Grupo de Estudos Avançados Espíritas

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Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec


Ano 09 - Número 414 - 2001            3 de abril de 2001

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História do Cristianismo VII, Maurício Júnior, Brasil

(Seqüência do texto publicado no Boletim 413)

AULA 7 - INSTITUCIONALIZAÇÃO DA IGREJA

Cristianismo: Religião Oficial do Império
Organização da Igreja: o Clero
A Igreja Constituída
Os Concílios
Ascensão do Papado






1 - CRISTIANISMO: RELIGIÃO OFICIAL DO IMPÉRIO

    A mensagem cristã surgiu entre os judeus, considerados bárbaros pela civilização romana. E, apesar de choques e hostilidades, conseguiu firmar-se no Império.

    O Cristianismo defrontou-se com um mundo consolidado: um mundo onde, desde as conquistas de Alexandre, o Grande (356 - 323 a.C.), predominava a cultura greco-romana, que se difundiu entre os povos da Antiguidade e abalou suas culturas nacionais. Nessa vastidão que incluía quase toda a Europa, a Ásia Menor e o norte da África, o clima espiritual era contraditório.

    A religião oficial de Roma caracterizava-se pelo pragmatismo político. Ao politeísmo greco-romano, em geral eclético e teologicamente frágil, contrapunham-se inúmeras religiões de mistérios, cada vez mais divulgadas e acrescidas de novos adeptos. Roma procurava garantir suas tradições e supremacia através das divindades nacionais, regionais ou locais, mas não deixava de utilizar deuses estrangeiros para submeter os povos conquistados.

    Mas no séc. III d.C., o Império Romano encontrava-se à beira da derrocada. Suas fronteiras estavam ameaçadas e os imperadores, sucedendo-se ininterruptamente, eram impotentes para garantir a segurança das províncias. A aristocracia, ameaçada, começou a constituir Estados independentes. A população sofria privações de todo tipo e praticava atos de banditismo.

    No início do séc. IV, Diocleciano buscou a consolidação estatal, instaurando uma monarquia absolutista. O imperador foi transformado em descendente dos deuses, o exército e a religião tornaram-se a garantia do poder despótico. No séc. III os monarcas haviam procurado ligar sua autoridade à corrente religiosa que prevalecia entre os soldados, acabando por criar uma divindade sincrética, o Sol Invictus. Quando Constantino venceu a disputa ao trono romano, implantou uma nova religião estatal como apoio à sua autoridade:  o Cristianismo, através do edito de Milão, em 313. Constantino decidiu aceitar o Cristianismo por motivos  predominantemente políticos, mas teve um siginificado transcendental,  pois, posteriormente, o Cristianismo tornar-se-ia a religião oficial do império no reinado do Imperador Teodósio.

    Apesar de numerosas semelhanças com outras crenças monoteístas, o Cristianismo trouxe uma proposta fundamentalmente nova. Pelo fato de deixar sua pátria, a Palestina,  pôde desligar-se de suas características nacionalistas e irrompeu no mundo romano como um movimento messiânico de amplitude internacional. Além de valorizar o homem, atribuindo-lhe alma imortal, tornou-o membro de uma nova família universal, presidida por um Deus único que se manifestara sob forma humana e histórica. Simples e consistente na doutrina, a nova religião trazia uma mensagem escatológica (1), relativa ao final dos tempos, centrada na idéia da ressurreição e glorificação, inédita no mundo antigo.

    A mensagem de salvação imediata baseava-se na transformação  espiritual a partir da conversão individual a Jesus Cristo: embora não operada pelos homens, mas pela graça divina, a salvação consistia numa opção possível a todos.

    Penetrando mais facilmente entre os escravos da cidade, o Cristianismo atingiu todas as camadas da população. O Estado romano vivia um momento de transição e, diante da inquietação gerada pela crescente crise político-econômica, a mensagem de salvação espiritual representava importante compensação. E o Cristianismo pregava antes de tudo o distanciamento dos problemas terrenos, prometendo a instauração de um mundo novo para além do mundo visível. Por outro lado, as comunidades cristãs viviam em comunhão de bens, pregando a igualdade de todos perante Cristo. Dessa forma, embora visando essencialmente a salvação espiritual, a mensagem cristã ganhou a conotação de revolução social e atraiu a população injustiçada.

    Desta forma, no séc. III, com a decadência dos cultos tradicionais romanos, o cristianismo passou a ser uma força considerável.

    Quando o imperador Constantino decidiu aceitar o Cristianismo, no início do séc. IV, seus motivos foram predominantemente políticos, mas tiveram um siginificado transcendental,  pois, posteriormente, o Cristianismo tornar-se-ia a religião oficial do império.

    Para poder consolidar o Cristianismo, foi necessário criar estruturas mais complexas para manter tanto a disciplina como para proteger a pureza da doutrina. Os presbíteros (2) foram substituídos por uma hierarquia de bispos e começou a emergir uma estrutra diocesana (3). A Igreja Cristã desenhou sua própria organização baseando-se no Império Romano.

    Os bispos reuniam-se em sínodo (4) nas capitais provinciais e os pertencentes a centros metropolitanos recebiam dignidades especiais. Roma, que havia sido a sé de São Pedro, recebeu uma primazia de honra, apesar de que seus bispos deviam compartilhar hierarquia e poder com os de Antióquia e os de Alexandria e, depois, com os de Constantinopla e os de Jerusalém.

    Para as decisões importantes, principalmente em assuntos doutrinários, o clero reunia-se em assembléia. As mais famosas foram: O Primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia (325), o Concílio de Constantinopla (381),  o de Éfeso (431) e o de  Calcedônia (451). Estes encontros eram, teoricamente, porta-vozes da Igreja, porém, de fato,  ao ser a religião do Estado, o cristianismo esteve sujeito à influência imperial.

2 - ORGANIZAÇÃO DA IGREJA: O CLERO

    A organização institucional da Igreja foi o resultado de uma evolução gradativa. Nos primitivos tempos da nova religião, os cristãos se reuniam em casas particulares, compartilhando da refeição eucarística, repetindo orações e recontando histórias da missão de Jesus.

    No séc. III o Cristianismo, que já estava desligado do contexto judaico, deparou-se com situações novas. A Igreja ampliava sua influência e constituía um grande povo. Mas, para consolidar sua expansão, era necessário organizar-se.

    As instituições eclesiásticas e as posições doutrinárias tiveram desenvolvimento paralelo: os fundamentos da autoridade residiam na origem apostólica. O termo ?apóstolo? era considerado por Paulo de Tarso (10-67 d.C.) em sua acepção etimológica - significando ?enviado?. A eleição de um apóstolo provinha então de uma ordem carismática - de um apelo do Espírito Santo -, qualificando-o para a pregação do Evangelho. E sua autoridade era aceita desde a comunidade de Jerusalém, sendo ele igualado aos doze escolhidos.

    As primeiras autoridades da Igreja foram os apóstolos, aqueles discípulos a quem Jesus pessoalmente confiara a responsabilidade primária de continuarem sua obra. À medida, porém, que a Igreja se difundia, cada congregação passou a ter necessidade de uma liderança própria, para ensinar o credo crescentemente complexo, administrar os sacramentos, gerir a propriedade que a congregação possuía em comum e tomar providências em relação às necessidades materiais de seus membros

    Desde o início do Cristianismo, os Apóstolos tinham auxiliares, eleitos pelo carisma divino. Suas funções eram administrativas e eles se dividiam em presbiteroi (anciãos) e episcopoi (fiscais) e diáconos (servidores). Quando se tornaram importantes, essas funções passaram a depender da escolha da comunidade. De modo geral, os ministérios carismáticos transformaram-se em ministérios institucionais. Seus titulares eram qualificados para transmitir a seus sucessores o carisma recebido. Repousado no rito da imposição das mãos ou ordenação - que conferia a autoridade para o exercício do ministério - definiu-se então o sistema hierarquizado do Cristianismo.

    Havia duas classes de ministros eclesiásticos: os diáconos  - encarregados da vida material das comunidades e das obras assistenciais - e os presbíteros ou bispos - que exerciam as funções espirituais e litúrgicas. Presbíteros e bispos, termos inicialmente sinônimos, atuavam de forma colegiada numa comunidade em que houvesse vários deles. Depois, esses ministérios se bipartiram, desenvolvendo-se a doutrina do episcopado. O bispo representava diretamente Cristo, garantindo a ortodoxia e guardando a plenitude dos poderes sacerdotais. Entretanto, quando as comunidades se multiplicaram, uma parte das atribuições do bispo passou ao presbítero. Embora submisso à autoridade episcopal, ele se revestiu das funções sacerdotais.

    O termo latino sacerdos (sacerdote), designando o presbítero ou padre, só apareceu na linguagem eclesiástica no início do séc. III. Tanto para os judeus como para os pagãos, o sacerdote era essencialmente um sacrificador. No Cristianismo primitivo, entretanto, só existia o sacrifício da cruz, sendo Cristo o único sacerdote verdadeiro por ter imolado a si mesmo. E o termo sacerdos, quando adotado, fundou-se na concepção da Eucaristia como o sacrifício da Nova Aliança entre Deus e os homens.

    Os bispos eram considerados descendentes diretos dos Apóstolos. Essa crença justificava-se na afirmação de que os primeiros seriam nomeados por um apóstolo que, pela imposição das mãos, transmitira-lhes sua autoridade. E a ?sucessão apostólica?,  como uma linha contínua e fiel à lei dos Apóstolos, tornou-se garantia da ortodoxia doutrinal: uma Igreja que, através dos bispos, se reivindica descendente legítima dos Apóstolos, não poderia jamais contaminar-se pela heresia.

    As sedes episcopais não possuíam a mesma importância e autoridade. Algumas, estabelecidas nas metrópoles regionais particularmente importantes, atuavam como igrejas-mães em relação às igrejas episcopais das províncias. Originou-se então a igreja metropolitana e a organização em províncias eclesiásticas, baseadas nas províncias do Império. Sedes como Alexandria e Antióquia destacavam-se entre as metropolitanas. Entretanto, a primeira posição na hierarquia eclesiástica foi reivindicada pelo bispo de Roma, mesmo depois da mudança da capital para Constantinopla. Acreditava-se que a igreja romana fora fundada pelos apóstolos Pedro e Paulo. A primazia de Pedro no colégio apostólico - ?Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja? (Mateus 16, 18) - perpetuou-se em todo o episcopado na pessoa do seu sucessor. E, se o prestígio do bispo de Roma cresceu devido à supremacia política da capital, reforçou-se pelo conceito da sucessão apostólica.

Várias vezes, durante os conflitos disciplinares e doutrinários do fim do séc. II e no séc. III, os bispos de Roma reivindicaram uma autoridade de arbítrio. E quase toda a cristandade ocidental se dispunha a aceitá-la. Entretanto, o papado só se definiu mais tarde, pois, nos primeiros séculos, a Igreja considerava-se episcopal na estrutura concreta e em sua justificação teórica. A maior autoridade desse período estava acima da individualidade do bispo:  eram os sínodos e concílios provinciais ou regionais.

    À medida que aumentavam os membros da Igreja, distinção mais forte se fez entre os catecúmenos (5), recém-chegados à religião que recebiam instrução sobre a fé, e aqueles que já haviam sido batizados e tinham permissão de tomar parte na Eucaristia e em outros ritos sagrados.

    De hábito, os clérigos (6) não eram casados, pois o celibato era considerado como meritório, mas só muitos séculos depois tornou-se esse costume obrigatório para todos os membros do clero.

    O clero dividia-se em duas categorias: regular e secular. O clero regular, compreendia os monges e frades ordenados e outros que viviam em comunidades monásticas. Seu nome deriva do latim regula, que significa regra;  quer dizer que eles se submetiam aos regulamentos especiais de suas comunidades monásticas, que incluía os três votos de pobreza, castidade e obediência aos seus superiores. O clero secular compreendia o grande número de padres e bispos que viviam a vida quotidiana em contato com o mundo dos leigos. Seu nome deriva-se da palavra latina saecula, termo figurativo para o mundo das preocupações materiais. Todos os clérigos acima do grau de subdiácono estavam sujeitos à regra do celibato, mas o clero secular, diversamente do regular, não era impedido de possuir bens materiais.

3 - A IGREJA CONSTITUÍDA

    Quatro são os fundamentos em que se assenta a natureza da Igreja:  una, santa, católica, apostólica.

    Nascente a partir do cristianismo, como igreja militante, com um clero e um laicato (7), poder de ordem e jurisdição, tem a Igreja Católica mantido a sua unidade ao longo de vinte séculos. Essa unidade vem sendo combatida ao longo dos séculos pelas heresias, pelos cismas, pelas secessões.

    Duas secessões, ao longo desses vinte séculos, marcaram o desligamento de ramos importantes, que vieram dividir a cristandade primitiva e constituir formas de civilização até por vezes antagônicas, mas sem ferir a unidade original do tronco. A primeira dessas secessões foi a bizantina, provocada pela separação entre Roma e Constantinopla, devido a discussões irredutíveis em torno de problemas teológicos. Formou-se, assim, a Igreja Ortodoxa, que vinha do séc. VI mas se positivou em 1054, com a excomunhão de Miguel Cerulário pelo Papa Leão IX. Mais tarde, transferiu a sua sede de Bizâncio para Moscou.

    Quanto ao Maometismo, no séc. VII, - quando Maomé se apresentou como o próprio portador da revelação divina e o Cristo passou a figurar como um profeta. O Alcorão substituiu os Evangelhos e a raça árabe formou uma religião anticristã, - religião própria, de tipo semítico, com certos vestígios de Hebraísmo e Cristianismo, em que desaparecem os sacramentos.

    A segunda secessão foi a Reforma protestante, no séc. XVI, que arrastou consigo a separação da Alemanha, da Inglaterra e mais tarde dos Estados Unidos, na base da exaltação do livre exame individual das Escrituras sagradas contra a autoridade e a tradição, invariavelmente afirmadas pela Igreja Romana, como cimento da unidade cristã.

    Embora essas divisões afetassem fundamentalmente a Cristandade, isto é, a civilização baseada nos ensinamentos evangélicos, manteve-se a unidade através dos séculos, fiel a uma dogmática baseada nos ensinamentos diretos de Jesus Cristo, tais como registrados nas Sagradas Escrituras e transmitidas pela tradição e pela autoridade central, - a Igreja.

    Só no Ocidente, ao longo dos vinte séculos de sua ininterrupta unidade, viu a Igreja cair o Império Romano e surgir o feudalismo depois das invasões dos bárbaros; viu cair o feudalismo e surgirem  as monarquias absolutas do Renascimento; como viu cairem essas monarquias, sucessivamente depois do séc. XVIII e surgir a civilização burguesa (8), baseada nas declarações dos Direitos do Homem e nos regimes republicanos; como neste século está vendo o fim da civilização liberal e burguesa e o surgimento dos regimes totalitários, de tipo comunista ou de tipo fascista e as ditaduras ou democracias populares.

    Essa unidade, em parte, é sustentada devido ao seu segundo fundamento, ou seja, a santidade,  pela preeminência do seu caráter sobrenatural, como sendo o próprio Cristo misticamente presente entre os homens até a consumação dos séculos. Seu objetivo não é de ordem temporal, mas eterna, de ordem espiritual e não social. Ela foi fundada para servir e não para ser servida, como o seu próprio fundador. Daí sua independência em face das raças, das civilizações, das línguas, dos governos, de tudo o que seja de ordem puramente natural. Finalmente, esse princípio de santificação não implica que a Igreja seja uma Assembléia de perfeitos, o que foi declarado por Santo Agostinho como heresia, mas uma comunidade de fiéis à busca da perfeição, em si e nos outros.

    Sobre o seu terceiro fundamento, -  católica, etimologicamente, esta palavra significa universal. Daí o seu anti-racismo invariável como o seu antinacionalismo, sempre que racismo se entenda como predomínio de uma raça sobre outra por motivos de superioridade étnica, e nacionalismo uma extralimitação de direitos e uma afirmação também de superioridade de uma só nacão, dando lugar logicamente ao imperialismo e ao genocídio. Uma Igreja Católica nacional é uma contradição nos termos. Quando falamos em Igreja Católica temos sempre em mente ou devemos ter, o seu caráter eminentemente supranacional, supra-racial, supracontinental, suprapolítico ou econômico.

    A apostolicidade da igreja é o seu caráter final e deve ser entendido em dois sentidos, no tempo e no espaço. A Igreja é apostólica porque deriva do seu fundador, Jesus Cristo, através dos apóstolos e discípulos. A essa apostolicidade temporal segue-se uma apostolicidade espacial, segundo a qual a mensagem do Cristo deveria representar a conquista do mundo pagão para Deus, o Cristo e a Igreja, isto é, para a Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.

    A supressão de algum desses quatro fundamentos em que constituiu as colunas mestras do seu edifício, é sempre um sinal de decadência ou de recessão. Cada uma delas completa as outras.

4 - OS CONCÍLIOS

    O clero de cada congregação mantinha estreito contato com a das outras congregações. Essa associação entre o clero muito fez para fortalecer a Igreja, pois permitia que uma congregação auxiliasse outra em tempo de necessidade; ajudava a impedir a difusão de heresias e possibilitava consultas entre várias congregações. Tal associação também trabalhou para fortalecer a posição do clero sobre os membros leigos de sua congregação.

    Com o decorrer do tempo, tendeu a Igreja a seguir o padrão de organização usado na administração do Império Romano. Assim, as congregações se agruparam de acordo com as municipalidades e províncias em que se situavam. Os bispos das cidades principais passaram  a ser conhecidos como bispos ?metropolitanos? e conquistaram preeminência sobre os bispos de municipalidades menores. No terceiro século, esses bispos metropolitanos deram início ao costume de convocar concílios provinciais, a que eram chamados os representantes do clero de todas as cortes da província. Às vezes, concílios ecumênicos (9), ou assembléias de todos os bispos do mundo cristão, eram convocados para tratar de questões que envolviam a Igreja inteira.

    Alguns desses concílios ecumênicos, como o que se reuniu em 325, foram muito importantes na história da Igreja. Contudo, não se reuniam tantas vezes nem exerciam influência tão grande como se poderia esperar. Isto em parte se devia às dificuldades surgidas em poderem homens viajar de todo o Império para um local comum de encontro e, depois, em serem induzidos a chegar a acordo sobre as questões postas em debate. Mas também se devia ao prestígio crescente do Papado, que igualmente proclamava representar a Igreja como um todo.

    Diante das lutas para manter a pureza da nova doutrina, e para dirimir deficuldades internas, um primeiro concílio - o de Jerusalém - foi realizado nos primórdios do estabelecimento do cristianismo (ano 49), segundo narração em At. 15.

    Somente a partir de meados do séc. II, no entanto, é que maior número de concílios (sínodos) se realizam, com a finalidade de resolver questões relativas às heresias da época. O primeiro deles parece ter-se realizado na Ásia Menor, com o fim de adotar medidas contra o montanismo, para discutir questões sobre a Páscoa e estabelecer o cânon do Novo Testamento. Certos escritos, entre os quais muitos apócrifos, surgiram nessa época, como o Didaquê [?ensino do Senhor através dos doze Apóstolos?], anterior ao ano 150. O Didaquê tratava de instrução moral, da liturgia, da disciplina e dos ofícios eclesiásticos, além de uma exortação final sobre o breve retorno de Jesus e a ressurreição dos mortos. Os primeiros teólogos e os primeiros Padres da Igreja são dessa época.

    A partir de 325, com o Concílio de Nicéia, começam os concílios maiores, chamados ecumênicos, convocados para estabelecer a posição da Igreja ante doutrinas consideradas heréticas. Nesse primeiro concílio geral aprova-se o credo de Nicéia, como resposta ao arianismo; em 381 (Constantinopla I) define-se a natureza da divindade do Espírito Santo; em 431 (Éfeso) trata-se da unidade pessoal de Cristo e da Virgem Maria; em 451 (Calcedônia) definem-se as naturezas divina e humana de Cristo; em 553 (Constantinopla II) condenam-se os ensinos de Orígenes e de outros; em 680-681 (Constantinopla III) são dogmatizadas as duas naturezas de Cristo; em 787 (Nicéia II) é regulada a questão da veneração das imagens.

5 - ASCENSÃO DO PAPADO

    O Papa era o Bispo de Roma. Seu papel, porém, envolvia muito mais do que a supervisão da diocese romana, pois ele afirmava ser o chefe espiritual da Igreja, abençoado com a orientação especial do Espírito Santo, e todos os católicos romanos conheciam essa afirmação. Repousava ela na base de que Jesus designara o Apóstolo Pedro como chefe da nova Igreja e Pedro, que se tornara o primeiro Bispo de Roma, passara a direção de toda a Igreja, e não somente a diocese de Roma, aos seus sucessores no Bispado Romano.

    A coexistência entre a Igreja e o Estado Romano não se manifesta somente ao nível institucional e político, mas também no mundo teológico e filosófico. Os cristãos se abrem cada vez mais à filodofia pagã, particularmente ao neo-platonismo e ao estoicismo. O primeiro dá ao cristianismo a sua cosmovisão e novas categorias teológicas; o segundo, a sua formulação ética. A situação parecia concretizar o que Justino escrevera no séc. II: ?Todos os princípios justos que os filósofos e os legisladores descobrirtam, eles o devem ao fato de haverem contemplado parcialmente o lógos. A doutrina de Platão não é estranha à do Cristo, assim como a dos estóicos. Mas cada um deles não pode exprimir senão uma verdade parcial?.

    Clemente de Roma também afirmara que um centro de unidade política poderia ser fator da unificação intitucional das Igrejas.

    A pax romana, com a vertiginosa expansão da Igreja e suas lutas internas, sente-se ameaçada. Com a morte de Constantino (337) e a divisão do império entre os seus três filhos, novamente a situação torna-se hostil para a Igreja. Entretanto, Teodósio o Grande proíbe o culto pagão, quando a partir de então muitos templos pagãos são destruídos ou transformados em igrejas.

    No início do séc. V, o bispo de Roma já havia conquistado posição de destaque. Devia-se isso não somente à crença de que o apóstolo Pedro ali fundara uma Igreja, como também à ortodoxia do bispado em meio à crise ariana e sua firmeza durante as invasões germânicas. Em 445, Leão I conseguiu que Valentiniano III, imperador do Ocidente, promulgasse um edito estabelecendo a primazia do bispo de Roma como sucessor do ?primado de São Pedro?. Tal fato levou Constantinopla, em 451, a declarar-se com a mesma autoridade de Roma. Esboçava-se a futura separação, que seria mais política do que religiosa, entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente.

    Outras circunstâncias ajudaram o Papa a ganhar uma posição de liderança. Num tempo em que todo o Império se acostumara a olhar para Roma como o centro político do mundo civilizado, era natural que os cristãos de todo o Império buscassem em Roma orientação espiritual. Assim, o Papa se tornou uma réplica do imperador. Mais tarde, quando o Império se dividiu em duas partes e o imperador se estabeleceu em Constantinopla, o Papa conseguiu prestígio ainda maior, pois continuou a representar o princípio da liderança romana. Além disso, vários dos primeiros papas foram homens de notável estatura, que fizeram bom uso de sua posição para manter o poder da Igreja sobre o Estado. No oriente, os imperadores em geral controlavam as igrejas; ao contrário de Roma com o césaro-papismo, a Igreja do Oriente nunca exerceu o poder temporal. E, enquanto as igrejas do leste (onde a tradição grega de especulação filosófica permanecia forte)  muitas vezes se embaralhavam em controvérsias doutrinárias, tais lutas raramente agitavam as igrejas do Ocidente. Desse modo, Roma veio a ser conhecida como o baluarte da doutrina ortodoxa cristã.

    No séc. XIX, mais precisamente em 1870, a teoria gregoriana do primado do papa é consolidada no Concílio Vaticano I, com a declaração da infalibilidade papal.


(1) Escatologia - 1 - Doutrina sobre a consumação do tempo e da história. 2 - Tratado sobre os fins últimos do homem.
(2) Presbítero - Sacerdote, padre.
(3) Diocese - Circunscrição territorial sujeita à administração eclesiástica de um bispo.
(4) Sínodo - Assembléia regular de párocos e outros padres, convocada pelo bispo local.
(5) Catecúmeno - Aquele que se prepara e instrui para receber o batismo.
(6) Diácono - Clérigo no segundo grau das ordens maiores, imediatamente inferior ao presbítero, ou padre.
(7) Laicato - Relativo a leigo.
(8) Burguesia - Classe social que surge na Europa em fins da Idade Média, com o desenvolvimento econômico e o aparecimento das cidades, e que vai, gradativamente, infiltrando-se na aristocracia, e passa a dominar a vida política, social e econômica.
(9) Ecumênico - O sentido empregado no texto é o de universal.

TEXTOS EXTRAÍDOS DE:

DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo.
Atlas da História Universal.
SAVELLE, Max. História da Civilização Mundial.
Dicionário Prático Ilustrado. Lello & Irmãos Editores, Porto.
Enciclopédia Britânica.
MIRANDA, Hermínio C. Cristianismo: a mensagem esquecida.
Diversas Religiões. Abril Cultural.


ANEXO

    O texto abaixo foi extraído do livro ?Cristianismo e Espiritismo?, de Léon Denis, no qual o autor, embora criticando os erros e omissões da Igreja, não deixa de reconhecer o papel fundamental exercido por ela na construção da sociedade atual.

    ?Apesar de todas as críticas, fundadas ou infundadas, tecidas ao longo destes vinte séculos, é justo recordar os serviços prestados pela Igreja à causa da Humanidade. Sem a sua hierarquia e sólida organização, sem o papado, que opôs o poder da idéia, posto que obscurecida e deturpada, ao poderio do gládio, tem-se o direito de perguntar o que se teria tornado a vida moral, a consciência da Humanidade. No meio desses séculos de violência e trevas, a fé cristã animou de novo ardor os povos bárbaros, ardor que os impeliu a obras gifantescas como as Cruzadas, à fundação da Cavalaria, à criação das artes na Idade Média. No silêncio e na obscuridade dos claustros o pensamento encontrou um refúgio. A vida moral, graças às instituições cristãs, não se extinguiu, a despeito dos costumes brutais da época. Aí estão serviços que é oreciso agradecer à Igreja, não obstante os meios de que ela se utilizou para a si mesma assegurar o domínio das almas.

    Em resumo, a doutrina do grande crucificado, em suas formas populares, queria a obtenção da vida eterna mediante o sacrifício do presente. Religião de salvação, de elvação da alma pela subjugação da matéria, o Cristianismo constituía uma reação necessária contra o politeísmo grego e romano, cheio de vida, de poesia e de luz, mas não passando de foco de sensualismo e corrupção. O Cristianismo tornava-se um estágio indispensável na marcha da Humanidade, cujo destino é elevar-se incessantemente de crença em crença, de concepção em concepção, a sínteses sempre e cada vez mais amplas e fecundas.

    O Cristianismo, com os seus doze séculos de dores e trevas, não foi uma era de felicidade para a raça humana; mas o fim da vida terrestre não é a felicidade, é a elevação pelo trabalho, pelo estudo e pelo sofrimento; é, numa palavra, a educação da alma; e a via dolorosa conduz com muito mais segurança à perfeição que dos prazeres.

    O Cristianismo representa, pois, uma fase da história da Humanidade, a qual lhe foi incontestavelmente proveitosa; ela, a Humanidade, não teria sido capaz de realizar as obras sociais que asseguram o seu futuro, se não se tivesse impregnado do pensamento e da moral evangélicos.?



Anotações em torno de trechos do Texto História do Cristianismo, Elzio, Brasil

Prezado Iglésias,

    Estou enviando algumas anotações em torno de trechos da III e IV aulas da História do Cristianismo, intituladas Antecedentes do Cristianismo e o Advento do Cristianismo, da autoria de Maurício Júnior, que está procurando dinamizar o conhecimento do Cristianismo para os companheiros do GEAE, trabalhos editados no GEAE ns.  410, 411. Coloco algumas notas para provocar reflexões.

GEAE n.º 410 - Antecedentes do Cristianismo

    1) "Acostumados, porém, à estrita fidelidade à letra dos textos imemoriais, os intérpretes dos livros santos somente podiam imaginar um Messias político, que libertasse Israel do jugo romano e restabelecesse, em todo o seu esplendor, a pujança do povo de Deus.''

    A generalização não é correta. A leitura da passagem de Isaías sobre o servo sofredor deixa claro que a visão do Messias político não era a única. Os samaritanos até esperavam dois messias, e os essênios, três.

    2) "É que a linguagem dos profetas, além de formulada num contexto que já há muito se perdera nas dobras do tempo, é sempre simbólica."

    Os profetas judaicos não se atêm a linguagem simbólica. São, aliás, como o próprio artigo menciona, duros em suas exigências de transformação e em suas advertências.

    3) "A partir de Hilel, o grande rabi que foi em parte contemporâneo do Cristo (70 a.C. - 10 d.C.), os rabis passaram a desempenhar as tarefas antes atribuídas aos escribas."

    Na época de Jesus, o rabinado não era uma carreira. Somente em Jamnia (Jabné), é que na reconstrução do Judaísmo por ben Zakkai, foi o título adotado para os que realizassem os estudos regulares. A afirmativa de que a partir de Hillel os rabis passaram a desempenhar o papel atribuído aos escribas, está deslocado no tempo, pois o fato só ocorreu depois da destruição de Jerusalém em 70 d. C. Os candidatos a escribas provinham da classe farisaica, saducéia, mas também do povo, e faziam estudos numa Bêt-Midrash com algum escriba famoso, de quem se tornava discípulo. O título de Rabi era dado pelo povo, e, portanto, era um espontâneo título honorífico a alguns mestres do judaísmo. Jesus foi chamado, como sabemos, de Rabi (Mestre). Já encontrei inclusive uma referência ao fato de que quando o Rabi se destacava muito dos seus contemporâneos era chamado diretamente pelo nome, sem o título. Podemos verificar que Hillel e Shammai, dois dos maiores mestres do judaísmo de todos os tempos, não eram chamados de Rabi Hillel e Rabi Shammai. Os evangelhos, ao se referirem a Jesus, ou utilizam o título de Rabi sem fazer-se acompanhar do nome, portanto, chamando-o de Rabi (Mestre), ou apenas chamam-no pelo nome? Jesus? sem título. Em lugar nenhum, utilizam Rabi Jesus (Mestre Jesus).

    4) "Além dos dois grupos dominantes, uma seita de menor influência destacou-se para viver uma existência monástica (3) de pobreza e trabalho."

    Os historiadores, envolvidos com as pesquisas modernas, estão chegando à conclusão que o Judaísmo no primeiro século apresenta um maior número de divisões que as tradicionalmente conhecidas. Além do que existiam os ame-haretz (discriminados) e os anawin (pobres mais pobres) compondo parte da população, para não falar nos escravos. Até hoje, ainda existem discussões sobre se a seita de Qumran era uma seita essênia ou somente a ela assemelhada. Não podemos esquecer também os seguidores de João, o Batista, que continuaram, após a sua morte, a difundir o seu ideal

    5) "Para a Judéia e Samaria, o órgão administrativo era o Sinédrio (7), chefiado pelo sumo sacerdote."

    A autoridade do Sinédrio se estendia também pela Galiléia e outras regiões, abarcando mesmo a Diáspora, e não somente a Judéia e a Samaria.

GEAE n.º 411 - Advento do Cristianismo

    1) "Assim, os Evangelhos não são apenas fontes históricas ou manuais de história, mas a reunião de fatos vividos por Jesus e a confissão de fé no Cristo. Não se conhece uma única frase de Jesus nem uma simples narração sobre ele que não contenham, ao mesmo tempo, a profissão de fé da comunidade crente ou que, pelo menos, não tenham sido influenciadas por ela."

    A generalização é descabida. Nem todas as declarações de Jesus possuem uma redação pós-pascal. Basta lembrar a negação de Pedro, que jamais teria sido criada pelos primeiros cristãos, em face da autoridade dos apóstolos como testemunhas de Jesus. No Sermão do Monte, existem outras tantas declarações que não poderiam ser encaixadas como criações ou redações pós-pascais, porque os seus seguidores tiveram dificuldades em segui-la. A declaração de Jesus sobre a destruição do Templo, também não. O encaminhamento atual sobre a redação dos Evangelhos está conduzindo os estudiosos a aceitar cada vez mais datas anteriores a 70 d. C., não se devendo esquecer que uma das acusações frontais feitas a Jesus foi exatamente a questão do Templo. Uma breve leitura dos Atos demonstrará que os seguidores de Jesus não se opuseram de imediato ao Templo, o que Jesus abertamente o fez. Não há necessidade de lembrar a discutida passagem da expulsão dos vendedores do Templo (as bancas eram pertencentes à aristocracia sacerdotal); é bastante compreender o que representou a quebra das regras sobre pureza e do sábado, na ocasião. Nem os apóstolos conseguiram, de imediato, seguir a Jesus em tal ponto: vide, por exemplo, as restrições de Pedro e depois da Comunidade do Caminho em relação a entrada na casa do centurião Cornélio e à alimentação com um estrangeiro.

    2) "Para a tradição cristã original foi Jesus Cristo, o Salvador, o Filho de Deus feito homem com a missão de sofrer e morrer como os homens e resgatar com seu sacrifício os pecados da humanidade. Humanizou sua divindade, espiritualizando assim a humanidade. Para os historiadores em geral, mesmo os que lhe recusam a divindade, foi um dos mais extraordinários vultos de todos os tempos. Até hoje, dois mil anos depois de Cristo, uma leitura dos Evangelhos torna viva de novo sua figura feita de terrível autoridade e grande doçura, a figura do irado profeta que expulsou os vendilhões do Templo e do manso pregador do Sermão da Montanha. As idéias de Jesus Cristo, que o Império Romano do seu tempo mal escutou e que nenhum historiador de Roma anotou, vivem e atuam ainda no mundo."

    A interpretação da figura de Jesus de Nazaré está eivada de pressuposições, que embora respeitáveis, são de origem católica, como o resgate dos pecados da humanidade, sem mais explicações para o texto que remonta a João 1:29, uma reminiscência da proclamação do Batista, encravada no texto de Isaías 53: 12 ("levou sobre si o pecado de muitos"), tomada também pela saudação angélica em Mateus 1:22. Mas se o articulista coloca dúvidas nas declarações de Jesus, porque se interpretaria ao pé da letra o texto joanino, ainda mais sabendo que continuamos a pagar pelos nossos pecados? Na mesma linha, segue-se com o "humanizou sua divindade", da qual Jesus naturalmente como bom judeu se horrorizaria. E terá a humanidade se espiritualizado? (naturalmente aqui houve força de expressão). Não são só os historiadores que rejeitam a divindade de Jesus, desde Ário tem existido quem não aceite a proclamada divindade de Jesus estabelecida como lei no Catolicismo pelo 1º Concílio de Nicéia (podemos talvez dizer que aí realmente a Igreja Católica nasceu) e aceita pelo Protestantismo. O Espiritismo também possui outra compreensão da figura de Jesus. Ao utilizarmos muita vez a qualificação Divino Mestre, todos o fazemos dando à palavra os significados de "proveniente de Deus", "sublime", sem nenhuma conotação cristológica. O recorte que faz o articulista da figura de Jesus contraria a afirmação de que: "Não se conhece uma única frase de Jesus nem uma simples narração sobre ele que não contenham, ao mesmo tempo, a profissão de fé da comunidade crente ou que, pelo menos, não tenham sido influenciadas por ela." Se fosse verdadeira tal assertiva, sem dúvida que a "figura do irado profeta", de "terrível autoridade", "grande doçura", seria uma criação das comunidades pós-pascais. Não é totalmente correta também a afirmativa de que "As idéias de Jesus Cristo", "nenhum historiador de Roma anotou..." Tácito, Suetônio, Plínio, o imperador Adriano (dois rescritos), Celso, Luciano de Samosata, Porfírio (que comparou Jesus com Apolônio de Tiana), Jerocles e o imperador Juliano dão notícias do movimento de Jesus. Não tiveram eles a compreensão do tamanho de sua figura, nem sempre foram fiéis ao descrevê-lo, mas isto já é outra coisa.

    3) "O nome de Jesus Cristo vem do hebreu Jexua, "Deus é o seu auxílio", e do grego Khristós, "Cristo", tradução dada ao termo hebreu Maxiah, "Messias", "Ungido". O nascimento de Jesus Cristo ocorreu provavelmente no ano 4, antes de nossa era. Sua existência histórica é admitida pela totalidade dos críticos sérios. A moldura geográfica, o contexto político-social e religioso de sua vida são perfeitamente definidos e resistem à comparação com documentos coevos (1) e informes arqueológicos. Os historiadores romanos Tácito e Suetônio, bem como o historiador judeu Flávio Josefo silenciam sobre sua pessoa, mas as descrições de homens, costumes e lugares comprovam as informações do Novo Testamento. Assim, a única fonte para estabelecer-se uma vida de Cristo é o Novo Testamento, sobretudo os quatro evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as Cartas de Paulo. Os autores desses escritos foram discípulos de Jesus Cristo."

    O significado do termo hebraico Yeshua está correto. Jesus em grego significa "O Senhor salva". Cristo tanto como Messias significa «ungido». Se o evangelista foi fiel ao narrar a morte dos inocentes, fato de que não se encontra registro na história, mas bem adequado ao caráter de Herodes, cognominado o Grande, que se julgava ele mesmo o "Messias" e espalhou assassínios por toda parte, a começar na própria família, então Jesus nasceu antes de 4 d.C., época de sua morte. Textos de Nag Hammadi também noticiam sobre Jesus. Se compararmos a datação dos manuscritos do Novo Testamento existentes com a de qualquer outra obra de grandes autores, vamos verificar que os textos do Novo Testamento são muito mais antigos. Os escritos de Buda, Confúcio, Homero, Sófocles, estão mais distantes no tempo que os manuscritos cristãos da tragédia do Gólgota (em geral, 500 a 700 anos). Não é possível descartar as notícias do Novo Testamento. Embora se diga que os Evangelhos não representam uma biografia, o fato só é verdadeiro em relação às atuais características da literatura; no que se refere às biografias da antigüidade, os evangelhos não fogem ao padrão literário.

    4) "Mas como Celso e Flávio Josefo, adversários do Cristianismo nos primeiros séculos, os racionalistas jamais negaram o fato da existência de Cristo."

    Flávio Josefo não assumiu nenhuma posição de adversário do Cristianismo. Os textos que falam de Jesus, naturalmente foram interpolados, pois existem declarações tipicamente cristãs, tendo sido encontrado uma cópia em que não constam tantos louvores.

    5) "Jesus nasceu em Belém de Judá. José e Maria moravam em Nazaré e haviam ido a Belém para o censo decretado pelo imperador romano Augusto. Não encontrando hospedaria na cidade, refugiaram-se em uma gruta-estábulo, onde nasceu Jesus."

    A questão do nascimento de Jesus em Belém é muito discutida pelos historiadores, que se fixam mais em Nazaré. O censo determinado por César Augusto, para todo o império, em 746 da fundação de Roma, corresponde ao 8 a. C. Teria sido feito pelo governador da Síria? Sentio Saturnino (Sentius Saturnus), segundo Tertuliano). Tem-se notícia de um outro censo realizado na Judéia por Quirino, governador da Síria, em 6 d. C. Este censo tinha finalidades tributárias: tratava-se da imposição de imposto por cabeça a cada um judeu. A notícia do censo é dada por Josefo, mas há quem o julgue em erro. De qualquer modo, se Quirino foi governador de 6 a 12 d. C., o enquadramento histórico de Lucas deve conter um erro. Para evitar tal declaração, tem se levantado várias hipóteses como a de ter sido Quirino um legado especial para o censo ao tempo de Sentio Saturnino, sendo este o legado no comando das tropas: a sugestão é dada por ter havido um caso destes na África, no ano 73 d. C. Ou outra hipótese? Quirino teria sido um adstrito de Sentio Saturnino hipótese possível porque o próprio Quirino quando governador teve um adstrito que realizou um censo de Apamea. A hipótese encontraria apoio no fato de Quirino esteve no Oriente de 10 até 6 a.C. em tarefa militar. Há também a hipótese linguística: o numeral ????? (próte) pode também ser traduzido por antes, e assim a referência seria ao censo realizado antes do que o executado por Quirino, mas a Bíblia de Jerusalém anota que a tradução, "Esse recenseamento foi anterior àquele realizado quando Quirino era governador da Síria" é pouco sustentável do ponto de vista gramatical.

    Ao que parece Jesus não nasceu em uma gruta-estábulo: a tradição da gruta, segundo nota da tradução ecumênica TOB surgiu no séc. II com Justino. Nas habitações judaicas, muitas vezes os animais eram recolhidos juntamente com as pessoas à noite, pelo que o estar com animais não tem a mesma conotação que para nós teria. De qualquer modo, registra-se a existência de local para recolhimento dos animais nas casas e hospedarias (no oriente, as hospedarias possuíam um pátio comum onde se colocavam os animais, cercado de casinhas, e deve ter sido a ele que Maria se recolheu - ????? (phátne), lugar de alimentação dos animais, por não encontrar lugar mais na sala ou quarto de hóspedes (o termo utilizado por Lucas é o mesmo empregado ao referir-se à sala onde se celebrou a ceia ? ???????? (katályma).

    Bem, é interessante que companheiros como o Maurício trabalhem na redação de textos, enriquecendo assim os números do GEAE. Um abraço fraterno do

    Elzio



Comentários
Comentário sobre o tema Fogo Eterno, Marinice, Brasil


Queridos amigos e irmãos, muita paz!

    Lendo os boletins, encontrei no boletim número 413 onde José Basílio fala sobre o fogo eterno tão citado no catolicismo
que ele pede a nossa opinião e que com muita alegria gostaria de deixar aqui relatada.

    Sabemos que o ser não deixa de evoluir jamais, pode até ficar estacionado por não aceitar as suas dores e sofrimentos, que são necessários para o seu aperfeiçoamento, num dado momento desperta, seja breve ou demorada, e segue em frente, pois acaba aprendendo e compreendendo, através do muitos fatores como a paciência, a tolerância consigo e com o próximo, a resignação, a humildade, mas no meu entender principalmente pelo amor.

    Lembrando também, que assim como o ser evolui, o nosso Planeta também, e estamos passando por esse processo de
evolução no terceiro milênio, e realmente Deus não cessa de criar, e com toda esta transformação de nosso Planeta com certeza os seres que aqui estão reencarnando, estão vindo ou melhor retornando mais esclarecidos, e mesmo os simples e ignorantes, tem a mesma oportunidade de aprendizado, e vai depender de seu livre-arbítreo este crescimento, esta evolução de estar sintonizado no bem e no amor ao próximo, os que assim não quizerem certamente terão de partir para Mundos Inferiores, onde estarão mais afinizados, tendo como exemplo os Exilados de Capela..

    Considerar no meu entender, O Fogo Eterno quase que a mesma coisa no espiritismo só que os sofrimentos sendo eternos, seria como se a Doutrina Espirita estivesse simplismente mudando o rótulo deste dogma, e sendo Deus Bom e Justo, quer  somente o nosso bem, e que todo sofrimento e dor que o ser passa é por obra de suas próprias imperfeições, e s ó  será eterno at é que desperte. Lembremos que a doutrina espirita  é Fé Raciocinada. Nao teria lógica os sofrimentos serem eternos.

    O que voces acham?

    Que Jesus ampare a todos, e deixo meu abraço fraterno.

    Marinice.



O Espírito da Verdade, Fernando, Brasil

Caro confrade Carlos Iglesia.

    Concordo que o tema, Espírito da Verdade, é polêmico e "opiniões são jogos de palavras, conflitos que se podem desposar ou do mesmo passo desfazer. A verdade é como a água cristalina, tanto mais pura quanto mais potável, tanto mais simples quanto mais singela, por isso ela não tem rótulo, nem dono a quem prestar obediência."

    Muitos acham que é Jesus, outros tantos, que é uma plêiade de Espíritos e Carlos Imbassahy, achando que "Jesus estaria acima de tudo isso por seu grau evolutivo", acha que é Sócrates. Respeitáveis
opiniões.

    Estamos de acordo também na conclusão, o importante não é o mensageiro, mas a mensagem, ou como diz, outra vez, Carlos Imbas-say, "(...) fica, aqui, apenas aberto o assunto para o devido devaneio de nossos caros leitores, porque importante mesmo é o conteúdo das mensagens."

    A título de colaboração estou enviando, para o citado devaneio o meu trabalho "Jesus e o Espírito da Verdade", publicado na Revista Internacional de Espiritismo, jan./2000.

JESUS E O ESPÍRITO DE VERDADE

    Na literatura espírita e mais ultimamente e principalmente, nas revistas espíritas, o Espírito de Verdade vem envolto, às vezes, na névoa encantada da curiosidade, noutras, marulhado em atávicas ondas místicas, e mais além, mergulhado nas profundezas do inefável.

    Temos nós, tendências arraigadas às culturas religiosas arcaicas e por isso, inclinação para triturar o abstrato e transformá-lo no concreto, perfeitamente palpável, personificando os conceitos, as imagens e as idéias. Ante tantas facetas e outros tantos prismas, o Espírito de Verdade toma a forma de Jesus, do Espírito Santo, de Sócrates, de um Espírito ou de uma plêiade de Espíritos, tornando o tema extremamente polêmico.

    Para Edmundo Vasconcelos, "a verdade não tem rótulo, nem dono a quem prestar obediência, mas por ser luminosa ela é eterna", e é exatamente por isso, que o Espiritismo nos pede uma fé raciocinada.

    Em "OBRAS PÓSTUMAS",( Meu Guia Espiritual, pág. 273; 35 de março de 1856), descreve Kardec:

- "Uma noite achando-me no gabinete de trabalho, ouvi fracas, reiteradas pancadas na parede, que o separava do cômodo vizinho. A princípio nenhuma atenção lhes dei; como porém continuassem com mais força, variando de pontos fiz minucioso exame de um e de outro lado da parede(...)sem descobrir-lhe a explicação(....). Minha mulher entrou pelas 10 horas, veio ao gabinete e, ouvindo as pancadas, perguntou-me o que era aquilo.
-Não sei, respondi-lhe; a uma hora que se dá isto.
-Procuramos os dois sem nada descobrir, continuando o ruído até a meia-noite, quando fui deitar-me."(grifos nossos)

P.-(...) Espírito familiar (protetor), quem quer que sejais, agradeço-vos a visita, e peço-vos que me digais quem sois.
R.- Para ti, chamar-me-ei A Verdade e todos os meses, por um quarto de hora, aqui estarei à tua disposição.
P.(...)- O nome Verdade que tomaste, é alusivo a verdade que procuro ?
R.- Talvez. Pelo menos é um guia que protegerá e que te ajudará.
(...) Observação_ As conferências mensais, que ele me havia prometido, não foram pontualmente realizadas, a princípio, e mais tarde deixaram de o ser completamente...

9 de abril, 1856.

P.-(À Verdade) _ Criticaste o trabalho que fiz outro dia, e tiveste razão. Tornei a lê-lo e reconheci na 30 ª linha um erro quanto ao qual protestaste com as pancadas que me fizeste ouvir..."

    Não consigo imaginar Jesus, por três horas seguidas dando pancadas na parede do escritório de Kardec, para lhe avisar que, na 30 ª linha de seu trabalho, havia cometido um erro. Ora, se Jesus quisesse participar com representatividade da Codificação, o faria dando todas as mensagens e durante todo o tempo, de maneira clara e insofismável e com inigualável alumbramento em todas elas, como sempre fez e como lhe seria permitido como Governador desse planeta. Não haveria razão nenhuma para esconder-se sob qualquer denominação. Faltaria o motivo da incógnita. Quando aqui esteve, há 2000 anos, não deixou qualquer mensagem escrita, confiando nos seus apóstolos, na certeza de que seus ensinamentos seriam condignamente transmitidos às gerações futuras. Ele teve esta certeza, porque se assim não fosse toda sua obra teria sido em vão e se perderia. O Evangelho Segundo o Espiritismo está todo calcado no Novo Testamento e é a sua interpretação. Colocar em dúvida a veracidade e desvirtuar o evangelho de João para desdize-lo, não é o melhor caminho para a Verdade. Não existe pois, a aventada suposição de se ficar com o Novo Testamento ou com Kardec; a nossa única opção é ficar com os dois.

    Em "A Gênese"_ Anunciação do Consolador, podemos destacar :

    Pg. 385, n º 35: (...) "Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e fará que vos lembreis de tudo o que vos tenho dito. ( S. João, cap. XIV, vv. 15 a 17 e 26._ O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI). ( os grifos são nossos)

    "O Espírito Santo é a falange dos Emissários da Previdência que superintende os grandes movimentos da Humanidade na Terra e no Plano Espiritual."( Francisco Cândido Xavier, Valdo Vieira: O Espírito da Verdade; p/ vários Espíritos; FEB, 8 ª Ed..

    Pg. 386, nº 37: "Sob o nome de Consolador e de Espírito de Verdade, Jesus anunciou a vinda daquele que havia de ensinar todas as coisas e de lembrar o que ele dissera.(...) prevê não só que ficaria esquecido, como também que seria desvirtuado o que por ele fora dito, visto que o Espírito de Verdade viria tudo lembrar e, de combinação com Elias,
restabelecer todas a coisas, isto é, pô-las de acordo com o verdadeiro pensamento de seus ensinos."

    pg. 387, n º 38 e 39;

"...indício seguro de que o Enviado ainda não aparecera. Qual deverá ser esse enviado? Dizendo: "Pedirei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador", Jesus claramente indica que esse Consolador não seria ele, pois, do contrário dissera: "Voltarei a completar o que vos tenho ensinado." Não só tal não disse, como acrescentou: Afim de que fique eternamente convosco e ele estará em vos. Esta proposição não poderia referir-se a uma individualidade encarnada (...) O Consolador é pois segundo o pensamento de Jesus, a personificação de uma doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador há de ser o
Espírito de Verdade."

    As palavras, "Jesus claramente indica que esse Consolador não seria ele", são de Allan Kardec, são do codificador.

    pg 387; n º 40: "O Espiritismo realiza, como ficou demonstrado(cap. I, n º 30), todas as condições do Consolador que Jesus prometeu. Não é uma doutrina individual, nem de concepção humana; ninguém pode dizer-se seu criador. É fruto do ensino coletivo dos Espíritos, ensino a que preside o Espírito de Verdade. Nada suprime do Evangelho: antes o completa e elucida."( grifo nosso)

    Em Prolegômeros (L.E. pg 50): "Este livro é o repositório de seus ensinos( dos Espíritos). Foi escrito por ordem e mediante o ditado dos Espíritos superiores(...):mas todos os que tiverem em vista o grande princípio de Jesus se confundirão num só sentimento o do amor, do bem(...)" "São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, O Espírito da Verdade(o grifo é nosso), Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, etc., etc." Seria o mesmo que dizer: "Sigam os princípios de Jesus! (assinado) Jesus."

    Das Obras Básicas participam, com comunicações, mais de cinqüenta Espíritos com mais de cem mensagens. O Espírito de S. Luís colabora com dezesseis; o de Espírito Santo Agostinho, com onze ; o Espírito Protetor com oito e assim por diante; o Espírito de Verdade com oito mensagens, usando as denominações: Espírito da Verdade, Espírito-Verdade ou na grande maioria das vezes, Espírito de Verdade.

    Sobre a mensagem publicada no L.M.: cap. XXXI, pg 450 ( pu blicado em 1861), diz Kardec (Nota):

    "Esta comunicação (...) foi assinada com um nome que o respeito nos não permite reproduzir, senão sob todas as reservas. (...) esse nome é o de Jesus de Nazaré. (...) Como já dissemos, quanto mais elevados são os Espíritos na hierarquia, com tanto mais desconfiança devem seus nomes serem acolhidos nos ditados.(...)

    Na comunicação acima apenas uma coisa reconhecemos: é a superioridade incontestável da linguagem e das idéias, deixando que cada um julgue por si mesmo se aquele de quem ele traz o nome não a renegaria."( os grifos são nossos).

    Vamos repetir as palavras de Kardec: "Na comunicação acima apenas uma coisa reconhecemos: é a superioridade incontestável da linguagem e das idéias."

    Em que pese a linguagem e as idéias, no E.S.E. ; cap. VI: pg 129 (publicada em 1864 e revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866), Kardec faz alguns reparos e suprime os seguintes trechos;

"Venho, eu, vosso Salvador e vosso juiz: "

"Crede nas vozes que vos respondem: são as próprias almas dos que evocais. Só muito raramente me comunico. Meus amigos, os que hão assistido a minha vida e à minha morte são os intérpretes divinos da vontade do meu Pai."

"Em verdade vos digo: crede na diversidade, na multiplicidade dos Espíritos que vos cercam."

Modifica ainda, a assinatura da mensagem, com efeito retroativo: "O Espírito da Verdade, (Bordéus, 1861.)"

    Apesar da incontestável beleza da mensagem, reconhecida por todos, a supressão desses segmentos, retira algumas afirmações , entre as quais a de que, Jesus nunca se disse nosso juiz, nem estabeleceu nenhuma justiça crística, reconhecendo uma única justiça divina. Caso Kardec estivesse convencido, o que duvido, que a mensagem era mesmo de Jesus, que autoridade teria para suprimir trechos e mudar ou esconder sua autoria?

    Além disso, continuando a análise da mensagem, a conclamação: "Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensino; instrui-vos, eis o segundo", demonstraria a natureza doméstica da mensagem, dirigida a um grupo de espíritas reunidos, ou em caso contrário conceder-nos-ia um privilégio, que nenhum Espírito de conscientização universal o faria, pois direcionaría a Terceira Revelação só para os espíritas. Porque, "(...) toda doutrina que tiver por efeito estabelecer uma linha de separação entre os filhos de Deus, não pode deixar de ser falsa e perniciosa."( L.E. parte 2 ª: cap. X; pg 287, perg.842). Além do mais não faria o menor sentido, seria totalmente incoerente, a mesma representatividade, ora se assinar como Jesus e outras vezes como Espírito de Verdade, isto é, ser incógnito e declarado ao mesmo tempo.

    Talvez tenha havido a interferência de algum problema mediúnico, ao fim da comunicação, como aconteceu nas duas mensagens ditas de Jesus e publicadas no L. M. (cap. XXXI: pg 474). Mais ainda, comparando em seqüência a mensagem supracitada com a do L.M. (cap. XXXI; pg 456: n º XV), por exemplo, fica difícil acreditar que se trate do mesmo Espírito.

    Nas Pegadas do Mestre( Vinícius; 7 ª Ed.: FEB 1989, pág. 130-134 ) Vinícius esclarece; "Tal é a imagem do coração humano antes e depois de ser visitado pelo Espírito Santo, ou Consolador prometido por Jesus Cristo.(...) Espírito Santo, Consolador, Paracleto, Espírito da Verdade que significam tais denominações? Representam uma só entidade? Ou tantas entidades quantas enunciam?

    No meio dessa aparente confusão há sabedoria. Se Jesus se reportasse a uma determinada individualidade (...) referir-se-ia a essa entidade sob uma única designação. Como porém o Mestre aludia a plêiade dos "Espíritos do Senhor que são as virtudes do Céu", usou de várias expressões dando assim a entender tratar-se de uma coletividade e não de uma individualidade. Jesus empregou quatro designações no singular, ao invés duma só no plural, para nos ensinar também que entre os Espíritos do Senhor reina perfeita comunhão de sentimentos e de idéias, de modo que o conjunto deles forma uma unidade."

    Assim o Espírito Santo, embora figurando uma coletividade, bem pode se afirmar tratar-se de uma entidade individual, tal a identidade entre as grandezas espirituais que os Espíritos apresentam.

    Em "Preces Espíritas" ("O Clarim"; abril-95), Caibar Schutel assim se expressa: "(...) influi para que os mensageiros de Deus e com especialidade a plêiade de Espíritos que constituem o Espírito de Verdade, o Espírito Consolador ( grifos nossos ), oriente-nos no Caminho do Bem (...)"

    Completa ainda Herculano Pires: "O que o Espiritismo busca é a verdade cristã, cumprindo na Terra a promessa de Jesus, que através de Kardec, e seu guia Espiritual, o Espírito superior que deu a Kardec, quando este perguntou quem era, esta resposta simples: "Para você eu sou A Verdade."( Herculano Pires; O Centro Espírita.). Distingue ele, pois, Jesus, Kardec e o seu Espírito protetor, o Espírito de Verdade.

    Diz ainda Kardec ( Obras Póstumas; pág. 276 ) "A proteção desse Espírito cuja elevação bem longe estava então de avaliar, nunca me faltou." E ainda à pág. 275 Kardec pergunta: "Terás animado na Terra alguma personagem conhecida?"

R.- Já te disse que, para ti, sou a Verdade; isto, para ti, quer dizer discrição; nada mais saberás a respeito." ( o último grifo é nosso)

    Nota-se aí a nítida intenção de Kardec e do Espírito superior em não revelar a identidade do Espírito.

    Ora se Jesus, Kardec e seu protetor, o Espírito de Verdade, não tiveram este propósito, quem poderá faze-lo?

Enfim, dar identidade aos Espíritos, querendo suplantar-lhes o desejo de permanecer incógnitos é mergulhar num processo de adivinhação, quase sempre fadado ao erro, desrespeitando-os. O mais valioso da Terceira Revelação não foi colocar em evidência o revelador, mas a REVELAÇÃO, que é de origem divina.; o importante não foi revelar o Espírito, mas a VERDADE, e o Espírito da Verdade está presente em toda a obra da Codificação.

    Fernando A. Moreira




Perguntas
Morte Prematura, Paulo Rosa, Brasil

    Minha filha Virgínia Maria Magalhães Rosa aos 19 anos de idade faleceu num acidente onde uma ambulancia colheu-a em uma calçada em frente a catedral de Denver-CO nos Estados Unidos. A minha filha abriu mão de tudo de ter ficado com os pais e uma irmã de 17 anos, de um carro que prometi comprar quando fizesse 18 anos Da faculdade de Turismo e a outra faculdade de Letras (Portguês/Inglês). Aos 18 anos de idade ela pediu para ir p/ Estados Unidos com os primos que ali residem, lá chegando foi matricular num faculdade de Turismo pra dar continuidade e começou a trabalhar pois falava fluentemente inglês, devido aos 4 anos de idade me pediu que colocasse num curso de Inglês e terminou aos 18 anos.

    Quando ia fazer 19 anos de idade ela me convidou para passar o seu aniversário com ela em Dever-CO, e embarquei no dia 03 de novembro de 2000, e passei um mês com ela, retornoando no dia 04 de dezembro ao Brazil, no dia 08 de dezembro de 2000 ela faleceu de acidente em frente a catedral de Denver-CO - USA.

    Detalhe ela sempre comentava com colegas que um dia ia p/ Estados Unidos que era o seu sonho. Chegou a dizer para mim lá nos Estados Unidos que se moresse hoje o seu sonho estava realizado. Gostaria de uma psicografia, uma mensagem dela para mim.

    Paulo Cesar Rosa


Caro Paulo,

        Em essência ninguem morre, apenas muda de local de residência - no caso de sua filha, em vez da vida em um outro pais, nos Estados Unidos, as circunstâncias a levaram para um plano diferente da vida, para o chamado plano espiritual. Os laços de amor permanecem e os entes queridos continuam em novas experiências de vida.

        Sei que a dor da separação não é pequena, que o choque de uma desencarnação nos abala até os alicerces do ser, mas com o Espiritismo aprendemos que ela - a separação - não é absoluta, muito menos definitiva. Não só pensamentos e sentimentos atravessam a barreira entre os dois planos de vida, como muitas vezes a misericordia divina nos permite o ensejo da comunicação mediunica., seja através de médiuns, seja através de intuições e encontros no estado do sono fisico.

        Toda vida é um percurso, um programa educativo, que o Espírito atravessa em busca de maior compreensão. Em determinadas ocasiões pode ser um percurso curto, tal qual a de sua filha, onde talvez o desafio maior seja justamente o aprendizado da paciência e da resignação perante os designios divinos, de ambas as partes envolvidas  - pois sua filha também sente saudades e também precisa reiniciar sua vida em novas situações. A fé em Deus e a oração; a esperança no futuro e o trabalho fraterno, rendendo homenagem a ela através do amor ao próximo, são fontes de força e de equilibrio que lhes permitirão atravessar os momentos dificeis.

        Não temos como lhe fornecer as noticias diretas que solicita, pois não somos mais que um grupo de estudos, que reune aprendizes da Doutrina no intercâmbio amigavel de idéias, mas não temos duvidas que - de uma maneira ou outra, no momento propricio - elas lhe chegarão.

        Muita Paz,

        Do amigo,
        Carlos Iglesia



Dúvidas & Questionamentos, Ricardo, Brasil

    Gostaria de alguns esclarecimentos com relação à existência de Deus, dos espíritos (vida após a morte) e fenômenos
paranormais ou sobrenaturais. Recentemente enviei um e-mail a um colega de curso (faço engenharia elétrica na UFRN - Natal-RN) que é espírita e frequentador de reuniões aqui na Federação espírita do RN, explicando minha situação. Postarei a seguir o e-mail que enviei (praticamente inalterado), já que ele descreve basicamente minha situação.

    Bem, como esses assuntos que dizem respeito a religião e ciência ao mesmo tempo tendem a ser um tanto desorganizados,
tentarei abaixo a descrever meu problema (incluindo um rápido histórico sobre mim) e quais são meus principais questionamentos e motivos para tanto. Sinta-se a vontade para dar opiniões suas bem como de quaisquer pessoas que julgues serem úteis.

1 - Histórico

    Inicialmente fui criado sem muitos vínculos religiosos devido aos meus pais trabalharem e a morarmos numa granja. Nunca
presenciei (nem as pessoas próximas a mim - pelo menos que eu saiba) nenum fato "estranho" ou "misterioso" que me pudesse
despertar algum interesse. Meu primeiro contato real com a religião foi em Alexandria-RN com a Igreja Católica (devido a minha família pertencer quase que em unanimidade a essa religião), mas foi em Nova Cruz-RN que esse contato teve realmente relevância, pois estudei num colégio de freiras (e diferentemente do que ocorre em muitos deles) onde havia uma disciplina "Religião" onde eram passados vários conceitos e "filosofias", apesar de haver outras atividades onde também se exercia bastante influência (já que várias das professoras eram as próprias freiras).

    Fui um aluno exemplar (de notas razoavelmente boas e comportamento bom), inclusive nas aulas de catecismo.

    Eu realmente acreditava em muitas das coisas que me eram passadas, principalmente pelo fato de eu saber que as pessoas
que me estavam ensinando queriam o meu bem e eu saber que elas não estavam mentindo. "Só podia ser verdade", pensava.

    Como sempre fui relativamente curioso com relação a fenômenos físicos (e com a ciência em geral) comecei a ter certo
contato e a observar como algumas pessoas usavam certos procedimentos e certa lógica para tentar "domar" as forças da
natureza e, o que me deixou bastante excitado, o fato de algumas vezes essas pessoas conseguirem extrair ferramentas e
tecnologias que mudaram, mudam ou podem mudar (para melhor) a nossa vida.

    Outro ponto que acho bastante forte é que o fato de eu ter assistido a muita televisão quando criança (sobretudo filmes e
seriados, alem de desenhos, é claro) me trouxe (surpreendentemente) algo de bom. Eu começei a ver que inúmeras crenças eram propagadas sem que se pensasse realmente em suas bases (pelo menos com alguma dúvida - tão natural do homem em vários outros campos) e que, apesar de qualquer religião poder (a princípio) estar certa, uma vez passadas algumas gerações, as pessoas passam a acreditar por uma espécie de "força do hábito" e talvez como eu um dia, influenciadas pelo peso de opiniões compartilhadas por inúmeras pessoas que muitas vezes nos parecem claramente estarem dizendo sinceramente a verdade e, na maioria das vezes, realmente estão (pois elas realmente acreditam naquilo que falam). O que me ocorreu é que eu comecei a não ver mais diferença entre a minha crença e as poucas outras sobre as quais ouvira falar. Até mesmo as dos índios dos filmes na TV me pareciam em muitos aspectos tão legítimas quanto as minhas. Ao mesmo tempo, coisas em que eu acreditava estavam sendo reavaliadas, e mesmo negadas, por algumas das pessoas a que eu admirava outrora devido a capacidade de terem descoberto coisas fundamentais para a sociedade em que vivo hoje. Chamarei essas pessoas de
cientistas.

    Antes de continuar, gostaria de clarear um pouco o conceito que tenho sobre ciência e cientistas (que foi recentemente
complementado por um artigo de Alberto Mesquita filho e outros num grupo de discussão sobre ciência).

    A palavra ciência, se não me engano, significa o conhecimento das coisas. No entanto nada nos garante que qualquer modelo que tenhamos em mente para compeender qualquer tipo de fenômeno seja realmente condizente com o que de fato acontece (nem ousarei entrar em uma discussão sobre o que seria real. Pelo menos por enquanto), assim vejo que há muitas ciências e muitos cientistas, mas também vejo que alguns deles compartilham uma série de "conceitos" e "procedimentos" e
(talvez) ideologias, e que essas pessoas obtiveram grande êxito em descobrir/desenvolver ideias que ajudaram e/ou ainda ajudarão o homem a melhorar suas condições de vida. Esse tipo de conecimento e procedimento para obtê-lo é que chamo de ciência e as pessoas que usam esses procedimentos é que chamo-as cientistas.

    Enfatizo que a definição acima é apenas um modo de me referir à atitude que acho mais coerente (não significa que
desmereço qualquer outro tipo de conhecimento, quando não o chamo de ciência). Sei lá! Eu poderia chamar isso de "ksdjfkl" ou qualquer outro nome, entende?

Voltando ao meu histórico.

    Após ter um certo contado com algumas contradições entre a minha religião (ainda era católico) e a "ciência", comecei a me
surpreender com o fato de pricípios e idéias que antes me eram tão certos poderiam ser tão facilmente postos a prova através de certa lógica e/ou experimentos. Talvez se nessa época eu tivesse tido um maior contato com alguma religião mais "maleável" como é o espiritismo ou mesmo outras, eu tivese me mantido religioso. Como isso não aconteceu, acabei entrando em um processo que me levou progressivamente ao agnosticismo e em seguida ao ateismo (minha situação atual).

    Quando me defino como ateu, quero dizer que, embora tenha consciência de que possa estar errado, não acho que haja
um deus que criou o universo, etc. Ou seja: dentre as duas possibilidades (a existência de Deus e ou espíritos ou a
inexistência de ambos), escolhi (por enquanto) a da não existência.

2 - Meus objetivos

    a) Saber se, como muitas pessoas afirmam, há um Deus criador do universo (ou um Deus que seja ser superior aos
homens, sobre os quais exerce alguma influência);

    b) Saber se, como muitas pessoas afirmam, o homem possui um espírito (alma, princípio inteligente ou outra denominação
qualquer) que sobrevive após a morte;

    c) Se é possível se comunicar com os espíritos dos mortos;

    d) Se há fatos sobrenaturais que realmente ocorreram (como visão à distância, telepatia, predição do futuro, materialização, etc).

3 - Meus motivos

    a) Não quero PROVAR que nada disso existe ou não. MUITO antes disso quero SABER se realmente existem ou não. Melhor seria dizer que, como já admiti, minha escolha em ser ateu e não acreditar nesses fenômenos se dá apenas por essa hipótese me parecer (devido aos argumentos a mim apresentados até agora e às poucas evidências por mim conhecidas) a "melhor". Ou seja, apesar de reconhecer a nossa tendência à "inércia" de opinião (afinal, baseamos toda a nossa vida até agora nesses "pilares" que julgamos serem sólidos), sabendo que lá no fundo todos nós gostaríamos de estarmos certos em cada uma das nossas crenças. Pretendo na medida do possível buscar a explicação mais coerente com a realidade por nós percebida (que é a única com a qual podemos trabalhar. Veja que percebida aqui não enquadra apenas os 5 sentidos normais, mas quaisquer que sejam as formas de percepção), pois acredito que quanto melhor o modelo adotado mais sucesso o homem terá em melhorar progressivamente suas condições de vida/evolução seja material ou, como aqueles que acreditam, espiritual.

    b) Apesar de muitas pessoas acharem que não se deve dar muita importância a essas dúvidas filosóficas/religiosas, não
consigo deixar de notar claramente que o caminho que estamos trilhando depende FORTEMENTE do conhecimento que temos de nós mesmos e do modo como percebemos o "mundo real". Mesmo a mais simples das teorias pode levar a um caminho que talvez não seja tão promissor quanto um caminho alternativo proposto por outra teoria que foi, muitas vezes devido a primeira, descartado sem a devida análize, comparação e, até mesmo, o devido conecimento do mesmo.

    Numa das conversas com minha namorada que se chama Emanuelle (ela é espírita), estavamos falando sobre o fato de serem verdadeiras ou não as curas mediúnicas (quer através de cirurgias, ou mesmo de passes magnéticos). A apesar de não acreditar, eu apenas gostaria de ver algum artigo bem feito e publicado em algum periódico cujo histórico implique confiança (ou poderia até ver "in loco" uma demostração de um experimento, caso possível). Ao propor isso, ela reclamou, dizendo que o importante era que pessoas haviam sido curadas, sendo todo o resto despresível.

    Quando falei sobre alguns testes que se costuma fazer para comprovar a eficiência de medicamentos em geral (não sei se vc já ouviu falar) surgiu um problema que, na hora, não comentei com ela, pois não tinha ficado claro para mim. Explicarei a seguir (suporei que vc não conhece o método, se conhece não leve a mal. É só para economizar tempo).

É mais ou menos o seguinte:

    Se reuniriam dois grupos de pessoas (o número, idealmente, teria que ser o maior possível, mas deve haver meios de determinar o mínimo aceitável. Realmente não sei como fazer, mas isso é detalhe da estatística e não deve ser difícil conseguir a informação).

    Digamos que o teste a ser feito seria sobre os passes magnéticos.

    Um grupo seria tratado por um magnetizador real (de preferência com eficácea reconhecida dentro do meio onde trabalha) e o outro seria tratado com um falso magnetizador escolhido aleatoriamente (e que fosse reconhecidamente, inclusive pelos espíritas, de pouca eficiência - pelo menos do ponto de vista de conseguir influenciar positivamente o paciente).

    O pulo do gato é fazer com que os pacientes não saibam que estão sentro tratados pelo falso magnetizador ou pelo verdadeiro. O ideal é que se quer eles soubessem da existência de uma experiência, mas como isso é muito difícil por questões éticas, seria suficiente que pelo menos não soubessem por qual magnetizador (o verdadeiro ou falso) estão sendo tratados.

    Após tal fase, se passaria pela análise dos resultados, onde os índices de melhoras/curas de cada grupo seriam comparados
e, caso fosse obtida alguma diferença que superasse as expectativas previstas pela estimativa da variância esperada para
os resultados de cada grupo, se chegaria a uma primeira confirmação sobre a existência (e uma possível correlação) entre a
aplicação do passe magnético e o índice de cura. Dependendo do resultado, poderiam ser necessários outros testes, é claro (e
provavelmente muitos iriam querer replicá-lo).

    Após ter explicado o teste, Manu (como a chamo carinhosamente) continuou achando que não importaria se o grupo que não recebeu passe experimentasse a mesma taxa de curas que o outro. O importante seria que pessoas teriam sido curadas.
Realmente alguma coisa ainda continuava a me dizer que havia um problema, mas não conseguia ver qual era. Pensei em como eles aplicavam métodos semelhantes e descartavam medicamentos que apresentavam taxas de cura iguais ao grupo que não os
recebeu, mas apenas pensava que havia recebido (esse tipo de reação do corpo, estimulada por boas espectativas, chama-se
efeito "placebo").

    Comecei a me perguntar porque a medicina não começa a usar o efeito placebo, estimulando-o intencionalmente para ajudar no tratamento das pessoas, ou mesmo porque não se estuda o próprio efeito placebo e se tenta verificar quais suas limitações (já imaginou como seria bom curar várias doenças usando a própria força do organismo?). Aí me veio uma dúvida: e se realmente não existe efeito placebo? E se na verdade esse efeito é causado por algo sobrenatural (quer venha da própria pessoa ou de pessoas próximas)? E se existe? No entanto já há vários estudos que apontam para a existência de tal efeito (apesar de poderem haver outras teorias que melhor o expliquem, inclusive alguma espírita, eu naõ sei...). Supondo que há o efeito placebo (ou seja: as pessoas podem experimentar melhoras significativas quando estão psicologicamente confiantes na cura) não seria melhor se estudar o próprio efeito placebo e tentar usá-lo para nosso bem (caso o passe tivesse mostrado os mesmos resultados que ele, indicando que fosse possível - veja bem, eu disse possível - que o efeito do passe fosse nulo, sendo na verdade o efeito placebo)? Não seria prudente investigar essa teoria em lugar de continuar simplesmente aplicando os passes, mesmo sabendo que os resultados obtidos poderiam ser frutos do efeito placebo?

    Bem, acho que para um primeiro e-mail já escrevi demais. :-))

    Se há alguma ofença no texto, me desculpe. Não foi minha intenção (no entanto gostaria que fosse indicada para eu não
cometer o mesmo erro outras vezes).

    Obs.: Estou supondo que não há muitas experiências bem controladas (estatística ou proceduralmente) realizadas nesse campo (por espíritas ou não), pois apesar de já ter ouvido muitos falarem, nunca vi realmente nenhum. Lembro-me algo que saiu na Veja. Procurarei e verei se há realmente dados conclusivos (apesar de a veja não ser uma publicação cientificamente confiável - já vi publicadas algumas asneiras, se não me engano, no campo da física).

    T+ e obrigado pela paciência.

    Desculpem-me por qualquer tratamento pessoal do texto, mas espero não haver nenhum problema que afete o núcleo da idéia. Obrigado pela atenção. []'s...and justice for all.

Ricardo Gentil de Araújo Pereira


Prezado Ricardo.

    Inicialmente gostaria de te agradecer pela oportunidade que nos dá de podermos trocar idéias sobre assuntos tão importantes em nossas vidas. Na exposição clara e muito bem elaborada dos seus questionamentos e pontos de vista, em momento algum voce perpetrou qualquer ofensa ou emitiu qualquer conceito desairoso, de modo que não há razões para se preocupar em pedir desculpas.

    Idubitavelmente, a jornada do auto-conhecimento é tarefa que cabe a cada um de nós. Entretanto, no permanente relacionamento que travamos com o outro através da observação e da troca de experiências, vamos construindo a nossa lógica no entendimento da dinâmica da vida. Assim é que os seus questionamentos são perfeitamente válidos e expressados de forma que nos permite vislumbrar através da leitura atenta dos mesmos, o firme propósito da busca da verdade.

    Sem a menor pretensão proselitista, nem tão pouco a vaidade de acharmos que estamos do lado da verdade, quero apenas fazer algumas poucas colocações, as quais poderão servir de indicativos para direcioná-lo na sua própria jornada em busca do ?conhece-te a ti mesmo?. Assim como você, eu também tive os meus momentos de dúvidas e incertezas, talvez decorrentes das mesmas experiências vividas no passado, o que aliás é o caso de muitos. Nascí em família católica e por contingência dessa realidade percorri os caminhos naturais impostos pelas convicções dos meus pais. Também fui para  o seminário, onde estudei por quatro anos, uma vez que um dos maiores sonhos acalentados pela minha querida mãe era o de ter um filho padre ou uma filha freira. Muito embora quatro de nós tenha percorrido o mesmo caminho, o sonho não vingou, porém vivemos esta experiência que por certo nos foi e será muito útil na inarredável necessidade de aprendizado na marcha evolutiva de cada um de nós.

    Para iniciar eu partiria do seu próprio questionamento, no ponto em que assim voce se expressou:

     ?Após ter um certo contato com algumas contradições entre a minha religião (ainda era católico) e a "ciência", comecei a me surpreender com o fato de pricípios e idéias que antes me eram tão certos poderiam ser tão facilmente postos a prova através de certa lógica e/ou experimentos. Talvez se nessa época eu tivesse tido um maior contato com alguma religião mais "maleável" como é o espiritismo ou mesmo outras, eu tivesse me mantido religioso. Como isso não aconteceu, acabei entrando em um processo que me levou progressivamente ao agnosticismo e em seguida ao ateismo (minha situação atual).
    Quando me defino como ateu, quero dizer que, embora tenha consciência de que possa estar errado, não acho que haja um deus que criou o universo, etc. Ou seja: dentre as duas possibilidades (a existência de Deus e ou espíritos ou a inexistência de ambos), escolhi (por enquanto) a da não existêcia.?

    Em sua pequena obra intitulada ?O Que é o Espiritismo? Allan Kardec assim se manifesta: ?É erro crer que se exija fé antecipada de quem quer estudar; o que se exige é  boa-fé, aliás coisa diversa;?

    Assim Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, no mesmo opúsculo, define o Espiritismo:

    "O ESPIRITISMO É, AO MESMO TEMPO, UMA CIÊNCIA DE OBSERVAÇÃO E UMA DOUTRINA FILOSÓFICA. COMO CIÊNCIA PRÁTICA ELE CONSISTE NAS RELAÇÕES QUE SE ESTABELECEM ENTRE NÓS E OS ESPÍRITOS; COMO FILOSOFIA, COMPREENDE TODAS AS CONSEQÜÊNCIAS MORAIS QUE DIMANAM DESSAS MESMAS RELAÇÕES."

    Não posso ter a noção exata do que você entende por ?alguma religião mais ?maleável? como é o espiritismo?, nem mesmo até que ponto você conhece os postulados da Doutrina Espírita. Entretanto, a sua colocação nos faz imaginar que o pouco que  voce conhece sobre o Espiritismo lhe dá uma idéia de uma filosofia lógica e racional. É verdade, estes predicados estão realmente presentes na essência do espiritismo.  Allan Kardec chegou a ser chamado de ?o bom senso encarnado? e a Doutrina Espírita recebe a denominação de ?A Fé Raciocinada?.

    Eu não tenho dúvida que se você se dispuser ao estudo sério e criterioso desta Doutrina lógica, racional e abrangente em seus aspectos científicos, filosóficos e morais (religiosos), você por certo se surpreenderá e passará a ver a vida e o mundo sob um outro ângulo. O próprio codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, homem culto e dotado de um espírito crítico sem igual, a princípio duvidou e muito da existência do espírito e da possibilidade da sua relação com o mundo corporal.

    Através do estudo persistente e criterioso das obras da codificação, que é a base segura do conhecimento acerca da Doutrina dos Espíritos, voce obterá  resposta aos seus questionamentos constantes do item ?2 - Meus objetivos? do seu escrito. Como sugestão e diria que seria interessante iniciar esta viagem pela leitura do livro ?O Que é o Espiritismo? acima citado, o qual foi dirigido aos principiantes com o fito de iniciar-lhes nas noções mais essenciais da Doutrina Espírita. Na sequência voce poderia seguir na leitura de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, A Gênese, e Obras Póstumas.

    Hoje a literature espírita é vastíssima, tendo em vista que o Movimento Espírita cresce em todo o mundo, haja visto que a sua mensagem tem respondido ao apelo das consciências em busca do auto-conhecimento e do próprio aperfeiçoamento. Nessa grande e volumosa produção literária, equívocos no tocante a abordagem e interpretações aos princípios fundamentais da Doutrina Espírita existem. Assim, é de fundamental importância que se conheça antes de tudo a base, para não se deixar levar por interpretações equivocadas. Daí a importância de se iniciar o estudo dos postulados espíritas através da sua base firme e sólida que é a codificação, consubstanciada nas obras acima mencionadas.

    Aliado ao plano de estudos acima sugerido é de fundamental importância o conhecimento das obras dos grandes estudiosos que ajudaram na solidificação das bases científicas e filosóficas da Doutrina Espírita, desde o seu nascimento. Dentre estes nomes destacamos os de Léon Denis, Gabriel Delanne, William Crookes, Camille Flammarion, Gustave Geley, Charles Richet, entre outros. O entendimento claro dos princípios fundamentais que formam a estrutura básica da Doutrina Espírita, o que somente se adquire através do estudo das obras mencionadas, é ferramenta indispensável para se prosseguir na busca de novos conhecimentos neste intrincado universo de relações entre nosso mundo corporal e o mundo espiritual. A partir de então fica mais fácil o escrutínio e a assimilação das mensagens que nos são trazidas permanentemente através da vasta obra mediúnica, dentre as quais destaca-se a grande obra de Francisco Cândido Xavier, ditadas através dos Espíritos André Luiz e Emmanuel, dentre outros.

    É também oportuno ressaltar aqui que o fenômeno psíquico tem sido objeto da preocupação de muitos homens cultos e ligados à comunidade científica, os quais desde o início do século XIX empreenderam longos e sérios estudos nessa area. Todos os fenômenos mencionados na letra ?d?, do item ?2 - Meus Objetivos?, da sua mensagem, a saber: visão à distância; telepatia, predição do futuro, materialização; etc, foram objeto de amplas pesquisas e estudos sérios ao longo dos últimos duzentos anos.

    No ano de 1882 fundou-se em Londres a Society for Psychical Research a qual catalizou o esforço de cientistas de vários países no estudo e pesquisa dos fenômenos psíquicos, e em seguida esta instituição espandiu-se criando a sua filial Americana com a denominação de American Society for Psychical Research. O trabalho produzido por esta instituição bem como pelos cientistas e pesquisadores a ela ligados é vastíssimo e altamente significativo no campo da análise e pesquisa da fenomenologia medianímica. Homens do calibre de um William James, Charles Richet, Sir Oliver Lodge, Richard Hodgson, Frederic W. H. Myers, J. B. Rhine e muitos outros, durante muitos anos empreenderam grandes esforços na busca de desvendar e conhecer mais profundamente o fenômeno psíquico. O trabalho literário destes grandes homens nesta área do conhecimento humano é de fundamental importância e nos ajuda a entender a verdadeira dimensão da Doutrina Espírita.

    Para não me estender muito nesta minha tentativa de colaborar com algumas sugestões para os seus questionamentos, eu sugeriria a leitura da extraordinária obra de William Crookes, membro da Royal Society (Academia de Ciências da Inglaterra), intitulada ?Fatos Espíritas? edição da Federação Espírita Brasileira, a qual  deixará você muito bem  informado a respeito do vastíssimo trabalho de pesquisa desenvolvido no campo das manifestações espíritas. Outra obra clássica que é também considerada unanimemente como o mais significativo trabalho nesta área do conhecimento humano, é o livro intitulado ?Human Personality  and its Survival of Bodily Death?, de autoria de F. W. H. Myers, um dos fundadores da SPR. Eu não possuo informações seguras, mas me parece que esta obra foi traduzida para o português. Ainda mencionaria aqui como sugestão um outro pequeno e interessantíssimo livro, de autoria de Arthur Conan Doyle, intitulado ?A Nova Revelação?. É isto mesmo, Conan Doyle o criador do famoso personagens de muitos filmes, ?Sherlock Holmes?, ele foi fundo na análise dos fenômenos psíquicos e tornou-se um dos seus grandes defensores. Neste livrinho ele descreve com maestria a forma com que isto se deu, em que ele abandonou a postura de céptico e crítico ferrenho e passou os últimos anos de sua vida trabalhando em prol da divulgação da Nova Revelação.

    Em relação à questão dos passes espíritas, que a primeira vista pode parecer algo simplório e destituído de maior significativo, é na verdade uma técnica de valor terapeutico ainda longe de ser entendida em sua real amplitude. Caso se interesse por conhecer mais sobre a importância e a abrangência deste notável instrumento terapeutico capaz de proporcionar reequilíbrio orgânico, psíquico, perispiritual e espiritual, eu recomendo que voce leia o excelente livro O Passe, de autoria de Jacob de Melo, um conterrâneo seu ai mesmo de Natal.

    Finalisando Ricardo, espero que as minhas sugestões, as quais são absolutamente destituídas de quaisquer outros intersses, a não ser o de simplesmente tentar ajudá-lo nesta busca do auto-conheciento, lhe possam ser úteis. Com a veiculação dos seus questionamentos no boletim do GEAE, por certo outras sugestões virão. Faço votos que voce se atire de corpo e alma nesta tarefa de ?buscar a explicação mais coerente com a realidade por nós percebida?, e como voce muito bem realçou, use para tanto não só os habituais instrumentos dos ?cinco sentidos normais?, mas apele também para ?quaisquer que sejam as formas de percepção?, especialmente a intuição.

Muita Paz,
Antonio Leite
Editor GEAE



Painel
Encontro Espírita em Nova Iorque, Norma Guimarães, USA

    Caros confrades, gostaríamos, se possível contar com o apoio deste órgão informativo para divulgar nosso Encontro Espírita em Nova York (SENY- 01). Contando com a colaboração e o carinho de voces, nos colocamos às ordens, aqui em NY.

Sinceramente
Norma Guimarães

REALIZAÇÃO
ALLAN KARDEC SPIRITIST CENTER (718) 639-3041, NY
GRUPO ESPÍRITA AMOR E LUZ (201) 941-8811, NJ
GRUPO ESPÍRITA CAMINHO DA LUZ (203) 778-6608, CT

APOIO
USSC -  UNITED STATES SPIRITIST COUNCIL
CLUBE DE ARTE DO LAR FABIANO DE CRISTO (BRASIL)

Tema geral
NO LIMIAR DOS NOVOS TEMPOS






Dia 18, sexta-feira  - Manhattan

7:00 pm - Recepção
7:30  pm- Abertura: Alamar Régis
7:45 pm- Palavra do presidente do USSC: Vanderlei Marques
De 8:00 às 9:30 pm- Palestra: A CRIAÇÃO
1o - módulo -  A construção de Deus - César Reis
2o - módulo  - Deus em nós - Eduardo Guimarães

LOCAL: Community Church, 40 E   35 St - (entre Madison e Park Ave)
Trains:  Todos que param na Penn Station, 34 Street e Trem 6, estação 33 Street.
(ob: somente a abertura será em Manhattan)

Dia 19, sábado  - Queens

11:30 AM  - Recepção
12:00 pm - Palestra : A REENCARNAÇÃO  - Carlos Campetti
1:00 pm - Seminário: O SER EM EVOLUÇÃO - Julio Cezar Roriz

(2:00 às 2:30 break para lanche)

32:0 às 4:30 pm - Conclusão do seminário:

(4:30 pm `as 4:45 pm - break para cafezinho)

4:45 pm às 5:45 pm  - Palestra - O ESPIRITISMO NO DIA A DIA- Cesar Reis

*Atividade em inglês de 6:00 às 7:20 pm

Tema: Workers of the last hours
Jussara Korngold and Marcelo Almeida

Dia 20 - domingo - Queens

11:30 pm às 12:00 pm - Recepção
12:00 às 12:45 pm - Palestra  - OS APÓSTOLOS DE JESUS - Miguel Sardano
12:45 à 1:45 pm - Palestra - AS 5 CONDIÇÕES PARA UM ENCONTRO COM JESUS  - César Reis

(1:45 às 2:15 break para lanche )

2:15 às 4:30 pm - Perguntas e respostas com a participação de todos os oradores
Tema: AÇÃO MEDIÚNICA - abordagem inicial: Julio Cézar Roriz

(4:30 pm `as 4:45 pm break para cafezinho)

4:45 pm às 5:45 pm - Palestra de encerramento - AINDA E SEMPRE JESUS - Eduardo Guimarães

*Atividade em espanhol de 6:00 pm `as 7:20 pm

Tema: LA Mensage de Cristo Permanecera
Carlos Campetti y Luiz Figueroa

    Para cobrir os custos do evento, estipulamos os seguinte preços e promoções abaixo. Mais de uma inscrição feita com o mesmo coupon deverá constar os dados num papel à parte. Favor preencher, destacar e  retornar com cheque ou ?money order? para Allan Kardec Spiritist Center - P.O. Box 70-1037, Flushing, NY - 11370  - Tel: (718)639-3041. Inscrições feitas até 30 de abril terão descontos.
 
 

             Para os 3 dias de atividades:  $37.00    (    )  Com desconto: $33.00  (    )
                              Dias individuais -  $13.00   (    )  Com desconto: $12.00   (    )








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