Grupo de Estudos Avançados Espíritas

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Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec


Ano 09 - Número 418 - 2001            29 de maio de 2001

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Textos

Comentários Perguntas Painel

Textos
História do Cristianismo XI, Maurício Júnior, Brasil

(Seqüência do texto publicado no Boletim 417)

AULA 11 -  A IGREJA MEDIEVAL

O Cisma entre Oriente e Ocidente
Panorama Sócio-cultural da Idade Média
Crenças Básicas e Práticas da Igreja
A Excomunhão e o Interdito
As Ordens Religiosas
A Inquisição

1 - O CISMA ENTRE ORIENTE E OCIDENTE

    Na Teologia e na religião, o período macedônico não deu testemunho de qualquer impulso de vigor criativo como o que as esplêndidas realizações artísticas da épova haviam demonstrado. Não houve novos sinais de intenso zelo religioso que outrora dera origem a acerbas controvérsias doutrinárias, como as que haviam participado arianos e monofisitas. Igualmente não houve tendência de reforma puritana, como a que inspirara o não esquecido movimento iconoclasta.

    De ampla importância, porém, era o movimento crescente entre eclesiásticos bizantinos para desafiar a autoridade do Papado romano, rapidamente a aumentar. O resultado foi um cisma de prolongada significação entre os ramos ocidental e oriental da Igreja Cristã.

    As circunstâncias que levaram ao cisma não eram novas. Uma fonte de disputa nascia de certas diferenças de liturgia e costume eclesiástico, tais como o desejo dos orientais de realizar os serviços religiosos em vernáculo e seu desgosto pela estatuária ?idólatra?. Outro aspecto centralizava-se nas diferenças teológicas relativas à ?processão do Espírito Santo?. Os orientais ortodoxos sustentavam que o Espírito Santo procedia somente do Pai, ao passo que a Igreja Romana acrescentara ao credo a famosa cláusula ?filioque?, o que significava que o Espírito Santo estava ligado não só a Deus Pai, mas também a Deus Filho.

    O ponto crucial, porém, estava em ver se o Patriarca de Constantinopla (equivalente oriental do Papa) e seu clero continuariam a reconhecer a supremacia espiritual do bispo romano, que já desafiara a autoridade temporal do imperador. Essa questão fora suscitada durante o séc. IX por um ambicioso e enérgico eclesiástico bizantino, o Patriarca Fócio, e a disputa que se seguiu já quase produzira uma ruptura. Em 1054, um patriarca bizantino ainda mais ambicioso, Miguel Cerulário, levou a discussão a ponto crítico e o resultado foi a cisão definitiva entre os dois ramos da Igreja, com os partidários de cada lado a se acusarem mutuamente. Excetuando-se breve período de trégua no princípio do séc. XV, o cisma persistiu até hoje.

2 - PANORAMA SÓCIO-CULTURAL DA IDADE MÉDIA

    Sob muitos aspectos, o mundo católico do século XIII pode causar a impressão de perfeita continuidade em relação aos séculos anteriores: a valorização primacial da religião, que colore e impregna a maior parte do universo cultural - a religião católica, exprimindo-se de forma quase semelhante; a estrutura feudal da sociedade; a dificuldade em delimitar os domínios do poder civil e do religioso; a supremacia do papa na ordem religiosa e a do imperador na ordem civil; a disputa entre ambos pela hegemonia; e o caráter predominantemente agrícola da economia.

    Entretanto, numa observação mais cuidadosa, percebe-se que esses traços de continuidade subsistem ao lado de processos de mutação profundamente atuantes. Assim, se a religião católica se mantém no Ocidente e consegue mesmo ganhar terreno sobre suas concorrentes em várias fronteiras, a unidade católica acha-se seriamente ameaçada pelo aparecimento de novas heresias.

    A arte e a religiosidade popular conservam formas de expressão herdadas ao passado. Apresentam, porém, ao mesmo tempo, uma inovação de sentido e de formas extraordinariamente rica. Prevalece ainda a organização basicamente feudal da sociedade. Esse mundo feudal já apresenta, contudo, uma extensa e definitiva constelação de ilhas que lhe escapam e se lhe opõem: as cidades de organização comunal autônoma (cidades francas ou livres). Em seus respectivos campos de jurisdição, o papa e o imperador mantêm a primazia na cristandade. Mas, em certas regiões, diversos grupos leigos contestam a autoridade da hierarquia cristã. E a hegemonia política do imperador, na segunda metade do século, é pouco mais que um simples direito de precedência honorífica entre os príncipes cristãos.

    Finalmente, embora no conjunto da Europa predomine a economia agrícola, muitas áreas geográficas já apresentam acentuado desenvolvimento comercial e urbano. O Ocidente cristão do séc. XIII caracteriza-se pelo encontro de dois mundos: nele subsistem e se entrechocam a antiga civilização feudal, senhorial e teocrática, e as formas que já elaboram uma civilização moderna, urbana e laicizada.

    As diversas manifestações dessa civilização nascente se entrelaçam e se correlacionam. Uma delas, porém, constitui fator dominante:  o desenvolvimento industrial, comercial e urbano, processo fundamental do período que se convencionou chamar ?Baixa Idade Média?. Florescem nos centros urbanos novas formas de expressão artística e religiosa, circulam idéias inovadoras, vêm à luz diferentes modalidades de organização social e de poder político.

    Na maior parte da Europa, o governo municipal é exercido desde o início por um conselho administrativo, composto de representantes das diversas corporações. A nobreza local não se integrou nas cidades, como aconteceu na Itália. Se de início foi favorável a seu estabelecimento, e mesmo lhe concedeu privilégios, passou a lutar contra suas pretensões de autonomia. Mas em geral as cidades saíram vitoriosas. Estavam sob a proteção do poder central: dos príncipes da Alemanha e dos reis nos demais países. Interessavam-se em favorecê-las para limitar o poder da nobreza feudal. Dessa forma, as consequências do desenvolvimento urbano foram paradoxais: a Itália esfacelou-se em pequenas unidades soberanas; na Alemanha, os príncipes se fortaleceram em detrimento da pequena nobreza e do imperador; nos demais países criaram-se monarquias nacionais centralizadas. O feudo, a cidade e o rei tornaram-se, desde então, os três focos do poder político:  da aliança ou da hostilidade entre eles dependia a evolução política da Europa.

    A religiosidade popular do séc. XIII nasceu desse meio urbano em fase de maturação. Assim como a arte das catedrais e a cultura das universidades, mesclava elementos tradicionais e formas novas. O culto dos santos, característico da piedade medieval, foi impulsionado: cada cidade e, no seu interior, cada uma das corporações, tinha um ou mais patronos. Multiplicaram-se as imagens dos santos nas fachadas das catedrais e a Igreja, por meio das cananizações, acrescentou novos nomes à sua lista de santos tradicionais. Como nos séculos anteriores, o culto dos santos se estende às reliquias que deles se conservam e para as quais são construídos santuários especiais que atraíam muitos peregrinos. A peregrinação é outra forma devocional herdada do passado e que se mantém com o mesmo vigor. Mas, na impossibilidade de realizá-la, os fiéis se consolavam com uma peregrinação abreviada: a procissão. Roma, a Terra Santa e Santiago de Compostela continuam sendo os lugares mais concorridos. A eles acrescentaram-se outros, como Cantuária - local do martírio de São Tomás Becket - e o túmulo de São Francisco de Assis.

    O culto de Maria, porém, foi o mais vivo e o que atraiu a sensibilidade religiosa dos fiéis. Ao lado das representações iconográficas herdadas da época romântica - Maria apresentada como rainha, em postura hierática - surgem outras, que se tornarão clássicas na iconografia renascentista: as Madonas, de grande doçura e naturalidade, portando ao colo o Menino Jesus. Ainda no séc. XIII são as formas de devoção tipicamente mariais, como a recitação do rosário, de extraordinária difusão popular.

    A figura de Jesus Cristo também foi objeto de uma devoção amplamente difundida, em duas vertentes principais: culto do Jesus histórico, que se fundia frequentemente ao marial, e o do Cristo presente na Eucaristia. No decorrer do séc. XIII a Igreja instituiu a festa de Corpus Christi com a respectiva procissão.

    Ao lado das expressões religiosas tradicionais, surgiram no séc. XIII novas fórmulas de devoção e um espírito religioso renovador. Em primeiro plano estão as associações e as confrarias: frutos do espírito corporativo que presidiu à organização social das cidades e que não poderia deixar de exercer influência no plano religioso. A vida da Igreja primitiva não se expressa no Novo Testamento como um ideal comunitário?  E a insistência no tema da caridade fraterna não é uma constante no Evangelho, sobretudo no de João? Assim, os cristãos da época retornam a esses textos com religiosa atenção e assiduidade. No plano da vida religiosa, esses textos servem de orientação a várias novas ordens clericais, sobretudo às mendicantes (franciscanos e dominicanos).

    Entre os leigos nascem inúmeras associações religiosas e algumas enveredam pelo caminho da contestação e da heresia. A maioria delas, porém, dinamiza a vida cristã em todos os seus aspectos: obras de caridade, auxílio mútuo, espiritualidade, colaboração com a hierarquia nas tarefas pastorais e missionárias da Igreja, aprofundamento da instrução religiosa, ascese e penitência. As ordens religiosas - dominicana, franciscana e do Carmo - oferecem ao leigo a possibilidade de uma vivência cristã de profunda intensidade espiritual e moral, sem afastá-lo de suas tarefas temporais. Sobretudo na última década do século, surgem as associações de finalidade penitencial e devocional: procura-se uma espiritualidade compatível com as condições de vida do laicato urbano.

    As confrarias e os quadros corporativos de mais de uma região européia revelavam inspiração evangélica. Integravam, assim, a grande corrente de renovação que movimentou a cristandade católica do séc. XIII e que se caracterizou pela volta ao Evangelho. Esse evangelismo manifesta-se em todas as expressões da vida religiosa: na arte, no culto, na espiritualidade, no pensamento teológico e mesmo na apresentação exterior das igrejas. No culto e na espiritualidade, esse evangelismo se traduz pela tendência acentuadamente cristológica: procura-se no Cristo o modelo de vida. E certos valores do Evangelho, como a pobreza, o despojamento, a humildade, o amor fraterno e o zelo missionário, reencontram seu lugar de destaque na vida cristã.

3 - CRENÇAS BÁSICAS E PRÁTICAS DA IGREJA

    Por toda a Era Medieval, a Igreja Católica Romana manteve o monopólio religioso do Ocidente europeu. Pertencer à Igreja era consequência automática do nascimento e não havia lei ou costume que permitisse a alguém renunciar a ela. A dominação espiritual da Igreja não se estendia à Rússia ou aos Bálcãs, que permaneciam no reino da Igreja Ortodoxa Oriental, mas em todo o resto da Europa alcançava até onde iam as fronterias da própria civilização.

    É impossível compreender o papel e a influência da Igreja Católica Romana na Era Medieval sem a compreensão de suas doutrinas religiosas básicas. Partiam elas da premissa de que a raça humana suporta enorme carga de pecado. Este, em parte, reside na herança que a hunanidade recebeu da culpa de Adão; em parte, é considerado consequência dos maus atos dos indivíduos em suas próprias vidas, pois, embora Deus lhes tenha dado o conhecimento do bem e do mal e a liberdade de escolher entre ambos, sem a assistência divina os homens sempre sucumbem às tentações maléficas.

    Tão grande é essa carga de pecado que os homens, por seus próprios e míseros esforços, nunca a podem expiar. Como, porém, Deus é tão misericordioso quanto justo, Ele mesmo possibilitou-lhes o perdão. Isso se verificou pelo sacrifício de Jesus Cristo, cuja morte ajudou a remir os pecados dos homens. Essa Redenção Divina, entretanto, não assegura aos homens a salvação; apenas torna possível que a obtenham. Para isso, homens e mulheres, individualmente, devem reconhecer seus pecados, arrepender-se e lutar para vencer a tentação de tornar a pecar. Para se ajudarem a fazê-lo, devem submeter-se à administração, pelos sacerdotes, dos sacramentos.

4 - A EXCOMUNHÃO E O INTERDITO

    A arma que os papas utilizavam para pôr de joelhos soberanos seculares era a sentença de excomunhão. Esse severíssimo castigo podia ser imposto pelo Papa em qualquer parte do mundo e pelo bispo dentro de sua diocese, atingindo o pecador que recusasse fazer penitência de seus pecados e submeter-se à autoridade eclesiástica. Uma pessoa assim condenada estava cortada da comunidade cristã. Não podia entrar num templo nem receber os sacramentos e todos os cristãos estavam proibidos de tratar com ela. Tornava-se logo um pária, um leproso espiritual, cuja presença contagiava. Se morresse sem se arrepender, sua alma estava condenada a sofrer os tormentos do inferno até o fim dos tempos.

    Só com grave risco podia um rei persistir em disputa com um Papa, quando este último recorria a essa arma. O próprio rei temeria por sua alma, se fosse excomungado. E, mesmo se quisesse desconhecer o perigo que sua alma corria, não podia ignorar a ameaça e seu poder secular. De fato, excomungado o rei, seus vassalos ficavam libertos dos juramentos que lhe haviam feito e muitas vezes isso era desculpa suficiente para que se rebelassem. Com o passar do tempo, todavia, essa arma demonstrou-se menos eficaz. Famoso o triunfo do Papa Inocêncio III sobre o Rei Filipe II, da França, que obrigou os subservientes bispos a anularem o seu primeiro casamento, para que pudesse tomar em segundas núpcias uma princesa dinamarquesa. O Papa revogou a anulação do primeiro casamento e ordenou que o rei deixasse sua nova mulher, em favor da primeira. Filipe fanfarreou, até que Inocêncio III lhe impôs a sentença de excomunhão. Então, Filipe cedeu, a fim de impedir uma rebelião de seus vassalos.

    Outra arma que o Papa às vezes utilizava - assim como alguns bispos - era o Interdito. Essa sentença se impunha sobre uma comunidade inteira: aldeia, cidade, província ou mesmo todo um reino. Significava que os edifícios da Igreja ficariam fechados, nenhum ofício religioso se realizaria e nenhum sacramento se administraria, exceto os que, como a extrema unção, eram considerados essenciais à salvação da alma, quando estivesse iminente a morte. Às vezes, um bispo impunha tal sentença quando um de seus vassalos se rebelava contra ele. Ocasionalmente, o Papa a impunha - ou ameaçava fazê-lo - quando um rei desafiava a autoridade papal. Sua eficácia vinha do fato de que a punição afetava não só o governante, mas todos os que viviam em seu domínio; a população, aterrorizada com o insólito silêncio dos sinos das igrejas e horrorizada por ver os templos fechados, exerceria enorme pressão sobre o soberano para que se submetesse e, assim, a livrasse do castigo que, por culpa dele, sobre ela pesava.

    O mais famoso interdito da Era Feudal foi o lançado sobre o reino da Inglaterra pelo Papa Inocêncio III, como consequência de uma disputa com o Rei João sobre a nomeação para o arcebispado de Cantuária. Esse interdito permaneceu em vigor por vários anos e só foi retirado quando João se submeteu humildemente.

5 - AS ORDENS RELIGIOSAS

    As múltiplas atividades da Igreja ficavam, ordinariamente, a cargo dos clérigos que faziam parte do clero secular. Caracteristicamente, portanto, o clero regular levava vida retirada do mundo exterior - mesmo dos negócios do governo da Igreja.

    Na história do clero regular, a Era Feudal é pródiga pelo desenvolvimento de diversos grupos monásticos  e pela fundação das novas ordens de frades mendicantes. Após os inícios do monasticismo, surgiram certas tendências que não haviam sido previstas e que produziram graves problemas. Leigos muitas vezes faziam dádivas a mosteiros, pois os monges eram tidos como possuidores de santidade superior, e gradualmente os mosteiros vieram, assim, a ter grandes e ricas posses de terras e outras riquezas. Forneciam estas uma receita que libertava os monges da necessidade de trabalhar na terra para sustentar-se. Os monges que pertenciam a mosteiros tão prósperos estavam ainda sujeitos ao voto de pobreza, pois a riqueza não lhes pertencia, mas aos conventos. Logo, porém, tornou-se difícil ver que espécie de sacrifício esse voto de pobreza envolvia, já que os monges viviam em conforto e abastança. Sem duvida, nem todos os mosteiros ficaram ricos, ainda que moderadamente; mas alguns dos que acumularam grandes dotes caíram vítimas de escandalosos abusos, notórios pela indolência, imoralidade e dissipação geral de seus membros.

    Por outro lado, livres da necessidade de trabalhar, em alguns conventos os monges dedicaram-se à manutenção de escolas, bem como ao trabalho de copiar manuscritos, numa época em que todos os manuscritos, sagrados e profanos, eram produzidos em cópia pelos monges.

6 - A INQUISIÇÃO

    Durante os primeiros séculos da Era Feudal, as heresias virtualmente desapareceram, por ser a vida intelectual dos ?Tempos Obscuros? por demais fraca para produzir grandes disputas teológicas. Mas, na última parte da Era Feudal, apareceram várias heresias, algumas das quais se tornaram grave ameaça para a Igreja. Eram elas de duas espécies: heresias anticristãs, que atacavam as bases da religião cristã, e heresias anti-clericais que discutiam o papel tradicional do clero, embora não a fé cristã básica.

    O evangelismo do séc. XIII aparece frequentemente aliado a formas heterodoxas de religiosidade, determinando uma atitude de desconfiança por parte das autoridades da Igreja. Elemento comum a esses movimentos foi a afirmação extremada da auto-suficiência do leigo, como reação à autoridade avassaladora da hierarquia. De forma paradoxal, esse laicismo se prende historicamente a iniciativas da própria Igreja, durante a querela das investiduras: para fazer frente ao poderio do imperador, ela incentivara os fiéis a reclamarem o direito de participar nas eleições episcopais.

    A mais famosa das heresias anticristãs foi a dos cátaros, ou albigenses. As mais importantes entre as heresias anti-clericais foram as dos valdenses, dos hussitas e dos lolardos.

    A cristandade ocidental reagiu de três maneiras à ameaça representada pela heresia. De início, tentou liquidar o problema militarmente, quando em 1208 após ter sido  assassinado o legado pontifício, Pedro de Castelnau, o papa Inocêncio III apelou à Cruzada, convocando os príncipes cristãos e garantindo aos que dela participassem os mesmos benefícios espirituais e temporais ligados à Cruzada de libertação da Terra Santa. Nessa campanha, os interesses políticos e econômicos tiveram nítida predominância. Ela terminou pela vitória dos cruzados, que logo se apoderaram dos territórios dos albigenses e dos senhores feudais que os protegiam. Mas o resultado não foi o esperado pelo papa, pois a heresia continuou a progredir: apoiava-se em causas religiosas e sociais bastante profundas. Depois, utilizou-se de pregadores para persuadir os hereges:  foram escolhidos os monges cistercienses, de comprovado saber teológico, recebendo o título de legados pontifícios. Mas o êxito dessa pregação foi bastante limitado. Além de ter seus movimentos cerceados pela conivência dos senhores feudais, os prelados não conseguiam utilizar uma linguagem que realmente atingisse a população. Embora saíssem vitoriosos dos debates públicos, a heresia continuava seu caminho. Finalmente, o papa recorreu à pressão judicial, estabelecendo a Inquisição.

    Essa instituição apareceu primeiro em 1203, quando o Papa Inocêncio III mandou especiais juízes papais ?inquirirem? casos de heresia em certos locais em que os tribunais dos bispos pareciam incapazes de colocar-se à altura de sua rápida difusão. Essas novas cortes mostraram-se muito mais eficazes do que os tribunais episcopais efetivos e, em consequência, em 1229, foram transformadas em instituição permanente para o fim específico de lidar com a heresia.

    Por essa razão, o Papado retirou dos bispos locais a responsabilidade principal de suprimir a heresia. Não só se estabeleceram novos tribunais, com juízes diretamente responsáveis ante o Papa, como os governos seculares foram induzidos a tomar medidas mais severas em apoio à campanha contra a heresia, e meios cruéis, incluindo o uso da tortura, se empregaram para descobrir herejes e infundir terror nos corações dos que se inclinassem a aderir a movimentos heréticos.

    O auge da Inquisição papal foi alcançado nos princípios do séc. XIII. Os tribunais da França do Sul e da Itália do Norte eram os mais atarefados, mas a instituição espalhou-se pela maior parte do continente e os processos continuaram durante toda a Era Feudal, e principalmente na Espanha, onde tomou o nome de Santo Ofício, criou fortes raízes e tornou-se instituição poderosíssima, que deixou lúgubres recordações, a que estão ligados os nomes dos dois grandes inquisidores Torquemada e Ximenes.

    Até cerca de 1500, a Igreja conseguiu reprimir pelo menos as manifestações públicas de todas as heresias importantes. A religião da Europa Ocidental, a Cristandade Romana, era uma unidade, na doutrina e na prática, assim como na sua organização hierárquica. No século que se seguiu à morte de João Huss, entretanto, as divergências religiosas se multiplicaram e se tornaram difíceis de suprimir. Com a obra de Martinho Lutero (1483-1546), que desafiou a autoridade doutrinária e eclesiástica da Igreja pouco após a passagem  do séc. XVI, essa impressionante unidade foi destruída; a Cristandade ocidental partiu-se em muitos fragmentos.


(1) Monofisitas - Adeptos da doutrina que admitia em Jesus Cristo uma só natureza.
(2) Liturgia - O culto público e oficial instituído  por uma igreja; ritual.
(3) Vernáculo - O idioma próprio de um país.

TEXTOS EXTRAÍDOS DE:

Enciclopédia Barsa.
Enciclopédia Britânica.
SAVELLE, Max. História da Civilização Mundial. Vol. II
Atlas Histórico e Geográfico.
Dicionário Prático Ilustrado. Lello & Irmãos Editores, Porto.


              ANEXO
                      HERESIAS MEDIEVAIS

    CÁTAROS OU ALBIGENSES - A seita Cátara não pode ser considerada propriamente uma heresia cristã. Foi, antes, o ressurgimento do Maniqueísmo na Europa - doutrina originária da Pérsia. Eram chamados de Cátaros em razão de uma palavra grega que significava purificados e, às vezes, de albigenses, em razão de sua preponderância na cidade de Albi, na França Meridional. O culto teve seu surgimento mais notável na Europa Ocidental do séc. XII.

    A doutrina do catarismo  derivou da velha concepção religiosa persa de um dualismo entre os espíritos do bem e do mal. De acordo com essa concepção, dois poderes ou princípios cósmicos estavam envolvidos em gigantesca luta em todo o universo. Um era o princípio do bem, identificado com o reino do espírito. O outro era o princípio do mal, identificado com o mundo material. Sua luta se reproduzia na existência de cada ser humano, pois a alma do homem pertencia à força do bem, ao passo que o corpo humano era posse da força do mal. Essa doutrina implicava uma ética da mais austera renúncia da carne. Em rigorosa lógica, o suicídio seria a mais meritória das ações humanas, representando o completo triunfo do espírito sobre a carne.

    No ápice do movimento, que se verificou no início do séc. XIII, os cátaros tinham uma completa organização, com padres e bispos. Mas seu clero não formava uma casta rigidamente separada, acima dos leigos.

    VALDENSES - Outras heresias surgiram do protesto de homens pobres e humildes contra a pompa, o orgulho e a riqueza ultra-gritantes da hierarquia eclesiástica. Uma das mais importantes heresias anticlericais foi a dos valdenses, ou ?os pobres de Lião?. Seu nome vem do seu fundador, Pedro Valdo, de Lião, na França. Como Francisco de Assis, era ele um homem de posses que experimentou profunda conversão religiosa, a qual o levou a distribuir sua riqueza e a começar a pregar à gente comum.

    Sua doutrina expressava simplesmente a opinião de que o clero se preocupava menos com a religião do que com a riqueza e o orgulho de sua posição. Logo, porém, o clero estabelecido declarou herético o movimento, com base em que ele permitia pregação aos leigos, e assim implicitamente negava o monopólio sacramental dos padres ordenados. Com o correr do tempo, além disso, os valdenses vieram a sustentar certas práticas e idéias que estavam em clara oposição aos ensinamentos da Igreja. Por exemplo, confessavam seus pecados uns aos outros, e essa prática vinha ferir a doutrina sacramental de que a confissão devia ser feita a um padre ordenado, como condição de receber a penitência. Os valdenses, também, mantinham a idéia, comum a várias seitas heréticas, de que os ritos sacerdotais não tinham qualquer efeito, quando o próprio padre estivesse em pecado. Esta era uma idéia que a Igreja não podia admitir, pois negava o princípio de que os sacramentos são um milagre, realizado por força sobrenatural e não pelo poder do padre como homem.

    LOLARDOS - Os lolardos eram membros de um movimento herético inglês inspirado nos ensinamentos de um notável sacerdote inglês, João Wyclif (aprox. 1324-1384). Embora padre, autor de uma tradução inglesa da Bíblia, Wyclif passou a maior parte de sua vida denunciando a corrupção, a riqueza e a arrogância clericais. Sua mais antiga prescrição para reforma da Igreja era privar os eclesiásticos de toda e qualquer propriedade. Quando seus adversários arguíram que o clero devia ter uma posição de especial dignidade por ser encarregado de especiais poderes sacramentais, Wyclif pôs em dúvida a validade dos sacramentos, incluindo mesmo a Eucaristia. Os poderes sacramentais concedidos ao clero, ensinava ele, estavam na dependência da pureza de vida do clérigo. Apesar da ousadia de suas concepções, o próprio Wyclif não foi molestado, pois dispunha de poderosa proteção leiga.

    HUSSITAS - Os hussitas eram membros de um movimento herético que floresceu na Boêmia, parte da ex-Tcheco-Eslováquia. Seu mestre foi João Huss, sacerdote de Praga, que foi queimado na fogueira em 1415, como punição por haver difundido doutrinas heréticas. As idéias de Huss e seus seguidores eram tão semelhantes às de Wyclif e seus discípulos lolardos na Inglaterra, que podem ser encaradas como praticamente idênticas. O movimento hussita teve significação política, além de religiosa, pois tornou-se expressão do nascente nacionalismo boêmio dirigido contra o domínio alemão na Boêmia.



Comentários
Comentário-Controle, Alexandre, USA

Caros editores e irmãos leitores,

    Eu gostaria de fazer alguns comentários a respeito do questionamento feito por mim aos editores no boletim de número 416. O assunto se trata do controle que eles possuem sobre o que é publicado. A motivação surgiu de recente divulgação de uma metodologia chamada Apometria. Gostaria, tambem, de expor minha opinião sobre Pureza Doutrinária.

    Antes de mais nada gostaria de relembrar o motivo que me levou ao questionamento feito no boletim de número 416. Após visitar um site sobre Apometria, e ler várias das idéias expostas no site (vide link no boletim 416), me preocupei com o que os iniciantes no espiritismo e, mesmo, os antigos mas não muito atentos ao estudo poderiam estar aprendendo como sendo espíritas, práticas não embasadas pelos espíritos superiores conforme a codificação de Allan Kardec. Não pretendo, aqui, tecer comparações entre os postulados da Apometria e o Espiritismo, porque o ponto principal da minha preocupação não é, em si, com a Apometria.

    O ponto principal a que me refiro é como os espíritas tem recebido toda informação nova que chega. Por experiência própria, anos atrás, e por observar valorosos companheiros na seara espírita creio que, em geral, os espíritas tem aceito quase que cegamente tudo que é veiculado em livros, periódicos e palestras espíritas. A aceitação de uma informação porque o autor é famoso ou tem alguma função de dirigente na casa espírita tem acontecido com frequência e tem cedido lugar ao entendimento sobre tal informação. Meu questionamento, agora, vai para todas as casas espíritas e seus dirigentes: os frequentadores estão sendo incentivados a ter postura crítica com relação até ao que estudam no espiritismo? Kardec, que disse que é preferível rejeitar 10 verdades do que aceitar uma só mentira, questionou até as palavras atribuídas a Jesus (vide Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 23 'Estranha Moral'). Porém, questionar não é tudo. Cada um de nós devemos buscar a solução ou resposta aos nossos questionamentos. E Kardec fez exatamente isso no citado capítulo do ESE. Mas como a realidade mostra que muitos espíritas ainda não possuem essa postura que eu chamaria de "crítica equilibrada" (pois há quem, para parecer entendido das coisas, apenas critica ...) eu me manifestei.

    No entanto, ao ler a resposta dada pelo editor Antonio Leite, me dei conta de uma grande dificuldade no trabalho que os editores possuem. Com certeza uma grande quantidade de mensagens chega até eles e não pensemos ser fácil a leitura e resposta a cada um deles. Não nos esqueçamos que eles são pessoas como nós que precisam trabalhar, comer, descansar, etc, e além disso, abraçaram essa nobilíssima causa que é a divulgação do espiritismo. Por isso, antes que alguém pudesse se manifestar em desacordo a eles devido a questão sobre o controle das mensagens, eu resolvi escrever este comentário com o objetivo de esclarecer melhor a questão "Pureza Doutrinária" que naturalmente está inserida no contexto.

    O que quero dizer é que o problema real não se resolveria se toda mensagem pudesse ser rigorosamente analisada pelos editores. A internet, por exemplo, permite que todo o tipo de informação seja veiculada sem que exista algum critério que garanta a sua confiabilidade e qualquer um, mesmo criancas, possuem acesso a tudo isso.

    Daí entra a questão "Pureza Doutrinária". Entendo por "Pureza Doutrinária" o esforço para que a prática espírita seja realizada dentro dos moldes ensinados pelos espíritos superiores, conforme codificação de Allan Kardec. No entanto, dois extremos se tem observados dentro do movimento espiríta. Um extremo se dá quando alguns companheiros defendem a inserção de práticas oriundas de outras filosofias simplesmente por acharem que isso é moderno ou cientificamente necessário. O outro extremo ocorre quando alguns companheiros condenam, a priori, tudo o que difere dos textos da codificação.

    Um erra por desconhecer em profundidade a Doutrina Espírita e aquilo que pretende inserir como prática espírita. Outro erra por desconhecer alguns detalhes da Doutrina Espírita e aquilo que os outros pretendem inseri-la.

    Deixe me explicar. Kardec disse que se a Ciência realmente demonstrar que algum dos seus pontos está em erro, a Doutrina Espírita corrigirá esse erro sem nenhum problema. Kardec também deixou um verdadeiro método científico para
o desenvolvimento de novas idéias dentro do espiritismo. Este consta de: 1) Bom senso; 2) Consenso universal dos espíritos.

    Mas como sabemos que a Ciência dita "oficial" ainda está longe de contribuir efetivamente no campo do espírito, o método deixado por Kardec é o nosso farol seguro a nos guiar pelo mar dos conhecimentos.

    Portanto, diante de um assunto novo, nem devemos ir aceitando ao primeiro contato, nem devemos condenar diretamente sem sequer conhecer do que se trata. A postura equilibrada é questionarmos e, para isso, é absolutamente necessário estudar. Primeiro estudar a Doutrina Espírita porque ela é a base da nossa crença. E em seguida estudar as novas idéias quando elas se apresentarem e se nos interessar. Se porventura faltem a alguém os meios de se estudar melhor tais idéias, é completamente prudente aguardar uma oportunidade futura e rejeitá-la sim, seguindo a recomendação de Kardec acima citada. Particularmente, se não existir meios de se comprovar uma nova idéia, podemos testar a regra 2) sobre as instruções dos espíritos. Vamos usar o exemplo da Apometria. Aplicando a regra de número 1 percebemos que algumas das idéias básicas da Apometria (vide site cujo link está no boletim 416) está em desacordo com a Doutrina Espírita que já conhecemos devido ao estudo (note a importancia de estudarmos sempre a codificação). Aplicando a regra de número 2, até onde sabemos, não existem mensagens do plano espiritual confirmando tal prática em TODOS OS LUGARES, recebidas por MUITOS MÉDIUNS DIFERENTES. Portanto a Apometria não satisfaz nenhuma das duas condições e por isso não merece ser usada no movimento espírita. Um problema que surge é que seus adeptos, por não observarem esses detalhes, e por se relacionarem com o mundo espiritual, afirmam que tais práticas são espíritas quando, na verdade, não o são. Isso não significa que não devemos respeitá-los. Respeitamos e desejamos sucesso a quem quer que se dedique a esses estudos. Mas que fique bem claro que isso não se trata de Doutrina Espírita.

    Um outro detalhe importantíssimo é que Pureza Doutrinária significa LUTA. Mas CONTRA O QUE DEVEMOS LUTAR, COM QUE ARMAS DEVEMOS LUTAR? A nossa luta é no campo do estudo e nossas armas são as idéias que o estudo nos provê. Estamos em luta contra as idéias estranhas que deturpam o objetivo que o espiritismo tem que é o de fazer avançar a humanidade. Portanto NÃO DEVEMOS LUTAR CONTRA AS PESSOAS MAS SIM CONTRA AS IDÉIAS! É muito importante compreender esse detalhe porque o inimigo não é o irmão que pensa diferente de nós, mas sim a idéia que o engana e fascina. Repito: pra isso devemos nos armar com muito estudo das obras básicas porque só elas nos darão segurança pra ajudar o nosso próximo.

    Por fim, gostaria de aproveitar o espaço pra manifestar minha tristeza com relação a condenação feita à FEB devido a críticas a publicação das obras de Roustaing e por outros motivos. Por mais que as críticas possam ser pertinentes, as pessoas estão sendo criticadas, ofendidas e não as idéias em si. Eu posso concordar com as críticas porém as soluções apresentadas também são passíveis de críticas. Eu gostaria apenas de lembrar a quem quer que se sinta induzido a essas críticas que coloquemos os fatos na balança. Quem de nós nunca leu e se instruiu lendo algum livro editado pela FEB? Quantos de nós não nos emocionamos e aprendemos com a leitura de romances psicografados pelo nosso irmão Chico Xavier, editados pela FEB? Hoje em dia conhecemos vários trabalhos com base em pedagogia que orientam a evangelização infantil, mas antes disso quantas crianças não receberam orientação evangélica-espírita a partir do material que a FEB disponibiliza? Quem gerou os arquivos de vários livros e os pôs na internet totalmente grátis pra quem quiser?

    Caríssimos, questionemos sim, mas façamos isso com caridade porque quando retornarmos à Pátria Espiritual, alguém nos perguntará: 'Que fizeste do talento que depositei em tuas mãos? '

    Muita paz a todos,
    Alexandre Fontes da Fonseca



Comentário sobre Tema Associação da Palavra Salvador à Pessoa de Jesus, Pedro Vieira, Brasil


         (Questionamento Formulado no Boletim 417)

Caro Roberto,

         Tenho por conduta própria em todo debate aprofundar nas significações e não nos vocábulos. Infelizmente nossa maneira de comunicação ainda dá margem a sentidos variados. Como dizem os Espíritos: "Por que não tendes um vocábulo para cada idéia?".

         O que é "Salvador"?

         Se você considerar que o Salvador é aquele que te retira do poço da ignorância, carregando-o no colo, deixando que as tuas pernas, atrofiadas pela inércia, assim continuem, numa relação de DEPENDÊNCIA, como algumas seitas e religiões pregam em relação a Jesus: redimir os pecados, morrer para que nós não precisemos aprender às vezes às custas da dor,
então certamente o Espiritismo não coaduna com tais idéias.

         No entanto, se você considerar que Salvador é o Professor que, oferecendo o amparo, te indica o caminho para sair das trevas da ignorância, mostrando pelo exemplo e pela palavra onde você está e para onde deve caminhar, colocando as coisas em seus devidos lugares: vida, morte, fé, esperança, caridade; e que justamente por isso não deixa tuas pernas atrofiadas para caminhar, então Jesus é o Salvador (Professor) por excelência para nós, e o Espiritismo mostra exatamente isso quando os
próprios Espíritos nos dizem que o modelo mais perfeito que já esteve na Terra é Jesus.

         Mais ainda: no uso cotidiano, sou de opinião pessoal que, para evitar-se confusões com outrem, o título de Professor ou de Mestre caiba melhor a Jesus do que o de Salvador, exatamente pela abertura que deixa de interpretações.

         Vejo essa, como outras questões, simples definições de idéias que devem preceder as definições vocabulares, pura e simplesmente.

         Lembrando Paulo: "A palavra mata, o Espírito vivifica".

         Muita paz,
         Pedro Vieira




Perguntas
Indagação sobre Satanás, Luciano, Brasil


Oi:-))

    É a primeira vez que sinto a necessidade de esclarecer uma dúvida. Não sei como postar uma dúvida na lista de discussão e envio esta ao Editor (caso não seja este o procedimento favor me esclarecer).

Citando o Boletim número 416 transcrevo:
"Admitir Satanás e o inferno eterno é insultar a Divindade....."

    Usando isso para basear minha dúvida, porque (ou como podemos explicar) que Jesus por diversas vezes faz menção diretamente a Satanás Mt 4:10;Marcos 1:13;Lucas,João, etc.. Posso me dar a resposta que se referia a espíritos inferiores, mas parece que há uma distinção  quando o envangelho  se refere a espíritos (Marcos 5:2; ) e quando se fala em satanás (Marcos 8:33).

    Se possível for gostaria de algum esclarecimento sobre tal fato que me indaga sem com que consiga uma explicação plaúsivel.

Muita Paz,Saúde e Felicidade.

Luciano M. Cunha


Prezado Luciano,

    Sua indagação é bastante interessante sendo, com certeza, dúvida de muitas pessoas. O grande dilema que temos com relação a essas questões relacionadas à interpretação dos textos evangélicos é a falta de compreensão (pela perda de seu significado primitivo) de palavras muitas vezes usadas e que são muito antigas. Ainda hoje nos é difícil recordar o significado de palavras da língua portuguesa usadas há 20 ou 30 anos atrás e que se perderam no tempo.

    Para muitos religiosos entretanto as palavras do evangelho são quase todas artigos de fé, que não devem ser contestados. Essa postura pode parecer cômoda pois aparentemente contorna, pelo desprezo, o difícil problema da interpretação das passagens diante de uma análise mais sofisticada de seus significados antigos. Para muitos, as questões de vocabulário bíblico são invenções dos descrentes (artimanhas do demônio) para iludir os verdadeiros crentes. A opção da cegueira intelectual é uma resposta para muitas pessoas, mas exige um radical posicionamento e uma visão completamente distorcida da realidade que nos cerca e dos fenômenos da Natureza.

    "Admitir Satanás e o inferno eterno é insultar a Divindade....."  no texto do boletim 416 refere-se a uma postura lógica e racional exigida diante do conceito de Deus. Não é razoável que convivam juntas duas idéias discrepantes: a de um Deus todo poderoso e a de sua conivência (e convivência pacífica) com um inimigo que é em tudo sua antítese. O Espiritismo considera o mal simplesmente como a ausência do bem. O universo espírita é um universo onde o bem é a lei geral e o mal um subproduto daqueles que desconhecem o bem ou que lhe são contrário por opção temporária. Da mesma forma a existência de regiões infernais é inadimissível - ainda que citadas diversas vezes nos textos evangélicos - se por regiões infernais entendermos os lugares de prescrição eterna. A manutenção forçada das interpretações "oficiais" do mal e do inferno levou a sociedade moderna à descrença total onde os grandes culpados são os próprios religiosos. É inconcebivelmente mais fácil e cômodo viver em uma sociedade onde Deus não exista (e que portanto não exista o castigo) do que em outra que aguarda a entrada no inferno.

    Você cita bem o capítulo 8 de Marcos, do qual reproduzo os versículos 31, 32 e 33:

31:"Então começou ele a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que depois de três dias ressuscitasse."
32:"E isso ele expunha claramente. Mas Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo."
33:"Jesus, porém, voltou-se e, fitando os seus discípulos, repreendeu a Pedro, e disse: Arreda! Satanás, porque não cogitas das coisas de Deus e, sim, das dos homens."

    Essa passagem é bastante interessante pois ilustra o significado primitivo da palavra "Satanás". A cena que temos em mente é a de Jesus falando a seus discípulos sobre tudo o que estava para acontecer com ele. Pedro, em uma atitude de ignorância (talvez por achar que Jesus estava indo longe demais com aquela estória) reprende Jesus. Jesus então, por sua vez, repreende Pedro, chamando-o de "Satanás". Será que devemos entender que Pedro estivesse "possuído" por Satanás (o que não seria condizente com o grupo de apóstolos)? A palavra "Satanás" ali significa opositor e, certamente, nada tem a haver com a imagem mitológica do demônio (palavra que tem origem na versão grega de "espírito"), o príncipe das trevas, que foi criada depois pela fusão com elementos vindos do paganismo.

    O que acontece se aplicarmos esse significado aos outros trechos onde ela aparece? Isso por si só já significa uma completa revolução pois toda cadeia interpretativa anterior é modificada. Essa possibilidade, de fato, é aberta pois, se no versículo 33 de Marcos 8 a palavra "Satanás" é usada sem sua concepção canônica, quem garantirá que essa também não seja a interpretação em outros trechos? Jesus, no deserto, foi tentado pelo inimigo, opositor de Deus mas não pelo príncipe das trevas. E, por inimigo ou opositor de Deus nós podemos entender uma imenso grupo de pessoas (pois Jesus foi desafiado durante toda sua vida por aqueles que não gostavam dele) e de Espíritos.

    Os adeptos das interpretações literais são obrigados a desprezar algumas das passagens do evangelho por causa do conflito de interpretação que causam. Raciocínio análogo pode-se aplicar à palavra "inferno" tantas vezes repetida. Pode-se dizer que uma determinada interpretação literal só concorda "em média" com o conjunto de trechos evangélicos correspondentes. Quanto ao termo "espírito imundo" é preciso que se tenha em mente que os antigos tinham uma idéia muito tosca dos fenômenos da Natureza. Isso também se aplica à nocão que faziam dos fenômenos espíritas e das obsessões. Sei que para muitos isso pode parecer uma heresia, mas não podemos nos esquecer que a Bíblia (principalmente o velho testamento) refere-se à Terra como plana, o sol como girando em torno da Terra (algo bastante natural, mas completamente falso) e a criação instantânea de seres e coisas em 7 dias. Se para fenômenos naturais as concepções antigas eram falhas, o que dizer dos fenômenos espirituais? Entendemos que a autoridade dos antigos em relação a muitos fenômenos é muito precária. Daí podemos encontrar nos textos do novo testamento descrições aproximadas de crises obsessivas que receberam ao longo da história uma aura de misticismo e reverência, mas que a Doutrina Espírita esclarece completamente.

Muita paz,
Ademir
Editor GEAE



Pergunta Sobre Reencarnação, Ana Maria, Brasil


Senhores editores,

    Enviei uma pergunta sobre "pode um espírito lembrar-se de uma encarnação anteriormente vivida, em detalhes?" e, "reencarnar a ponto de viver com sua antiga família?". Até o momento não recebi nenhuma resposta.

    Agradeço imensamente a atenção.

Muita Paz,
Ana Maria


Cara Ana Maria,

     A literatura espírita está repleta de estudos que nos mostram esta possibilidade de o espírito lebrar-se de uma encarnação anterior e até mesmo mais de uma. Entretanto sabemos que nesta seara não podemos e não devemos fazer afirmações de forma generalizada uma vez que todos esses fonômenos estão ligados a situação específica de cada individualidade. Cada caso deve ser visto dentro da sua particularidade uma vez que tudo que se passa conosco (espírito) faz parte de um plano maior. Devemos também lembrar que muitos dos detalhes fogem ao nosso próprio conhecimento e a lembrança de situações vinculadas ao nosso passado tem muito mais o cunho de nos propiciar ajuda quanto ao nosso próprio aperfeiçoamento moral do que satisfazer a nossa curiosidade.

    Em sua excelente obra ?A Reencarnação? Gabriel Delanne trata da questão levantada por voce na segunda parte do seu questionamento, o que faz no Capítulo XII da obra mencionada que tem por título ?Os Casos de Reencarnação Anunciados Antecipadamente?, livro este muito interessante que recomendo a sua leitura.

 Muita Paz.

Antonio Leite
Editor GEAE



Influências do Espiritismo Brasileiro, Aline, Paris


Bom dia!

    Espero que todos do GEAE se encontrem bem. Por favor, tenho uma questão que está me incomodando bastante no
que diz respeito as minhas questões de iniciante na doutrina espírita.

    1) Seria possível que alguém me esclarecesse sobre uma história de que o espiritismo brasileiro é influenciado pelo pensamento de J-B Roustaing, o qual, segundo me informaram, tem literalmente suplantado Allan Kardec nos meios espíritas?

    2) Até que ponto o espírita brasileiro vê o Espiritismo como religião, e não como "uma filosofia que tenta escapar do aspecto religioso a fim de entrar na era da compreensão"?

    Agradeço sua atenção aguardando anciosamente uma resposta.

Aline de Lima



Arrecadação de Fundos para o Centro Espírita, Euclides, Brasil

Caros Amigos,

    Gostaria de , se possível, os confrades pudessem remeter via e-mail material referente a considerações e posturas adotadas acerca da arrecadação de fundos para as casas espíritas. Refiro-me aos aspectos éticos que poderiam estar sendo infringidos com certas formas de arrecadação. Sei da complexidade do tema e estou tendo dificuldade de encontrar material para esclarecer-me. Na página de pesquiza do GEAE muito pouco encontrei.

Agradecido,

Euclides Lourenço da Silva Junior
clid@ig.com.br


Prezado Euclides!

       O material que voce está solicitando nos não o temos, uma vez que não é este o propósito do GEAE. Entendemos também que este assunto é realmente um tanto quanto delicado e todo cuidado e pouco, para se evitar celeumas. Entretanto, sabemos que as casas espíritas tem que ter alguma forma de receita para poder manter os seus gastos e que alguma coisa tem que ser feita para que ela sobreviva e cumpra com o seu papel de educar a sociedade para a realidade espiritual.

       Como o seu pedido tem por meta justamente resolver esta questão cruciante dentro da forma mais adequada e ética possível, vamos publicar a sua mensagem e esperamos que companheiros mais experientes nesta àrea venham em seu socorro.

       Muita Paz.

Antonio Leite
Editor GEAE



Painel
Divulgação do Clube "Portal Violetas na Janela", Angelgaty, Brasil

Prezados Amigos do Geae,

    Gostaria de divulgar este Clube para os demais leitores deste boletim. Peço um espaço aqui para falar um pouco dos objetivos do Clube "Portal Violetas na Janela." onde sou a fundadora, agradecendo deste já pela oportunidade dada.

    O Clube Portal Violetas na Janela tem por objetivo trocar idéias com os seus respectivos associados sobre espiritualidade, fazer novas amizades, trocar e mandar mensagens, comentários e notícias sobre eventos que estejam sendo realizados na Casa Espirita, nas Mocidades, enfim, tudo que esteja relacionado nesse campo.

    Obs.: são os próprios membros que informam esses eventos e notícias na agenda do Clube, contribuindo e compartilhando dos seus conhecimentos com os demais.

    Os associados do Clube "Portal Violetas na Janela" também adicionam suas fotos preferidas no album do clube, adicionam seus links favoritos e reúnen-se num bate papo on line. Os interessados podem acessar o site:

http://br.clubs.yahoo.com/clubs/portalvioletasnajanela.

    No caso de dúvidas ou dificuldades para se cadastrarem entrem em contato comigo pelo e-mail: angel.gata@ig.com.br e mandarei pelo e-mail um convite do clube, assim, facilitando seu acesso ao Clube.

Conto com o apoio de todos para o crescimento do nosso Clube.

Fraternalmente,
Angelgaty.



O Culto Cristão no Lar, Catia Regina, Brasil

Prezados amigos do Geae,

    Gostaria de contribuir, enviando o tema O Culto no Lar. O texto a seguir foi  extraído da obra "O Culto do Evangelho no Lar". (Useerj).

    O que é o culto do evangelho no lar?

    Trata-se do estudo do Evangelho de Jesus em reunião familiar. O Culto do Evangelho no Lar, realizado no ambiente doméstico, é precioso empreendimento que traz diversos benefícios às pessoas que o praticam.

    Permite ampla compreensão dos ensinamentos de Jesus e a prática destes, nos ambientes em que vivemos. Ampliando-se o conhecimento sobre o Evangelho, pode-se oferecê-lo com mais segurança a outras criaturas, colaborando-se para a implantação do Reino de Deus na Terra.

    As pessoas unidas por laços consanguíneos, compreenderão a necessidade da vivência harmoniosa e, dentro de suas possibilidades, buscarão, pouco a pouco, superar possiveis barreiras, desentendimentos e desajustes, que possam existir entre pais e filhos, cônjues e irmãos.

    Através do estudo da reencarnação, compreenderão que, aqueles com quem dividem o teto, são espíritos irmãos, cujas tarefas individuais, muitas vezes, dependerão da convivência sadia no ambiente em que vieram a renascer.

    Aqueles que, desde cedo, tem suas vidas orientadas pela conduta Cristã, evitam, com mais facilidade, que os embriões dos defeitos que estão latentes em seus espíritos apareçam, sanando, desta forma, o mal antes que ele cresça.

    Se, porventura, tendencias negativas aflorarem, apesar da orientação desde a infância, encontrarão seguros elementos morais para superá-las, porque os ensinamentos de Jesus tornam-se fortes alicerces para a sua superação. Com o estudo do Evangelho de Jesus apreende-se a compreender e a conviver na familia humana. Assim, conscientes de que são espíritos devedores perante as Leis Universais, procuram conduzir-se dentro de atitudes exemplares, amando e perdoando, suportando e compreendendo os revezes da vida.

    Praticado fielmente a data e ao horário semanal estabelecidos, atrai-se para o convivio doméstico Espiritos Superiores, que orientam e amparam, estimulam e protegem a todos.

    A presença de Espiritos iluminados no lar afasta aqueles de índole inferior, que desejam a desunião e a discórdia. O ambiente torna-se posto avançado de luz, onde almas dedicadas ao Bem estarão sempre presentes, quer encarnadas, quer desencarnadas.

    As pessoas habituadas a oração, ao estudo e a vivência cristã, tornam-se mais sensíveis e passíveis as inspirações dos Espiritos Mentores.

 Fraternalmente,

Catia Regina A. Hortega.



Encontro Espírita de Nova Iorque, Antonio Leite, USA

    O III Encontro Espírita de Nova Iorque, realizado entre os dias 18 e 20 de Maio, cujo lema foi: ?No Limiar dos Novos Tempos?, foi coroado de êxito. O encontro foi uma realização dos Centros Espíritas Allan Kardec Spiritist Center, de Nova Iorque, Centro Espírita Amor e Luz, de New Jersey e Centro Espírita Caminho da Luz, de Dambury, Connecticut.

    O encontro que surgiu como resultado do trabalho das duas SENYs (Semana Espírita de Nova Iorque), realizadas em anos anteriores, contou com o apoio do United States Spiritist Council e o Clube de Artes do Lar Fabiano de Cristo. A realização do encontro serviu como uma grande injeção de ânimos nos espíritas de Nova Iorque e região, especialmente no que diz respeito a união de esforços para se desenvolver um trabalho voltado para o nosso irmão americano.

    O evento contou com a participação de vários palestrantes vindos do Brasil, dentre eles Cesar Reis, José Passini, Júlio César Roriz, Miguel de Jesus Sardano, bem como o entusiasta Alamar Regis, que foi o responsável pela abertura do evento. Dos Estados Unidos compareceram os companheiros Vanderlei Marques, Presidente do United States Spiritist Council, o vibrante Carlos Campetti, Jussara Korngold & Marcelo de Almeida, estes dois últimos resposáveis pela excelente palestra em Ingles.

    Há que se registrar também a excelência da parte artística do evento que ficou a cargo do André Cabral, Gustavo e Rajane da Hora, bem como a surpresa que ficou por conta do Alamar ao cantar a Ave Maria no encerramento do evento, acompanhado ao piano por André Cabral.

Allan Kardec Spiritist Center
40-16 74 Street - Jackson Heights
http://www.akscenter.net/
Phones: (718) 429-6626 ou (718) 639-3041




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