Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

http://www.geae.inf.br

Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec

Ano 12 - Número 474 - 2004            27 de abril de 2004


Editorial

O Progresso a Serviço do Nosso Próprio Bem

Artigos

Os Diversos Caminhos da Evolução Anímica, Renato Costa, Brasil
A Compreensão da Moral Evangélica, Vera M. Bestene, Brasil

História & Pesquisa

Fotografias Psíquicas e Fotografias de Fantasmas, Carlos A. F. Guimarães

São Paulo - 450 Anos, Carlos Mirabelli, Marcos Paulo Garcia, Brasil


Questões e Comentários

Fecundação e Concepção, Eduardo Brito, Brasil 

Painel

Peça em Comemoração ao Bi-Centenário de Kardec
Citação do GEAE na revista "Religiões"
O Espiritismo na Nova Zelândia



Editorial


O Progresso a Serviço do Nosso Próprio Bem

A resistência que certas pessoas demonstram em relação ao progresso é algo que nos parecece inconcebível. Para justificar esta postura muitos apontam para a  possibilidade do mal uso que alguns podem fazer das instrumentas mais avançadas que advém como resultado do progresso científico e tecnológico. A internet ou a World Wide Web e a iminente e inevitável globalização estão, para algumas pessoas, entre os temíveis avanços das últimas conquistas do progresso. Neste caso mais especificamente, uma das alegações maiores é a possibilidade da perda da privacidade uma vez que ao trafegarmos pela internet deixamos rastros e estaremos vulneráveis a ataques em nossa privacidade por pessoas voltadas somente para a prática do mal.

Não vemos razão a justificar esta postura reticente e reacionária. Se passarmos com acuidade os olhos na história, veremos que o período mais sombrio que a humanidade atravessou foi justamente o período em que as forças organizadas da sociedade, em especial o sectarismo religioso, se opunha à ciência e às novas descobertas do conhecimento científico.

O Espiritismo em sua mensagem racional e motivadora não dá azo a este tipo de postura reacionária. Muito ao contrário ele veio para nos mostrar claramente que não devemos temer o progresso. Somos todos espíritos imortais e fomos criados em igualdade de condições, portanto com as mesmas oportunidades, mas só atingiremos o ponto culminante da nossa jornada evolutiva - a perfeição e a felicidade completa - através de muito trabalho o qual nos proporcionará o progresso material e o conhecimento intelectual. Não devemos também esquecer que uma das maiores dádivas a nós outorgada pelo Criador foi o livre-arbítrio, portanto cabe a nós enfrentar com sabedoria as dificuldades que se nos apresenta no caminho. Outro aspecto importante e relevante nesta questão é a consciência que devemos ter da infalibilidade da Lei de Causa e Efeito que se encarregará de corrigir os desvios que venhamos a cometer no uso do nosso livre-arbítrio. Nisto está refletida a justiça de Deus de acordo com a máxima do "a cada um segundo as suas obras".

Em O Livro dos Espíritos, no capítulo referente ao tema Da Lei do Progresso,  Allan Kardec perguntou aos espíritos na Questão 780, a) o seguinte: Como pode o progresso intelectual engendrar o progresso moral?

E a resposta dos espíritos foi a seguinte: "Fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos."

Deste modo, podemos depreender que a marcha do progresso tem o seu curso natural não obstante a resistência que alguns possam oferecer. Está patente também que à medida que o progresso avança as nossas responsabilidades aumentam, uma vez que temos maior capacidade de distinguir entre o bem e o mal. Deste modo, chegamos a conclusão que temer o progresso seria o mesmo que temer a morte já que ambos são inevitáveis. O que devemos ter em mente constantemente é saber qual é a  parcela de responsabilidade que cabe a cada um de nós individualmente, a medida que a marcha do progresso coloca à nossa disposição as ferramentas que são possíveis de serem usadas e este uso vir a afetar a vida dos nossos semelhantes. Essas ferramentas em si não são um mal, mas o uso que faremos delas é o que determinará os resultados.

A internet é sem sombra de dúvidas uma dessas descobertas que poderá ser usada, o que já vem ocorrendo em grande escala, como uma potente ferramenta a serviço do bem e do progresso moral da humanidade, tendo em vista a sua quase ilimitada capacidade de penetração em todas as camadas sociais e a velocidade com que nela trafegam as informações que nos dispusermos a passar adiante. Os resultados serão cada vez maiores e promissores à medida que todos aqueles que já entenderam que o progresso gera responsabilidade, se unam em torno de projetos cujos resultados tragam verdadeiros benefícios aos seus semelhantes no tocante ao aprimoramento moral de cada um. 

A experiência do GEAE ao longo desses quase doze anos de existência unindo pessoas de várias partes do mundo e estimulando-as ao estudo fraterno da Doutrina Espírita, uma doutrina que tem como escopo ajudar o ser humano em sua marcha evolutiva, nos dá a certeza de que não devemos termer o progresso, mas sim nos dar as mãos e trabalharmos unidos na tarefa de promover o bem através do uso das ferramentas que o progresso coloca ao nosso alcance.

Muita Paz,
Antonio Leite
Editor GEAE

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Artigos

 

Os Diversos Caminhos da Evolução Anímica, Renato Costa, Brasil

Estudos Recentes da Inteligência não-humana Ajudam-nos a Entender uma Cautelosa Nota do Codificador

(Artigo originalmente publicado pela Casa Editora O Clarim: http://www.oclarim.com.br/ na edição de Maio da Revista Internacional de Espiritismo)

No Item 56 do Capítulo I da Segunda Parte de “O Livro dos Médiuns”, diz Kardec: “Com pequenas diferenças quanto às particularidades e exceção feita das modificações orgânicas exigidas pelo meio em o qual o ser tem que viver, a forma humana se nos depara entre os habitantes de todos os globos. Pelo menos, é o que dizem os Espíritos.

Apesar de, logo a seguir, ter o Codificador tirado algumas ilações tendo como base a afirmação contida na primeira frase cotada, gostaríamos de chamar a atenção dos leitores para a segunda, onde ele diz “Pelo menos, é o que dizem os Espíritos”. Kardec, como todos os que estudam a Codificação sabem, não fazia nenhuma afirmação conclusiva sem antes passar a mesma pelo crivo da razão e do bom senso. A cautela expressa na segunda frase denota claramente que tal não se havia dado com respeito à afirmação de que “a forma humana se nos depara entre os habitantes de todos os globos”. Procuraremos mostrar neste trabalho que Kardec tinha bons motivos para ter tal cautela.  

Desde as mais remotas eras o homem tem percebido que determinadas espécies de animais denotam alguns comportamentos semelhantes aos humanos e que, quando nos referimos à nossa espécie, são tidos como inteligentes. Assim foi que animais tão diversos como cães, corvos, golfinhos, papagaios, chimpanzés e corujas, entre outros, foram, ao longo dos séculos, associados a conceitos como fidelidade, esperteza, amizade, habilidade e sabedoria.

A partir do século XX a questão da “Inteligência Não Humana” começou a despertar um interesse crescente na comunidade científica, proliferando hoje em todo mundo cientistas dedicados ao estudo daquelas e de outras espécies. Tais cientistas se dividem entre os estudiosos de Psicologia Associativa, um ramo da ciência que surgiu nos EUA na década de 20 e os estudiosos de Etologia, outro ramo da ciência, este surgido na Europa na década seguinte. É importante frisar, com base nessa informação, que no século XIX não havia nenhum ramo da ciência dedicado especificamente ao estudo do comportamento animal, um fato que justifica a hesitação de Kardec em aceitar o que haviam dito os Espíritos a respeito da forma hominal nos diversos mundos.

No início desses estudos predominava a noção de que a inteligência animal tinha que ser comparada com a humana e avaliada a partir dela. Com esse enfoque comparou-se o tamanho absoluto dos encéfalos das diversas espécies, o seu tamanho relativo, o quociente de encefalização e a quantidade de circunvoluções no córtex cerebral, sendo que nenhum desses métodos demonstrou ser suficientemente correto. Hoje em dia muitos estudiosos têm defendido a tese de que inteligência é algo que não deve ser analisado entre as espécies e sim avaliado para cada uma em função dos desafios que tem por enfrentar e do modo como escolhe, dentre os conjuntos de informação de que dispõe, aquele que lhe oferece o melhor meio para enfrentar tais desafios com sucesso.

Defrontado com os inúmeros estudos hoje disponíveis que comprovam a inteligência das mais diversas espécies de animais, alguém poderia objetar quanto à sua evolução anímica, afirmando que os indivíduos que a elas pertencem fazem hoje exatamente o mesmo que faziam há séculos atrás ou mesmo desde que a história registra a sua existência. Longe de se constituir tal afirmação em uma objeção válida, no entanto, ela denota, a nosso ver, apenas uma percepção equivocada quanto à própria evolução da inteligência humana. O ser humano, assim como os demais animais, não denota ter feito significativa evolução em inteligência nos últimos milênios, conforme demonstra a sofisticação de escrituras e escritos filosóficos milenares das diversas tradições. A evolução que houve na raça humana foi, predominantemente, de ordem científica e tecnológica, devendo-se ela, basicamente, à habilidade do homem na construção de ferramentas e ao seu domínio de uma forma complexa de comunicação, dotada de sintaxe e semântica e que é chamada de linguagem.

Para sabermos, portanto, se uma outra espécie está em condição de chegar algum dia a nível semelhante àquele onde o ser humano hoje se encontra não nos basta saber se eles possuem inteligência, mas, mais que isso, precisamos saber se os indivíduos de tal espécie têm condição de criar ferramentas e de estabelecer entre si uma forma de  comunicação que mereça ser chamada de linguagem. Ocorre, porém, que o patamar onde o homem se encontra não representa, necessariamente, um estágio obrigatório para todas as espécies. Apesar de ser verdade que o domínio da linguagem se afigura como essencial característica evolutiva, o mesmo não se pode afirmar com respeito à habilidade para construir ferramentas. Esta última faz-se necessária ou não, dependendo do meio onde a espécie vive e das condições que ela tem de sobreviver nesse meio.

Capacidade de comunicação complexa e muito mais são características que têm sido verificadas pelos pesquisadores como existentes em diversas espécies, havendo, entre elas, algumas que vivem na terra, outras no mar e outra, ainda, que se locomovem pelo ar.  Em artigo posterior daremos um exemplo de cada uma delas de forma a caracterizar bem essa informação.

***

Maria João de Deus, a querida mãezinha de nosso Chico Xavier, referiu-se aos habitantes de Saturno com as seguintes palavras: “Nada tinham de comum com os tipos da humanidade terrena, afigurando-se-me extraordinariamente feios com a sua organização animalesca, com suas membranas à guisa de asas, tão estranhas para mim, as quais lhes facultavam o poder de volitar à vontade.”  Ante o seu assombro, o instrutor a esclareceu quanto às condições de vida naquele mundo e, referindo-se aos seus habitantes, disse a Maria João: “Essas criaturas que te parecem animais egressos das plagas terrestres, onde os zoófitos encontram os seus elementos de vida, são altamente dotados de sabedoria, sensibilidade e inteligência. Seus sentidos e percepções são muito superiores àqueles com que foram aquinhoados os homens terrenos e a preocupação máxima da sua existência é a intensificação do poder intelectual.

Nosso pequeno estudo mostrou que as espécies evoluem de forma diferente conforme o meio onde vivam e os desafios que tenham que enfrentar. E, mais, que cada uma delas, apesar de trilhar um caminho evolutivo que lhe é próprio, chegará, um dia, ao reino hominal para alçar-se, daí, à angelitude. Processando-se a evolução em dois mundos, sabemos que as mudanças necessárias no corpo físico se refletem no corpo sutil e vice-versa. Logo, o animal que vem evoluindo, há milênios, em meio líquido possui um corpo físico totalmente adaptado para o meio líquido, com tal adaptação perfeitamente refletida em seu corpo sutil, o mesmo se podendo dizer, mutatis mutandis, do animal que vem ao longo da sua evolução, deslocando-se pelo ar.

Aquilo que Maria João percebeu em Saturno, portanto, não foi fruto de sua ilusão, mas algo perfeitamente possível de se esperar. Sendo Saturno um imenso mundo gasoso, os seres inteligentes que lá existam têm, forçosamente, que ter seus corpos sutis adaptados ao meio. Ao constatarmos que espécies de aves vêm evoluindo em inteligência, é válido, portanto, supor que o caminho que elas irão seguir venha a levá-las, daqui a vários milênios, a estágio semelhante.

Esperamos ter mostrado evidências bastante apontando para a conclusão de que os caminhos da evolução anímica são vários e diversos e que a forma humana que conhecemos na Terra é uma e não a única destinada a receber a alma quando de seu ingresso no reino hominal. Saudamos, neste ponto, mais uma vez, a sábia cautela do Codificador.

Bibliografia

Blackstock, Regina. Dolphins and Man … Equals? Obtida, em 15/02/2003, de http://www.polaris.net/~rblacks/dolphins.htm.
Costa, Renato. Registros Indeléveis da Evolução Anímica. In: Revista Internacional de Espiritismo. Matão: Abril de 2003.
Davies, Gareth Huw. Maybe Birdbrains are in Fact Clever.Obtida, em 19/02/2003, de http://flatrock.org.nz/topics/animals/pigeon_spotting.htm.
Friend, Tim. Crows exceed expected intelligence levels. USA Today. Ed. 09/08/2002.
Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns. 61 Ed. FEB, 1995.
Klinowska, Margaret. Brains, Behaviour and Intelligence in Cetaceans (Whales, Dolphins and Porpoises). Obtido, em 05/01/2003, de http://www.highnorth.no/Library/Myths/br-be-an.htm.
Marable, Kenneth. The Neurological and Environmental Basis for Differing Intelligences: A Comparison of Primate and Cetacean Mentality. Obtido, em 05/01/2003, de http://www.msu.edu/user/marablek/whal-int.htm.
Recer, Paul. Dolphins show language-like learning. SouthCoast Today. Ed. 25/08/2000.
Xavier, Francisco Cândido. Cartas de Uma Morta. Ditado pelo Espírito Maria João de Deus. 13 Ed. LAKE, 1999.
____, _______ e Vieira, Waldo. Evolução em Dois Mundos. Ditado pelo Espírito André Luiz. 13 Ed. FEB, 1993.


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A Compreensão da Moral Evangélica, Vera M. Bestene, Brasil

Se o ensino moral fosse discutido, as religiões teriam encontrado a resposta de que precisariam ser menos místicas, valorizando muito mais o aspecto moral que existe em cada qual. Daí a necessidade de observar a essência de cada uma para que sejam produzidas mais regras de conduta e menos misticismo, pois que a conduta abrange todas as formas de exercício da vida, que nada mais são que o princípio básico de todas as relações naturais. A promoção desta avaliação e do exercício moral mais evidente, proporcionará, certamente, uma produção muito maior da justiça o que será reconhecido instantaneamente por Deus.
       
Parece óbvia, esta nossa observação, mas não é.
       
Todas as religiões cristãs apreciam a moral evangélica. Todas sublimam a sua necessidade.

Muitos se apóiam em algumas máximas que se tornaram proverbiais. Muito poucos procuram conhece-la a fundo. Menos ainda são os que conseguem tirar proveito dela.

O questionamento do porque disto está resumido na dificuldade das pessoas em compreender a leitura que se faz do Evangelho, embora que seja inteligível para a maioria.

Há, entretanto, uma forma alegoria, mística, na linguagem que acarreta com que muitos o leiam de forma a simplesmente tirar de si o sentimento de culpa de não o fazer, portanto, meramente por obrigação. Estes esquecem que o Evangelho está recheado de preceitos morais a serem seguidos, que passam pelas narrativas e ali estão para serem seguidos.

Muitas passagens da Bíblia e do Evangelho são de forma quase ininteligível pois que até as mensagens de Jesus através de parábolas precisam da necessária análise de seu real sentido para que não pareçam absurdas e se possa compreender todo o aspecto moral que elas encerram.

A  Doutrina Espírita, através do Evangelho Segundo o Espiritismo procura mostrar a melhor forma de tirar os meios de fazer uma melhor adequação da moral de cada um com a moral cristã.

Graças as comunicações recebidas através de Espíritos Superiores a Lei Evangélica foi “desnudada” pelos Espíritos que nos proporcionam forma simples e absolutamente compreensível de toda moral do Cristo, posto que a humanidade, os seres humanos individualmente, não teria a possibilidade de encerrar em si a verdade absoluta, daí a necessidade do auxílio da espiritualidade que faz com que se tenha noção exata das entrelinhas e do que encerra, realmente, a moral evangeliza.

Deus, inicialmente, utilizou a Lei Mosaica para que chegasse aos homens a necessidade de manutenção da moral. Esta lei veio na proporção exata das possibilidades de compreensão da época. Conforme o povo foi evoluindo houve a necessidade de mais uma intervenção, ou seja, foi-nos enviado Jesus, não para modificar a Lei Mosaica, mas para amplia-la e fazer compreender melhor toda a abrangência moral que nela se consubstanciava.  Praticamente dois mil anos passados dos ensinamentos do Cristo, houve a necessidade de uma terceira revelação que deveria chegar aos homens de uma maneira mais rápida e de forma mais autêntica. Razão porque foi dado aos Espíritos a autorização de levar aos quatro cantos do mundo, manifestando-se por toda parte, de forma a que fosse a verdade universal escutada, não dando a ninguém individualmente a tarefa de clarear a verdade da moral cristã. Os Espíritos, assim, comunicando-se por toda a parte, garante com que se possa avaliar as comunicações posto que um homem pode ser enganado facilmente mas um bom número deles não. Se milhões vêem e ouvem a mesma coisa, está configurada a verdade, e é aí que se afirma a verdade do Espiritismo pois que ela está absolutamente embasada na ciência da observação e não se toma como verdade qualquer informação mediúnica, mas tão somente quando ela é uma informação universal, ou seja, confirmada por ser igual, transmitida através de vários médiuns. Se houvesse um único intérprete por melhor que ele fosse não poderia ser considerado como verdade pois que qualquer que fosse a categoria deste ser provocaria a prevenção de muitos. Os Espíritos, desta forma, comunicam-se de várias formas e em diversas partes do mundo, pois que o Espírito não tem nacionalidade, independe de todos os cultos e tampouco se imprime em nenhuma classe social em particular.

A universalidade do ensino dos Espíritos faz a força do Espiritismo e garante com que a voz dos Espíritos seja espalhada rapidamente, pois que muitos escutam simultaneamente a mesma mensagem.

Sendo o Espiritismo a expressão da verdade, ele não teme os escolhos das contradições, pois que a ambição de alguns não pode macular a verdade universal.

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História & Pesquisa

(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas" -  Comitê Editorial da LIHPE)

Fotografias Psíquicas e Fotografias de Fantasmas, Carlos A. F. Guimarães

A questão do Inconsciente e do Espiritismo

(...) o desenvolvimento do tema exigia que eu refutasse, baseando-me em fatos, a inefável objeção anti-espirítica segundo a qual, não se podendo assinar limites às faculdades supranormais da telepatia, da telemnesia, da telestesia, também nunca será possível demonstrar experimentalmente, portanto, cientificamente, a existência e a sobrevivência do espírito. (...) As provas de identificação espirítica, fundadas nas informações pessoais fornecidas pelos mortos que se comunicam, longe de serem as únicas que se podem conseguir para a demonstração experimental da sobrevivência, mais não são que simples unidade de prova, dentre as múltiplas provas que se podem extrair do conjunto de fenômenos metapsíquicos, mas, sobretudo, das manifestações supranormais de ordem extrínseca, as quais, de ninguém dependendo, resultam independentes dos poderes do inconsciente”.

Ernesto Bozzano, “Animismo ou Espiritismo?”, 1937

Hoje já é medianamente conhecido a uma parcela dos meios espíritas e no meio mais culto da população em geral a polêmica, travada normalmente por intermédio da mídia, sobre a questão da natureza e origem dos assim chamados fenômenos paranormais (etimologicamente, fenômenos ao lado ou paralelos aos considerados fenômenos normais).

Assunto polêmico por várias e complexas razões, transcendendo mesmo a soma dos fatos e evidências positivas colecionadas nos últimos 144 anos, tanto pelo espiritismo na sua vertente científica, quando pelos vários pesquisadores dos fenômenos psíquicos, ou psi, em especial a partir da célebre Society for Psychical Research britânica, fundada em 1880, atravessando a Metapsíquica francesa de Geley, Richet, Bozzano e Sudre, a atual Parapsicologia anglo-americana de Rhine, Bender e Pratt, a Psicobiofísica do professor Hernani Guimarães Andrade e a Psicotrônica (nome dado aos estudos psi no antigo bloco socialista do leste europeu), a questão da realidade dos fenômenos paranormais, apesar de seu conjunto de evidências, possui dos frontes principais de polêmicas de difícil solução, pois que é este um dos raros campos de conhecimento onde fica mais visível o posicionamento perante idéias adotadas a priori e calcadas em um determinado paradigma ou metafísica da realidade que propriamente baseadas e correlacionadas a fatos positivos, enormemente coletados, classificados e descritos nos últimos 144 anos, o que pode ser exemplificado por inúmeros exemplos.

O estudo dos fenômenos psíquicos nas Universidades

Tomemos como ilustração os estudos sobre telepatia e clarividência executados na década de 20 do século passado pela Universidade de Groningem, na Holanda, em cooperação com a Universidade de Harvard, sob a direção, na primeira, do Dr. H. J. Brugmans, e, na segunda, com o Dr. G. H. Estabrooks, com a cooperação do célebre professor William McDougall.

A coleta de evidências pró-realidade dos fatos da Telepatia e da Clarividência foi de tal monta, que o Dr. McDougall, que era membro da Society for Psychical Research (sociedade privada, não ligada à academia, embora plena de célebres docentes das mais variadas áreas) chegou a transferir-se de Oxford para Harvard e, posteriormente, para a Universidade de Duke, com o fim de dedicar grande parte do seu tempo ao estudo destes fenômenos, onde, em 1930, com a ajuda de dois talentosos orientandos seus, Joseph Banks Rhine e sua esposa, Louise Ella Rhine, fundaria o primeiro laboratório acadêmico para o estudo do que passaria a ser chamado de Parapsicologia.

O grande problema porém, foi o fato que as evidências coletadas tanto em Groningem, quanto em Harvard e, posteriormente, em Duke e vários outros centros acadêmicos posteriores não foram aceitos plenamente pelos psicólogos, médicos e outras áreas científicas, embora fosse particulamente bem vista pelos físicos teóricos de ponta, em especial os voltados para o estudo da Física das Partículas, ou Física Quântica. Isto representa o primeiro front de polêmicas, ou seja, da aceitação de fatos e evidências que superam os limites da visão de mundo do modelo de realidade estritamente mecânico da ciência clássica, o que levou o Dr. Rhine a dizer: “hoje, ao volver o olhar para estas experiências, torna-se difícil compreender como uma mente verdadeiramente científica pôde permanecer indiferente ao problema apresentado por trabalhos tão minunciosos como os que foram efetuados pelos Doutores Estabrookes e Brugmans. A ciência também é cega quando não quer ver” (citado em MUNTAÑOLA, RYZL et al, 1978, p. 223).

O segundo front, porém, é encontrado dentro da própria área dos estudos psi, desde o seu início. É constituído pelos trabalhos coletados e/ou experimentados por inúmeros célebres pesquisadores, que, apesar de aceitar a realidade dos fenômenos psíquicos ou mediúnicos, se dividem, porém, quanto à interpretação das causas dos mesmos, constituindo duas escolas antagônicas e uma que tem elementos de ambas:
  1. A primeira é a escola espiritualista, que se caracteriza pela aceitação, ao menos teoricamente falando, de que os fatos paranormais, em parte ou em seu todo, tem por causa ou substrato um fator espiritual, que domina a matéria e escapa aos limites de tempo e espaço ao qual esta está submetida. Entre seus membros mais destacados temos Camille Flammarion; Gustave Geley, Ernesto Bozzano. Ela admite que várias faculdades psi são inerentes aos seres vivos.

  2. A segunda é a escola mecanicista, que postula que os fenômenos são produtos excepcionais da combinação orgânica do organismo com seu meio, tendo o sistema nervoso e, em especial, o cérebro, papel fundamental nos fenômenos psi. Entre seus membros mais famosos temos René Sudre, Robert Amadou e Susan Blackmore;

  3. A Escola holística, em que seus membros aceitam ambas as explicações como necessárias ao entendimento do universo dos fenômenos psíquicos, porém dando ênfase ao aspecto não físico –fator psi- dos fenômenos paranormais. Esta não as entende, porém, as explicações espiritualistas e mecanicistas como antagônicas, mas como complementares, ambas necessárias, podendo uma ou outra se aplicar melhor a cada caso. Entre seus membros estão muitos ou todos os da primeira escola, em especial Bozzano e Geley, mas também J.B. Rhine, Roca Muntañola, Hernani Andrade, Ramon Simó, Ian Stevenson, Erlendur Haraldsson, Karlis Osis e Charles Richet, este, em especial, em seus últimos anos, como podemos ver em seus livros A Grande Esperança e No Limiar do Mistério.

Provavelmente, a melhor e mais equilibrada postura seria a da última escola, mas é necessário perceber que a adoção de uma abordagem teórica tem muito a ver com a educação recebida e a filosofia de vida da pessoa que a adota, sendo pois, como diria Max Weber, uma ação com sentido, pessoal e emocional, mais que uma adoção racionalizada a partir de fatos.
       
A questão dos posicionamentos radicais


Tornou-se relativamente conhecida no Brasil a questão do uso do conceito do inconsciente, próprio da Psicanálise a partir dos trabalhos profundos de Sigmund Freud (1856-1939), por determinados estudiosos, em especial ligados à Igreja Católica, para a explicação de fenômenos paranormais, eliminando a possibilidade causal deste serem provocados por consciências não físicas, ou espíritos, que escapariam aos limites teológicos de sua tradição religiosa. Seja como for, esta abordagem tem sido tema de discussões nas salas e corredores das faculdades de Psicologia, já que o conceito de inconsciente adotado por tais estudiosos parece ser tudo, menos o inconsciente psicanalítico de Freud ou Jung, ou bem pouco ligado ao conceito clínico de inconsciente. Na verdade, como bem falam os psicanalistas, o uso do termo “o inconsciente” por algumas pessoas lembram mais o uso de um conceito vago para explicar coisas de que não se sabe nada. Ademais, é problemático se substantivar o "inconsciente", bem como o "consciente". Não existe um objeto espacial, físico, chamado "o inconsciente", nem um que seja "o consciente". Sabemos que áreas no cérebro que são ligadas à funções fisiológicas precisas, mas uma área específica da memória e do pensamento parece ser difícil de ser encontrada. O que existem são processos de memória, processos de pensamentos, processos conscientes e processos inconscientes pelo simples fato que o foco da consciência é limitado, o que não impede que material em certo momento desconhecido não seja conhecido em uma mudança de estado de consciência, como o prova a Psicologia Transpessoal.

Convém aqui lembrar as palavras do grande Psicanalista Carl Gustav Jung sobre o abuso que se vem fazendo com o conceito de inconsciente, em uma entrevista filmada com o psicólogo e professor Richard Evans, em 1957:

Quando dizemos "inconsciente" o que queremos sugerir é uma idéia a respeito de alguma coisa, mas o que conseguimos é apenas exprimir nossa ignorância a respeito de sua natureza.

Para os que adotam reducionisticamente a abordagem do “onipotente” inconsciente parapsíquico, este seria o responsável pelos fenômenos parapsicológicos autênticos, sendo suficiente para explicar tudo o que não for obra de fraude. Porém, a questão parece quase que se resumir ao fato de que se usa uma palavra, um termo, do qual não se sabe bem a que se refere, para explicar algo que escapa, quase sempre, aos conceitos correntes de realidade a que fomos educados ordinariamente pelo sistema científico atual. Ou seja, usa-se um conceito vago sobre algo cuja pretensa orientação causal escapa ao entendimento atual, procurando-se ajusta-lo a conceitos familiares. Mas a ciência normal mesma dá o exemplo que está menos interessada no porquê dos fenômenos e mais no como estes se dão, os descrevendo e expondo suas associações fenomênicas. Portanto, adotar como explicação dos fenômenos psíquicos como – à exceção das fraudes – causados unicamente pelo inconsciente é tão reducionista quanto dizer que todos eles são causados unicamente por fatores espirituais, ambos os posicionamentos sendo, portanto, radicais.

Cabe, agora, tentar perceber os limites das duas polaridades antagônicas, o extremo mecanicismo (ou o extremo materialismo) e o extremo espiritualismo. Comecemos pelo primeiro.

Será mesmo que é sempre o inconsciente individual (mera palavra que nada explica em termos paranormais se não se estabelecer claramente a sua natureza. Se é um epifenômeno fisiológico, como a bílis é produto ou epifenômeno do fígado, deveria estar limitada às leis convencionais de tempo e espaço que condicionam todos os fenômenos biológicos, mas as faculdades paranormais quebram amplamente estes limites. Se é um ente, como o postula Rhine e Thouless, independente da matéria e que a condiciona – o fator psi -, então caímos nas explicações espiritualistas, apenas adaptadas ao modelo científico contemporâneo e em tentativa de escapar ao clima religioso que a palavra espírito geralmente assume, e o inconsciente nada mais seria que as capacidades do espírito humano dos quais seu ego, em estado de vigília, não tem plena ciência) é responsável pelos efeitos conseguidos? Isso é uma hipótese? Uma teoria científica? Se for, pode ser testada e passar pelo crivo da falibilidade. Se não, temos um dogma, um posicionamento filosófico que propõe uma "explicação" irrefutável, exatamente por não poder ser testada e, ainda mais, por ser indemonstrável.

Vejamos, agora, como os posicionamentos antagônicos dentro dos fenômenos paranormais se expressam nas chamadas fotos transcendentais, onde se inserem as fotografias de fantasmas e as fotografias do pensamento (escotografia).

Fotos de Fantasmas


Ora, geralmente médiuns, sensitivos e paranormais provocam fenômenos ou dão informações que estão bem além dos conhecimentos deles e da assistência. Sem problema, os adeptos reducionistas radicais responsabilizam sempre e unicamente o paranormal, ainda que este aja “inconscientemente” e apontam para a criptestesia (conhecimento adquirido pela percepção extra-sensorial) onde o inconsciente do informante capta a informação existente em algum outro lugar (pela telepatia ou pela clarividência), para o sucesso de seus atos. Se este conhecimento é expresso em algum tipo de ação física, entra em ação a psicocinesia ou telecinesia (capacidade de afetar a matéria pela “mente”).


Bem, a foto acima foi tirada nos Alpes austríacos no final da década de 90. Sem que ninguém esperasse em uma foto tradicional de amigos, aparece um busto de uma pessoa desconhecida de todos, inclusive do fotógrafo, que parece atravessar a mesa. Para os adeptos do inconsciente "paranormal", alguém do grupo teria "inconscientemente" provocado o fenômeno. Mas o problema é que este tipo de argumentação é irrefutável exatamente por não ser provável. Como é que se pode provar que inconscientemente alguém desejava que uma figura aparecesse na fotografia “atravessando” a mesa? E mais, a foto foi batida sem flash, o que levou o fotógrafo logo depois, em segundos, a repetir o processo, e na segunda foto o “busto” já não aparece. Outra, havia um clima de descontração entre as pessoas e ninguém se lembra de ter se esforçado ou desgastado fisicamente (características típica de muitos paranormais que conseguem fotografias do pensamento, como Ted Sérios, geralmente obtendo siluetas ou figuras pouco nítidas) ao bater a foto. Mesmo assim, a desculpa da escotografia é usada e assim pretensamente explica tudo. Veremos, porém, que os poucos casos autênticos conseguidos voluntariamente apresentam características bem distintas dos casos espontâneos de fotografias de fantasmas, ou fotografias espirituais.


O vigário K. F. Lord da Igreja de Newby, perto de Yorkshire, em 1963 apenas queria registrar a foto do altar da Igreja, acabou depois por ver na chapa revelada um fantasmagórico, realmente assustador, espectro, em uma foto hoje famosa (foto acima), no qual aparece uma figura semelhante a um monge (alguns mais impressionáveis dizem que é a figura da morte), em processo de semi-materialização. Mas ai fica a pergunta: como ter certeza de que o inconsciente do fotógrafo estava realmente preocupado, planejando e materializando a foto do fantasma, e por quê? Como se mede o "pensamento" intencional do inconsciente? Como ele atua? Sai da "cabeça" da pessoa (ou alguma outra parte) para dar às caras às câmeras? Como podem eles ter a certeza de que, neste e em outros casos, isso foi fruto da ação do "inconsciente"? Por que ambos os fotógrafos não mais conseguiram repetir fotos semelhantes tendo um inconsciente tão talentoso?

O famoso Pe. Quevedo e seus discípulos (como o Pe. Juarez Farias, Márcia Côbero e outros) usam e abusam do fato de que um americano, chamado Ted Serios, demonstrou suas faculdades paranormais de escotografia em vários experimentos e pretendem que todas as fotografias de fantasmas, quando não são fraudes, seriam nada mais nada menos que escotografias inconscientes. Mas o que Quevedo não diz é que para conseguir as Escotografias (e muita gente acha que nem sempre todas as fotos conseguidas por Serios, geralmente silhuetas, eram autênticas, embora um bom conjunto delas dificilmente sejam explicadas por fraude, ainda que possam ser simuladas artificialmente), Serios se punha em um estado de grande tensão consciente para obter as fotos e, conforme GARCIA FONT, "com as veias prestes a rebentar, a suar e a beber whisky" (MONTAÑOLA, RYZL et al, 1978, vol. 1, p. 264), e freqüentemente punha uma ou as duas mãos em contato com a objetiva da câmera ou encostava a cabeça na lente da câmera. Ao lado esquerdo, uma foto de Ted Serios em ação e, à direita, uma de suas escotografias, de um prédio realmente existente.



A escotografia, portanto, existe, mas apenas em pessoas especialmete dotadas que se esforçam conscientemente para obter as fotos psíquicas. Coisa que não acontece com as fotos de fantasmas. Na maior parte das fotos de fantasmas acidentais, as pessoas não pensavam em obter as figuras, muito menos entravam em um nervoso estado de tensão conscientemente provocado. Aliás, existem fotos obtidas por circuitos internos sem que pessoa alguma estivesse presente, o que já deixa a teoria da escotografia de fantasmas igualmente em cheque: Quevedo e discípulos dizem que sem um sensitivo, paranormal ou qualquer que seja o nome dado, não existem fotos paranormais sem que a pessoa causante esteja presente até pouco mais de 50 metros de distância. Que dizer então da seguinte foto (trecho de um vídeo de um circuito fechado de tv), em um estacionamento vazio pelo circuito interno eletrônico de tv nos Estados Unidos, em uma área de mais de 150 metros, sem que ninguém estivesse presente, onde um fantasma está planando acima dos carros?

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Animismo ou Espiritismo, qual dos dois explica o conjunto dos fatos? Fácil se me tornou responder, nos termos seguintes:

Nem um nem outro logra, separadamente, explicar o conjunto dos fatos supranormais. Ambos são indispensáveis a tal fim e não podem separar-se, pois que são efeitos de uma causa única e esta causa é o espírito humano que, quando se manifesta, em momentos fugazes durante a encarnação, determina os fenômenos anímicos e, quando se manifesta mediunicamente, durante a existência desencarnada, determina os fenômenos espiríticos”
Ernesto Bozzano, Animismo ou Espiritismo?, p. 9

Bibliografia:

BOZZANO, E. Animismo ou Espiritismo? 1995, Feb, Rio de Janeiro
EDSALL, F. S. O Mundo dos Fenômenos Psíquicos. 1999, Editora Pensamento, São Paulo.
MacKENZIE, A . Fantasmas e Aparições. 1986. Editora Pensamento, São Paulo.
MONTAÑOLA, J. R.; RYZL, M. Et al. Enciclopédia de Parapsicologia e Ciências Ocultas. 1978, RPA Publicações Ltda. Lisboa
TEIXEIRA DE PAULA, J. Enciclopédia de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo. 1972. Cultural Brasil Editora, São Paulo

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São Paulo - 450 Anos, Carlos Mirabelli, Marcos Paulo Garcia, Brasil

A biografia abaixo é um resumo do excelente site http://members.tripod.com/~Mirabelli/ de Philippe Piet van Putten. Este resumo tem o objetivo de apresentar o contexto histórico do artigo de jornal transcrito logo na sequência. O artigo publicado no jornal "O Estado de São Paulo" de 18 de maio de 1916 foi localizado em pesquisa no Arquivo do Estado de São Paulo em busca de referências ao Espiritismo na imprensa paulistana.

Biografia de Carlos Mirabelli



Carlos Mirabelli

Carmine Mirabelli nasceu em Botucatú, São Paulo, Brasil, em 2 de Janeiro de 1889. Foi o primeiro filho do casamento do pastor protestante italiano Luigi Mirabelli com Christina Scaccioto Mirabelli. Teve uma irmã, Tereza Mirabelli Eugenio (1891 – 1971).

Perdeu sua mãe muito cedo e se acredita que isto tenha ajudado a desenvolver sua sensibilidade parapsicológica. Em 22 de fevereiro de 1914, logo após a morte de seu pai, e uma completa ruína financeira, Mirabelli ficou doente e uma extraordinária paranormalidade floresceu. Costumava dizer que seu falecido pai era sua “Estrela Guia” espiritual. Não era espírita (uma forma de espiritualismo), mas alegava poder ver os espíritos dos pais, de um tio, de sua sogra e de uma filha.

Mirabelli estudou no Grupo Escolar Cardoso de Almeida, em Botucatú, no Colégio São Luiz, em Itú (SP) e no Colégio Cristovam Colombo, em São Paulo (SP), mas logo deixou a escola. Certa vez, o menino impressionou muito seus professores e colegas ao falar sobre o tema “Evolução e Involução” em puro latim, porém sem conhecer o idioma.

Em 1916, os jornais de São Paulo disseminaram os estranhos feitos do “Homem Misterioso”, também conhecido como Carlos ou Carlo Mirabelli. Em 1914 ele trabalhava para a Companhia de Calçados Villaça quando foi apanhado de surpresa por bizarros fenômenos, semelhantes ao que conhecemos hoje como “poltergeists”. Apenas quando estava presente, os sapatos frequentementes eram vistos saltando das prateleiras por si mesmos ou se movendo como se fossem animados. Mirabelli não compreendia porque isso acontecia, mas muitos clientes horrorizados atribuíam os fenômenos ao Diabo. Mirabelli foi considerado pelas pessoas como possuído pelo demônio e apanhou nas ruas. Sua casa foi apedrejada por fanáticos religiosos.

Ficou internado por 19 dias no Manicômio do Juqueri, sendo constatado pelos Drs. Francisco Franco da Rocha e Felipe Aché que tinha uma “energia nervosa” acima do normal. Com a ajuda de ilustres pesquisadores dos fenômenos psíquicos, como o famoso médico Dr. Alberto de Melo Seabra, Mirabelli se conscientizou da importância de seus raríssimos dons psíquicos e decidiu se submeter a sessões espíritas experimentais.

Diz-se que Carmine Mirabelli podia gerar uma imensa variedade de fanômenos; Acredita-se que muitos dos seus fenômenos resultavam de suas próprias forças psíquicas, sem o envolvimento de entidades espirituais. Mas é sabido que também conhecia alguns ingênuos truques de prestidigitação.

Mirabelli e sua família foram várias vezes vitimados pelos fenômenos. Objetos voavam ao redor e os atingiram em muitas ocasiões. O médium não controlava os fenômenos mas quando ficou mais velho conseguia refrear o fluxo de suas energias psicobiofísicas, reduzindo os riscos.

Mirabelli teve quatro casamentos. Do primeiro com a Sra. Carmem Guerreiro, teve dois filhos, Diva Cristina Mirabelli e Luiz Mirabelli. Do segundo, com a Sra. Edméa de Paiva Magalhães, não teve filhos. Do terceiro, com a Sra. Maria do Carmo Pinto Pacca, nasceu Regene Pacca Mirabelli e do último, com a Prof. Amélia Loureiro, veio à vida César Augusto Mirabelli.

Mirabelli tinha diabete. Apreciava a natureza e gostava de fumar charutos e cachimbos.

O médium foi preso várias vezes acusado de exercício ilegal da medicina, furto e também por perseguições políticas, mas mesmo na cadeia fascinava as pessoas com seus incríveis fenômenos e com sua generosidade. Era muito eloquente e comunicativo.

Por certa fase de sua vida Mirabelli chegou a cobrar por seus serviços mediúnicos, desagradando os espíritas.

Por muitos anos, o médium só conseguia dormir em quartos iluminados. Temia a ocorrência de fenômenos desagradáveis enquanto dormia.

Ao contrário do que muitos imaginam, Mirabelli não perdeu seus estranhos dons ao ficar velho e doente. Existem relatos de que os fenômenos foram observados até 1950, poucos meses antes de sua morte.

Na segunda-feira, 30 de abril de 1951, Carmine e seu filho César Augusto tinham saído de casa, que ficava em São Paulo, SP, à Rua Antonio Lourenço 106. O médium resolveu atravessar a Av. Nova Cantareira para comprar leite, enquanto o menino ficou conversando com um engraxate. Subitamente “um Ford preto 1938” segundo as recordações de César, surgiu de uma esquina e atropelou o pai, colocando-o num permanente estado de coma. Segundo o atestado de óbito, assinado pelo Dr. Souza Lima e registrado no Cartório Jardim Paulista, Mirabelli teve fratura no crânio e faleceu no Hospital das Clínicas de São Paulo.

O corpo de Carmine Mirabelli foi sepultado na tarde de 1º de maio de 1951 na humilde campa 155, da quadra 27, no Cemitério São Paulo.


Médium ou Prestimano ?


Jornal "O ESTADO DE SÃO PAULO", 18 de maio de 1816

Ultimamente os jornais tem-se ocupado muito dos fenômenos espíritas. É natural a despeito de se tratar de coisas espantosas. Um aspecto novo parece querer obrigar a humanidade a convencer-se de sua condição frágil e da eterna verdade de que os sábios trocariam com muito prazer o que sabem, por tudo aquilo que ignoram.

Nem todos os enigmas da vida, é claro, conservam até o fim o seu profundo mistério. Alguns, porém, não conseguem ser explicados pelas próprias pessoas que os consubstanciam.

O Sr. Carlos Mirabelli, que se acha em São Paulo há algumas semanas, é objeto de estudo de alguns apaixonados das ciências ocultas.

O Sr. Carlos Mirabelli é um homenzinho de barba romântica, olho aceso e face emaciada, Vimo-lo uma noite, numa residência particular no meio de um auditório cheio de silêncio e de ansia, que aguardava o momento bendito em que iam chegar as correntes fluidicas.

Quando entramos, olhou-nos e a nosso companheiro com uma expressão de enfado. Quinze minutos depois pedia ao dono da casa que nos levasse para outra sala, visto como o nosso cepticismo, estava sendo um obstáculo à manifestações dos fluidos vitaes. Saimos e fomos nos juntar a um grupo de pessoas que estavam num largo aposento, onde o médium devia exibir as forças magnéticas de que se diz dotado.

Afinal, esta noite o Sr. Mirabelli não fez mais do que os que fizeram seus convidados. As vezes levantava-se, agitava o frak curto, enfiava os longos dedos pela farta cabeleira, olhava para nós meio que desconfiado e acabava dizendo:

"- A coisa não quer vir mesmo ..."

Não obstante o negativismo de alguns, pessoas entre as que formavam o auditório, afirmaram-nos que o médium era uma criatura excepcional tendo realizado na sua presença coisas espantosas. O fato de não poder naquela noite operar uma reprodução era comum.

Quando os sentimentos de simpatia não se irmanam os fenômenos deixam de produzir-se. Isto nos veio convencer de que todos os presentes estavam com a pulga atrás da orelha. ...

Depois desta noite o Sr. Mirabelli parece ter-se reabilitado perante alguns daqueles cavalheiros que tanto desejavam assistir ao desenvolvimento dessas forças ocultas. Fez, ao que dizem, descer vários copos que havia em cima de uma mesa, vindo os mesmos parar no assoalho com lentidão e leveza. Com um olhar fez despencar uma ruma de papéis, mover um lápis dentro de um copo, caminhar por seus próprios pés algumas cadeiras.

Isto espalhou-se logo pela cidade e nestas três últimas semanas as façanhas do Sr. Mirabelli são a questão magna, o assunto de todas as conversações.

Todavia, nem todos acreditam nas maravilhas do Sr. Mirabelli.

Vamos ver o que o homem faz diante desse desafio, que chega até a formidável acusação de terem nossos colegas "encontrado um dos instrumentos com que logrou ele gozar de prestígio".

Que instrumento seria esse ?

(não há indicação do autor do artigo)
ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO
CÓD. 01.02.038 - O Estado de São Paulo - 1916

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Questões e Comentários 

Fecundação e Concepção, Eduardo Brito, Brasil 

(Referente ao comentário sobre a união da alma ao corpo, publicado no Boletim 472)
Prezado Jose Maria:
 
Achei interessante os seus questionamentos a respeito da união do espírito com o corpo. Muita vez, o problema do entendimento encontra-se na forma como nos expressamos. No nosso idioma, existem palavras que podem ter vários significados e em outras oportunidades, palavras diferentes para o mesmo significado.No caso específico, pelo que me parece, concepção e fecundação têm o mesmo significado de acordo com o Dicionário Aurélio e Houaiss e com o Professor de Obstetrícia Jorge Rezende.
 
Fecundação - (Aurelio) [De fecundar + -ção.] S. f.

     1.  Ato ou efeito de fecundar ou de ser fecundado.
     2.  Biol. Forma de reprodução sexuada; fertilização, concepção. 
 
Concepção - (Houaiss) -  s.f. (sXV cf. IVPM) ato ou efeito de conceber 1 ação ou efeito de gerar (ou ser gerado) um ser vivo, em conseqüência da fusão do espermatozóide com o óvulo; fecundação, geração <a c. de um filho>.

Em seu livro Obstetrícia Fundamental, o Professor Jorge Rezende da Faculdade de Medicina UFRJ, na pg. 21 refere-se à fecundação da seguinte forma:

"Fecundação (fertilização ou concepção) é a fusão dos gâmetas, células haplóides, restabelecendo o número diplóide de cromossomos e constituindo o ovo ou zigoto..."

Dessa forma, não nos deixa qualquer dúvida que concepção e fecundação na realidade são sinônimos e que realmente existe a união do espírito com o corpo no instante do encontro do óvulo com o espermatozoide.

Muita Paz: 
Eduardo Brito P. de Melo

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Painel

Peça em Comemoração ao Bi-Centenário de Kardec

Allan Kardec em Cena

Companhia Espírita de Artes Cênicas leva peça em Comemoração ao Bi-Centenário de Kardec ao Interior do Estado

A peça teatral " Rivail, Um homem de Seu Tempo" que teve sua estréia no dia 04 de outubro do ano passado, após apresentar-se na sede da Comunidade Arte e Paz e em outros Centros Espíritas, arruma as malas com destino ao interior do Estado para participar das comemorações do Bi-Centenário de Allan Kardec.

Com uma agenda já cheia para o primeiro semestre, a peça pretende apresentar-se até 03 de outubro deste ano quando deverá fechar o ciclo das comemorações.

A peça, tendo se apresentado no último Encontro Estadual de Espiritismo, em Salvador surpreende com o colorido, leveza e alegria, sensibilizando o público ao tempo em que também o informa.

Os fatos marcantes da vida do codificador estão presentes em tons de familiaridade e humanização que permitem ao público conhecer não apenas a história do nascimento do Espiritismo mas, e principalmente, se envolver com as suas personagens compreendendo a importância da Doutrina dos Espíritos.

Cidades interessadas em levar a peça devem fazer contato urgente.

 Acompanhe a agenda do grupo: 

Maio 

      9 - Bonfim
    15- Periperi - Salvador
    21 - Itabuna
    22 - Eunápolis
    23 - Teixeira de Freitas
    30 - Itapuã - Salvador 

COMUNIDADE ARTE E PAZ


A Comunidade Arte e Paz é uma instituição espírita fundada em 1 de maio de 2003, em Salvador, Bahia, e tem como princípio fundamental a utilização da expressão artística como instrumento do estudo e prática da Doutrina Espírita.

Está instalada em sua sede provisória na Rua do Tingüí, 151, no Campo da Pólvora e realiza atividades doutrinarias, de estudo e prática da mediunidade e ação social, sempre buscando a inclusão da arte no processo de realização das atividades.

Na área artística, mantém a Companhia Espírita de Artes Cênicas, que realiza continuadamente peças teatrais de caráter espírita no circuito profissional e alternativo da cidade de Salvador. 

 Informações:

Comunidade Arte e Paz
Rua do Tingüí, 151 - Campo da Pólvora  Salvador - Ba
CEP 40040380 Tel. (71) 321-3002
Email 
arteepaz@terra.com.br

Coordenador da Companhia Espírita de Artes Cênicas:
Edmundo Cezar
Tel 4090451
Email
edmundocezar@terra.com.br


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Citação do GEAE na revista "Religiões"

O GEAE foi citado na revista "Religiões" da Editora Abril do mês de abril. O texto reproduz um comentário de membros do GEAE referente ao questionamento "O que é Alma?":

Um ponto em que os credos divergem, por exemplo, é em relação à  imortalidade da alma. A maioria das religiões. como no caso do Catolicismo, Espiritismo e Islamismo, crêem que ela sobrevive à morte, pois se trataria de uma entidade independente do corpo. "A concepção de alma denota a existência de algo individual, imaterial e dotado de vida no plano espiritual", afirma Raul Franzolin Neto, fundador do Grupo de Estudos Avançados do Espiritismo (GEAE) (sic). Ela representaria o princípio inteligente do universo, em oposição ao aspecto material igualmente criado por Deus. "I que somos em nossa essência independe da matéria e, dessa forma, não desaparece com a sua desfragmentação", diz Ademir Xavier, membro do conselho editorial do GEAE. 

O trecho pode ser encontrado na edição do mês de Abril que compõe o conjunto da "Super Interessante".

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O Espiritismo na Nova Zelândia

Amigos,

Elsa Rossi, do Conselho Espírita Internacional (ISC European Bulletin - Departement d'Unification - ISC Europe), nos informou que foi criado um grupo espírita na Nova Zelândia. É um grupo familiar, de estudos do Evangelho:

GOSPEL AT HOME IN NEW ZELAND
(EVANGELHO NO LAR NA NOVA ZELANDIA)
Guaraciara and  Elbert Maia
Contact Tel: 60 9 534-0006
Mobile: 64 9 021 12 87120
e-mail: guamaia@uol.com.br

Aproveitamos para lembrar aos amigos que estão em regiões onde não há grupos espíritas próximos, que entrem em contato com o Conselho Espírita Internacional, pois ele tem procurado aproximar os espíritas espalhados pelos diversos cantos do mundo e incentivar a criação de grupos familiares. A importância da criação destes grupos é imensa, basta citar o exemplo da Finlândia, onde não existiam grupos espíritas organizados e que após a criação de seu primeiro grupo familiar, há pouco mais de um ano, já viu o surgimento de um segundo.

Muita Paz,
Carlos Iglesia

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GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS

O Boletim GEAE é distribuido por e-mail aos participantes do Grupo de Estudos Avançados Espíritas
Inscrição/Cancelamento - inscricao-pt@geae.inf.br

Informações Gerais - http://www.geae.inf.br/pt/faq
Conselho Editorial - editor@geae.inf.br
Coleção dos Boletins em Português - http://www.geae.inf.br/pt/boletins
Coleção do "The Spiritist Messenger" - http://www.geae.inf.br/en/boletins
Coleção do "Mensajero Espírita" - http://www.geae.inf.br/el/boletins