Boletim GEAE

Grupo de Estudos Avançados Espíritas

http://www.geae.inf.br

Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec

Ano 11 - Número 461 - 2003            12 de agosto de 2003

 

Editorial

A Lei do Progresso, Espírito Protetor, Revista Espírita


Artigos

Entrevista com Elsa Rossi

História & Pesquisa

O Arquivo ou Indício de Uma Falta, Henry Rous, Revista de Estudos Históricos

Thomas Edison e sua Certeza na Sobrevivência da Alma, Site Consciência Espírita


Questões e Comentários

Sobre o chamado "planeta chupão", Olga, Brasil

Painel

Camilo Castelo Branco: Um Estudo de Fontes à Luz do Espiritismo, Carlos Luiz Cruz, Brasil




Editorial

   

A Lei do Progresso, Espírito Protetor

Revista Espirita, Janeiro de 1863. In Dissertações Espíritas (dissertações recebidas ou lidas por vários médiuns na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas), páginas 26-27, medium Sr. Emile V..., - Nota: Esta comunicação foi recebida na sessão geral presidida pelo Sr. Allan Kardec. - Editora Cultura Espírita EDICEL, trad. Julio Abreu Filho. - Os Editores
Parece, se se considera a humanidade em seu estado primitivo e em seu estado atual, quando sua primeira aparição na terra marcava seu ponto de partida e agora, que percorreu uma parte do caminho que leva à perfeição, parece, dizia eu, que todo bem, todo progresso, toda filosofia, enfim, não possa nascer senão do que lhe é contrário.

Com efeito, toda formação é o produto de uma reação, assim como todo efeito é gerado por uma causa. Todos os fenômenos morais, todas as formações inteligentes são devidos a uma momentânea perturbação da inteligência mesma. Apenas na inteligência dois princípios devem ser considerados: um imutável, essencialmente bom, eterno como tudo o que é infinito; outro temporário, mementâneo, simples agente empregado para produzir a reação de onde sai cada vez a progressão dos homens.

O progresso abraça o universo durante a eternidade e jamais é tão espalhado como quando se concentra num ponto qualquer. Vós não podeis abraçar com o olhar a imensidade do que vive, consequentemente do que progride. Mas olhai em redor de vós: que é o que vêdes?

Em certas épocas – pode dizer-se em momentos previstos, designados – surge um homem que abre uma vida nova, que escarpa os rochedos áridos de que se acha semeado o mundo conhecido da inteligência. Por vêzes tal homem é o ultimo entre os humildes, entre os pequenos; contudo penetra nas altas esferas do desconhecido. Arma-se de coragem, pois esta lhe é precisa para lutar corpo a corpo com os preconceitos, com os usos herdados; é-lhe necessária para vencer os obstáculos que a má fé semeia sob seus passos, porque enquanto restarem preconceitos a derrubar, restarão abusos e interêsses nos abusos; é-lhe necessária porque deve lutar, ao mesmo tempo, contra as necessidades materiais de sua personalidade, e sua vitória, nêste caso, é a melhor prova de sua missão e de sua destinação.

Chegado a este ponto, em que a luz se escapa forte do círculo do qual é o centro, todos os olhares se voltam para ele; ele se assimila todo o princípio inteligente e bom; reforma e regenera o princípio contrário, a despeito dos preconceitos, da má fé, das necessidades; chega ao seu objetivo, faz a humanidade transpor um grau e conhecer o que não era conhecido.

Tal fato já se repetiu muitas vêzes e repetir-se-á muitas outras, antes que a terra tenha atingido o grau de perfeição que convém à sua natureza. Mas, tantas vêzes quantas forem necessárias, Deus fornecerá a semente e o trabalhador. Êsse trabalhador é cada homem em particular, como cada um dos gênios que a ilustram por uma ciência às vêzes sobrehumana. Em todos os tempos houve êsses centros de luz, pontos de ligação; e o dever de todos é aproximar-se, ajudar e proteger os apóstolos da verdade. É o que o Espiritismo vem dizer ainda.

Apressai-vos, pois, vós todos sois irmãos pela caridade. Apressai-vos e a felicidade prometida à perfeição vos será concedida muito mais cedo.

Espírito Protetor

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Artigos


Entrevista com Elsa Rossi

Elsa Rossi participa do "Grupo Espírita de Brighton" no Reino Unido e é responsável pelo "Departamento de Integração para os países da Europa" da Coordenadoria Europa e também dos boletins da coordenadoria e do Conselho Espírita Internacional.
GEAE - Gostariamos inicialmente de agradecer-lhe a gentileza em nos conceder esta entrevista e pedir que nos falasse um pouco de sua história pessoal. Como foi seu primeiro contato com o Espiritismo e quais os eventos que a levaram a participar do movimento espírita europeu ?

Elsa - Em 1968, a esposa do dr. Napoleao de Araújo, da Federação Espírita do Paraná falou-me pela primeira vez da Doutrina Espírita. (Dona Elci, desencarnou em janeiro deste ano 2003). Naquele tempo, era eu muito católica. Conheci meu esposo, Luis, de família espírita. Em 1971 casamos na igreja católica e ele concordou em batizar nossos filhos. Ao nascer a minha terceira filha, hoje com 28 anos, desabrochou em mim a mediunidade. Assustada, tive de aceitar ir a uma Casa Espírita. Desde então, um mundo novo surgiu. A Doutrina Espírita adentrou ao meu coração e fez eterna morada.

Quando meu esposo desencarnou em 1991, em Curitiba, meu filho já cursava a faculdade. Fui convidada pelo então Presidente da FEP, a assumir o Depto. De Assistência Espírita da Federação Espírita do Paraná.  No mesmo ano, assumi o cargo de Presidente da Fundação Hildebrando de Araujo, ligada a FEP, onde atuamos por 5 anos.Também assumimos a vice-direção da Creche Josefina Rocha da FEP. Éramos uma das coordenadoras do Grupo da Juventude Espírita do Centro Espírita que frequentávamos. Como rotariana, fui diretora da Avenida de Serviços a Comunidade do Rotary Club Curitiba. Nesta oportunidade, apoiada pelos companheiros, criamos a Campanha do Desarmamento Infantil, onde conseguimos motivar a comunidade colocando claramente nossos objetivos como espírita. Éramos respeitada e tínhamos a colaboração e credibilidade dos 3 poderes, para tal. O Objetivo era: concientizar pais de não darem armas de brinquedos, e tambem trocar armas de brinquedos nas escolas, por livros, bolas e bonecas. Posteriormente, um vereador rotariano conseguiu que o dia 21 de Novembro fosse O DIA DO DESARMAMENTO INFANTIL, no calendário do Paraná.

Enquanto na FEP, aproveitávamos nossas viagens de férias ao exterior para levar o Jornal Mundo Espírita aos grupos nos países que visitávamos. Quando não havia grupo espírita, deixávamos informação espírita em grupos espiritualistas ou de parapsicologia, como aconteceu em abril de 1992 em Istambul na Turquia.  Outra coisa que fazíamos e ainda fazemos, é esquecer O Livro dos Espíritos e o Evangelho Segundo o Espiritismo, em inglês, nos aeroportos, estações de trens.

A Doutrina Espírita despertou em mim a preciosidade do tempo.  No final de 1992 viemos novamente a Europa, para o Congresso Mudial Espírita realizado em Madrid. Trouxemos 200 exemplares do Jornal da FEP-Mundo Espírita distribuindo-os gratuitamente. Na ocasião  fizemos a primeria entrevista com Nestor Masotti e Rafael Gonzalez Molina. Neste evento conhecemos muitos amigos de outros países.  Posteriormente continuamos nossos contactos. Me lembro do Santiago Gene Mateu de Reus na Espanha; da família Bergman da Suecia; da Janet Duncan, que eu já conheca do Brasil, Juan Durante da Argentina, Roger Perez da França, o Domenico Romagnolo da Italia, amigos da Guatemala, da Colombia, entre outros tantos.

Em 1997, por 2 meses fiquei na Inglaterra para estudar inglês. Frequentava o Allan Kardec Study Group. Daí para o envolvimento com os amigos que eu já conhecia e participar do Movimento Europeu, foi rápido. Hoje estou colaborando como responsável pelo departamento de Integração para os Países de Europa, o Boletim Trimestral uropeu e o Boletim Informativo do CEI geral. Em 1998 transferi-me para Inglaterra, pouco depois minha filha veio tambem.

GEAE - Qual é o papel do "CONSELHO ESPIRITA INTERNACIONAL" no movimento espírita? Por favor nos fale de sua história e dos grupos que o compõe ?

Elsa - O CEI é o organismo resultante da união, em âmbito mundial, das Associações Representativas dos Movimentos Espíritas Nacionais.  Foi criado em 1992, em Madrid. Hoje, passados apenas 10 anos, conta com 24 países membros. Tem oferecido o apoio a todos os países, seja na forma de visitas, seja na produção de material apostilado, em inglês, francês, espanhol e português, como tambem os folders CONHEÇA O ESPIRITISMO em 12 idiomas. O Secretário Geral do CEI tem editado e impresso esse material, fornecendo gratuitamente a todos os membros e outros que estão em vias de se filiar. O crescimento do CEI resultou na estruturação de 4 Coordenadorias de Apoio que hoje realizam muito bem o seu papel. Há uma maior aproximação entre os países, resultado do trabalho fraterno e constante do CEI, a nível mundial.

GEAE - Qual é o papel da "Coordenadoria da Europa" dentro do CEI ? Existem outras coordenadorias para outras regiões geográficas ?

Elsa – Em 1997 foram criadas as duas Coordenadorias Américas e Europa. Em 1998 aconteceu a primeira reunião de implantação da Coordenadoria de Apoio aos Países da Europa e desde então, nosso estimado Roger Perez é o Coordenador.  Está  estruturada em vários departamentos que podem ser observados no web site www.isc-europe.org  e vem atendendo muito bem aos seus propósitos de apoiar e estimular a unificação.  Em fevereiro de 2002, durante a reunião do Conselho Espírita Internacional realizado em Brasília,  foram implantadas as Coordenadorias da América do Norte, América Central e América do Sul.   Temos notícia de que Leon Denis está coordenando do Mundo Espiritual, o Movimento Espírita Europeu e Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, a nível mundial.

GEAE -  Nos parece que o Reino Unido deva ser um caso bem particular dentro do movimento espírita. Não só o "Espiritualismo Moderno" contou, desde seus primeiros dias no Império Britânico, com grandes médiuns e divulgadores de renome como Sir Arthur Connan Doyle, como ainda tem representatividade dentro de sua cultura. Como é o movimento espírita no Reino Unido? E seu relacionamento com os grupos espiritualistas que aí existem ?

Elsa - No meu ponto de vista particular, aqui em UK o movimento essencialmente espírita é bom. A grande maioria dos espíritas somos brasileiros, espanhóis, portuguêses que aqui residimos. Alguns inglêses apenas. Quanto aos espiritualistas, eles ja tem a convicção deles. Eles vem por anos e anos sendo espiritualistas, não precisam mudar. Nem contamos com isso.  Um ou outro espiritualista é que encontra na Doutrina Espírita maiores esclarecimentos. O nosso trabalho não é trazer os espiritualistas para os grupos espíritas. Como voce mesmo menciona na questão: o Espiritualismo Moderno é anterior à Codificação. O Espiritualismo tem duas correntes: Os que aceitam e os que não aceitam a Jesus e a reencarnação.  Nós espíritas, podemos oferecer uma Doutrina de Amor e Luz a quem é solitário dentro da multidão, que sofrem por não ter fé, não ter uma crença em Deus, e outros que desejem explicações filosóficas do “existir”. Nossos grupos estão abertos a todos os que desejem conhecer a Doutrina Espírita. A preocupação não é tornar os outros “espíritas” mas oferecer a mensagem de Jesus: “Fazer a outrem o que queremos que nos façam”, procurar exemplificar a  “Caridade, amor em ação”, reforma íntima, etc... com isso, os que desejarem continuar frequentando os grupos, estudando a D.E., bom para eles.

GEAE - Uma questão que naturalmente surge é qual a influência do movimento espírita brasileiro no atual cenário do Espiritismo no mundo. Comparando-se o movimento espírita europeu do final do século XIX - por exemplo o trabalho de divulgação empreendido por Leon Denis na França ou o de Amalia Domingo Soler na Espanha - com o atual, há diferenças significativa de idéias ou de posturas ? Há bases para se dizer que o atual movimento espírita é mais ou menos cientificou, mais ou menos filosófico, mais ou menos religioso e que isso se deva a influência brasileira ?

Elsa - Cada povo tem sua iodiossincrasia. Respeita-se tudo e todos. No Brasil temos maior facilidade de absorver o lado religioso, seja da Doutrina Espírita ou outra religião.  Na Europa, observa-se que a palavra religião ainda causa um distanciamento. Em nome da religião aconteceram séculos de barbarismos. A marca da inquisição ainda está presente na psicosfera de muitos países europeus, mas nem mesmo eles sabem disso. A prova é que muitos se dizem agnósticos, não acreditam em Deus, muitos nos dizem claramente isso.  Então, o lado científico, filosófico e moral facilita a aproximação da religação com Deus.

GEAE - Outra questão que se apresenta naturalmente, talvez consequência da anterior, é se há diferenças culturais significativas na percepção do que significa ser "religioso" ? Caso exista esta diferença, como o CEI lida com ela ?

Elsa – Nos baseamos no discurso de Allan Kardec, feito no dia 1º de Novembro de 1868, na abertura da Sociedade de Paris.Esclarecemos a quem está interessado em saber, que a religião espírita não tem a mesma definição  tal como a palavra religião é conhecida. Explicamos que a religião na Doutrina Espírita não traz os formalismos das igrejas, não tem ritualismos. Que a Doutrina Espírita nos convida a uma reflexão para a melhoria em nosso comportamento, mas ela, a Doutrina Espírita nada impõe. Explico que a palavra religião para nós espíritas é a  simplicidade de entender que Deus está em nossa consciência e em nosso coração. E Ele é Amor. E pelo Amor, a Ele nós nos ligamos, ou religamos.

GEAE - Quais são os canais de comunicação utilizados pelo CEI na divulgação da mensagem espírita ?

Elsa – Divulgamos em Boletins do CEI que realizam-se as quartas feiras reuniões pelo TIVEJO e pelo MSM. No Tivejo, Sala Espiritismo.  Brevemente estará disponibilizado o novo web site, cujo layout está sob  a responsabilidade de Luis Hu.  http://www.spiritist.org

A internet hoje é um canal muito bom para a divulgação das atividades e informações formativas espíritas. Disponibilizam-se livros espíritas, mensagens em vários idiomas. Lentamente os países membros e não membros do CEI vão se estruturando para poder acessar a internet. Sabemos que isso tem um custo, mas com paciência, respeito e ajuda mútua, já podemos dizer que praticamente todos os países se comunicam uns com os outros pela Internet. Tirando a barreira da língua, o que acontece ainda é a falta de um melhor conhecimento no uso deste veículo, prevenindo-se contra os vírus. Vigiai e orai!

GEAE - Como estão os esforços de tradução das obras espíritas nos vários idiomas?

Elsa - O esforço é muito grande.

GEAE - Quais são as linguas utilizadas pelo CEI ?

Elsa - As oficiais: Ingles, Portugues, Frances, Espanhol e Esperanto.

GEAE - E quanto ao Esperanto, como é visto pelo CEI e pelos grupos que o compõe?

Elsa - Em todas as reuniões há o esforço por parte do CEI para estimular os representantes dos países que estudem o Esperanto. Nada se impõe.  A liberdade de cada um deve ser respeitada.

GEAE - Quanto a mediunidade, qual é o papel que desempenha nos grupos espíritas ligados ao CEI ?

Elsa - Como em qualquer outro grupo espírita em qualquer país. De um modo geral, os grupos espíritas membros da instituição nacional nos países estão bem estruturados, e vemos que a cada passo, mais grupos estão se tornando membros, fortalecendo a união em toda a parte. Isso alegra a todos nós, que nos consideramos uma grande família espírita mundial.

GEAE - Há formação de médiuns nestes grupos e como ela se dá ?

Elsa - Cada grupo tem suas necessidades. Se existem número representativo de pessoas que já são espíritas, continuam o estudo do Evangelho, o Livro dos Espíritos, já estudam o Livro dos Médiuns, então já estão preparadas para realizar a reunião mediúnica, se houver médiuns e doutrinador para essa tarefa de caridade. Existem cursos preparatórios para a educação dos médiuns, isso é de conhecimento de todos. Praticamente todas as casas espíritas e grupos espíritas do exterior tambem conhecem livros de estudo da Mediunidade. O COEM abriu um campo muito bom nesta área de preparação dos médiuns.  Janet Duncan tem todo o COEM em ingles.

GEAE - Há grupos sem médiuns e como eles se organizam ?

Elsa - Como em qualquer outro grupo espírita em qualquer país. Um grupo espírita em formação não tem necessariamente de começar com um grupo mediúnico. Após um tempo para estudos e vivências,  harmonização das pessoas, então os grupos que podem, se preparam para o estudo da mediunidade e se tornam trabalhadores na área.  É uma caridade que, em se podendo fazer com respeito e cuidados, é sempre maravilhoso.

GEAE - O que deve fazer alguém que procura um grupo espírita em um país diferente do seu ou quando não existe um grupo no local em que se reside ?

Elsa - Disponibilizamos no web site http://www.isc-europe.org   os endereços de praticamente todos os grupos espíritas na Europa. Pedimos sempre que os países que nos enviem as atualizações dos endereços. Informamos o grupo espírita mais próximo. Ou então, como exemplo, ajudamos a divulgar o endereço da pessoa como “EVANGELHO NO LAR na Finlandia” , ou tal cidade. Com isso aparecerem em pouco tempo, mais pessoas mesmo que residam em cidades diferentes, mas que possam se reunir nem que seja uma vez por mes para estudar a Doutrina Espírita. Não se pode comparar com o Brasil.

GEAE - È recomendável a criação de grupos familiares ?

Elsa - Sim. Sempre começamos por um grupo familiar. Iniciamos o Evangelho no Lar, com familiares e amigos e quando já está mais estruturado, inicia-se o Grupo Espírita. E assim vão aparecendo mais pessoas e o grupo se fortalece, nomina-se o Grupo e cria-se o estatuto de acordo com a lei do país e pronto.

GEAE - E quanto a realização de sessões publicas, que cuidados que devem ser observados ?

Elsa - Os mesmos cuidados aplicados a qualquer grupo que se dispõe a abrir as portas ao público. Seja no Brasil ou outro lugar. A única observação que fazemos, é que  é muito importante oferecermos os trabalhos na língua do país onde estamos trabalhando a divulgação da D. E., dentro das normas legais do país.

GEAE  - Quais as recomendações relativas ao problema do idioma e das barreiras culturais ?

Elsa - Se estamos no país que nos acolhe e onde estamos plantados, nele devemos florescer. É nossa obrigação aprendermos essa língua e divulgarmos a Doutrina Espírita a quem deseja,  na sua língua nativa. Para poder me comunicar com alguns países que não falam o português, o inglês ou o espanhol, continuo aprendendo o Esperanto.

GEAE - Quais são os melhores caminhos para divulgar a Doutrina Espírita em uma localidade que ainda não a conheça ?

Elsa - Aproveitando a oportunidade quando em conversa com amigos, no trabalho, na escola, etc... Em sendo possível, realizar palestras públicas, com uma boa divulgação prévia. Se forem palestrantes como nosso querido Divaldo Franco que há muitos anos vem divulgando a Doutrina Espírita no exterior, aqui em UK as palestras são sempre traduzidas ao inglês. Uma boa divulgação atrai o público interessado.

GEAE - Há grupos espiritualistas afins que possam contribuir neste esforço ?

Elsa - Os espiritualistas, pelo menos aqui em Brighton, comparecem às palestras espíritas públicas, quando elas acontecem. Normalmente realizamos uma por ano, por enquanto. Passado a palestra, continuam nas suas igrejas espiritualistas. Ótimo, ja tem sua religião, sua filosofia de vida, sua doutrina.

GEAE - É válido pensar-se em trazer palestrantes e médiuns de outras localidades?

Elsa -Aqui em UK, a BUSS, orgão que congrega os grupos espíritas britânicos, tem sempre o cuidado de convidar os conferencistas já conhecidos, ou que se conhece em Congressos Mundiais, ou ainda indicados. Assim temos a certeza de termos bons resultados com o empenho em trazer esses conferencistas, a nível de país.

GEAE - Finalizando a entrevista, gostaria de perguntar-lhe quanto ao futuro. Quais são os planos do Conselho Espírita Internacional para médio e longo prazo ? Como o CEI vê o futuro do movimento espírita internacional ?

Elsa – Quem pode responder melhor a questão é a Comissão Executiva do CEI. O CEI, dado ter apenas quase 11 anos de sua criação, já  completou várias metas de seu planejamento. Realizou 3 Congressos Mundiais e estruturou Coordenadorias. A prioridade é a unificação e isso vem acontecendo. A curto prazo o CEI tem a realização do IV Congresso Espírita Mundial – Paris 2004.

Nestor Masotti, Secretário Geral do CEI, vê com bastante tranquilidade e positividade. Da união de todos, do reto proceder, das boas intenções, da fraternidade, só podemos esperar bons resultados. Voltemos nosso coração ao Evangelho, com tolerância, união e muito amor pela causa espírita. Na última reunião do CEI Europa, na Suécia em maio, foram momentos de tanta luz, tanta união, tanta comprensão, que ao retornar aos nossos países, era como se deixássemos para trás, parte de nossa família e já sentíamos saudades da presença de todos. Assim é o CEI, uma grande família. Os que puderem, visitem e divulguem os web sites do CEI e Coordenadorias: http://www.spiritist.org

GEAE - E no âmbito da Coordenadoria Europa ?

Elsa - Nosso querido amigo Roger Perez, presidente da União Espírita Francesa e Francófona e Coordenador do CEI na Europa desde sua implantação,  no último Editorial do Boletim 18 da Coordenadoria Europa do CEI, escreveu uma bela mensagem, que responde a sua pergunta. Vale a pena conferir: http://www.isc-europe.org  ou http://www.spiritismo.info.




Spiritist Group of Brighton

 
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História & Pesquisa


(Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas" -  Comitê Editorial da LIHPE)

O Arquivo ou Indício de Uma Falta, Henry Rous, Revista de Estudos Históricos

(O texto de Henry Rous, na tradução de Dora Rocha, foi publicado em 1996 no número 17 da Revista de Estudos Históricos do CPDOC e da Fundação Getulio Vargas. O texto está disponível no site http://www.cpdoc.fgv.br/revista/asp/dsp_edicao.asp?cd_edi=35  e nos foi enviado por Mirian Hermeto)
Desde o surgimento, no século XIX, do método crítico e do historiador profissional, a questão do "arquivo" não mais deixou de ocupar um lugar central nos debates historiográficos. A evolução da história, que se tornou uma disciplina que recorre aos métodos das ciências sociais, especialmente a entrevista, e o surgimento recente de uma "história do tempo presente", que implica a confrontação direta e o diálogo permanente com os vestígios vivos do passado - a memória dos atores -, modificaram de alguma maneira o debate clássico sobre a noção de "arquivo". A isso veio se somar uma mudança radical no plano epistemológico, com o aparecimento, nos últimos trinta anos, de paradigmas que negam à história sua pretensão de captar o real, definindo-a como - e às vezes reduzindo-a a - uma narrativa subjetiva, na qual o estabelecimento da prova, portanto o uso do arquivo, não constitui mais a base na qual ela pode legitimamente se apoiar.

Mas, ao mesmo tempo, o desejo cada vez mais explícito na opinião pública de uma história "positiva", baseada em provas irrefutáveis, especialmente para períodos ou acontecimentos trágicos do século XX, tem incessantemente acuado os historiadores, obrigando-os a uma abordagem cada vez mais prudente dos arquivos, remetendo-os mais uma vez a uma pergunta ancestral e contudo incontornável: como chegar à verdade do passado, se é que isso é possível? Basta ver o vigor dos debates recentes, seu caráter irracional, carregado de ideologia, ou até mesmo de fantasias, sobre os arquivos contemporâneos, sua inacessibilidade real ou presumida, a expectativa em relação a eles, para compreender que o problema ultrapassa o meio dos arquivistas, dos conservadores ou dos historiadores e tem a ver hoje em dia com o espaço público mais amplo. Isso fica especialmente claro em relação à história da Segunda Guerra Mundial ou à do sistema soviético, cuja queda acarretou um súbito acesso (ainda assim limitado) a jazidas documentais que durante décadas se acreditou estarem enterradas para todo o sempre nas gavetas secretas das burocracias totalitárias. Em outras palavras, exatamente no momento em que toda uma corrente intelectual, inscrita na "pós-modernidade", denunciava a possibilidade de uma restituição objetiva do passado, baseada em vestígios tangíveis, a demanda social por uma história que diga a verdade, que exija uma maior "transparência" em relação aos arquivos mais recentes, tornou-se cada vez mais premente.

Essa tensão contemporânea nem por isso relega à feira de antiguidades as questões tradicionais suscitadas pelo uso de arquivos. Ao contrário, essas questões podem permitir, num certo sentido, reenquadrar os termos do debate. A utilização de um "arquivo" pelos historiadores só pode ser compreendida sob a luz da noção de "fonte". Chamaremos de "fontes" todos os vestígios do passado que os homens e o tempo conservaram, voluntariamente ou não - sejam eles originais ou reconstituídos, minerais, escritos, sonoros, fotográficos, audiovisuais, ou até mesmo, daqui para a frente, "virtuais" (contanto, nesse caso, que tenham sido gravados em uma memória) -, e que o historiador, de maneira consciente, deliberada e justificável, decide erigir em elementos comprobatórios da informação a fim de reconstituir uma seqüência particular do passado, de analisá-la ou de restituí-la a seus contemporâneos sob a forma de uma narrativa, em suma, de uma escrita dotada de uma coerência interna e refutável, portanto de uma inteligibilidade científica.

Se admitirmos essa definição inicial, o "arquivo" no sentido comum do termo, isto é, o documento conservado e depois exumado para fins de comprovação, para estabelecer a materialidade de um "fato histórico" ou de uma ação, não passa de um elemento de informação entre outros. A dificuldade consiste então em distinguir as fontes - os vestígios - umas das outras, a fim de determinar aquelas que permitem uma abordagem racional do passado. Isso implica uma escolha das fontes mais pertinentes, não por elas mesmas, mas em função das perguntas que o observador se faz previamente.

Se tomarmos duas das fontes mais comuns da história do tempo presente - o testemunho oral e o documento escrito obtido nos fundos de arquivos públicos ou privados -, poderemos ilustrar a natureza dos problemas encontrados pelos historiadores diante de seu material usual. O testemunho colhido a posteriori, por sua própria natureza, é uma das características da história do tempo presente. Ele leva à criação de uma fonte singular na medida em que destinada desde o início seja a formar um arquivo, no sentido de conservar - eis aqui a memória de tal indivíduo ou de tal grupo -, seja a alimentar uma pesquisa específica. Nos dois casos, essa fonte está intrinsecamente ligada ao questionamento preciso do arquivista ou do historiador, voltada para um acontecimento, um indivíduo, um determinado processo histórico, e entra em sinergia ou em oposição com o discurso do ator assim erigido em "testemunha".

O documento escrito (carta, circular, auto etc.) proveniente de um fundo de arquivo foi por sua vez produzido por instituições ou indivíduos singulares, tendo em vista não uma utilização ulterior, e sim, na maioria das vezes, um objetivo imediato, espontâneo ou não, sem a consciência da historicidade, do caráter de "fonte" que poderia vir a assumir mais tarde. É quase um truísmo lembrar que um vestígio do passado raramente é o resultado de uma operação consciente, capaz de se pensar enquanto vestígio, e não enquanto ação inscrita no seu tempo, e portanto capaz de antecipar o olhar que lançarão sobre ele as gerações futuras, ainda que às vezes exista em alguns atores a vontade de deixar rastros de sua passagem. Mas mesmo que alguns homens, pequenos ou grandes, tentem escrever em vida uma parte de sua história e influir sobre as narrativas futuras, raras são as iniciativas desse gênero que resistem à alteridade do tempo ou do olhar dos descendentes, tanto assim que as narrativas do passado, mesmo de natureza mítica ou legendária, não podem hoje se livrar completamente da crítica, ela própria conseqüência da afirmação de uma história com pretensão científica que modificou singularmente, ao menos nas sociedades ocidentais, leigas e seculares, a abordagem que uma coletividade faz de seu passado.

A diferença de estatuto entre essas duas fontes salta imediatamente aos olhos. Elas não são produzidas na mesma hora: uma é contemporânea dos fatos, a outra posterior; elas não têm as mesmas condições de abundância, já que nenhuma pesquisa oral, mesmo sistemática, pode rivalizar com a massa de documentos de todo tipo produzidos pelo mais insignificante organismo, sobretudo público; elas não têm as mesmas finalidades: uma é de caráter memorial, pretende ser um vestígio induzido, consciente e voluntário do passado; a outra é funcional antes de ser vestígio, tanto é verdade que ninguém pode prever com certeza se este ou aquele documento será conservado ou não, e por quanto tempo.

A esta altura, poder-se-ia crer que o que pretendemos é, por caminhos tortuosos, opor mais uma vez o testemunho oral e o arquivo escrito, e levantar a questão, banal e recorrente, de sua respectiva confiabilidade, a fim de determinar qual dos dois teria mais valor para o conhecimento objetivo do passado. Ora, ainda que se trate aí de um debate real, não é esse o nosso objetivo. Ao contrário, queremos menos sublinhar as diferenças que evidenciar as características comuns a toda fonte histórica e, dessa forma, convidar à reflexão não sobre o método histórico e as técnicas do historiador, mas antes sobre os próprios fundamentos da atividade
historiadora.

Um testemunho colhido ou um documento conservado só deixam de ser vestígios do passado para se tornarem "fontes históricas" no momento em que um observador decide erigi-los como tais. Toda fonte é uma fonte "inventada", assim como todo "indivíduo histórico", no sentido em que falava Max Weber, é uma construção, um tipo ideal. A "narrativa histórica" começa com o estabelecimento de um corpus coerente, inteligível sob o ponto de vista de uma investigação precisa, e não sob o ponto de vista de um passado que se pretenderia simplesmente restituir em sua verdade recôndita. Em outras palavras, a constituição da narrativa não é a etapa final - o livro de história - a que se chega depois de acumulada a documentação; é intrínseca ao próprio procedimento daquele que interroga o passado. A narrativa começa com as hipóteses, a formulação das perguntas e o estabelecimento de um corpus, uma operação fundamental de seleção que não pode ser desvinculada do objetivo final, mesmo que o resultado possa estar muito distante das intuições do início. Isso não significa que o vestígio não encerre uma verdade intrínseca, ou que o real seria inacessível, mas induz a não pensarmos a "fonte" fora da pergunta e do olhar do historiador que, como um cineasta que desloca seus refletores e suas objetivas ao longo dos planos, vai esclarecer de maneira parcial uma seqüência do passado, vai, ele também, criar um vestígio, deixar uma marca, uma mediação. Simplificando, é raro que dois historiadores que se fazem a mesma pergunta sobre um mesmo acontecimento ou um mesmo período estabeleçam corpus idênticos e construam seu(s) fato(s) da mesma maneira - o que não diminui em nada, se seu procedimento for rigoroso, a confiabilidade de seu trabalho.

Escrito, oral ou filmado, o arquivo é sempre o produto de uma linguagem própria, que emana de indivíduos singulares ainda que possa exprimir o ponto de vista de um coletivo (administração, empresa, partido político etc.). Ora, é claro que essa língua e essa escrita devem ser decodificadas e analisadas. Mas, mais que de uma simples "crítica interna", para retomar o vocabulário ortodoxo, trata-se aí de uma forma particular de sensibilidade à alteridade, de "um errar através das palavras alheias", para retomar a feliz expressão de Arlette Farge (1).

É esse encontro entre duas subjetividades o que importa, mais que o terreno sobre o qual ele se dá ou o tipo de rastro que o torna possível através do tempo. Nesse sentido, muitas vezes esquecemos que muitos arquivos escritos não passam eles próprios de testemunhos contemporâneos ou posteriores aos fatos, dotados de um componente irredutível de subjetividade e de interpretação que sua condição de "arquivo" absolutamente não reduz: é o caso dos autos policiais - para tomar apenas um exemplo entre os arquivos ditos "sensíveis" -, que muitas vezes são apenas o resultado de transcrições escritas e conservadas de depoimentos orais que foram objeto de uma mediação, de uma narrativa, a qual não pode senão alterar a declaração original feita pelo ator ou a testemunha interrogada. A escrita, a impressão, portanto a possibilidade de um documento resistir ao tempo e acabar um dia sobre a mesa do historiador não conferem a esse vestígio particular uma verdade suplementar diante de todas as outras marcas do passado: existem mentiras gravadas no mármore e verdades perdidas para sempre.

Da mesma forma, todo depoimento ou todo documento exige, para ser significativo, uma recontextualização - especialmente no caso do arquivo escrito - que implica que sejam examinadas séries mais ou menos completas para se compreender a lógica, no tempo e no espaço, do ator ou da instituição que produziu este ou aquele documento. É um tanto incômodo lembrar algo tão óbvio, mas esse é um problema capital na mediatização (no sentido jornalístico do termo) cada vez mais freqüente hoje em dia de certos documentos históricos, obtidos ao acaso de uma pesquisa ou de uma "revelação" espontânea: não apenas esses procedimentos levam a sentidos equivocados, e até mesmo a erros graves de interpretação, como fazem crer que a verdade de um acontecimento decorreria da leitura primária e imediata de um documento que se supõe ser decisivo, comprobatório e definitivo. Esses procedimentos bastante conhecidos (lembremos novamente dos arquivos de Vichy ou da KGB) têm o efeito de arrastar os historiadores para um terreno que se acreditava estar abandonado há muito tempo, o de um positivismo rasteiro, estranho a qualquer construção ou questionamento, quando a evolução da disciplina voltou definitivamente as costas para essas concepções ultrapassadas. É essa tensão entre uma história que procura se situar em níveis de elaboração cada vez mais sofisticados (às vezes até demais) e uma expectativa da opinião pública (e de alguns membros da academia) por provas definitivas que torna hoje o trabalho do historiador e o debate sobre os arquivos tão complexos: tivemos inúmeros exemplos com a história do Genocídio, uma escrita em si mesma árdua, que foi acompanhada de uma demanda, até mesmo de uma pressão, para que se enfrentasse as iniciativas negacionistas situando-se no terreno exclusivo da prova material, como o demonstram por exemplo os debates em torno do livro de Jean-Claude Pressac sobre os fornos crematórios de Auschwitz.

Poderíamos retomar o mesmo argumento a propósito dos arquivos soviéticos, que, segundo nos dizem alguns historiadores, devem ser objeto de um exame sistemático e exaustivo, independente de qualquer grade de leitura, sob o pretexto um tanto estranho da "urgência", partindo a priori do princípio de que esses arquivos vão provocar uma revolução no conhecimento do mundo comunista, e quem sabe até de toda a história do século XX.

Finalmente, o testemunho assim como o arquivo dito escrito revelam por sua própria existência uma falta, idéia esta tomada emprestada a Michel de Certeau. O vestígio é, por definição, o indício daquilo que foi irremediavelmente perdido: de um lado, por sua própria definição, o vestígio é a marca de alguma coisa que foi, que passou, e deixou apenas o sinal de sua passagem; de outro, esse vestígio que chega até nós é, de maneira implícita, um indício de tudo aquilo que não deixou lembrança e pura e simplesmente desapareceu... sem deixar vestígio - todos os arquivistas sabem que perto de nove décimos dos documentos são destruídos para um décimo conservado. Que historiador um dia não foi tomado de desespero diante da tarefa que o espera e dos milhões de documentos a serem lidos, para, no dia seguinte, ser tomado de vertigem diante de tudo o que jamais poderá saber, de tudo o que nunca será nem "memória", nem "história"?

Partindo destas obsevações um tanto sumárias, podemos nos prevenir contra o fetichismo do documento, tão difundido em nossos dias, e que caminha lado a lado com a obsessão, igualmente suspeita, de uma transparência absoluta - uma palavra que é aliás problemática, pois tornar alguma coisa transparente é também torná-la invisível... Nenhum documento jamais falou por si só: este é sem dúvida o clichê mais difícil de combater e o mais difundido, sobretudo no que se refere aos arquivos ditos "sensíveis". Existe um abismo entre aquilo que o autor de um documento pôde ou quis dizer, a realidade que esse documento exprime e a interpretação que os historiadores que se sucederão em sua leitura farão mais tarde: é um abismo irremediável, que deve estar sempre presente na consciência pois assinala a distância irredutível que nos separa do passado, essa "terra estrangeira".

O trabalho do historiador é por definição uma operação seletiva, que depende do que foi efetivamente conservado, depende da sua capacidade pessoal e se inscreve num contexto particular. Enfim, e isto é a meu ver essencial, nenhuma pesquisa oral conduzida por um historiador, nenhum trabalho de seleção de arquivos pode ser feito sem um mínimo de questionamentos e de hipóteses prévias, mas tampouco - e este é um dilema real - deve se fechar à surpresa da descoberta. É preciso, portanto, deixar os caminhos conhecidos, olhar para aquilo que não se pretendia ver a priori, como um "errante", para retomar a expressiva imagem de Arlette Farge.

Evidentemente isso significa que o historiador ou o arquivista devem poder ter acesso ao maior número possível de fontes - e aqui se encaixa o debate sobre o fechamento à consulta de certos arquivos, sobre as "derrogações", em suma, sobre as condições nas quais se exerce a prática profissional da história -, mas significa também que nenhum debate sobre a escrita da história ou sobre a relação com o arquivo pode se furtar a esta pergunta temível: qual é a pergunta para a qual o historiador procura uma resposta e quais são as fontes mais pertinentes para responder a ela? O acesso aos arquivos, por mais liberal e amplo que seja, nos dá ipso facto a chave do passado? Inversamente, a ausência de documentos ou a impossibilidade de acesso a eles nos privam realmente de toda forma de conhecimento sobre este ou aquele aspecto da História?

 Acessíveis ou fechados, os arquivos são o sintoma de uma falta, e a tarefa do historiador consiste tanto em tentar supri-la, em se inscrever num processo de conhecimento, quanto em tentar exprimi-la de maneira inteligível, a fim de reduzir o máximo possível a estranheza do passado.

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Thomas Edison e sua Certeza na Sobrevivência da Alma, Site Consciência Espírita

Artigo publicado no site Consciência Espírita - http://www.consciesp.org.br

"Se a nossa personalidade sobrevive, então é estritamente lógico e científico presumir que ela retém a memória, o intelecto e outras faculdades e conhecimentos que adquirimos nesta Terra."

— Thomas Edison

juventude
Thomas Edison em sua juventude

É sabido que Thomas A. Edison não teve escrúpulos ao afirmar seu propósito em criar aparelhos baseados no magnetismo, capazes de facilitar a comunicação com os espíritos.

Esse extraordinário inventor norte-americano chegou a registrar mais de mil patentes, dentre elas o fonógrafo, a lâmpada elétrica, a bateria alcalina, tendo sido votado, por duas décadas, o "Cidadão Mais Útil" da América.


Trabalhando para comunicar-se com o "outro mundo"


  jornal  
Acima: entrevista de Thomas Edison no American Magazine

Edison, durante a maior parte de sua existência interessou-se e realizou pesquisas, sem alarde, cogitando a imortalidade da alma. Somente em 1920, aos 73 anos, que o grande inventor revelou ao grande público seu trabalho, até então secreto.

Em publicação datada de 30 de outubro de 1920, na revista Forbes, Edison substanciou detalhes em artigo apresentado anteriormente pelo Scientific American, enfatizando suas opiniões sobre a possibilidade de vida após a morte.


Permanente possibilidade de comunicação

phonographo
Acima, o fonógrafo, uma de suas centenas de invenções

Em seu diário, também lê-se:

"Se a nossa personalidade sobrevive, então é estritamente lógico e científico presumir que ela retém a memória, o intelecto e outras faculdades e conhecimentos que adquirimos nesta Terra. Portanto, se a personalidade existe depois daquilo que chamamos morte, é razoável concluir que aqueles que abandonam esta Terra gostariam de comunicar-se com aqueles que aqui deixaram."

"(...) se este raciocínio está correto, então, se pudermos produzir um aparelho tão delicado que possa ser afetado, ou movido, ou manipulado... por nossa personalidade, tal como ela sobrevive na vida que vem a seguir, tal instrumento, quando estiver à nossa disposição, deverá registrar alguma coisa".


Edison evidenciou a "insuperável filosofia espírita"

adulto

Ao aderir publicamente ao "Congresso de Investigações Psíquicas" celebrado em Chicago, escreveu ao seu presidente, Dr. Cones, entre outras coisas, o seguinte:

"O Congresso será, sem dúvida, proveitoso para o interesse do Espiritismo, porque dele resultará a distinção entre o falso e o verdadeiro, contribuindo por igual a fazer luz no assunto. Será salutar para os espíritas, porque sua insuperável filosofia tornar-se-á patente."

E o grande gênio inventivo do século XX a respeito da morte, inspiradamente, assim se expressou, demonstrando, na verdade, seu profundo entendimento pela vastidão da vida: "Temer a morte é ignorar a beleza e os esplendores do espaço infinito, cuja porta se abre à alma fatigada das provas terrestres; é tomar por sombra a luz mais brilhante; é esquecer que nada se perde e tudo se transforma".

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Questões e Comentários 


Sobre o chamado "planeta chupão", Olga, Brasil

Amigos:
 
Ouvi falar sobre o assunto acima e pediria a quem pudesse esclarecer-me o que é fico muito agradecida. Caso exista algum livro sobre o assunto, por favor indiquem.
 
Obrigada/ Olga

Cara Olga,

Na época da Codificação Espírita os guias espirituais informaram a Kardec que o nosso planeta estava em uma fase de transição, passando de uma situação onde o mal imperava (planeta de expiação e provas) para um planeta onde seus habitantes estariam comprometidos com o bem (planeta de regeneração). Informaram também que os espíritos que teimassem em não modificar sua atitude seriam levados a reencarnar em mundos mais atrasados, adequados a sua situação moral, onde ajudariam o progresso intelectual dos seus habitantes e empreenderiam a duras penas sua reforma intima.

Posteriormente, através de vários médiuns - inclusive de Chico Xavier - o plano espiritual informou que este mesmo processo de transformação ocorreu há muitos milênios com um planeta da constelação de Capela.  Na ocasião, os espíritos recalcitrantes foram transferidos para a Terra, onde deram inicio as primeiras civilizações.

Pois, bem o chamado "Planeta Chupão" nada mais é do que um mundo em estágio evolutivo mais atrasado que o nosso, que receberá os espíritos recalcitrantes no mal, incapacitados - por seu próprio estado moral - de reencarnar em um mundo de regeneração.  Este processo de transferência já está ocorrendo e continuará ocorrendo até que nosso mundo se transforme.
   
Há alguns espíritas que acreditam que a transição será marcada por meio de grandes cataclismas planetários - o que não está de acordo com o que os espíritos expuseram a Allan Kardec (vide Obras Postumas) - principalmente influenciados pela obra do espírito Ramatís (Mensagens do Astral, médium Hercilio Maes). O próprio Ramatís se declara espiritualista e, apesar de elogiar o Espiritismo em várias de suas obras (por exemplo "A Missão do Espiritismo"), tem muitos pontos de vista que não coincidem com os da Doutrina Espírita. É principalmente da obra de Ramatís que vem a descrição do "Planeta Chupão", que ganhou este apelido porque "atrairá" os espíritos que se afinam com seu campo espiritual mais grosseiro. Além disto, segundo Ramatís, será a "aproximação" deste planeta que provocará os cataclismas que mudarão a face da terra e provocarão desencarnações em massa.

Desnecessário dizer que os eventos tem confirmado mais as predições feitas pelos espíritos a Kardec - que a transformação seria marcada por grandes abalos morais e não por cataclismas materiais (continuando a ocorrer os que sempre aconteceram em todas as épocas, como terremotos e vulcões*) - do que as feitas por Ramatís, segundo a qual o "Planeta Chupão" já estaria sendo detectado e tendo efeitos catastróficos em nosso mundo. Ramatís fala da desvastação de territórios imensos, e do surgimento de outros que hoje estariam sob o mar ou o gelo, como a lendaria Atlandida que reapareceria ...
   
Recomendo ler o livro "Obras Postumas" de Allan Kardec, onde há varias mensagens com previsões sobre o futuro do Espiritismo e da Humanidade. Outro livro excelente é "A Caminho da Luz" de Emmanuel que estuda o caminho percorrido pelo nosso planeta rumo ao progresso espiritual.

Muita Paz,
Carlos Iglesia

* Mesmo o atual período de aquecimento do planeta está mais relacionado ao descalabro moral do homem, que em sua ganância tem explorado os recursos naturais além dos limites aceitáveis, do que com alguma grande modificação física.

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Painel

Camilo Castelo Branco: Um Estudo de Fontes à Luz do Espiritismo, Carlos Luiz Cruz, Brasil


INTRODUÇÃO

A Doutrina Espírita presta-se aos mais variados enfoques de estudo, especialmente os que tangem às Ciências Humanas. O momento do seu nascimento, o século XIX, é um campo fecundíssimo para tal: é a primeira vez em que o planeta, globalmente, se comunica, e que, graças a essa comunicação, todo o conhecimento humano é reavaliado e reestruturado. Antigas ciências adquirem abordagens mais profundas e sistematizadas, novas ciências se lhes juntam. Por toda a parte se estuda, pesquisa, desenvolve, produz. Assim é com os trabalhos da clássica História, da nascente Psicologia, do prometido Consolador. Tal como Darwin, Freud e Marx o fizeram nas àreas em que se destacaram, a obra do prof. Rivail reflete o melhor conhecimento desse século na sistemática de trabalho, no método de pesquisa a que recorre, na aliança entre a fé, a filosofia e a ciência.


CAMILO, PELA HISTÓRIA


Camilo Castelo Branco é um dos maiores nomes da literatura portuguesa no século XIX. Senhor de notável erudição - referência obrigatória para o estudioso da língua -, polemista notável, sua obra abrange campos tão variados como o jornalismo, o romance, a crítica, a história e a poesia.

No plano pessoal, entretanto, toda a existência de Camilo afigura-se como um desenrolar de profundos dramas: um observador não-espírita indagaria o por quê de tanta dor... O próprio Camilo não o sabe, mas se questiona, vive e trabalha, amadurecendo o fruto dessa dor em uma vasta obra. Cínico às vezes, outras variando da absoluta incredulidade até à credulidade mais pueril, seus temas são os da busca do amor, da felicidade, ou a demonstração da sua impossibilidade. De seus escritos provêm a sua subsistência e de seus familiares, e as dificuldades materiais forçam-no a escrever, escrever sempre mais...

Para os espíritas, o caso de Camilo suicida é mais eloqüente do que qualquer dissertação teórica, referência obrigatória para o estudo do tema, através da mediunidade de Yvone Pereira, no Brasil. Entretanto, ao iniciarmos este trabalho, espírita, historiador e admirador da prosa camiliana, a nossa premissa era mais ambiciosa, mais vivaz:
1. ordenar os fatos conhecidos da biografia "post-mortem" de Camilo, se possível confrontando-os com fatos conhecidos de sua vida no     século XIX;

2. comparar os diferentes episódios dessa "biografia", apresentados por fontes mediúnicas independentes, distantes entre si quer no             tempo, quer no espaço;

3. registrar coincidências ou discrepâncias significativas entre as fontes estudadas;

4. identificar possíveis pontos de contato entre as fontes em Portugal e no Brasil, bem como as características particulares dos respectivos     trabalhos;

5. compreender o papel da FEB - Federação Espírita Brasileira, na preservação e unificação das obras, bem como os mecanismos legais     para fazê-lo.
Por trabalharmos com um personagem conhecido e relativamente recente em termos históricos, é fácil verificarmos os fatos da cronologia de sua vida terrena: a bibliografia camiliana é imensa, tanto em Portugal quanto no Brasil. Ao mesmo tempo, pela permissão do Alto, as informações que se filtram em suas obras psicografadas, permitem uma reconstrução bastante precisa de sua existência no Além. Nessa espécie de quebra-cabeças de eventos, médiuns e obras, ao estudioso cabe o ajuste e a montagem das peças que estão separadas por fontes distintas entre si, no espaço e no tempo, recompensado pela beleza do mosaico que desvenda ante si. Para uma referência mais ágil às principais obras a que recorremos, utilizaremos as seguintes siglas: Memórias de um Suicida (MS), Nas Telas do Infinito (TI), e Do País da Luz, vols. I a IV (PL I a IV). Ao final do trabalho, um comentário bibliográfico referindo as edições consultadas, bem como as notas pertinentes.


CAMILO, POR CAMILO


01/jun/1890 - Após tomar conhecimento pelo médico de que sua cegueira era irreversível, Camilo dispara um tiro de revólver no ouvido direito. São 15:15h na sua quinta de São Miguel de Seide (N de Portugal): às 17:00h Camilo desencarna. 1

jan/1891 - Após meses vagueando sem destino em torno dos próprios restos mortais, Camilo é detido no Vale dos Suicidas (MS, p. 15), abrigo de réprobos oriundos de Portugal e suas colônias africanas, Espanha, e Brasil (MS, p. 18). É a data com que se inicia o Memórias de um Suicida.

20/set/1895 - Desenlace de Ana Plácido, segunda esposa de Camilo, a quem dera três filhos. Apesar de amá-la extremosamente em vida, inclusive se envolvendo em rumoroso processo que culmina em sua prisão na Cadeia da Relação no Porto (casada, Ana Plácido abandonou o marido para viver com Camilo), na biografia "post-mortem" do escritor não há nenhuma referência direta a esta, com quem passou a maior e mais fecunda parte de sua vida literária.

nov/1903 - Camilo se encontra há pouco tempo no Hospital Maria de Nazaré, da Legião dos Servos de Maria. A data é do episódio da visita de Jerônimo a Portugal (MS, p. 102). O ano de 1903 parece ser confirmado à p. 193 (MS): "dentre tantos que convosco ingressaram há três anos, (...)", com relação a acontecimentos descritos como tendo ocorrido em 1906.

1904 - Data provável da 1ª caravana com Camilo à crosta terrestre (vide 1906): trabalhos de conscientização de suicidas no interior do Brasil (MS, p. 149 - a referência é feita ao primeiro decênio do século XX).

1906 - cerca de dois anos após a primeira caravana (MS, p. 175), o médium português Fernando de Lacerda, por iniciativa própria, já havia entrado em contato com Camilo. As primeiras comunicações deste pelo médium, registram-se em 1906 (1906-02=1904, data provável da caravana acima), quando Camilo começa a ditar as cartas que originam a obra Do País da Luz (MS, p. 176). 2 É um ano de franca atividade para o escritor e seus companheiros de enfermaria: voltam à crosta terrestre - a Portugal - em uma segunda caravana com o fim de obter alta do Hospital Maria de Nazaré (MS, p. 373), e prosseguem as comunicações de Do País da Luz, que acendem viva polêmica (MS, p. 377 e segs.). Sem sucesso em Portugal, 3 Camilo e seus companheiros transferem-se para o Brasil (MS, p. 385) em busca de campo mais fecundo de trabalho, sem abandonar as comunicações de Do País da Luz (MS, p. 386). Nas próprias palavras de Camilo: "voltamos à Terra muitas vezes, permanecendo em suas sociedades, com pequenos intervalos desde os primórdios de 1906." (MS, p. 481).

28/out/1906 - 1ª carta de Camilo por intermédio de Fernando de Lacerda a Silva Pinto, conhecido de Camilo (PL I, p. 66).

18/nov/1906 - 2ª carta a Silva Pinto, pelo mesmo médium (PL I, p. 85).

20/nov/1906 - 3ª comunicação de Camilo (PL I, p. 95).

20/nov/1906 - 4ª comunicação de Camilo (PL I, p. 99).

20/abr/1906 - 5ª comunicação - Carta a Silva Pinto (PL I, p. 109).

05/dez/1906 - 6ª comunicação, acerca de Silva Pinto (PL I, p. 143).

15/jan/1908 - prólogo de Souza Couto ao Vol. I de Do País da Luz (p. 11). 4

29/abr/1908 - dedicatória de Fernando de Lacerda ao Vol. II de Do País da Luz (p. 7).

06/mai/1908 - prólogo de Souza Couto ao Vol. II de Do País da Luz (p. 11).

26/mai/1908 - prefácio de Fernando de Lacerda ao Vol. II de Do País da Luz 5 (p. 23).

1910 - após dez anos de internação (MS, p. 448) Camilo recebe alta da instituição hospitalar, ingressando na Universidade da mesma instituição. Nos primeiros tempos da Universidade, reencontra sua mãe, seu pai, e sua esposa falecida. Ele se refere a esse enlace como "matrimônio venturoso" (MS, p. 487), pelo que presumimos se trate de Ana Plácido, uma vez que a primeira esposa de Camilo, Maria do Adro, morreu de tuberculose, com pouco tempo de casados.

01/abr/1911 - carta de Silva Pinto na abertura do Vol. III de Do País da Luz (PL III, p. 11).

mai/1911 - prólogo de Fernando de Lacerda à 2ª edição do vol. I de Do País da Luz (p. 53). A 1ª edição havia-se esgotado em poucos meses (1908?). A 1ª edição do Vol. II já havia sido lançada em 1908. Esta 2ª edição do Vol. I sai com a reedição do Vol. II, e com a 1ª edição do Vol. III (PL I, p. 54), que também é de 1911.

jun/1911 - prólogo de Fernando de Lacerda ao Vol. III de Do País da Luz 6 (p. 13).

25/jul/1911 - Fernando de Lacerda chega ao Rio de Janeiro, no Brasil. 7

nov/1911 - desencarnação de Silva Pinto (PL IV, p. 37).

1912 - por volta desta data (MS, p. 486), dois anos após o reencontro com seus familiares, Camilo toma contato com as suas vivências passadas para fins didáticos (MS, p. 490, 493, 499).

07/ago/1918 - desencarnação, no Brasil, de Fernando de Lacerda.

1919 - copyright da FEB de Do País da Luz.

1919 - data provável do lançamento do Vol. IV de Do País da Luz. 8

1926 - Camilo se comunica no Brasil, em Lavras/MG, pela jovem médium Yvone A. Pereira, que trabalha com atendimento a suicidas. É o inicio de um trabalho que será compilado 20 anos mais tarde: o Memórias de um Suicida (MS, p. 7). 9

1930 - graduado na Universidade da instituição dos Servos de Maria, Camilo passa a servir na enfermaria do Hospital, em lugar de Joel, seu antigo enfermeiro, que reencarnara (MS, p. 546).

mai/1930 - Yvone A. Pereira inicia a novela O Tesouro do Castelo (TI, p. 61), narrativa assinada por Camilo (TI, p. 66).

1936 - Camilo está escrevendo após cerca de 30 anos, referindo-se a acontecimentos ocorridos cerca de três anos após seu ingresso na instituição-hospital (MS, p. 346). Cruzando essa informação com a datação de 1903 como seu ingresso no Hospital, temos o ano de 1936 como data aproximada de inicio da criação de Memórias de um Suicida. 10

1942 - "faz precisamente cinqüenta e dois anos que habito o mundo astral" (MS, p. 544): assim Camilo inicia o final de suas memórias...

1945 - data provável da reencarnação de Camilo. Segundo a diretriz-base traçada para essa nova existência, trabalharia como médium curador (MS, p. 546), devendo cegar aos 40 anos de idade (MS, p. 565) e desencarnar aos 60 anos (MS, p. 566).

1946 - Yvone A. Pereira reinicia os trabalhos de psicografia do Memórias de um Suicida. Na introdução da obra, ela nos informa que teve que esperar oito anos para prosseguir essa tarefa (MS, p. 10), já que impedida temporariamente, ao fim desse impedimento, Camilo só a procurou para lhe participar a sua (dele) próxima reencarnação (data do Copyright da FEB e do prefacio da 1ª edição = 1954 - 1 ano despendido no prefácio cf. pg. 10 = 1953 - 08 = 1945 data provável da reencarnação de Camilo).

18/mai/1954 - introdução de Yvone A. Pereira no Memórias de um Suicida (p. 12).

1954 - copyright da FEB da obra Memórias de um Suicida. 11

1955 - copyright da FEB de Nas Telas do Infinito.

1956 - 1ª edição do Memórias de um Suicida.

04/mai/1957 - prefácio da 2ª edição revisada, do Memórias de um Suicida (MS, p. 14).

1985 - aos 40 anos Camilo reencarnado, conforme a diretriz-base, deveria novamente arcar com a provação da cegueira (MS, p. 565).

2006/2007 - aos 60 anos, Camilo reencarnado, por aquela diretriz, deverá desencarnar (MS, p. 566).


CONCLUSÃO


Como afirmamos, do casamento de nossos interesses no espiritismo, na história e na literatura, surgiu o esboço do presente trabalho.

Mais do que descrever a rotina de um espírito após a desencarnação (e a imensa popularidade das obras de André Luiz é mais do que eloqüente para demonstrar o interesse que esse assunto desperta), a análise global da passagem de Camilo pelas lides do movimento espírita, serve de subsídio a estudos maiores a todos os que trabalham não só com o tema suicídio, mas também reencarnação, fisiologia da alma, vivências passadas com fins terapêuticos e outros, temas em grande parte, ainda carentes de estudos mais profundos. Nesse sentido, este trabalho não é o fim, mas apenas um modesto começo, e esperamos que ele tenha transmitido tanto prazer quanto a sua pesquisa proporcionou.

Registramos por último, nossos agradecimentos ao GEAE (http://www.geae.inf.br) pelo apoio em Portugal à pesquisa bibliográfica, e ao Alto pela constante inspiração, graças às quais este estudo chegou à sua forma presente, momento em que o repartimos com os leitores.


O QUE HÁ PARA SE LER


PEREIRA, Yvone A.. Memórias de um Suicida (5ª ed.). Rio de Janeiro: FEB, 1975.
Obra mediúnica, atribuída por Yvone Pereira a Camilo Cândido Botelho, talvez ainda pensando nas implicações jurídicas que o caso Humberto de Campos/Irmão X causou à época com o médium Francisco Cândido Xavier. Junto com o O Martírio dos Suicidas de Almerindo Martins de Castro (FEB, 1940), é obra básica para o estudioso do tema Suicídio. A autoria de Camilo Castelo Branco, entretanto, é clara para quem conhece a vasta obra em vida desse autor, quer pelo estilo, quer pelos fatos narrados, e mesmo pelos nomes componentes do pseudônimo que ocultam o real autor. É a primeira obra de Yvone Pereira publicada pela FEB (1954).

PEREIRA, Yvone A.. Nas Telas do Infinito (5ª ed.). Rio de Janeiro: FEB, 1978.
Também mediúnica, a obra enfeixa dois contos: o primeiro de Adolfo Bezerra de Menezes, e o segundo de Camilo, nesta edição consultada, já atribuído ao próprio autor. A obra é publicada no ano seguinte ao Memórias de um Suicida, em 1955.
LACERDA, Fernando de. Do País da Luz (4 vols.: vol. I - 6ª ed.; vol. II - 5ª ed.; vol. III - 4ª ed.; vol. IV - 3ª ed.). Rio de Janeiro: FEB, 1984.
Coletânea psicografada pelo médium português Fernando de Lacerda entre 1906 e 1918. Abrange mensagens entre outros, dos maiores vultos da literatura portuguesa do século XIX. A acirrada polêmica que causou à época, muito contribuiu para a divulgação do Espiritismo em Portugal, que vivia as agitações que precederam a proclamação do regime republicano naquele país (1910) e que viriam a sacrificar o próprio médium, que se auto-exila no Brasil por recomendação dos próprios espíritos. A FEB adquire os direitos da obra em 1919, e é no Brasil que ela sobrevive durante as décadas de regime salazarista em Portugal, quando manifestações de cunho religioso diversas da religião oficial do Estado - Católica - eram violentamente reprimidas. Obra relativamente pouco conhecida na atualidade (a edição consultada, de 1978, é apenas a 6ª do vol. I e a 3ª do vol. IV), é uma fonte interessantíssima para o historiador do Espiritismo, ou mesmo o amante da literatura. Se isso não bastasse, a obra contém entre outras, mensagens de Kardec (Vol. II, p. 176), Napoleão (Vol. I, p. 80), D. Pedro II do Brasil (Vol. IV, p. 263) e outros, particularmente interessantes por sua atualidade.
SOARES, Sylvio Brito. Grandes Vultos da Humanidade e do Espiritismo (2ª ed.). Rio de Janeiro, FEB, 1975.
Originalmente publicada em 1961, no ano seguinte seguia-se-lhe uma biografia de Bezerra de Menezes. Bastante proselitista, a obra é interessante como uma tentativa de comprovar que alguns dos grandes vultos da humanidade possuíam faculdades mediúnicas inconscientes, graças às quais teriam se projetado nos mundos literário, musical e cientifico. Inclui um perfil de Camilo, tornado vulto da Humanidade e do Espiritismo pelo autor e (principalmente) pela mediunidade de Yvone Pereira.
NOTAS

1. O periódico português "O Século" assim noticiou o evento: "Morreu o ilustre romancista Camilo Castelo Branco. Sabe-se a tortura contínua em que vivia por causa de seus padecimentos. Hoje, pelas seis horas da tarde, num momento de desespero, desfechou um tiro no ouvido, sobrevivendo poucas horas ao ferimento. A notícia espalhada aqui, tem produzido geral consternação." (Op. cit., 01/jun/1890). Para um depoimento pessoal de Camilo, vide MS, p. 33;

2. Para uma identificação mais precisa de Fernando de Lacerda (Fernando Augusto de Lacerda e Mello - *06/ago/1865 +07/ago/1918) vide MS, p. 303: caso de Albino, filho do suicida Jerônimo - alusão à rainha portuguesa Dna. Amélia (Dna. Amélia de Orleans e Bragança, esposa de D. Carlos I, assassinado a tiros em 01/fev/1908). Vide ainda as referências de Souza Couto no prólogo do Vol. I de Do País da Luz (p. 16), a excelente nota biográfica O Médium Fernando de Lacerda na revista Reformador de ago/1988 (p. 247-249) e a bonita mensagem Reminiscências psicografada pelo médium brasileiro Divaldo P. Franco a 21/set/1980 em Lisboa, Portugal, publicada pela revista Reformador de jul/1981 (p. 200).

3. Acerca das dificuldades que Camilo encontrou nas suas tentativas de comunicação mediúnica, vide ainda o depoimento de Yvone Pereira em Devassando o Invisível, FEB, Rio de Janeiro, 1963, p. 63-64.

4. São deste prólogo as referências à revista portuguesa Estudos Psíquicos, editada por Souza Couto, em ano que não nos foi possível localizar.

5. O Vol. II de Do País da Luz contém três mensagens de Camilo, das quais Fernando de Lacerda omite a data: p. 85, 91 e 222 (Camilo a Silva Pinto). Pelo teor são posteriores às do Vol. I.

6. No Vol. III de Do País da Luz há apenas uma mensagem de Camilo (p. 162). Nela se faz referência às experiências do Vale dos Suicidas, descritas no MS, e à invocação inicial de Camilo feita por Fernando de Lacerda, quando Camilo se encontrava ainda internado.

7. Esta é uma das informações mais interessantes do trabalho, uma surpresa para nós que a desconhecíamos: perseguido pela imprensa republicana em Portugal devido ao seu trabalho mediúnico, Fernando de Lacerda perde sua função pública em Portugal, transferindo-se para o Brasil, onde permacerá até ao fim de seus dias. Vide a revista Reformador, ago/1988, p. 247-249.

8. O Vol. IV de Do País da Luz é póstumo a Fernando de Lacerda, e não pudemos identificar se a primeira edição deste volume foi feita em Portugal como aparentam os anteriores da série, ou no Brasil, já pela FEB - a segunda hipótese é mais provável. O prefácio de autoria do próprio Fernando de Lacerda, é mediúnico, e a seu pedido, todas as datas são removidas, um dos motivos pelos quais não há ordem cronológica nas mensagens. A julgar pela de abertura, pela de Eça de Queiroz (PL IV, p. 13), e pela de D. Pedro II do Brasil (PL IV, p. 263), parte das comunicações são recebidas entre 1911 e 1918 - já no Brasil -, o que é corroborado pela data da desencarnação de Silva Pinto (nov/1911 cf. PL IV, p. 37), autor de algumas mensagens, e pela única comunicação de Camilo nesse volume, justamente a respeito desse desenlace (PL IV, p. 218).

9. O ano de 1926 é confirmado pela própria médium. Vide os Dados biográficos de Yvone A Pereira para a Federação Espírita Brasileira (Final) (p. 61) na revista Reformador de fev/82.

10. Há um conflito aparente nas datas, já que por essa indicação o início da criação do MS seria 1936. Entretanto, pelo depoimento de Yvone Pereira, essa obra foi recebida em fragmentos, finalmente compilados a partir de 1946, provavelmente pelo espirito de Leon Denis, autor do prefácio à segunda edição.

11. Para uma correta noção dos fatos que envolveram a publicação das primeiras obras pela psicografia de Yvone A Pereira, vide as próprias notas biográficas da médium na revista Reformador dos meses de jan e fev/1982.

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