Grupo de Estudos Avançados Espíritas

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Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec


Ano 10 - Número 434 - 2002            2 de abril de 2002

Conteúdo
Textos Comentários Perguntas Painel

Textos
Gênese Segundo o Espiritismo (Resumo) Capítulo XI & XII, Joel Matias, Brasil

Capítulo XI

GÊNESE ESPIRITUAL

Princípio espiritual:

    Decorre do princípio: "Todo efeito tendo uma causa, todo efeito inteligente há de ter uma causa inteligente". As ações humanas denotam um princípio inteligente, que é corolário da existência de Deus, pois não é concebível a Soberana Inteligência a reinar eternamente sobre a matéria bruta. Sendo Deus soberanamente justo e bom, criou seres inteligentes não para lançá-los ao sofrimento e em seguida ao nada, mas para serem eternos, sobrevivendo à matéria e mantendo sua individualidade.

    O princípio espiritual é independente do princípio vital, pois há seres que vivem e não pensam, como as plantas; "a vida orgânica reside num princípio inerente à matéria, independente da vida espiritual, que é inerente ao espírito". Independe também do fluído cósmico universal, tendo existência própria e sendo, juntamente com o princípio material, os dois princípios constitutivos do universo. O elemento espiritual individualizado constitui o espírito, enquanto que o elemento material forma os "diferentes corpos da natureza, orgânicos e inorgânicos". Todos os espíritos "são criados simples e ignorantes, com igual aptidão para progredir" por esforço próprio, através do trabalho imposto a todos até atingir a perfeição. Todos são igualmente objeto da solicitude divina, não havendo quaisquer favorecimentos.

    Os mundos materiais fornecem aos espíritos "elementos de atividade para o desenvolvimento de suas inteligências". Os seres espirituais progridem normalmente até atingir a perfeição relativa; como Deus criou desde toda a eternidade, quando do surgimento da Terra, já havia seres espirituais que tinham atingido "o ponto culminante da escala", assim como outros "surgiam para a vida".

União do princípio espiritual à matéria

    O corpo é "simultaneamente o envoltório e o instrumento do espírito", sendo apropriado ao nível de trabalho que cabe ao espírito executar em cada fase do desenvolvimento de suas faculdades. Na realidade em cada encarnação o próprio espírito molda o corpo ajustando-o à "medida que experimenta a necessidade de manifestar novas faculdades", que são rudimentares na fase de "infância intelectual". Sendo material, o corpo depois de algum tempo se desorganiza e decompõe; extingue-se o princípio vital e o corpo morre, quando então o espírito o abandona como a uma roupa que se tornou imprestável. O que distingue, portanto, o homem colocando-o acima dos animais, "é o seu ser espiritual, seu Espírito".

Hipótese sobre a origem do corpo humano

    Espíritos humanos em estado primitivo teriam encarnado em corpos de macacos, modificando-os gradativamente pela procriação, dando origem assim a uma espécie nova que foi se aperfeiçoando até chegar à forma atual do corpo humano, enquanto que os macacos (com o princípio espiritual de macaco) continuaram a procriar como macacos. A Natureza não dá saltos e é provável que os primitivos humanos pouco diferissem dos macacos, havendo até hoje selvagens semelhantes a esses, só lhes faltando os pêlos.

Encarnação dos Espíritos

    Não podendo o espírito, por sua natureza etérea, agir diretamente sobre a matéria, faz-se necessário um intermediário, seu envoltório fluídico, semi-material, extraído do fluído cósmico universal modificado; é o perispírito.  Torna-se assim o espírito apto a atuar sobre a matéria tangível e todos os fluídos imponderáveis. O fluído perispirítico serve de veículo ao pensamento, transmitindo ordem de movimento ao corpo, como também levando ao "Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam".

    No momento da concepção do corpo humano, expande-se o perispírito em forma de um laço fluídico, ligando-o molécula a molécula ao corpo em formação, em virtude da influência do princípio vito-material do gérmen. "Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior." Por ocasião da desorganização do corpo deixa de atuar o princípio vital, causando a morte, passando então o perispírito a se desprender molécula a molécula, voltando à liberdade. "Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito".  O desencarne pode ser rápido, fácil suave e insensível ou lento, laborioso, horrivelmente penoso podendo durar meses, dependendo do estado moral do Espírito.

    À partir do momento em que o Espírito é unido ao gérmen pelo laço fluídico, entra em estado de perturbação progressiva até que ao nascer acha-se totalmente inconsciente. Com a respiração da criança, inicia-se a recuperação das faculdades, qualidades e aptidões anteriormente adquiridas, muito embora perca o Espírito reencarnado a lembrança de seu passado, o que lhe permite recomeçar a tarefa na escalada do progresso em melhores condições, livre de humilhações decorrentes de erros passados. Seu passado se lhe desdobra aos olhos quando vem a desencarnar, quando então avalia o emprego de seu tempo. Durante o sono também se lembra de seu passado, pois está, por momentos, liberto dos liames carnais.

    Segundo a opinião de alguns filósofos espiritualistas o princípio espiritual se individualiza através dos diversos graus da animalidade. Desenvolvidas as primeiras faculdades, recebe as faculdades especiais que caracterizam a alma humana. Esse sistema está de acordo com a grande Lei de Unidade, explica a finalidade da existência dos animais, porém as questões que suscita fogem à finalidade deste estudo, pelo que considera-se o Espírito à partir do momento em que entra na humanidade, dotado de senso moral e livre-arbítrio, sendo portanto responsável pelos seus atos.

    As necessidades e vicissitudes da vida carnal força o Espírito a exercitar suas faculdades, desenvolvendo-as, resultando em seu progresso, enquanto que sua ação sobre a matéria auxilia no progresso do globo, colaborando assim com a obra do Criador. O Espírito passa maior tempo no mundo espiritual, sendo insignificante o período em que se encontra reencarnado. O progresso na vida espiritual vem da aplicação que faz dos conhecimentos e experiências adquiridos quando encarnado. A encarnação é necessidade inerente à inferioridade do Espírito. Torna-se punição somente quando estaciona na escala do progresso, por negligência ou má vontade, obrigado a recomeçar a tarefa de depuração. Por outro lado, pode o Espírito abreviar a extensão do período das encarnações, espiritualizando-se ampliando assim suas faculdades e percepções.

    "O progresso material de um planeta acompanha o progresso moral de seus habitantes", de modo que há mundos mais e menos avançados que a Terra. Os espíritos passam pelas classes de mundos, adquirindo sempre mais experiências e conhecimentos até não mais necessitarem encarnar, continuando a progredir por outros meios, até atingir o ponto culminante do progresso, quando passam a ser Mensageiros, Ministros diretos do Criador, no governo dos mundos. Dentro da Hierarquia espiritual todos os espíritos têm sua atribuição no mecanismo do Universo, desde o mais atrasado até o mais adiantado, de modo que no Universo existe sempre atividade e nunca ociosidade.

    Muito embora fossem bastante imperfeitos (como seus corpos) os primeiros espíritos que encarnaram na Terra, seus caracteres e aptidões eram bastante diversificados; agrupavam-se segundo suas semelhanças e simpatia, povoando-se o planeta com "espíritos mais ou menos aptos ou rebeldes ao progresso"; espíritos afins reencarnaram em corpos de mesmo tipo, formando diferentes raças, perpetuando-lhes o caráter distintivo físico e moral. Não sendo uniforme o progresso, naturalmente as raças mais inteligentes se adiantaram às demais. Assim o espírito, à medida em que atinge maior grau de progresso, reencarna em corpo de uma raça física apropriada, que lhe permita a manifestação de suas faculdades intelectuais e morais mais desenvolvidas.

Reencarnações

    A reencarnação, conseqüência da Lei do Progresso, explica racionalmente o por quê das diferenças sociais entre o mundo atual e o dos tempos dos bárbaros, pois se as almas vivessem somente uma vida, então Deus teria criado as atuais privilegiadas em relação às outras. Assim, as almas que viveram em tempos antigos são as mesmas de agora, acumulando o progresso adquirido nas encarnações sucessivas.

    Várias etapas de aperfeiçoamento ocorrem num mesmo mundo, quando o espírito tem oportunidade de avaliar seu estágio, observando o exemplo de seus irmãos mais adiantados, possibilitando-lhe ainda a reparação de seus erros para com os outros; isto seria materialmente dificultado se cada etapa tivesse que ser cumprida em um mundo diferente. Somente após adquirirem todo o conhecimento possível num mesmo mundo, é que o espírito migra para outro, mais adiantado. Se a Terra servisse a uma única etapa no progresso do espírito, nenhuma utilidade teria p. ex., para uma criança que desencarna em tenra idade, após poucas horas ou meses de vida.

Emigrações e imigrações dos Espíritos

    Podem ser consideradas relativamente:

     1) - à população espiritual composta de espíritos desencarnados e que se encontram em estado de erraticidade na Terra (emigrações: passagem do mundo corpóreo para o espiritual; imigrações: passagem do mundo espiritual para o corporal);

     2)- à transfusão coletiva de espíritos de um mundo para o outro.

    Os flagelos e os cataclismos representam partidas em massa  de espíritos que cedem lugar a outros mais depurados, que reencarnam a fim de promover maior impulso no progresso das populações. Assim após "grandes calamidades que dizimam as populações" segue-se "uma era de progresso de ordem física, intelectual ou moral".

    Entre os mundos ocorrem emigrações e imigrações individuais ou, em circunstâncias especiais, em massas, constituindo novas raças de espíritos que, reencarnando assim que haja a espécie corporal apropriada, "constituem novas raças de homens".

Raça adâmica

    Após encontrarem-se as raças primitivas espalhadas pelo planeta desde tempos imemoriais, surgiu uma raça mais inteligente, apta às artes e à ciência, que impeliu todas as outras ao progresso; seu aparecimento ocorreu há apenas alguns milhares de anos, ao contrário das primitivas, sendo comprovado pelos fatos geológicos e observações antropológicas. Foi denominada raça adâmica.

    A criação do gênero humano à partir de um único indivíduo não pode prevalecer, senão vejamos:

    1)- Fisiologicamente, existem diferenças entre as raças inexplicáveis simplesmente pela ação do clima, p. ex., a cor negra "provém de um tecido especial subcutâneo, peculiar à espécie". Assim, têm origem própria as raças negras, mongólicas e caucásicas, tendo nascido em diversas partes do globo, resultando de seu cruzamento as raças mistas secundárias.

    2)- Segundo a Gênese, Adão teria sido um homem inteligente, tendo seus descendentes logo construído cidades, lavrado a terra e trabalhado metais. Não é concebível que posteriormente tenham gerado povos atrasados, de rudimentar inteligência, existentes até nossos dias.

    3)- Documentos antigos provam que o Egito, a Índia e outros países como a América "já eram povoados e floresciam, pelo menos, três mil anos antes da era cristã, mil anos, portanto, depois da criação" de Adão. Seria impossível, em tão pouco tempo, à posteridade um só homem povoar a maior parte da Terra.

    4)- Admitindo-se a destruição de todo o gênero humano com o dilúvio, menos Noé e sua família, então o repovoamento da Terra teria ocorrido à partir dele; teriam então seus descendentes hebreus povoado em seis séculos todo o Egito e outros países, o que não seria possível.

Doutrina dos anjos decaídos e da perda do paraíso

    Os mundos progridem na proporção do progresso moral de seus habitantes. Por ocasião da ascensão hierárquica de um mundo, sofre mutação sua população encarnada e desencarnada, quando então os espíritos que perseveram no mal "apesar de sua inteligência e do seu saber" são exilados para mundos menos adiantados, alguns ainda "na infância da barbárie". Lá, passarão a aplicar sua "inteligência e a intuição dos conhecimentos que adquiriram ao progresso daqueles entre os quais passam a viver". A intuitiva lembrança que guardam de seu mundo de origem é para eles como um paraíso  que perderam por sua própria culpa. Para os habitantes de seu novo "hábitat" são tidos como anjos decaídos.

    A Terra recebeu espíritos exilados de um mundo mais adiantado, embora não despojados de seu orgulho e maus instintos - a raça adâmica - cuja missão foi a de fazer progredir os homens, que se encontravam em estado primitivo de desenvolvimento.

    Cristo foi o Salvador prometido por Deus, que lhes ensinou a Lei do Amor e da Caridade, mostrando o caminho para merecerem a "felicidade dos eleitos".

    A teoria do "pecado original" implica numa relação entre as almas nascidas no tempo de Adão e no tempo de Cristo, ou seja, espíritos reencarnados - quando então se justifica o envio de um Salvador aos espíritos exilados ao tempo de Adão, ainda manchados de vícios. O pecado original é ,assim, "peculiar a cada indivíduo e não resultado da responsabilidade da falta de outrem a quem jamais conheceu". A missão do Cristo só é concebível admitindo-se a reencarnação das mesmas almas, esclarecendo-lhes quanto às vidas passadas e quanto ao futuro que as aguarda após despojarem-se de suas imperfeições.

    Os espíritos podem estacionar em seu desenvolvimento, mas nunca regredir. Assim, os espíritos exilados para um mundo inferior, conservam seu desenvolvimento moral e intelectual, apesar do meio onde se encontram.



Capítulo XII

   GÊNESE MOISAICA

Os seis dias

    Comparando a teoria da constituição do Universo baseada em dados da Ciência e do Espiritismo com o texto da Gênese de Moisés, pode-se observar que:

    1)- Existe em alguns pontos notável concordância com a doutrina científica, sendo entretanto arbitrário o número de seis períodos geológicos, pois, conhece-se pelo menos 25 formações caracterizadas pela Geologia e referentes às grandes fases gerais, além do fato de que muitos geólogos consideram o período diluviano um fato transitório e passageiro, encontrando-se as espécies vegetais antes como depois do dilúvio;

    2)- Quanto à criação do Sol e os astros em geral, objeto da Astronomia, ter-se-ia que considerar um primeiro período, o período astronômico;

    3)- Considerando-se o período astronômico como sendo o primeiro dia da criação, período primário = 2o dia, período de transição = 3o dia, período secundário = 4o dia, período terciário = 5o dia, período quaternário ou pós-diluviano = 6o dia, verifica-se que:

a)- não há concordância rigorosa entre a Gênese moisaica e a Ciência;
b)- notável concordância na sucessão dos seres orgânicos, quase a mesma, com o aparecimento do homem, por último;
c)- concordância no surgimento dos animais terrestres no período terciário quando "as águas que estão debaixo do céu se reuniram num só lugar e apareceu o  elemento árido", ou seja, quando por elevações da crosta surgiram os continentes e os mares;
d)- Moisés queria significar dias de 24 horas quando descreveu a criação. Tal crença vigorou até que a Geologia lhe demonstrou a impossibilidade;
e)- Há um anacronismo na criação das plantas e do Sol, pois, é evidente que as plantas não teriam podido viver sem o calor solar;
f)- Houve acerto na afirmação de que o "a luz precedeu o Sol", pois, o Sol é uma concentração em um ponto do "fluído que, em dadas circunstâncias, adquire as propriedades luminosas". Esse fluído é causa e precede o Sol que é efeito. O Sol é causa "relativamente à luz que dele se irradia; é efeito com relação à que recebeu". O erro estava na idéia de que a Terra houvera sido criada antes do Sol.
g)- Moisés esposava a antiga crença de que a abóbada celeste era sólida e fora criada para separar as "águas de cima das que estavam sobre a Terra". A Física e a Astronomia provaram ser insustentável tal doutrina.
h)- A criação do homem através "do limo da terra" tem seu acerto no sentido de que o corpo do homem deriva dos elementos inorgânicos, enquanto que a formação da mulher através de uma costela deve ser entendida como alegoria, mostrando a identidade de natureza perante o homem e perante Deus;
    A Gênese bíblica não deve ser simplesmente rejeitada e sim estudada como sendo "a história da infância dos povos". Em suas alegorias há muitos ensinamentos velados cujo sentido oculto deve ser pesquisado; por outro lado devem ser submetidos à razão e à Ciência, apontando-se-lhes os erros.

Perda do paraíso

    Assim como a fábula de Saturno, "que devorava pedras, tomando-as por seus filhos", significa: Saturno a personificação do tempo; seus filhos: todas as coisas mesmo as mais duras,que acabam destruídas pelo tempo, com exceção de Júpiter, "símbolo da inteligência superior, do princípio espiritual, que é indestrutível", também na Gênese grandes verdades morais se encontram por traz de suas alegorias. Desta forma deve ser entendido que:

1)-Adão personifica a Humanidade; sua falta: a fraqueza do homem (dominado pelos instintos materiais); a árvore da vida: emblema da vida espiritual; árvore da Ciência: emblema da consciência (do bem e do mal); o fruto da árvore: o objeto dos desejos materiais do homem (comer o fruto é sucumbir à tentação); jardim das delícias: a sedução (no seio dos prazeres materiais); a morte: aviso das conseqüências (físicas e morais); a serpente: a perfídia dos maus conselhos, significando também encantador, adivinho (o Espírito de adivinhação teria seduzido a mulher para conhecer, compreender as coisas ocultas); o passeio de Deus pelo jardim: a Divindade a vigiar o objeto de sua criação; a falta de Adão: infração da lei de Deus; a vergonha de Adão e Eva ante o olhar divino: confusão do culpado na presença do ofendido; o suor no rosto para conseguir sua alimentação: o trabalho neste mundo.(Admitindo-se que a raça adâmica tenha sido exilada, por punição, de um planeta mais adiantado onde o "trabalho do espírito substituía o do corpo", pode-se compreender que a vida em nosso planeta, onde para a mulher o parto ocorre com dor e o trabalho é corporal, lhes representava a perda do paraíso); o anjo com a espada flamejante: impossibilidade de penetrar nos mundos superiores (até merecimento pela depuração do espírito).

    Com relação ao episódio do assassinato de Abel por Caim, em que este foi estabelecer-se a leste do Éden e passou a construir uma cidade, teve mulher e filho, conclui-se de sua impossibilidade se realmente só existissem somente seus pais e ele próprio. Assim "Adão não é nem o primeiro, nem o único pai do gênero humano".

    Através dos conhecimentos trazidos pelo Espiritismo quanto às relações do princípio material e espiritual, natureza da alma criada simples e ignorante, sua união com o corpo, sua marcha na escala do progresso através de reencarnações e através dos mundos, libertação gradual da influência da matéria pelo uso do livre-arbítrio, da causa de seus bons e maus pendores, nascimento e morte, estado na erraticidade e da felicidade futura após perseverança no bem, pode-se entender todas as partes da Gênese espiritual. Sabe então o homem de onde vem, por que está na Terra, para onde vai. Seu cativeiro neste mundo somente dele depende. Compreende então a majestade, bondade e justiça do Criador.



As Quatro Nobres Verdades, Carlos Iglesia, Brasil


As Quatro Nobres Verdades
Uma breve comparação entre Budismo e Espiritismo

             Plano de Trabalho, Boletim 428
           I -Apresentação e Agradecimentos,  Boletim 428
           II - Introdução: Uma retrospectiva - Ocidente & Oriente, Boletim 428

              III - Visão Geral

            As duas Doutrinas, Boletim 429
            História, Boletim 430
            As Quatro Nobres Verdades, Boletim 431

              IV - Questões Filosóficas

                    Objetivos, Boletim 432

Próximos Boletins:

                    A questão da Causa Primeira
                    O Homem em sua essência
                    Concepção deste mundo
                    Responsabilidade frente ao destino
                    Atitude perante a fé

              V - Prática

                    Impacto na sociedade
                    Organização Interna
                    Ritos

              VI - Conclusão
              VII - Anexos

                    Para conhecer melhor as doutrinas discutidas neste artigo
                    Breve vocabulário
                    Bibliografia
 


IV - Questões Filosóficas

Objetivos


- Budismo
"Segundo o Budismo, é o homem que traça a rota do seu próprio destino. Assim, Gautama Buda, exortava seus discípulos a que eles mesmos fossem seus próprios refúgios, ou ajudas. Estimulava em cada um o autodesenvolver-se, porque, mediante seu próprio esforço e dedicação, o homem tem em suas mãos o poder de libertar-se da escravidão, da ignorância e de todo o sofrimento" (cap. "Budismo como Ciência, Moral e Filosofia", Budismo, Psicologia do Autoconhecimento).
    O Budismo busca a transformação do ser através da destruição da ilusão do "eu", superação da ignorância. Compaixão e sabedoria como resultado da destruição total do egoismo. Libertação do sofrimento encerrando-se o ciclo de causa e efeito através do desapego ao resultado das ações, fim do "eu" e do "meu"(sem que isso signifique exatamente extinção total do ser);

     Na escola Mahayana, uma grande ênfase é dada ao ideal do Bodhisattva. O Bodhisattava é o ser que já atingiu todas as condições para a libertação final, para o Nirvana, porém prefere manter-se em contato com este mundo a fim de auxiliar na libertação dos demais seres. O voto do aspirante ao Bodhisattva, é justamente de buscar o despertar em beneficio de todos.

- Espiritismo

"O objetivo essencial do Espiritismo é melhorar os homens, no que concerne ao seu progresso moral e intelectual"  Máximas extraídas do ensinamento dos espíritos, Allan Kardec, O Espiritismo em sua mais simples expressão.

"É assim que, pela prática do Espiritismo e com as instruções dos Espíritos elevados, pode o homem adquirir essa preciosa ciência da vida: a disciplina das emoções e das sensações, o domínio de si mesmo, essa arte profunda de se observar e, depois, de se assenhorear dos secretos impulsos de seu próprio ser". Léon Denis, Aplicacação Moral e Frutos do Espiritismo, No Invisível - FEB

    O Espiritismo busca a transformação do ser através de sua reforma moral, com a superação do egoismo e o desenvolvimento de virtudes como a caridade e a sabedoria. Pela palavra "caridade" entende-se, na Doutrina Espírita, o amor ao próximo em sua expressão mais sublime, já a palavra "sabedoria" significa o uso ético dos conhecimentos adquiridos, inclusive das leis universais, como a de causa e efeito. Como conseqüência do progresso espiritual resultante, há a libertação do sofrimento e o fim da necessidade do espírito reencarnar-se, por não necessitar mais do aprendizado proporcionado pelo ciclo de reencarnações.

    Assim descreve Kardec as caracteristícas dos espíritos que atingiram esse estágio de progresso:

    Espíritos Puros: "Percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Havendo atingido a soma de perfeições a que a criatura é suscetível, não têm mais a sofrer nem provas, nem expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação nos corpos perecíveis, vivem a vida eterna que desfrutam no seio de Deus" (cap. Dos Espíritos, O Livro dos Espíritos, Allan Kardec).

- Análise

    O resultado da correta prática do Budismo leva aos mesmos resultados da prática da Doutrina Espírita. Os dois caminhos espirituais resultam na libertação do sofrimento, pelo fim do apego ao mundo material e ao "eu" egoísta. O "Iluminado" Budista corresponde ao conceito de "Espírito Puro" dos Espíritas.

    É muito importante notar que as palavras "compaixão" para os Budistas e "caridade" para os espíritas, tem sentido mais amplo que o empregado na conversação cotidiana. A compaixão budista, longe de ser um sentimento de piedade, é o interesse profundo e amoroso pelo destino de todos os seres e se reflete na ação de ajuda-los a encontrar seu caminho de iluminação. A caridade espírita, também está longe de ser a esmola ou simplesmente a ajuda material, é o amor fraterno em ação, representando tanto o interesse pelo bem-estar do próximo, como o desejo mais profundo de auxilia-lo na busca da verdadeira felicidade.

    Ambos, compaixão e caridade, nascem no ser a partir da compreensão de que somos mais do que um corpo material, de que estamos ligados a todos os seres e compartilhamos o mesmo destino. A felicidade, a libertação do sofrimento, é o objetivo de todas as criaturas e trabalhar em prol deste objetivo, auxiliando a todos, a meta mais nobre a que o ser pode almejar.




Comentários
Comentários Adicionais Relacionados a Questionamento Feito no Boletim 430, Marcelo, Brasil

(Questionamento sobre outros Movimentos Espiritualistas)

Agradeço a resposta aos meus questionamentos.

    As perguntas feitas foram motivadas pelo posicionamento que às vezes observo por parte de alguns membros do movimento espírita às vezes até tratando o assunto com certo preconceito o que não demonstra com certeza as bases morais da Doutrina Espírita.

    A outra questão foi motivada após ter lido em uma das edições da revista Veja, edição a qual não me recordo o número mas foi logo no princípio do ano. Um estudioso do ceticismo nos Estados Unidos entre as várias afirmações que fazia, afirmava que alguém que acredite em "fantasmas" acredita em qualquer coisa.

    Apesar disso não incomodar as minhas convicções, me preocupa o reflexo de posicionamentos como este sobre a nossa sociedade, pois ainda tive contato com mais um texto do  mesmo tipo em outra revista em pleno consultório médico.

    Somando-se a isso a atividade de pessoas que fazem fama desmascarando outras que se aproveitam da tragédia alheia se dizendo "curadores",  "advinhadores" etc.  Me veio então a preocupação sobre a situação do movimento espírita e sua seriedade frente a opnião pública.

    Sem mais, agradeço toda atenção.

Marcelo Machado


Olá Marcelo,

    O grande problema envolvido na questão é que somos todos seres humanos, com um longo passado a corrigir e hábitos arraigados que precisam ser mudados. O fato de uma pessoa aceitar os conhecimentos transmitidos pela Doutrina Espírita não a torna automaticamente candidata a iluminação espiritual ou a infalibilidade. No caso que estamos discutindo, muitos companheiros ainda permanecem presos ao exclusivismo religioso, não conseguem entender que, neste mundo tão imperfeito, a Verdade não é propriedade exclusiva de nenhuma crença. Há muitos caminhos que levam a uma compreensão mais ou menos perfeita dela, mas nenhum que possa se dizer "o único" Verdadeiro.

    Cada ser humano deve escolher seu caminho, qual a religião - ou a visão da Verdade - que lhe fala melhor a alma e a razão. Se há amigos nossos que encontram em outras doutrinas espiritualistas o que procuram, não há porque nós espíritas criticarmos isso. Mesmo dentro do Espiritismo há um largo espectro de "visões" de mundo, muitos irmãos são mais religiosos e outros mais cientificos, alguns não deixam de ter um certo apego a manifestações de culto, outros há que se ofendem até mesmo com os "papéizinhos" pedindo preces e a costumeira garrafa d'agua na mesa "da caridade".

    Kardec, na Codificação Espírita não desceu a tantas minucias - era efetivamente um grande educador - que tolhesse completamente a liberdade de escolha de cada um. Se partirmos dos conhecimentos básicos espíritas, há um grande leque de opções de como vivencia-los e os grupos espíritas são, nada mais nada menos,  grupos de pessoas afins que se reunem por um interesse mutuo na Doutrina - O grupo reproduzirá as preferências de seus componentes!

    Quem está certo? Quem está errado? A árvore se conhece pelos frutos, somente os resultados dirão. O grupo que tornar seus participantes melhores seres humanos, este estará mais próximo da Verdade. E melhores seres humanos, não significa aqueles que mais lutam para impor seus pontos de vista, mas os que os vivenciam melhor.

    Eis um ponto importante, a grande missão do Espiritismo é a transformação do ser humano, é a famosa reforma íntima, e a partir dela, gradualmente a transformação para melhor da sociedade e do mundo. Uma sociedade de individuos cristianizados será uma sociedade Cristã.

    Assim o Espiritismo não vem para disputar terreno no "mercado" das almas, não tem interesse em proselitismo ou em arrancar fiéis de quem quer que seja. Vem sim, transformar aqueles que o buscam, aqueles que - não encontrando respostas que os satisfazem em outros caminhos - chegam a ele. Vem mostrar o túmulo vazio para os que não tem mais esperanças, a sabedoria divina expressa através de leis eternas para aqueles que não creem mais nela, enfim, vem fazer um trabalho individuo a individuo. Para a transformação efetiva do mundo, mais vale um punhado de seres realmente transformados, do que uma multidão convertida só de fachada. Eis porque nosso ocidente cristão precisa urgentemente de uma cristianização, porque só temos um verniz de evangelho em nós.

    Não digo que não se deva fazer divulgação, pelo contrário, como as pessoas - que buscam esse algo a mais em suas vidas - o encontrariam? Mas digo que se alguns mal-informados não o compreendem, isso não tem a menor importância. Não creem na vida eterna, pois bem, todos nós, um dia mais cedo ou mais tarde, constataremos a realidade por conta própria. É uma lei da vida ninguém ficar por aqui eternamente e, ao partirmos, não há como evitar de chegar ao outro lado ... Acham que os espíritos não se comunicam, pois bem que esperem a vez deles de estarem do outro lado do médium tentando passar um recado para os que ficaram deste lado.

    Cada caso é um caso, mas muitas vezes os enganadores só enganam aos que se deixam enganar. Quantos não caem nas mãos dos vigaristas, daqui e do além, porque não querem senão resolver interesses materiais através dos espíritos? Quantos, em vez de buscar sua adequação as leis divinas, não recorrem aos centros na busca de torcer as leis divinas a seu favor?

    Como Jesus disse,  buscai e achareis!

    Quanto a opinão pública, se ler o sermão da montanha, verá que Jesus alertou para o fato de que a pessoa deve se preocupar quando for muito elogiada e aplaudida, pois "assim faziam os vossos pais com os falsos profetas ..."

    Meu amigo, se você olhar os grandes sucessos de público e de audiência, se analisar quais são as personalidades que recebem destaque na midia, se atentar quais idéias tem divulgação ampla e irrestrita, dará graças a Deus pelo Espiritismo não estar no meio delas ...

    Tenha fé, siga seu caminho em paz e deixe os outros seguirem cada um o seu, Deus vela por todos!

    Atenciosamente,
    Carlos Iglesia



Clonagem, Daniel, Brasil

    Envio este e-mail, pois ao ler a correção feita pelo Marco Antônio (A Clonagem sobre o Ponto de Vista Reencarnacionista) de que seria impossível o ectoplasma se acumular e gerar energia, e assim sendo impossível o homem ser autotrófico.

    Venho dizer que já existem diversos focos de pesquisa no mundo, assim como acontece com o conhecimento espírita que surge em vários locais ao mesmo tempo, sobre pesquisas aonde estão provando que o ser humano na verdade precisa de muito mais energia do que se dizem. As 2500 calorias normais não se comparam aos dados encontrados de necessidades de 15000 calorias, pois até o pensamento já estão provando gastar muita energia.

    E destas pesquisas surgem aqueles que tentam se alimentar de luz, através de técnicas específicas. Não só de luz como tentam dizer mas da própria energia, do fluido universal que nos circunscreve, ou seja, nós poderíamos sim, segunda estas novas teorias e compravações, sermos uma espécie de autotróficos, ou em termos mais no meu nível, pessoas que não precisam de se alimentar para ter energia para realizar as suas ações.

    Apenas um ponto de vista, que apesar de não comprovado, pede aos irmãos um menor uso de certezas inabaláveis neste caminho.

Daniel Martins Ferreira



Dúvidas Levantadas sobre o livro O Faraó Mernephtah, Antonio Lolando, Brasil

Caros amigos,

    Encaminhei o Boletim 431 para uma lista de discussão sobre as obras do Conde Rochester, e recebi a resposta abaixo, que envio para sua apreciação.

Grato pela atenção.

Cordialmente,
 Cristian Fernandes


Olá Cristian!

    Muito interessante esta questão!

    Também tive a mesma dúvida quando li as primeiras páginas do referido livro. Na ocasião pensei em duas hipóteses: primeira, um possível erro na tradução do original francês; segunda: que talvez "Mernephtah" fosse uma espécie de nome de família. Hoje, resolvi pesquisar na internet (como sempre faço) para tentar descobrir o motivo.

    Bem, descobri algo muito interessante... Primeiramente é importante esclarecer que os faraós egípcios tinham vários nome, a começar pelo nome de batismo. Depois o nome real, de quando assumia o trono, e algumas vezes, outros nomes para designar novos cargos ou fases do reinado. Também é interessante notar que os nomes egípcios sempre tinham um significado, geralmente homenageando algum deus egípcio. Assim, Ramsés significa "filho de Rá", Tutmes, "filho de Toth (Tut)", Amenhotep "Amon está satisfeito " e Merneptah "amado de Ptah".

    O faraó Seti I, pai do grande Ramsés II e avô de Mernephtah, tinha o nome de batismo Seth Merenptah. Portanto, Thermutis realmente se referia ao seu pai Seti Merenptah no início do livro e não ao faraó Mernephtah, seu sobrinho, filho de Ramsés II.

    Quanto à segunda dúvida do leitor Milton Cordova: Ramsés II, pai de Mernephtah viveu até os 92 anos de idade. Quando Mernephtah assumiu o trono, já tinha cerca de 60 anos e, portanto, não era jovem, mas ao contrário, deveria ter mais ou menos a mesma idade de seu primo, Moisés. A impetuosidade de Mernephtah é uma característica nata deste espírito, que também encarnou as personalidades de José, o chanceler de ferro do Antigo Egito, Tutmes III (segundo algumas informações), do Conde Lotário de Rabenau (no livro Abadia dos Beneditinos) e do Conde J. W. Rochester, como pode ser observado na sua literatura. Acredito que isto explica as dúvidas de Milton...

    Cristian, seria importante repassar estas questões ao boletim do GEAE. Como não sou assinante, solicito, se possível, que os faça por nós.

    Para finalizar, a título de curiosidade, seguem algumas informações sobre os nomes e significados dos faraós egípcios (o deus sol tem o nome de Rê ou Rá; Ptah, Amun e Seth são deuses egípcios):

Ramsés I (Menpehtyre):
Nome de batismo: Ramesses (filho de Rá)
Nome real: Men-pehty-re (Eterna é a força de Rê).

Seti I (Menmaatre):
Nome de batismo: Seti Merenptah (Aquele de Seth, Amado de Ptah)
Nome real: Men-maat-re (Eterna é a justiça de Rê).

Ramses II (Usermaatre):
Nome de batismo: Ramesses Meryamun (Filho de Rá, Amado de Amun)
Nome real: User-maat-re Setep-en-re (A justiça de Rê é poderosa, O escolhido de Rê).

Merneptah (Baenre-merynetjeru):
Nome de batismo: Merneptah Hetephermaat (Amado de Ptah, Jubilosa é a justiça)
Nome real: Ba-en-re Mery-netjeru (A alma de Rê, Amados dos deuses).

    Estas informações foram retiradas do site http://www.asahi-net.or.jp/~ue4k-ngt/phe/phrh19.html.

Abraços fraternos,
Antonio Rolando




Perguntas
Contacto de Miami, Cristina, USA

Amigos,

    Somos um grupo que trabalha junto desde 1992 em Miami, e agora em North Miami Beach.

    Nosso ideal é dar aos brasileiros em nossa região um lugar onde praticar a doutrina espirita, aprender sempre mais, e ao mesmo tempo incentivar os frequentadores a constante melhoria interna pela prática da doutrina e incentivar os frequentadores a constante melhoria interna pela prática da doutrina de Jesus.

   Gostariamos de ampliar a sessão de estudos com assuntos de interesse para os que desejam um conhecimento mais profundo das leis que regem nossas vidas dos dois lados da existencia humana. Como poderiamos contar com voces?

    Abracos e felicidades

    Cristina


Olá Cristina,

    Nosso objetivo como grupo espírita é incentivar a troca de idéias e o estudo fraterno da Doutrina Espírita. Pela própria natureza do meio de comunicação que usamos - a Internet - temos procurado também ajudar os grupos espíritas que se estabeleceram fora do Brasil e o Spititist Messenger tem justamente o papel de apoio aos grupos de lingua inglesa. Sabemos que nossa capacidade de atuação é modesta, mesmo porque também somos aprendizes, mas já é possivel notar os primeiros resultados positivos.

    Dentro do trabalho do Spiritist Messenger, estamos buscando criar um diálogo permanente em lingua inglesa, que coloque a disposição dos espíritas que se comunicam nesta lingua, as trocas de idéias sobre os temas atuais do movimento espírita; inclusive trocas de idéias sobre as realidades encontradas pelos espíritas em outros ambientes culturais. Buscamos também traduzir textos e obras que possam contribuir com as sessões de estudo.

    Assim, Cristina, ficamos muito felizes pelo contato com vocês e gostariamos de estabelecer uma troca de idéias permanente. Nossos boletins estão a sua disposição para a publicação de maiores informações sobre o grupo e como um canal de comunicação aberto com outros espíritas que desenvolvem atividades semelhantes. O Antonio Leite, que é o editor responsavel pela edição em Portugues do Boletim GEAE, é de Nova York e participa ativamente do movimento espírita de lá. A Jussara e a Crisley, que estão colaborando conosco na construção da nova página em ingles, são do SGNY (Spiritist Group of New York).

    O Ademir, editor responsável pelo Spiritist Messenger, e eu, que tenho me dedicado ao Mensajero Espírita, somos do Brasil. Nas edições do Mensajero também contamos com a ajuda de amigos de Málaga (Espanha) - Juan e sua esposa Conchi.

    Muita Paz,
    Carlos Iglesia



Pergunta Sobre Mudança de Sexo, Odenir, Brasil

Bom dia,

    Sou  de (...), sou uma adepta ao espiritismo. Já freqüentei por muito tempo uma casa espírita kardecista, freqüentei aulas de estudos, mas tenho uma grande dúvida sobre a mudança de sexo.

    Bem gostaria de saber sobre a ótica espírita e a opinião da FEB como vocês analisam esta cirurgia para a mudança de sexo.

Uma abraço fraterno
Odenir


Cara  Odenir.

    Primeiramente, gostaria de dizer que, para se ter a opinião oficial da FEB é necessário que voce encaminhe a pergunta para a FEB (http://www.febrasil.org.br). Mas vale lembrar que a resposta será a posição da FEB, naturalmente embasada nos estudos que eles fizerem. No Espiritismo não existe um órgão central que direcione a opinião de seus adeptos ou grupos. Isso explica porque, da mesma forma, qualquer opinião emitida por um espírita ou grupo espírita será a opinião desta pessoa ou grupo.

    Em seguida lembro que todos nos somos espíritos. E que nos podemos encarnar em qualquer tipo de corpo, seja ele branco, preto, amarelo, homem ou mulher.

    Quanto à sua pergunta, eu respondo com outra. Como o espírito não tem sexo, qual a relevância da operação de mudança de sexo para o espírito?

Um grande abraço,
José Cid.



Vida no Planeta Marte, Celso, Brasil

    Consta na Revista Espírita de outubro de 1860, pelo Espírito Georges, uma descrição minunciosa de como é a vida no planeta Marte.Gostaria de saber como fica o Espiritísmo, já que a ciência não confirma isso. Sendo a Doutrina dos Espíritos muito clara e transparente para mim, fica essa dúvida, maculando as informações dadas pelos Espíritos. Na espectativa de um esclarecimento, subscrevo-me, enviando um cordial abraço.

Celso


Caro Celso,

        Na Codificação Espírita, principalmente no Livro dos Médiuns, Allan Kardec, demonstrou que existem espíritos dos mais diferentes graus de conhecimento. Que, por causa disso, suas comunicações só deveriam ser aceitas após uma rigorosa análise critica. Quaisquer mensagens que contenham erros cientificos ou que tragam informações incompativeis com a razão devem ser descartadas. Também há o crivo da concordância com o ensinamento transmitido por outros espíritos, através de outros médiuns (vide no boletim 367 o artigo "Considerações sobre as idéias de verdade e controvérsias em torno dos ensinos dos Espíritos").

        Pois bem, feita esta pequena ressalva, podemos analisar o artigo da Revista Espírita de 1860. A "Revue Spirite" foi um canal de comunicação de Kardec com os grupos espíritas espalhados pelo mundo - nela eram discutidas as idéias, apresentados os estudos e analisadas as diferentes opiniões que formavam o movimento espírita de então. O fato de Kardec ter publicado a mensagem indica apenas que a considerava um objeto de estudo, do qual se poderiam extrair ensinamentos úteis.

        Os conhecimentos cientificos disponiveis em 1860 não permitiam a Kardec julgar a validade ou não do conteúdo da mensagem, da mesma maneira que podemos fazer hoje, depois de tantas missões espaciais enviadas para Marte. Ele só poderia analisa-la por sua coerência com os principios espíritas e com outras comunicações similares. Nesses termos, a mensagem é bastante coerente e, aparentemente, não havia grande quantidade de mensagens a respeito para fechar a questão. Enfim, ele publicou a mensagem de modo que pudesse ser discutida e a tomou como uma hipótese.

       Com base no que conhecemos hoje, podemos dizer que esta mensagem não corresponde a realidade. Se há vida em Marte, não deve ser mais material que a nossa, senão nossos instrumentos a teriam detectado. Naturalmente, há possibilidade de vida espiritual - ou em um estágio mais espiritualizado que o nosso - nossos instrumentos atuais, que não conseguem detectar os "espíritos" na Terra, não teriam porque detecta-los lá ...

        Comunicações mais recentes, como as da mãe de Francisco Cândido Xavier (Cartas de uma Morta - 1935) ou mesmo de Ramatís (O Planeta Marte e os discos voadores - 1955), falam de um mundo mais espiritualizado que o nosso, cuja tecnologia está muito além da que atingimos. Diria que são mais coerentes com os conhecimentos atuais e provavelmente mais próximas da verdade. Não há um consenso formado sobre a questão e é importante notar que sua solução definitiva não poderá ser dada pela Doutrina Espírita (não está no escopo do Espiritismo estudar detalhadamente a vida em outros planetas, substituindo as pesquisas espaciais).

        Enfim, o Espiritismo aceita perfeitamente as informações da ciência sobre o plano material e, se uma nova descoberta, contradiz alguma comunicação antiga, a única conclusão a que se pode chegar é que a comunicação estava errada: o espírito sabia menos do que dizia saber ou que por algum problema de comunicação - desde o animismo, até a interferências dos presentes na reunião - o conteúdo da mensagem foi mal transmitido. Uma alegoria, uma pequena fábula moral pode ter sido interpretada pelo médium ou pelos presentes como um "fato" transmitido pelo espírito.
 
 

        "Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade" - Allan Kardec.

Atenciosamente,
Carlos Iglesia




Painel
Sobre os Livros do Conde Rochester e Biografia da Medium Vera Ivanovna Kryzhnovskaia, Antonio Rolando, Brasil


Prezados senhores editores do GEAE,

     Gostaria de submeter à apreciação dos senhores a nova biografia da médium  russa Vera Ivanovna Kryzhanovskaia, editada recentemente pela Editora do Conhecimento, bem como os resumos dos novos lançamentos do Conde J. W. Rochester psicografados pela citada médium, para que possam ser divulgadas  no boletim GEAE, importante órgão de estudos e divulgação da doutrina espírita.

    A biografia da médium é fruto de pesquisas obtidas na Biblioteca Estatal Russa, sediada em São Petersburgo, e de informações obtidas na internet. Aos inúmeros admiradores da literatura do Conde de Rochester, é de extrema importância a divulgação destas informações, para melhor entendimento do conteúdo de seus livros.

    No aguardo de uma resposta afirmativa, agradecemos!

Antonio Rolando Lopes Junior
Colaborador da Editora do Conhecimento


Caro Antonio,

    Agradecemos a gentileza e estamos a sua disposição para divulgar a biografia da médium e das obras que psicografou. Realmente constatamos que há grande interesse na obra mediunica do Conde Rochester e principalmente de uma análise de suas obras. Neste particular, um ponto que sempre me deixou curioso é a publicação de novas obras deste autor. Como tantas obras sobreviveram a Revolução Russa e aos 70 anos de materialismo estatal? Como estas obras tem sido descobertas? Também me parece que há obras psicografadas por médiuns modernos, isto é correto ?

    Atenciosamente,
    Carlos Iglesia


Caro Carlos,

    Obrigado pela resposta. Enviarei a biografia e os resumos dos livros recém-lançados assim que possível.

    Para tirar suas dúvidas, preciso dizer um pouco sobre a médium Vera Kryzhanovskaia. Seus livros (pelo menos os primeiros) eram psicografados em francês e durante algum tempo foram exclusivamente editados na França. Quando a médium retornou à Rússia, inicou-se o trabalho de tradução para o russo e a produção de novas obras.

    Vera era completamente contrária à Revolução Russa. Seu esposo, Semenov, era "kamerguer" (uma espécie de secretário) do czar Nicolau II. Durante a revolução, seu esposo foi morto e ela teve que se exilar para a Estônia. Lá, teve uma vida miserável e desencarnou doente, sem o devido reconhecimento pelas grandes obras das quais participou. Na Rússia, suas obras foram destruídas, restando pouquíssimos exemplares (encontrei recentemente um catálogo numa biblioteca russa com referências de cerca de 100 exemplares). Após seu desencarne, em 1924, seus livros passaram a ser reeditados (em russo) por editoras da Letônia e da Alemanha. Curiosamente, depois de tantas décadas, seus livros começam a reaparecer na Rússia e hoje em dia pode-se até comprar seus livros pela Internet, em edições recentes. Não sei se devido ao ceticismo materialista ou à perda de informações, alguns críticos russos consideram Rochester apenas como um pseudônimo de Vera e outros consideram ainda a médium como co-autora dos livros, junto à Rochester. Nas edições russas, os livros aparecem como "Vera Kryzhanovskaia-Rochester" ou "Vera Kryzhanovskaia (Rochester)".

    Quanto a mim, sempre fui fã da literatura do Conde Rochester. Quando descobri que existiam livros ainda desconhecidos (e não localizados), iniciei um processo de pesquisas em bibliotecas do mundo todo (e foi assim que também descobrimos a biografia de Vera). Para minha surpresa, logo na primeira semana de pesquisas, pude encontrar novos livros na Inglaterra. Este foi somente o início... Descobri livros na Alemanha, na Letônia, na Lituânia, na Ucrânia, no Canadá, etc, etc, etc, e um imenso acervo nas bibliotecas dos Estados Unidos. E mais... traduções para diversas línguas, como o letão, o inglês, espanhol, lituano, tcheco, alemão, entre outras. Contactei os editores da Conhecimento Editorial devido à excelente qualidade de edição dos livros; contactamos Victor Selin, que já havia traduzido duas obras de Rochester e então, iniciamos o intercâmbio com as bibliotecas para trazer os livros, e desde então, o trabalho tem sido extenso, mas gratificante... Atualmente, duas médiuns psicografam livros assinados por Rochester: Arandi Gomes Teixeira (já editou duas obras e está com a terceira no prelo) e Maria Gertrudes Coelho (também duas obras editadas e a terceira no prelo).

    Para finalizar, gostaria de informá-lo que temos um grupo de discussões sobre Rochester e suas obras. Talvez fosse interessante divulgá-lo também no boletim do GEAE. O endereço para inscrição na lista é http://br.groups.yahoo.com/group/jwrochester/.

    Espero ter tirado suas dúvidas...

Fraternalmente,
Antonio Rolando.


Biografia
Vera Ivanovna Kryzhanovskaia

    Há mais de um século os livros de Rochester vêm encantando leitores no mundo todo e abrilhantando não só a literatura espírita, mas a literatura mundial.

    John Wilmot, Conde de Rochester, assumiu perante a Espiritualidade a missão de divulgar e solidificar a doutrina espírita, revelando ao mundo material as leis que regem o universo, elucidando e desmistificando, assim, os mistérios da então nascente doutrina. Para tanto, preparou desde cedo a jovem médium Vera Kryzhanovskaia, espírito querido e afim, que serviria de intermediário na execução de sua importante tarefa.

    Curiosamente, até então, escassas eram as informações a respeito da notável médium russa, provenientes principalmente de revistas francesas do final do século XIX. Porém, novas biografias foram recentemente localizadas na Biblioteca Nacional Russa, sediada em São Petersburgo, além de artigos encontrados na Internet, como o ensaio de Evguêny Kharitonov.

    Vera Ivanovna Kryzhanovskaia descendia de uma antiga família nobre da província de Tambov, mas nasceu em Varsóvia no dia 14 de julho de 1861, onde seu pai - o general-major Ivan Antonovich Kryzhanovsky - comandava a brigada de artilharia. Sua mãe vinha de uma família de farmacêuticos. Desde cedo, a futura escritora recebeu uma boa educação e se interessava por História Antiga e ocultismo.

    Aos dez anos de idade, seu pai morreu e a família ficou em situação econômica complicada. Vera, então, entrou numa associação beneficente de educação para moças nobres de São Petersburgo. No ano seguinte, em 1872, a família conseguiu introduzi-la na escola Santa Catarina como bolsista, mas sua frágil saúde e problemas financeiros impediram-na de concluir o curso e, em 1877, ela foi dispensada e concluiu sua educação em casa.

    Segundo B. Vlondraj, um dos principais biógrafos da escritora, um importante acontecimento deu novo rumo à vida de Vera. O espírito do poeta inglês J. W. Rochester (1647-1680), aproveitando seus dons mediúnicos, materializou-se e propôs que ela se dedicasse de corpo e alma a serviço do Bem e que escrevesse sob sua direção (Vera Ivanovna Kryzhanovskaia - Rochester. // Ocultismo e Ioga. Ed. 25. Assuncion, 1961, p. 32). É importante dizer que, após o contato com seu guia espiritual, Vera aparentemente se curou de uma doença grave na época - a tuberculose crônica - sem interferência médica.

    Vera Ivanovna começou a psicografar aos 18 anos. De acordo com V. V. Scriabin, algo de "sobrenatural" acontecia quando ela escrevia: "Freqüentemente, no meio de uma conversa, ela de repente se calava, ficava pálida e passando a mão pelo rosto, começava a repetir a mesma frase: 'Dêem-me um lápis e um papel, rápido!' Geralmente, nessa hora, Vera sentava-se numa poltrona junto à uma pequena mesa, onde quase sempre havia um lápis e um bloco de papéis. Sua cabeça ficava levemente jogada para trás e os olhos, semicerrados, concentravam-se num único ponto. De repente, ela começava a escrever sem olhar para o papel. Era a verdadeira escrita automática. (...) Esse estado de transe durava de 20 a 30 minutos, após o que Vera Ivanovna geralmente desmaiava. (...) As transmissões por escrito terminavam sempre com a mesma palavra: 'Rochester'. Conforme Vera, esse era o nome (ou melhor, o sobrenome) do Espírito que ela recebia." (V. V. Scriabin. Recordações. Ver # 65 da bibliografia, p. 24-25).

    Um testemunho semelhante pode-se encontrar nas "Anotações literárias" de M. Spassovsky: "No estado inconsciente, ela sempre escreve em francês... Seus escritos são traduzidos para o russo e, criteriosamente, redigidos ou pela própria autora ou por uma pessoa de sua confiança." (M. Spassovsky. Anotações literárias. - "Veshnie Vody", 1916, tomo 7-8, p. 145).

    Em 1880, numa viagem à França, Vera Ivanovna participou com sucesso de uma sessão mediúnica. Muitos contemporâneos se surpreenderam com sua produtividade, apesar da saúde débil. Por isso, apesar de muitos biógrafos e críticos afirmarem que sua escrita era puramente mediúnica e mecânica, como o doutor A. Aseev e L. Sokolova-Rydnina, outros preferiam considerar Vera como escritora ou co-autora dos livros do que como simplesmente médium. De qualquer forma, desde as primeiras mensagens já aparecia a assinatura do espírito Rochester. Atualmente, na Rússia e em vários países, muitos consideram Rochester somente como um pseudônimo ou como sobrenome de Vera.

    Em 1886 foi publicado em Paris o seu primeiro livro, o romance histórico "Episódio da Vida de Tibério", psicografado em francês, como assim foram as primeiras obras, nas quais a tendência para temas místicos já podia ser notada. Certamente, Vera teve influência nas doutinas de Allan Kardec e, possivelmente, de Helena Blavatsky, de Papus, bem como o apoio de seu esposo S. V. Semenov 01, que ocupava um cargo importante na chancelaria de Sua Majestade e, em 1904, foi nomeado "kamerguer" 02. Semenov era um famoso espírita e presidente do "Círculo de Pesquisas Psíquicas" de São Petersburgo. Entretanto, antes de conhecer Semenov, Vera já era uma poderosa médium e em suas sessões espíritas reuniam-se famosos médiuns europeus e eram freqüentadas até pelo, então, príncipe Nicolau, futuro Czar Nicolau II. Há notícias de que lá lhe profetizaram o acidente de "Khodynka" 03.

    Por um período com residência provisória em Paris, até 1890, Vera produziu uma seqüência de romances históricos: "O Faraó Mernephtah", "Abadia dos Beneditinos", "Romance de uma Rainha", "O Chanceler de Ferro do Antigo Egito", "Herculanum", "O Sinal da Vitória", "Noite de São Bartolomeu", entre outros, que chamavam a atenção do público não somente pelos assuntos cativantes, mas pelas tramas emocionantes.

    O crítico V. P. Burenin, elogiando o romance "A Rainha Hatasu", observava que "madame Kryzhanovskaia" conhecia o cotidiano dos antigos egípcios "talvez melhor do que o famoso romancista histórico Ebers" (jornal "Novoe Vremia", 13 de janeiro de1895), o que não contradiz a verdade. Os livros escritos pela médium conseguiam reproduzir com surpreendente fidelidade o espírito da época histórica descrita nos romances e eram abundantes em detalhes interessantes. Pelo romance "O Chanceler de Ferro do Antigo Egito" a Academia de Ciências da França concedeu-lhe o título de "Oficial da Academia Francesa" e, em 1907, a Academia de Ciências da Rússia lhe concedeu a "Menção Honrosa" pelo romance "Os Luminares Tchecos".

    Entretanto, embora muitos leitores apreciem os melodramas descritos nas relações amorosas, os chavões literários nas descrições dos personagens e o linguajar simples, embora exótico, a crítica séria sempre ignorava suas obras, como Gorky, no artigo "A Literatura do Vanhka" de 1899, citando que as mesmas eram orientadas ao leitor de pouca cultura, com preferências para diversão e sensacionalismo. Mas, os críticos jornalísticos encontravam em seus romances "um colorido brilhante, vida e precisão da base histórica" (A. P-v. - "Iuzh. Kray", 1894, 6 de fevereiro). Segundo avaliação de Helena Ivanovna Rerikh, "ela, indubitavelmente, merece respeito, pois seus livros trouxeram algum bem. Também é indubitável que a sua série "Os Magos" é incomparavelmente mais talentosa e rica em informações corretas do que as obras de muitos romancistas ocultistas posteriores". (Cartas de H.I. Rerikh, 1940, tomo 2, p. 134).

    Paralelamente ao ciclo histórico, Vera iniciou a psicografia de livros com temas "ocultistas-cosmológicos" (segundo definição da própria autora), tornando-se a primeira representante da literatura de ficção científica e a única do romance ocultista na Rússia. Ocupando essa posição isolada na literatura, seus livros eram publicados no jornal "Svet", e mais tarde nos jornais "Mosk. Ved.", "Novoe Vremia", "Rus. Vest.", "Rodina" e "Pamsky Mir".

    O tema principal nesses livros era a luta universal entre as forças divinas e satânicas, a interdependência das forças ocultas no ser humano e no Cosmo, os segredos da matéria original. A linha espiritual de ficção científica firmou-se nos romances seguintes, como "O Castelo Encantado", "As Duas Esfinges", na trilogia "O Terrível Fantasma", "No Castelo Escocês" e "Do Reino das Trevas", e abriu-se em todo seu esplendor na série mais popular da escritora - a pentalogia "Os Magos", que inclui os romances "O Elixir da Longa Vida", "Os Magos", "A Ira Divina", "A Morte do Planeta" e "Os Legisladores".

    No prefácio da versão original russa de "O Elixir da Longa Vida", Vera dizia que a série "foi escrita em forma de romance com o objetivo de facilitar a um grande círculo potencial de leitores o aprendizado dos princípios da ciência oculta, que são de difícil assimilação, abstratos e, por vezes, nebulosos".

    Naturalmente, com os conhecimentos atuais, muitos fatos descritos e narrados nos romances psicografados por Vera parecem inocentes e pueris. Entretanto, essa pentalogia está cheia de temas e idéias interessantes, com ênfase na luta entre o Bem e o Mal, não só no mundo cósmico e da natureza, mas também no meio social, condenando rigidamente a exploração, a degradação moral e a decadência da fé na sociedade. Talvez, pela primeira vez na ficção científica mundial, em um romance foi descrito o método de teletransporte como meio de transporte no espaço. As naves espaciais chamaram a atenção do professor N. Rynin, autor da enciclopédia capital "As Viagens Espaciais". Devemos salientar que o romance "A Morte do Planeta" é emocionalmente uma poderosa antiutopia e deve ser examinado como um romance "aviso de alerta". Ao ler a história da destruição da humanidade, fica-se surpreendido com que exatidão a escritora pressentiu muitos traços do futuro - o nosso presente -, com que veracidade estão profetizados (e descritos em detalhes!) os momentos históricos da Rússia: revolução, destruição dos templos, ditadura e os problemas daquele país e do mundo atual! Na verdade, mesmo hoje em dia, a série "Os Magos" é uma leitura bastante atual que obriga ao pensamento e reflexão.

    O romance "No Planeta Vizinho" também refere-se à ficção científica espacial. É uma utopia espacial de um governo ideal em Marte, uma monarquia e uma classe sacerdotal cheia de conhecimentos - semelhante à estrutura do Antigo Egito -, onde vai parar por acaso o herói principal - um terráqueo. O tema "governo ideal" também aparece no romance "Num Outro Mundo", que se passa em Vênus.

    Os temas dos livros não eram restritos à história e à ficção, mas também sociais, do cotidiano e de amor, como "Os Reckenstein", "A Feira dos Casamentos" e "A Teia", este, político e pró-monarquista. É importante salientar que os primeiros filmes russos foram baseados nas novelas de Rochester "Cobra Capela", "A Flor do Pântano" e "O Paraíso sem Adão".

    Não aceitando a revolução russa de 1917, na qual seu marido Semenov foi preso e morto na prisão "Kresty", Vera Kryzhanovskaia emigrou com a filha para a Estônia. Mas lá ela quase já não escrevia, faltavam meios para a edição dos livros. Todavia, em 1921, Vera jornal "Poslednie Izvestia" 04 de Tallin e no jornal "Narvsky Listok". Por mais de dois anos, teve de trabalhar na usina madeirense "Forest", onde o trabalho físico acima de suas forças afetou sua saúde. Não tinha dinheiro nem para editar um livro e nem para viver normalmente.

    A escritora faleceu na completa miséria no dia 29 de dezembro de 1924 na cidade de Tallin, capital da Estônia. "Ela faleceu num pequeno e humilde cômodo, sobre uma velha cama de ferro. Somente duas pessoas estavam presentes em seus últimos momentos, a filha Tamara e um amigo fiel de sua casa". (Vs. Nymtak. Recordações. Tallin, 1935. Cit. Sobre "Ocultismo e Ioga", 1961, p. 44). A escritora foi enterrada no cemitério "Aleksander Nevski" 05 de Tallin, onde seu túmulo pode ser visitado.

    Segundo artigo do médico municipal, Dr. Fedorov, "(...) fico estarrecido com a frieza e indiferença com que a comunidade russa encarou os sofrimentos de uma escritora também russa que se encontrava numa situação material sem saída. É duro acreditar que uma famosa escritora russa não tinha sequer sua própria camisola... Considero como obrigação moral registrar a indiferença que grande parte da sociedade demonstrou em relação à doença e à extrema penúria da escritora Vera Ivanovna Kryzhanovskaia e também atestar a sensibilidade e a caridade da organização estoniana "Associação de luta contra a tuberculose". Essa organização abriu, por iniciativa própria, um crédito mensal de 2000 marcos para a escritora para a compra de produtos alimentícios numa mercearia próxima e o fornecimento gratuito de lenha de fogão. O mesmo pode-se dizer do departamento municipal de desenvolvimento que, após a morte de Vera Ivanovna, expediu imediatamente uma quantia de dinheiro para aquisição de um caixão e uma cruz decentes. O túmulo também foi oferecido gratuitamente. Também apareceu um padre que executou gratuitamente o rito fúnubre..." ("Poslednie Izvestia", 5 de janeiro de 1925).

    Após sua morte, seus livros continuaram a ser reeditados, principalmente em Riga, na Letônia, pela sociedade esotérica daquela cidade, e em Berlim até meados dos anos 30. É possível ainda encontrar alguns deles em edições recentes, dos dois últimos decênios. Além dos originais franceses e russos, alguns de seus livros foram traduzidos para vários idiomas, como o letão, lituano, esloveno, alemão, inglês, espanhol, polonês, tcheco e grande parte para o português. Em mais de 30 anos de trabalho, Rochester criou através de Vera Kryzhanovskaia mais de 80 obras, entre novelas e contos, mas, infelizmente, muitas edições e publicações foram praticamente perdidas devido aos acontecimentos que sucederam à revolução russa. Surpreendentemente, após 75 anos da morte da memorável médium escritora, seus livros começam a ressurgir e os russos - e todo o mundo - começam a redescobrir seus preciosos trabalhos, os quais retornam aos leitores.

01 - Em algumas referências bibliográficas, o nome da autora aparece como Vera Ivanovna Semenöva, nome de casada da médium.
02 - Título honroso que dava direito ao uso de um uniforme especial com uma chave no centro.
03 - Local do conhecido martírio do Czar e da família real Romanov.
04 - Tradução: "Últimas Notícias".
05 - Antigo cemitério da cidade de Tallin, hoje parte do atual cemitério de Siselinna.




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