Grupo de Estudos Avançados Espíritas

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Fundado em 15 de outubro de 1992
Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade", Allan Kardec


Ano 09 - Número 408 - 2001            9 de janeiro de 2001

Conteúdo
Editorial Textos Comentários Perguntas Painel

Editorial
Mais uma Etapa de Trabalhos

   Mais um ano chega ao seu final e paramos para refletir e analisar o nosso papel no contexto dinâmico da vida. Ainda muita ansiedade, dúvidas e incertezas nos assaltam o espírito, uma vez que o panorama da existência nos mostra com mais intensidade os problemas que ainda afligem a humanidade na sua caminhada evolutiva. Por mais que tentemos, não podemos ainda ficar alheios a estas questões cruciantes do nosso dia-a-dia, as quais muitas vezes nos angustiam e até mesmo nos fazem viver um certo desvanecimento. É ainda muito grande o clamor contra as injustiças, a fome, a miséria, a violência e a massificante pulverização dos meios de comunicação com a exaltação ao luxo, à ganância e a exploração do prazer sexual.

     Devemos entrentanto nos esforçar na busca de opções que nos impulsionem para outra direção. Devemos sobretudo nos esforçar no sentido de contribuir com a nossa parcela efetiva de ação e vibração mental, para mudar o quadro ainda reinante no nosso planeta. Não podemos nos deixar influenciar pelos exemplos negativos, até mesmo porque exemplos positivos existem e nos deparamos com os mesmos no nosso dia-a-dia. Conscientes hoje que somos da inarredável realidade de que colheremos amanhã o que semearmos hoje, procuremos vibrar numa sintonia mais condizente com os nossos conhecimentos e assumamos o compromisso de trabalhar arduamente na realização do bem, direcionado a qualquer um, e em qualquer lugar que estejamos. Esta postura será o antídoto necessário à promoção da verdadeira transformação do panorama ainda reinante no nosso Planeta Terra.

     O GEAE nasceu de uma idéia simples, e sem a ilusória pretensão de querer transformar o mundo da noite para o dia, tem dado a sua modesta parcela de contribuição na disseminação dos postulados espíritas por intermédio deste extraordinário veículo de comunicação - a Internet. Olhando para trás podemos ter a certeza de que o balanço foi positivo. Olhando para frente vislumbramos os grandes desafios que ainda nos esperam, os quais teremos que enfrentar com o firme propósito de servir e contribuir na construção de um mundo regenerado.

     Neste início de milenio mais uma frente de trabalho toma corpo neste pequeno universo de pessoas unidas em torno do mesmo propósito. A iniciativa de editar mais um boletim em espanhol - o Mensajero Espirita - é das mais louváveis e por certo dará um significativo impulso nas atividades do GEAE, bem como contribuirá para solidificar o Movimento Espírita pelo mundo. Que Deus nosso Pai e a espiritualidade amiga que nos assiste mais de perto iluminem todos os colaboradores desta nova tarefa..

    Como todos sabemos, o GEAE é na verdade formado por um grande número de colaboradores espalhados pelo mundo, os quais mantêm acesa a flama da cooperação através do estudo fraterno da Doutrina Espírita. É grande o número de colaborações que nos chegam diariamente, pelo que somos gratos e pedimos desculpas por não poder veicular todas no boletim, por absoluta falta de espaço.

     A partir deste número estaremos brindando os membros do GEAE com mais uma dessas excelentes colaborações, desta feita com a História do Cristianismo, a qual pretendemos dar continuidade, publicando os demais capítulos por etapas nos próximos boletins. Trata-se de um trabalho muito bem elaborado didaticamente, e por certo agradará a todos que o lerem. O mesmo foi produzido pela equipe da UCE-União Espírita Cearense, sob a coordenação do confrade Maurício Júnior, e aplicado na forma de um curso de 4 meses.

    Queremos nesta oportunidade agradecer a todos os colaboradores do GEAE e reafirmar o propósito de continuarmos trabalhando juntos e unidos nesta grande e importante tarefa de difusão da Doutrina Espírita, que por certo será o maior intrumento na promoção de um mundo regenerado.

Conselho Editorial do GEAE.




Textos
História do Cristianismo, Parte I, Maurício Júnior, Brasil

AULA 1 - ORIGENS DO PENSAMENTO RELIGIOSO

Origens do Politeísmo
Politeísmo e Paganismo
Características Comuns das Religiões Politeístas

1 - ORIGENS DO POLITEÍSMO

    A concepção que o ser humano faz de Deus se amplia com o passar do tempo. O homem, nos primórdios da civilização, carente de um pensamento abstrato que lhe possibilitasse uma postura mental reflexiva, e com um desenvolvimento psíquico ainda muito incipiente, mantinha suas percepções tão-somente da realidade física que o cercava.

    Assim, incapaz, pela sua ignorância, de conceber um ser imaterial, sem forma determinada, atuando sobre a matéria, conferiu-lhe o homem atributos da natureza corpórea, isto é, uma forma e um aspecto, desde então, tudo o que parecia ultrapassar os limites da inteligência comum era, para ele, uma divindade. Tudo o que não compreendia devia ser obra de uma potência sobrenatural.

    Podemos assim, definir Politeísmo como sendo a crença religiosa numa pluralidade de deuses ou a adoração de mais de um deus.

    A palavra deus tinha, entre os antigos, acepção muito ampla. Não indicava, como presentemente, uma personificação do Senhor da Natureza. Era uma qualificação genérica, que se dava a todo ser existente fora das condições da Humanidade.

    Entre os vários fatores responsáveis pela criação e multiplicação dos deuses devemos salientar: a) a personificação das forças da natureza (mit. astral, deuses telúricos e subterrâneos, deuses da fecundidade) e a sua consequente elevação ao reino da divindade; b) a divinização de antepassados e heróis; c) a centralização política dos grandes Estados, provocando a fusão e a unificação de culturas e crenças.

    O Politeísmo expressou-se, através dos tempos, segundo a cultura de cada povo, em três principais sistemas: a idolatria, adoração de muitos deuses personificados por ídolos grosseiros; o sabeísmo, culto dos astros e do fogo sem intermédio de emblemas representativos,  e o Fetichismo, adoração de tudo quanto impressiona a imaginação e a que se atribui poder. Não é raro encontrar estas três formas estreitamente unidas.

2 - POLITEÍSMO E PAGANISMO

    A palavra paganismo é comumente usada como sinônima de politeísmo. Em sua essência, os dois termos guardam a mesma idéia. Entretanto, do ponto de vista histórico e teológico, não. Quando Constantino consagrou o Cristianismo como a nova religião do Império Romano os não-cristãos eram chamados de pagãos: praticantes do paganismo. Neste aspecto, foram generalizados como pagãos tanto os politeístas propriamente ditos, como os monoteístas não-cristãos.

    Feiticistas (1) na sua origem, como o são ainda hoje entre os povos selvagens, as religiões da Antiguidade eram politeístas, com uma tendência mais ou menos acentuada para o antropomorfismo. Tais eram as religiões dos principais povos antigos:  egípcios, assírios, fenícios, persas, cartagineses, gregos e romanos, gauleses, germanos.
J. Lubbock dividiu em seis períodos a história religiosa da Humanidade: 1o. - ateísmo; 2o. - fetichismo (do português feitiço, sortilégio); 3o. - culto da natureza; 4o. - xamanismo (a religião dos xamãs, feiticeiros profissionais); 5o. - antropomorfismo; 6o. - crença em um deus criador e providencial.

    A partir de um conceito desenvolvido por N. S. Bergier, em 1767, de que a mentalidade do homem primitivo era semelhante à de uma criança, que empresta uma alma e uma personalidade ativa a cada um dos objetos que a rodeiam, E. B. Tylor retomou e desenvolveu esse conceito. Segundo ele (Primitive Culture, 1872), o homem pré-histórico ter-se-ia formado de início de uma determinada noção da própria alma a qual não tardaria a assimilar a alma dos animais e das plantas, para depois passar a concebê-la sob a forma de espíritos individuais disseminados por toda a natureza. Em resultado de uma lenta seleção, daí se teria originado o politeísmo. Em algumas raças superiores (civilizadas) o deus supremo se teria tornado deus único.

    Em resumo, as religiões politeístas, em geral, adoravam vários deuses, semideuses ou heróis, formando mitologia mais ou menos rica, fértil em lendas; a cosmogonia e a teogonia se assemelhavam bastante; eram dadas a hábitos de sacrificar animais ou pessoas a fim de obter boas graças das divindades. As características físicas, morais e espirituais dos deuses eram semelhantes às dos homens, só que em grau mais elevado.

3 - CARACTERÍSTICAS DAS RELIGIÕES POLITEÍSTAS

    Reconhece-se a existência de uma religião sempre que alguma sociedade manifeste, entre as suas expressões culturais um corpo organizado de crenças que ultrapassam a realidade da ordem natural. Essa definição abrange tanto as religiões dos povos primitivos quanto as formas mais complexas de organização dos vários sistemas religiosos., embora variem muito os conceitos sobre o conteúdo e a natureza da experiência religiosa.

    Apesar dessa variedade e da universalidade do fenômeno no tempo e no espaço, as religiões têm como característica comum o reconhecimento do sagrado e a dependência do homem de poderes supramundanos. A observância e a experiência religiosas têm como objetivo prestar tributos e estabelecer formas de submissão a esses poderes, nos quais está implícita a idéia da existência de ser ou seres superiores que criaram e controlam o cosmos e a vida humana.

    Assim, poderíamos definir algumas características das religiões politeístas:

MITOLOGIA - É o estudo dos mitos. Nem toda religião está ligada a uma mitologia, mas as religiões de caráter politeísta e antropomórfico oferecem, em princípio,  à imaginação mítica, matéria própria.

MITO - É uma narração poética referente ao nascimento, vida e feitos dos antigos deuses e heróis do paganismo.

LENDA - Relato transmitido pela tradição.

ORIGEM DOS MITOS - Guarda relação com a observação da natureza e seus variados e multiformes elementos. A imaginação humana personificou os fenômenos naturais e os imaginou como individualidades livres, independentes, cuja atuação estava submetida a invariáveis leis morais e dotados, também, de uma corporeidade muito próxima da forma humana (antropomorfismo).

EVOLUÇÃO DOS MITOS - A mitologia grega era muito mais rica que a dos romanos e de outros povos, devido o espírito helênico ter sido altamente criador e o romano mais prático.

FONTE DA MITOLOGIA - Baseia-se no legado dos poetas gregos e latinos. Merece destaque a obra deixada pelo grego Homero.

COMO ERAM OS DEUSES - A aparência dos deuses era totalmente humana, porém melhorada, mais bela e majestosa; mais fortes, mais vigorosos. Possuíam todas as faculdades humanas em escala ampliada. Necessitavam, como os homens, do sono, da comida e da bebida. A comida não era igual à vulgar alimentação humana, mas se alimentavam do néctar e ambrosia. Necessitavam andar vestidos, sobretudo as deusas que escolhiam as vestes e os adornos com capricho. O nascimento era semelhante ao dos humanos, porém os deuses eram precoces e o período da infância bem reduzido. A mais importante vantagem dos deuses sobre os homens era o fato de serem imortais, nunca envelheciam, não eram atingidos por doença alguma. Moralmente, eram muito superiores aos mortais e como a maldade, a impureza e a injustiça os aborreciam não hesitavam em castigar as maldades e injustiças humanas. Apesar de toda superioridade física, moral e espiritual, os deuses estavam presos aos seus destinos, fixados desde a eternidade. Os deuses passavam a vida desocupados, num verdadeiro far niente (nada fazendo), por isto buscavam toda sorte de divertimentos e passatempos. Os deuses viviam numa grande comunidade, reunidos em torno do pai dos deuses e dos homens (o deus principal).

A COSMOGONIA - (Mitos referentes às origens do mundo) era mais ou menos semelhante entre os diversos povos politeístas, apesar de que os romanos não se cuidaram de ter ideías próprias sobre tal coisa. De um modo geral, os antigos acreditavam que o mundo surgiu a partir do caos, ou seja, de um espaço infinito e tenebroso.

A TEOGONIA - (Mitos que explicam o nascimento e descendência dos deuses), entre os diversos povos politeístas, também é similar, mudando, às vezes, nomes, locais e as lendas.

SACRIFÍCIOS - Os povos primitivos e politeístas adoravam os deuses através de oferendas, cultos, rituais que, geralmente, comportavam sacrifícios de animais ou de seres humanos. Como nos esclarece a questão 669 de O Livro dos Espíritos, os sacrifícios existiam. Primeiramente, porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade. Nos povos primitivos a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral ainda não se acha desenvolvido. Em segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem ter uma criatura animada muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isto que os levou a imolarem, primeiro animais e, mais tarde, homens.

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(1) FEITICISMO E FETICHISMO - Ambas as formas são aceitáveis, sendo que no Brasil a mais usada é a segunda.

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         TEXTOS EXTRAÍDOS DE:

Enciclopédia Barsa.
Enciclopédia Britânica.
Apostila FEB. Aspecto Religioso.
Atlas da História Universal.
SAVELLE, Max. História da Civilização Mundial.
Dicionário Prático Ilustrado. Lello & Irmãos Editores, Porto.



Desgosto pela vida. Suicídio, Germano Serafim, Brasil

  O homem não tem o direito de dispor da própria vida, somente Deus tem este direito. Por isso, o suicídio é uma transgressão da lei natural. Portanto, é importante que saibamos que tirar a própria vida é sempre um ato condenável. Porém, Deus, em sua infinita misericórdia, atenua as suas conseqüências, conforme os casos. Assim, o suicídio involuntário não é imputável a seu autor, pois o louco que o comete não sabe o que faz. Em geral, não há culpabilidade numa ação, se não há a intenção ou a perfeita consciência de que se está praticando o mal.

    O suicídio voluntário, por sua vez, pode ter por motivação diferentes circunstâncias. Em seguida, algumas delas serão analisadas pelos espíritos.

    O suicídio motivado por desgostar da vida é uma insensatez. O desgosto pela vida que se apodera de alguns indivíduos sem motivos aceitáveis é efeito da ociosidade e da falta de fé, que podem ser frutos da saciedade. O ocioso que se suicida deveria ter se dedicado ao trabalho, porque assim a existência não lhe teria sido tão pesada. O trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente para quem usa de seus atributos com fins úteis e de acordo com suas aptidões naturais. Quem ocupa seu tempo suporta as contingências da vida com mais paciência e resignação, ao mesmo tempo que trabalha objetivando a felicidade mais sólida e mais durável que o espera na vida futura.

    Por sua vez, o suicida que tem por fim escapar às misérias e às decepções deste mundo é um pobre espírito que não teve a coragem de suportá-las. Deus ajuda os que sofrem e não aos que não têm forças nem coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes serão os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados e, nestes casos, infelizes serão aqueles que, na sua impiedade, esperam para elas uma saída naquilo que chamam de sorte ou acaso. Esta pode favorecê-los por um instante, mas somente para que mais tarde sintam, e de modo cruel, o vazio dessas palavras. Também o homem que luta com a penúria e que não se mata, mas se deixa morrer de desespero, pode até ser considerado um suicida, mas, apesar disso, terá misericórdia. Não será totalmente absolvido, porque lhe faltaram firmeza e perseverança e não usou de toda sua inteligência para sair das dificuldades. Será muito infeliz se a causa de seu desespero tiver sido o orgulho, isto é, se tratar-se de um daqueles homens em quem o orgulho paralisa os recursos da inteligência, que se envergonham de dever sua existência ao trabalho de suas próprias mãos, preferindo morrer de fome a ser rebaixados do que chamam de sua posição social. A propósito, é necessário que entendamos que há muita grandeza e dignidade em se lutar contra a adversidade, em se enfrentar a crítica de um mundo fútil e egoísta, que só tem boa vontade para aqueles a quem nada falta, os  quais nos dão as costas quando deles precisamos. Por outro lado, é bom que saibamos que não deixa de ser uma estupidez sacrificar-se a vida em consideração a um mundo como este, porque ele nem se importará com este nosso ato. Para finalizar este parágrafo, ressalte-se que infelizes também serão os que levam um desgraçado a um ato de desespero, porque responderão por isso como por um homicídio. Aquele que causou um suicídio ou que poderia tê-lo evitado, é considerado mais culpado do que o suicida.

    Outra motivação para dar cabo à própria vida é a vergonha por uma má ação. Este suicídio é tão reprovável como aquele provocado pelo desespero. Na verdade, este ato não irá apagar a falta e ainda acrescentará outra.  Quando se teve a coragem de praticar o mal, deve-se ter também a coragem de sofrer suas conseqüências. Em todos os casos, Deus é quem julga e pode diminuir o rigor de sua justiça, conforme a causa. Assim é que aquele que comete suicídio, tentando com isso impedir que a vergonha envolva os filhos ou a família, não procede bem. Mas, como acredita que sim, Deus levará em conta a sua intenção, porque trata-se de uma expiação que o suicida impôs a si mesmo. Sua intenção atenua a falta, mas nem por isso ele deixa de ser faltoso, porque quem tira a sua vida para fugir à vergonha de uma má ação, prova que dá mais valor à estima dos homens do que à de Deus, uma vez que retorna à vida espiritual carregado de suas iniqüidades, tendo-se privado dos meios de repará-las durante a vida carnal. Mas Deus, que se deixa levar mais que os homens pelas súplicas, freqüentemente perdoa o arrependimento sincero e leva em conta nossos esforços no sentido de reparamos nossos erros. Por sua vez, o suicida, com seu ato, nada repara.

    O suicídio motivado pela intenção de se chegar mais depressa a uma vida melhor é um enorme erro, e louco o que pensa ser isso possível. Para atingir com mais certeza seu intento, é muito mais produtivo que viva fazendo o bem. Na verdade, ao suicidar-se, retarda sua entrada num mundo melhor e terá que pedir que lhe seja concedido voltar, para concluir a vida que interrompeu sob a influência de uma falsa idéia. Uma falta, qualquer que ela seja, jamais dá acesso ao santuário dos eleitos.
Renunciar à própria vida com a intenção de salvar a de outrem ou de ser útil aos seus semelhantes é mais que meritório aos olhos de Deus, é sublime. Isto porque nossa vida é o bem terreno a que damos o maior valor e, por isso, desistir dela pelo bem de nossos semelhantes não se caracteriza como suicídio, mas como sacrifício, e todo sacrifício que o homem venha a fazer às custas de sua própria felicidade é resultado da prática da caridade. Todavia, não podemos nos esquecer que Deus se opõe a qualquer sacrifício inútil . Assim, ao sacrificar a própria vida, o homem deve refletir sobre se sua vida não será mais útil do que sua morte. Além do mais, Deus não vê com prazer o sacrifício, se for manchado pelo orgulho. Um sacrifício somente é meritório se for desinteressado, e algumas vezes, aqueles que o praticam, têm uma segunda intenção que diminui o valor de seu ato aos olhos de Deus.

    Comete suicídio moral o homem que perece como vítima do abuso de paixões que sabe lhe abreviarão o fim, mas às quais não mais consegue resistir, porque se transformaram, pelo hábito, em verdadeiras necessidades físicas. Entende-se que ele, nesses casos, é duplamente  culpado, pois nele há falta de coragem e bestialidade, somadas ao esquecimento de Deus. É mais culpado do que aquele que tira a própria vida por desespero, porque tem tempo de refletir sobre seu ato. Diferentemente de quem é vítima do abuso das paixões, quem comete suicídio num instante de desespero vive numa espécie de delírio que se aproxima da loucura. Por isso, o primeiro, mesmo não tendo dado cabo de sua vida de imediato, será muito mais punido, porque as penas são sempre proporcionais à consciência que se tenha das faltas cometidas.

    O suicídio voluntário é um erro mesmo quando uma pessoa vê à sua frente uma morte inevitável e terrível. Não se deve abreviar a vida voluntariamente, ainda que se acredite que ela irá durar apenas por mais alguns instantes. É sempre culpado aquele que não aguarda o termo que Deus estabeleceu para sua existência.  Isto porque ninguém pode ter a certeza de que, apesar das aparências, este fim tenha realmente chegado, e que um socorro inesperado não possa vir até o último momento. Em suma, abreviar a vida, mesmo que por um instante, será sempre uma insubmissão e falta de resignação diante da vontade de Deus. A conseqüência de tal ato será sempre uma pena proporcional à gravidade da falta e de acordo com as circunstâncias em que ela foi cometida.

    A propósito, sabemos que em alguns países mulheres viúvas costumavam deixar-se queimar sobre os corpos de seus maridos. Elas não podem ser consideradas suicidas, porque obedeciam a um preconceito (ou melhor, tradição), e amiúde o faziam mais porque eram forçadas do que pela livre vontade. Mas, mesmo quando agiam espontaneamente, como julgavam cumprir um dever, seu ato não se caracteriza como suicídio. Por ele não devem ter sofrido as conseqüências como suicidas, pois são desculpáveis pela falta de formação moral e pela ignorância em que se encontravam. Esses usos bárbaros e estúpidos desapareceram com o advento da civilização.

    Cometem também enorme erro aquelas pessoas que, não se conformando com a perda de entes queridos, se suicidam na esperança de ir juntar-se a eles na vida futura. O resultado é bastante diverso daquilo que esperavam, pois, ao invés de se unirem àqueles a quem amam, acabam por se afastar ainda mais deles. Assim sucede porque Deus não pode recompensar um ato de covardia e nem o insulto que lhe é lançado por não confiarem em sua providência. Essas pessoas pagarão esse instante de loucura com aflições maiores do que as que pensaram abreviar se matando, e não terão, para compensá-las, a satisfação que esperavam de reverem seus entes queridos.

    Finalizando, a observação mostra que as conseqüências do suicídio realmente não são sempre as mesmas. Porém, algumas dessas conseqüências são comuns a todos os casos de morte violenta, isto é, aquela em que acontece a interrupção brusca da vida.

    De início observa-se a persistência mais prolongada e firme do laço que une o espírito ao corpo. Isto acontece porque este laço está, quase sempre, na plenitude de sua força no momento em que se parte, ao passo que, quando se trata de morte natural, ele se enfraquece gradualmente e, às vezes, chega até a se desfazer antes de a vida se extinguir totalmente no corpo. As conseqüências advindas desse estado de coisas são o prolongamento da perturbação do espírito, seguida da ilusão que o faz acreditar, por um tempo mais ou menos longo, que ele ainda faz parte do mundo dos vivos.

    A afinidade que permanece entre o espírito e o corpo produz, em alguns suicidas, uma espécie de repercussão do estado do corpo sobre o espírito, o qual, contra sua vontade, passa a sentir os efeitos da decomposição, proporcionando-lhe uma sensação plena de angústia e horror. Este estado pode persistir pelo tempo que ainda devia durar a vida que foi interrompida.
Este último efeito não é geral, mas em caso algum o suicida fica livre das conseqüências de sua falta de coragem e, cedo ou tarde, terá que pagar pelo seu erro, de um modo ou outro. Assim é que certos espíritos, informando terem sido muitos infelizes na Terra, esclareceram ser sua desgraça decorrente de um suicídio praticado numa existência anterior e, numa tentativa de suportá-las com maior resignação, haviam se submetido voluntariamente a novas provas.

    Em alguns casos de suicídio, nota-se a persistência de uma espécie de apego à matéria, da qual o espírito inutilmente tenta se livrar, a fim de se dirigir a mundos melhores, mas que se tornam inacessíveis a ele. A maior parte dos suicidas sente o remorso por terem praticado um ato inútil, do qual só provam decepções.

    A religião, a moral, todas a filosofias condenam o suicídio como contrário à lei natural. Todas nos dizem, em princípio, que não temos o direito de abreviar voluntariamente nossas vidas. Mas por que não nos é dado este direito? Por que não somos livres para pormos um fim em nossos sofrimentos? O Espiritismo pode nos dar a resposta, pois demonstra pelo testemunho dos que sucumbiram pelo suicídio que este ato não se constitui apenas em infração a uma lei moral, consideração que pouco importa a certos indivíduos, mas sim num ato estúpido, pois que nada ganha quem o pratica, muito pelo contrário. Assim sendo, não é através da teoria que isto nos é ensinado, mas sim pelos próprios fatos que os espíritos de suicidas expõem sob nossas vistas.

    Concluindo, o suicídio traz para o espírito as mais diversas conseqüências, e para ele não há penas previamente determinadas. Observa-se, contudo, que há uma conseqüência inevitável para todos os casos de suicídio: o desapontamento. No mais, a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias, isto é, em todos os casos, as penas correspondem sempre às causas que o motivaram. Alguns expiam sua falta imediatamente, outros em nova existência, que certamente será pior do que aquela cujo curso interromperam.




Comentário
Dourina Espírita, Germano Serafim, Brasil

Prezados companheiros,

    Apesar de meus bisavós portugueses serem espíritas já antes de emigrarem para nosso país, nunca me interessara pelo Espiritismo até há pouco menos de três anos quando, por vários motivos, entre eles a necessidade de fazer algo em prol dos irmãos mais carentes, passei a freqüentar uma Casa Espírita aqui em minha cidade, Campinas, interior de São Paulo.

    Talvez, para aproveitar minha experiência como professor, e por ser um leitor habitual da Bíblia, fui convidado a trabalhar na divulgação da Doutrina entre os freqüentadores.

    Seguindo as orientações do Codificador, começamos com "O Livro dos Espíritos" e fui surpreendido pelo fato de que, mesmo entre os freqüentadores mais antigos, poucos o haviam lido na íntegra. E muitos deles, que haviam tentado, informaram não terem ido além das primeiras páginas, alegando tratar-se de um livro difícil, tedioso etc. Em vista disto, com autorização dos mentores da Casa, passei a trabalhar sobre aquela obra, utilizando-me de uma linguagem mais acessível, buscando condensá-la num texto que deixasse de lado a forma original de perguntas e respostas, mas ao mesmo tempo que fosse a mais fiel possível, não sonegando nenhuma informação textual, objetivando, com isso tudo, obter um texto mais fácil de ser lido e assimilado.

    Todos esses cuidados, é certo, não eliminam a possibilidade de subjetividade. Assim sendo, tomo a liberdade de enviar em anexo parte de meu trabalho, com o intuito de colocá-lo à apreciação dos companheiros, caso o considerem merecedor de divulgação em Boletim. Trata-se do item VI. - Desgosto pela vida. Suicídio, do Livro IV, Capítulo I, Penas e Gozos Terrenos. Esclareço que, em sua confecção, utilizo-me de três versões da obra: a de Guillon Ribeiro, publicada pela Federação Espírita Brasileira; a de José Herculano Pires, pela Editora EME; e a de Salvador Gentile, pelo Instituto de Difusão Espírita, tendo notado pequenas divergências, mais ou menos significativas, entre elas. Algumas são evidentes erros de impressão, outras, talvez, de tradução ou interpretação. Não sei dizê-lo.

    No mais, quero dizer que, ao estudar a Doutrina, minha vida tem passado por transformações, creio eu muito benéficas, mesmo porque, a todo instante, somos instados a pô-la em prática, o que, convenhamos, não é fácil, mas também não é impossível.

    Envio a todos fraternal abraço, não sem antes agradecer pela atenção a mim dispensada.



Estudos do Evangelho, Paulo Neto, Brasil


Caros Amigos,

    Estamos de pleno acordo com a necessidade do estudo do Evangelho. Entramos para o movimento espírita há uns 12 anos e apesar de não ser de grande monta a nossa experiência, temos observado o completo desconhecimento dos espíritas sobre ele. Em algumas palestras tenho por hábito perguntar quem já leu o Novo Testamento, quando muitos levantam o dedo, dá para contá-los numa só mão.

    Por outro lado, verificamos que muitos dos nossos oradores em suas palestras não sabem diferençar coisa banais como: foi Jesus que disse e não Deus, não sabem se o que comem é uma passagem ou uma parábola, não consequem distinguir as opiniões dos autores do evangelho, quando não colocam na boca de Jesus coisas que nunca disse. É lamentável, pois deveriam ser os primeiros a terem um mínimo de conhecimento do Evangelho.

    Vamos mais além, deveríamos também conhecer toda a Bíblia, pois não cansam de combater a Doutrina Espírita utilizando-se de seus texto, deixando-nos perplexos diante de seus argumentos, comportamento inevitável, visto que nada sabemos dela.

    Recentemente fiz um estudo da Bíblia, cujo produto final parece que vai acabar se tornando um livro, a ser editado pela SEDA,  cujo título é: As traduções e interpretações da Bíblia Sagrada à moda da casa. Neste estudo chegamos à conclusão que pelo próprio bem dela deveríamos mostrar seus erros, conforme nos aconselha Kardec (A Gênese), pois caso contrário não levará muito tempo para cair no mais completo descrédito e por tabela atingiria também o Evangelho de Jesus contido no Novo Testamento.

    Verificamos também que mesmo o Novo Testamento possui coisas que não são narradas da mesma maneira por todos os autores, mas apesar disso, ficamos com Gandhi, quando diz:

Se todos os livros religiosos da humanidade perecerem e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido.

   Abraços
   Paulo Neto




Perguntas
Homem, ser único no Universo? Mário Cézar, Brasil


    Meus caros,

    Sou espírita, embora não pratique. Minha mãe era médium de escrita. Só não entendo que se considere o homem como ser "único" no Universo, isto é, o único ser com as máximas qualidades de inteligência, razão, sentimentos.

    O Universo é Imenso, não sei se infinito!! Como é possível não haver outros seres numa fase de evolução multimilenar muito mais avançada? Com muito maior inteligência, razão, sentimentos ainda mais elevados? Não é Deus capaz de criar o infinitamente perfeito? Pode o Homem, com todas as suas imperfeições, ser o infinitamente perfeito? Mesmo como simples evolução biológica, fisiológica, anatómica, celular, não terão outros seres doutros pontos do Universo, doutros planetas, doutros sistemas solares, já atingido uma fase muito posterior?

    É para reflectir.

Mário César Borges M. d'Abreu


    Caro Mário,

    O homem, considerando nesta designação o ser encarnado na terra, não é único no Universo. As comunicações dos espíritos tem demonstrado que a humanidade se estende pelo universo infinito e que há mundos nos mais diversos niveis de
evolução. Nem somos o mais atrasado, nem o mais evoluido.

    Vide por exemplo o Cap III, Criação, do Livro dos Espíritos, no trecho intitulado "Pluralidade dos Mundos Habitados" ou livros como "Pluralidade dos Mundos Habitados" de Camille Flammarion e "Cartas de uma Morta" de Maria João de
Deus (médium Francisco Cândido Xavier).

    Atenciosamente,
    Carlos Iglesia



Dúvidas sobre Desobsessão, Luiz, Brasil

Queridos amigos do geaein,

    Recentemente em nossa cidade, esteve presente um senhor que trouxe uma técnica chamada por ele de "desobsessão estantânea" onde falando alguns mantras e "chamando pelo código do anjo" ele fazia desobsessão sem incorporação do espírito obsessor ao médium. Gostaria que me esclarecessem sobre tal prática, e se teria eficácia, e se estaria de acordo com a Doutrina Espirita.

Grato,

Luis - Montes Claros - MG



Caro Luis,

        Realmente nunca ouvi falar de tal modalidade de desobsessão. Se der uma olhada no Livro dos Espíritos e no Livro dos Médiuns constatará que mantras e "códigos" não tem efeito nenhum sobre os espíritos, a desobsessão funciona através do esclarecimento do espírito sofredor - o chamado obsessor - e do encarnado que lhe está sob influência (o obsedado).

        A obsessão não é nenhuma "possessão demoniaca" que seja curada pela expulsão do demônio. Nem o demônio existe nem o exorcismo tem maior consistência. Ela é verdadeiramente uma ligação - uma sintonia - entre o encarnado e o desencarnado, normalmente devido a compromissos comuns de longa data (em que os papéis de vítima e perseguidor não são tão nítidos qto se pensa a primeira vista) e é desfeita pelo perdão e pela reconciliação dos envolvidos.

        A série de livros de André Luiz (médium Chico Xavier) também traz informações valiosas a respeito, bem como os livros de Manoel P. de Miranda, através de Divaldo Pereira Franco (por exemplo Painéis da Obsessão).

    Atenciosamente,
    Carlos Iglesia



Perguntas de Espiritismo, Raul, Brasil

     Pesquiso as religiões e gostaria de receber respostas curtas e objetivas da Doutrina Espírita sobre os temas abaixo. Desde já muito obrigado!

· Por que Jesus teria ditto no evangelho de Lucas - Capítulo 10 - Versículo 18: ?Eu vi satanás cair do céu como um raio?, se não existe satanás?
· O Espiritismo aceita ou nega a existência da Doutrina da Trindade? (pai, filho e espírito santo?)
· Uma criança de pais espíritas ainda assim deve receber um batizado numa igreja cristã?
· O Espiritismo concebe o nascimento de Jesus a partir do espírito santo? Aceita a virgindade e a santidade de Maria?
· O Espiritismo aceita a imaculada conceição (concebida sem pecado) de Maria?
· O Espiritismo aceita a assunção de Maria aos céus?
· O Espiritismo crê que teremos que nos resgatar dos pecados através das reencarnações. Se crer no Cristo não é suficiente para a ?salvação?, por que Ele disse: ?este é o sangue da nova e eterna aliança, derramado em remissão dos pecados??
· O termo ?Fora da Caridade não há Salvação? é verdadeiro? Os que fazem muitas caridades e não tem boas condutas alcançarão a suposta ?salvação??



Caro Amigo,

        As questões que propõe exigiriam na verdade um tratado a respeito da interpretação espírita do Novo Testamento. O certo seria realmente lhe recomendar os livros "O Evangelho Segundo o Espiritismo" e "A Gênese" de Allan Kardec. Mas, em poucas palavras, respondendo suas perguntas, diria que:

- Satanás: Na visão espírita, está nos evangelhos apenas como uma forma figurada de representar o mal, os maus espíritos (espíritos imperfeitos/atrasados moralmente). Jesus adequava a forma de apresentar seus ensinamentos a mentalidade da época e da mesma forma que usou parábolas, usou figuras de linguagem facilmente compreensiveis ao povo.

- Trindade: O Espiritismo é rigorosamente monoteista. Deus, a Causa Primaria é unico, e sem igual. Jesus foi um espírito extremamente evoluido, mas um espírito como nós todos somos (lembra-se do "Pai Nosso"), que veio com a missão de trazer uma nova compreensão para a humanidade (a Boa Nova do Reino de Deus). Em parte nenhuma dos evangelhos se encontrará Jesus falando da Trindade. Quanto ao "Espirito Santo", um modo de se referir aos espíritos superiores e não uma entidade particular.

- Batizado: Na sua forma atual não tem significado nenhum para nós. Tanto faz batizar a criança como não. Originalmente era uma forma de marcar simbolicamente a adesão, consciente do homem, a mensagem trazida por João Batista e que foi mantida posteriormente por Jesus e pelos apóstolos. Um rito de passagem, tal qual uma formatura - que por sí só, como ato externo, não transforma o formando (o que vale é o aprendizado e o compromisso de aplica-lo).

- Nascimento de Cristo: Nos importam os ensinamentos de Jesus e não a questão de seu nascimento.

- Imaculada Conceição: A visão do espiritismo da questão do pecado, principalmente do pecado original, é muito diferente da Católica.  Não acreditamos em pecado original, não vemos porque um nascimento segundo as leis da natureza (criadas por Deus), seria pecaminoso e para que serviria a exceção. Mas enfim, se estudar o Espiritismo vai perceber que esta questão realmente não faz diferença nenhuma para nós - as particularidades do nascimento de Jesus em nada interferem com a essência
dos seus ensinamentos e é com isso que nos preocupamos.

- Assunção: Uma tradição católica que respeitamos, mas que não tem importância nenhuma para o estudo dos evangelhos.

- Salvação:  Como não acreditamos no inferno - na condenação eterna - a salvação tem para nós um significado diferente. Significa atingir o "Reino de Deus" - a libertação do espírito da ignorância e do apego a matéria. Assim crer simplesmente não é suficiente, o que "salva" é a verdadeira vivência dos ensinamentos de Jesus ("a cada um segundo suas obras").

- Nova Aliança: Ele também disse que deviamos tomar nossa cruz e segui-lo ... Jesus deixou muito claro que "a letra mata e o espírito vivifica" - ele usava expressões figuradas e as citadas significavam exatamente que deviamos seguir seus exemplos. A remissão dos pecados, não é outra coisa senão corrigir os erros e "o sangue da nova aliança" o seu exemplo.

- Caridade: A palavra caridade - do latim caritas - não é somente a caridade material (a esmola), é o amor fraterno em ação (seu significado original, a palavra amor no latim tinha um sentido mais ligado a atração fisica). "Fora da Caridade não há Salvação" é assim um programa de ação bastante vasto e traz embutido em si a boa conduta - agir mal, em qualquer circunstância, significa sempre falta de caridade com alguém.

    O "Fora da Caridade não há Salvação" é verdadeiro sim e é outra forma de dizer "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a sí mesmo".

    Espero que tenha atendido o objetivo do seu e-mail, embora ainda ache que uma resposta tão breve a um tema tão vasto não tenha lá muita precisão e assim talvez sirva apenas para mostrar-lhe que há mais por detrás destes problemas que somente um "aceita" ou "não aceita" - há uma mudança de enfoque no que se considera Cristianismo. Deixamos de considerar como ponto principal a questão da "adoração" para colocar como central a "vivência" do que Jesus ensinou.

    Atenciosamente,
    Carlos Iglesia


Caríssimo Raul,

    Movido apenas pelo intuito de contribuir no esclarecimento dos seus questionamentos, eu gostaria de adicionar meu ponto de vista em relação ao item sobre o batismo.

    Como foi muito bem colocado pelo Carlos Alberto, na sua forma atual o batismo não tem qualquer significado para nós espíritas. Não poderia ser diferente, uma vez que a Doutrina Espírita não comporta dogmas ou sacramentos de qualquer espécie.

     Assim eu diria que não existe razão alguma a determinar que uma criança de pais espíritas seja batizada numa igreja cristã. Cabe no entanto esclarecer que se isto ocorrer, o fato em si não acarretará qualquer prejuijo ou acrescentará nada na vida da criança. O Espiritismo nos ensina que as formalidades não têm valor algum e sim aquilo que sai do nosso coração.

    A sua dúvida talvez esteja fundada no fato de que, em realidade, muitas pessoas que frequentam Centros Espíritas, o fazem no intuito de buscar respostas ou soluções para seus problemas mais imediatos, sem no entanto se afastarem dos seus cultos originários. Assim agindo, continuam presos aos costumes e tradições dessas religiões, mesmo que estas em vez de dar-lhes as respostas para os questionamentos mais íntimos, contribuam para aumentar as dúvidas. Por outro lado, essas pessoas não conseguem quebrar a barreira da necessidade de ter que dar satisfação ao grupo social em que vive. Assim  se vêem forçadas a fazerem coisas mais para satisfazer exigêncies sociais, do que propriamente para satisfazer as necessidades íntimas de convicções e crenças. Neste particular, para se atender ao clamor das próprias convicções é necessário contrariar desejos de muitas pessoas, a começar por membros da própria família que não são capazes de entender tal postura. Entretanto, este desafio é fundamental no amadurecimento do processo de crescimento espiritual de cada um.

    É tudo uma questão de convicção.  O pai que se diz espírita não tem nenhuma necessidade de batizar o filho em uma igreja cristã. Afinal de contas, o Espiritismo é também uma filosofia/religião cristã. Muito embora saibamos que o fato em si não acrescentará nada na vida da criança, entendo ser a postura incoerente. O espírita convicto, que chegou ao ponto de entender e aceitar os postulados doutrinários como guia para o seu aprimoramento espiritual, não tem necessidade de praticar qualquer ato em cumprimento deste ou daquele dogma, uma vez que a Doutrina Espírita não prescreve dogma ou sacramento de qualquer espécie.

    Para finalizar eu diria que o importante neste ponto é manter o equilíbrio na orientação dada á criança. Independentemente da religião em que ela seja orientada, deve a mesma receber orientações de cunho universalistas para que possa quando adulta fazer a sua própria opção religiosa, e até mesmo aderir aos postulados de uma religião diferente da que professam os seus pais, se assim lhe convier. Não devemos perder de vistas que a religião é o meio de que dispomos, nesta fase evolutiva, para se ligar ao Criador. Entretanto, esta é uma necessidade diretamente ligada ao nosso ainda retardado estágio evolutivo, e certamente o Criador não está preocupado em saber a que religião pertencemos. Um dia não mais necessitaremos dela para esta conexão.

    Muita Paz,
    Antonio Leite.




Painel
Nova Emissora Espírita, Luiz Signates, Brasil


Boletim GEAE, Caros amigos:

    Peço a todos que divulguem, reproduzindo infinitamente, esta bela notícia:

    Dia 1o. de Janeiro de 2001, juntamente com o 3o. Milênio, entra no ar a quarta emissora espírita de rádio do Brasil (por conseguinte, do mundo, também).

    É a 91.5 FM, em Anápolis-Goiás, operacionalizada pelo Instituto de Comunicação Social Espírita.

    A emissora entrará no ar com uma programação de alto nível, orientada para a paz entre os homens. O sinal da nova emissora abrange a área mais densamente habitada do Estado de Goiás, com cerca de dois milhões de pessoas.

    Será, ainda, a primeira emissora espírita que assumirá em sua integralidade a idéia da comunicação social espírita, isto é, a concepção prioritariamente ética do espiritismo. Nesse sentido, operará com uma programação despida do "sotaque" religioso, buscando uma interação profunda e plural com a sociedade.

    Nos dias de semana, programas e mensagens de reflexão e meditação, além de noticiário nos termos da ética do correto jornalismo.

    Aos sábados e domingos, espaço para programas de caráter religioso, contemplando não apenas o espiritismo, mas também as filosofias e religiões que não dispõem de acesso à mídia, sob a condição de não trabalharem em perspectiva de rejeição do pluralismo ideológico e cultural.

    Será, enfim, uma emissora espírita no sentido profundo da ética universalista da comunicação e da fraternidade.

    Compartilho com vocês, amigos queridos, a alegria de poder anunciar mais esta contribuição espírita à nossa sociedade, por meio da instituição da qual faço parte.

Com o abraço grande do

Luiz Signates



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