

Os fisiologistas demonstraram que, nos estados de estresses, há liberação de determinadas substâncias de grande importância durante a "síndrome geral de adaptação", mas que, em longo prazo, têm certo efeito destruidor sobre tecidos, inibindo o crescimento somático e a formação óssea.

Em pessoas estressadas é comum o relato da perda do sono. Períodos curtos de sono ou insônias causam déficit na capacidade de síntese molecular do cérebro, tão necessária à estruturação da memória. Os estressados, podem apresentar um número variado de distúrbios como infarto do miocárdio, úlceras pépticas, doenças circulatórias e outras.

Pode-se fazer uma ligeira comparação, com os princípios relacionados com os "estados excitados", amplamente utilizados no estudo dos fenômenos atômicos e moleculares, na física quântica. No estresse, o organismo se mantém fora do seu "estado fundamental, estando em níveis mais altos". Mesmo, numa vida sem grandes novidades não é possível a manutenção constante deste estado fundamental.

O organismo está realmente oscilando o tempo todo em torno desde estado, sendo até possível que o envelhecimento e o tempo de vida estejam relacionados com a intensidade dessa oscilação. Isto exige um processo, quase contínuo, de adaptação às condições oferecidas pelo meio, aquilo que o afasta do seu estado fundamental a todo instante. Surge o paradoxo: para sobreviver, os seres vivos encurtam o seu tempo de vida, envelhecendo (13,14).

5. Pires na Mão.

Professor "caixeiro viajante" é um poli-traumatizado que despencou da ponte entre a pesquisa e o ensino. Muitos ainda não caíram dela, mas é bom lembrar que as exigências são grandes (9) e a resiliência é muito mais freqüente do que se pensa. Hoje há um impasse para todo docente-pesquisador que é a subdivisão de seu tempo em cursos de graduação, pós-graduação, orientação de teses, funções administrativas e/ou executivas, reuniões, contatos, viagens, atividade clínica, atividades diversas, e ainda em conseguir que financiamentos para pesquisa lhes sejam concedidos uma vez que até as lâmpadas do laboratório hoje são compradas desta forma. Nessa correria pelos corredores das financiadoras de projetos, “com o pires na mão”, é que vamos encontrar a origem da visão distorcida de que ensinar e pesquisar são atividades que concorrem entre si. Na Universidade o professor vai se deparar com o binômio, que é questionado apenas quando nos sentimos incapazes de bem realizar “o momento” de uma ou outra atividade. Outros, sob pressões diversas, passam a acreditar que o aluno de graduação é anexo incômodo, que apenas rouba o tempo de pesquisa do professor (8). Mas a função da universidade exige a produção do saber, ou seja, a superação de um saber anterior, na negação de um saber passado para a construção do novo. Neste momento é que surge, latente, a indissociabilidade do ensino e da pesquisa. A pesquisa científica é que move esse processo de superação.

Hoje ainda escutamos as palavras do diretor da Royal Gramar School de Shrewsbury ao jovem que fazia experimentos químicos por sua conta: “Darwin, você está perdendo tempo com coisas inúteis. Cuida da gramática grega e da literatura latina. Elas são as marcas infalíveis de um cavalheiro inglês”.

Darwin, hoje, anda sem prestígio no ensino religioso no Rio de Janeiro. A questão do ensino, em qualquer nível, tradicional ou novo, é como a questão da pesquisa: deve ser vista como um problema conjuntural (9).

6. Umbigo na Bancada

Encontramos também o imobilismo dos professores que adquiriram a estabilidade e estão definitivamente agregados à universidade. A Instituição não encontra uma forma de estimulá-los ou mesmo não consegue oferecer condições mínimas de trabalho. Quando a universidade atinge desenvolvimento adequado ela começa a exigir um bom doutoramento dos candidatos quando existem concursos. "Bom doutoramento" não significa apenas trabalhos publicados no exterior, mas é quando percebemos que o "recém-doutor" deixa de "pegar carona" e demonstra capacidade de dirigir uma linha de pesquisa própria. Afinal, a influência da pesquisa na renovação do ensino não se realiza apenas pela atividade estrita de pesquisa de cada professor, mas também pela comunicação da pesquisa, pelo clima de indagação e efervescência intelectual que ela deve gerar.

A universidade deve trilhar o caminho da pós-graduação (11) e certamente necessita fugir do isolamento trazendo professores visitantes, que não precisam ser todos do exterior. O ethos da ciência é um conjunto de crenças acerca do próprio papel do cientista. A internalização de valores e crenças se dá ao longo do processo de socialização. A integração entre o ensino e a pesquisa está vinculada a experiências que são transmitidas por nossos antecessores, as quais, na forma de um fundo comum de alternativas possíveis funcionam como um código de referência ou orientação. Uma prática que tomou conta da maioria das instituições brasileiras, incluindo a universidade, é a burocratização. Contra ela será necessário lutar, pois reduz o tempo do professor universitário, tempo que poderia ser utilizado encostando o "umbigo na bancada", junto a seus alunos. Nos países em desenvolvimento a socialização para a pesquisa ocorre tardiamente, isto porque a ciência não é um valor nesta sociedade, o cientista não goza do prestígio social que lhe é conferido nos países onde o desenvolvimento da pesquisa científica é parte fundamental do projeto global da sociedade (28,29).

Não estamos querendo justificar a pobreza de nossas publicações (23) quando lembramos os diversos conflitos que tivemos por melhores condições de pesquisa-ensino, o que na realidade se encontra na lei. Possuirmos alguns artigos publicados em revistas extranacionais, mas isso não impede a autocrítica, através de diversos instrumentos, incluindo seus índices de impacto. No entanto, a autocrítica não estimula nossa frustração, porque talvez em outras condições tudo fosse diferente. O depoimento do campeão olímpico brasileiro é tranqüilizador: "nas condições oferecidas aos atletas no Brasil, só o fato de competir já os torna campeões". O docente-pesquisador brasileiro também se depara, na olimpíada laboratorial, com atletas de paises desenvolvidos, que não estão "de pires na mão". Governos devem estimular as ilhas de competência, porque a colonização intelectual é tão cruel como a econômica (9).

7. Imaturos e Semiletrados

A interação social de forma ampla na aldeia global parece apontar para os departamentos estanques como espécies em extinção. Mas como transitar nos caminhos da transdisciplinaridade que é transcultural? A ética transdisciplinar recusa toda atitude que não aceita o diálogo, a discussão, seja qual for a sua origem (18).

Um outro problema é a onda populista, a localização e a dimensão da universidade. Ela pode ficar numa ilha cercada de violência por todos os lados, os governos fazendo pressão para que se aumente o número de vagas, cursos noturnos apontados como alternativa viável e o oferecimento de adicionais por aula dada. Se durante o dia, já nos sentimos inseguros imagine como será à noite com as balas perdidas! Mas, a este se soma outro problema. A nova dimensão certamente afetará a qualidade. Ofereceremos cursos de valor cultural duvidoso? Os alunos sairão imaturos e semiletrados, sem o mínimo de reflexão?

Vamos começar a diplomar os que são capazes de repetir o que já se sabe, reproduzindo de forma estéril os mesmos processos ou métodos que outros produziram ou descreveram. Alguém já lecionou como se fundam e se preservam as universidades. Precisamos de cérebros, depois de cérebros e depois ainda de cérebros em tempo integral e dedicação exclusiva (15). Atividades de pesquisa desenvolvidas por professores não são percebidas por eles apenas como o cumprimento de um preceito de lei, mas como uma prática que pode ser melhor compreendida como a expressão de um ethos e de visão de mundo, internalizadas através de símbolos e processos socializadores, cuja base principal, na grande maioria dos casos, foi a relação tutorial professor-aluno (28,29).

8. Salto de Qualidade

Uma instituição tão importante ainda poderá sofrer o problema do corporativismo interno e aí é bom pensar nas alternativas: lista tríplice elaborada pelo Conselho Universitário para a escolha do Reitor; sufrágio universal ou Comissão constituída por intelectuais externos à universidade.

Imagine-se numa universidade espírita. Aí teremos forçosamente que encontrar Espiritualidade, Transparência e Consciência. Quando desenvolvemos o intelecto somos capazes de saber se uma ação é boa ou má, mas a escolha do caminho a tomar depende do desenvolvimento de outro domínio. Domínio cognitivo e domínio da inteligência ética-emocional são duas asas simbólicas já bem conhecidas. Nossos candidatos deverão demonstrar respeito pela autoridade, pela manutenção da ordem social, pelos direitos individuais. Deverão ser guiados por princípios éticos, como justiça, reciprocidade, igualdade e respeito pela dignidade do ser humano (17,19).
Essas são condições necessárias que aliadas a outras geralmente são apontadas pela "Comissão de Notáveis".

O professor Carneiro (1) começa seu artigo com uma frase de Bukharin (1888-1937): "sustento que nenhuma pessoa que pense e seja culta, pode manter-se alheia à política". Carneiro afirma que "acirra-se o preconceito e a discriminação contra o nordestino, agora formalizada contra o médico graduado por universidade do nordeste. A reserva de cotas de vagas para Residência Médica para nordestinos, nas universidades, da região leste e sul do Brasil. A proposta foi divulgada pela atual Secretaria Executiva da Comissão de Residência Médica do Ministério da Educação (MEC)". Carneiro comenta que "médicos nordestinos não precisam de privilégios, nem de esmolas, mas de eqüidade e justiça, já que as discriminações subliminares e, às vezes explícitas, persistem em nossa sociedade do século XXI".

Pelo andar da carruagem, será que chegaremos a discutir um sistema de cotas para os adeptos da Doutrina Espírita? Enfermidades adquiridas pela universidade foi um breve esboço, resta discutir as doenças congênitas, aquelas detectáveis no período de gestação..

Mas e agora que nos deparamos com diversos problemas que uma "cidade universitária" pode ter aqui na Terra, qual é o papel do espírita quando presente nela? Deve ele se preocupar com o Espiritismo no seu ambiente universitário, ou serão antagônicas a universidade e a Doutrina dos Espíritos e, por isso, seja melhor escolher a neutralidade?

O espírito científico, entenda-se espírito como ânimo ou índole, é uma capacidade inerente ao ser humano, ele jaz, latente, e pode ser educado, potencializado de diversas formas e é comum a todas as ciências, desde as exatas até às sociais. Uma das suas principais características é provocar no homem uma inexorável vontade de entender as coisas. A busca do conhecimento não é uma meta, mas uma prioridade, uma condição a ser superada (33).

O leitor atento poderá perceber que a Introdução de O Livro dos Espíritos narra um trabalho de classificação feito por Kardec, na tentativa de entender os fatos, que culminou no surgimento daquilo que chamamos de Doutrina Espírita ou Espiritismo.

A preocupação de codificador e o seu espírito científico podem ser observados nas seguintes sentenças (34): "Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande, só pode ser feito com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado. Não sabemos como dar esses qualificativos aos que julgam a priori, levianamente, sem tudo ter visto; que não imprimem a seus estudos a continuidade, a regularidade e o recolhimento indispensáveis. (...) O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá".

Percebe-se que Kardec não falava somente da Doutrina Espírita mas de toda e qualquer doutrina e, como tal, sua codificação deveria seguir os critérios desenvolvidos e discutidos ao longo da História da Ciência. O estudo aprofundado das obras escritas pelo codificador (que contêm todos os seus verdadeiros princípios) mostra que como tal ela surgiu da observação metódica e criteriosa de fatos, o que a torna de bases científicas. O levantamento de hipóteses para a explicação destes fatos (movimentos de objetos e comunicação com supostos “mortos”) foi feito de forma sistemática e lógica, o que a torna de desenvolvimento filosófico no âmbito das idéias. Esses dois aspectos da Doutrina já servem de base para justificar que o ambiente universitário é extremamente propício à difusão das idéias espíritas.

Por fim, e como objetivo maior, as implicações acarretadas da inferência dos postulados da nova Doutrina exigem (no sentido de ser inegável) uma transformação moral de todo indivíduo que a aceite como verdade, por isso ela é tida como tendo finalidade religiosa. Além deste último fato, quem examina a obra de Kardec verifica logicamente que os ensinamentos de Jesus apresentam total analogia com os da Doutrina. Como a figura do Cristo foi vinculada ao conceito de religião desde o início dos tempos, fica claro que o aspecto religioso seja uma das faces do Espiritismo.

Mas como classificar a Doutrina? É ela uma ciência, uma filosofia ou uma religião? Você, leitor, em qual prateleira colocaria os livros espíritas? Há muita controvérsia acerca da natureza (ou classificação) que se pode dar da Doutrina, já na época de Kardec a confusão estava estabelecida e o próprio sentiu a necessidade de manifestar-se e esclarecer o que é o Espiritismo, na Revista Espírita.

O tríplice aspecto da Doutrina estava claro para o jovem na mocidade espírita (4). Ele funciona como um tripé. A máxima sustentação do objeto só pode ser alcançada se os pés tiverem o mesmo tamanho e sejam capazes de sustentar a mesma massa. A simetria deve ser máxima, o triângulo formado pelos pés no solo deve ser equilátero, ou seja, lados iguais, ângulos iguais e o centro de massa deve estar perfeitamente direcionado para o baricentro deste triângulo. Caso contrário, um dos pés pode ceder e o objeto cai por terra. O Espiritismo necessita das três sustentações, todas com a mesma importância, se uma delas fracassar ele cai por Terra. Talvez por isso Dr. Bezerra de Menezes tenha se esforçado tanto na unificação do movimento espírita no Brasil do início do século XIX.

O Espiritismo é ao mesmo tempo todas as três e não é nenhuma em separado. O Espiritismo é uma coisa nova. Da citação anterior ressaltaremos que esta Doutrina nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande que Kardec preocupou-se em criar um neologismo, inventar uma palavra que não existia para designá-la, Espiritismo (Espiritisme, no original francês). O que fazer, então, na universidade? Devemos privilegiar um ou outro aspecto da Doutrina?

Os jovens precisam conhecer uma ordem de idéias que leve a um comportamento ético perante a vida (36). Esse é o objetivo da fé raciocinada, ou seja, quando o indivíduo compreende o verdadeiro valor da vida passa a ter uma atitude mais séria perante ela, amadurece. Essa compreensão pode vir através do estudo do Espiritismo e nesse ponto, a educação espírita tem um papel fundamental.

O Espiritismo na universidade não é idéia nova. O registro mais antigo que temos conhecimento é que o Primeiro Seminário de Estudos Espíritas da Universidade Estadual de Londrina, Paraná, Brasil, ocorreu em 23 de maio de 1984. Nestes vinte anos, o Núcleo Espírita Universitário de Londrina vem desenvolvendo excelentes atividades (37). A iniciativa paranaense parece ter estimulado grupos de outros locais do país e em 1992 foi criado o Núcleo Espírita Universitário do Fundão. Levou esta denominação porque estava situado na Ilha do Fundão, local da maioria dos edifícios da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esse grupo foi um foco de divulgação da idéia espírita na universidade. Em pouco tempo, estávamos trabalhando em conjunto com o NEU Fundão e dessa união percebemos que era necessário criar o Núcleo Espírita Universitário do Rio de Janeiro (NEU-RJ), onde diversas equipes de universidades do Estado estariam trabalhando em conjunto. Com o auxílio da Internet, a chama se espalhou e em dois anos, foram criados Núcleos Espíritas Universitários em outras universidades, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Universitária Augusto Motta (SUAM), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade do Rio de Janeiro (UNI-RIO). A partir deste trabalho, outro grupo se formou na Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais.

Mas qual é a importância de um núcleo espírita na universidade?

Para a comunidade do NEU-RJ, sua importância é abrir "mais um espaço de sensibilização individual e coletiva para questões complexas como violência, pobreza, exclusão social, corrupção, entre outros. Também tem como objetivo desenvolver a espiritualidade do ser, a sua inteligência cognitiva, afetiva e principalmente emocional-moral. Procuramos contribuir no desenvolvimento da fé, da esperança e da caridade" (38). O exemplo continua sendo a melhor forma de divulgar o Espiritismo.

Já que o Espiritismo é uma doutrina de bases científicas, desenvolvimento filosófico e conseqüências morais, por que não ter um espaço aberto para estudo desta na universidade. Por que não divulgá-la entre aqueles que procuram uma formação profissional? Não se trata de uma tentativa de elitizar a Doutrina, mas de abrir mais um espaço de divulgação, especialmente porque se direciona para uma Instituição onde, na maioria das vezes, o materialismo prevalece. Já podemos perceber diversas iniciativas da comunidade acadêmica para moralizar as atividades universitárias, por que não contribuirmos para a concretização desses esforços?

A compreensão dos postulados espíritas auxilia na formação do profissional, pois acima de tudo contribui para a formação da consciência-cidadã, para o bem coletivo. No momento em que isso estiver acontecendo, e já está, a universidade estará contribuindo para a causa espírita e, acima de tudo, o Espiritismo estará contribuindo com a causa da universidade. Se a mensagem espírita for lançada no ambiente universitário, mais uma contribuição da Doutrina estará sendo feita para modificar as bases da sociedade. Esse trabalho sinérgico é a proposta do Núcleo Espírita Universitário do Rio de Janeiro.

Se a Doutrina Espírita chegasse à universidade, iluminaria consciências e o panorama seria outro.

Chegar à universidade! Aí está o nó da questão! ”(13)

Com certeza, a citação anterior encontra analogia nas palavras de Kardec: “Quando as crenças espíritas se houverem vulgarizado, quando estiverem aceitas pelas massas humanas (e, a julgar pela rapidez com que se propagam, esse tempo não vem longe), com elas se dará o que tem acontecido a todas as idéias novas que hão encontrado oposição: os sábios se renderão à evidência. Lá chegarão, individualmente, pela força das coisas” (35).

Retornemos a "Mansão da Esperança", lá na "Cidade Universitária" espiritual:

"Outros cursos fazíamos, não menos importantes para a nossa reeducação, alternadamente com o da Moral estatuída pelo insigne Mestre Nazareno. Um deles prendia-se à Ciência Universal, cujos rudimentos nos deram, então, a conhecer – dois anos depois de iniciados no curso de Moral Cristã – através de estudos profundos. Análises tão penosas quão sublimes! E nestas mesmas análises entrava a necessidade de estudarmos a nós próprios, aprendendo a nos conhecermos intimamente!"

O Espírito fez destaque: - "Ninguém entrará no reino de Deus se não nascer de novo". Nascer de novo é tão difícil de explicar, quanto conciliar a bondade de Deus e o nascimento de crianças cegas (16,25).

Referências Bibliográficas

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2. Duarte, RS; Alviano, DS; Alviano, CS & Formiga, LCD. 1998. Graduação em Microbiologia e Imunologia e Primeira Turma do Brasil. Boletim da Sociedade Brasileira de Microbiologia, 22: 4-6.

3. Fatima Araujo de Carvalho. São José dos Campos, SP.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u819.shtml

4. Formiga, ALB. 1998. Se Jesus já ensinou as Leis de Deus, qual a utilidade do Espiritismo? Rev. Anima, Mocidade Espírita Gabriel Delanne, CEHA, RJ. RJ.

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/espiritismo-para-que.html

5. Formiga, LB. & Formiga, LCD. 1993. Infecções por C. diphtheriae em pacientes imunodeprimidos. Bol. Inform. Unid. Imunodep. / Hosp. Aeronáutica dos Afonsos. M.A., 3: 2.


6. Formiga, LB & Formiga, LCD. 1994. Difteria Iatrogenia da Omissão.Pediatria Atual, 7(8): 27-31.


7. Formiga, LCD, Pessôa, MHR, Villela, LH. & Queiroz, MLP. 1980. A Universidade do Estado do Rio de Janeiro e a Formação de Recursos Humanos para a Área de Saúde - Curso de Ciências Biológicas - Modalidade Médica. Monografia prêmio UFRJ-FUNARTE - 80 Rio de Janeiro, RJ.


8. Formiga, LCD. 1982. Ensino Biomédico. Rev. MEDICINA (HUPE) UERJ, 1(3):275-281.


9. Formiga, LCD. 1984. Com o Pires na mão. Jornal do Professor, J.B. RJ, RJ, Agosto, pág. 4.


10.Formiga, LCD, Queiroz, MLP. & Pessôa, MHR. 1986. Curso de Ciências Biológicas – Biomedicina – na UERJ. 1968-1978. Rev. MEDICINA (HUPE). UERJ, 3(2):159-170.


11. Formiga, LCD, Queiroz, MLP, Pessôa, MHR. & Villela, LHC. 1986. Pós-Graduação na área biomédica. Rev. MEDICINA (HUPE). UERJ, 5(1):77-84.


12. Formiga, LCD. 1994. Salto de Qualidade. Boletim da Faculdade de Ciências Médicas, 24: 2.


13. Formiga, L.C.D. 1996. "Dores, Valores, Tabus e Preconceitos". CELD Editora, RJ.RJ.


14. Formiga, LCD. 1996. O que espero de meus médicos. Idéias para uma "Declaração de Direitos do Paciente Terminal". Rev. Enfermagem.UERJ, RJ, 4(1): 89-102.


15. Formiga, LCD. 1998. Ensino, Pesquisa e Ética na Microbiologia Médica. Boletim da Sociedade Brasileira de Microbiologia, 21(jul): 3-4.


16. Formiga, LCD. 2000. As Ciências Biomédicas, os Doutores, o Espiritismo e os Cegos de Nascença.

Revista Internacional de Espiritismo, maio.
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/as-ciencias-biometicas.html

17. Formiga, LCD. 2000. Educação, Universidade e Espiritualidade. Tendências do Trabalho, 309: 2-3.


18. Formiga, LCD. 2000. Ética, Sociedade e Terceiro Milênio. Tendências do Trabalho, 312: 8-10.


19. Formiga, LCD. 2000. Espiritualidade, Transparência e Consciência. Tendências do Trabalho, 313: 10-16.

20. Formiga, LCD & Guaraldi, ALM. 2001. Difteria - Profissionais susceptíveis, diagnóstico, vacinação e reparação de danos. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, 37 (4): 288-289.


21. Formiga, LCD. 2002. O Poder das Palavras, no Princípio era o Verbo. http://www.saci.org.br/ (25 de setembro).


22. Formiga, LCD. 2002. Médicos e Espíritas Verdadeiros. Revista Fraternidade, Lisboa, Pt., 464: 3-8.


23. Formiga, LCD. 2003. Diferente. Do leproestigma ao clone estigmatizado. Enfoque microbiológico. Revista Fraternidade, Lisboa, Pt, 476 (fev): 50-57; 477 (mar): 82-88.


24. Formiga, LCD. Ciência com Amor. Revista Fraternidade, Lisboa, Pt, 422 (agosto/setembro).: 227-229.


25. Formiga, LCD. Evidências científicas sugestivas de reencarnação.

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/reencarnacao.html

26. Guaraldi, ALM; Formiga, LCD; Marques, EA, Pimenta, FP, Camello, TCF & Oliveira, EF. 2001. Diphtheria in a vaccinated adult in Rio de Janeiro, Brazil. Brazilian J. Microbiol., 32: 236-237.


27. Machado, BM. 1922. "Contribuição ao estudo da Psychiatria (Espiritismo e Metapsychismo)". Tese. Faculdade de Medicina do Rio de janeiro. RJ.RJ.


28. Marques, EA, Formiga, LCD, Franco, MAC. & Carneiro, SMCS. 1985. A indissolubilidade do ensino e da pesquisa - uma questão de visão do mundo ou de preceito legal? Relatório de pesquisas. Programa de Avaliação da Reforma Universitária. NEPES-UERJ/CAPES. 200 p.


29. Marques, EA, Formiga, LCD, Franco, MAG & Carneiro, SMC. 1989. Ensino e Pesquisa na Universidade: Questão de Lei ou de Visão do Mundo? Cadernos de Pesquisas (FGV), São Paulo, 69:5-16.

Ensenanza e investigacion en la universidad. Foro Universitário (Univ. Autonoma México), 94 (XIV): 07-20, 1991.

30. Mello, CA. 2001. "in" Gomes, JBB. Ação Afirmativa & Principio Constitucional da Igualdade. O Direito Como Instrumento de Transformação Social. A Experiência dos EUA. Renovar. RJ-SP.


31. Pereira, Y.A. Memórias de um Suicida. (Obra Mediúnica). 568 p. Quinta Edição. FEB.


32. Rosa, A.T.; Formiga, L.C.D. & Freitas, R.F. 1994. A Hanseníase, a Lepra e a Comunicação Dirigida. Escola de Enfermagem Anna Néry & Instituto de Microbiologia, UFRJ. Apresentado no XVII Encontro Nacional dos Estudantes de Enfermagem, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza. Monografia. 43 p.


33. Bachelard, G.; A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.


34. Kardec, A. O Livro dos Espíritos, 70 ed., Rio de Janeiro: F.E.B., 1989. Introdução, item VIII.


35. Kardec, A. O Livro dos Espíritos, 70 ed., Rio de Janeiro: F.E.B., 1989. Introdução, item VII.


36. Formiga, L. C. D. "Deixe Claro para seu Filho". Revista FRATERNIDADE, (Lisboa.Pt), 465: 82-86, março. 2002.


37.
http://www.inbrapenet.com.br/neu

38. Nota Explicativa do NEU-RJ incluída no artigo "O Retrato de Bezerra e a Aristocracia intelecto-Moral (Ética e Terceiro milênio)". Rev. Intern. Espiritismo., LXXVI (4): 181-182, 2001.


Nota.
Diversos artigos, das referências bibliográficas, podem ser encontrados nos endereços eletrônicos:
1. http://www.espirito.org.br/index.asp
2. http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/index.htm
3. http://www.cefamiami.com/
4. http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/
5. http://www.ieja.org/portugues/p_index.htm
6. http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/LIHPE/historia01.html

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História & Pesquisa


(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas")

Os Grandes Vultos da Doutrina: Pierre Gaetan Leymarie, Paulo Toledo Machado, Brasil

Pierre-Gaetan Leymarie
12 de Maio de 1827 - 10 de Abril de 1901


LEYMARIE reencarnou em Tulle, França, em 2 de Maio de 1827, e desencarnou, em Paris, em 10 de Abril de 1901.

Leymarie foi, juntamente com Camille Flammarion e Victorien Sardou, um dos mais ardentes discípulos de Kardec e se tornou uma das mais relevantes figuras do Espiritismo.

Leymarie foi Diretor da "Revue Spirite", de Páris, de 1870 a 1901, e gerente da "Librairie Spirite" (*), de 1870 a 1897.

Descendia de distinta família. Cedo, porém, para não sobrecarregar as despesas, já numerosas, da família, interrompeu seus estudos e procurou uma colocação em Paris, contando com seu próprio trabalho e seus esforços.

Apaixonado por todas as idéias generosas, fez-se ar­dente republicano, e foi, à época do golpe de Estado de 1851, arrolado entre os adversários irredutíveis do Cesarismo e constrangido ao exílio.

Ele teve, porém, nesse exílio, a sorte em contatar-se com a elite do partido proscrito, o que, de certa for­ma, contribuiu para desenvolver seu espírito de combatividade e ao mesmo tempo o de proselitismo.

Proclamada a anistia, retornou à França, casou-se e assumiu a direção de uma casa comercial, até 1871. E uma autoridade, referindo-se a ele, disse que, se seus negócios não alcançaram prosperidade, sua probida­de foi escrupulosa e que nenhuma reprovação jamais lhe foi feita.

Ele tinha paixão dos livros, e, quer eles tratassem de questões políticas, sociais, científicas, religiosas ou li­terárias, todos aqueles que lhe caíssem às mãos, ele os lia e se esforçava em assimilá-los.

Os fenômenos espíritas e a doutrina

Espiritista, não poderiam encontrá-lo indiferente. Foi um dos primeiros a se interessar, vivamente, por essas inquietantes questões; e, quando Allan Kardec come­çou a publicação da "Revue Spirite" e de suas obras, e quando inicia as suas sessões de estudos e de experi­mentações, ele não tardou em contar com Leymarie no número de seus mais ardentes discípulos.

Sob a direção do Mestre os médiuns se desenvolvem e, em dada ocasião, da qual a história do Espiritismo registrará e conservará fielmente a lembrança, três jovens, ainda obscuros e desconhecidos, três médiuns sentados à mesma mesa e voltados -fato estranho e novo que dera causa a zombarias - para essas experiências, contudo tão antigas, da telegrafia misteriosa entre dois mundos, o mundo dos Espíritos e o nosso. Estes três experimentadores, cujos destinos seriam diversos, mas iguais no devotamento, na fidelidade e nos serviços prestados à Doutrinas, eram Camille Plammarion, Victorien Sardou e Pierre-Gaetan Leymarie.

Antes de desencarnar, Allan Kardec, para assegurar o desenvolvimento regular e continuo do Espiritismo havia fundado uma sociedade anônima e de capital variável à qual destinou os seus bens; Monsieur Leymarie tornou-se um dos primeiros membros, e dois anos após a morte do Mestre, foi nomeado adminis­trador ao mesmo tempo em que passou a redator-chefe e diretor da "Revue Spirite".

Durante trinta anos, o que quer dizer durante o longo e difícil período em que o Espiritismo foi quase conti­nuamente alvo de todas zombarias, e de todos ataques, Leymarie esteve presente, batalhando sem cessar atra­vés da palavra e da pena, oferecendo na "Revue" um terreno livre aos batalhadores de todas as nuanças, para que defendessem uma causa espiritualista ou de ordem essencialmente humanitária e moral, expondo-se, as­sim, às críticas acirradas de uns, às reprovações ou ao descontentamento de outros. Todavia, Leymarie, ja­mais perdeu de vista a divisa do mestre: "Hors la charité pas de salut" (Fora da caridade não ha salvação), e ba­niu de todas as discussões as ofensas pessoais e todas as questões irritantes.

No começo, Leymarie considera que, para a difusão desta luz que é o Espiritismo, é necessário preparar os espíritas, instruí-los e esclarecê-los.

E quando seu amigo, Jean Macé, expõe o projeto de fundar a liga de ensino, Leymarie se oferece, com entusiasmo, secundá-lo, e, com Mme. Marina Duclos Leymarie, sua devotada esposa, companheira e colaboradora, contribui, para essa criação, não somente com o seu concurso ativo e pessoal mas também com a sua casa da rua Vivienne, de sorte que se pode, justamente, dizer que a casa de Monsieur Leymarie foi o berço da "Liga de Ensino", da qual o espírita Emmanuel Vauchez seria, no fu­turo, o Secretário Geral.

As questões de ensino se sucedem, nas preocupações de Leymarie, às questões sociais.

Assim, nas páginas da "Revue", como nas numerosas e eloqüentes conferências, ele se aplica em revelar a existência e o funcionamento deste estabelecimento, conhecido no estrangeiro, mas quase ignorado em França - le Familistére de Guise, no qual são pratica­dos, por seu ilustre fundador, J. B. Godin, de uma maneira feliz e larga, os princípios da associação do Capi­tal e do Trabalho. Leymarie se associa com o Sr. Godin, e, enquanto lhe propaga os escritos, não negligencia os interesses propriamente ditos da doutrina.

Divulga as experiências de William Crookes e assina­la os primeiros ensaios da fotografia espírita. Ele mes­mo faz experiências com um médium-fotógrafo e obtém uma série de manifestações reais as quais pública na "Revue". Mas chega um momento em que foi iludido na sua boa-fé.

O fotógrafo Édouard Buguet, fazendo uso de meios fraudulentos na obtenção de fotografias de Espíritos, é processado pelo Ministério Público.

Os inimigos do Espiritismo, à espreita de tudo que pudesse entravar o movimento ascendente da Dou­trina, aproveitam-se, com empenho, da ocasião de um processo, para dar, ao Espiritismo, um grande golpe e acabá-l com a possante arma do ridículo. E de fato, foi menos um processo contra as fotografias que mesmo contra os espíritas.

A 16 de Junho de 1875, Leymarie e Alfred E. Firman foram também envolvidos no processo, em virtude dos laços de amizade que mantinham com Édouard Buguet, e, assim, julgados coniventes na fraude.

Depoimentos falsos, inclusive do próprio Édouard Buguet, originaram a condenação dos três. Recorren­do-se, então, para instâncias superiores, Édouard Buguet e Alfred E. Firman conseguiram a liberdade. O primeiro passando para a Bélgica, e o segundo graças a influências de altas autoridades. Leymarie, por sua vez, preparou notável "Memória" à Corte Su­prema, protestando, perante sua consciência e seus filhos, sua inocência e mostrando-se confiante nas de­cisões daquele alto tribunal.

Édouard Buguet traído pelo remorso escreve ao Mi­nistro da justiça que Leymarie é inteiramente inocen­te. Que, embora muitas das fotografias fossem reais, devido ao desconhecimento que tinha da Doutrina Espírita, praticava a fraude quando não as conseguia com a sua mediunidade. Na carta ele assevera: "Las­timo, pois, haver dito, na minha fraqueza, o contrá­rio da pura verdade, renunciando eu a minha mediunidade, peço perdão a Deus por este ato que deploro, pois que ele serviu para incriminar um ho­mem estimável, cuja boa fé se tornou suspeita com minhas afirmações".

Apesar das cartas de solidariedade vindas das mais diferentes partes do mundo, inclusive do Brasil, Leymarie foi condenado a um ano de prisão celular.

Um pouco mais tarde, anulada a sentença condenatória, o incansável discípulo de Kardec reto­mava a administração e direção da "Société" e da "Revue Spirite"

Leymarie retorna à luta.

Em 1878, Leymarie organiza também a "Sociedade Científica de Estudos Psicológicos", congregando, em torno dela, homens respeitáveis, para o estudo e ex­perimentações . em torno da mediunidade e do mag­netismo animal, e análise das obras de Cahagnet, de Roustaing, da doutrina de Swedenborg e outras per­tinentes a outras idéias.

As obras de Kardec são traduzidas, por iniciativa de Leymarie, para todas as línguas do mundo civilizado; conferências são programadas; Leymarie visita outros países, e percorre cidades da Bélgica, da Itália e da Espanha, propagando os postulados doutrinários do Espiritismo.
Leymarie esteve presente no I Congresso Espírita de Bruxelas; em 1888 participou do Congresso Espírita de Barcelona, tendo sido escolhido para uma das pre­sidências. No decurso deste Congresso foi lida uma belíssima moção de gratidão enviada da prisão de Tarragona, por um grupo de condenados a trabalhos forçados, convertidos à fé espírita.

Em 1889, Leymarie organizou o I Congresso Espí­rita na França, esquivando-se de cargos, mas, por insistência, acaba aceitando o de uma das vice-presi­dências.

A administração da Sociedade se torna mais exigen­te, com a liberalidade de um dos seus membros, o Sr. Guérin. Ele, tal como procedera Allan Kardec, antes do seu desencarne, tomou todas as providên­cias para assegurar o benefício de seus bens à Socie­dade, o que vem suscitar, logo a seguir, uma disputa com os herdeiros. Os processos passam a se suceder e, quando acreditava ter chegado ao fim, os herdei­ros de Allan Kardec, apoiados no processo dos her­deiros de Guérin, fazem sua reivindicação, e a desenvolvem, até que, apesar de uma resistência vi­gorosa, a sociedade, representada e administrada por Leymarie, sucumbe.

Librairie Leymarie

Em 1897, Leymarie funda a "Librairie Leymarie Édite-URS" (**)., estabelecida no 42, rue Saint­ Jacques, Paris, e a dirigiu até 1903, e, com o seu desencarne, por sua esposa Madame Marina Duclos Leymarie, e, posteriormente, por seu filho, Paul Leymarie.

Com a liquidação da "Librairie Spirite", continuou a editoração das obras de Allan Kardec, fazendo do prédio da "Librairie Leymarie" sede da redação da "Revue Spirite", até a fundação da "Maison des Spirites", por Jean Meyer, inaugurada em 25 de No­vembro de 1923.

U ma das suas primeiras publicações foi "Au pays de l'ombre", de Madame D'Esperance.

Não obstante tantas provas, Leymarie não se abate. Ele prossegue a sua luta, em meio dos maiores aborrecimentos, e torna conhecidos os trabalhos e as obras principais de escritores espíritas, com os quais, em sua maior parte, ele se acha em constante conta­to, tais como, na França, com Eugene Nus, Léon Denis, Ernesto Bosc, Encause (Papus), Gibier, Baraduc, Comandante Cournes, Sras. Noeggerath e Annie Besant, Gabriel Delanne, Strada e outros; na Inglaterra, com Wallace; na Rússia, com Aksacoff; na América, com Van der Nailen; na Itá­lia, com Chiaia e Falcomer.

São de sua autoria:

"Histoire du Spiritisme et biographie d'Allan Kardec". Trabalho apresentado nos Congressos Espí­ritas de 1888 e 1889.
"Oeuvres Posthumes d'Allan Kardec". Paris, 1890, Librairie Spirite. Obra por ele compilada, com docu­mentos inéditos deixados por Allan Kardec.

"L'Évoiution et ia Révélation". Trabalho por ele com­pilado e enviado, em 1898, ao Congresso Internacio­nal Espiritualista, em Londres.

(*) "Librairie Spirite" (Livraria Espírita). Kardec, que tinha projetado a publicação de um catálogo mi­nucioso das obras, hoje raro, que interessavam ao Espiritismo, o "Catalogue raisonné des ouvrages pouvant servir à fonder une bibliotheque spirite" (2éme. édition: Paris, s.d. 1869, Librairie Spirite des Science Psychologique, "in" 12, 30 pp.; 3e. édition. Paris. s.d. 1873, Librairie de Ia Revue Spirite ou Librairie Spirite e des Sciences Psychologiques, in, 12, 24 pp.), recebeu, no intervalo, a sugestão de um projeto para criar um casa especial para as obras desse gênero, concebida e executada por uma sociedade espírita, o que admitiu fundando, assim, a "Librairie Spirite" (1869), desti nada, conforme projetada, para atender à promoção do livro espírita e ramos da cultura que se relacionam com o Espiritismo. Pierre Gaetan Leymarie foi seu diretor de 1870 a 1897.

A "Librairie Spirite" tornou-se conhecida sob diversos nomes, como sejam:

"Société de Librairie Spirite" (1869);

"Librairie de ia Revue Spirite" (1875);

"Librairie Spirite des Sciences Psychoiogiques et Spirites" (1880); entre outros, devendo-se admitir, ainda, como antecedente, o ativo serviço de livraria que se desenvolveu a partir de 1868, como "bureau de ia Revue Spirite"

Nas nossas referências, porém, as citaremos sempn como "Librairie Spirite". Foram suas publicações:

"Catalogue Raisonné des ouvrages pouvant servir à fonder une Bibiiotheque Spirite":
1a. ed. Paris, s.d. (1869), "in" 12. 30 pp.;
2a. ed. Paris, s.d. (1869, Setembro), "in" 12, 30 pp.; outra ed. Paris, s.d. (1873), "in" 12, 24 pp.
________________________________________________________
(**) A "Librairie Leymarie" continua aberta até os dias de hoje, onde aliás estivemos numa das nossas visitas a Paris, e onde adquirimos um exem­plar de "Les Pionniers du Spiritisme", por J. Malgras, Paris, Librairie des Sciences Psychologiques, 1906, 478 pp.

(Texto que fará parte da Enciclopédia Espírita, a ser publicada pelo ICESP e publicado originalmente através da Revista do ICESP nº 06, 2º trimestre 2003)

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Desativação do endereço editor-lihpe@geae.inf.br

Amigos,
   
Na prática revelou-se redundante termos um endereço específico para esta seção do Boletim e, devido ao problema dos spams e dos virus que se propagam por e-mail, parece ser mais proveitoso ter um número reduzido de endereços. Por causa disso estamos desativando o endereço editor-lihpe@geae.inf.br e solicitamos aos amigos que passem a nos enviar os comentários e textos referentes a esta seção nos endereços editor@geae.inf.br e historia.e.pesquisa@grupos.com.br.

Muita Paz,
Carlos Iglesia

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Questões e Comentários 


Questões Intrincadas sobre o Espiritismo I


Amigos,

Recebemos recentemente uma série de questões, enviadas pelo Alan, que abordam temas interessantes da Doutrina Espírita. São questões muitas vezes colocadas por irmãos que chegam ao Espiritismo vindo de outras filiações cristãs e até mesmo de companheiros espíritas que são defrontados pelos mesmos problemas ao conversar com conhecidos que não conhecem a Doutrina.

Por este motivo, e como uma forma de aprendermos um pouco mais sobre estes temas, nos aventuramos a responder as questões - principalmente o  Alexandre, o Renato e o Ademir - com a colaboração do Paulo Neto. Esperamos que os esclarecimentos sejam úteis a todos e permitam ao Alan dirimir suas duvidas.

Muita Paz,
Os Editores



1) Como saber se um espírito, ou mesmo uma legião de espíritos, são manifestações autênticas? Não poderiam ser demônios (ou qualquer outra entidade) se fazendo passar por seres bons e iluminados? Kardec se utiliza do critério da unanimidade [O evangelho segundo o espiritismo; Introdução; p.35], ou seja, se vários espíritos dizem a mesma coisa através de diferentes médiuns, em diferentes partes do globo, dá-se um atestado de autenticidade às revelações. Mas, afinal, se o mal pode ser também muito inteligente e procura arquitetar planos para desviar o homem do caminho, como saber se mesmo essa dita unanimidade não faz parte de um plano para nos enganar?

Caro amigo, para saber se as manifestações de Espíritos são autênticas ou não, Kardec recomenda muito mais que a prova da unanimidade. Ele nos recomenda a tudo o que ouvirmos submetermos à razão e ao bom senso. Para nos mostrar como utilizar esses critérios, o Codificador escreveu uma obra inteira, qual seja O Livro dos Médiuns. Recomendamos, em especial, os capítulos XXIV, XXVII, XXVIII e XXXI.

A forma de sabermos se a unanimidade de comunicações sobre um tema faz ou não parte de um plano para nos enganar é, portanto, a análise racional e sensata de cada mensagem. Não basta somente a unanimidade. Há que haver a unanimidade de comunicações aprovadas pela razão e pelo bom senso. O Espiritismo sempre recomenda o que chamamos de "fé raciocinada", que nada mais é do que a atenção consciente, à luz da razão, para aquilo que cremos.

*

A mensagem espírita autêntica repete em coro a necessidade da reforma moral dos seres humanos, que a evolução espiritual pede como condição o "amarmos os nossos inimigos com a nós mesmos", de reverenciarmos a figura do Senhor Jesus Cristo como modelo único para o verdadeiro ser humano consciente de sua tarefa no mundo e adorarmos a Deus acima de todos as coisas, além de outros conceitos de relevante valor ético. Segue daí a conclusão de que considerar  a mensagem espírita autêntica  "parte de um plano para nos enganar" é não só absurdo como completamente ilógico.

*

É preciso entender a Doutrina Espírita em seu todo consistente e não como um amontoado de ensinamentos que, tomados isoladamente, possam dar a impressão de serem facilmente contestados. A força da Doutrina Espírita está justamente nessa consistência lógica, na existência de vínculos entre conceitos aparentemente separados mas que, tomados em conjunto e sustentados empiricamente, formam uma rica doutrina que, se for bem desenvolvida, pode dar respostas consistentes e sem contradição com as descobertas da Ciência.

*

A experiência em utilizar os critérios propostos na Codificação nós dá suporte para identificar a verdadeira intenção de um Espírito. Tentaremos usar a própria mensagem que o irmão nos enviou para exemplificar como devemos proceder.

2) O próprio Jesus não disse: “levantar-se-ão falsos messias e falsos profetas e produzirão sinais formidáveis e prodígios, a ponto de induzir em erro, se fosse possível, até os eleitos” (Mt 24,24-25). Dentro disso, como saber se esta legião de espíritos, esta unanimidade, não são “sinais formidáveis e prodígios” para nos desviar do caminho?

Referindo-se aos ensinamentos de Jesus, o sábio rabino Gamaliel afirmou, em defesa dos apóstolos e que muito bem se aplica à Doutrina Espírita, que: ”Quanto ao que está acontecendo agora, dou-lhes um conselho: não se preocupem com esses homens, e os soltem. Porque, se o projeto ou atividade deles é de origem humana, será destruído; mas, se vem de Deus, vocês não conseguirão aniquilá-los. Cuidado para não se meterem contra Deus!...” (Atos 5,38-39). Não se esqueça que Jesus também disse: “Conhece-se a árvore pelos seus frutos” (Lucas 6, 43-45). Assim, se conhece o bom espírita pela sua capacidade de praticar o bem, isto é, pela caridade com que se relaciona com seus irmãos.

*

Se Jesus disse que poderão aparecer falsos profetas que produzirão "sinais formidáveis e prodígios", ele, claramente, isto é, sem metáforas nem simbologia, nos disse que esses sinais não são critérios para saber se algo é bom ou não. Ora, outra coisa não nos ensina o Espiritismo! Quando aquilo que é ensinado pelos Espíritos (independentemente de unanimidade, de sinais ou de prodígios) proporcionar conseqüências boas para as pessoas, então é bom. Mas se tivermos dúvidas quanto às conseqüências futuras de uma comunicação, o Espiritismo recomenda que deixemos a mesma “de molho", aguardando que o assunto possa ser melhor estudado, se for verdadeiro, ou que caia no esquecimento, se for falso.

*

Com todo respeito, gostaríamos de acrescentar uma reflexão. As frases de Jesus, a nosso ver,  aplicam-se igualmente bem àqueles que, em seu nome, semearam e aos que hoje semeiam o mal e a separação entre as pessoas, àqueles que, em nome da religião, procuram designar-se "eleitos" ou "de posse da herança da salvação" e, também, aos que se escoram uns nos outros por falta de uma fé mais vigorosa, que possa enfrentar as revelações da Ciência, em franca contradição com essa fé.

Muito mal fazem aos outros e a si mesmo os encarnados que se escoram em interpretações absolutamente literais, anti-históricas dos textos evangélicos para satisfazer e conduzir as massas, extorquindo delas altas somas financeiras e flertando com o poder temporal nas altas esferas do poder constituído, como ontem faziam nas cortes imperiais. Esses são, em nossa opinião, os verdadeiros "falsos profetas", que incendeiam as massas, fazendo irmãos que crêem no mesmo Cristo e que a ele somente deveriam seguir odiarem-se mutuamente, ignorando que, para seguir Jesus, bastaria a eles viver a lei do Amor Universal que o Mestre personifica.

Não seria muito, portanto, muito mais lógico concluir que os falsos profetas estão na figura daqueles vivos que se auto intitulam representantes de Deus e que, diante de todo o mal que a religião de massa já propagou (lembrando as abundantes evidências históricas - guerra dos 30 anos, cruzadas, conflitos irlandeses, processo de Galileu, inquisição), eles são na verdade "parte do plano para nos enganar" do que colocar a culpa nos Espíritos, com sua mensagem branda e pacífica? Quanto ainda a religião de massa terá que falhar e verter sangue a fim de que a Humanidade se convença quanto a de que lado se encontram, de fato, os falsos profetas? 


Continua no próximo Boletim

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Painel


IV Congresso Internacional de Terapia de Vida Passada

TEMA CENTRAL: “RESSONÂNCIAS DO PASSADO E O CAMINHO PARA A CURA”
 
Apoio

Rede Boa Nova de Rádio e Televisão

Associação Médico Espírita da Baixada Santista

Universidade Santa Cecília

Editora do Conhecimento

Local

Universidade Santa Cecília
(Rua Cesário Mota , 8 - 4o. andar )
Boqueirão - Santos - SP- Brasil
19 A 21 DE AGOSTO/2004
ABERTO AO PÚBLICO EM GERAL
 
Pré-Programação
(esta programação está sujeita a alterações sem aviso prévio).
 
Dia 19/08/04 – Quinta-feira

09:00h - Distribuição de material
09:45h - Apresentação do congresso - (apresentadores: Dr. Flávio Braun Fiorda – diretor de cursos e supervisor da SBTVP e Giovana Campos – jornalista e assessora de              imprensa da SBTVP)
10:00h - Curso pré congresso  01 – composição da mesa - (presidente da mesa: Rosa Forchesatto – psicóloga e didata da SBTVP).
10:10h - José Carlos Zanarotti – São Paulo - (presidente da Associação Mundial das Fraternidades Ramatis).
             “Alimentação e o Espírito – Técnica de Diagnóstico pela Radiestesia” – 1ª parte
11:10h - Intervalo
11:40h - Curso 01 - 2ª parte.
12:40h - Almoço
14:40h - Curso pré congresso 02 – composição da mesa - (presidente da mesa: Adriana Provedel R.Coimbra – didata da SBTVP).
14:50h - Norberto Peixoto – Porto Alegre - (administrador de empresas, escritor e médium psicógrafo).
             “Apometria ” – 1 ª parte. (fundamentos básicos, dinâmica, ressonâncias de vidas passadas, casos).
15:50h -Intervalo.
16:20h - Curso 2 - 2 ª parte.
17:20h - Encerramento das atividades do dia.
 
Dia 20/08 – 6 ª feira

9:00h.Abertura - (apresentadores:Dr.Flávio Braun Fiorda – diretor de cursos e supervisor da SBTVP e Giovana Campos – jornalista e assessora de imprensa da SBTVP).
9:10h.Apresentação artística. Coral da Universidade Santa Cecília.
9:30h.Composição da mesa.
9:45h.Hino Nacional - Abertura. Palavras da SBTVP – Neuza Passos Feijó – Rio de Janeiro. (psicóloga, vice-presidente e supervisora da SBTVP).
10:00h.Formatura de terapeutas e didatas da SBTVP.
10:40h.Intervalo.
11:00h.Palestra de abertura – composição da mesa. (presidente da mesa: Dr.Flávio Braun Fiorda – diretor de cursos e supervisor da SBTVP).
11:10h.Hans TenDam – Holanda - (psicólogo, terapeuta de vida passada e escritor).
12:00h.Respostas ao público.
12:10h.Almoço.
14:00h.Apresentação artística - Conjunto de violões Poema Azul
14:20h.Painel – composição da mesa. “Origens do homem no planeta ” - (presidente da mesa: Lúcia Helena dos Santos – diretora de ética e didata da SBTVP).
14:30h.Roger Feraudy – Petrópolis - (odontólogo, teosofista e escritor)
15:10h.Dra.M ªTeodora R.Guimarães – Campinas - (médica, escritora e presidente da SBTVP).
15:50h.Respostas ao público
16:00h.Intervalo
16:30h.Mesa redonda – composição da mesa - “O homem universal ” - (presidente da mesa: Maria Joana de L.Barros – didata da SBTVP).
16:40h.Sidnei Carvalho – S.Paulo - (advogado e escritor)
17:10h.José Maria Nogueira – São Paulo - (odontólogo, escritor e presidente do Supremo Conselho do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento).
17:40h.Nehemias Marien – Rio de Janeiro - (psicólogo, pastor e escritor)
18:10h.Respostas ao público
18:20h.Encerramento das atividades do dia.
 
Dia 21/08 – sábado

9:00h.Palestra – composição da mesa - (presidente da mesa:José Pedro da Silva – didata da SBTVP)
9:10h.Elaine de Luca – São Paulo - (psicóloga e escritora)
9:50h.Respostas ao público
10:00h.Intervalo
10:20h.Painel – composição da mesa - “A Terapia de Vida Passada pela SBTVP” - (presidente da mesa: Márcia Carvalho – didata da SBTVP).
10:30h.Regina Camillo – Jundiaí - “Quem sou eu?” - (psicóloga, diretora de marketing e supervisora da SBTVP).
11:10h.Dr.Luciano Munari -Marilia - “Ectoplasma, cura e TVP ” - (médico, escritor, diretor científico e supervisor da SBTVP).
11:50h.Respostas ao público
12:00h.Almoço
13:50h.Apresentação artística - Grupo de Teatro da Fraternidade Ramatis – São Paulo
14:40h.Mesa Redonda -Composição da mesa - “Medicina e reencarnação” - (presidente da mesa: Ivete A.D.Tietz Granato – didata da SBTVP).
14:50h.Dr.Décio Iândole – Santos - (médico e vice-presidente da Associação Médico Espírita da Baixada Santista).
15:20h.Dr.Nubor Facure – Campinas - (médico e diretor do Instituto do Cérebro).
15:50h.Dr.Flávio Braun Fiorda – São Vicente - (médico, diretor de cursos e supervisor da SBTVP).
16:20h.Respostas ao publico
16:30h.Intervalo
16:50h.Palestra de Encerramento – composição da mesa - (presidente da mesa: Marcela Ferreira – didata da SBTVP).
17:00h.Palavras da SBTVP – Célia Monteiro – Rio de Janeiro - (psicóloga, didata e supervisora da SBTVP)
17:10h.José Medrado – Salvador - (palestrante, professor e escritor).
18:00h.Encerramento do Congresso
  
Mais Informações e Inscrições
São Paulo : (11) 6862-1362 ou (11) 9964-5745 – falar com Rosa (até 16/08/2004)
Santos : (13) 9761- 2961 – falar com Aurilene (até o Congresso)
Rio de Janeiro: (21) 3322-7457 – falar com Célia (até 16/08/2004), (21)  2548-9235 – falar com Neuza (até 16/08/2004)
Campinas: (19) 3231- 6938 ou (19) 3234- 9315 - sede nacional da SBTVP- falar com Márcia (até 16/08/2004)

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Novo Endereço do Spiritist Group of Brighton, Elsa Rossi, Reino Unido

Spiritist Group of Brighton
43, Raymond Close
SEAFORD
BN25   3DW
East Sussex  -  United Kingdom
telefone: internacional:  00 44 1323 89 59 79
Dentro de UK: 01323 89 59 79

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GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS

O Boletim GEAE é distribuido por e-mail aos participantes do Grupo de Estudos Avançados Espíritas
Inscrição/Cancelamento - inscricao-pt@geae.inf.br

Informações Gerais - http://www.geae.inf.br/pt/faq
Conselho Editorial - editor@geae.inf.br
Coleção dos Boletins em Português - http://www.geae.inf.br/pt/boletins
Coleção do "The Spiritist Messenger" - http://www.geae.inf.br/en/boletins
Coleção do "Mensajero Espírita" - http://www.geae.inf.br/el/boletins