Grupo de Estudos Avançados Espíritas

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Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec


Ano 10 - Número 428 - 2002            22 de janeiro de 2002

Conteúdo

Editorial

Textos Comentários Perguntas

Editorial
Página de biografias e nova ferramenta de pesquisa


Caros Amigos,

    Continuando o trabalho de restauração de nosso site, voltamos a disponibilizar uma página de biografias - http://www.geae.inf.br/pt/biografias/ - e uma nova ferramenta de pesquisa de textos - http://www.geae.inf.br/pt/pesquisa.php

    Com a página de biografias pretendemos reunir informações sobre os grandes nomes do Espiritismo e contribuir com a preservação da história do Movimento Espírita. Assim aproveitamos para convida-los a nos enviarem biografias dos pioneiros do Espiritismo em suas cidades e países. São informações que normalmente não se encontram em livros e que são dificeis de serem localizadas quando necessárias.

    Em muitas localidades, os pioneiros do Espiritismo, ainda estão encarnados e em alguns casos ainda atuando. Mesmo assim não deixem de nos enviar informações sobre eles. Inclusive a história da formação dos grupos é de grande interesse para publicação nos boletins. Essa experiência pode ser proveitosa para irmãos que não encontram grupos formados onde moram e gostariam de começar a divulgação da Doutrina Espírita por lá.

    Muita Paz,
    Os Editores




Textos
A Gênese Segundo o Espiritismo (Resumo) Capítulos IV & V, Joel Matias, Brasil

CAPITULO IV

PAPEL DA CIÊNCIA NA GÊNESE

    A religião era preponderante na história dos povos antigos, de tal modo que os primeiros livros sagrados continham toda a ciência e as leis civis da época. Sendo imperfeitos seus meios de observação, também incompletas eram as teorias sobre a criação. O desenvolvimento das ciências proporcionou ao homem os dados necessários ao surgimento de uma Gênese positiva e, de certo modo, experimental. Acompanhou-se a formação gradual dos astros através de leis eternas e imutáveis, que demonstravam a grandeza e sabedoria do Criador.

    A gênese de Moisés, dentre as teorias antigas, é a que mais se aproxima dos dados científicos atuais, levando-se em conta que seu conteúdo original deturpou-se nas traduções de língua para língua, além do fato de os escritos antigos serem feitos de modo alegórico. O receio de comprometer o conteúdo das crenças contidas na Bíblia, de ferir o princípio da imutabilidade da fé, além da falta de conhecimentos científicos, fez com que o homem permanecesse estacionário em progresso, até que a Ciência viesse a demonstrar os erros da Gênese moisaica tomada ao pé da letra.

    Mesmo respeitando-se a Bíblia como sendo revelação divina, deve ser considerado que nenhuma revelação pode sobrepor-se à autoridade dos fatos, de modo que, diante das flagrantes contradições entre as descobertas científicas e os Textos Sagrados, conclui-se que foram as revelações mal interpretadas. A Ciência segue seu caminho em busca da verdade e as religiões não podem permanecer estacionarias. "Uma religião que não estivesse, por nenhum ponto, em contradição com as leis da Natureza, nada teria que temer do progresso e seria invulnerável".

A Gênese se divide em duas partes:

1)- A história da formação do mundo material;
2)- A história da Humanidade e seu princípio corporal e espiritual.

    A Ciência tem estudado a primeira parte, completando a Gênese de Moisés, deixando à Filosofia o estudo da segunda, a qual chegou a conclusões contraditórias, o que levou muitas pessoas a seguir a religião convencional. Todas as religiões pregam a existência da alma. Quanto à sua origem, passado e futuro, impõem os dogmas que pressupõem a fé cega levando a muitos a dúvida e a incredulidade; A incerteza quanto ao futuro leva o homem à predominância do interesse às coisas da vida material.

    O mecanismo do Universo e a formação da Terra só foram entendidos quando se conheceu as leis que regem a matéria. Por desconhecer as leis que regem o princípio espiritual, permanece a Metafísica no campo das teorias e especulação. A Mediunidade foi para o mundo espiritual o que o telescópio representou para a Astronomia, permitindo ao Espiritismo experimental o estudo das relações entre o ser material e o ser inteligente, o que permitiu seguir-se a alma em sua marcha ascendente, suas migrações e transformações.  Era o instrumento que faltava aos comentadores da Gênese para a compreenderem e lhe retificarem os erros. Sendo solidários os dois mundos, somente o conhecimento de suas leis permitiu a constituição de uma Gênese completa, embora aproximativa.

CAPITULO V

ANTIGOS E MODERNOS SISTEMAS DO MUNDO

    Na antiguidade, desconhecendo as leis da física e sem dispor de qualquer instrumento de observação além de seus sentidos, os homens acreditavam que o Sol girava em torno da Terra, que se constituía em uma superfície circular plana.  O céu era uma abóbada cheia de ar apoiada nos bordos da Terra, sendo as estrelas pontos luminosos engastados nela. Entendiam ser as chuvas provenientes das águas superiores que escapavam pelas frestas da abóbada. Ao perceber movimento dos astros explicavam como sendo o resultado da rotação da abóbada arrastando consigo as estrelas nela fixadas. Mais tarde percebeu-se que a abóbada teria que ser uma esfera inteira, oca, contendo no centro a Terra, chata ou convexa, habitada em sua parte superior, sem poder-se explicar qual o seu suporte.

    As Teogonias pagãs situavam o inferno nos lugares baixos, sob a Terra, estando o Céu nos lugares altos, além das estrelas.

    Observadores da Caldéia, Índia e Egito notaram que certas estrelas tinham movimento próprio - as estrelas errantes ou planetas. Notou-se a imobilidade da Estrela Polar em cuja volta outras descreviam círculos oblíquos, chegando-se ao conhecimento da obliqüidade do eixo da Terra. Verificações da estrela polar em diferentes latitudes levou à descoberta da esfericidade da Terra, por Tales, de Mileto, em 600 A.C.. Pitágoras em 500 A.C. descobriu o giro da Terra sobre seu eixo e seu movimento junto com os outros planetas em torno do Sol. Hiparco em 160 A.C. Inventou o astrolábio relativo aos eclipses, manchas do sol, revoluções da Lua.

    Tais conhecimentos, entretanto, ficaram restritos aos filósofos e seus discípulos por mais de 2.000 anos. Em 140 D.C. Ptolomeu compôs um sistema misto em que a Terra seria o centro do Universo, com uma região elementar (terra, agua, ar e fogo) e uma etérea composta de onze céus superpostos, além dos quais estaria o Empíreo (habitação dos bem-aventurados). No início de 1.500 D.C. COPÉRNICO, à partir das idéias de Pitágoras, apresentou o Sol como o centro do sistema planetário, sendo a Lua o satélite da Terra. Com Galileu, inventor do telescópio (1.610), o sistema de Copérnico veio a ser confirmado, reconhecendo-se que as estrelas são sóis - centros de outros sistemas planetários- as constelações são agregados aparentes que desapareceriam se delas pudéssemos aproximar-nos.

    Tais conhecimentos, divulgados graças à tipografia tornaram-se públicos tornando minoria os sustentadores das velhas idéias. Descerrou-se a venda e os homens puderam melhor fazer idéia da sublimidade da obra Divina.  Em seguida vieram: Kepler que descobriu serem elípticas as órbitas dos planetas, sendo o Sol um dos focos. Newton descobriu a lei da gravitação universal, Laplace criou a mecânica celeste.

    A Astronomia tornou-se uma Ciência com base no cálculo e na geometria, uma das pedras fundamentais da GÊNESE após 3.300 anos de Moisés.



O Culto Cristão no Lar, Catia Regina, Brasil


Prezados amigos do Geae,

    Gostaria de contribuir, enviando o tema O Culto no Lar. O texto a seguir foi  extraído da obra "O Culto do Evangelho no Lar" -  (Useerj).

    O que é o culto do evangelho no lar?

    Trata-se do estudo do Evangelho de Jesus em reunião familiar. O Culto do Evangelho no Lar, realizado no ambiente doméstico, é precioso empreendimento que traz diversos beneficios às pessoas que o praticam.

    Permite ampla compreensao dos ensinamentos de Jesus e a prática destes, nos ambientes em que vivemos. Ampliando-se o conhecimento sobre o Evangelho, pode-se oferecê-lo com mais segurança a outras criaturas, colaborando-se para a implantacao do Reino de Deus na Terra.

    As pessoas unidas por laços consanguineos, compreenderão a necessidade da vivência harmoniosa e, dentro de suas possibilidades, buscarão, pouco a pouco, superar possíveis barreiras, desentendimentos e desajustes, que possam existir entre pais e filhos, cônjues e irmãos.

    Através do estudo da reencarnação, compreenderão que, aqueles com quem dividem o teto, são espíritos irmãos, cujas tarefas individuais, muitas vezes, dependerão da convivência sadia no ambiente em que vieram a renascer.

    Aqueles que, desde cedo, tem suas vidas orientadas pela conduta Cristã, evitam, com mais facilidade, que os embriões dos defeitos que estão latentes em seus espiritos apareçam, sanando, desta forma, o mal antes que ele cresça.

    Se, porventura, tendências negativas aflorarem, apesar da orientação desde a infancia, encontrarão seguros elementos morais para superá-las, porque os ensinamentos de Jesus tornam-se fortes alicerces para a sua superação. Com o estudo do Evangelho de Jesus apreende-se a compreender e a conviver na familia humana. Assim, conscientes de que são espiritos devedores perante as Leis Universais, procuram conduzir-se dentro de atitudes exemplares, amando e perdoando, suportando e compreendendo os revezes da vida.

    Praticado fielmente a data e ao horário semanal estabelecidos, atrai-se para o convivio doméstico Espiritos Superiores, que orientam e amparam, estimulam e protegem a todos. A presença de Espíritos iluminados no lar afasta aqueles de índole inferior, que desejam a desunião e a discórdia. O ambiente torna-se posto avançado de luz, onde almas dedicadas ao Bem estarão sempre presentes, quer encarnadas, quer desencarnadas.

    As pessoas habituadas a oração, ao estudo e a vivência cristã, tornam-se mais sensíveis e passíveis as inspirações dos Espíritos Mentores.

 Fraternalmente,
 Catia Regina A. Hortega.



Uma reflexão No Limiar do Terceiro Milênio, Gilberto, Brasil

    Já estamos no tão esperado terceiro milênio e com a benção de Deus estamos prosseguindo em nossas atividades na divulgação da mensagem espírita-cristã.

    O tempo é uma benção de Deus, mas a sua contagem é uma convenção humana, à qual não devemos nos escravizar.

    Somos herdeiros da eternidade e vivemos no eterno hoje, com a obrigação de fazer o melhor pela edificação de uma vida melhor.

    O início de um novo ano, de um novo século e de um novo milênio deve significar para todos nós o marco que determina o começo de uma nova etapa de vida, a partir do qual estejamos mais dispostos ao trabalho de construção do Reinado do Amor na Terra.

    Unidos seremos fortes. Separados seremos frágeis.

    O momento nos pede "união"! Grandes são as dificuldade para o plantio das sementes evangélicas no solo dos corações humanos e se nós, que nos candidatamos ao plantio não estivermos unidos na tarefa, definitivamente não conseguiremos atender aos imperativos do serviço.

    Estamos vivenciando momentos decisivos na vida planetária. A civilização do computador, da Internet, do telefone celular, da robótica, da clonagem e dos transgênicos ainda padece intensamente, assolada pelos inúmeros problemas morais que ainda não obtiveram solução no coração humano. O homem do século XXI ainda não superou seus grandes problemas do sentimento.

    Apesar de todas as comodidades da vida moderna, o homem tenta se libertar da depressão, dos conflitos íntimos, dos preconceitos diversos, das atitudes possessivas, do materialismo avassalador, do apego ferrenho aos bens transitórios, dentre outros problemas de ordem moral que ainda algemam o coração humano às grandes da inferioridade.

    Emmanuel, o iluminado mentor já nos disse, em certa página, que o homem moderno domina por fora, mas, contraditoriamente, se sente derrotado por dentro.

    Criamos um sistema de vida excessivamente baseado nos valores materiais, por nos termos distanciado da busca religiosa.

    Acontece que riquezas e objetos de matéria não geram paz de espírito, nem resolvem o probema da carência de afeto, nem dissolvem mágoas, nem tão pouco alimentam o coração com o tão essencial alimento do amor.

    A máquina, convertida em "deus" pelo homem, não pode amar e jamais poderá atender o homem em suas necessidades do coração. Tanto quanto o cérebro tem sede de sabedoria o coração tem fome de amor e a alma, tanto quanto o corpo carece de alimento, necessita de fé e tão somente a aquisição de valores espirituais poderá salvar o homem aflito desta geração carente de fé.

    Precisamos nos voltar para Deus, e com urgência, através da vivência religiosa. Este retorno só será possível se oferecermos nossos corações, obedientes, ao comando do Cristo, que é e sempre será para a Humanidade o Caminho, a Verdade e a Vida. Sua voz de comando está estampada no seu Evangelho; sigamo-la.

Gilberto Costa Valle



As Quatro Nobres Verdades, Carlos Iglesia, Brasil


 


As Quatro Nobres Verdades
Uma breve comparação entre Budismo e Espiritismo


 
 

Plano de Trabalho

Boletim 428 - 22 de janeiro de 2002
Plano de Trabalho
I -Apresentação e Agradecimentos
II - Introdução: Uma retrospectiva - Ocidente & Oriente
Próximos Boletins
III - Visão Geral
 As duas Doutrinas
História
As Quatro Nobres Verdades
IV - Questões Filosóficas
Objetivos
A questão da Causa Primeira
O Homem em sua essência
Concepção deste mundo
Responsabilidade frente ao destino
Atitude perante a fé
V - Prática
Impacto na sociedade
Organização Interna
Ritos
VI - Conclusão
VII - Anexos
Para conhecer melhor as doutrinas discutidas neste artigo
Breve vocabulário
Bibliografia

Apresentação e Agradecimentos

      Acredito sinceramente que a melhor maneira de evitar o fanatismo e o fundamentalismo religioso ou filosófico é o estudo de outras formas de pensar e de crer. A verdade última, realidade a que todos os caminhos espirituais buscam, só pode ser uma, nossa capacidade de compreensão é que é limitada e portanto só pode apreendê-la de forma parcial. Cada uma dessas verdades parciais, modelos criados pelo entendimento humano, aborda um ângulo especifico, traduz dentro de um contexto cultural definido, dentro das características psicológicas de um povo ou de uma época, a verdade maior.

    Indo ao encontro de outras crenças, percebemos que o critério da concordância universal [1], proposto por Allan Kardec, tem também seu aspecto externo. Como em todas as épocas da humanidade o espírito humano buscou transcender suas limitações e compreender o problema do ser, do destino e da dor - como sempre os mundos espiritual e material estiveram em contato - as verdades parcias de cada um, são mais confiaveis, quando podem ser validadas com as descobertas, ou revelações, vindas de diversas fontes, de diferentes povos, em diversas épocas, dentro de tradições diferentes. E, naturalmente, as diferenças que encontramos, são os diferentes enfoques, mais ou menos precisos, que cada um deu ao mesmo problema.

    Entendendo o enfoque dado por outros, compreendemos melhor o nosso, suas virtudes e suas limitações, e estamos aptos a vivencia-lo mais fielmente ou buscar novos rumos. O Espiritismo, como doutrina aberta a razão, ao estudo e a critíca, nos permite tal liberdade de consciência e nela está sua maior força.

    Portanto não poderia deixar de começar esta série de artigos sem agradecer ao educador emérito, Allan Kardec, que construiu sobre alicerces tão firmes e duradouros, na elucidação dos fenômenos mediúnicos e na análise dos ensinamentos dos espíritos, uma nova forma de pensar sobre o ser humano e o mundo que o rodeia.

    Também gostaria de agradecer aos amigos do GEAE, que no exercício da razão, através do estudo fraterno e da troca salutar de idéias, trilham este caminho. Agradeço particularmente ao amigo Elzio Ferreira de Souza, por ter me feito rever minhas idéias sobre o pensamento oriental, mostrando-me onde meus estudos anteriores, por sua pouca profundidade, estavam incompletos e onde deveriam ser corrigidos. Inclusive trechos inteiros do texto foram revisados sob sua orientação.

    Obrigatório agradecer também ao extraordinário pensador e lider religioso do povo Tibetano, sua Santidade o XIV Dalai Lama, pelos excelentes livros[2] em que aborda as mais intricadas questões do Budismo de forma tão espontânea e sincera, com tanta simplicidade de expressão, que praticamente se tornam compreensiveis a nós que não crescemos entre as tradições milenares do Oriente.

    Muita Paz para todos,
    Carlos A. Iglesia Bernardo


Introdução: Uma retrospectiva - Ocidente & Oriente

    O fascínio do extremo Oriente sobre o Ocidente é velho de milênios, pois, já na grécia antiga, aventureiros, viajantes e comerciantes traziam notícias das riquezas e dos estranhos sábios que existiam para lá das fronteiras da Persia. Com a expedição de Alexandre, o Grande, que chegou ao vale do Indus por volta de 326 ac,  os dois mundos foram colocados em contato próximo. Os historiadores contam que esta expedição trouxe, ao retornar, um asceta jaina[3] que grande admiração causou entre os gregos [4].

    Durante os séculos seguintes, o ouro e a prata do Ocidente fluiram através das rotas comerciais asiáticas, trazendo de volta seda - daí a famosa "Rota da Seda" - especiarias e conhecimentos. Junto a estes bens materiais vinham também informações sobre reencarnação, karma, ascetismo, ligeiras notícias sobre Buda e Brahman.

    Foi somente a longa noite medieval que interrempou o fluxo,  que desviou-se para o Oriente próximo, alimentando espiritualmente a civilização Árabe Medieval no seu apogeu. Bagdá, Damasco, Córdoba e outras capitais do Islã medieval, receberam por suas caravanas e navegadores, os conhecimentos sobre o "zero", a "bússola" e a filosofia que se incorporou ao Islã em sua forma mais mistíca - o Sufismo[5].

    O antigo "Mare Nostrum" dos Romanos, ficou fechado para a navegação do Ocidente e até bem depois do ano 1000 não circulavam mais especiarias, nem ciência do espírito,  mal e mal algum tráfego marginal e lendas fabulosas. O Ocidente ficou fechado em sí mesmo, com seus monges e a igreja de Roma tentando a todo custo evitar a submersão total na barbaríe.

    Novo período se inicia pela época das Cruzadas, que apesar do desastre militar e moral que representaram, abriram caminho novamente para as rotas do Oriente. Por esses caminhos, comerciantes italianos, como Marco Pólo, começaram novamente os contatos com o extremo Oriente, que aos poucos levariam as grandes navegações do século XV e ao início da era moderna.

    Ricas e populosas, as cidades do Oriente distante, naturalmente passaram a atrair os navegadores ocidentais . No início estes causaram apenas incomodos marginais, os grandes impérios da Espanha e de Portugal mal se estabeleceram as margens da India e da China. Más aos poucos, novas levas, reforçadas pelos progressos da ciência material, permitiram o estabelecimento de protetorados e finalmente submeteram os principais centros culturais. A nova ciência da matéria e a cobiça levaram paises europeus pequenos a dominar territórios imensos, com civilizações muitas vezes mais velhas e sofisticadas. De todo o Oriente, somente o Sião e o Japão escaparam relativamente incólumes a este período.

    O século XIX marcou o auge do Imperialismo Europeu, a revolução industrial se espalhou pelo velho continente, fabricando mais e mais bens de consumo, para os quais os paises necessitavam tanto de mercados, como de fornecedores de matéria prima. Mesmo o velho império do meio, a China, sofreu golpes e humilhações tão profundas que o jogariam nos braços do materialismo comunista do século XX [6].

    Durante este processo de conquista, no sentido inverso, o Oriente fascinou os Iluministas europeus do século XVIII, povou a imaginação das cortes européias - que multiplicaram em seus jardins os pavilhões chineses e em seus pálacios as salas chinesas, com porcelanas e pinturas orientais - e, século XIX adentro, alimentou o esoterismo ocidental. No final do século XIX, Madame Blavaski e a Sociedade Teosófica, popularizaram a filosofia hindu na Europa e nos Estados Unidos.

    Este período histórico, o do auge do colonialismo ocidental no século XIX, marca também a transformação dos Estados Unidos em uma potência continental. A vitória contra o México, trazendo-lhe as riquezas da Califórnia e do Texas, consolidaram o esforço iniciado com os peregrinos do Mayflower. Foi nesta jovem democracia, única em sua época por sua organização social e política, que em 1848 começaram a ocorrer os fenômenos que dariam nascimento ao Modern Spiritualism e, ao atravessar o Atlântico, ao Espiritismo.

    Em 1857, o educador frânces, Hypollite Leon Denizard Rivail, mais conhecido pelo pseudônimo Allan Kardec, publica o "Livro dos Espíritos", dando por primeira vez uma verdadeira ciência do espírito ao Ocidente. Ciência dentro de todos os rigores metodológicos do racionalismo frânces, continuando de onde a filosofia iluminista não tinha conseguido passar.

    Século XX, século de conflagrações mundiais e de paradoxos. Se por um lado o Oriente se ocidentaliza para conseguir se libertar do jugo colonial, por outro o Ocidente se descobre carente de espiritualidade e olha para o Oriente. Nos anos 40, diante da não-violência e do amor a verdade de Mohandas Karamchand Gandhi, o Mahatama Gandhi, a grande alma, o império britânico recua.

    A partir dos anos 50, o Ocidente se vê fascinado pelo Budismo. Primeiro pelo Budismo Zen, vindo do Japão através das tropas de ocupação americanas, depois pelo Budismo Tibetando, trazido por monges que fogem da ocupação chinesa no Tibete. Se o Budismo perde o Tibete, ganha adeptos por todos os lados e simpatizantes sem fim.

    Seu lider espiritual, Tenzin Gyatso - Sua Santidade o XIV Dalai Lama - pela sua luta pacífica em defesa de seu povo e pela sobrevivência de sua cultura, hoje é uma das figuras mais populares entre os lideres religiosos mundiais e pode se dizer que divide com o Mahatama Gandhi o privilégio de ser um dos Orientais contemporâneos de maior influência entre os pensadores Ocidentais.

    Depois da turbulência ao final do século XX, com o desaparecimento da União Soviética e o pipocar de pequenas guerras nacionais, começamos o século XXI em um mundo globalizado. Ocidente e o Oriente estão de tal modo próximos, que é impossivel ignorarem-se mutuamente [7] ou deixarem de reconhecer que cada um tem seus méritos e deméritos.

    Há muito que se aprender mutuamente e não será por "conversões" ou por "conquistas" que esta compreensão virá. Nunca, desde que Alexandre chegou as margens do Indus, ouve tantas oportunidades de aprendizado em comum. Não é mais o super-civilizado Oriente olhando com desdém os rusticos bárbaros ocidentais, nem mesmo os orgulhosos senhores do mundo querendo impor seu cristianismo aos pagãos do Oriente - são povos iguais, sofridos e cansados, que mutuamente podem se apoiar na busca da libertação do sofrimento e de uma melhor compreensão do Universo[8].

    Assim é dentro deste escopo, de compreensão mutua, que pretendo desenvolver esta série de artigos. Analisando as diferenças e afinidades entre a sabedoria do Oriente - aqui representada pelo Budismo Tibetano[9]- e o Espiritismo, doutrina a que somos ligados.
 


Notas Explicativas


1 - vide artigo "Verdade e Controversias em torno do ensinamento dos Espíritos" no Boletim GEAE número 367

2 - O sucesso editorial dos livros do Dalai Lama entre o público brasileiro foi tema de artigos na revista "Super Interessante" da editora Abril - "A vida segundo o Dalai Lama", na edição de agosto de 2001 - e na revista "Meditação" da editora Três - "O Sucesso Editorial do Dalai Lama",  edição número 30.

3 - Adepto de uma das escolas de filosofia da India - o Jainismo

4 - Sua estada entre os gregos continuou sendo motivo de muita curiosidade mesmo após sua morte. Esta inclusive deixou-os completamente aturdidos, pois ele se queimou voluntariamente em um pira:

    "With Alexander there had also gone one 'Calanus', a figure worth remembering in that he seens to be the first Indian expatriate to whom a name and a date can confidently be given. One of a group of ascetics encamped near Taxila, Calanus had accepted Alexander's invitation to join him in that city and subsequently acompanied him back to the west. There, in Persia shortly before his patron's death, his own death would cause a sensation.

    Calanus' doctrinal persuasion is uncertain. As one of his conpanions at Taxila had put it, trying to explain one's philosophy through a wall of interpreters was like 'asking pure water to flow through mud'. In that Calanus and his friends went naked, a condition in which no Greek could be persuaded to join them, they may have been 'nigrantha' or Jains. Jains nudity was dictated by that sect's meticulous respect for life in all its forms. Clothes were taboo because the wearer might inadvertently crush any insect concealed in them; similarly death had to be so managed that only the dying would actually die. Jains bent on ending their life, therefore, usually starved themselves to death. Yet Calanus, a man of advanced years, chose to immolate himself on his own funeral pyre. Though an extraordinarly stoical sacrifice in Greek eyes, this was a decidedly careless move for one dedicated to avoiding casual insecticide. Evidently the Persian winter had induced a chill, if not pneumonia, and Calanus had decided it was better to die than be an encumbrance. No one, not even Alexander, could dissuade him from his purpose. He strode to his cremation at the head of an enormous procession and reclined upon the pyre with complete indifference. This composure he mantained even as the flames frazzled his flesh.

    Visibly shaken by such an exhibition, the Greeks held a festival in his honour and drowned their sorrows in a Bacchanalian debauch. Calanus, though he had made no converts, had won many friends. He also left a profound impression well worthy of India's first cultural emissary. 'Gymnosophists', or 'naked philosophers', henceforth became stock figures in the Western image of India. As 'Pythagoreans', they were also identified with Greek traditions of abstinence and the conjectures of Pythagoras about rebirth and the transmigration of the soul.Lucian, Cicero and Ambrose of Milan all wrote of Calanus and his naked companions." John Keay, India - A History.

5 - Os Sufis, procurando extrair dos ensinamentos de Maomé o seu significado profundo - além de cumprir as observações exteriores exigidas de todo muçulmano - incorporaram ao Islamismo conhecimentos sobre o espírito e o Universo, de nitída influencia indiana. Veja-se, por exemplo, os versos de um poeta persa do século XI:

"Como vela en la llama, en su fuego me derreti
 y el resplandor oscilante,
sólo a Dios vi.

Com mis proprios ojos, a mí mismo me vi,
 pero al mirar con los ojos de Dios,
sólo a Dios vi.

Desvanecido en la nada, me diluí.
Yo era la vida, el Universo ... y,
sólo a Dios vi."

    Outro exemplo são as obras de Ibn Arabi, sufi nascido em Murcia em 1164 e falecido em Damasco em 1240, considerado pelos árabes como o "maior dos mestres" e "vivificador da Religião":
"Lo que quiero decir es que tú no eres, o posees tal o tal cualidad, que no existes y que no existirás jamás, ni por ti mismo, ni por El, en El o con El. Tú no puedes cesar de ser, porque no eres. Tú eres El y El es tú, sin ninguna dependencia o casualidad. Si alcanzas a reconocer en tu existencia esta cualidad de la nada, entonces conoces a Alá. En otro caso, no.".
    Estes dois trechos são da tradução espanhola, por Roberto Pla (Editorial Sirio S.A. - Málaga, España), do livro "Tratado de La Unidad", escrito por Ibn Arabi.

    Jalal ud-Din Rumi, poeta persa do séc XIII, assim se expressou sobre o mundo:

"Este mundo que é nada
e encobre a beleza de Deus
é também sinal e prova de sua presença.
Nossa existência - mero favor
de Shams de Tabriz, obséquio da alma -
encobre sua essência
e diante dela se envergonha."
Poemas Místicos, Divan de Shams de Tabriz
Jalal ud-Din Rumi
Trad. José Jorge de Carvalho, Attar Editorial
6 - Um dos capítulos mais tristes da história ocidental, que compete com as cruzadas no tocante ao distanciamento a justiça e a verdade, foi a guerra do Ópio (1839-1842). Por esta guerra, as potencias ocidentais garantiram a abertura dos portos chineses ao comércio da nefanda droga:

    "O ópio era o único produto estrangeiro, controlado por fornecedores estrangeiros, que os consumidores chineses desejavam, ou aprenderam a desejar, em grandes quantidades. Como ocorria com a droga mais suave exportada em troca - o chá, que se dizia ter sido descoberto por Buda para se livrar do sono -, sua demanda parece ter sido determinada pela oferta. Quando, em 1729, a China proibiu pela primeira vez este comércio, calculou-se que as importações eram de cerca de duzentas caixas anuais; em 1767, registraram-se mil caixas; no final da década de 1830, quando este comércio assumiu proporções que ameaçavam com a guerra, mais de dez mil caixas entravam anualmente na China. Para o governo chinês, sua exclusão era, ao mesmo tempo, uma questão de interesse econômico e de retidão moral; para a Inglaterra, a possibilidade de acesso ao mercado chinês era não só um imperativo material, mas também um símbolo da liberdade de comércio. Quando a China procurou energicamente impedir as importações, a Grã-Bretanha a invadiu." Milênio - Uma história de nossos últimos mil anos, Felipe Fernández-Armesto, ed. Record.

7 - O leitor que duvide desta afirmação, que faça uma visita a São Paulo e dê uma caminhada pela região central da cidade, pelo bairro da Liberdade e suas imediações. Vai reparar que muito próximos encontrará igrejas católicas, templos budistas, lojas maçônicas, grupos espíritas, tendas de umbanda, igrejas protestantes, modernas faculdades e - simbolo máximo talvez da cultura americana - lanchonetes de "fast food" como o Mac Donalds.

8 - Vide o trecho transcrito abaixo, do livro "La Espiritualidad Hinduista", de Swami Vivekananda (1863-1902),  discipulo de Sri Ramakrishna. Ambos foram grandes reformadores do Hinduísmo na India Moderna e naturalmente depararam-se com a questão das relações entre ocidente e oriente:

    "Para um oriental, o mundo do Espírito é tão real quanto o mundo dos sentidos para um ocidental. No mundo espiritual, o oriental encontra o que deseja e espera, nele descobre tudo o que torna real sua vida. Do ponto de vista de um ocidental, o oriental é um sonhador; enquanto que do ponto de vista de um oriental, o sonhador é o ocidental, que lida com coisas efêmeras (que juega con juguetes efemeros) ... Cada um chama de sonhador ao outro.

    Porem o ideal oriental é tão necessário ao progresso da humanidade como é o ocidental. As maquinas não tem feito, nem farão jamais, feliz a humanidade ... Estas coisas não os farão felizes, a não ser que vocês levem dentro de sí a força da felicidade (estas cosas no os harán felices, salvo que llevéis dentro la fuerza de la felicidad); a não ser que vocês tenham conquistado a sí próprios.

    É verdade que o homem nasceu para conquistar a Natureza, porem, por "Natureza", o ocidental entende somente a natureza física e externa. A natureza externa com suas montanhas, seus mares e seus rios, com suas forças e sua infinita diversidade, é, sem duvida alguma, majestosa; contúdo, existe também a natureza interior do homem, que é mais majestosa ainda ... e nos brinda com outro campo de estudos. Neste sobresai o oriental, da mesma forma que o ocidental sobresai no outro. Portanto, é justo que, quando seja necesário um reajuste espiritual, este venha do Oriente. Também é justo que, quando o oriental queira aprender a construir maquinas, se coloque aos pés do ocidental e aprenda dele; porém, quando o ocidental queira saber coisas do espírito, de Deus e da alma, e do significado e mistério deste universo, há de colocar-se aos pés do oriental para aprender". (cap. El Neo-hinduismo, Espiritualidad Hinduista, Daniel Acharuparambil)

9 - "Iglesia, eu vou colocar algumas sugestões, mas há uma de ordem geral que lhe peço permissão para fazer. Acho que você deveria colocar as posições budistas e espíritas de um modo bem estrito, e depois fazer um comentário, demonstrando a identidade ou semelhança das doutrinas, embora a aparente diferença do discurso, nos casos em que couber, ou demonstrando as diferenças reais. Acho que deve haver uma advertência, esclarecendo que a comparação está sendo feita com o budismo tibetano, porque as doutrinas têm nuanças e é importante respeitá-las. Vivekananda, por exemplo, discorda da interpretação que muitos discípulos de Buda deram a suas lições. Em realidade, o que conhecemos, hoje, do Budismo passa pelos olhos dos discípulos, desde que Buda como Jesus nada escreveu, e são passados 2500 anos de formulações doutrinárias na busca de um melhor entendimento e prática." Elzio Ferreira de Souza (sobre o primeiro esboço do artigo que lhe enviei para análise)




Comentários
Respondendo pergunta sobre o suicídio, Beraldo, Brasil

(Pergunta veiculada no Boletim 425)
Adriana,

    Gostaria de compartilhar com voce minhas considerações sobre sua pergunta, para sua avaliação. Antes de iniciar, acho importante destacar alguns pontos :

    1) NÃO há suicído em seu relato. (Como voce mesmo sabe, é claro! Portanto não procuremos resposta nesta área, como voce bem já estudou)

    2) Nós  determinamos nosso futuro. ( "A cada um segundo suas obras..".)

    3) Somos espíritos em evolução, portanto sujeitos a errar e isto NÃO nos diminui! ( "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra")

    Uma vez colocados os pontos acima, vamos elaborar um pouco a questão que voce coloca:

    Sabemos que não existe uma regra objetiva e definitiva que expresse exatamente quais as consequências de nossos atos. (Embora sempre haja alguns "gurus" - Lembre-se dos falsos profetas - que tem respostas "exatas e perfeitas" para tudo...)

    Há uma infinidade de variáveis para se levar em  consideração que só Deus poderia equacionar , tais como:

 - Qual era a intensão verdadeira do seu ato?
 - Quais eram as circunstâncias a que voce estava submetida?
 - Havia influência espiritual negativa?
 - Houve alguma seqüela do ato?
 - Quais os seus compromissos de vidas passadas que envolveram esta situação?
 - Lei de Causa e Efeito ( "A cada um segundo as suas obras")
 - O que voce pretende fazer ( e fará ) daqui para o resto desta encarnação?
-  Etc, etc.
    Todas estas questões podem incorrer em repercussões completamente diferentes no perispírito, corpo físico, psicológico, futuras encarnações, etc.

    Pesquisei em o "Livro dos Espíritos", Livro 4, que trata das Esperanças e Consolações ( perg. 943 a 957)  e não há questões específicas sobre  "Tentativa de Suicídio", embora haja muitas reflexões interessantes.

    Portanto, a resposta é difícil, né?.

Adriana,

    Para finalizar, deixo as seguintes questões para sua reflexão:

- O papel dos Espíritos ( Encarnados e Desencarnados) que a ajudaram a NÃO cometer o suicídio. Por que eles a ajudaram? O que voce sente por eles?
- Há como voce mudar o passado?
- Este ato ensinou alguma LIÇÃO positiva para voce? O que voce aprendeu com este ato poderá ajudá-la nesta encarnação com a experiência?
Um abraço fraterno,
Beraldo Leão



Respondendo pergunta sobre Espiritismo & Fisica, Ademir Xavier, Brasil

(Pergunta veiculada no Boletim 426)

Prezada Márcia,

    Suas questões fazem parte de todas as dúvidas que aparecem naturalmente aos que estudam o Espiritismo com conhecimento crítico e específico de algumas leis que aprendemos com a Física da matéria. Faço aqui alguns comentários breves porque o assunto em si é bastante complexo e exige um esforço grande para finalizar alguma conclusão.

    Em primeiro lugar gostaria de analisar criticamente o que você diz como "Albert Einstein provou, na sua teoria da relatividade que o "Espaço" e o "Tempo" são instâncias sobre as quais pensamos e não sobre as quais vivemos." Isso não é verdade. Existe uma exagerada propaganda da teoria de Eistein como se essa fosse uma expressão de algo muitíssimo importante e fundamental para a vida humana ordinária.

    A teoria de Einstein é uma extensão da mecânica e se aplica a certa classe de fenômenos, muitos dos quais ocorrem em circunstâncias bastante diferentes daquelas que reinam em nosso mundo diário. Einstein jamais se pronunciou sobre o pensamento (a não ser dentro de questões sobre as quais ele foi chamado a opiniar, apresentando uma opinião sua particular) e sua teoria certamente não se refere ao pensamento. Logo é prematuro ou errôneo afirmar que o espaço e o tempo tenham, dentro do escopo de sua teoria, algo a haver com o pensamento. Com relação à visão espírita sobre a existência do espaço e do tempo, certamente esses conceitos, existentes no mundo material, devem existir também no mundo espiritual, embora sua interrelação nos seja bastante desconhecida nesse último.

    Abaixo LE significa: A Kardec, "Livro dos Espíritos", 76a edição. Federação Espírita Brasileira.

2 - O que é Matéria?
    Matéria é um dos princípios constituintes do Universo. É também um dos laços que prende o Espírito. Ver questão [LE 22,22a]
 
3 - O que é o Espírito, é matéria ou energia?
    Espírito é um outro princípio do Universo, não é materia e portanto NAO SE CONFUNDE COM ENERGIA. Ver questão [LE 23,25,27]
 Albert Einstein provou que a Energia e Matéria são a mesma coisa (E=mc2).
    Isso não é verdade, matéria e energia são dois conceitos distintos (dentro do escopo da teoria específica a que se referem). E=mc2 estabelece uma relação de equivalência para a massa em termos de energia. Poderiamos igualmente falar de uma relação de equivalência da energia com o momento ou da massa com o momento etc. Cuidado é necessário para não se confundir conceitos diferentes. Classicamente sabemos que a energia cinética de um corpo Ec  é igual a (1/2)m v^2 (metade do produto da massa com o quadrado da velocidade do corpo), mas nem por isso dizemos que velocidade e energia são a mesma coisa e muito menos que a massa do corpo é proporcional a energia cinética dele...  Certamente não é possível falar que massa é a mesma coisa que energia dentro das teorias clássicas como a mec. de Newton, a termodinâmica (e a física estatística clássica) etc.
4 - O Espiritismo fala muito em dimensão, se a questão é apenas de dimensão, então podemos falar em matéria, energia e ondulatória nesta doutrina?
    Eu não vejo qual seria a relação entre dimensão, matéria e energia neste caso.
5 - Em outra dimensão, do que vive o Espírito? Como passa o tempo? E o espaço? Como se deslocam, pela Ação e Reação (3º lei de Newton?)
    A questão é justamente  não sabermos se o Espírito "vive" em outra dimensão. Sabemos que o Espírito existe independentemente da matéria. Pelos informes que temos de autores espirituais abalizados, podemos dizer que as leis da Física se aplicam ao mundo espiritual mais próximo da crosta planetária, que é constituido de um tipo de componente material tão sutil que não conseguimos detectar.
6 - Nesta dimensão os sistemas são conservativos? Existe entropia, entalpia, e energia interna? Se os espíritos se movimentam, gastam energia,então o sistema é dissipativo, logo, como são cerca de 3 bilhões de espíritos, então o entre e sai , ou seja, o encarna e desencarna, já teriam gasto energia suficiente para não haver mais a possibilidade de quaisquer movimentação neste plano, logo pela Física, este plano já estaria extinto!!
    Mais uma vez repito que nosso conhecimento sobre a realidade espiritual é bastante tosco a ponto de permitir um raciocínio desse tipo. Há porém que se considerar que as leis de conservação de energia e crescimento de entropia se aplicam à matéria dentro de uma teoria bastante particular a ponto de não ser possível uma extrapolação aos Espíritos. Além disso, é importante frisar que o sistema formado pelos Espíritos em torno da Terra é aberto.
7 - Como fica a entropia? (entropia =grau de desordem).
8 - Na extensão de entropia como fica o envelhecimento?
    Reiterando o que disse acima, é bastante provável que exista uma física semelhante a terrestre para o plano mais próximo à crosta. Quanto a questão 8, não podemos dizer hoje que envelhecemos por causa do aumento da entropia. O envelhecimento do corpo físico me parece ser de natureza bioquímica e não física.
9 - Na nosso mundo, temos 3 dimensões, que são altura, comprimento e largura, porém, quando falamos "Plano Espiritual", estamos nos referindo a duas dimensões, com duas dimensões. Neste caso, como seria o espírito, bidimensional? É plano? Se nos aparenta, como somos na última encarnação, então é tri-dimensional!!! Comentar....
10 - As leis da Física e Química, que são postulados universais, como são caracterizados, segundo o Espiritismo?? Sabemos que matéria atrai matéria na proporção direta do produto entre suas massas e inversamente ao quadrado da distância que as separa. O Espírito não é matéria! Então só pode ser sob a forma de energia. Se é energia, o sistema é dissipativo, logo com o passar do tempo se extinguiria. Então esta dimensão espiritual, não existiria mais...
    A palavra "plano" é usada simbolicamente, não implicando que o mundo espiritual seja "bidimensional". Da mesma forma dizemos "plano material" etc. O Espiritismo afirma que as leis da física e da química, tal como reveladas pela Ciência, e se aplicando à matéria, são princípios universais e se aplicam da mesma forma desde que iguais condições iniciais prevalecam. Nesse ponto, a palavra deve ser passada à Ciência, que é disciplina responsável pelos estudos da matéria. O mundo espiritual ou dos Espíritos é constituido de outro elemento ou princípio que não se confunde com a matéria [LE 25]. Logo, ainda que o mundo material perecesse (numa eventual morte entrópica - prevista apenas pela termodinâmica clássica), o mundo espiritual continuaria existindo [LE 85,86]. O Espírito é a última coisa que deve ser confundida com energia.

Muita paz,
Ademir - Editor GEAE



Fé inabalável e a Teoria da Reencarnação, Irecê Nascimento, Brasil

    O que é ter Fé Inabalável?

    Ter Fé, é Saber!

    Eu sei que hoje é segunda-feira..., SEI que estamos no mês de março... SEI que quando escurecer será noite..., e outras tantas coisas que SEI, sem necessidade de quaisquer outros questionamentos para SABER e, consequetemente, ter  FÉ de que aquilo que SEI, ...É!

    E, por que é que SEI que, hoje é segunda-feira, ou que estamos no mês de março?

    Porque a experiência, aliada ao uso da RAZÃO, me atestam isto!

    Penso que, para crermos na REENCARNAÇÃO não é tão simples assim, vez que a maioria de nós não se recorda de suas experiências pretéritas (reencarnações). Assim, devemos usar a RAZÃO e, quando usamos a RAZÃO, não necessitamos, sequer dos ensinamentos de nossos Amigos Espirituais.

    O raciocínio é simples: Primeiramente, é mister que admitamos a existência de DEUS, Nosso Pai, que é "...soberanamente bom e justo..."  E, se ELE é soberanamente bom e justo, significa que NÃO PERMITE INJUSTIÇA (nenhum fio de cabelo nos cai da cabeça, ou a folha de uma árvore, sem que não seja do conhecimento e da permissão de DEUS.  Portanto, aquela criança que nasceu cega, ou surda-muda ou mesmo com deformidades horríveis, SÓMENTE NASCEU ASSIM PORQUE DEUS PERMITIU!  Se ELE permitiu, é porque era justo ou necessário que assim fosse.

    Por quê?

    A Teoria da Reencarnação  explica, à saciedade, esta questão. Se, mesmo assim, nos negamos a aceitar a Reencarnação, digo que seria melhor negarmos a existência da Divndade,  pois o deus que estamos crendo, não é "...soberanamente bom e justo..."; não é DEUS!

Paz e Alegria!
Irecê Nascimento Trein.




Perguntas
Pergunta sobre a Prática do Evangelho no Lar, Farbelow, Brasil

    Pratico o Evangelho no Lar com minha família toda semana. No entanto, tenho algumas dúvidas de algumas coisas que acontecem, por exemplo:

    1. Minha mãe está sempre fazendo alguma coisa e acaba atrasando o início do Evangelho em cerca de 10 minutos. Devo chamar atenção dela? E exigir que o Evangelho comece rigorosamente na hora?

    2. Minha irmã sempre está chegando da rua neste horário e muitas vezes senta na mesa no meio da oração, muitas vezes quando já estamos na prece de encerramento. Esta atitude é aceitável, prejudica os trabalhos? Tenho receio de falar qualquer coisa para ela e ela não mais comparecer, já que ela não tem religião e acho que o Evangelho pode beneficiá-la.

    3.Minha avó algumas vezes está morrendo de sono (fazemos o Evangelho aos Domingos às 22 hs), mas faz questão de participar. Acontece que muitas vezes enquanto estou lendo o Evangelho ela está dormindo. Como proceder? Mando ela ir dormir e não participar do Evangelho?

    Agradeço a oportunidade e aguardo resposta.
    Grata


"Trata-se do estudo do Evangelho de Jesus em reunião familiar. O Culto do Evangelho no Lar, realizado no ambiente doméstico, é precioso empreendimento que traz diversos beneficios às pessoas que o praticam." (vide texto neste boletim - O Culto Cristão no Lar)
Cara Amiga,

    O objetivo do estudo do Evangelho de Jesus é conhecer-lhe as lições inesqueciveis e procurar o melhor modo de coloca-las em prática. É buscar o Reino de Deus, que está em nós mesmos quando aderimos ao programa renovador da Boa Nova. Assim, embora a disciplina no estudo seja importante, ela não deve se sobrepor ao próprio objetivo do estudo. Estudar o Evangelho sem aplicar paciência, sem buscar a participação voluntária, sem entusiasmo por sua mensagem, seria simplesmente um formalismo. Uma vez transformado em algo obrigatório e formal, sem participação "de coração", o Culto no Lar não tem como trazer beneficio algum.

    A paciência com o atraso de dez minutos, com o sono dos participantes e com outros pequenos inconvenientes do dia-a-dia, podem ser também lições vivas para o "Evangelho no Lar" e auxiliarem no crescimento de todos.

    Lembre-se que o Espiritismo não tem "culto" nem "rito" formais, muito menos práticas religiosas obrigatórias. O chamado "Culto do Evangelho no Lar" é - e deve ser sempre - uma atitude espontânea de busca do estudo e da prática da moral ensinada por Jesus, pela união fraterna no lar, e nunca um ato de adoração cega ou um ritual que se sobreponha ao uso da razão.

    Atenciosamente,
    Carlos Iglesia



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