GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS

Fundado em 15 de Outubro de 1992
Boletim Semanal de Distribuição Eletrônica



Ano 07 - Número 355 - 1999                         27 de julho de 1999

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Textos
Novas Idéias e a Doutrina, Deolindo Amorin - médium Elzio Ferreira de Souza, Brasil


(Texto extraido do livro Espiritismo em Movimento, publicado pelo Círculo Espírita da Oração de Salvador, Bahia - circulus@svn.com.br)

    Acho que ninguém tem dúvida da necessidade de fortalecer o pensamento espírita. Antes, porém, de pensar nisto ou em divulgá-lo, deve todo adepto sentir a necessidade de estabelecê-lo com firmeza e precisão para que não se espalhe e divulgue, como sendo espírita, aquilo que é apenas pensamento pessoal de um ou outro confrade, idéias que, se bem respeitáveis, não podem por si representar o pensamento doutrinário; não porque possam ser colocadas de lado como visceralmente errôneas, mas pelo fato de não terem ainda amadurecido suficientemente para que possam ser aceitas como fazendo parte do conteúdo doutrinário.

    É esta falta de amadurecimento, ausência de reflexão, que produz a aceitação facilitada de toda idéia que surge no campo doutrinário, exposta por oradores, ou em livros e jornais, com completo esquecimento daquelas que constituem o pensamento da Doutrina, com enraizamento na codificação.

    Por outro lado, existem companheiros que têm uma completa neofobia e rejeitam qualquer idéia que já não esteja sedimentada, esquecidos de que o Espiritismo não parou no tempo, nem pode paralisar-se, que ele tem de acompanhar o progresso das relações sociais, saber enfrentá-las e compreendê-las para ajustar ao seu pensamento, a fim de poder sobreviver aos desafios que os tempos hodiernos oferecem, sem o que correria o perigo de se ver ultrapassado, quando, sem dúvida, ele possui força suficiente para oferecer soluções certeiras, contanto que não se despreze a base doutrinária, que se a estude e compreenda.

    Assim a questão não é citar Kardec, muitas vezes abusivamente, sem compreendê-lo suficientemente, para defender essa ou aquela idéia, ou para combater aqueloutra. O problema é de compreensão. Não se pode apenas amarrar um galho em uma árvore e pensar que se fez enxertia válida; por outro lado, realizar um enxerto exige cuidados para que a planta não morra e a árvore se revitalize. Uma idéia nova deve ser pensada, amadurecida, testada, antes que passe a fazer parte do contexto doutrinário, aceito. Até lá, é importante que as idéias sejam discutidas, sem afogadilho, cada um colaborando no seu exame, o que naturalmente não pode ser feito com paixões e interesses em jogo, uns e outros desconhecendo as lições já centenárias do mestre lionês. Sobretudo, se nos voltarmos para a história, veremos o método seguido por Allan Kardec no estabelecimento das bases doutrinárias, método ainda perfeitamente válido, apesar do tempo decorrido. Kardec não aceitou a própria explicação espírita do fenômeno que ele podia compreender, em face do seu conhecimento do magnetismo, sem antes experimentar, pensá-la com relação a outras possíveis soluções, a fim de buscar a causa mais simples e mais ampla na explicação das mesas que se moviam; procedeu prudentemente, e podemos acrescentar cientificamente, ao procurar uma causa que pudesse abranger a maior parte dos fenômenos (1).  Mas, por outro lado, soube ver que nem todos eles procediam da comunicação dos chamados "mortos", e que, em determinados casos, certos indivíduos poderiam provoca-los sem auxílio, ao menos direto, dos Espíritos. Aí, já estamos no terreno do animismo, e Kardec soube reconhecê-lo, antecipando-se, portanto, às críticas dos que, posteriormente, como Hartmann, nele criam encontrar a explicação de toda a fenomenologia espírita (2).  Tudo isso foi feito com tempo, amadurecendo as idéias no silêncio da noite, sem apressuramento, sabendo modifica-las e ajustá-las à realidade. Soube assim alterar seu próprio pensamento - refiro-me ao período Rivail -, mas com isto não aderiu a tudo o que os Espíritos trouxeram, fosse qual fosse o nome subscritor da mensagem, por mais respeitável tivesse sido esse nome na Terra, ou a honra que se lhe tributasse. Em O Livro dos Espíritos, colheu de toda a parte, pois lhe interessava saber aspectos reais da vida espírita, e não apenas como pensavam os anjos já desligados das duras fases de evolução no planeta(3). Não teve preferências mediúnicas; importava saber se a mensagem poderia suportar o exame do raciocínio, num momento em que a "dona razão" sofria de uma exacerbação, muito compreensível por sinal, por terem as religiões olvidado o respeito ao homem, impingindo-lhe certos posicionamentos fideístas que escorraçavam sua própria dignidade, tornando-o um joguete do fanatismo e da ortodoxia. A inquisição pode falar historicamente sobre isto.

    Pois bem, o modo de proceder do mestre deve ser seguido. Para não alongar-me mais, devo dizer que, se o movimento espírita assim proceder, terá capacidade de absorver toda idéia nova qualquer que seja sua fonte científica ou filosófica, contanto que se mostre verdadeira, depois de convenientemente testada, sem que com isto desfiguremos a Doutrina, nem a tornemos obtusa e envelhecida, voltando as costas ao progresso (4).

    Meio termo em tudo. Mas se posso recomendar algo é que as lições de Kardec possam ser estudadas com mais profundidade para que se possa reconhecer seu verdadeiro pensamento.


NOTAS DE ELZIO FERREIRA DE SOUZA

(1) vide Oeuvres Posthumes - "Minha primeira iniciação no Espiritismo", p. 243 s. (retorna ao texto)

(2) Eduard Von Hartmann, um dos grandes filósofos do inconsciente ao lado de Carl Gustav Carus (1789-1869) e Arthur Schopenhauer (1788-1869), escreveu um livro intitulado O Espiritismo, publicado em 1885, em que procurou explicar os fenômenos mediúnicos com base no animismo. Alexander Aksakof replicou a tese em seu livro Animismo e Espiritismo (1890) , que foi traduzido para o português a partir da edição francesa e editado pela Federação Espírita Brasileira. Em 1869, Hartmann publicou sua famosa obra Filosofia do Inconsciente em que descreveu três estratos do inconsciente: "1) o inconsciente absoluto que constitui a substância do universo e a fonte das outras formas de inconciente; 2) o inconsciente fisiológico, que, do mesmo modo que o inconsciente de Carus, opera na origem, desenvolvimento e evolução dos seres vivos, incluindo o homem; 3) O inconsciente relativo ou psicológico, que jaz na origem de nossa vida mental consciente" (H. F. Ellenberger - El Descubrimiento del Inconsciente, p. 247).
    Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, ainda que não se utilizasse do termo animismo, reportou-se aos casos de indivíduos capazes de produzir fenômenos de efeitos físicos ou intelectuais sem a intervenção de Espíritos - n.º 74, XX e n.º163 (pessoas elétricas, torpedos humanos); n.º 172 a 174 (sonâmbulos). Além de dedicar todo o capítulo XIX ao estudo da influência anímica do médium nas comunicações - "Do papel dos médiuns nas comunicações espíritas" (vide, sobretudo o n.º 223, 2.a, 3.a, 4.a e 5.a questões), ao estudar a influência moral do médium (cap. XX), referiu-se, no item n.º 230, às intervenções anímicas deste nas comunicações espirituais. Além disso, Kardec já recolhia ali o ensino dos Espíritos sobre a existência de visões que eram simples efeitos da imaginação, constituindo-se em verdadeiras alucinações sem base espiritual (n.º 113). O mesmo sobre alucinações sonoras (n.º 151). E, na Revista Espírita de maio de 1865, transcreveu uma mensagem do Espírito Georges, sob o título - "Estudo sobre a mediunidade", em que é feita a diferença entre os médiuns inspirados pelos fluidos espirituais e os que agem apenas sob o impulso do fluido corporal, fazendo, em seguida, considerações a respeito (p. 149-150).
    António J. Freire (Ciência e Espiritismo, p. 155) relembrou que, já nos primórdios do Espiritismo, observadores e experimentadores, como Andrew Jackson Davis, em 1855, Metzger e outros, entre os quais o célebre médium intuitivo americano Hudson Tuttle, salientaram a origem humana de muitas mensagens.
    Hudson Tuttle, um dos pioneiros da mediunidade e da literatura espírita nos Estados Unidos, em seu livro Mediumship and Its Laws, chamava, inclusive, a atenção sobre a participação anímica do médium na comunicação mediúnica; segundo as observações feitas, a comunicação obtida por cada médium tem um tom ou cor própria de cada um deles, como se fosse proveniente do seu cérebro, ou de um único controle (p. 44). "Quanto mais perfeitamente o caráter do médium concordar com o do Espírito, mais perfeitas serão as comunicações transmitidas. A eliminação da influência do médium exigiria o mais atento cuidado" (p.45).
    Por sua vez, Léon Denis (No Invisível, p. 88 - 89) advertiu que a união de forças e vontade dos assistentes podia "ser suficiente para provocar efeitos físicos e mesmo fenômenos intelectuais, que vão logo sendo atribuídos à intervenção de personalidades invisíveis", sendo medida de prudência e de bom aviso "só admitir, por conseguinte, essa intervenção, quando estabelecida por fatos rigorosos'. Vide ainda p. 93 - 94. (retorna ao texto)

(3) "(...); segundo ponto, não menos importante, era conhecer o estado deste mundo, seus costumes, se assim se pode exprimir; eu vi logo que cada Espírito, em razão de sua posição pessoal e de seus conhecimentos, desvelava-me uma face, da mesma maneira que se chega a conhecer o estado de um país, interrogando-se os habitantes de todas as classes e de todas as condições, cada um podendo ensinar-nos alguma coisa, e nenhum, individualmente, podendo ensinar-nos tudo; é ao observador que cabe formar o conjunto com a ajuda dos documentos recolhidos de diferentes lados, colecionados, coordenados e conferidos uns com os outros" (Oeuvres Posthumes - "A minha primeira iniciação no Espiritismo", p. 244). Vide também - Qu' est-ce que le Spiritisme ?: 2.º diálogo ("Diversidade dos Espíritos", p. 67-71); Revista Espírita, abril de 1866, p. 103 ("Da revelação"); Le Livre des Esprits, Introdução, n.º X, XII e nota ao n.º 613. (retorna ao texto)

(4) Ensinava Kardec - "O Espiritismo não admite, pois, como princípio absoluto senão o que está demonstrado com evidência, ou o que resulta logicamente da observação. Tocando todos os ramos da economia social, às quais empresta o apoio de suas próprias descobertas, ele assimilará sempre todas as doutrinas progressistas, de qualquer ordem que sejam, alcançado o estado de verdades práticas e saídas do domínio da utopia, sem o que ele se suicidaria; em cessando de ser o que é, ele desmentiria a sua origem e o seu fim providencial." (La Genèse, cap. I:55) (retorna ao texto)




Comentários
Papel de Jesus fora do Ocidente, Valerio Melo, Brasil

    Minha esposa e eu temos uma dúvida sobre o papel de Jesus na mudança do mundo. Ele foi, e ainda é claro!, muito importante para nós ocidentais, mas não teve NENHUMA penetração no oriente, onde a sua passagem pelo mundo "ainda" não foi notada. O cristianismo é muito restrito, em número de adeptos, em relação às outras religiões, especialmente as orientais. Vide a população da China, Índia etc. A sensação que temos é de que, como cristãos, consideramo-nos superiores, e consideramos Jesus superior a Maomé, Buda, Confúcio etc. Como o espiritismo vê nossas duvidas? A seguir colocamos nossas discussões para enriquecer a questão.

    RAZÕES PARA A DÚVIDA: Jesus não tem nenhuma importância para os orientais, assim como Maomé não representa nada pra nós (Maomé não nos diz nada ... no máximo  o consideramos no aspecto histórico).

    Nossa dúvida vem desse complexo de superioridade que temos por achar que Jesus (o ser perfeito, do nosso ponto de vista) nasceu aqui no ocidente. Talvez cada cultura tenha o "ser perfeito" adequado às suas possibilidades de entendimento, à sua realidade. Cada "ser perfeito" vem para ensinar às pessoas daquela sociedade, para ajudá-las na sua reforma íntima através de seus ensinamentos. Na sociedade judaica da época, Jesus era quem se faria entender. Mas entre os muçulmanos ele teria a mesma força? Ou Maomé foi o mais adequado? Assim como Buda na Índia e oriente "distante"  (porque na verdade Cristo não deixa de ser meio oriental ... ao menos na nossa divisão atual de oriente/ocidente).

    Então, vendo assim, seria possível afirmar que Buda, Maomé, Jesus, Confúcio são seres "iluminados" que vieram em épocas e lugares diferentes com uma missão que tinha relação com os conflitos da sociedade em que encarnaram, naquele momento, numa tentativa de superação de conflitos/problemas/defeitos ou de apenas mostrar o caminho. Se pensarmos assim, podemos ter um maior respeito pelas diferenças, sem nos julgarmos o supra sumo da humanidade.

    Mas, já que os problemas eram daquela época, porque todos esses "caras" continuam atuais? Porque eles não se propuseram a solucionar os problemas cotidianos das pessoas, mas os mais interiores, que dizem respeito à natureza humana. Talvez eles quisessem alterar os códigos sociais, mas para isso trabalharam para mudar o coração das pessoas, a base que alteraria os problemas corriqueiros (por ex.: a solução do problema do lixo não é a compra de mais 500 caminhões para coleta, mas a educação do povo).

    Agora, porque vemos Jesus e talvez Buda como superiores? Talvez porque Confúcio e Maomé tenham tentado solucionar o problema atacando os sintomas, e criaram leis e mais leis, teorias políticas. Buda optou pela mente e coração dos homens como forma de mudar toda a sociedade. A sociedade é a soma de todos os homens. Se cada homem se melhorar, através do autoconhecimento e do respeito pelo mundo que o cerca, a soma de todas essas melhorias individuais vai ser um mundo melhor, uma humanidade melhor.

    Pessoas que se conhecem e são equilibradas e sabem da divindade que há em tudo, e se sentem parte disso, não deixam um irmão morrer de fome ou frio. Isso era Buda. E muitos afirmam que o pensamento de Jesus foi influenciado pelo legado de Buda. Mas ele encarnou numa sociedade judaica, capitalista (os judeus sempre foram meio nômades e mercadores) em que o apelo ao autoconhecimento não tinha muita vez. Como tocar as pessoas que viviam nessa realidade?

    No fundo as mensagens de Buda e de Jesus não diferem. Ambos falam de caridade, amor, respeito. Mas eles falavam para públicos diferentes, e tinham que fazer abordagens diferentes.

    Não questionamos que a mensagem de Jesus possa ser mais profunda ou melhor que a do budismo. Jesus, além de todas as suas inúmeras qualidades, pôde estudar e aperfeiçoar o pensamento de seus anteriores (e sabe-se lá quantos mais além desses que falamos...).

    O que queríamos saber, e se, na visão espírita, cabe esse tipo de raciocínio que fizemos aqui.

    Porque, aquela história de que Jesus nasceu no ocidente porque aqui teria mais condições de espalhar o cristianismo é uma contradição com a realidade da época, e também com a atual. Essa idéia de missionário nos lembra aqueles jesuítas do descobrimento do Brasil, destruindo os índios e sua cultura em nome de uma evangelização que eles não entendiam na teoria (na verdade, os índios possivelmente eram mais "cristãos" - no sentido filosófico e metafísico - que os próprios jesuítas). Acho que, considerando que exista um plano superior, faz mais sentido imaginar que se promova o crescimento da humanidade através de mestres que se façam entender nos diferentes ambientes. Acho que isso faz mais sentido até do ponto de vista espírita, com o crescimento em etapas, no aprendizado a partir das próprias dificuldades.

    Quem mudou o mundo para os Budistas foi o Buda. Mas aí entram também as concepções de "mundo". O mundo dos judeus era um mundo de mercadores, então era um mundo geográfico, sobre o qual eles transitavam e tinham influência. O mundo de um paquistanês ou mesmo de um indiano é muito mais limitado. Eles não são povos nômades. Em alguns casos vivem em montanhas, numa economia de subsistência. O mundo deles se resume ao espaço que os cerca mais diretamente, e ao mundo interior. As montanhas convidam à introspeção. Não é a toa que os budistas são mais meditativos, enquanto que os cristãos mais "ativos".



Papel de Jesus fora do Ocidente, Carlos Iglesia, Brasil

(Referente ao comentário acima)

Caro Valério,

    Creio que a solução da questão que propôs, passa por definirmos melhor o que significa a influência de Jesus sobre as pessoas e os povos. A interpretação tradicional, de que a cristianização se limita a adoção simbólica da crença através do batismo e ao fato da pessoa passar a adora-lo como um Deus, é falha e não corresponde a essência mesma da mensagem deixada por ele no Evangelho. Consideramos mais válida a proposta espírita, de que tornar-se cristão é procurar praticar os ensinamentos de Jesus. O foco principal do cristianismo passa da "adoração" para a "vivência".

    Dentro dessa visão, a implantação do cristianismo pode ser vista como um processo gradativo, que vai avançando a medida que a prática diária dos principios cristãos se incorpora na vida cotidiana de uma pessoa, de um grupo social ou de uma civilização. Nem mesmo o Ocidente cristão é ainda cristão nesse sentido. Sofremos uma maior influência do Nazareno, mais ainda estamos avançando no entendimento do que ele ensinou e na sua prática. Outra consequência dessa visão é que mesmo sociedades que nominalmente não se classificam como cristãs, mas que tenham incorporados conceitos oriundos do Cristianismo, podem também ser consideradas dentro da esfera de influência de Jesus. A missão de Jesus foi de esclarecimento, de salvação através da prática do "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo a si mesmo" e não de implantar um novo culto.

    A "interiorização" do Evangelho não é assunto tão simples quanto parece a primeira vista, prova disso é que estamos há 2000 anos aprendendo o evangelho e ainda temos miséria entre nós, e, mais ainda, Jesus partiu da base fornecida pela Lei Mosaica, por sua vez amparada no monoteismo de Abrão, Isaac e Jacó. O Espiritismo é parte desse processo, e surgiu na época propícia como reafirmação e complementação da lição ministrada pelo homem de Nazaré. Querer entender o Espiritismo fora desse contexto histórico é uma tarefa bastante ardúa e, na minha opinião, fadada ao fracasso. Espiritismo sem Jesus é como uma árvore sem raiz.

    Posto que o processo de evangelização do mundo ainda não terminou, nem mesmo no Ocidente "cristão", é um tanto prematuro dar um veredito final sobre esse processo no resto do mundo. Temos que pensar em termos parecidos ao do plano espiritual, em longo prazo, pois somos espíritos que vivem inumeráveis vezes sobre o nosso planeta, aprendendo lições para o nosso progresso espiritual e, para as quais, cada civilização ou povo representa diferentes cursos do curriculo.

    Mas mesmo considerando o momento histórico atual, você poderá constatar que a civilização ocidental atual exerceu e exerce imensa influência sobre as outras civilizações contemporaneas (e também é influenciada por elas é claro). O contato do Ocidente com o resto do mundo tem transformado estruturas sociais e modos de pensar. Ora, a civilização ocidental atual nada mais é do que o resultado de séculos de ensinamento cristão agindo sobre os povos barbaros e os restos da civilização greco-romana. Em suma, quando  outros povos adotam nossos conceitos de liberdade individual, de sociedades organizadas democraticamente, de direitos humanos, não estão adotando somente heranças romanas ou hebraicas, estão também adotando a influência transformadora do evangelho sobre essa herança: Estão sendo influenciados por Jesus.

    Quanto a comparação de povos e civilizações, há um critério que pode ser aplicado sem medo de Eurocentrismo:

    "De dois povos chegados ao cume da escala social, só poderá dizer-se o mais civilizado, na verdadeira acepção do termo, aquele em que se encontre menos egoismo, meno cupidez e menos orgulho; onde os hábitos sejam mais intelectuais e morais que materiais; onde a inteligência possa se desenvolver com mais liberdade; onde haja mais bondade, boa-fé e benevolência e generosidade reciprocas; onde os preconceitos de casta e de nascimento estejam menos enraizados, porque esses preconceitos são incompativeis com o verdadeiro amor ao próximo; onde as leis não consagrem nenhum privilégio e sejam as mesmas para o último, como para o primeiro; onde a justiça se exerça com menos parcialidade; onde o fraco encontre sempre apoio contra o forte; onde a vida do homem, suas crenças e suas opiniões sejam melhor respeitadas, onde haja menos infelizes e, enfim, onde todos os homens de boa vontade estejam sempre seguros de não lhes faltar o necessário".  (Allan Kardec, "O Livro dos Espíritos", comentários ao tema "Civilização" tratado nas questões 790 a 793. Tradução de Salvador Gentile para o Instituto de Difusão Espírita).

    Enfim, há muito chão a percorrer e, somente completando, o Espiritismo respeita todas as crenças sinceras, bem como seus ensinamentos e homens excepcionais, que não deixam de ser Espíritos evoluidos encarnados entre nós, para nos indicar o caminho do progresso.

    Atenciosamente,
    Carlos Iglesia



Papel de Jesus fora do Ocidente, Elzio Souza, Brasil

(Referente aos comentários acima)

    Jesus não nasceu no Ocidente, mas no Oriente, era um oriental.

    No Oriente, Jesus não é um desconhecido. Na Índia, ele é profundamente respeitado por todos os grandes mestres. Existem livros escritos por autores hindus, inclusive swamis, e referências dos mestres à grandeza de Jesus. Eu possuo alguns. Ramakrishna teve, inclusive, uma visão de Jesus em que ele foi anunciado como o "Rei dos Yogues".

    Os judeus, no tempo de Jesus, que viviam na Palestina, constituiam uma sociedade agrícola, como pode atestar o sistema de tributos para o Templo - a temurá, o primeiro dízimo, o segundo dízimo, o terceiro dízimo, e a renda do quarto ano. Naturalmente, eram ligados também ao pastoreio, como relembra a parábola da ovelha perdida, mas sobretudo o número de vítimas animais que eram mortas durante a páscoa. Os que viviam na diáspora eram também contribuintes. Eles não eram nômades.

    Os islamitas têm Jesus como um profeta*. A inclinação guerreira do fundamentalismo islamico encobre a bela mensagem do sufismo e até do sikkismo, embora os seguidores do guru Nanak tenham ultimamente se envolvido em disputas religiosas sangrentas na Índia.

    A sociedade judaica não pode ser denominada capitalista, utilizando-se os parâmetros atuais. O Judaísmo criou um sistema de controle social através da shemitá - o ano sabático, no qual além de outras medidas, como o perdão das dívidas e os empréstimos aos pobres sem juros em dinheiro ou alimentos, os produtos que cresciam de modo espontâneo no campo (durante este ano não se trabalhava a terra) pertenciam a todos (eram socializados), servos, estrangeiros, empregados, animais,  - e do yovel - ano do jubileu (a cada 50 anos) com perdão das dívidas, libertação de escravos, devolução da terra a seu antigo dono, etc., e possuía uma série de direitos concernentes aos pobres como o da respiga da colheita, o recolhimento de feixes esquecidos durante a época da colheita e o do canto do campo deixado para eles. A beneficência era um direito dos pobres, e todas as dádivas entendidas como "presentes de Deus". A caridade não era produto da compaixão para com eles, mas de respeitar-lhes os direitos, por ser uma obrigação perante Deus.


Nota do GEAE

* ¨E depois deles (profetas), enviamos Jesus, filho de Maria, corroborando a Tora que o precedeu; e lhe concedemos o Evangelho que encerra Orientação e Luz, o qual confirma a Tora, e é Orientação e exortação para os tementes.¨  5.a Surata,  ¨A Mesa Servida¨ , versículo 46 - Os Significados dos Versículos do Alcorão Sagrado, tradução do Prof. Samil El Hayek para o Centro de Divulgação do Islam para a América Latina. (retorna ao texto)



Livre Arbítrio, Ciro Pompeu, Brasil

   Gostaria de entrar na discussão sobre livre-arbítrio e comentar o trecho citado no boletim Boletim GEAE: Número 352, Ano 07, 1999.

   Acredito que todas as explanações apresentadas no trecho citado são bem explicadas, mas não justificam. Sabemos que cada caso é um caso, mas gostaria de adicionar a minha opinião. Veja bem, se uma criança nasce naquele estado de miséria e de violência externa, decerto Deus:     Acredito que Deus nunca estará colocando a um espírito provas que ele não possa suportar, mesmo por que somos nós que aceitamos as missões (ou dívidas) antes de encarnarmos. Como diria Adoniram Barbosa "Deus dá o frio, conforme o cobertor". Se uma criança nasce com esta ambientação, estou certo que ela poderá ser um agente evangelizador para o ambiente, ou, se pelo livre-arbítrio, escolher a marginalidade, acarretará dívidas como todos.

    Na verdade não temos idéia de como é o mundo invisível, se não pelo que nos mostram os livros e relatos. Certa vez, lendo um livro chamado "Lindos Casos de Chico Xavier", o autor Ramiro Gama mostra o caso de um suicida, que vem dizer ao irmão, que depois de um longo período é que está conseguindo ter apoio dos espíritos superiores, para poder ter uma nova chance. O desencarnado afirma algo como " ...Ah, como Deus seria bondoso se me deixasse no corpo mais multilado da Terra, nas piores das ocasiões. Não é possível pelo verbo dos homens descrever tamanho sofrimento ... "

    Quando vamos para o lado de lá, a dor do arrependimento e o efeitos de nossas atitudes nos mostram um imenso peso que na maioria das vezes não conseguimos suportar. Pedimos com clemência que nos seja dado uma nova oportuniadade para resgatarmos nossas dívidas. O sofrimento desta criança que você cita, na verdade foi escolhida por ela mesmo.

    Esta é a minha opinião, gostaria se possível saber do seu ponto de vista dos meus pensamentos.

    Grato pela oportunidade, desejo-lhe um grande abraço e paz a todos,
    Ciro Pompeu



Sugestão para os organizadores do 1.o Congresso Espírita Americano, Mattos, Brasil


Prezado GEAE:

    Com relacao aa nota sobre o "Primeiro Congresso Espírita Americano, Jurandi Pereira, EUA" (Boletim Ano 07 - Número 354 - 1999, 20 de julho de 1999) gostaria de sugerir ao Jurandi que propusesse, no Congresso, uma moccao para que a palavra  "Spiritism", na Enciclopedia Britanica, fosse redefinida, deixando de ter uma conotaccao de "ponto de vista primitivo" -- crendices tribais -- (v. abaixo) para se basear mais nos avanccados conceitos expostos por Kardec.

    Afinal, a Britanica eh fonte basica de consulta nos meios intelectualmente desenvolvidos do mundo.

    Pax Nobis
    Mattos, de Sao Paulo, SP




Perguntas
Perdão incondicional, Flávio, Brasil

(Referente ao resumo do 1.o CEB publicado no Boletim 353)

        Os comentários tecidos pela pela oradora Maria Helena  Marcon com relação ao perdão incondicional me fizeram refletir  sobre o assunto. A palestrante afirma que "Deus não perdoa,  pois não se sente ofendido por nada do que os homens fazem. A  própria consciência humana é que se encarrega de apontar a  culpa". A partir desta afirmação me vem a pergunta:

    "Pode a consciência humana alcançar o indulto através do arrependimento  e de uma ação reparadora, sem a necessidade de qualquer tipo de expiação?"




Painel
Informações sobre o Curso de Extensão Universitária em Pedagogia Espírita

    Devido a solicitações que recebemos, de informações adicionais sobre o Curso apresentado no Boletim 352, pedimos a Suzana Martins que nos passasse mais dados a respeito:

Carissimo companheiro,

    Dora Incontri fundou em São Paulo o Instituto Espírita de Estudos Pedagógicos. O endereço:

Rua: Estado de Israel, 192, Vila Mariana.
Cep: 04022-000- São Paulo
Tel. (011) 539.5674
    Dora Incontri esta Ministrando na Faculdade Santa Cecília na cidade de "Santos" o 1º Curso de Extensão Universitária do Brasil  com cunho espírita com o Título "Pedagogia Espírita". Este curso tem duração de um ano e esta sendo realizados todos os sábados das 15:00 h às 17:30 h.O Curso iniciou em Agosto de 1999 e termina em Julho de 2000. Esta sendo cobrada uma taxa de R$ 20,00 mensais.

Grande abraço.
Suzana Martins



Sites Espíritas na Rádio Boa Nova de Guarulhos, Ulisses Batista, Brasil

 Carlos......

    Eu apresento na Radio Boa Nova um quadro que divulga os SITES espiritas voce pode ouvir os quadros no seguinte endereco (http://www.guarunet.com.br/ulissesbatista) , devo estar divulgando o GEAE no inicio do mes de outubro , qualquer duvida por favor entre em contato.

    abraco
    ZAZ-GUARULHOS
    Rua Santo Antonio,294 - Cj. 601 - CENTRO
    FONE : 6440.9824



Amigos e Irmaos...........

    Comentamos na sexta-feira passada (24-09-99) o SITE do GEAE , PODE-SE ATÉ OUVIR PELA INTERNET NO SITE
HTTP://WWW.GUARUNET.COM.BR/ULISSESBATISTA , se puderem divulgar junto aos amigos da rede , agradecemos.

    abracos

GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADOS ESPÍRITAS