Grupo de Estudos Avançados Espíritas

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Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec


Ano 10 - Número 429 - 2002            5 de fevereiro de 2002

Conteúdo

Editorial

Textos Perguntas Painel

Editorial
O Livro "The Astral City" já está disponivel novamente no site do GEAE


Caros Amigos,

    Estamos reconstruindo a página com a versão em inglês do GEAE - "The GEAE in English" - e já estão disponiveis recursos como a pesquisa no site e a página de livros eletrônicos, que começa com o livro "Astral City", tradução do livro de André Luiz, Nosso Lar, para o inglês.

    Aproveitamos novamente para lembrar a importância da participação de todos, não deixem de nos enviar textos espíritas em inglês e informações sobre o movimento espírita em paises de lingua inglesa. A base fundamental de um grupo de estudos, dedicado a Doutrina Espírita, é a troca fraternal de idéias e de informações; é a apresentação serena das diversas opiniões e linhas de pensamento;  sua análise racional e sua validação pelos fatos, conforme nos ensinou Allan Kardec.

    Muita Paz,
Os Editores




Textos
A Gênese Segundo o Espiritismo (Resumo) Capítulo VI, Joel Matias, Brasil

CAPITULO VI

URANOGRAFIA GERAL

(Capítulo extraído das comunicações do espírito de Galileu através do médium Camile Flamarion- 1.862/3.)

O espaço e o tempo

    'O espaço é infinito'. Nossa razão se recusaria a aceitar um limite no espaço além do qual nada existisse. Mais lógico se nos afigura avançar em pensamento eternamente pelo espaço. Entretanto, mesmo que o fizéssemos por séculos a fio, em qualquer direção, na realidade nem um passo estaríamos avançando.

    'O tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias; a ETERNIDADE não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela, não há começo nem fim: tudo lhe é presente.'  Imaginemos, no início da Gênese da Terra, a primeira hora, a primeira tarde e manhã; Depois, o último dia do mundo. Neste período ocorreu a sucessão dos eventos; Com a última hora cessam os movimentos terrestres que mediam o tempo e este acaba com eles. Cada mundo na vasta amplidão conta seu tempo próprio, incompatível com os outros mundos. Fora deles, somente a Eternidade enche tranqüilamente com sua luz imóvel a imensidade sem limite dos céus.

A matéria

    A matéria se nos apresenta em diversas formas e propriedades. A Química demonstrou que os elementos terrestres são compostos de variadas substâncias, combinadas ao infinito, que podem ser decompostos atingindo os princípios denominados corpos simples como o oxigênio, hidrogênio, azoto, cloro, carbono, fósforo, enxofre, iodo (não metálicos), e ouro, prata, platina, mercúrio, chumbo, estanho, zinco, ferro, cobre, sódio, potássio, etc. entre os metálicos.

    Sendo ilimitado o número de forças que agem sobre a transformação da matéria, também variadas e ilimitadas são suas combinações. Entretanto, todos os corpos ponderáveis assim como os fluídos (imponderáveis) originam-se de uma única substância primitiva: o COSMO (fluído cósmico universal).

As leis e as forças

    O fluído etéreo primitivo enche o espaço, penetra todos os corpos, sendo-lhe inerentes as múltiplas forças, eternas e universais, que agem sobre a matéria por ele gerada, como a gravidade, coesão, afinidade, atração, magnetismo, eletricidade ativa. Seus movimentos vibratórios manifestam-se como som, calor, luz, etc. que variam seus efeitos de conformidade com o meio em que agem.

    Todas estas forças, modificando suas ações com a finalidade de gerenciar os ciclos do mundo e da Natureza, dependem de uma lei universal - também diversificada em seus efeitos - destinada a imprimir harmonia e estabilidade à criação. O universo se caracteriza pela unidade-variedade. Em todos os mundos encontra-se a unidade de harmonia e de criação, junto a uma variedade infinita. Observa-se a Lei de continuidade em toda a escala da criação. A lei universal é a resultante e a geratriz de todas as forças que agem sobre o universo. A gravitação e a eletricidade são exemplos de aplicação da lei primordial, que impera por todo o cosmo.

 A criação primária

    DEUS existe desde toda a eternidade. Como não se pode imaginá-lo inativo ou infecundo em qualquer momento, deduz-se que criou desde toda a eternidade. O começo absoluto de todas as coisas remonta ao Criador. O Universo nasceu criança. Inicialmente o fluído cósmico fez nascer aglomerações, turbilhões de matéria nebulosa, que modificadas ao infinito, deram origem, em todas as regiões do cosmo, aos diversos centros de criações simultâneas ou sucessivas. Destes centros, alguns em menor número e mais ricos em princípios e forças atuantes, logo iniciaram sua vida astral própria. Outros, cresceram lentamente ou se subdividiram.

    Devemos nos conscientizar de que atrás de nós como à nossa frente está a Eternidade. O espaço 'é teatro de inimaginável sucessão e simultaneidade de criações'. As nebulosas podem ser aglomerados de astros em via de formação, vias-lácteas de mundos habitados ou sedes de catástrofes e destruição.

A criação universal

    A matéria cósmica primitiva, além de estar revestida das leis que asseguram a estabilidade dos mundos, contém também o fluído vital que forma as gerações espontâneas nos mundos, tão logo desenvolvam as condições necessárias ao surgimento da vida.

    Faz parte da criação o mundo espiritual.  Quanto à criação dos espíritos revela-nos Galileu: 'O espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização'.

Os sóis e os planetas

    Condensando-se a matéria cósmica em forma de nebulosa, animada das leis universais que regem a matéria, adquiriu a forma de esferóide. A gravitação de todas as zonas moleculares em direção ao centro produziu o movimento circular, modificando a esfera até atingir a forma lenticular. Surgiram as forças centrípeta e centrífuga. Predominando a força centrífuga, ocorreu desligamento de parte da massa da nebulosa, formando um anel do qual resultou nova massa esferóide que passou a executar movimento de translação em torno da massa central, além de rotação em torno do próprio centro.

    Condensando-se paulatinamente a massa geratriz, retomou a forma esférica. Devido ao extremo calor desenvolvido por seus movimentos, muitas massas tornaram a se destacar, formando centenas de sóis, que pelo mesmo processo geraram os planetas que gravitam ao seu redor. Cada planeta recebeu uma vida particular, embora dependente do astro que o gerou.

Os satélites

    Da região equatorial (onde maior é a força centrífuga) de algumas das massas planetárias, antes destas solidificarem-se por efeito do resfriamento, ocorreu o desprendimento de massas menores, passando a girar em torno de seu planeta de origem. No caso específico da Lua, as leis e a força que presidiram seu nascimento lhe imprimiram a forma ovóide, fazendo com que as partes mais densas se concentrassem no lado voltado para a Terra; o centro de gravidade, deslocado para a parte inferior, faz com que a Lua apresente sempre a mesma face à Terra. Quanto a Saturno, desprenderam-se-lhe moléculas homogêneas, com igual densidade, o que resultou em seu anel.

Os cometas

    São astros errantes resultantes da aplicação pela Natureza da Lei de Variedade, destinados a explorar os impérios solares. Durante seu caminho enriquecem-se, às vezes, de fragmentos planetários reduzidos ao estado de vapor, absorvendo assim 'os princípios vivificantes e renovadores que derramam sobre os mundos terrestres'. Possuem movimentos combinados, percorrendo órbita elíptica de muitos milhares de km. em seu perigeu, passando a parabólica em seu apogeu, quando em tempo igual, percorrem apenas alguns metros.

A Via-Láctea

    De aparência leitosa, esbranquiçada a olho nu, que atravessa o céu de uma extremidade a outra, quando observada através do telescópio demonstra tratar-se, em lugar de fraca luminosidade, de milhões de sóis, mais luminosos do que o sol de nosso sistema planetário. São também mais importantes, pois servem como habitação de seres em maior grau de inteligência e elevação moral relativamente ao nosso sistema.

    A via-láctea se nos parece mais vasta e rica que as outras, é porque, fazendo parte dela, nos cerca e se desenvolve sob nossos olhares. Representa, porém, nada mais do que 'um ponto insensível e inapreciável, vista de longe, porquanto ela não é mais do que uma nebulosa estelar, entre os milhões das que existem no espaço'. Neste contexto pode-se compreender a insignificância de nosso globo terrestre.

As estrelas fixas

    Assim como nosso sol avança pelo espaço em companhia de outros sóis da mesma ordem, arrastando consigo seu vasto sistema de planetas, satélites e cometas, todos gravitando em torno de um sol central, também as estrelas chamadas ?fixas? estão sujeitas às leis universais de gravitação; movem-se segundo órbitas fechadas cujo centro um astro superior ocupa. A distância em que se situam da Terra e a perspectiva sob a qual são observadas, causam a ilusão de que estão fixas no firmamento.

    Todos os sóis que compõem a via-láctea são solidários e obedecem a uma hierarquia, subordinados uns aos outros, 'como rodas gigantescas de uma engrenagem imensa'.

    Cada sol está em sua maioria cercado de muitos planetas, iluminados e fecundados segundo as mesmas leis que comandam nosso sistema. Alguns tem dimensões e importância milhares de vezes superiores ao nosso. Outros formam sistemas binários ou ternários, iluminando os seus mundos com fachos duplos ou triplos, criando condições de existência acima de nossa imaginação. Outros ainda são privados de planetas, porém com condições privilegiadas de habitabilidade.  'Na sua imensidade, as leis da Natureza se diversificam e, se a unidade é a grande expressão do Universo, a variedade infinita é igualmente seu eterno atributo'.

Os desertos do espaço

    A nebulosa de que fazemos parte é como uma ?ilha no arquipélago do infinito?. Cada nebulosa encontra-se afastada das outras, todas envolvidas por um deserto sideral de extensão inimaginável. Tal é a distância que as separa que receberam o nome de nebulosas irresolúveis, por parecerem nuvens de poeira cósmica. 'Lá se revelam e desdobram novos mundos, cujas condições variadas e diversas das que são peculiares ao vosso globo lhes dão uma vida que as vossas concepções não podem imaginar nem vossos estudos comprovar'.

Eterna sucessão dos mundos

    Uma única lei, primordial e geral foi outorgada ao Universo e lhe assegura a harmonia, estabilidade e eternidade. Manifesta-se pelas diversas forças que impulsionam a escala da criação, primeiramente como centro fluídico dos movimentos, como geradora dos mundos e depois como 'núcleo central de atração das esferas que lhe nasceram do seio'. As mesmas leis geradoras dos mundos presidem sua destruição quando neles se extingue a vida. Desagregados, os elementos constitutivos serão assimilados por outros corpos, renovando ainda outras criações de diferente natureza, garantindo assim a 'eternidade real e efetiva do Universo'. Muitas das estrelas que contemplamos poderão não mais existir atualmente, pois, em virtude da imensa distância relativa à Terra, poderemos estar recebendo raios de luz emitidos há milhares de anos após sua destruição.

    Não temos condições, mesmo em pensamento, de avaliar a imensidade e eternidade do universo. Após havermos percorrido os diversos degraus da hierarquia cosmológica, por incontáveis séculos, 'teremos diante de nós a sucessão ilimitada dos mundos e por perspectiva a eternidade imóvel'.

A vida universal

    A universalidade de astros que circulam no cosmos serve de base a uma mesma família humana e solidária, sujeita à lei da Fraternidade Universal. 'Se os astros que se harmonizam em seus vastos sistemas são habitados por inteligências, não o são por seres desconhecidos uns dos outros, mas, ao contrário, por seres que trazem marcado na fronte o mesmo destino, que se hão de encontrar temporariamente, segundo suas funções de vida, e encontrar de novo, segundo suas mútuas simpatias'.

Diversidade dos mundos

    Observando a Natureza terrestre podemos constatar a infinita variedade de produções, muito embora a unicidade em sua harmonia geral. Assim como nenhum rosto humano é igual a outro, também uma infinita diversidade ocorre pela imensidão de mundos que vogam pelo espaço, de acordo com as variadas condições e finalidades específicas que a cada um coube no cenário cósmico.

    Não nos iludamos, pensando que os sistemas planetários sejam todos iguais ao nosso.



Porque Não Sou Espírita Kardecista, Wladisney, Brasil

(O texto nos foi enviado pelo Wladisney e também foi publicado na Revista Internacional de Espiritismo de Janeiro de 2002)

"Porém, nunca o repetirei demasiado, não aceiteis coisa alguma às cegas".
Erasto - LM cap. V item 98

    É muito comum encontrarmos afirmações do tipo: Espirita Kardecista, Kardecismo. Isto cada vez mais,  vai se tornando natural no meio Espírita em palestras, jornais e revistas. Porém o que me chamou a atenção foi o artigo da  jornalista Renata Saraiva no Jornal Valor de 15 de  dezembro de 2000, no seu artigo "Loucura e espiritismo no Brasil" a chamada é a seguinte: "Historiadora estuda como a psiquiatria tratou o Kardecismo no início do século". O artigo trata da tese de doutorado da historiadora da Universidade Estadual de Campinas- UNICAMP Angélica Silva de Almeida "A Loucura Espirita no Brasil".  Percebam que o termo Kardecismo foi utilizado como sinônimo de Espiritismo, demonstrando que a confusão iniciada no meio espirita começa a atingir também a mídia. Isto é tudo que alguns inimigos da Doutrina Espirita querem, pois ela deixaria de ser a revelação dada por uma plêiade de espíritos liderados pelo Espirito da Verdade para ficar resumida em uma única pessoa. Antigamente falava-se em espiritismo de mesa branca, espirita de mesa branca e a mesa branca foi substituída por Kardecismo ou Kardecista, alguns centros chegam a incluir em sua denominação Centro Espírita Kardecista.

    Entre os espiritas ainda predomina o aprendizado verbal ouve-se alguém dizer acha-se bonito e vai se repetindo, sem se parar para refletir se isto condiz com o que aprendemos. Apenas como exemplo já perceberam como o termo karma foi incorporado ao linguajar de alguns "espiritas". O que mais ouvimos é que a leitura do Livro dos Espíritos é muito difícil por isto esta verdadeira enxurrada de romances, muitos deles com erros graves em relação a Doutrina e são vendidos dentro da própria casa espirita, basta se dizer que o livro é psicografado para se tornar uma obra espirita, mas esta é uma história que fica para uma outra vez.

    Para explicar porque não sou espirita Kardecista, chamo em minha defesa o Sr. Allan Kardec, que sem dúvida era o bom senso encarnado e que já imaginando as distorções que poderiam ocorrer fez questão de deixar bem claro logo no  primeiro parágrafo da introdução do Livro dos Espíritos o seguinte: "Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim exige a clareza da linguagem para evitar confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras." e mais  a frente estabelece  "Os adeptos do Espiritismo serão, Espiritas ou se quiserem Espiritistas." (grifo nosso).

    Recorro agora a equipe de espíritos responsáveis pelo Livro dos Espiritos, vamos aos prolegômenos deste livro,  que nos dizem: "Este livro é o repositório de seus ensinos, foi escrito por ordem e mediante ditado de Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional. Nada contém que não seja a expressão do pensamento deles e que não tenha sido por eles examinado. Só a ordem e  a distribuição metódica das materias, assim como as nota e a forma de algumas partes da redação constituem obra d?aquele que recebeu a missão de os publicar".

    Portanto a simples leitura da Introdução e dos Prolegômenos do Livro dos Espíritos já bastaria para que não criássemos termos novos para definir o que já está definido e muito bem definido. Seria interessante ainda aos que se dizem espiritas Kardecista lerem o Capitulo I de A Gênese que trata do Caráter da Revelação Espirita , em especial o item 45 que aqui reproduzimos:

     "A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés, a segunda no Cristo, a terceira não a tem em indivíduo algum (grifo nosso). As duas primeiras foram individuais, a terceira coletiva; aí está um caráter essencial de grande importância. Ela é coletiva no sentido de não ser feita ou dada como privilégio de  pessoa alguma; ninguém,  por consequência, pode inculcar-se como  seu profeta exclusivo; foi espalhada simultaneamente, por  sobre a Terra, a milhões de pessoas, de todas as idades e condições, desde a mais baixa até a mais alta da escala, conforme esta predição registrada pelo autor dos Atos dos Apóstolos: "Nos últimos tempos, disse o Senhor, derramarei o meu espírito sobre toda a carne; os vossos filhos e filhas profetizarão, os mancebos terão visões, e os velhos, sonhos." ( Atos,cap.II,vv. 17,18.) "Ela não proveio de nenhum culto especial, a fim de servir um dia, a todos, de ponto de ligação."

    Com base neste item Kardec faz uma nota  explicando o seu papel "neste grande movimento de idéias". Neste mesmo livro no Cap. XVII, Predições do Evangelho item 40, podemos ler : "Não é uma doutrina individual, uma concepção humana; ninguém pode dizer-se seu criador. É o produto do ensino coletivo dos espíritos, ao qual preside o Espirito de Verdade." E  no rodapé da pagina joga uma pá de cal sobre este assunto, escrevendo o seguinte:

    "Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome da individualidade fundadora: o mosaismo, o cristianismo, o maometismo, o budismo, o cartesianismo, o furierismo, san-sinomismo, etc...A palavra Espiritismo ao contrário, não lembra nenhuma personalidade, ela encerra uma idéia geral, que indica, ao mesmo tempo, o caráter e a fonte múltipla da doutrina."

    Portanto baseado em tudo que aprendi  até agora, sou Espirita e ponto final.
    Wladisney Lope



As Quatro Nobres Verdades, Carlos Iglesia, Brasil

(Série de artigos iniciada no Boletim 428)

III - Visão Geral



As Duas Doutrinas

- Budismo

    O Budismo tem por princípio os ensinamentos de Sidarta Gautama, o Buda, entre eles, como base principal as "quatro nobres verdades". Ele  não pode ser definido exatamente como uma "religião" no sentido ocidental, é mais uma filosofia, um caminho (método prático) de libertação do sofrimento. Naturalmente associada a este caminho, surge uma visão de mundo que influencia a ciência e a vida cotidiana das sociedades budistas. Assim conforme nos explica Matthieu Ricard, monge budista, no livro "O Monge e o Filósofo" (cápitulo Religião ou Filosofia):

    "Em essência, eu diria que o budismo é uma tradição metáfisica da qual emana uma sabedoria aplicável a todos os instantes da existência e em todas as circunstâncias.

    O budismo não é uma religião, se por religião entendermos a adesão a um dogma que deve ser aceito por um ato de fé cega, sem que seja necessário redescobrir por si mesmo a verdade desse dogma. Mas se considerarmos uma das etimologias da palavra religião, que é 'aquilo que liga', o budismo sem dúvida está ligado as mais altas verdades metáfisicas. Ele tampouco exclui a fé, se entendermos por fé uma convicção íntima e inabalável que nasce da descoberta de uma verdade interior. A fé é também um maravilhamento diante dessa transformação interior. Por outro lado, o fato do budismo não ser uma tradição teísta leva muitos cristãos, por exemplo, a não o considerar como uma 'religião' no sentido corrente da palavra. O budismo, enfim, não é um 'dogma', pois o Buda sempre disse que a pessoa devia examinar os ensinamentos dele, meditá-los, mas não aceita-los simplesmente por respeito a ele. É preciso descobrir a verdade desses ensinamentos percorrendo as sucessivas etapas que levam à realização espiritual. Convém examina-los, disse o Buda, como se examina uma barra de ouro. Para saber se o metal é puro, a pessoa o fricciona sobre uma pedra lisa, martela-o, derrete-o no fogo. Os ensinamentos de Buda são como diários de bordo na estrada do Despertar, do conhecimento último sobre a natureza do espírito e sobre o mundo dos fenômenos."

- Espiritismo

    O Espiritismo, ou Doutrina Espírita, tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos. Através do estudo dos fenômenos mediunicos investiga as leis que regem essas relações e suas conseqüências. Também pelo estudo da situação dos Espíritos no mundo espiritual, investiga as leis morais que regem o destino do ser. Do fato do homem ser apenas um espírito encarnado, o estudo do espírito se extende ao estudo do ser humano, de sua psicologia, de suas capacidades mediunicas e animicas, e de suas relações com o mundo com o cerca.

    Assim o Espiritismo também não pode ser definido exatamente como uma "religião" no sentido usado normalmente no ocidente. É uma visão de mundo, englobando não só filosofia, ciência, moral, como também um caminho (método prático) de progresso do espírito. Como nos explica Allan Kardec:

    "O laço estabelecido por uma religião, seja qual fôr o seu objetivo, é, pois, um laço essencialmente moral, que liga corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou de realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como conseqüência da comunidade de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas. É nesse sentido que também se diz: a religião da amizade, a religião da família.

    Se assim é, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião ? Ora, sim, sem dúvida, senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza.

    Por que, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião ? Porque não há uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortêjo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes de levantou a opinião pública.

    Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual do vocábulo, não podia em devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis porque simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral".[1]

    Como doutrina filosófica e moral, o Espiritismo pertence a tradição monoteista cristã. Tradição iniciada com a revelação mosaica no Velho Testamento, profundamente reformada por Jesus no Evangelho, e complementada pelos conhecimentos adquiridos no estudo das comunicações com os espíritos. Por este motivo os espíritas também se referem a Doutrina como a "Terceira Revelação" ou, fazendo referência a uma promessa de Jesus, como o "Consolador Prometido".

- Análise

"As palavras nos importam pouco. A linguagem deve ser formulada de maneira a se tornar compreensível. As dissensões humanas surgem porque sempre há desentendimentos sobre as palavras, pois a linguagem é incompleta para as coisas que não lhes ferem os sentidos"  O Livro dos Espíritos, resposta a questão 28.
    Nosso uso cotidiano da palavra "religião" se prende a um sentido muito limitado, entendemos normalmente por esta palavra um culto organizado, com crenças estabelecidas através de "dogmas" e uma hierarquia destinada a sua manutenção. Embora este sentido se enquadre bem na comunicação cotidiana, deixa a desejar quando aplicado a problemas filosóficos mais profundos. Por limitações do nosso vocabulário, "religião" também designa a crença individual em uma realidade maior que transcende o mundo material. Por "religiosidade" se entende também o sentimento que liga o homem ao restante do Universo.

    Neste sentido filosófico da palavra, o Espiritismo e o Budismo tem aspectos religiosos. São "religião" no tocante ao modo que mudam as crenças do homem sobre si mesmo e sobre a realidade que o rodeia. Mas igualmente não são apenas "religião", nem se enquadram corretamente no uso comum da palavra. O que em sí mesmo gera os mais acalorados debates, quando sua "natureza" é discutida.

    No tocante ao Budismo, entre os povos que o praticam, o problema praticamente não se apresenta, é no mundo Ocidental, onde ainda nos apegamos tanto aos "nomes" e as "categorias" - valorizando mais a letra que o espírito - que há longas discussões a respeito e as mais diversas opiniões. Já houve, entre os estudiosos ocidentais, quem negasse ao Budismo a designação de "religião" e quem o chamasse de uma "religião sem Deus", por motivos que discutiremos na sequência dos artigos.

   Quanto ao Espiritismo, não é segredo que as discussões em torno a sua "natureza" - ao emprego ou não, da palavra "religião" para descrevê-lo - tem algumas vezes degenerado em polêmicas inúteis e em amargas disputas entre grupos com diferentes visões da questão[2].


Notas Explicativas

1 - Discurso de abertura da sessão anual comemorativa do dia dos mortos, em 1º de novembro de 1868. O discurso foi publicado na Revista Espírita de Dezembro de 1868 e seu texto pode ser consultado na integra no Boletim GEAE número 277.

2 - Pessoalmente adotamos a orientação dada pelos Espíritos a Kardec, de que as palavras pouco importam, o que vale é definir precisamente do que se está falando, para não cair em polêmicas inúteis. Também respeitamos os sábios conselhos, transmitidos pela tradição Budista, de que a verdade raramente está nos extremos. Para nós, o Espiritismo "é" Religião no sentido filosófico da palavra e "não é" Religião no sentido comum, de culto organizado.




Perguntas
Pergunta sobre Mediunidade, Adriana Brito, Brasil

    Gostaria de lançar uma pergunta, se possível, para a próxima edição ou quando for possível:

     É possível um médium receber uma entidade de trabalho (um médico) e deixar que ele incorpore em seu corpo e o médium se ausentar/desdobrar de seu próprio corpo, sendo levado a uma espécie de pronto socorro do espaço enquanto a entidade realiza seu trabalho naquelas horas???

    Se a pergunta acima for negativa, gostaria de saber se o médium que empresta seu corpo para tal trabalho pode ficar inconsciente, mesmo estando em seu corpo, ou mesmo, após o trabalho e após a retirada da entidade, o mesmo não se lembrar de absolutamente nada que se passou naquelas horas????

    Obrigada pelo esclarecimento.
    Adriana Brito



Pedido de Informações/Bibliografia sobre Psicografia, Karen Martins, Brasil

Olá, amigos

    Gostaria de pedir indicação de livros sobre psicografia pois estou iniciando nesta seara da vida espiritual e conto somente com minha intuição e algumas informações de colegas mais experientes.    Obrigada pelo esclarecimento que recebo através dos Boletins, me são muito válidos.

Um abraço fraterno,
Karen Martins


Olá Karen,

        A psicografia é uma das formas de comunicação mediúnica, que tem suas particularidades, mas que no geral se enquadra no estudo da mediunidade, assim obras especificamente sobre ela não são muito comuns. Por outro lado, devido a importância da psicografia na comunicação com os espíritos - pois é ainda a forma mais eficaz para comunicações inteligentes - ela é amplamente tratada nos livros sobre mediunidade. Um detalhe importante é que a mediunidade é, em essência, um meio de comunicação, logo é necessário entender com quem nos comunicamos, quais as características dos habitantes do plano espiritual e as condições em que vivem.

        Um caminho interessante para o estudo desta questão é iniciar com os fundamentos do Espiritismo pelo "Livro dos Espíritos", aprofundar os conhecimentos sobre a mediunidade pelo "Livro dos Médiuns" e conhecer as consequências morais pelo estudo do "Evangelho Segundo o Espiritismo". O "Céu e o Inferno" lhe permitirá conhecer um pouco mais sobre as condições dos espíritos no além e assim auxiliá-la na análise das mensagens recebidas (pois este é um dos pontos principais no estudo de qualquer faculdade mediúnica e de suas manifestações). A "Genêse" também é recomendada, pois ali Kardec aprofunda diversas questões tratadas nas obras anteriores, inclusive da mediunidade (ao analisar os chamados milagres).

        Complementando os livros de Kardec, há uma obra que não pode ser esquecida em qualquer estudo sério da Mediunidade, por tratar detalhadamente de um aspecto  importante : a manifestação do "próprio" médium (como espírito que também é). É o livro de Alexandre Aksakof, "Animismo e Espiritismo", um tanto raro nas livrarias, mas que pode ser conseguido junto a FEB.

        Com uma boa base, há como prosseguir em obras mais avançadas, como os livros de André Luiz, através do médium Francisco Cândido Xavier, em especial "Nos domínios da Mediunidade" e "Mecanismos da Mediunidade". Para entender melhor estas obras, sugiro que leia inicialmente o primeiro livro deste espírito: "Nosso Lar".

        Neste ponto, tendo uma visão razoável da mediunidade em geral - e portanto da psicografia - é interessante estudar outras obras, para conhecer perspectivas diferentes da questão ou rever os pontos estudados:

    - A Psicografia ante os Tribunais, Miguel Temponi: Trata do célebre caso Humberto de Campos, no qual a familia deste questionou nos tribunais os direitos sobre os livros assinados por ele através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier;

    - A Vida Triunfa, Paulo Rossi Severino e equipe da Associação Médico Espírita de São Paulo: É uma investigação sobre as mensagens recibidas por Francisco Cândido Xavier através da psicografia (foram investigadas até quanto a questões de caligrafia);

    - Diversidade dos Carismas, Herminio C. Miranda: É um excelente - e bastante minucioso - estudo sobre a teoria e prática da mediunidade. Este estudo reúne informações das obras básicas de Kardec, das obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier e dos próprios estudos do autor sobre a questão;

    - As Faculdades Espirituais do Ser: Djalma Argollo: Também um excelente estudo da mediunidade, enfocando as formas de comunicação e o aspecto de seu desenvolvimento histórico. É um livro bastante atual que engloba inclusive a Transcomunicação Instrumental como um fenômeno mediúnico.

    - Conexão, Maria Aparecida Martins: É um estudo sobre a mediunidade, de apresentação gráfica e forma de exposição do assunto bastante modernos. Eu diria que enfoca os aspectos psicológicos da questão ligando-os crescimento da personalidade humana pela mediunidade.

    - Recordações da Mediunidade, Yvonne A. Pereira: Este livro narra as experiências pessoais da médium com a mediunidade. Só como observação, Yvonne A. Pereira foi a médium através da qual o espírito Camilo Castelo Branco transmitiu o livro "Memórias de um Suicida" um dos melhores livros da literatura espírita.

        Naturalmente há muitas outras obras que não conheço, talvez até mais voltadas a psicografia em particular, mas creio que este seja um bom caminho para indicar-se.

        Atenciosamente,
        Carlos Iglesia




Painel
Sociedade de Estudos Espíritas Allan Kardec, Rejane Spiegelberg, Austria

AUSTRIA

VAK - Sociedade de estudos espíritas Allan Kardec (Verein für spiritistische Studien Alan Kardec)

    Em 1989, foi criado em Viena, Austria um pequeno núcleo espírita, que se denominou Grupo Espírita Allan Kardec, com o propósito de estudar e divulgar a Doutrina Espírita. O grupo se forma sobre a orientação de Divaldo Pereira Franco, que anualmente visita o grupo proferindo palestras e orientando seus membros, e também com a ajuda de J. Raul Teixeira e Juan Durante. O grupo oscila, cresce e diminui, de acordo com a flutuante população de brasileiros em Viena, mas segue em frente, aprendendo, e divulgando a Doutrina Espírita em seus encontros semanais, e eventualmente vai incorporando membros de outras nacionalidades.

    Em dezembro de 1999, o grupo é formalmente regularizado, e passa a denominar- se Verein für spiritistische Allan Kardec (VAK) ou Sociedade para Estudos Espíritas Allan Kardec. Hoje, como ontem, nosso objetivo é divulgar a Doutrina Espírita, estudando-a e praticando-a conforme os ensinamentos de Jesus, codificados por Allan Kardec, com o propósito de promover o desenvolvimento pessoal através do auto-conhecimento, e da prática dos ideiais cristãos.

    O VAK - Verein für spiritistische Studien Allan Kardec (VAK) ou Sociedade para Estudos Espiritas Allan Kardec promove duas reuniões semanais para estudo da Doutrina e do Evangelho, seguido da aplicação de passes: terças-feiras: 20 h e sábados: 15 h. Segunda-feira às 19h realiza-se o estudo do Livro dos Médiums para um grupo de pessoas interessadas.  no seguinte endereço:

VAK - Sociedade para Estudos Espíritas Allan Kardec.
a/c Josef Jackulak
Spengerstrasse, 10/3, entrada pela Jahngasse, 28
A1050 Vienna - AUSTRIA
tel/fax. +43-1-5442453
E-mail: vienna_kardec@hotmail.com ou rejane@aon.at


Indicação de Site Para Aquisição do Evangelho Segundo o Espiritismo em Italiano, Jaime Martins, Brasil

(Atendendo Solicitação da Magda Macedo Cintra - Boletim 427)

       Indico um «site» italiano que permite a sua aquisição pela Internet em:

http://www.unilibro.it/find_buy/product.asp?sku=189641
    Il vangelo secondo gli spiriti
    Autore: Kardec Allan
    Isbn: 8827202285
    Editore: Edizioni Mediterranee
    Data di pubblicazione: 1993
    Pagine: 212
    Collana: Esoterismo, medianità, parapsicologia
    Classificazione:  FENOMENI E TECNICHE PARANORMALI

    Il vangelo secondo gli spiriti di Kardec Allan
    lo puoi acquistare su Unilibro.it

Saudações fraternas,
Jaime Carvalho Martins




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