Grupo de Estudos Avançados Espíritas

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Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec


Ano 10 - Número 427 - 2002            8 de janeiro de 2002

Conteúdo

Editorial

Textos Comentários Perguntas Painel

Editorial
Por ocasião do aniversário do GEAE -  Homenagem a Kardec e a Revista Espírita

(Texto escrito por José Cid para ser publicado na edição de Outubro passado, que, devido aos problemas técnicos que tivemos, ainda não tinha sido publicado)

    Durante os doze anos que Kardec esteve à frente da Revista Espírita - de janeiro de 1858 até abril de 1869 - foram publicados ali diversos textos, frutos de seus estudos. Além disso foram publicados textos e mensagens enviados de diversos lugares do mundo. Ali Kardec punha em discussão seus pensamentos e publicava as cartas que recebia. Foram anos dinâmicos, em que a Doutrina Espírita foi posta em discussão da mesma forma que fazemos hoje, quando enviamos um artigo técnico para uma revista especializada em nossa área de atuação.

    Quando comparamos o desenvolvimento tecnológico de meados do século dezenove com o desenvolvimento atual, ficam claras as dificuldades que Kardec enfrentou. O custo envolvido em uma publicação como a Revista Espírita era, certamente, astronômico para os padrões da época. Era necessário que houvessem patrocinadores, que adquirisses seus exemplares, de forma a viabilizar a publicação de novas edições. Além disso, o sistema de impressão era demorado, com exigência de grande quantidade de mão de obra.

    Cartas demoravam semanas para chegar ao seu destino, fazendo com que a discussão, atraves de uma revista impressa fosse lenta, tornado o desenvolvimento dos temas penoso e demorado. No entanto, analisando os exemplares mensais da Revista Espírita vemos que não faltaram temas e discussões calorosas!

    Frequentemente me pergunto como seria a atuação de Kardec hoje.

    A publicação de livros exige poucos recursos, fazendo com que existam diversos livros que se auto-intitulam espíritas, mas que trazem distorções sérias, fruto do pouco estudo que seus editores tem sobre a Doutrina Espírita. A editoração eletrônica trouxe velocidade, diminuindo para poucos dias o tempo necessário para a publicação de um novo texto. A velocidade da comunicação faz com que a informação rasque as distâncias em frações de segundos. E a internet?

    Na minha forma de ver, o Boletim do GEAE, que inicia com esta edição seu décimo ano de publicação, cumpre hoje o papel de uma Revista Espírita. Claro que nenhum de nos, editores, tem a pretensão de pensar que temos uma missão como a que Kardec teve. Mas o Boletim, que é escrito por minhares de mãos mundo afora, serve aos mesmos propósitos que  a Revista Espírita servia a Kardec.

    Por isso temos o cuidado de analisar os artigos enviados. Por isso estimulamos a participação de todos. Por isso o Boletim completa seus nove anos de existência.

    Meus amigos. Temos nas mãos um grande instrumento e uma grande responsabilidade




Textos
A Gênese Segundo o Espiritismo (Resumo), Joel Matias, Brasil

CAPITULO III

O BEM  E  O  MAL

Origem do bem e do mal - O instinto e a inteligência - Destruição dos seres vivos uns pelos outros.


Origem do bem e do mal.

    Sendo Deus infinitamente sábio, justo e bom, é evidente que o mal existente não pode NELE ter-se originado. Por outro lado, se existisse um Satanás (personificação eterna do mal), não podendo ser igual, seria inferior a Deus, logo, teria sido criado por ELE, o que implicaria na negação da bondade infinita do Criador.

    Os males tanto físicos como morais pertencem a duas categorias:

    1)- Os que independem da vontade do homem - os flagelos naturais.  Os flagelos se afiguram maus e injustos aos homens, por não poderem compreender a Sabedoria Divina que em cada acontecimento manifesta oportunidade para o progresso da humanidade. Os flagelos permitem ao homem desenvolver sua inteligência ao ponto de preveni-los, amenizar seus efeitos, através das ciências aplicadas a melhoria de condições de vida e bem-estar no planeta. "A dor é o aguilhão que o impele para a frente, na senda do progresso".

    2)- Os criados pelos vícios, orgulho, egoísmo, ambição, cupidez e por todos os excessos. Apesar da consciência  que lhe foi outorgada pelo Criador, das advertências dos mensageiros quanto ao cumprimento das Leis Divinas que têm por objetivo o bem e o progresso,  insiste o homem em causar guerras, injustiças, opressão do fraco pelo forte, usando assim seu livre-arbítrio para a satisfação de seus vícios e sua vaidade.

    Graças à bondade divina, porém, chega um momento em que o mal moral se torna intolerável, reconhece o homem a necessidade de mudar de vida. Usa então de seu livre-arbítrio para moralizar-se a fim de ser mais feliz.

    "O mal é a ausência do bem" . "Onde não existe o bem forçosamente existe o mal".  O mal decorre portanto do estado de imperfeição do homem. Existe um limite natural à satisfação das necessidades. Se, por seu livre-arbítrio comete excesso, tem como resultado as enfermidades, a morte, que lhe advirão por sua imprevidência e não por castigo de Deus.

    A alma foi criada simples e ignorante sujeita à Lei do Progresso. Quiz Deus que o progresso resulte do próprio trabalho a fim de que lhe pertença o fruto deste como também é de sua responsabilidade o mal que pratique.

    As raízes das paixões e dos vícios se acham no instinto de conservação, intenso nos animais e seres animalizados onde inexiste o senso moral e a vida intelectual.  Com o desenvolvimento da inteligência o instinto se enfraquece, fazendo com que paulatinamente haja o domínio do espírito sobre a matéria. Quanto mais se deixe dominar pela matéria, atrasa seu desenvolvimento identificando-se com o bruto. Assim, as paixões que lhe eram um bem, por que eram necessidade de sua natureza, passam a ser um mal por que se tornam prejudiciais à espiritualização do ser. "O mal é, portanto, relativo e a responsabilidade é proporcional ao grau de desenvolvimento".

O instinto e a inteligência.

    O instinto é a força oculta que solicita atos espontâneos e involuntários visando a conservação da espécie.

    É pelo instinto que a planta se volta para a luz e dirige as raízes para a água ou terra, que os animais migram conforme a mudança de clima, constroem seus abrigos, armadilhas para caçar seu alimento, que os sexos se aproximam, que a mãe protege seu filho. No início da vida os atos humanos são puramente instintivos. Mesmo no adulto muitos atos são movidos pelos instintos como o de conservação, equilíbrio do corpo, adaptação das pálpebras à luz, etc.

    A inteligência é um atributo da alma e se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados e combinados de acordo com as circunstâncias.

    O instinto é previdente e nunca se engana. A Inteligência, por ser livre, está sujeita a errar. O adulto anda naturalmente, instintivamente, mesmo quando está desatento ao ato de andar. Ao aumentar a velocidade, passa a usar sua inteligência,  podendo por exemplo vir a cair.

    Certa teoria considera os atos instintivos provenientes dos protetores espirituais, que diminuiriam sua ação à medida que seu protegido desenvolvesse sua inteligência. Contraria, entretanto, a unidade de causa que se observa universalmente nos instintos, o que não seria possível se proviessem de cada protetor.

    Se considerar-se todos os seres mergulhados no fluído divino, soberanamente inteligente e previdente, entender-se-á a unidade dos movimentos instintivos que visam ao bem de cada indivíduo, tanto mais ativamente quanto menor for o desenvolvimento da inteligência.

    O  instinto é portanto guia seguro que se enfraquece à medida do desenvolvimento da inteligência.

    As paixões são também forças inconscientes, nascem das necessidades do corpo e dependem do organismo. São individuais, produzem efeitos variados em intensidade e natureza. São úteis até o surgimento do senso moral, quando passam a ser prejudiciais ao progresso do espírito. "O instinto se aniquila por si mesmo; as paixões somente pelo esforço da vontade podem domar-se".

Destruição dos seres vivos uns pelos outros.

    A verdadeira vida, tanto do animal como do homem, não está no invólucro corporal mas sim no princípio inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo.

    Em sua infinita sabedoria o Criador faz com que os seres orgânicos se nutram uns dos outros. No homem materializado domina o instinto animal e mata para se alimentar. Posteriormente ao contrabalançar-se o sentimento moral, luta e destrói para satisfazer sua ambição, orgulho, poder. Ao preponderar o senso moral diminui a necessidade de destruir, tendendo a desaparecer, por se tornar odiosa. Passa então a lutar intelectualmente, contra as dificuldades, não mais contra seus semelhantes.



Entrevista feita pelo GEAE com o Professor Aécio Pereira Chagas

    Entrevista eletrônica concedida pelo Prof. Aécio P Chagas, prof. titular aposentado do instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. O Prof. Aécio é atuante membro do movimento espírita da cidade de Campinas, tendo escrito diversos artigos para revistas espíritas conceituadas. Tem participação ativa no centro espírita "Casa do Caminho", Campinas, SP.

    Além disso sua área de interesse abrange a história, filosofia e ensino da Química. Dedicou-se até 1994 a pesquisas em termodinâmica química, em especial termoquímica de compostos de coordenação, estudo de equilíbrios químicos etc. É membro da Academia Brasileira de Ciências. O Prof. Aécio Chagas escreveu importantes artigos sobre a relação Espiritismo &  Ciência enfatizando a correta interpretação dada a essa relação. É portanto com muito prazer que apresentamos a entrevista abaixo.

    P1: Em seu artigo "Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho?" ["Reformador", Julho de 1993, página 208] você e  Eduardo Vichi dão uma interpretação bastante contundente da importância desse livro que, muitas vezes, tem sido mal compreendido por alguns setores do movimento espírita em geral. Pela análise que você faz, parece que a má impressão se dissolve pela correta compreensão do Espiritismo em seus mais profundos aspectos, que muitas vezes passa despercebido pela análise superficial "materialista". A que você atribui essas freqüentes más interpretações de obras dentro do movimento espírita se a doutrina muitas vezes (baseando-se na opinião dos Espíritos) é bastante clara em priorizar nossa atenção a esses aspectos?

    Grato pelas suas palavras. Creio que a resposta já está na sua pergunta: interpretações materialistas.

    Lembro-me que certa feita li um comentário de Marcus Pereira(*) sobre o Nordeste e suas inúmeras variedades musicais, dizia ele: "Que os economistas me perdoem, mas o Nordeste é a região mais rica do Brasil". Muitas pessoas sonham com um "Brasil Potência" e ao verem (e nós estamos vendo) que o país não vai nesta direção se decepcionam, achando que o livro "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" não faz sentido. A leitura da obra de Darcy Ribeiro, "O Povo Brasileiro", ajuda também a compreender o livro de Humberto de Campos (espírito). Ribeiro é antropólogo e não economista. Não sou contra os economistas, porém a visão econômica é apenas um ângulo. É preciso ver também os outros. Cá entre nós, os outros não seriam talvez mais importantes ?

    Por outro lado, muitos confrades interpretam "Coração do mundo, pátria do Evangelho" como um paraíso. Se olharmos o que era a Palestina no tempo de Jesus, veremos que ela estava longe de ser um lugar próspero, tranqüilo, pacífico etc. (o que não fizeram com o Mestre?), e lá era realmente, naquele instante, a pátria do Evangelho. Na realidade nosso país é uma imenso educandário dos sentimentos, um hospital da alma. Para se compreender melhor o Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, é melhor ler primeiro A Caminho da Luz, de Emmanuel.

    (*) Marcus Pereira, dono da gravadora de mesmo nome, foi uma pessoa que fez muito pela cultura brasileira. Infelizmente passou para a outra vida pelas suas próprias mãos. Oremos por ele.

    P2: Qual a análise que você faz da recente explosão de títulos e novos autores espíritas na atualidade? Que observações você poderia fazer ao espírita sincero que começa a respeito de semelhante nova bibliografia?

     Esta "explosão", como você diz, é excelente, maravilhosa. Atualmente há livros espíritas praticamente para todos os gostos e níveis. Sei que algumas pessoas estão preocupadas com um fração pequena de livros ruins que têm surgido no meio. Seria bom que estas pessoas se preocupassem com os bons livros que também têm surgido.

    Àquele que começa na Doutrina, tenho a dizer que estude primeiramente  as obras fundamentais e referenciais da literatura espírita (Kardec, Emmanuel, André Luís e outros). Depois passe para os outros ("os novos") e leia-os agora com espírito crítico, como se aprenderá na leitura de Kardec. Procure comentar com os amigos o que leu, dizendo sua opinião e ouvindo a de outros, o que nos ajuda a separar "o joio do trigo". Se nós não aprendermos a fazer esta análise, esta separação, acabaremos nos tornando também "joio".

    Também não devemos esquecer que o objetivo da Doutrina Espírita é a melhoria moral do ser humano. Após a leitura de um livro (principalmente se for rotulado de espírita) devemos nos perguntar se o livro contribuiu, ou não, para este objetivo. Esta pergunta vale até para livros técnicos. Como? Ele nos ensina alguma coisa verdadeira, boa, útil, interessante? Então contribuiu para nossa melhoria moral. No livro Sublimação, psicografado por Yvone Pereira, Leon Tolstoi (Espírito) comenta que seu grande sucesso Ana Karenina, escrito quando ainda encarnado, serviu de exemplo para muitas pessoas verem no suicídio algo romântico e heróico. Apesar de esta não ser sua intenção, isto lhe custou muitos sofrimentos, principalmente no mundo espiritual, e ele então voltava para nos alertar contra os perigos do suicídio.

    Kardec nos ensinou também os critérios de aceitação das mensagens dadas pelos espíritos. Elas, em poucas palavras, devem satisfazer os seguintes critérios: concordância entre o conteúdo das mensagens obtidas por diversos médiuns (universalidade), não devem contradizer o já estabelecido e a linguagem. Apliquemos isto aos livros que lemos, pois eles são mensagens enviadas pelos espíritos. O fato de alguns estarem encarnados ou desencarnados é um detalhe apenas, como livros de capa dura ou de capa mole.

    P3: Como deve dar, na sua opinião, a absorção de novas teses (a respeito da doutrina, vinda de mais diversas fontes, seja dos Espíritos ou dos encarnados) pelo movimento espírita?

    Repetindo o que já dissemos na pergunta anterior, Kardec já nos ensinou a fazer isto, ao enunciar os critérios de aceitação das mensagens dadas pelos espíritos: universalidade, concordância com o estabelecido, linguagem. O que surge pela primeira vez e não se nota nada contrário ao estabelecido ou à linguagem, deve-se colocar na gaveta e esperar se haverá confirmações, atendendo assim ao primeiro critério. Kardec deixou muita coisa na "gaveta" da Revista Espírita, que ele publicou afirmando que era necessário aguardar confirmações. Um exemplo são as descrições "fantásticas" do mundo espiritual, que só vieram a ser confirmadas bem depois, com André Luiz e outros. Muitos confrades, ao verem alguma coisa nova costumam se assustar e, em nome da "pureza doutrinária", já saem combatendo o que foi apresentado. Deveriam seguir a lição de Kardec. Comente e esclareça, pergunte e espere.

    P4: Na sua opinião, como devem os grupos espíritas (centros, grupos virtuais, federações) se relacionarem em um ambiente globalizado (necessariamente pluralista em suas orientações ideológicas) quando do trato de novas questões que tenham implicações para a Doutrina Espírita.

    Acho que a pergunta tem dois aspectos que, a meu ver, devem ser separados: o primeiro é o ambiente globalizado, e o segundo o que você chama pluralista.

    No que se refere ao primeiro aspecto, isto é uma novidade, esta facilidade de comunicação entre os mais remotos pontos do globo é uma nova experiência para a humanidade e não sabemos ainda no que vai dar. Qualquer resposta seria mera especulação.

    No segundo aspecto, o que você chama pluralista, é algo que já existe há algum tempo, menos novo que o primeiro, porém somente agora as pessoas estão se dando conta do que está havendo: vivo, e até me dou bem, com pessoas "iguais" a mim, mas que pensam e sentem de forma diferente. Para muitos irmãos isto é uma novidade, um aprendizado novo. Entretanto somente nos comunicamos, com mais intensidade e eficiência, com aqueles que pensam de forma semelhante, pois nossa linguagem está condicionada a isto. Apesar da novidade, ainda por muito tempo nos comunicaremos somente, com facilidade, com aqueles que pensam do mesmo jeito, mesmo que nosso interlocutor more no outro estremo do mundo.

    Quanto às instituições espíritas, temos notado que têm aumentado bastante a comunicação entre as pessoas, porém entre os grupos parece que não. Isto não seria decorrente da dificuldade de um grupo se expressar, quando comparada com a do indivíduo? Para um grupo se expressar, deve haver uma homogeneidade, um consenso entre seus membros e, como sabemos, isto não é freqüente. Tenho visto diversas pessoas, dentro do movimento espírita externarem pontos de vista a respeito de como as instituições deveriam se comunicar, porém, como disse são pontos de vista e creio que ainda é cedo para se ter algum "consenso com bom senso".

Sobre a relação Ciência X Espiritismo

    P5: No movimento espírita, há um debate recente sobre a necessidade ou não de o Espiritismo se atualizar como doutrina seja frente as modernas descobertas da chamada "ciência oficial" seja por causa do Espiritismo ter aparecido no Séc. 19. Após todo esse tempo de pesquisa científica acadêmica, como você vê essa questão?

    Primeiro sobre a Ciência Espírita. Do que ela trata? Dos seres humanos. Ela têm progredido? Sim, porém lentamente, por uma série de circunstâncias. Uma delas é a falta de pessoas empenhadas em fazê-la progredir.

    Sobre as "ciências oficiais". Elas formam dois grandes grupos: (1º) as ciências ditas "físicas e naturais" (Física, Química, Biologia etc.) e (2º) as "humanas" (Sociologia, Antropologia, Economia etc.).  A Ciência Espírita, pelo seu objeto de estudo, se relaciona mais com o segundo grupo. No que ela teria que se atualizar? Sua concepção do ser humano é mais ampla e completa que a das outras ciências. Acho que as outras é que deveriam se atualizar.

    Com relação às chamadas "físicas e naturais", muitas pessoas, dentro do movimento espírita têm se empolgado com certas obras de divulgação científica e acha que o Espiritismo deveria acompanha-las. Mas acompanhar o que? A procissão das ilusões materialistas? Na realidade estes confrades precisam conhecer um pouco de História e Filosofia das Ciências. Muitas obras de "divulgação científica" não foram escritas para divulgar a ciência, mas para divulgar e justificar ideologias que pretendem se apoiar em certos aspectos da ciência. No geral, são livros muito bem escritos, às vezes por nomes famosos, e que acabam criando a ilusão de serem realmente obras de ciência, mas são divulgações de ideologias que não são capazes de se sustentarem à luz da realidade dos fatos e que no fundo pretendem manter as pessoas imersas nas sombras. Ainda mais, em várias dessas obras é uma ideologia se apoiando em uma especulação científica (e vice-versa), e nos faz lembrar a parábola do cego conduzindo outro cego. Já tivemos oportunidade de tratar deste tema em dois artigos que estão publicados no Reformador: A Ciência Confirma o Espiritsmo?, julho/1995, p. 208 e Ainda Sobre as Relações Entre as Ciências e o Espiritismo, abril/1999, p. 124. Recomendo também a leitura do artigo de Ademir L. Xavier Jr, Algumas Considerações Oportunas Sobre a Relação Espiritismo-Ciência, também no Reformador, agosto/1995, p. 244.

    O Espiritismo não têm que ser revisto, ele têm é que ser praticado para crescer. É possível que daqui a alguns séculos, com a própria evolução da humanidade, ele necessite ser revisto, ou melhor, ampliado, complementado. Mas no presente, ele precisa ser vivido

    P6: Por outro lado, há também correntes que freqüentemente procuram utilizar conceitos e idéias trazidas da física (como exemplo) para exprimir conceitos próprios da Doutrina Espírita. Como você entende esses fatos?

    Acho que já respondi em parte na anterior. Agora é necessário distinguir bem esta questão de introduzir os conceitos da Física para exprimir conceitos próprios da Doutrina Espírita com o uso de analogias. São coisas diferentes, mas muitas pessoas acabam se confundindo. Jesus fazia isto e muitos, ainda hoje, lêem as suas parábolas ao pé da letra. As analogias são muito úteis, porém é necessário saber distingui-las.

    André Luiz, em Mecanismos da Mediunidade, deixa bem claro que ele faz comparações de comportamento entre circuitos elétricos e mediunidade. Por isto algumas pessoas acabam por achar que o fenômeno mediúnico é um fenômeno elétrico e que portanto poderia ser estudado com aparelhos elétricos. André Luiz está correto ao fazer este tipo de comparação, nós espíritas é que precisamos estudar mais. Este tipo de analogia é comum na ciência e chama-se modelo. Por exemplo, as moléculas de um gás podem ser comparadas a bolas de bilhar, mas nenhum cientista considera que as moléculas sejam realmente bolas de bilhar.

    Gostaria, agora, de acrescentar uma pergunta: A Física, que se propõe a estudar a matéria, tem dado conta de explicar toda a matéria?

    Qualquer físico profissional responderá com um não (felizmente para ele próprio, caso contrário não teria mais o que fazer). Por exemplo, a idéia de estrutura molecular está aí funcionando, inclusive dentro da Biologia. No entanto, dentro da Mecânica Quântica ela não existe, a não ser como uma aproximação feita de fora para dentro (aproximação de Born-Oppenheimer). Como ficamos então?

    Nosso país não tem muita tradição científica e a pouca que tem é carregada de idéias positivistas. Daí muitos pensarem que as respostas científicas "tem que ser exatas", caso contrário não é científica, tem que haver números, aparelhos etc. O próprio desenvolvimento da Física Quântica mostrou que não existe esta pretensa exatidão e que uma das obras científicas mais importantes do século XIX é a de Darwin e Walace, que não têm números e nem aparelhos.

    P7: Como o espírita sincero deve considerar esses procedimentos se tiverem bons propósitos?

    Como mencionei acima: ter espírito crítico, trocar informações, utilizar os critérios de aceitação das mensagens e, na medida da nossas possibilidades, seguirmos o exemplo de Kardec: ter bom senso.

    P8: Como você entende a aplicação de práticas em princípio não próprias da Doutrina Espírita (como a homeopatia e a cromoterapia) no ambiente do centro espírita?

    O que seria uma prática própria da doutrina Espírita? Do Espiritismo prático Kardec dedicou-se quase que somente à mediunidade, e não podia deixar de ser, pois esta é o pilar metodológico do espiritismo. Outros temas ele apenas menciona ou estuda pouco, como os relativos à cura, aos fluidos, à própria reencarnação etc, pois o tempo não lhe foi suficiente. Entretanto é necessário que tudo posso ser estudado à luz da Doutrina Espírita. O passe, por exemplo. Alguns fenômenos ou práticas envolvendo fluidos são muito utilizados, porém pouco conhecidos do ponto de vista científico-espírita. É preciso estuda-los. Como? O laboratório da ciência espírita é o centro espírita.

    Entretanto quando menciono "levar para o centro espírita" não é só fazer este estudo e ainda em reuniões públicas, pois o centro espírita não deve deixar de cumprir com as suas múltiplas finalidades, como o estudo e a divulgação da Doutrina, atender aos necessitados (dos dois planos da vida) etc. Há muito o que estudar e aprender, em termos de Ciência Espírita, simplesmente observando o que acontece nas reuniões mediúnicas e sem perturbar e alterar o objetivo do trabalho. Por outro lado, como nas ciências comuns, quando não é possível trazer ao laboratório, leva-se o laboratório ao fenômeno. Por exemplo, para um ecologista uma mata vira um laboratório quando ele a ela se dirige. Ali faz suas observações e experimentos sem perturbar, de forma significativa, a vida dos seres que ali vivem. Um observatório astronômico torna-se um laboratório para estudar um fenômeno que ocorre a vários anos-luz de distância. Então algumas coisas podem ser levadas a um centro espírita, porém outra é o espírita, com suas "ferramentas" é quem deve ali se dirigir. Quem seria o espírita: o próprio investigador do fenômeno em questão que conhece e estuda a Doutrina. E isto vale também para alguém que pode ser chamado de "cientista oficial". Há muitos confrades que poderiam fazer isto e não fazem. Entretanto sei que o grande problema agora é comunicar as observações feitas a outros colegas e confrades.

    P9: Na sua opinião, você acha que grupos espíritas devam realizar pesquisas nesses campos paralelos? Se positivo, em quais condições?

    Há muitos espíritas que já fazem estas pesquisas (e não sabem). Acho que já respondi na pergunta anterior e torno a repetir: a grande dificuldade está em divulgar os resultados de seus estudos.

    P10: Como você entende o fenômeno da Transcomunicação instrumental? (isto é, quais os benefícios ou malefícios para o entendimento da Doutrina Espírita, se grupos espíritas devem ou não realizar pesquisas no campo e com qual finalidade).

    O fenômeno da transcomunicação instrumental é muito interessante e importante e pelo que pude ver através da imprensa espírita, os confrades tendem a se polarizar nos extremos, como muitas vezes acontece. Há uns que vêem como uma coisa que irá substituir o médium, evitando assim toda a interferência que o mesmo pode dar nas comunicações. Outros a vêem como um mero efeito físico, não muito diferente dos copos ou das mesas girantes. Quanto aos primeiros acho que exageram, pois entre nós, com toda objetividade que os atuais meios de comunicação têm, a notícia é "trabalhada", ou seja, o intermediário interfere no processo. Quando aos segundos, acho que eles não aquilatam o esforço e o aprendizado que se faz "do lado de lá", para o despertamento da humanidade. Já tivemos oportunidade de externar nossa opinião sobre esta questão no artigo Algumas Considerações Sobre a Utilização de Aparelhos nas Comunicações Mediúnicas, publicado na Revista Internacional de Espiritismo, setembro de 1988, p. 233.

    Há entretanto uma pergunta que gostaria de fazer. Se, a medida que a humanidade progride, a mediunidade vai se ampliando, se dilatando em todos os sentidos, com o passar do tempo os aparelhos seriam necessários? É claro que o tempo aqui é medido em séculos e em um século muito pode acontecer (aconteceu e acontece).

    De qualquer modo, como o assunto "comunicação" foi abordado diversas vezes, convido-os a lerem e a refletirem sobre as mensagens e os comentários na Revista Espírita, abril de 1864, páginas 117 a 127, em particular as comunicações assinadas por Guttemberg, o inventor da imprensa.




Comentários
Comentário sobre Pergunta Formulada por Luiz Francisco no Boletim 424, Alan Arthou, Brasil

(vide pergunta publicada no Boletim 424)

Caro Luiz Francisco.

    A maneira direta e objetiva com que você transmitiu  suas dúvidas e seu posicionamento me deixaram muito a vontade para contatá-lo e expor minha opinião.

    Acho que o que acontece contigo reforça uma crença minha de que existe espaço para todas as religiões. Eu acredito que, em função do momento espiritual e intelectual que a pessoa está vivendo, existe maior ou menor facilidade em aceitar determinada religião ou ensinamentos.

    Como afirmou Kardec, se nos fixarmos na parte moral transmitida pelas várias religiões não encontraríamos quase diferença alguma. As diferenças aparecem quando comparamos os dogmas e as visões do que seria o mundo após a morte. Se você se aventurar a ler textos espíritas e identificar os conceitos morais que são transmitidos, irá se sentir muito a vontade pois trata-se do mesmo Cristianismo dentro do qual você tem vivido.

    Cada religião tem um modelo, uma forma de visualizar esse algo que sentimos mas não conseguimos explicar. Cada um desses modelos se encaixa bem em determinadas pessoas. O uso do medo do inferno encaixa muito bem em mentes que nunca trilhariam o caminho da moralidade e do amor ao próximo se não fosse pelo medo do castigo.

    Ao que parece você está querendo questionar as interpretações que são dadas a textos escritos na Bíblia, o que é muito válido. Já houve quem definisse dois caminhos possíveis para a verdade, ou para a elevação, o "revelado" e o "raciocinado". O primeiro é o caminho da submissão, você tem que abdicar da capacidade de raciocínio que DEUS te deu e aceitar incondicionalmente o que foi revelado (e transcrito pelo homem). O segundo é o caminho da aceitação e este, diferentemente da submissão, exige estudo, pesquisa e mente aberta. Ao que parece, sua mente está predisposta a colaborar no seu processo evolutivo. Parabéns, a dúvida e o questionamento são sempre precursores de grandes descobertas.

    Quanto a sua dúvida sobre a existência ou não de vida após a morte, é perfeitamente natural. Acredito mesmo que qualquer pessoa que tenha absoluta certeza sobre qualquer coisa nesta vida é porque enveredou pelo caminho do fanatismo e fechou as portas para qualquer novo fato ou conhecimento. Questione sempre e, aproveitando, questione também porque você tem este medo, esta preocupação.

    O caminho da moralidade, do amor a si e ao próximo (coloquei o "si" porque muita gente insiste no erro de tentar amar aos outros sem se amar) é uma escolha que não tem nada a ver com o fato de existir ou não vida após a morte. É uma escolha que elimina os medos , as frustrações e as aflições desta vida (embora também tenha grande impacto nas vidas futuras).

    Desculpe tomar seu tempo, poderia ainda falar alguma coisa sobre os textos bíblicos, mas muito já foi dito em mensagens de outros amigos. De qualquer maneira, bem vindo ao mundo dos que só sabem que nada sabem mas que, exatamente por isso, conseguem ampliar a visão que têm do mundo e de si próprio.

    Alan Arthou



Sobre a Possessão - Pergunta publicada no Boletim 410, Fernando, Brasil

(vide pergunta publicada no Boletim 410)

A POSSESSÃO, SEGUNDO KARDEC

"Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz; o homem precisa habituar-se a ela pouco a pouco, do contrário fica deslumbrado." (Allan Kardec)
    Há possessos? Existe a possibilidade de dois Espíritos coabitarem num mesmo corpo? O mergulho cronológico nas obras da Doutrina Espírita, nos leva ao seu berço, "O Livro dos Espíritos": (1)

1857

    Perg.473 - Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado nesse corpo?

    O Espírito não entra em um corpo como entrais numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material.

    Kardec, retira suas conclusões, prepara e formula a pergunta seguinte, e os Espíritos respondem: (1)

    Perg. 474 - Desde que não há possessão propriamente dita, isto é coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada?

    Sem dúvida e são esses os verdadeiros possessos. Mas é preciso saibais que essa denominação não se efetua nunca sem que aquele que sofre o consinta, que por sua fraqueza, quer por deseja-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos.

    Os Espíritos aí, fazem uma nítida distinção entre os verdadeiros e os falsos possessos. Os verdadeiros são os subjugados até ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada; os falsos são os que não correspondem aos casos de obsessão, necessitando tratamento médico.

    Comenta ainda Kardec, após a resposta dos Espíritos:

    O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se a Espíritos imperfeitos que a subjuguem.

1858

    Se havia alguma dúvida sobre a opinião do Codificador até aquele momento, ele a desfaz no texto da Revista Espírita, por ele dirigida: (2)

    Antigamente dava-se o nome de possessão ao império exercido pelos maus Espíritos, quando sua influência ia até a aberração das faculdades. Mas a ignorância e os preconceitos, muitas vezes, tomaram como possessão, aquilo que não passava de um estado patológico. Para nós, a possessão seria sinônimo de subjugação. Não adotamos esse termo (...) porque ele implica igualmente a idéia de tomada de posse do corpo pelo Espírito estranho, uma espécie de coabitação ao passo que existe apenas uma ligação. O vocábulo subjugação da uma idéia perfeita. Assim, para nós, não há possessos, no sentido vulgar da palavra; há simplesmente obsedados, subjugados e fascinados.

    Fica bastante claro que, para ele, até aqui, não existia possessão.

1861

    O texto acima é parecido com o exarado no "O Livro dos Médiuns" (3), com uma diferença significativa no parágrafo, qual seja, a troca da palavra "ligação", por "constrangimento".

1862

    Momentaneamente, temos a impressão de que estariam respondidas, as indagações formuladas na inicial, mas, apesar dessas considerações, o termo possessão reaparece na Revista Espírita: (4)

    Ninguém ignora que quando o Cristo, nosso muito amado mestre, encarnou-se na Judéia, sob os traços do carpinteiro Jesus, aquela região havia sido invadida por legiões de maus Espíritos que, pela possessão, como hoje, se apoderavam das classes sociais mais ignorantes, dos Espíritos encarnados mais fracos e menos adiantados (...) é preciso lembrar que os cientistas, os médicos do século de Augusto, trataram, conforme os processos hipocráticos, os infelizes possessos da Palestina e que toda sua ciência esbarrou ante esse poder desconhecido. (Erasto)

    Na mesma revista e no mesmo ano, (5) Kardec, nos "Estudos sobre os Possessos de Morzine", acrescenta a seguinte consideração:

    O paroxismo da subjugação é geralmente chamado de possessão.

1863

    A retomada do termo, tinha uma razão, e Kardec é bem incisivo na sua opinião na Revista Espírita, sobre os mesmos Possessos de Morzine, que certamente o impressionaram e influíram na mudança de sua conceituação sobre possessão, e valeram doze citações no índice remissivo da Revista Espírita (1862, 63, 64, 65 e 68), além de outros estudos, na mesma revista, como, por exemplo, quando analisa "Um Caso de Possessão". (6) (7) Senão vejamos:

    Temos dito que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demostrado, que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado.(...) Não vendo senão o efeito, e não remontando à causa, eis porque todos os obsedados, subjugados e possessos passam por loucos (...). Eis um primeiro fato, que o prova, e apresenta o fenômeno em toda a sua simplicidade.(...)

    (O Sr. Charles) Declarou que, querendo conversar com seu velho amigo, aproveitava o momento em que o Espírito da Sra. A..., a sonâmbula, estava afastado do corpo, para tomar-lhe o lugar. (....). Eis algumas de suas respostas.

    - Já que tomastes posse do corpo da Sra.A... poderieis nele ficar?

    - Não; mas vontade não me falta.

    -Por que não podeis?

    -Porque seu Espírito está sempre ligado ao seu corpo. Ah! Se eu pudesse romper esse laço eu pregaria uma peça.

    Que faz durante este tempo o Espírito da Sra. A....

    Está aqui ao meu lado; olha-me e ri, vendo-me em suas vestes.

    O Sr. Charles(...) era pouco adiantado como Espírito, mas naturalmente bom e benevolente. Apoderando-se do corpo da Sra. A... não tinha qualquer intenção má; assim aquela Sra. nada sofria com a situação, a que se prestava de boa vontade.

    Aqui a possessão é evidente e ressalta ainda melhor dos detalhes, que seria longo enumerar. Mas é uma possessão inocente e sem inconvenientes.

    Na mesma página, no entanto, Kardec descreve um caso de possessão da Sra. Júlia, agora dirigida por um Espírito malévolo e mal intencionado.

    Há cerca de seis meses tornou-se presa de crises de um caráter estranho, que sempre corriam no estado sonambúlico, que, de certo modo, se tornara seu estado normal. Torcia-se, rolava pelo chão, como se se debatesse, em luta com alguém que a quisesse estrangular e, com efeito, apresentava todos os sintomas de estrangulamento. Acabava vencendo esse ser fantástico, tomava-o pelos cabelos, derrubava-o a supapos, com injúrias e imprecacões, apostrofando-o incessantemente com o nome de Fredegunda, infame regente, rainha impúdica, criatura vil e manchada por todos os crimes, etc. Pisoteava como se acalcasse aos pés com raiva, arrancando-lhe as vestes. Coisa bizarra, tomando-se ela própria por Fredegunda, dando em si própria redobrados golpes nos braços, no peito, no rosto, dizendo: "Toma! Toma! É bastante, infame Fredegunda? Queres me sufocar, mas não o conseguirás; queres meter-se em minha caixa, mas eu te expulsarei." Minha caixa era o termo que se servia para designar o próprio corpo.(...)

    Um dia para livrar-se de sua adversária, tomou de uma faca e vibrou contra si mesma, mas foi socorrida a tempo de evitar-se um acidente.

     Vemos aí, a luta de dois Espíritos pelo mesmo corpo.

     Este Espírito, Fredegunda, foi posteriormente evocado em sessões mediúnicas e convertido ao bem. (8)

     Mas, voltando aos Possessos de Morzine, (9) diz Kardec referindo-se ao perispírito:

    Pela natureza fluídica e expansiva do perispírito, o Espírito atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza.(...) Como se vê, isto é inteiramente independente da faculdade mediúnica (...)

    Estes últimos, sobretudo (os possessos do tempo de Cristo), apresentam notável analogia com os de Morzine.

     Na mesma revista e no mesmo ano, selecionamos e pinçamos, para dimensionarmos a extensão daquela possessão coletiva: (10)

    Os primeiros casos da epidemia de Morzine se declararam em março de 1857(...) e em 1861 atingiram o máximo de 120. (...)

    (...) o caráter dominante destes momentos terríveis é o ódio a Deus e a tudo quanto a ele se refere.

 1864

    Ainda sobre a possessão da Sra. Júlia(12), refere-se  Kardec  na Rev. Espírita, (11):

     No artigo anterior (1863) descrevemos a triste situação dessa moça e as circunstâncias   que  provavam uma verdadeira possessão.

    O grau de intensidade das possessões e sua reatividade a tentativa de exorcização, vai bem descrita na Revista Espírita: (12)

    " Desde que o bispo pisou em terras de Morzine", diz uma testemunha ocular, "sentindo que ele se aproximava, os possessos foram tomados de convulsões as mais violentas;  e, (...)  soltavam  gritos  e   urros, que  nada  tinham  de  humano. (...)  As possessas, cerca de setenta, com  um  único  rapaz,  juravam,  rugiam, saltavam  em todos os sentidos. (...) A última resistiu a todos os esforços; vencido  de  fadiga  e  de emoção, ele (o bispo) teve que renunciar a lhe impor as mãos; saiu da igreja trêmulo, desequilibrado, as pernas cheias de contusões recebidas das possessas, enquanto estas se agitavam sob suas benções." (...)

    Encontramos no "Evangelho, Segundo o Espiritismo,(13) a seguinte referência sobre possessão e reforma íntima:

    (...) para isenta-lo da obsessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para se livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz indispensável, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque aí não raro o paciente perde a vontade e o livre arbítrio.

    No mesmo livro, (14), há considerações sobre as causas da possessão:

    O Espírito mau, espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições.

    Nesse fato reside a causa da maioria  dos  casos  de  obsessão, sobretudo  dos  que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e possessão.

1867

    Ainda na Revista Espírita, (15) encontramos informações de como é esta perda do livre arbítrio e como impedi-la:

    Objetar-me-eis, talvez, que nos casos de obsessão, de possessão, o aniquilamento do livre arbítrio parece ser completo. Haveria muito a dizer  sobre esta questão porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, como foi possível constatar em muitas ocasiões.(...)

    Procedeis em relação aos Espíritos obsessores ou inferiores que desejais moralizar (...)algumas vezes conscientemente, quando estabeleceis, em torno deles uma toalha fluídica, que eles não podem penetrar sem vossa permissão, e agis sobre eles pela força moral, que não é outra coisa senão uma ação magnética quintessenciada.

1868

    Na "A Gênese", (16) Kardec disserta sobre domicílio Espiritual, típico caso de coabitação, ou como agora quer Hermínio Miranda, "condomínio espiritual, com síndico e convenção."

   Na possessão, em vez  de agir  exteriormente, o  Espírito  atuante  se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado, tomando-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado por seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da concepção.

   De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito serve-se dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços conforme o faria se estivesse vivo. Não  é  como  na mediunidade  falante, em  que  o Espírito encarnado fala transmitindo pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o último que fala e obra (...)

    Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato a outro encarnado.

  Quando é mau o Espírito possessor, (...) ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o (...)

    Seguindo ainda, no mesmo livro:

    Parece que ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Judéia, os obsidiados e  os possessos (...) Sem dúvida, os Espíritos maus haviam invadido aquele país e causado uma epidemia de possessões. (17)

    Com as curas, as libertações do possessos figuram entre os mais numerosos atos de Jesus.(...) "Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós." (S. Mateus, cap. XII, 22 e 23) (18)

    Deduzimos com base no exposto que, para que exista possessão, é preciso que o Espírito obsessor identifique-se com o Espírito encarnado; aquele, atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza; o aniquilamento do livre arbítrio, parece ser completo, porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, pois o encarnado é que atua conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido e portanto aquela dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por deseja-la; em vez de agir exteriormente ao Espírito encarnado, toma-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado por seu dono, pois isso só se pode dar pela morte, por isso, a possessão é sempre momentânea, temporária e intermitente. Para se libertar da possessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsediado trabalhe para sua própria melhoria, estabelecendo em torno de si, uma toalha fluídica, que eles não possam penetrar sem sua permissão, agindo sobre eles pela força moral, por uma ação magnética quintessenciada. Na possessão isto só é possível, com a ajuda indispensável de terceiros.

    Portanto, respondendo às indagações iniciais deste trabalho, podemos dizer que Kardec, analisou todas as facetas e prismas da possessão e concluiu que; existe possessão e também coabitação.

    Uma obra, como a da Codificação Espírita, é indivisível e portanto deve ser analisada como um todo, jamais devendo ser fragmentada ou dividida, na análise  de seu conteúdo; existem vários temas, nas obras básicas (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O  Evangelho  Segundo  O  Espiritismo, A  Gênese, O  Céu  e  o Inferno) e na Revista Espírita, em que as verdades foram estudadas à luz dos conhecimentos adquiridos no dia a dia e suas opiniões, às vezes alteradas, sem que correspondessem a uma mudança de idéia, mas sim, a uma evolução de verdade em verdade, degrau a degrau na escada ascensional do conhecimento, como convém a um cientista sábio, astuto,  inteligente, honesto e antes de tudo, humilde, coisa rara, aliás.

    A fé raciocinada sobre a égide desta humildade, aconselhada e praticada pelo mestre lionês, levou-o na busca incessante da verdade, que sempre caracterizou suas ações, a correta elucidação conceptual de possessão, incitando-nos também a libertarmo-nos de duas outras; a dos dogmas e a do fanatismo.

    Tenhamos igual têmpera e nos deixemos contaminar pela sua lição e pelo seu exemplo; a lição inclina, o exemplo arrasta.

    Fernando A. Moreira


BIBLIOGRAFIA





(1)                 KARDEC, Allan  . O Livro dos Espíritos, ed. FEB, 1987, perg. 473, pg. 250.
(2)                 Revista Espírita , 1858,  pg. 278.
(3)                 KARDEC, Allan . O Livro dos Médiuns, ed. FEB, 1982 , item 240, pg. 300.
(4)                 Revista Espírita, 1862,  pg. 109.
(5)                 Idem , 1862, pg. 359
(6)                 Idem , 1863, pg. 373.
(7)                 KARDEC, Allan  . Obsessão, ed.  "O Clarim", 1993,  pg. 225.
(8)                 Idem , pg. 229.
(9)                 Revista Espírita, 1863 pg. 01.
(10)              Idem, 1863, pg. 103.
(11)              Idem, 1864, pg. 11.
(12)              Idem, 1864, pg.225.
(13)              KARDEC, Allan . O Evangelho Segundo o Espiritismo, ed. FEB, 1995,  pg. 432.
(14)              Idem,  pg. 171.
(15)              Revista Espírita, 1867, pg. 192.
(16)              KARDEC, Allan  . A Gênese, ed. FEB, 1980,  pg. 306.
(17)              Idem,  pg. 330.
(18)              Idem,  pg. 329.



Resposta à Pergunta da Adriana sobre Suicídio, Evaldo, Brasil

   (vide pergunta publicada no  Boletim GEAE 425 )

Querida amiga, Adriana:

    Inicialmente gostaria de lhe dizer que embora seja justa sua preocupação,  que não se detenha na ansiedade em saber quais são seus débitos e as consequencias do seu ato de "quase-suicídio", mesmo porque conforme estudamos na Doutrina Espirita, as consequencias de nossos atos perante as leis perfeitas de Deus são muito relativas, e quem somos nós para determinarmos as consequencias de tais atitudes, pois não sabemos a causa, a intenção e a situação emocional que lhe ocorreu no episódio. Estamos em um mundo de provas e expiações. Portanto estamos sujeitos a todos os instantes às provações em nosso campo íntimo com vistas ao nosso crescimento e progresso. Essas tentações e provas tem a finalidade de nos mostrar quem realmente somos, para que, nos conhecendo melhor possamos "aparar as nossas más inclinações e tendências"

    Transcrevo abaixo o texto inserido no Evangelho Segundo o Espiritismo Cap VIII item 7:

    Sofrem-se as consequencias de um pensamento mau não seguido de efeito?

    Há aqui uma importante distinção a se fazer. À medida que a alma, empenhada no mau caminho, avança na vida espiritual, se esclarece e se despoja, pouco a pouco, de suas imperfeições, segundo a maior ou menor boa vontade que emprega em virtude de seu livre-arbítrio. Todo mau pensamento, pois, resulta da imperfeição da alma; mas de acordo com o desejo que concebeu de se depurar, mesmo esse mau pensamento torna-se para ela uma ocasião de adiantamento, porque o repele com energia; é o indicio de uma mancha que se esforça por apagar; e não cederá se se apresentar ocasião para satisfazer um mau desejo; e depois que tiver resistido, sentir-se-a mais forte e alegre com a sua vitória.

    Aquela ao contrário que não tomou boas resuluções, procura a ocasião para o ato mau, e se não o realiza, não é por efeito da sua vontade, mas porque lhe falta oportunidade; ela é pois, tão culpada como se o cometesse.

    Em resumo, na pessoa que não concebe mesmo o pensamento do mal, o pregresso está realizado; naquele a quem vem esse pensamento mas o repele, o progresso está em vias de se cumprir; naquela, enfim, que tem esse pensamento e nele se compraz, o mal está ainda com toda a sua força; numa, o trabalho está feito, na outra está por fazer. Deus, que é justo, considera todas essas diferenças na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem.

    Como diz claramente o texto:"Naquele a quem vem esse pensamento mas o repele, o progresso está em vias de se cumprir;" Enquanto o aluno ainda não domina a matéria em que tem dificuldades, ela ainda persiste à atormentá-lo até que o mesmo a domine e a aprenda, lhe proporcionando enorme alegria e satisfação.

    Assim acontece conosco, com nossas provas perante a vida. Necessário se faz que nos empenhemos em repelir as idéias negativas que muitas vezes as alimentamos, sejam elas de suicídio, homicídio, cólera, adultério, vingança, etc. Isso só conseguiremos seguindo o conselho da abnegada trabalhadora do bem Joana De Angelis, que nos diz para sempre que estivermos pensando em algo mal, substituirmos por um pensamento bom, também encontraremos na prece um ótimo recurso para adquirirmos forças, solicitadas aos nossos guias protetores, e sem contar na excelente terapia do Amor ao próximo no trabalho contínuo e perseverante no bem.

    Nossos débitos na contabilidade divina, nada mais são do que matérias do curriculum escolar da vida que ainda não as dominamos, e só depende do nosso empenho para lograrmos exito com o amparo sempre presente da misericórdia de Deus.

    Que Jesus a abençoe.
    Evaldo




Perguntas
Evangelho em Italiano, Magda, Brasil


Olá!

    Tenho uma amiga Italiana, que não consegue ler o Evangelho em Português e gostaria muito de adquirir um em Italiano. Gostaria de saber se conhecem alguma editora que publicou em Italiano. Se puderem me enviar via e:mail, telenone, nome editora, etc. agradeceria muito.

    É um sonho dela ... se puderem ajudar-me ... fico muito grata.

    Atenciosamente,
    Magda Macedo Cintra



Trecho do "Livro dos Espíritos" referente a "Criação do Homem", Gustavo, Brasil

Caros Irmãos,

    O que me leva a escrever,  é pedir para que seja discutido e explanado sobre o trecho do LIVRO DOS ESPÍRITOS referente à criação do homem. Saber a opinião sobre esse polêmico tema.

    Um grande abraço a todos e muita paz,
    Gustavo Magno Baptista


Caro Gustavo,

    Com relação ao tema que você pede para ser discutido, "referente à criação do homem", eu diria que é um assunto acerca do qual não há qualquer polêmica, uma vez que é um conhecimento que ainda está além da nossa capacidade, em nosso atual nível evolutivo. É o que fica bem claro nas respostas às questões 78 e 81 do próprio Livro dos Espíritos, as quais transcrevo a seguir:

78. Os Espíritos tiveram princípio, ou existem, como Deus, de toda a eternidade?

    Se não tivessem tido princípio, seriam iguais a Deus, quando, ao invés, são criação sua e se acham submetidos `a sua vontade. Deus existe de toda a eternidade, é incontestável. Quanto, porém, ao modo por que nos criou e em que momento o fez, nada sabemos. Podes dizer que não tivemos princípio, se quiseres com isso significar que, sendo eterno, Deus há de ter sempre criado ininterruptamente. Mas, quando e como cada um de nós foi feito, repito-te, nenhum o sabe: aí é que está o mistério.

81. Os Espíritos se formam espontaneamente, ou procedem uns dos outros?

    Deus os cria, como a todas as outras criaturas, pela sua vontade, Mas, repito ainda uma vez, a origem deles é mistério.

    Muita Paz,

    Antonio Leite
    Editor GEAE




Painel
Grupo Espírita de Nova Iorque, Jussara Korngold, USA

    É com imensa gratidão e alegria que nós anunciamos a formação do Spiritist Group of New York (12 de Abril de 2001), o primeiro a realizar todas as suas reuniões, exclusivamente na lingua inglesa.

    Nós esperamos e oramos, para que esse grupo de estudo possa contribuir para a disseminação da Doutrina Espírita entre nossos irmãos e irmãs Americanos.

    Humildemente rogamos o suporte de todos para essa nova tarefa. A união e a cooperação de todos os Espíritas e necessária para que possamos estabelecer definitivamente as verdades de Jesus Cristo neste planeta.

    No momento o nosso programa de reuniões é o seguinte:

Reunião Mediunica - Segunda Feira de 19:00 às 21:00
Estudo Doutrinário - Quinta Feira de 18:00 às 19:00
Palestras de O Evangelho Segundo o Espiritismo - Quinta-Feira de 19:00 às 20:00
Local: Spiritist Group of New York
           939 Eight Avenue -  Manhattan ? New York City
           Suite 401B - Mondays
           Suite 409   -  Thursdays
    Que possamos ser iluminados pelas palavras do Dr. Bezerra de Menezes em nossa busca de progresso espiritual.

    Fraternalmente,
    Jussara Korngold - (212) 828-7336 / (917) 797-0462
    Antonio Leite - (718) 932-3138



UNIFICAÇÃO PAULATINA, UNIÃO IMEDIATA, TRABALHO INCESSANTE...
Espíritas, meus irmãos!
 
    Quando as clarinadas de um novo dia em luz nos anunciam os chegados tempos do Senhor; quando uma era de paz prepara a nova humanidade, neste momento dominada pela angústia e batida pela desesperação, façamos a viagem de volta para dentro de nós.

    No instante em que os valores externos perdem a sua significação, impulsionando-nos a buscar Deus no coração, somos, através de nossos irmãos, convidados à responsabilidade maior de amar, de servir e de passar...

    Jesus, meus amigos, é mais do que um símbolo. É uma realidade em nossa existência. Não é apenas um ser que transitou da manjedoura à Cruz, mas o exemplo, cuja vida se transformou num Evangelho de feitos, chamando por nós.

    Necessário, em razão disso, aprofundar o pensamento na Obra de Allan Kardec para poder viver Jesus em toda a plenitude.

    Estamos convidados ao banquete da era melhor, do Evangelho imortal, e ninguém se pode escusar, a pretexto algum.

    Dias houve em que poderíamos dizer que não estávamos informados a respeito da verdade. Hoje, porém, sabemos... Agora que a conhecemos por experiência pessoal, vivamos o Cristo de Deus em nossas atitudes, a fim de que o sol espírita não apresente a mensagem de luz dificultada pelas nuvens  densas que caracterizam o egoísmo humano, o ressentimento, a vaidade...

    Unificação, sim. União, também.

    Imprescindível que nos unifiquemos no ideal Espírita, mas que, acima de tudo, nos unamos como irmãos.

    Os nossos postulados devem ser desdobrados e vividos dentro de uma linha austera de dignidade e nobreza. Sem embargo, que os nossos sentimentos vibrem em uníssono, refletindo as emoções de amigos que se desejam ajudar e de irmãos que se não permitem avançar, deixando a retaguarda juncada de cadáveres ou assinalada pelos que não tiveram força para prosseguir...

    A tarefa da unificação é paulatina; a tarefa da união é imediata, enquanto a tarefa do trabalho é incessante, porque jamais terminaremos o serviço, desde que somos servos imperfeitos, e fazemos apenas a parte que nos está confiada.

    Amar, no entanto, é o impositivo que o Senhor nos concedeu e que a Doutrina nos restaura.

    Unamo-nos, amemo-nos, realmente, e dirimamos as nossas dúvidas, retificando as nossas opiniões, as nossas dificuldades e os nossos pontos de vista, diante da mensagem clara e sublime da Doutrina com que Allan Kardec enriquece a nova era, compreendendo que lhe somos simples discípulos. Como discípulos não podemos ultrapassar o mestre.

    Demo-nos as mãos e ajudemo-nos; esqueçamos as opiniões contraditórias para nos recordarmos dos conceitos de identificação, confiando no tempo, o grande enxugador de lágrimas, que a tudo corrige.

    Não vos conclamamos à inércia, ao parasitismo, à aceitação tácita, sem a discussão ou o exame das informações.

    Convidamo-vos à verdadeira dinâmica do amor.

    Recordemos, na palavra de Jesus, que ?a casa dividida rui?, todavia ninguém pode arrebentar um feixe de varas que se agregam numa união de forças.

    É por isto, Espíritas, meus irmãos, que a Unificação deve prosseguir, mas a União deve vigir em nossos corações.

    Somos semeadores do tempo melhor. Somos os promicultores da era nova. A colheita que faremos em nome de Jesus caracterizar-nos-á o trabalho.

    Adiante, meus irmãos, na busca da aurora dos novos tempos.

    Jesus é o Mestre por excelência e Allan Kardec é o discípulo fiel.

    Sejamos nós os continuadores honrados e nobres da Sua obra de amor e da Sua lição de sabedoria...

    E quando as sombras da desencarnação descerem sobre vós, e nós outros, os já desencarnados, nos acercarmos a receber-vos, podereis dizer:

    - Aqui estamos, Senhor, servos deficientes que reconhecemos ser, porque apenas fizemos o que nos foi determinado.

    Ele, porém, magnânimo, justo e bom, dir-vos-á:

    "Vinde a mim, filhos de meu Pai, entrai no gozo da paz."

Muita paz, meus amigos!
Que o Senhor vos abençoe. - Bezerra

(Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo
P. Franco, na noite de 20-4-75, na sessão pública da
Federação Espírita Brasileira, Seção - Brasília, DF.)


Lista ESPIRITAS, ABRAPE, Brasil


Amigos,

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    Gezsler Carlos West




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