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Grupo de Estudos Avançados Espíritas

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Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec


Ano 10 - Número 441 - 2002            30 de julho de 2002

Edição dedicada a Francisco Cãndido Xavier (1910-2002)

Conteúdo

Editorial Textos Painel

Editorial
Chico Xavier, Homem da Paz, Raul Franzolin Neto


chico-xavier.gif     Há alguns anos atrás tive a oportunidade de ir a Uberaba em Minas Gerais e fui informado que me encontrava num dia em que o nosso querido irmão Chico Xavier iria estar presente no Centro Espírita da Prece como o fazia rotineiramente ao longo de sua vida. Após várias paradas para perguntar sobre o caminho a ser percorrido, cheguei no Centro, onde já se encontravam centenas de pessoas. Eram cerca de 19 horas. Entrei na fila e fiquei aguardando ansioso o desenrolar dos acontecimentos, conversando com diversas pessoas. Após algum tempo, o Chico chegou acompanhado de seu filho e várias pessoas. Houve uma prece de abertura, seguida de uma palestra. Saí da fila que estava na parte externa do Centro e cheguei até a janela, de onde pude avistar o nosso ilustre iluminado, sentado junto à mesa dos trabalhos. Continuei aguardando, e finalmente, por volta das 23 horas, entrei no local e fiquei aguardando sentado no banco. Tirei algumas fotos. De repente, chegou a vez das pessoas que estavam no mesmo banco que eu caminharem em direção ao Chico que cumprimentava a todas. Sentia ali pequenino, emocionado e feliz. Chegou a minha vez, caminhei lentamente em sua direção. Peguei-lhe em sua mão e olhando em seus olhos disse-lhe: "...Deus o abençoe..." e ele me respondeu "...obrigado...". A emoção foi muito grande e pude sentir de perto toda a sua humildade e bondade. O fluido de alta vibração vindo de seu nobre espírito e da espiritualidade superior circulava em todo ambiente e facilmente pude senti-lo sobre meu corpo. Algumas pessoas choravam emocionadas. Saí em silêncio e muito feliz. Comprei alguns livros e fui embora.

    Fiquei e continuo sempre pensando comigo: Chico Xavier me agradeceu pessoalmente, assim como a milhares de pessoas que também tiveram a oportunidade de visitá-lo. Quanta humildade!! Nós é que lhe agradecemos tão belo exemplo de vida em favor da humanidade

    Ao redigir este pequeno texto, resolvi dar uma breve pausa para averiguar a data correta do dia dessa visita em minha agenda antiga. Ao procurá-la em minha estante, tive acesso a um livro de Chico Xavier(*) e acabei abrindo-o em uma página que julguei de interesse em reproduzi-la aqui, já que podemos sentir toda a sua simplicidade e humildade numa resposta dada na famosa entrevista do programa de televisão denominado Pinga-Fogo, levado ao ar pelo Canal 4, TV Tupi em 1971. Dessa forma, esclareço que não fiz uma revisão bibliográfica sobre o nosso homenageado, o qual a literatura é rica, mas creio que isso possa ter ocorrido pelo plano espiritual, sendo acionado pela intuição.

    Em meio ao programa, um telespectador se identifica e faz a seguinte pergunta. "...O nosso irmão Chico Xavier, do qual sou admirador, afirmou que a única salvação, é Jesus Cristo. Eu sou Cristão. No entanto, eu perguntaria a ele e aqui presente mesmo eu reconheço a presença de muitas pessoas que não são cristãs, são de varias religiões, aqueles do mundo, da humanidade, que não são cristãs, então, não alcançarão a salvação? Assim como por exemplo 800 milhões de chineses e outros tantos? A salvação só está em Jesus Cristo?". Vejamos a resposta dada por Chico Xavier: "... Há tempos uma senhora nos procurou e alegou que o esposo não tinha religião, que era um homem reto e bom, mas na condição de companheira dele ela sentia falta da religião no marido e pedia ao nosso Emmanuel que se externasse com respeito ao assunto, já que ela desejava fosse o marido portador da fé cristã. Então disse o nosso Emmanuel que a Providência Divina tem pressa de que o homem seja bom, mas acreditar, isso fica para quando o homem possa realizar em si mesmo o campo da sua própria fé. Deus é pai de misericórdia. Não deserda filho algum e nós precisamos adaptar a nossa fé cristã às dimensões do mundo de hoje, em que nós todos aceitamos como filhos de Deus, para termos uma vida de respeito recíproco. Temos as nossas idéias díspares, os nossos pontos-de-vista tradicionais em religião, o conceito de salvação sofre no mundo de hoje uma certa diferença. Quando dizemos: O navio foi salvo. Foi socorrido e foi salvo. A casa foi salva do incêndio pelo Corpo de Bombeiros. A casa foi salva para ser novamente habitada. O navio foi salvo para trabalhar. A salvação quer dizer reequilíbrio, reestruturação da nossa vida em Cristo Jesus, para que nós possamos servir a Cristo, servindo-nos uns aos outros. Agora, o Senhor naturalmente que não tem os pensamentos de critica nem de vingança contra nós, quando nós não possamos ter uma fé. Se nós nos amarmos nós teremos realizado o prodígio da felicidade humana, com a benção dele. E amando-nos nós vamos descobri-lo em nós mesmos."

    Observemos que essa entrevista foi realizada há mais de 30 anos e perceberemos que a verdade é eterna e, portanto, é sempre atual. Quero ressaltar nessa passagem, que reestruturar a nossa vida em Cristo Jesus, significa caminharmos nos ensinamentos deixados pelo Mestre, ou seja, tudo com base no princípio "amar e respeitar ao próximo como a ti mesmo". Seguir no caminho do bem e do amor, independente de nossa fé religiosa é caminhar rumo à felicidade eterna.

    Provavelmente nunca mais terei outra oportunidade como esta. Homem iluminado, Espírito da paz. Marco na história da evolução espiritual do planeta Terra. Muita gente ainda não se deu conta do nível evolutivo que o Chico se encontra e muitas gerações futuras irão reverenciar essa época de reencarne de um Espírito Crístico entre nós. São muitos anos e anos de evolução, através de reencarnação em reencarnação, em vários mundos, frente a seara do bem. O exemplo de vida humilde o coloca na condição, não apenas de o Mineiro do Século, mas do Espírito da Paz e da fraternidade universal. A sua humildade foi tamanha que até mesmo os milagres foram programados para serem humildes e discretos. Caso desejasse, e se assim fosse os desígnios maiores, ele poderia ter movido montanhas. Mas isso não se fez necessário e fundamental. Os tempos são outros...A evolução é sempre progressiva e infinita. A humanidade foi definitivamente marcada como antes e depois dessa sua etapa na Terra. A sua reencarnação fez parte do projeto Terra regenerada, cujo processo foi realizado com êxito e sucesso plenos. O espiritismo no Brasil, hoje, certamente não seria o mesmo sem a vinda desse nosso irmão iluminado, definido pela Espiritualidade Maior sob a coordenação de Jesus e, graças a isso, os ensinamentos espíritas se expandem dia a dia pelo resto do mundo, promovendo o apoio necessário a todo aquele que procura consolação a suas aflições com a estruturação de sua vida no rumo da melhor jornada terrena a ser seguida, aquela que é capaz de maximizar a sua felicidade e minimizar o seu sofrimento.

    Foram muitos anos de trabalho mediúnico e de solidariedade a toda humanidade com muito esforço, dedicação, superação e amor constantes imensuráveis, cuja capacidade cabe a tão poucos espíritos iluminados que passaram pela Terra durante todo o tempo de vida nesse maravilhoso planeta. O trabalho foi profícuo, tanto quantitativa quanto qualitativamente, de ação direta, com seu trabalho pessoal na assistência social e atendimento particular, como de ação indireta por meio de sua publicação servindo de elo tradutor da espiritualidade maior. Quem teve a oportunidade de ler qualquer linha deixada por Chico, compreende a importância de sua obra para busca do equilíbrio necessário a vida neste planeta. Não nos esqueçamos que o Mestre Jesus nos informou que iria rogar ao Pai para que enviasse o Consolador (Doutrina Espírita) e com ele os anjos santos (Espíritos Superiores). Obrigado Senhor!

    Rendamos graças ao Divino Pai pelas benções de ter concedido a reencarnação de Chico Xavier em nosso planeta e em nosso Brasil, Coração do Mundo e Pátria do Evangelho, que foi concretizada conforme as Suas Leis dentro dos ajustes que se fizeram necessários.

    Finalmente, agradeço também a Deus pela oportunidade de estar vivenciando esta nova era aqui neste pedaço de matéria entre os infinitos outros universais, neste tempo de vida junto ao HOMEM DA PAZ, paz verdadeira que haverá de existir em todo o planeta, cuja construção foi semeada por Cristo e amplificada com o cultivo cuidadoso e dedicado desenvolvido por esse nosso humilde e nobre irmão. Só lamento não poder ter tido a capacidade de expressar nestas palavras o pequeno raio de luz que representa o real estado de luminosidade da estrela maior que é CHICO XAVIER....Que Deus o abençoe...

    (*) Literatura citada: Francisco Candido Xavier/ Emmanuel. Chico Xavier - dos hippies aos problemas do mundo, LAKE, 2a. ed., 1973.

Raul Franzolin Neto
rfranzol@geae.inf.br




Textos
Chico Xavier, profeta do amor divino, Marcelo Barros

(Texto recebido pela Internet após a notícia da desencarnação do Chico)

    Num mesmo dia, o povo brasileiro, como se fosse uma só pessoa, em uma grande identidade coletiva, vibrava com a conquista da Copa do Mundo, e sentia-se mais pobre ao ver partir desta terra o médium Francisco Xavier, homem de Deus e testemunha do amor.

    Como monge e padre católico quero reverenciar a memória deste profeta que ultrapassa as fronteiras de uma religião determinada e pertence ao patrimônio espiritual de toda a humanidade.

    O alcance da profecia do Mahatma Gandhi vai além da Índia e da religião a qual pertenceu. Do mesmo modo, nosso querido Dom Hélder Câmara foi reconhecido como cidadão do mundo e profeta da paz, não só para os católicos. Assim também, Chico Xavier é sinal da bondade divina para todas as pessoas de boa vontade.

    Há dois anos, na promoção da Rede Globo Minas, o médium Chico Xavier foi votado pelo povo como "a personalidade mais marcante de Minas Gerais no Século XX". Concorreu com figuras ilustres como Santos Dumont e Juscelino Kubitschek e ganhou.

    O governo estadual lhe deu a "Comenda da Paz", distinção oferecida a personalidades que se destacam no esforço de aproximar e unir os seres humanos.

    Ele gostava de dizer: "Quem sou eu, senão uma formiga, das menores que andam pela terra, cumprindo sua obrigação?"

    Dom Hélder se comparava com o burrinho que carregou Jesus para entrar em Jerusalém. É a humildade de profeta que sabe ser mero receptáculo e transmissor de um dom que não lhe pertence. Foi esta confiança que permitiu tanto a Dom Hélder como a Chico Xavier cumprirem até o fim sua grandiosa missão, no meio de incompreensões e injustiças, até da parte de irmãos que com eles viviam a mesma fé.

    Tanto um como outro, até o final de suas vidas, dedicaram-se totalmente ao amor do próximo e à paz do mundo.

    Dom Hélder, aos 90 anos, dizia: "Enquanto tiver forças, voarei como a pomba da paz".

    Com 92 anos, Chico Xavier pedia para ser levado por irmãos às sessões do Centro Espírita e abençoar as pessoas que vinham vê-lo para pedir suas orações. Sempre que podia visitava entidades filantrópicas que sustentava com direitos autorais que recebia pelos mais de 400 livros que escreveu a partir de mensagens de espíritos iluminados.

    Chico Xavier faleceu uma semana antes de completar, neste 08 de julho, 75 anos de "mediunidade com Jesus", como escrevia seu amigo Carlos Baccelli.

    Esta intimidade com Deus que o fazia, em sua fé espírita, mensageiro do céu para os humanos, é vocação de todos nós, cada um do seu modo. No Evangelho, Jesus nos ensina: "Pelo fruto, conhecereis a árvore".

    Os frutos deixados por Chico não são apenas uma doutrina filosófica e uma estrutura religiosa. Ele deixa a toda a humanidade o exemplo e a pregação da tolerância mútua, da solidariedade aos outros e da humildade como pilares da Paz. Ele dizia: "A doutrina é a paz. (...) Estou consciente de que tenho procurado fazer o melhor e sou grato aos que não me permitiram viver uma vida inútil. Um dia vamos compreender a necessidade de uma união mais profunda. (...) Graças a Deus, nunca briguei com ninguém... Vocês me perdoem mas Emanuel está me dizendo que já falei demais. (...) De madrugada a gente continua..."

    Que todas as pessoas de bem escutem este apelo e façam deste tempo a madrugada de um tempo novo no qual - por nosso amor e busca da unidade entre todas as crenças e respeito entre todas as culturas - poderemos ajudar a nascer um novo dia de justiça e vida para todos.

    Amém
    Marcelo Barros
    Monge Beneditino
 

 


Tributo a Chico Xavier, Dairson Azambuja Gonçalves

 (Texto recebido pela Internet após a notícia da desencarnação do Chico)

    Guerreiro,
    Sê feliz na tua partida,
    Pois neste mundo, abrangeste todas as dores, todas as desditas.
    "E fizeste felizes e consolados centenas de almas, a curar suas feridas."

    Guerreiro,
    Sê feliz na tua chegada, na espiritualidade.
    Pois és o retorno de uma alma que cumpriu sua finalidade.
    Lembrando e vivenciando tudo o que jesus nos legou,
    Mostrando-nos o caminho da felicidade.

    Vai pois em paz, alma querida,
    A saudade tornar-se-á um bálsamo em nossos corações,
    E, a luz que deixaste sempre nos trará, além de grandes emoções,
    Um grande alento à alma ferida.

    Que alegria, Guerreiro,
    O reencontro com todos os que sucesso, ficaram-te desejando,
    O encontro com teu guia, e tantas almas afins, que te estarão esperando,
    Felizes com tua chegada e unidos a uma só voz; exclamando:
    "Sê benvindo, bendito de meu Pai"!

    Dairson Azambuja Gonçalves - POA

 


Carta anônima à Chico Xavier
 (Texto recebido pela Internet após a notícia da desencarnação do Chico)
Chico:
    Fiquei sabendo hoje que deixaste teu velho corpo.

    E como estou surpreso por isto.

    Não, não me surpreendeu o fato de teres deixado este mundo pois sabia o quanto teu corpo estava cansado e frágil. Surpreendi-me com o modo como isso se deu.

    É que sempre imaginei que este dia estava sendo preparado como um evento especial.

    Achava que teus amigos aí desse lado da vida usariam tua "morte" a fim de chamarem a atenção para a tua vida.

    Imaginei que no dia seguinte ao teu desenlace as pessoas chegariam ao trabalho falando de ti.

    Estava enganado.

    Partiste justamente hoje.

    A televisão noticiou teu falecimento em 15 segundos. Em seguida, voltou a mostrar a repercussão da conquista do penta campeonato brasileiro.

    Amanhã as pessoas chegarão ao trabalho falando, não de ti, mas do futebol brasileiro.

    Deixaste a existência no mundo pelo elevador de serviço, sem alarde, discretamente.

    E, confesso, isto me fez finalmente compreender.

    É claro que já havia entendido teoricamente o fato de Jesus ter optado nascer numa estrebaria e conviver com pescadores e prostitutas mesmo podendo ter nascido, se quisesse, entre os poderosos.

    Claro que já havia entendido teoricamente o objetivo daquele outro Francisco ao renunciar toda a sofisticação da sua abastada vida em Assis para mostrar aos cristãos o quanto eles estavam distantes da verdadeira mensagem do Cristo.

    Claro que já havia entendido.

    Só não havia ainda compreendido.

    E, mais do que tua vida, tua "morte" isto me proporcionou.

    É que tudo isto é simples demais para se compreender assim com facilidade. O que é simples é, mesmo, o mais difícil.

    E por ser difícil é que muitos, sem compreender, tentarão "te fazer justiça".

    Gritarão aos quatro ventos o quanto foste sublime. Tentarão compensar esta discreta notícia de tua "morte" com discursos e textos inflamados, exaltando a tua angelitude.

    Estão enganados.

    Não, não és nenhum anjo, eu sei.

    Foste apenas gente.

    És apenas simples.

    Simples como aquele menino Jesus que ensinou Fernando Pessoa a ver "todas as coisas que há nas flores".

    Nós não, Chico.

    Nós temos sido muito mais que isso.

    Somos inteligentes e destemidos, sábios e humildes, moralizados e caridosos, sofisticados e filosóficos, científicos e religiosos.

    Ah!, Chico, qual foi a Fada que te transformou em gente?

    Intercede a nosso favor perante ela.

    Não suportamos mais ser tão bons em tudo.

    Precisamos, com urgência, sermos como tu: gente.

    Simplesmente gente.

    Carta anônima, infelizmente.

    Pois quem a escreveu o fez com propriedade, sentimento, sinceridade e inspiração.


Poema de Chico Xavier

    (Texto recebido pela Internet após a notícia da desencarnação do Chico)

    Que Deus não permita que eu perca o romantismo,
    - mesmo eu sabendo que as rosas não falam...

    Que eu não perca o otimismo,

    - mesmo sabendo que o futuro que nos espera não é assim tão alegre...

    Que eu não perca a vontade de viver,

    - mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, dolorosa...

    Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos,

    - mesmo sabendo que com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas...

    Que eu não perca a vontade de ajudar as pessoas,

    - mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir esta ajuda...

    Que eu não perca o equilíbrio,

    - mesmo sabendo que inúmeras forças querem que eu caia...

    Que eu não perca a vontade de amar,

    - mesmo sabendo que a pessoa que eu mais amo, pode não sentir o mesmo sentimento por mim...

    Que eu não perca a luz e o brilho no olhar,

    - mesmo sabendo que muitas coisas que verei no Mundo, escurecerão meus olhos...

    Que eu não perca a garra,

    - mesmo sabendo que a derrota e a perda, são dois adversários extremamente poderosos...

    Que eu não perca a razão,

    - mesmo sabendo que as tentações da vida, são inúmeras e deliciosas...

    Que eu não perca o sentimento de justiça,

    - mesmo sabendo que o prejudicado possa ser eu...

    Que eu não perca o meu forte abraço,

    - mesmo sabendo que um dia meus braços estarão fracos...

    Que eu não perca a beleza e a alegria de ver,

    - mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos escorrerão por minha alma...

    Que eu não perca o amor por minha família,

    - mesmo sabendo que ela, muitas vezes, me exigirá esforços incríveis para manter sua harmonia...

    Que eu não perca a vontade de doar este enorme amor que existe em meu coração,

    - mesmo sabendo que muitas vezes ele será subestimado e até rejeitado...

    Que eu não perca a vontade de ser grande,

    - mesmo sabendo que o mundo é pequeno...

    E acima de tudo!...

    Que eu jamais me esqueça de que Deus me ama, infinitamente e que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e transformar qualquer coisa, pois

    A VIDA É CONSTRUÍDA NOS SONHOS E CONCRETIZADA NO AMOR!




Painel
"Nosso Lar" no Cinema, Pedro Rosa

 
 Olá,

    Gostaria de me apresentar como um roteirista de cinema (Ismael & Adalgisa) e produtor de documentários e reportagens para TV (TVN Chile, Univision e CNN em Espanhol, ambas dos EUA), com um projeto para adaptação de parte do livro Nosso Lar, de André Luiz, para o cinema.

    O curta-metragem se chama "O Sonho de André Luiz", relatando a chegada do famoso espírito à colônia espiritual e o sonho com sua mãe, encontrando-se com ela num plano ainda mais elevado (vide capítulo 36). O filme tem toda uma abordagem estética especial, com o uso da reciclagem nos cenários e figurinos, além da fotografia e efeitos especias computadorizados.

    Nicete Bruno deverá encarnar a Mãe de André Luiz, enquanto que ainda não se encontrou um ator que possa representar André Luiz.

    Este projeto já conta com o apoio da FEB, que cedeu pela primeira vez para o cinema os direitos de uma obra dita clássica do grande médium Chico Xavier. A USEERJ fluminense também está apoiando o filme, que no entanto ainda depende de fundos para a sua produção.

    Gostaria se for possível escrever algum texto*  para o boletim, ou que pelo menos esta notícia fosse noticiada, pois agora mais do que nunca é preciso dar seqüência ao gigantesco trabalho de Chico, e mais além, ao cinema brasileiro, adaptando um texto brasileiro, falando de nossa inestimável contribuição ao Espiritismo como filosofia, ciência e causa humana, na qual me incluo como simples voluntário.

    Obrigado,

    Pedro Rosa
    Rio de Janeiro
    prosa@pobox.com

* O texto que o Pedro nos enviou para publicação é "O Sonho de André Luiz", transcrito abaixo.


O Sonho de André Luiz

    A cinematografia brasileira oferece vez ou outra ao espectador o caminho da fantasia, do sobrenatural, do fantástico - caminho este cada vez mais trilhado pelo cinema estrangeiro nos últimos anos, obtendo grande repercussão junto ao público. Este também é mais um motivo para a adaptação de uma obra da literatura espírita brasileira, rica em conteúdo dramático e imagens incomuns e impactantes.
 

    É a primeira vez que a Federação Espírita Brasileira, detentora dos direitos autorais da obra dita "clássica" de Francisco Cândido Xavier, autoriza uma adaptação para o cinema de um texto do livro que, 60 anos após a sua publicação, ainda fascina - cerca de três milhões de exemplares vendidos, número um dos dez mais da literatura espírita: "Nosso Lar".

    No entanto o fato da obra nunca ter sido transposta para a tela é o que mais impressiona, além do sucesso editorial. E de que poucos curtas e mesmo longa-metragens se dediquem ao universo fantástico oferecido por esta literatura.

    Com uma linguagem que se aproxima da reportagem, bastante inteligível para quem não sabe nada sobre Reencarnação, e desvendando importantes conceitos, o Espírito André Luiz - que em vida teria sido médico e residente no Rio de Janeiro - nos conta a sua passagem desta para melhor, indo parar numa incrível cidade espiritual, chamada de Nosso Lar, que flutuaria, invisível, na ionosfera. Pairando justamente sobre o Estado do Rio de Janeiro.

    Descobrindo lentamente o novo mundo ao seu redor, André Luiz vive uma seqüência incessante de espanto e surpresa: se cura dos males adquiridos na última encarnação na Terra - males do pensamento - num hospital da que agora aprende ser uma colônia nos limites do Umbral, uma espécie de purgatório sombrio e triste onde padeceu por oito longos anos. Aprende que Nosso Lar foi fundado por portugueses desencarnados no século XVI, junto com índios nativos do Brasil. Admira os belíssimos jardins, o urbanismo perfeito da cidade, saboreia frutas estranhas...

    André aprende que existem também outras esferas, outros mundos ainda mais sutis que o seu mundo invisível para os olhos humanos. Um mundo onde mora sua mãe, onde habitam os de pensamento mais elevado. Sua mãe pode "descer" a Nosso Lar e visitá-lo, mas ele pode apenas revê-la, por conta própria, no sonho.

    E é este momento que se pretende apresentar neste projeto: quando o espírito sonha e se eleva para outro plano ainda mais fantástico, reencontrando a mãe e ouvir seus conselhos repletos de amor e sabedoria. Para então acordar e voltar a Nosso Lar, ao seu dia-a-dia, aos desconhecidos amigos que o ajudam no seu novo caminho.

Abordagem do tema

    Balizado em duas frentes - fotografia e cenografia -, "O Sonho de André Luiz" se propõe a trabalhar a linguagem cinematográfica utilizando a monocromia das cores e a reciclagem nos cenários e figurinos. A cada mudança de plano de André - Umbral, Hospital em Nosso Lar, Plano Elevado e na cena final as cores seguem um padrão único: o mundo ao seu redor é marrom escuro, branco, dourado e azul, revelando a sua percepção do mundo mágico circundante e acima de tudo da evolução de sua própria pessoa.

    A reciclagem utilizada nos cenários e figurinos vêm solucionar de forma criativa o aspecto surreal e fantástico necessário em Nosso Lar e no Plano Elevado em que a Mãe mora. Costurando estes dois elementos, a narrativa surpreendente de André Luiz (um repórter que vive intensamente as suas reportagens), ligeiramente adaptada - e aliviada de uma linguagem que poderia ser prejudicial à compreensão da trama.

    A veterana Nicete Bruno, confirmada no papel da Mãe, encabeça o elenco de jovens atores.

Sinopse

    A Terra. Ela gira lentamente. O Brasil visto do espaço. Estamos sobre o Brasil, do espaço, mais precisamente sobre o Rio de Janeiro. André Luiz narra a sua desencarnação, sua passagem agônica de oito anos no Umbral. Um vulto vagando na escuridão, uma luz amarela, mortiça mal delineando vales e montanhas escuras. Risos, gargalhadas sinistras, soluços e gritos desesperados. André narra sua chegada a uma cidade espiritual, carregado numa maca, até Nosso Lar. Nosso Lar, fundada por portugueses no século XVI, e construída por eles e índios tupis, cidade que paira sobre o Rio de Janeiro, assim como inúmeras cidades espirituais flutuam na ionosfera acima de outras cidades importantes.

    Já se vão alguns anos que André Luiz vive em Nosso Lar. Permaneceu num hospital por semanas a fio, amparado por outros Espíritos benevolentes. Sua mãe o visitou apenas uma vez, quando ainda convalescente, mas ele ainda não poderia estar com ela sempre que quisesse: ela vive em plano espiritual mais elevado. No entanto as saudades apertam, e André não vê a hora de reencontrá-la...

    Final dos anos 30. Finalmente recomposto, André é chamado a trabalhar, momento tão esperado. Como médico na Terra, aproveitará o seu conhecimento no plano espiritual. Seu primeiro dia de trabalho é um sucesso, ministrando passes regeneradores a enfermos que, como ele, chegaram das zonas umbralinas. Seus novos amigos estão felizes com sua dedicação - Tobias e Narcisa, a Senhora Laura e seu filho Lísias, que o hospedam. André está exultante com as recomendações feitas a seu favor, mas está muito cansado, precisando de repouso. Pretende voltar para a casa da Senhora Laura, mas Tobias lhe oferece um aposento próprio, ao lado das Câmaras de Retificação, que André aceita de bom grado.

    Não demora e o sono lhe invade o corpo. André é subitamente transportado a uma barca pequenina, cujo timoneiro no entanto o conduz célere por bela paisagem, rio acima. Chegando num porto de beleza ímpar, uma voz para ele inconfundível o chama pelo nome: André se precipita, afoito, ao encontro de sua Mãe, abraçando-a com grande emoção.

    Passeando por mágico bosque - onde as flores retém a luz solar -, por caminhos luminosos e dourados, André e sua Mãe conversam carinhosamente. Ela lhe explica que pedira muito para tê-lo ao seu lado no seu primeiro dia de serviço útil. Lhe aconselha para que converta toda oportunidade da vida em motivo de atenção a Deus, pelo trabalho. Que ofereça sempre de si mesmo, em tolerância construtiva, em amor fraternal e divina compreensão. Ela lhe confessa que, desde sua esfera espiritual, consegue vê-lo trabalhando em Nosso Lar, mas também ao pai dele, sofrendo no Umbral.

    Muito emocionado, André Luiz não consegue responder nada. Compreensiva, sua Mãe explica o sistema de bônus-hora, de remuneração de serviços comunitários - os critérios sempre pertencem a Deus, mas os atos merecedores são da responsabilidade de todos - como forma de recompensa e de um encontro futuro entre eles. Ela traça um paralelo entre as tarefas de administração e a da paternidade, como oportunidades similares de cooperar nas Obras Divinas da Vida. A Mãe encerra a conversa com André, explicando que é dada sabedoria a quem gasta tempo em aprender e mais vida e mais alegria aos que sabem renunciar.

    André adormece nos braços da Mãe, para acordar nos seus aposentos das Câmaras de Retificação, revigorado. Um canto divinal inunda o ambiente. André sorri, relembrando momentos de sua estadia em Nosso Lar: ainda cambaleante, sendo amparado por Lísias no hospital. Ele sai para a cidade, unindo-se aos seus amigos para uma oração matinal. Dão-se as mãos, enlevados pelas notas angelicais do cântico celeste. Feliz e sorridente, André observa cada um dos seus amigos, ainda recordando momentos em que lhe ajudaram: Laura, oferecendo-lhe frutos; Narcisa, fazendo-lhe a cama e arrumando seus aposentos; Tobias, animando-o, além de Lísias. O rosto de sua Mãe lhe vem à memória, dizendo para que dê de si mesmo.

    No céu de Nosso Lar desenha-se um coração azul, com estrias douradas. A voz retoma, em notas agudíssimas, fazendo o coração explodir numa chuva de minúsculas flores azuis, que se derramam levemente sobre a face de André e seus amigos.



"As Vidas de Chico Xavier" de Marcel Souto Maior (editora Rocco), Carlos Iglesia

     O jornalista Marcel Souto Maior, do Jornal do Brasil,  produziu uma interessante biografia jornalística no livro "As Vidas de Chico Xavier", inclusive pela particularidade do autor não ser espírita. Esta característica faz com que o texto dê destaque a extraordinária personalidade humana do médium, podendo-se notar na narrativa um pouco do espanto do autor pelos fatos que descreve.

    Assim, neste boletim dedicado ao Chico, me parece que vale a pena lembrar este livro. Ele nos trás uma perspectiva um pouco diferente da que estamos acostumados,  perspectiva que não deixa de mostrar o "homem absolutamente autêntico" que Francisco Cândido Xavier sempre foi.

    Eis alguns pequenos trechos do livro, que narram as visitas de Chico Xavier e Waldo Vieira aos Estados Unidos:

     "Em maio de 1965, os dois (Chico Xavier e Waldo Vieira) embarcaram para os Estados Unidos. Já era hora de levar o espiritismo segundo Kardec aos americanos. Acompanhados por dois amigos, Maria Aparecida Pimental e Irineu Alves, eles chegaram a Washington na tarde de 22 de maio, um sábado. No dia seguinte, visitaram um templo espírita* na cidade para agradecer ao plano espiritual pela chance da viagem. Sem aviso prévio, foram até o The Church of Two Worlds (A Igreja dos Dois Mundos), dirigido pelo médium Gordon Burrouhgs. Eram 15 horas. Eles se sentaram no último banco e ficaram em silêncio, acompanhando as preces, cânticos e comentários sobre a doutrina. Ninguém os conhecia ali.

    No final da reunião, uma senhora indicou os quatro "irmãos de outro país" ali presentes e falou sobre a tarefa deles nos Estados Unidos: levar a renovação espiritual e estimular a aproximação fraterna. Logo depois, em transe, anunciou a presença de um "teacher" e um "doctor" junto aos visitantes brasileiros. Chico e Waldo já tinham percebido a companhia de Emmanuel e de André Luiz.

    Em julho, Waldo Vieira colocou no papel um texto com a assinatura do doctor: "Pontos fundamentais para o espírita em viagem". Era uma cartilha para kardecistas que viajassem para o exterior pela primeira vez. Os conselhos, assinados por André Luiz, pareciam ter sido escritos por Chico Xavier. Para início de conversa, a palavra estrangeiro deveria ser riscada do dicionário. "Os filhos de outros povos devem ser tratados como verdadeiros irmãos". Era preciso fugir da exibição pessoal, guardar discrição e simplicidade, evitar críticas e discussões, anedotas e aforismos de mau gosto, além de comparações pejorativas capazes de humilhar os anfitriões. Para ser mais útil, cada um deveria estudar a língua e os costumes do país visitado.

    O quarteto tinha muito trabalho a fazer. Allan Kardec era um ilustre desconhecido nos Estados Unidos, mesmo entre os espíritas. Eles cultuavam a reencarnação, acreditavam em fenômenos como a materialização, mas ainda eram leigos em relação ao evangelho ditado pelo francês no século passado. Chico e Waldo se dedicaram, então, à segunda parte do plano: fundar um centro kardecista. Já tinha até um contato em Washington: Salim Salomão Haddad e sua mulher, Phillis. O casal tinha conhecido Chico Xavier ainda em Pedro Leopoldo, em 1956.

    Chico elegeu o turco Salim, que conhecia sete línguas, presidente do centro, batizado de Christian Spirit Center (Centro Espírita Cristão). A sede funcionaria na casa dos dois. Durante três semanas, o brasileiro ficou hospedado ali. Como sempre, trabalhou e estudou compulsivamente. De manhã, recebia aulas de inglês da filha mais velha do casal; à tarde, era a vez de Phillis assumir o papel de professora e à noite o marido virava mestre. Chico aprendeu em 15 dias o que poucos conseguiriam aprender em um ano.

    O aluno era um fenômeno, mas não tinha, segundo os professores, know-how suficiente para escrever os textos que, em poucos minutos, ele colocou no papel, com a assinatura de um certo Ernest O'Brien. As palavras em inglês saíam de sua mão em velocidade absurda até mesmo para os americanos e deixavam Mrs. Phillis boquiaberta. Um dos artigos, intitulado "Family",  começava com uma descrição das primeiras impressões logo após a morte: (...)

    Waldo Vieira não ficava atrás e também apresentava textos assinados por O'Brien: (...)

    O suicídio seria pura perda de tempo. A vida era inevitável.

    Entre uma aula e uma "mensagem", Chico Xavier escrevia livros e, de vez em quando, saía para passear com os anfitriões pela cidade. Mrs Phillis guardou duas frases de Chico durante a estada:

    - A gente precisa perdoar setenta vezes sete diariamente.
    - Um tanto mais de paciência todos os dias.

    Depois de Washington, Nova York. Ali, Chico se encontrou com o médico Eurípides Tahan, o parceiro de Maria Olina na Casa Espírita de Sheila. Tahan fazia pós-graduação em pesquisa de transplante de fígado e, estimulado por Chico, matriculou-se com ele em um curso noturno de inglês. Durante três semanas, o mineiro de Pedro Leopoldo participou das aulas. A professora ficou impressionada com sua facilidade para o idioma.

    No fim de uma das aulas, um rapaz da Nicarágua se aproximou de Chico e Eurípedes e desabafou, sem mais nem menos: enfrentava problemas com a mulher e precisava de ajuda. Chico resolveu visitá-lo naquela noite mesmo. O médico o acompanhou e estranhou seu comportamento na casa do nicaragüense. Mal chegou e começou a conversar com a mulher dele em espanhol fluente. O bate-papo demorou quarenta minutos. Chico parecia outra pessoa. Quando saíram. explicou-lhe: "Era a avó desta senhora. Eu a estava ajudando, dando conselhos..."

    Chico e Waldo saíram dos Estados Unidos e aterrisaram na França. (...)

    Nesta primeira viagem, Chico e Waldo lançaram sementes kardecistas no exterior. No ano seguinte, eles voltaram aos Estados Unidos para fiscalizar a plantação. (...)"

    "(...) A viagem renderia. Livros como Agenda Cristã e Nosso Lar seriam vertidos para o inglês, japonês e tcheco. O kardecismo começaria a engatinhar nos Estados Unidos. Um Centro de Sheilla seria inaugurado em Miami, ao lado de outros dois centros. Nova York sediaria três casas espíritas, a Califórnia ficaria com duas e a Filadélfia com outra nos trinta anos seguintes. Nada muito estimulante. The "World of the Spirits" venderia, no primeiro ano, 216 exemplares. Chico achou ótimo."

* O mais correto seria dizer espiritualista (GEAE)




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